E&M_Edição 56_Janeiro 2023 • Guia de Fitness & Wellness - Trabalhar o Corpo (e a Mente) em Maputo

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MOÇAMBIQUE EMPREENDEDORISMO QUE AVANÇOS A INCUBADORA DO STANDARD BANK TROUXE AO MERCADO EM CINCO ANOS? TAXAS DE JURO SECTOR PRIVADO SUGERE AO BANCO CENTRAL SOLUÇÕES QUE PODEM ALIVIAR A PRESSÃO BIOGÁS CINCO JOVENS CIENTISTAS NACIONAIS PROPÕEM INOVADORA SOLUÇÃO ENERGÉTICA CEO TALKS “A NOSSA APOSTA NO MERCADO É DE LONGO PRAZO”, FRANCISCO JÚNIOR, PERNOD RICARD Janeiro • 2023 • Ano 06 • Nº 56 • 350MZN A capital tem cada vez mais opções para todo o tipo de gostos e perfis. Fomos conhecê-las TRABALHAR O CORPO (E A MENTE) EM MAPUTO GUIA DE FITNESS & WELLNESS

OBSERVAÇÃO

Fórum de Davos

Reunião Anual do Fórum Económico 2023, de 16 a 20 de Janeiro, tenta promover maior cooperação entre países

OPINIÃO

”A Dinâmica do Preço das Obrigações, Wilson Tomás, Research Banco Big Moçambique

MACRO

Como vai funcionar o projecto da Organização Holandesa de Desenvolvimento que pretende promover o acesso seguro e investimentos produtivos sobre a terra?

75ÓCIO

76 Escape Uma viagem pelo paradisíaco reino da Tailândia 78 Gourmet Ao sabor dos pratos típicos de Moçambique, servidos no Wonna Bay 79 Adega Conheça os benefícios do vinho na saúde e bem-estar 81 Arte A exaltação do amor no romance da escritora Larsan Mendes 82 Ao volante Uma aventura pelo cruzeiro da MSC movido a Gás Natural Liquefeito

Objectivos da Empresa”, Hélio Matlonhane, consultor e gestor de projectos da InSite Moçambique

20 CONTEÚDO LOCAL

Workshop do Programa +Emprego Revela o Papel da Inovação na Criação de Novas Oportunidades de Emprego

OPINIÃO

“Moçambique é Chave na Agenda da Sustentabilidade”, Bruno Dias, Partner da EY Moçambique

NAÇÃO

SAÚDE E BEM-ESTAR

24 Corpo são, mente sã Um guia Fitness & Wellness mostra onde e como obter serviços de actividade física e desportiva diversa na cidade de Maputo 38 Opinião “A Electrificação da Indústria dos Transportes Poderá Impulsionar a Liberdade Económica de Moçambique, Benson Marlon, Absa Bank Moçambique 40 Artes marciais O testemunho dos praticantes de lutas sobre a sua importância no equilíbrio físico e mental

52 MERCADO E FINANÇAS

Que País teremos em 2023? Sector privado manifesta descontentamento com as elevadas taxas de juro e o Banco Central alerta para a prevalência de riscos

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BAZARKETING

“Feliz. Ano Novo. E porquê?”, Thiago Fonseca, Sócio e Director de Criação da Agência GOLO, PCA Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda

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E SPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

60 928 Challenge Macau

O caminho percorrido por cinco jovens cientistas moçambicanos até à distinção internacional em Macau 64 UXENE SA

O ambicioso projecto de instalação da primeira Cidade Inteligente moçambicana no distrito de Marracuene

68 CEO TALKS

Francisco Júnior, country manager da empresa líder de vinhos e espirituosas, Pernod Ricard, revela que o mercado é fértil para o sucesso do negócio das bebidas alcoólicas

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“Modelo da Incubadora Está a Ser Replicado em Vários Mercados Africanos Onde o Standard Bank Está Presente”, Sasha Vieira, responsável pele incubadora do Standard Bank 72
BY FNB “Poupar em Tempos de Festas”, Nancy Mafundza, directora de retalho do FNB Moçambique
“Culturas Regenerativas – O Foco é no Potencial e não no Problema”, Susana Cravo, Consultora & Fundadora da Kutsaca
da Plataforma Reflorestar.org 44
“O Impacto da Revisão pela Gestão na Definição da Estratégia e dos
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P OWERED BY STANDARD BANK
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OPINIÃO
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OPINIÃO
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Saúde, Bem-estar e Votos de um Próspero 2023

Afechar mais um ano e a começar o de 2023, a E&M parece abandonar o seu habitual foco: o de abordar questões de interesse puramente socioeconómico no seu tema principal, a que chamamos ‘Tema de Capa’ cá dentro de casa. Desta vez, procuramos brindar o nosso prezado leitor com uma espécie de guia para a busca de (mais) saúde e bem-estar.

Para tal, trazemos um leque de opções que a capital do País oferece para melhorar a sua qualidade de vida, através de um mapa quase completo sobre onde ir e como proceder para aceder a uma gama de serviços que proporciona a prática de actividade física e desportiva.

Como deve imaginar, a motivação para a escolha deste tema prendeu-se com o facto de estarmos num período tradicionalmente de férias, em que as pessoas têm mais tempo para pensar no fitness & wellness. A E&M quis apoiá-lo neste propósito através de uma sequência de artigos, cuja produção e divulgação não é comum nos media nacionais.

Importa, neste contexto, e na tentativa de conferir legitimidade à inclusão deste tema como “prato principal” do menu da E&M, referir que “saúde e bem-estar” não são um assunto, de todo, dissociado da economia. Vejamos: Paul Samuelson, um importante economista norte-americano, amplamente reconhecido como um dos formuladores da ciência económica moderna, e figura de particular relevância na história do pensamento económico em geral, defendeu que a economia, desde a sua

origem, teve como preocupação questões de políticas administrativas e do bem-estar. No século XX, apesar da continuidade de uma escola de escritores que acreditava que a economia poderia cumprir uma função “política”, surgiu outra que divergiu desse pensamento, e da qual se originou a teoria tradicional do bem-estar, que se dividiu em “economia do bem-estar” e “nova economia do bem-estar”.

Ou seja, ao transformar-se em bússola para orientar a sociedade na busca da saúde física e mental – o bem-estar – a E&M acaba por também prestar o seu contributo na disponibilização de informação de relevância económica.

Esta edição é também veículo de um “frente-a-frente” havido entre o Banco de Moçambique e a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA, a principal organização empresarial do País), para uma antevisão do que as partes pretendem que seja o novo ano.

Ambas as organizações convergem quanto à intenção de buscar a estabilidade macroeconómica, mas divergem quanto aos meios: enquanto o sector privado exige a redução e a previsibilidade das taxas de juro, o Banco Central entende que tal não será possível enquanto os sinalizadores internos e internacionais não forem favoráveis. Isto sugere que a economia está longe de tomar o rumo da estabilização.

Apesar disso, ao cair do pano de mais um ano difícil, e ao nascer de um novo, a E&M renova os votos para que, em 2023, o prezado leitor seja próspero em todos os domínios da vida!

JANEIRO 2023 • Nº 56

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Hermenegildo Langa, Nário Sixpene, Yana de Almeida

PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos

ÁREA COMERCIAL Marcia Mbuvane marcia.mbuvane@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL

EM MOÇAMBIQUE Media4Development

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 4
E DITORIAL

Davos, 2023

Cooperação Entre as Nações no Centro da Agenda

A Reunião Anual do Fórum Económico Mundial 2023 tem lugar de 16 a 20 de Janeiro sob o tema “Cooperação num mundo fragmentado”.

O documento emitido pelos organizadores não apresenta os detalhes que nortearam a escolha deste tema, e sobre os quais se vão definir os assuntos específicos a serem levados à mesa de debate, mas o contexto actual pode ajudar a descortinar o pano de fundo. Basta olhar para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que divide o mundo em duas partes, e que cria posições divergentes sobre as causas e caminhos para a resolução do diferendo.

A este sobrepõem-se os fracos avanços nos acordos climáticos (incluindo na recente COP 27) face à relutância em reduzir as emissões de CO2, o que sugere a necessidade de uma urgente articulação entre os países na busca pela sustentabilidade ambiental.

OBSERVAÇÃO 6
FOTOGRAFIA D.R.
www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023
www.economiaemercado.co.mz | Dezembro 2022

O

Fiscalidade Moçambique passa a ter lei específica de tributação de combustíveis

Com a revisão da Lei do Sistema Tributário, os combustíveis passam a ser tributados através do Imposto sobre Consumos Específicos. A nova medida, aprovada pelo Parlamento, visa, entre outros aspectos, a reposição dos danos causados pelos combustíveis fósseis ao ambiente.

Trata-se de uma lei que vai suprimir a competência do Conselho de Ministros de alterar os impostos, passando-a para a Assembleia da República enquanto órgão legislativo.

Introduz-se ainda a referência ao Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC), que estava omisso por ter sido criado posteriormente pela Lei n.º 5/2009, de 12 de Janeiro –Eliminar a Taxa de Combustíveis –, passando estes a serem tributados em sede do Imposto sobre Consumos Específicos (ICE), tendo em conta a sua natureza e características. “A incorpora-

ção dos combustíveis no ICE justifica-se ainda por motivos extra-fiscais, nomeadamente os danos ambientais por si provocados e a necessidade de reposição dos custos da sua utilização (princípio do utilizador/pagador – os combustíveis são usados em veículos que desgastam as estradas, daí a consignação de parte da receita para a sua manutenção)”, explicou Max Tonela, ministro da Economia e Finanças.

O Imposto sobre Consumo Específico introduz ainda a tributação de produtos como plástico, sumos, xaropes e outros bens de consumo especial, nocivos à saúde ou ainda considerados supérfluos e de luxo.

Segundo o Governo, parte dos valores provenientes do Imposto sobre Consumos Específicos deve ser alocada aos sectores da Saúde (35%), Desporto (15%) e aos restantes (50%) para o Estado aplicar noutras necessidades.

