OPINIÃO
Perspectivas Económicas Para 2022
O Hermano Juvane • Responsável pelo Sector de Oil & Gas do Absa Bank Moçambique
Apesar dos vários factores positivos destacados que irão melhorar a Balança de Pagamentos do País, as condições fiscais continuarão a ser o desafio. O programa do FMI foi outro factor que poderia trazer estabilidade económica...
38
Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique sofreu uma retracção de 1,3% em 2020 e crescimento de apenas 1,9% em 2021, principalmente devido à pandemia da COVID-19, mas também impulsionado pelas questões de segurança que afectaram a Província de Cabo Delgado, factores estes que contribuíram para o que veio a ser o desfecho de 2021. Para além das perturbações na cadeia de fornecimento global causadas pela pandemia da COVID-19, presenciamos o enfraquecimento do metical em relação ao dólar americano em 2020, assim como uma redução do volume de exportações das principais mercadorias, como o carvão, rubis, tabaco e açúcar. Deparamo-nos com uma economia de importação líquida, com o enfraquecimento do metical perante o dólar americano, que passou de uma paridade de 60-65 MZN/USD para mais de 70MZN/USD colocando a economia em risco de atingir níveis preocupantes de inflação. Enquanto a Reserva Federal dos EUA e a União Europeia aprovavam pacotes de incentivos de mil milhões e centenas de biliões de dólares americanos, respectivamente, para combater a recessão, o Banco de Moçambique decidiu aumentar a Taxa da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) em 300bps em Janeiro de 2021, com o objectivo de minimizar a inflação. O facto foi que as taxas de inflação ano a ano e médias aumentaram para 5% e 5,3%, respectivamente, em 2021, comparativamente às taxas de 3,5% e 3,1% em 2020. Após o baixo crescimento do PIB em 2021, a economia deveria crescer a um ritmo realista de 3%, visto que se esperava que o projecto de LNG de Moçambique, liderado pela Total, continuasse como planeado. O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), tinham ambos a convicção que o PIB do País cresceria 2,3% e 2,2%, respectivamente, considerando pressupostos semelhantes. Esperava-se que este projecto aumentasse os níveis de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) de Moçambique entre 5 a 8 mil milhões de USD até 2022, depois de oscilar entre 2 a 3 mil milhões de USD entre 2016 e 2018. Tudo isto tornou-se questionável quando
colocada em causa a segurança da Secção 2 em Palma entre finais de Dezembro de 2020 e princípios de Janeiro de 2021, e eventualmente forçaram a declaração de Força Maior do projecto a 26 de Abril de 2021. Milhares de empregos foram perdidos ao longo da cadeia de valor do projecto, com alguns empreiteiros a decidirem descontinuar e até vender os seus negócios. A continuidade do projecto de LNG de Moçambique, em determinada altura, tornou-se questionável, sendo que o melhor cenário possível apontava para um retoma das actividades no prazo de 12 meses. Ocorreram vários eventos que apontavam para um 2022 mais próspero. Em Maio de 2021, o Presidente da República de Moçambique anunciava a construção da Central Térmica de Temane, propriedade da Globeleq, no valor de mil milhões de dólares. O fecho financeiro teve lugar em Dezembro de 2021, com 652 milhões de USD de capital da dívida a ser garantido. Isto representará uma força motriz para o crescimento do IDE de Moçambique em 2022, e também deverá desencadear o investimento do projecto PSA Inhassoro da Sasol com um custo estimado de mais de 700 milhões de dólares. A engenharia e concepção front-end (FEED) para a Terminal de LNG da Matola de Beluluane, liderada pela Companhia de Gás de Beluluane, foi publicamente confirmada a sua conclusão e o início da produção, previsto para ocorrer em 2024. O que significa que o fecho financeiro do projecto está previsto para meados de 2022. Adicionalmente, a 6ª ronda de licenciamento foi anunciada pelo Instituto Nacional de Petróleo (INP), em Novembro de 2021, onde é expectável o licenciamento de 16 blocos adicionais de Petróleo e Gás até Agosto de 2022, os quais serão distribuídos pela Bacia do Rovuma, Angoche, Zambeze, Delta e Bacias Save. Com o acordo celebrado entre o Governo de Moçambique (GdM), o Ruanda e a SADC, bem como com o apoio à formação oferecida por Portugal e pela União Europeia para Cabo Delgado, o sentimento em relação à continuidade do projecto LNG de Moçambique melhorou consideravelmente ao longo do segundo semestre de 2021. A confirmação expressa por Patrick Pouyanné, CEO da Total Energies, de que o primeiro gás www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022