NAÇÃO |OUTLOOK 2022
Mundo em 2022: da Convalescença ao Poder do ‘Metaverso’ Projecta-se uma recuperação da economia global que, sem a erradicação do covid-19, não vai possibilitar uma fácil correcção de eventuais desequilíbrios face a riscos como o da inflação. Mas o ambiente tecnológico deve testemunhar avanços verdadeiramente disruptivos Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
O
mundo deve andar a múltiplas velocidades durante o ano que agora começa, com os principais eventos a serem marcados, obviamente, pelos países desenvolvidos, segundo sugerem várias publicações citando entidades oficiais, numa visão a que a revista portuguesa Exame também faz uma análise substancial. Depois da profunda recessão pandémica de 2020, o ano passado trouxe uma forte retoma da economia mundial, com as instituições internacionais a estimarem um crescimento entre os 5,6% e os 5,9%. É o ritmo mais elevado dos últimos 40 anos. Até por isso, não é uma surpresa o abrandamento esperado para 2022 que, ainda assim, deverá trazer uma variação do PIB global superior ao período pré-crise. Será provavelmente o último fôlego da retoma, antes de regressarmos à velocidade de criação de riqueza a que o século XXI nos habituou. A principal diferença está nos países mais ricos do mundo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias avançadas cresceram a um ritmo de 2% ao ano entre 2010 e 2019. Os dados estimam que, após a contracção de 2020, estes países vão crescer 5,2% e 4,5% em 2021 e 2022, respectivamente. Para 2023, espera-se um regresso à tendência da História recente destas regiões, com um crescimento económico próximo de 2%. Os EUA, em específico, deverão voltar a ter um novo ano muito positivo, prevendo-se que a sua economia dê um salto de 5,2%, depois de ter crescido uns robustos 6% em 2021. Valores que comparam com 4,3% (2022) e 5% (2021) da zona euro. Portugal ficou
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abaixo da média da moeda única em 2021 (4,4%), mas deverá superá-la ao longo deste ano (5,1%), de acordo com o FMI, instituição menos optimista sobre a evolução da economia portuguesa. Mas o Banco de Portugal, que publicou as previsões mais recentes, espera um crescimento de quase 6%. Retoma a duas velocidades Apesar de os números das economias emergentes serem mais impressionantes, ficam mais próximos da sua tendência histórica. Entre 2010 e 2019 estas economias cresceram 5% ao ano, enquanto a recuperação de 2021 ficou nos 6,4% e a de 2022 deve ficar nos 5,2%. É importante notar que este ímpeto vem quase todo dos emergentes asiáticos, onde estão integrados países como a China e a Índia. Outras regiões do mundo vão recuperar-se menos. A África Subsaariana não conseguirá chegar aos 4% em nenhum dos anos. O Médio Oriente e a Ásia Central ficam pouco acima disso. Várias instituições internacionais têm alertado que a retoma a duas velocidades é, em parte, explicada por ritmos muito díspares de vacinação. O continente africano, por exemplo, não tem sequer 10% da sua população totalmente vacinada contra o covid-19, o que compara com quase 50% na totalidade do mundo. Este atraso não só deixa estes países mais vulneráveis aos efeitos negativos do coronavírus – perda de vidas humanas, saturação de serviços de saúde e perdas económicas –, como os deixa como fábricas de variantes que, inevitavelmente, acabam por ser exportadas para o resto do mundo. “A recuperação mundial continua a avançar, mas perdeu ímpeto e tem ficado cada vez mais desequilibra-
da. Segmentos da economia mundial estão a recuperar rapidamente, mas outros estão em risco de serem deixados para trás, especialmente países de baixo rendimento, onde as taxas de vacinação são baixas e as empresas e trabalhadores estão em sectores de contacto intensivo em que a retoma ainda não se verificou totalmente”, lê-se no outlook da OCDE, publicado em Dezembro. A Ómicron pode ameaçar o primeiro trimestre, ao mesmo tempo que os obstáculos logísticos e de transporte ainda não desapareceram, sendo que se adensam as dúvidas acerca da inflação, que pode ser menos temporária do que se pensava. Tudo isto, segundo a OCDE, “torna o Outlook (panorama) mais incerto e cria desafios políticos consideráveis”. Riscos de inflação Saber o que acontecerá à inflação ajudaria a responder a perguntas como o que fazer aos estímulos orçamentais. E aos juros. Ou se os programas de compra de activos deverão terminar mais cedo. Mas prevalecem dúvidas inquietantes quanto à evolução dos preços. Depois de anos em que a inflação se mostrou totalmente controlada e baixa para os objectivos dos bancos centrais, a retoma da pandemia www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022