A iniciativa, que vai abranger residentes nos municípios de Pemba, Montepuez, Nampula e Nacala Porto, “será implementada durante cinco anos. De uma forma global, irá beneficiar cerca de 40 mil pessoas com casas melhoradas, e 324 mil pessoas com infra-estruturas básicas como água, estradas, energia e valas de drenagem, bem como com equipamentos sociais – creches, escolas primárias, centros de saúde, centros comunitários, parques de diversão e mercados”, de acordo com o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos

Hídricos, Carlos Mesquita. Por seu turno, o Banco Mundial quer que o projecto torne as cidades sustentáveis e inclusivas: “estas cidades são centros económicos no Norte. Se forem bem equipadas, irão impulsionar a transformação estrutural da região.

O desenvolvimento destes municípios estará na vanguarda do reforço da resiliência climática de milhares de cidadãos”, explicou Idah Pswarayi-Riddihough, representante do Banco Mundial em Moçambique.

Durante a implementação do projecto haverá outros benefícios indirectos, de que se destacam a geração de empregos fixos e a arrecadação de receitas municipais.

O Governo prevê um aumento do nível geral de preços para 2023, influenciado pela pressão inflacionária ao nível global. Segundo a proposta do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) para 2023, a taxa de inflação média anual poderá atingir 11,5% contra 2,7% de 2022. O alerta foi feito pelo primeiro-ministro, Adriano Maleiane, que, na ocasião, afirmou que o PESOE para 2023 prevê o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 5%.

Maleiane explicou que a proposta apresentada foi elaborada num contexto internacional exigente e fortemente marcado pelas consequências da guerra na Ucrânia, pela prevalência de acções terroristas em Cabo Delgado e pelo aumento da frequência de eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas, que agravam os já complexos desafios existentes na gestão das finanças públicas.

Segundo o governante, em 2023, a base de crescimento económico estará assente num maior dinamismo do investimento privado. Por isso, serão colocadas à disposição do empresariado, através do PESOE, oportunidades de negócio de cerca de 134,2 mil milhões de meticais para a provisão de bens, serviços e investimentos.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 8 RADAR
Macroeconomia Governo alerta que a inflação continuará elevada em 2023
Cabo Delgado Banco Mundial disponibiliza 100 milhões de dólares para o desenvolvimento urbano do Norte do País Banco Mundial anunciou um total de 100 milhões de dólares para financiar o projecto de desenvolvimento urbano do Norte de Moçambique.

Banca

Banco de Moçambique anuncia aumento ‘ligeiro’ da prime rate

A Associação Moçambicana de Bancos (AMB) anunciou que a taxa de juro de referência para as operações de crédito em Moçambique (prime rate) subiu de 22,5% para 22,6%, valor a vigorar em Dezembro de 2022.

A taxa, calculada mensalmente pela AMB e pelo Banco, tem por base um indexante único (calculado pelo Banco Central) que subiu de 17,2% para 17,3%, e um prémio de custo de 5,3% (definido pela AMB) que se mantém inalterado.

Os aumentos da prime rate têm estado associados à subida da taxa de juro de política monetária (ta-

xa MIMO, que influencia a fórmula de cálculo da prime rate) pelo Banco Central, por forma a controlar a inflação. A criação da prime rate foi acordada em 2017 entre o BdM e a AMB para eliminar a proliferação de taxas de referência no custo do dinheiro.

Na altura, foi lançada com um valor de 27,75% e está 515 pontos-base abaixo desde então. O objectivo é que todas as operações de crédito sejam baseadas numa taxa única, acrescida de uma margem (spread), que será adicionada ou subtraída à prime rate mediante a análise de risco.

com Deficiência

A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) procedeu, no passado dia 9 de Dezembro, em Maputo, à doação de duas toneladas de produtos de primeira necessidade e kits de brinquedos à Cooperativa Luana Semeia Sorrisos, para beneficio de crianças com deficiência.

O gesto, inserido nas comemorações do Natal Solidário, visa reforçar a capacidade de resposta da cooperativa no que diz respeito à assistência às crianças na sua maioria com deficiência motora. É a segunda vez consecutiva que a BVM apoia a Cooperativa Luana Semeia Sorrisos, beneficiando mais de 90 crianças.

Para o presidente do Conselho de Administração da BVM, Salim Valá, não obstante o contexto difícil que as famílias atravessam, o gesto

vem para desenvolver a esperança no seio das crianças, bem como das suas famílias.

Neste sentido, apelou ao envolvimento de todas as forças vivas da sociedade, realçando que cada gesto conta e tem o condão de gerar verdadeiras mudanças na vida destas crianças.

“Como estamos na quadra festiva, queríamos, junto com as crianças, passar a mensagem de que todos são importantes. Vocês merecem e podem lutar para ter uma vida melhor, com vista à materialização de todo o potencial humano. São estas crianças que, amanhã, serão professores, médicos, engenheiros, desportistas e artistas. Nós, como país, não podemos desperdiçar estes talentos”, realçou, na ocasião, o presidente da BVM.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023
Responsabilidade Social Bolsa de Valores de Moçambique Promoveu “Natal Solidário” para Crianças

Como o Mercado dos Créditos de Carbono Está a Crescer

As florestas de todo o mundo são importantes “filtros” de carbono, que absorvem anualmente uma quantidade líquida de 7,6 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e).

Por conseguinte, o crescimento, preservação e gestão das florestas e outros sistemas de filtragem de carbono naturais são cruciais para alcançar emissões líquidas zero até 2050, e as soluções climáticas baseadas na natureza, como projectos de conservação, restauração e gestão de terrenos que geram créditos de carbono ao evitar, reduzir ou sequestrar as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), por exemplo, são uma forma de o fazer. Com mais organizações a comprometerem-se com

metas climáticas, os créditos de carbono destes projectos têm sido muito procurados, inclusive em Moçambique, onde começa a haver uma procura grande por este tipo de produto.

A infografia deste mês analisa a crescente procura de créditos de carbono gerada por projectos baseados na natureza, utilizando dados do Ecosystem Marketplace, em que se mostra como o valor das transacções totais nos mercados voluntários de carbono em 2021 atingiu quase 2 mil milhões de dólares –mais do que triplicando desde 2020.

Os projectos de crédito de carbono para silvicultura e uso da terra lideraram o crescimento, representando mais de 66% ou mais de 1,3 mil milhões de dólares de transacções em 2021.

NÚMEROS EM CONTA
Valores
Milhões FLORESTA E USO DA TERRA ENERGIAS RENOVÁVEIS EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EFICIÊNCIA DE COMBUSTÍVEIS APARELHOS DOMÉSTICOS OUTROS* DESCONHECIDO 10 www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023
de transacção do mercado de carbono por categoria
FONTE Ecosystem Marketplace, Visual Capitalist Valor de transacção de créditos de carbono de floresta e uso da terra aumentou 20 vezes entre 2016 e 2021.

As taxas de juro no mercado de capitais oscilam com as flutuações dos preços, motivadas, muitas vezes, quer pelos mecanismos de procura e oferta relacionados com alterações de expectativas dos investidores, quer como resultado de alterações na política monetária e fiscal dos países emitentes ou onde estão sediados os emitentes.

Quando existem alterações de política monetária - por exemplo, quando o BancoCentral aumenta as Taxas de Juro de Referência (a taxa MIMO no caso de Moçambique) -, o preço das Obrigações cai. Esta queda dos preços reflecte uma redução da liquidez no mercado, pois i) os investidores passam a ter outras alternativas para investir o seu capital, retirando-o dos títulos que possuem, ii) os bancos comerciais passam a reter uma percentagem maior dos seus activos no Banco Central, e iii) agravam as condições de crédito disponibilizadas à economia. Todas estas situações tornam as condições de mercado mais restritivas, resultando em taxas de Juro mais elevadas.

A Dinâmica do Preço das Obrigações

totalmente absorvidos pelos investidores existentes. Para comprarem toda a oferta disponível, os investidores exigem taxas de retorno superiores aproveitando-se do desequilíbrio na procura, elevando uma vez mais as taxas de Juro.

Estes comportamentos têm um impacto directo nos activos financeiros que compõem as carteiras dos investidores moçambicanos, visto que elas são maioritariamente constituídas por títulos de dívida e depósitos a prazo. A subida das taxas de juro tem um efeito negativo nos preços das obrigações, uma vez que existe uma relação directa entre as duas variáveis.

A relação entre o preço de uma obrigação e a taxa de juro deriva do facto de o preço por obrigação ser o somatório dos cash-flows, descontados para a data presente, que a obrigação irá ter durante a sua vida. Qualquer alteração na taxa de desconto (yield) resulta numa variação do preço da obrigação, pois o somatório dos cash-flows irá aumentar ou diminuir com o desconto dos mesmos. O preço das obrigações, principalmente as de taxa fixa, incorporam sempre as expectativas

para um título com um cupão de taxa fixa, que esteja a transaccionar no mercado a um preço de 100%, a yield será equivalente à taxa de cupão. Se as taxas de juro dos activos de igual risco no mercado subirem, é expectável que esta obrigação passe a transaccionar abaixo de 100%, gerando menos valias potenciais para os investidores que a tenham comprado a 100%. Se as taxas de juro caírem, o movimento será o inverso e a obrigação passará a transaccionar acima de 100%, gerando mais valias potenciais para os investidores que a tenham adquirido a 100%.

Assim sendo, e tendo em consideração a correlação positiva entre as yields e a taxa de referência de política monetária do Banco Central, o posicionamento estratégico de um investidor num cenário de subida da taxa de juro de referência deve acautelar os impactos dessa subida na composição da carteira de activos.

Tratando-se de investidores passivos – aqueles que normalmente investem em activos de longo prazo e que os detêm até à maturidade –, uma subida nas taxas de juro terá um impacto negativo na sua carteira actual, mas permitirá acrescentar novos activos a taxas de juro superiores, aumentando assim a rentabilidade média do seu portefólio. Por sua vez, se o investidor optar por uma gestão activa do seu portefólio, no momento em que antecipar uma subida nas taxas de juros pode recorrer ao mercado de capitais para se desfazer dos títulos com maior potencial de desvalorização, e aplicar em activos mais rentáveis de acordo com as condições actuais de mercado.

Por outro lado, as alterações no equilíbrio entre a procura e a oferta também podem resultar na subida das Taxas de Juro. Quando a necessidade dos emitentes por capitais aumenta são emitidos mais títulos no mercado que podem não ser

que os investidores têm para a evolução futura das taxas de juro, e alterarão sempre que se verificarem mudanças nessas expectativas. O aumento das taxas reduzirá o preço da obrigação e a redução das taxas terá um efeito inverso. Por exemplo,

O mercado secundário acolhe as necessidades dos investidores que optem por uma gestão activa dos seus portefólios, sejam elas de liquidez, de rebalanceamento ou meramente de trading. Os investidores que utilizem a gestão passiva também podem recorrer ao mercado secundário para investir em activos já emitidos e que, depois de incorporarem as novas condições de mercado, se afigurem mais adequados ao seu portefólio.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 12 OPINIÃO
Wilson Tomás • Research, Banco BIG Moçambique

“Vamos Transformar a Terra no Activo Mais Produtivo”

A Organização Holandesa de Desenvolvimento (SNV) vai dar início à implementação do chamado Investimento Responsável em Terras. A ideia é concretizar dois objectivos historicamente difíceis de conciliar: o acesso seguro à terra e a produtividade. Hilário Sitoe, da SNV, esclarece como se pretende lá chegar

Com uma duração prevista para quatro anos e um custo de 800 mil euros (mais de 53 milhões de meticais), o projecto, lançado recentemente, terá ainda de juntar os principais interessados, nomeadamente o Governo, as comunidades e o empresariado para delinear formas de actuação.

A SNV pretende, no fundo, colmatar as lacunas que impedem o País de transformar a terra num activo para o desenvolvimento, numa altura em que a política e estratégia da mesma estão em revisão, e com um processo de auscultação muito deficiente.

De acordo com Hilário Sitoe, líder do sector da agricultura na SNV, além desta entidade, o projecto é administrado por um consórcio constituído pelo Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR), pela Land Equity International (LEI), o Center for People and Forests (RECOFTC) e pelo World Agroforestry (ICRAF), e conta com apoio financeiro da Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação (SDC).

Recentemente, a SNV lançou um projecto a que chama de Investimento Transformativo em Terras que, entre outras questões, pretende “razoabilizar” a questão do acesso à terra pelas comunidades, ajudando a marcar uma posição contra o fenómeno da usurpação. Como é que projecta intervir neste domínio?

Primeiro, importa fazer uma contextualização à luz da Constituição moçam-

bicana e uma retrospectiva para entender como estávamos e porque estamos assim hoje. É importante frisar e compreender que a evolução por si começa a mostrar e a trazer, não apenas em Moçambique, uma discussão à volta dos investimentos na terra.

O Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) serve como um conforto para as sociedades menos favorecidas. Uma boa parte está nas mãos das comunidades, que a têm como recurso para o desenvolvimento de qualquer activo.

Como tal, se garantirmos que, à luz da actual legislação e do direito costumeiro, as comunidades continuem detentoras da terra, estamos a criar condições para que as mesmas possam gerar alguma renda e terem o seu meio de sustento.

Pode parecer que isso já funciona assim, até porque as comunidades já detêm a terra há tempos. Então, a pergunta pode ser: “porque é que não são capazes de fazer dela um activo?”

E a resposta é que não têm capacidade de usar a terra para desenvolver algo grande, não a podem tornar produtiva. Por isso circunscrevem-se apenas a praticar agricultura doméstica e, poucas vezes, conseguem excedentes para comercializar e tirar algum ganho para alimentar as suas famílias.

Uma das discussões importantes a este nível é o facto de a terra, por lei, ser propriedade do Estado. Não haverá, por isso, limites de intervenção do

SNV na tentativa de proteger os interesses das comunidades e do sector privado?

Creio que a grande questão é essa. O projecto olha para todas estas dinâmicas na perspectiva de investimentos baseados na terra, exactamente para criar condições para sistemas alimentares mais sustentáveis.

Para discutir a agricultura na perspectiva de produção e comercialização tem de se olhar também para outros factores como os recursos naturais envolvidos, os sistemas de transporte e processamento.

Tem de se tornar a cadeia cada vez mais sustentável do ponto de vista de sistemas alimentares, e isso só é possível se tiver terra arável disponível e que possa ser utilizada, seja para pequenos investimentos ou para os grandes, mas que sejam capazes de gerar renda.

Assim sendo, o projecto quer criar condições para, de acordo com o contexto, estimular uma discussão dos diversos sectores – público, privado e organizações da sociedade civil –, e discutir o tema sob o ângulo do direito de terra por parte das comunidades e investimentos baseados na terra onde a comunidade é consultada.

A discussão estende-se aos aspectos relacionados com o financiamento de investimentos sobre a terra, mas também à necessidade de manter, provavelmente, o direito de uso e aproveitamento, sem excluir a propriedade porque, se isto for possível, estaremos a contribuir para melhorar a produção nas comunidades menos favorecidas. É essa, em suma, a visão do projecto.

A experiência mostra que é muito antigo e difícil de concretizar o objectivo de conferir segurança ao direito de uso e aproveitamento da terra às comunidades e ao empresariado. Qual será o aspecto inovador no projecto da SNV?

Já há três abordagens interessantes:

14 www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023
“Porque é que as comunidades não são capazes de fazer da terra um activo? É porque não têm capacidade de usá-la para desenvolver projectos grandes e produtivos”
MACRO

uma é a das compensações não monetárias, mas à luz do uso e aproveitamento da terra. Outro modelo é o da plataforma das partes interessadas, porque pensamos que é possível aproximar o sector privado às diversas comunidades que querem proteger os seus interesses, direitos e deveres à luz da legislação primária. Depois, temos o sector privado que está interessado em aumentar os investimentos baseados na terra, e, por fim, temos o sector público que é o guardião e gestor da terra. Estamos a discutir todas estas questões para depois serem colocadas sobre a mesa e debatidas pelos três intervenientes – Governo, empresariado e comunidades.

Repare que, por exemplo, na fase de consulta da nova Política Nacional de Terras, as comunidades não foram con-

sultadas porque ocorreram eventos extremos, no caso os ciclones Idai e Kenneth, que dificultaram o acesso a algumas zonas onde as questões da terra são até mais prementes. Depois, temos a questão da insurgência no Norte, onde também não foi possível fazer consultas em certos lugares, sem contar com o covid-19, que coincidiu com o período das consultas, inviabilizando-as porque não podia haver contacto directo entre as pessoas.

A consulta às comunidades não foi feita na plenitude pelas questões que mencionei e isso não é culpa de ninguém. O que pode ter acontecido é que uma série de questões que talvez interesse às comunidades possa ter passado despercebida na actual redacção da política de terras.

Projectos similares estão a ser desenvolvidos noutros países, nomeadamente no Gana, Etiópia e Myanmar. Quais são as respostas que esses mercados deram e que poderiam dar uma visão do que vai acontecer em Moçambique?

O Gana tem um dos melhores exemplos de descentralização no uso da terra que promove o seu acesso seguro pelas comunidades e pelo empresariado. Naquele país, os líderes locais têm liberdade de decidir como a terra deve ser distribuída e utilizada, quer pelo sector privado, quer pelas comunidades.

Estes líderes estudam as propostas de investimento sobre a terra e decidem se devem ou não avançar com concessões para novos investimentos, mediante um estudo minucioso sobre os benefícios

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que esses projectos podem proporcionar à economia local. Mas para decidirem sobre isso contam com grande suporte técnico. Cada caso é diferente do outro, e cada país pode desenvolver a sua estratégia, mas no Gana funciona bem e existem investimentos de qualidade.

Haverá envolvimento do sector financeiro nestas discussões? Qual é o parecer deste sector sobre o projecto?

Imediatamente não será envolvido, mas vamos trabalhar com representantes do sector privado, incluindo a CTA. Um dos principais problemas que temos é que este devia ser um diálogo tripartido, mas não é possível ter o sector privado, o Estado e as comunidades em simultâneo. Deve-se, por isso, criar condições para se ter os três na mesma mesa a discutirem as premissas que existem para investimentos baseados na terra.

Se o sector privado quiser melhorar o seu ambiente de investimentos vai ter

de fazer um programa com sustentabilidade ambiental, sustentabilidade social das comunidades e sustentabilidade técnica, porque tem de deixar as comunidades felizes, mas não com o que vimos habitualmente que é abrir um furo de água aqui ou uma escola ali. Creio que tem de ser um plano de desenvolvimento com mais sentido.

Temos, por exemplo, os investimentos do oil & gas que envolvem muitos milhões de dólares. E o que vemos é que fazem um furo de água enquanto podiam criar um plano de desenvolvimento mais bem elaborado ou fazer um plano de ordenamento daquela comunidade, investir em infra-estruturas sociais e criar condições para o desenvolvimento do capital humano que ali estiver, abrir escolas, disponibilizar bolsas de estudo e criar condições para que essas pessoas que se vão formar sejam empregadas.

Esse modelo já é usado em muitos países. Se uma determinada comunidade estiver próxima de um projecto de oil

& gas, porque não transformá-la numa cidade? Do meu ponto de vista, a discussão deve ser por estas vias.

Ao fim dos quatro anos de duração, que País teremos em termos de exploração de terra se tudo correr conforme as previsões?

Nesta fase, estamos a fazer estudos que vão incidir no tipo de plano de acção que temos de ter para implementar as actividades à medida dos problemas que existem.

Mas eu creio que se nós chegarmos a um estágio em que o diálogo tripartido de facto ocorra, e as comunidades já participem nas questões dos grandes investimentos, e os DUAT para as comunidades sejam tramitados de forma muito mais célere, pode ser um grande investimento do projecto.

Há exemplos de lugares onde se fizeram grandes investimentos sobre a terra, que depois se transformaram em grandes cidades. Esse é um outro nível de anseios que requer muita seriedade e celeridade. As comunidades levam muito tempo à espera do DUAT, cerca de dez anos ou perto disso. O sucesso dos investimentos na terra passa por conseguir uma boa base de dados para a sua gestão, que as comunidades participem e tenham voz, e que os investimentos sejam social, ambiental e tecnicamente sustentáveis.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 16
“O projecto olha para todas estas dinâmicas na perspectiva de investimentos, exactamente para criar sistemas alimentares mais sustentáveis”

A revisão pela gestão é normalmente realizada numa reunião em que a direcção/gestores analisam criticamente os resultados do desempenho do sistema, a sua eficácia, adequabilidade e alinhamento com a estratégia organizacional

O Impacto da Revisão pela Gestão na Definição da Estratégia e dos Objectivos da Empresa

Agestão em “piloto automático”, sem uma análise crítica das acções, constitui um grande risco para as empresas, fazendo-as trabalhar para “apagar incêndios” com recursos limitados, ao invés de construir um caminho sólido e sustentável para a sua melhoria contínua.

Os sistemas de gestão permitem optimizar processos e ajudam os gestores a obter informações organizadas e sistematizadas para que o processo de tomada de decisão seja o mais assertivo possível, isto é, baseado em evidências.

A prática de revisão pela gestão não é propriamente nova, embora este tema tenha começado a ser mais difundido e implementado nas Organizações com a introdução das normas ISO. Por exemplo, estava explícito na norma ISO 9001 (sistema de gestão da qualidade) na versão de de 2008 e na versão de 2015, e noutras normas com requisitos para sistemas de gestão.

As normas de referência não especificam a periodicidade para a ocorrência da revisão, pois o momento de realização pode depender de vários factores, alguns dos quais irei destacar neste artigo. No entanto, dão orientações sobre as informações que devem ser analisadas pela gestão (por exemplo, alterações de questões internas e externas significativas; retorno de informação das partes interessadas relevantes; desempenho de fornecedores externos; grau de cumprimento dos objectivos e adequação dos recursos disponibilizados).

A revisão pela gestão é normalmente realizada numa reunião em que a direcção/gestores analisam criticamente os resultados do desempenho do sistema, a sua eficácia, adequabilidade e alinhamento com a estratégia organizacional, em determinado período (mensal, trimestral, semestral ou anual, conforme definido pela empresa). É com base nessa análise que a direcção consegue tra-

çar novas acções com vista ao cumprimento dos objectivos desejados/estabelecidos.

Inúmeras vezes, em projectos de consultoria para implementação e certificação de sistemas de gestão, é-me perguntado quantas reuniões de revisão se devem fazer e qual a periodicidade recomendável para a realização das mesmas.

Conforme já referido supra, esta é uma actividade que deve ser executada em intervalos planeados, determinados pela organização, mediante o seu modelo de gestão, operações, necessidades e expectativas de accionistas e outras partes interessadas.

Contudo, tratando-se de um requisito normativo, a organização deve assegurar que efectua, pelo menos, uma reunião de revisão por ano, de forma a evidenciar a conformidade do seu sistema de gestão.

Ademais, embora os tópicos para análise estejam pré-estabelecidos nas normas, não é necessário que os mesmos sejam discutidos todos de uma só vez. A revisão pela gestão poderá ter lugar ao longo do tempo, ou seja, ser executada de forma faseada, e pode fazer parte de actividades regulares, tais como reuniões de direcção ou operacionais.

Entre os vários factores que podem determinar o(s) momento(s) da revisão destacam-se:

I. Maturidade do sistema de gestão;

II. Objectivos da empresa;

III. Ciclos de gestão da empresa e dos seus processos de negócio;

IV. Alterações significativas no contexto da organização, nos requisitos legais/normativos, requisitos dos clientes e outras partes interessadas;

V. Elevado número de reclamações ou não conformidades ou fraco desempenho dos processos.

Importa também realçar que a determinação de uma frequência/periodicidade para a concretização da reunião não invalida que esta possa ocorrer de forma

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 18 OPINIÃO
Hélio Matlonhane • Consultor e gestor de projectos na InSite Moçambique

extraordinária quando as circunstâncias e o contexto da organização o justificarem. Na minha interacção com empresas de diversos sectores de actividade (banca, construção, comunicação, transporte de cargas, entre outros), questionados sobre os principais desafios que enfrentam(aram) para preparar e realizar as reuniões de revisão, a maior parte dos gestores refere a dificuldade de recolher dados/informações que sirvam de inputs (entradas) para a análise, devido à falta de tempo dos responsáveis de processos para a monitorização consistente e regular do sistema.

A existência de dados necessários para este momento é um factor crítico, tendo em conta que é difícil fazer uma análise efectiva com informação parcial ou incompleta.

De recordar que um dos princípios da gestão da qualidade é a tomada de decisão baseada em evidências. O processo de tomada de decisão é complexo e agrava-se se os dados não estiverem suficientemente disponíveis para que a direcção possa avaliar os impactos positivos ou negativos de uma resolução.

Em muitos casos, os dados são parciais ou incompletos devido à deficiência na monitorização dos processos, objectivos e indicadores da Organização até à data da reunião. As empresas que têm a prática sistematizada de fazer encontros de acompanhamento dos processos, facilmente conseguem ter os dados disponíveis quando necessário,

enfrentando menos desafios e optimizando recursos, nomeadamente “tempo”. As normas apresentam a ordem de análise dos pontos da agenda da reunião. Segui-la não é obrigatório, todavia, acompanhá-la pode facilitar a visualização e o entendimento, visto que os pontos da agenda estão correlacionados entre si.

Quem deve participar na revisão pela gestão?

As normas não mencionam especificamente quem deve participar. Recomenda-se que os líderes/gestores que actuam directamente nos processos, assim como a gestão do topo da empresa, participem activamente da revisão pela gestão, seja realizada de forma formal ou informal.

Benefícios da revisão pela gestão

O principal benefício da realização desta actividade é conseguir trazer a alta direcção para um encontro com uma agenda rica em informação essencial para se definirem os próximos passos da organização.

É comum, devido às várias urgências ou prioridades, a gestão de topo não conseguir ter no dia-a-dia a percepção e informação pontual relativa à satisfação dos clientes e outras partes interessadas, desempenho dos fornecedores, necessidades de recursos, conformidade da empresa com a legislação aplicável, desempenho dos processos, conformidade dos produtos ou serviços, número, tipo

e origem das reclamações, não conformidades recebidas e tratadas ou estado e eficácia das acções correctivas empreendidas.

Reitere-se que a agenda da reunião pode variar conforme o sistema de gestão implementado. No entanto, as informações anteriormente indicadas no geral fazem parte dos pontos de revisão, permitindo que a direcção tenha e analise os dados relevantes, gerados pelo sistema e reportados pelas pessoas designadas, atempadamente. Ou seja, permitindo um overview do funcionamento da empresa que poderá facilitar a tomada atempada de decisões relevantes pelos gestores.

Muitas vezes, porém, as reuniões de revisão pela gestão não são eficazes e conclusivas. Como contrariar esta tendência?

A reunião de revisão pela gestão não deve ser encarada como uma “reunião do sistema de gestão”. Aliás, não deve haver uma distinção entre o sistema de gestão e a empresa, pois o primeiro é uma ferramenta que auxilia a organização na gestão dos seus recursos e processos. Portanto, a reunião de revisão deve ser considerada uma actividade da empresa que permite avaliar o desempenho, de forma a assegurar o melhor alinhamento com a estratégia definida.

A reunião de revisão pela gestão também não deve ser vista como um momento de “caça às bruxas”, uma oportunidade para apontar culpados ou “lavar roupa suja” entre os gestores de processos e direcção. Acima de tudo, aquele encontro deve ser visto como uma ocasião para as empresas encontrarem soluções conjuntas e obterem o compromisso de todos os participantes para a implementação das decisões/acções subsequentes.

Em síntese, a revisão pela gestão deve permitir concluir sobre a contínua pertinência, adequação, eficácia e alinhamento do resultado da empresa com a sua direcção estratégica. Ou seja, as saídas da revisão pela gestão devem reflectir uma conclusão sobre se o sistema continua apropriado, se cumpre os requisitos estabelecidos e se a Organização alcançou os resultados desejados, tendo em conta a sua direcção estratégica.

Daí que, como resultado deste momento de análise, faz-se necessária a elaboração de uma acta de que constem as oportunidades de melhoria identificadas e as principais decisões tomadas, responsáveis e prazos de execução. O estado das acções resultantes de uma reunião de revisão pela gestão deve ser o primeiro ponto de discussão na agenda da reunião seguinte.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 19
A revisão pela gestão enriquece a informação das reuniões de planificação das organizações

“Inovação na Abordagem é Fundamental Para Criar Mais Emprego em Cabo Delgado”

A resposta aos imperativos do Conteúdo Local está, também e principalmente, na promoção do emprego. Mas este exige, cada vez mais, uma visão ‘fora da caixa’, em que a ligação entre programas e a inovação são requisitos mandatórios para atingir os objectivos, tão justos quanto necessários, de desenvolvimento em Cabo Delgado

No mais recente workshop do Projecto +Emprego, realizado no dia 30 de Novembro, em Maputo, o debate obedeceu ao mote: “Dinâmicas de Inovação e +Emprego”, um tema que sugere a necessária e urgente evolução do paradigma na abordagem rumo à empregabilidade efectiva da população jovem da Província de Cabo Delgado.

No encontro, participaram, como habitualmente, várias entidades parceiras do projecto: a União Europeia que co-financia o +Emprego, a CTA, o IFPELAC, a Fundação Aga Khan, GAPI, entre vários outros.

Cristina Paulo, coordenadora geral do Projecto +Emprego, abriu a sessão, abordando “a importância da gestão do conhecimento de um projecto-piloto, que tem como missão fazer o scaling up de iniciativas meritórias já existentes, mas também valorizar e testar novos programas, abordagens e metodologias, num projecto pequeno na escala financeira, mas não na ambição, que é enorme”.

Assente na diversidade de parceiros e de formas de fazer as coisas acontecerem para atingir os resultados pretendidos, o objectivo final do Projecto +Emprego “é a melhoria da empregabilidade dos jovens de Cabo Delgado e o incremento do seu rendimento”, assinalou.

O +Emprego é apoiado pela União Europeia, gerido e co-financiado pelo Camões I.P., com um orçamento de 4, 2 milhões de euros.

Olhar para fora para fazer cá dentro

A primeira ideia partilhada na ocasião foi a incorporação do aspecto inovador na discussão e na implementação de todas as iniciativas de promoção do emprego, e coube ao partner da Jason Moçambique, João Gomes, na qualidade de keynote speaker da sessão, abor-

dar as “Soluções africanas inovadoras para a empregabilidade dos jovens”, sugerindo “um olhar para as experiências de alguns países africanos para tentar perceber o que estão a fazer para combater o desemprego”.

E propôs, nessa base, “uma abordagem sob três ângulos. Primeiro: a mudança de foco da procura para a oferta de emprego, com o argumento de que não basta munir os jovens com uma série de competências técnicas e profissionais para depois ‘stocá-los’ algures fora do mercado, como se tem feito actualmente; segundo, a mudança de mentalidade, significando que o desemprego em África não depende apenas da acção dos Governos, mas de todos os actores da sociedade; e, em terceiro, o papel dos jovens que já deixaram de ser o problema, estão a ganhar voz e são parte da solução.”

Um exemplo de medidas inovadoras ‘fora da caixa’ made in África é o da Nigéria. “Em resposta ao desfasamento entre as necessidades de emprego da indústria (muito centrada no lado da oferta) e a formação nas universidades (centrada na procura), a Comissão das Universidades da Nigéria tem critérios de referência para interacções entre as universidades e a indústria”.

Por outras palavras, prosseguiu, “é obrigatório que todas as universidades nigerianas criem centros empresariais. Ou seja, o aspecto a considerar não são os jovens nem a sua ‘hiper-qualificação’, e sim a oferta de emprego.” Para João Gomes, “é por aqui que se deveria começar a pensar sobre esta questão também em Moçambique.”

Muito a fazer, mas algo já a acontecer

Há, ainda assim, boas iniciativas de inovação e algumas até deram o seu testemunho no workshop +Emprego, caso da formação de apicultores nas comunidades rurais de Cabo Delgado, nomea-

damente no distrito de Chiúre, em benefício de jovens deslocados e vulneráveis, promovida pela Fundação Aga Khan. De acordo com Alexandre Devissone, “este projecto apoiado pelo +Emprego visa estabelecer a cadeia de valor do mercado assegurando o retalho do mel processado, embalado ou em bruto, e garantir a disponibilidade de alimentos.

Para isso foram instaladas 75 colmeias naquela localidade. Os formandos trabalharam em equipa na construção de colmeias com vista à sua integração no mercado de trabalho e à geração de rendimentos”, assinalou.

O contributo dos grandes projectos

“Como aumentar a inovação das medidas dirigidas à empregabilidade dos jovens de Cabo Delgado, visando a sua maior eficácia na perspectiva do sector

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 20 CONTEÚDO LOCAL
Texto Celso Chambisso •

privado?” A esta pergunta feita no painel de debate no mesmo evento, Paulo Mendonça, E&P Country Manager da Galp em Moçambique, revelou as realizações da multinacional, uma das concessionárias do projecto de gás natural das Áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma, e como está a desenvolver programas ao nível da formação, de treino e de estágios na empresa, assisnalando que, actualmente, a maior parte das pessoas que contrata são jovens.

“Nós temos um programa já muito consolidado em várias geografias e também aqui em Moçambique, através do qual contratamos jovens para estágios. Os mais bem-sucedidos acabam por ficar. Esta é a ferramenta mais importante que a Galp tem neste momento para contratar jovens”, revelou.

Paulo Mendonça recordou as boas experiências levadas a cabo pela multinacional, o recente acordo assinado com a Associação Internacional de

Estudantes em Ciências Económicas e Empresariais (AIESEC), com vista a apoiar a concretização dos seus projectos de impacto social, aproximando igualmente a empresa da juventude moçambicana”, complementou.

Além disso, prosseguiu, “a Galp tem um acordo com o projecto +Emprego, assinado durante a FACIM, através do qual vai financiar um programa desenvolvido com a Universidade Unilurio, para formar formadores de jovens em matéria de oil & gas a partir do início do próximo ano.”

Paulo Mendonça lembrou também que, já em 2012, “a empresa desenvolveu uma série de programas, com destaque para a formação de 200 jovens em várias áreas de competências relacionadas com este tipo de projectos.

Tratou-se de uma formação internacional, com uma duração de entre dois a três anos, e que contribuiu para que os beneficiários tivessem elevado as suas capacidades, sendo que muitos foram contratados.”

OIT pede agregação de informação

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), representada por Paulo Selemane, recomendou que se olhe para a estrutura do potencial produtivo, e até demográfico, para decidir sobre as políticas de fomento ao emprego.

“Actualmente há uma euforia, justificável até, em relação ao gás. Mas o facto é que o País é essencialmente agrícola e com cerca de 60% da população a viver nas zonas costeiras.

No caso específico das populações costeiras, a OIT está a apoiar o processo de implementação da convenção do trabalho marítimo que Moçambique ratificou, que já entrou em vigor, e que permitirá a promoção de novas oportunidades de trabalho digno”, explicou, para referir alguns dos projectos em curso nas províncias do Norte, nomeadamente Nampula, Niassa e Cabo Delgado, com uma componente focada na agricultura.

“Pretende-se que a juventude passe a olhar para a agricultura como um emprego de elevado valor, com a mesma imagem que se tem de quem trabalha num banco ou num escritório.

Ou seja, há esta estratégia de mudança de paradigma e de convencer o jovem a acreditar que o rendimento proveniente da produção agrícola não deve envergonhar as pessoas”, esclareceu, sem deixar de referir a necessidade de caminhar no sentido de agregar toda a informação existente sobre os vários programas de desenvolvimento que actualmente existem na região.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 21
“O +Emprego assenta numa grande diversidade de parceiros e atribuiu grande importância à gestão do conhecimento. Somos um projecto pequeno na escala financeira, mas não na ambição”

“Lembro-me de um vídeo do ministro Simon Kofe, da ilha de Tuvalu, no Pacífico, fazendo um discurso de fato e gravata com água até à cintura. Uma forma original de chamar a atenção e denunciar os impactos da elevação do nível do oceano, e que se tornou viral nas redes sociais”

Moçambique é Chave na Agenda da Sustentabilidade

Gostaria de começar por desmistificar o conceito de transição energética, uma vez que este fenómeno existe desde os primórdios da humanidade. Existiram, de facto, marcos importantes que originaram alterações na matriz energética, fundamentalmente relacionados com oportunidades energéticas de outras forças motrizes ou descobertas de novos combustíveis.

São exemplos disso a passagem do uso de lenha a carvão, a industrialização e o advento da máquina a vapor, a descoberta do petróleo como fonte energética e a aceleração da globalização e consequente aumento da procura energética.

Hoje, a força motriz associada à transição energética é distinta, está associada ao fenómeno das alterações climáticas e concorre para o objectivo mais lato de redução de emissões de carbono e impedir o aumento da temperatura global – que os acordos de Paris fixam como meta preferencial ficar abaixo dos 1,5 graus celsius dos níveis pré-industriais, sendo que, para isso, as emissões precisam de ser cortadas em cerca de 50% até 2030.

É assim necessário que os países façam mudanças nas suas matrizes energéticas para sair de uma produção rica em gases estufa (ex: petróleo, carvão) e investir em fontes de energia renováveis e mais limpas.

É expectável que o gás natural tenha um papel preponderante nesta transição energética, constituindo uma opção para aquecimento, cozinha e aplicações industriais.

No que se refere às emissões de gases carbónicos, o gás natural apresenta uma vantagem significativa sobre o carvão (aproximadamente 50% das emissões), representando uma opção viável para a redução de emissões carbónicas no curto prazo e num período de transição para a plena adopção de ener-

gias renováveis, e de afirmação de outras fontes de energia alternativa como o hidrogénio.

Há aqui um paradigma digno de realce para os países africanos: são dos que menos contribuem para a mudança do clima, mas são dos mais vulneráveis aos seus impactos como o aumento do nível do mar, desertificação, acidificação dos oceanos e eventos extremos. Recorde-se que, em Moçambique, se estima que os danos infligidos pelas recentes catástrofes naturais associadas aos ciclones Idai e Kenneth ascendam a 3,2 biliões de dólares americanos.

Esta assincronia culminou na aprovação, no âmbito da conferência do clima da ONU (COP27), de um Fundo de Perdas e Danos para países particularmente vulneráveis às mudanças climáticas.

Esta ideia começou a ser negociada há três décadas, quando os países mais vulneráveis passaram a exigir compensações pelas mudanças climáticas das quais não eram historicamente responsáveis. Representantes de 24 países vão trabalhar juntos, no próximo ano, para decidir o formato deste Fundo de Perdas e Danos, que países deverão contribuir para a proposta e onde e como os fundos serão distribuídos.

Lembro-me de um vídeo do ministro Simon Kofe, da ilha de Tuvalu, no Pacífico, fazendo um discurso de fato e gravata com água até à cintura. Uma forma original de chamar a atenção e denunciar os impactos da elevação do nível do oceano e que se tornou viral nas redes sociais.

Moçambique tem um posicionamento-chave neste desígnio global, quer numa lógica de eficaz contribuidor para a transição energética na região e no mundo, quer como player de congregação deste grupo de países vulneráveis que terão de fazer ouvir a sua voz até que sejam decididos elementos importantes de estruturação do referido fundo no próximo COP28. Senão, vejamos: no que se refere à matriz energética, Moçambi-

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 22 OPINIÃO
Bruno Dias • Partner da EY Moçambique

Moçambique está a ganhar espaço de destaque entre os actores que vão garantir a segurança energética global

que tem já uma predominância de fontes renováveis na sua produção, nomeadamente hídrica, que representa 77% da geração actual do mercado interno e é fornecedor de energia a países da África Austral.

É de referir que a capacidade de geração deste tipo de energia é a maior da África Austral, estimada em 15 GW, e que existem projectos em desenvolvimento para captura deste potencial como o de Mphanda Nkuwa, que prevê instalar 1500 MW hídricos. Ao nível da energia solar há que realçar também os projectos de Mocuba e Metoro com 40 MW de capacidade em cada central.

Moçambique possui também vastas áreas florestais que contribuem decisivamente para a captura de carbono, reservas de 180 TFC de gás natural e vários projectos em desenvolvimento que serão chave como catalisadores de fonte de energia de transição de curto prazo.

De salientar também que à medida que o mundo, e concretamente a UE, tenta ganhar independência do gás e petróleo russos, outros países como Moçambique vão ganhando espaço no mercado da energia. Alguns países africanos e do Médio Oriente podem ser elementos-chave na reconstrução da segurança energética da Europa no pós-guerra, assim como na sua transição para fontes de energia renováveis.

Paralelamente, cabe a Moçambique ser um pivot no aumento e aceleração da mobilização do apoio financeiro para a região, fruto do Fundo de Perdas e Danos enunciado na COP27.

Este aspecto é crítico para oferecer uma solução equitativa para a crise energética global, mas sempre tendo consciência que não é suficiente sem o compromisso paralelo de mitigar e eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis. António Guterres, secretá-

rio-geral da ONU, deixou um alerta: “estamos na auto-estrada para o inferno climático e com o pé ainda no acelerador.”

São tempos únicos de oportunidades e desafios que colocam Moçambique num lugar privilegiado para a diversificação das fontes energéticas a nível global e como uma peça-chave na promoção das energias limpas na região.

O esforço terá de ser conjunto entre o Governo de Moçambique, de multilaterais, do tecido privado e de investidores institucionais para tornar viáveis os projectos de infra-estruturas existentes e aumentar o financiamento de projectos de gás natural, de sistemas de energias renováveis e de armazenamento.

Alguns fazem do tempo um eterno presente, outros um passado sem novidades. Não é aqui que queremos estar porque o tempo voa e, desta vez, Moçambique pode ser chave no futuro. Há que fazer acontecer!

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NAÇÃO | SAÚDE E BEM-ESTAR

Guia de Fitness & Wellness

Trabalhar o Corpo (e a Mente) em Maputo

Mesmo em altura de férias, só fica parado quem quiser na capital de Moçambique, que oferece uma imensa variedade de actividades, do running pela Avenida Marginal à prática do Kitesurf, jogando capoeira ou acelerando nos karts.

Maputo tem (cada vez mais) opções para todos os gostos e perfis e as possibilidades não param de crescer

Texto Ana Sciena • Fotografia Mariano Silva & Istock Photo

São inúmeros os motivos pelos quais as pessoas devem praticar pelo menos 30 minutos de actividade física por dia, em intensidade moderada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Muito além de questões estéticas, a prática regular traz consideráveis melhorias para a redução das chances de desenvolver diabetes tipo 2, mortalidade por doenças cardiovasculares e hipertensão. Somado a isso, ainda melhora o sono e aumenta a longevidade.

Maputo, uma cidade plural, oferece muitas opções para aqueles que querem mexer o corpo. Seja fazer uma caminhada, frequentar um ginásio ou realizar a prática de alguma modalidade desportiva, a cidade disponibiliza diversas possibilidades para todas as idades, níveis e perfis.

No entanto, mesmo com tantas alternativas, nem sempre é fácil obter as informações necessárias para iniciar as práticas desportivas. A famosa propaganda boca-a-boca ainda é a maneira como muitos estabelecimentos disponibilizam informações sobre as suas ac-

tividades. O que, por um lado, pode ser muito positivo, pois significa que quem indica recomenda realmente o estabelecimento ou o professor. Mas pode ser um problema para a quantidade de pessoas que está sempre a chegar à cidade, para as novas modalidades que surgem de tempos a tempos ou até para aqueles que querem ter a possibilidade de conhecer e experimentar outras actividades, pois nem sempre é fácil ter acesso às informações – nós tivemos também algumas dificuldades em contactar as organizações.

Porém, insistimos, descobrimos e mapeámos uma gama de alternativas para quem quer começar a movimentar-se. Desde as mais tradicionais, como os ginásios e caminhadas, até práticas diferentes como o Kite, o Qigong e Tai Chi Chuan, além de novidades como o caso do Padel, que é já um sucesso noutras regiões do mundo e chega em tempo de Verão a Moçambique.

Dito isto, apresentamos a seguir um guia com as principais informações e convidamos todos os leitores a iniciarem uma destas actividades para a saúde física e mental.

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Indoor

Como e Onde se Pode Praticar Desportos Indoor?

Ginásios são, quase sempre, as primeiras opções que as pessoas pensam quando se fala de actividade física. Além de práticos, a opção também é cómoda por disponibilizar, num mesmo espaço, a oportunidade de os praticantes fazerem musculação, aeróbica e, para aqueles que querem algo diferente, aulas de dança, treinos mais funcionais e spinning, por exemplo.

No entanto, uma das modalidades cujo número de praticantes tem aumentado em todo o mundo, mas também em Maputo, é o Crossfit. Consiste num treino de alta intensidade que mistura levantamento de pesos com actividades aeróbicas e, de acordo com os criadores do sistema, é feito para qualquer tipo de pessoas, desde as que não praticam actividades físicas até atletas de alto rendimento.

No mundo, existem mais de 13 mil academias registadas pela CrossFit Inc. Em Maputo, a modalidade é ainda relativamente nova, com o primeiro box (nome que se dá aos espaços da modalidade) criado em 2017. Actualmente, existem mais de cinco locais para a prática.

De acordo com Patrícia Jeichande, do CrossFit Aluta Continua, localizado no Glória Mall, “a modalidade é para todas as pessoas que estão à procura de saúde física e mental. Com vários escalões e níveis, cabe ao instrutor acertar o treino perante o nível e aptidão física da pessoa”. No box Aluta Continua, para começar a prática, a pessoa interessada deve passar por aquilo a que os instrutores chamam de foundations, ou seja, um período de testes para realizar a avaliação e entender qual o nível da pessoa, e se existe alguma condição médica ou lesão es-

pecífica que deva ser levada em consideração. “Antes de começar o programa intenso, são necessárias cerca de seis aulas para conseguirmos verificar o nível da pessoa e direccionar melhor as classes”, explica Patrícia Jeichande. O box oferece dez aulas diárias com turmas para adultos, crianças (dos 4 aos 13 anos) e adolescentes (dos 14 aos 20 anos), além do levantamento de peso, que é um desporto olímpico.

Para os interessados neste último, Patrícia explica que o processo “começa aos poucos, sem peso específico, pois mais importante que a força é a execução correcta dos movimentos. É preciso aprender a proteger a coluna e os ligamentos antes de colocar as cargas”. Os boxes são totalmente preparados e desenhados para o treino da modalidade. No Aluta Continua, as turmas podem ter um máximo de 24 alunos para que os instrutores possam acompanhar de perto a execução dos movimentos.

Neste espaço, os valores começam em 7500 meticais com direito a 12 aulas mensais, que, de acordo com a sua responsável, “garantem o acesso ao levantamento físico, às aulas de condicionamento físico ou METCON (sigla para desenvolvimento metabólico), às aulas de CrossFit e ao acompanhamento de corrida uma vez por semana, com programas de curto, médio ou longos trajectos. O box oferece ainda aulas de boxe duas vezes por dia para quem estiver interessado”.

Além disso, o espaço realiza seminários em parceria com os instrutores e participantes de jogos de CrossFit internacionais, para ensinar novas técnicas e aprender mais sobre a modalidade e levantamento de pesos. Os eventos são abertos a toda a comunidade da cidade.

GINÁSIOS

CROSSFIT ALUTA CONTINUA

Local: Glória Mall – Avenida da Marginal, 4441, 18.

Horários: 5h às 21h

Aulas: CrossFit, levantamento de pesos, boxe, corrida, METCON.

Preços: A partir de 7500 Mt

Informações: contactar pelos número +258 84 065 9581 ou pelo instagram @ cf.alutacontinua

GINÁSIO CROSSFIT ÍNDICO

Local: Rua Justino Chemane, 29. Sommerschield 2.

Horários: 6h às 20h

Aulas: CrossFit

Preços: A partir de 4000 Mt

Informações: ir até ao ginásio e fazer uma aula experimental. Instagram @ crossfit_indico ou telefone 845463606

GINÁSIO 365 FITNESS

Local: Av. Belmiro Obadias Muianga, Horários: segunda a sexta das 5h às 21h, sábados das 6h às 17h e domingos das 7h às13h.

Aulas: Musculação, área de alongamento e cardio. Aulas de Spinning, Zumba, Pilates, Tabata, HIIT, Step & Tone, Strong, Yoga e Crossfit.

Preços: A partir de 2800 Mt

Informações: info@365fitness.co.mz

GINÁSIO MONTEBELLO INDY

Local: na Rua Dom Sebastião, 99. Horários: 6h às 21h

Aulas: Musculação Funcional Training, Ténis e Spa

Preços: Desde 2000 Mt.

PERSONAL TRAINERS BEWELL – CLÍNICA DE REABILITAÇÃO E EXERCÍCIO

Local: Rua Kibiriti Diwane, 116 Horários: segunda a sexta das 5h às 21h, sábados das 6h às 17h e domingos das 7h às13h.

Aulas: Exercícios e treinos personalizados, com a clínica de reabilitação e exercício com fisiatria, fisioterapia, nutrição, psicologia, coaching, massagens e pilates.

Preços: Desde 10 000 Mt até 18 000 Mt. Informações: João Vaz +258 846286405

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MENDES STUDIO

Local: Rua Mateus Sansão Muthemba, Comité Olímpico de Moçambique Horários: 5h às 20h30

Aulas: Objectivos basilares com todos os alunos, estabilidade articular e agilidade.

Preços: Sob consulta.

Informações: @mendes_studio_mz ou 847799497

Local: Clube Naval - Avenida da Marginal, 1866

Horários: Segunda a sexta das 6h às 21h, sábados das 7h às 17h e domingos das 7h às13h.

Aulas: Musculação, aulas de Spinning, TRX e Pilates da MyBike A partir de 16 de Janeiro.

Local: Polana Serena Hotel Horários: 6h às 21h

Aulas: Musculação, Yoga, Pilates, Kickboxing e Personal. Preços: A partir de 15 000 Mt Informações: 21 241 700

PHYSICAL COM POWER

Local: Avenida da Marginal, ao lado do Marítimo.

Horários: Segunda a sexta das 5h às 21h, sábados das 7h às 16h e domingos das 7h30 às13h30.

Informações: 84 314 9930

VOLT Electric Training Fitness. O que é?

Aelectroestimulação muscular é um método que promove a contracção muscular recorrendo a impulsos eléctricos de baixa frequência, o que permite a contracção de 350 músculos em simultâneo. Ao treinar 20 minutos duas vezes por semana é possível alcançar resultados superiores a qualquer treino convencional com a mesma duração.

Local: Shopping Gloria Mall, piso 1, loja 52, Avenida da Marginal, 4441

Horários: segunda a sexta das 5h às 21h e sábados das 8h às 14h

Aulas: Treinos de electroestimulação muscular de 20 minutos

Preços: Desde 1500 Mt até 2000 Mt por sessão Quem pode participar? Pessoas a partir dos 16 anos. Interdito a mulheres grávidas, pessoas que tenham pacemaker, cancro e epilepsia. Informações: 852477764 ou 833205497

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GINÁSIO CLUBE NAVAL MAISHA SPA - POLANA SERENA HOTEL

Outdoor

As Opções Desportivas e de Actividade Física Outdoor

Para quem prefere fazer actividades ao ar livre, Maputo conta com diversos espaços para estas práticas, seja à beira-mar, na Avenida Marginal ou nas praças. São muitas as localidades para se praticar desporto outdoor. Quem gostar de correr, caminhar ou pedalar, a Avenida Marginal, a rua Barnabé Thawe, a Julius Nyerere e a Avenida 10 de Novembro são óptimas opções.

Além destas modalidades, é sempre possível ver pessoas a praticarem outras actividades em praças e espaços da cidade. Nestas localidades, uma das situações mais comuns de serem vistas é a capoeira, uma arte marcial afro-brasileira, que utiliza movimentos de artes marciais em conjunto com a música e danças para realizar o que alguns mestres chamam de jogo e outros chamam de luta.

O grupo Ginga de Maputo lecciona aulas principalmente na Faculdade de Educação Física e Desporto, mas também noutras localidades para crianças e adultos que queiram aprender a modalidade.

“O grupo foi fundado em Março de 1999, por Célia Marina Matue, moçambicana que trouxe a modalidade para a cidade. Actualmente, o grupo conta com cerca de 30 a 40 praticantes no espaço da Faculdade, mas também noutros lugares da cidade e região, como o Clube Desportivo da Matola, para adultos, sendo que trabalhamos também com crianças em colégios, creches e projectos sociais”, conta Ivan, um dos mestres do grupo. Um

dos principais fundamentos da capoeira – que pode ser diferente de acordo com cada grupo – é o berimbau que comanda o jogo.

E, antes de tocar ou de iniciar um jogo, é preciso pedir autorização para o instrumento, que pode estar acompanhado de outros instrumentos de percussão, ditando o ritmo do jogo.

A capoeira, de acordo com Ivan, “no Ginga de Maputo, tem de ter, pelo menos, oito pessoas para iniciar uma roda de capoeira, pois começamos com três berimbaus, um atabaque, um agogô e um recoreco e precisamos das pessoas que vão para o jogo.

Os primeiros jogadores ficam ao lado dos tocadores, agachados, a aguardar que o berimbau dê permissão para que iniciem o jogo de perguntas e respostas. Têm de estar com aptidão física e preparados para a luta”. Os movimentos são similares aos das artes marciais, mas misturam-se com a dança e seguem o ritmo da música.

Para quem estiver interessado nas práticas, o Grupo Ginga tem grupos e aulas a partir dos 3 anos de idade, em diferentes locais da cidade, com mensalidades que começam nos 1000 Mt para adultos e 2500 Mt para crianças.

As práticas acontecem na Faculdade de Educação Física e Desporto, mas também na praia, praças e jardins da cidade e no Ginásio Olympia no prédio da antiga revista Tempo, além dos projectos e acções realizados em escolas, creches e empresas.

DE MAPUTO

Local: Av. Eduardo Mondlane, 955, esquina com a Av. Salvador Allende

Horários: Quartas e sextas, entre as 18h e as 20h. A partir dos 16 anos

UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

Local: Av. Amilcar Cabral, esquina com a Av. Emília Daússe

Horários: Segundas, das 18h às 20h. Valores: matrícula 500 Mt, mensalidade 1000 Mt

Informações: https://gingademaputo. com/ ou Instagram @gingademaputo Adolescentes dos 3 aos 15 anos

GINÁSIO OLYMPIA

Local: Av. Ahmed Sekou Toure, 1126

Horários: segundas e quartas: 15h às 16h / sábados das 10h às 11h30. Preços: mensalidade 2500 Mt Informações: ginásio Olympia

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GRUPO GINGA

Informações: https://www.kymanisurf. com/ ou pelo Instagram: @kymani.kite. surf.

Preços: Viagens a partir de 1080 USD dia.

Clinics a partir de 25 USD por hora para aulas semi-particulares (duas a três pessoas) até 210 USD para 6h de aulas particulares.

Onde praticar: Ponto A, em frente ao Taverna da Marginal, e Ponto B, em frente ao Shopping Marés.

No Mar

As Atracções do Mar… no Verão

Cercada pelo oceano índico, a cidade de Maputo também possibilita que as pessoas pratiquem desportos marítimos. Durante o ano inteiro, é possível realizar práticas de diferentes modalidades. Com a chegada do Verão, os bons ventos voltam para aqueles que gostam de praticar o Kitesurfing, modalidade que utiliza a força do vento para dar força ao kite ou, numa tradução simples, a ‘pipa’, que puxa as pessoas que utilizam pranchas para surfar.

Local: Clube Naval – Avenida Marginal, 1866

Horários: marcação, depende das condições climáticas

Aulas: a partir de 7 anos de idade Preços: desde 6000 Mt para crianças e 5000 Mt para adultos, para aulas em grupo. Aulas particulares com um pacote de 22 500Mt para 24 horas de aula Informações: Eurêncio +258 84 768 1243

Diferente do que muitos pensam, a força para praticar Kitesurf não está nos braços, mas sim no core, abdómen, lombar, quadril e pernas. De acordo com Ebony Neil e Luís Antunes, dois dos sócios da Kymany Kite & Surf, “para começar, é preciso fazer as classes, principalmente para entender sobre os elementos de segurança, que são os mais importantes quando se pratica o Kitesurf.

tio para se aprender a prática desta modalidade, sendo que existem dois pontos fundamentais: um mais direccionado para a etapa das aulas iniciais, em frente ao Marés Shopping, e outro para quem já tem mais conhecimento e quer divertir-se, mas quer também praticar e ganhar mais confiança, em frente ao Taverna da Marginal.

A cidade conta ainda com a Associação de Kitesurf de Moçambique (MOKA), que tem pontos de apoio nestas duas localidades. “Para participar na associação, é preciso pagar um fee mensal cujo propósito é empregar jovens moçambicanos, que ficam nestas bases para ajudar os praticantes da modalidade e a manter as praias limpas. Além de auxiliarem as pessoas com a montagem do kite, os jovens acabam também por aprender e praticar a modalidade”, explica Luís.

CLUBE MARÍTIMO DE DESPORTOS

Local: Avenida da Marginal

Horários: das 8h às 21h

Aulas: Vela, Surfski e Canoagem

Preços: A consultar no clube Informações: 21 491 373

Existem alguns elementos que devem ser aprendidos antes de entrar na água, pois a pessoa pode confrontar-se com algumas situações como ventos fortes ou outras pessoas a praticarem no mesmo espaço, e que as podem em circunstâncias em que precisam de saber como navegar e como se manterem seguras. As primeiras aulas são para aprender como o kite funciona e são realizadas ainda na areia, para entender como controlar o kite e sentir a força do vento para, então, colocar uma prancha nos pés e ir para a água”, explica Ebony. Esta fase compreende cerca de dez horas de aulas, “a pessoa deve aprender a mover o kite e fluir suavemente para que o corpo e o cérebro tenham tempo de processar os movimentos”, completa Luiz. Mesmo após fazer as aulas, recomenda-se que, nas primeiras práticas no mar, se vá sempre acompanhado, “para ter alguém mais experiente e que possa dar dicas, além de ajudar a garantir a sua segurança”. Moçambique, na visão dos sócios, é um óptimo sí-

A Kymany Kite & Surf tem três áreas principais para aqueles que querem praticar Kite. “Somos relativamente novos, mas oferecemos o que chamamos de Kite Clinics, ensinamos as lições teóricas durante um fim-de-semana inteiro, como um curso introdutório. A nossa segunda área são as chamadas Kite Trips em todo o País e não apenas em Maputo. Tanto principiantes quanto os mais experientes podem juntar-se às viagens. E a terceira área, que ainda não está a funcionar, é o Kitesurf para crianças – kite a partir dos 11 anos e surf a partir dos 4”, detalha Ebony.

As viagens organizadas pela Kymany são para grupos pequenos, entre cinco e dez pessoas, e tem um custo diário de 180 USD, com todos os custos incluídos (acomodação, transporte, alimentação e suporte), e com a possibilidade de alugar os equipamentos para a prática do kite.

“As viagens acontecem de acordo com as condições climáticas, principalmente a questão do vento. Para quem mora em Maputo é mais fácil, pois podemos organizar viagens de um dia ou de um fim-de-semana", finaliza Ebony.

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KYMANU KITE & SURF VELA - CLUBE NAVAL DE MAPUTO

Wellness

Aprimorar Hábitos Saudáveis,

Constantemente!

Cada vez mais na ordem do dia, principalmente após a pandemia, a saúde mental ganhou grande destaque e relevância, tanto que a OMS incluiu o burnout – síndrome do esgotamento profissional, ou seja, a exaustão física e mental provocada pelo trabalho – na lista de doenças ocupacionais.

E um grande aliado para a saúde mental é a prática regular de exercício físico, que nem precisa ter grande impacto ou visar a alta performance.

Modalidades que podem até não ser consideradas como desportos, mas que buscam trabalhar também a respiração, a consciência na execução dos movimentos e o “estar presente” são grandes aliados de quem procura algo além do físico. Práticas como Yoga e Pilates são exemplos que estão a ganhar destaque ano após ano.

Em Maputo, o Mindful Wellness Center, um espaço relativamente novo, inaugurado em Fevereiro de 2022, é um exemplo de centro holístico que tem como objectivo promover e oferecer terapias alternativas como uma outra maneira de as pessoas encontrarem saúde, bem-estar e equilíbrio emocional. O único instrumento que as pessoas

devem ter ao frequentar o local é uma mente aberta e ir sem expectativas ou, como bem resume Kátia Ah-Hoy, uma das sócias e instrutora de Pilates do centro, “aquilo que foi, foi. A pessoa pode gostar ou não, vai depender de cada um e do tipo de terapia realizado”.

Entre os tratamentos que o centro disponibiliza estão práticas de Yoga, Pilates, Yoda – uma mistura de yoga com dança –, Tai Chi Chuan, Qigong (ou Chi Kung), além de uma série de terapias que trabalha com os fluxos de energia, como Reiki, Thetahealing, Barra de Access e Hipnoterapia. Existe ainda a terapia tradicional para tratar da saúde emocional, e serviços como massagens, massoterapias e reflexologia para o bem-estar.

O Qigong terapêutico é um dos ramos da medicina tradicional chinesa. De acordo com a instrutora da prática e a outra sócia do centro, Nereyda Ah-Hoy, “é uma técnica milenar chinesa, com efeitos terapêuticos, que visa trabalhar ou cultivar a energia vital do corpo, ou seja, ao realizarem-se os movimentos a ideia é devolver ao corpo humano o seu movimento e a sua fluidez natural.

Com a vida quotidiana a obrigar as pessoas a ficarem muito tempo sentadas, acabamos por criar bloqueios

energéticos, que podem gerar uma série de problemas nas articulações, na circulação sanguínea, nos linfomas e em outras partes do corpo. E o Qigong trabalha com o sistema nervoso central, tanto físico quanto emocional, sendo por isso uma técnica muito curativa”, complementa Nereyda.

Tanto o Qigong quanto o Tai Chi Chuan têm como base as artes marciais: enquanto o Qigong actua mais com a energia e a respiração, um trabalho mais interno, o Tai Chi Chuan tem mais movimentos marciais, mas de uma maneira mais lenta, com grande atenção na respiração, concentração e foco.

Esta que vos escreve realizou uma sessão de Barra de Access Consciousness, que pode ser descrita como uma ferramenta de expansão de consciência que acede os 32 pontos energéticos na cabeça correlacionados com diferentes áreas e aspectos das nossas vidas.

Como nunca tinha feito esta terapia, posso dizer que se sente, de facto, a energia a fluir no nosso corpo. Foi uma sessão que me trouxe um relaxamento e uma sensação de paz muito grandes.

Recomendamos a que estejam abertos a experimentarem e façam esta ou outra terapia energética.

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Local: Rua da Argélia, 197 Horários: 6h às 19h

Aulas: Yoda - sábados, das 8h às 9h30

Hatha Yoga - Terça, quinta e sexta, das 6h às 7h

Tai Chi Chuan - Segundas, das 6h30 às 7h30 /Sextas - das 17h30 às 18h45

Pilates - Segunda a quinta-feira: 6h, 7h, 8h, 16h, 17h e 18h

Qigong Terapêutico - Terças e quintas das 18h às 19h

Terapias: ThetaHealing, Reiki, Psicologia, Hipnoterapia, PNL, Meditação, Terapia Meditativa, Barra de Access Consciousness, Leitura Intuitiva, Psicoterapia de casais, Reflexologia Podal e Life Coaching sob marcação.

Preços das aulas: De 800 Mt a 6500Mt, dependendo da quantidade de aulas.

Terapias: De 2000 Mt a 5000 Mt, dependendo da terapia escolhida.

Informações: Whatsapp +258 853145804 ou pelo website: www.mildfulwc.org ou pelo Instagram @mindful_wellness_center

Local: Mindful Wellness Center (Rua de Argélia, 197); Luxcorpus Health Club and Spa (Edificio JAT Center, 6.5 Rua dos Desportistas, 791); Vanja's Annex Studio (Avenida Kim Il Sung, 974), Horários: terças, quintas e sextas das 6h às 7h, no Mindful Wellness Center; terças e quintas, das 18h45 às 19h45 no Luxcorpus; segundas e quartas das 18h30 às 19h45 no Vanja's Annex Studio Preços: aulas particulares a consultar. Modalidade: Hatha Yoga Informações: Whatsapp +258 877098518 e Instagram @lisavyonneyoga Consultar as opções que os centros e clubes oferecem.

Local: Mindful Wellness Center (Rua de Argélia, 197)

Horários: Segundas e quartas: 17h às 18h30

Preços: 3850 Mt para oito sessões.

Modalidades: Hatha Yoga.

Informações: Whatsapp +258 853145804

Quem pode participar: Qualquer pessoa, desde que não tenha recomendação médica contrária.

Local: The Fab Lab – Av. Francisco Orlando Magumbwe, 993 ou Kwetu Horários: Segunda das 18h30 às 20h; quartas das 6h30 às 7h45 ou das 18h30 às 19h30; quintas das 6h30 às 7h45 ou das 17h30 às 18h30; sábados das 9h às 10h Preços: desde 800 Mt. Aluguer de material de yoga por 100 Mt. Aulas particulares por agendamento Modalidades: Vinyasa ou Hatha Yoga. Informações: Whatsapp +258 849366355

Quem pode participar: a partir dos 10 anos

Local: Yoga Home Studio, na Av. Mao

Tse Tung, 591 - 3.º andar.

Horários: segundas, quartas e quintas: das 18h30 às 19h45; terças e quintas: das 7h às 8h.

Preços: desde 900 Mt até 6600 Mt.

Modalidades: Ashtanga e Hatha Yoga. Informações: www.cristinadionisio. yoga/schedule ou através do e-mail hello@cristinadionisio.yoga ou Whatsapp: +258 84 634 68 92

Quem pode participar: pessoas a partir dos 15 anos. Recomenda-se levar tapete de Yoga, mas, caso não tenha, existe no estúdio.

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MINDFUL WELLNESS CENTER YOGA - CLAIDA TATIA CRISTINA DIONÍSIO YOGA LISA YVONNES THE FAB LAB BY SIA LEWINSKY

Menu Para os Fãs de Modalidades Desportivas

Maputo é realmente um prato cheio com diversas opções desportivas, desde as mais tradicionais, como Futebol, Natação, Basquetebol, até modalidades como o Tai Chi Chuan e Taekwondo. As práticas desportivas podem ser feitas individualmente ou em grupo, mais voltadas para o alto rendimento ou apenas para se exercitar. Para quem prefere desportos com uma maior adrenalina, o ATCM vai lançar uma academia para as modalidades de modificados, drifting e, mais em breve, para ensinar quando e como usar todas as funcionalidades de veículos 4x4.

BASQUETEBOL | CLUBE DE DESPORTOS DA COSTA DO SOL

Horários: terças e quintas das 7h30 às 9h; segundas, quartas e sextas das 14h30 às 17h

Aulas: a partir dos 6 anos para as academias e 10 anos para as equipas de competição

Preços: inscrição 2500 Mt; mensalidade 1500 Mt; equipamento 2500 Mt Informações: +258 842069512 ou +258 864429140 - Rui Évora

GINÁSTICA

FUTEBOL | CLUBE DE DESPORTOS DA COSTA DO SOL

Clube de Desportos da Costa do Sol (Av. da Marginal n.º 141)

Horários: segundas, quartas e sextas das 17h30 às 19h

Aulas: a partir dos 6 anos para as academias e 10 anos para as equipas de competição.

Preços: inscrição 3000 Mt, mensalidade 2000 Mt, equipamento 2500 Mt Informações: +258 845119996 - Miguel Guambe

Ginástica Rítmica

Terças e quintas das 17h às 18h, e sábados das 9h às 10h

Ginástica Artística

Terças e quintas das 15h às 16h; segundas, quartas e sextas das 17h30 às 18h30 para alunos dos 5 aos 10 anos e das 17h30 às 19h para alunos dos 11 aos 16 anos

Ginástica Acrobática

Segundas, quartas e sextas das 15h às 16h30

Tumbling

Segundas e quartas das 9h10 às 10h10; terças e quintas das 17h às 18h e das 18h às 19h; sábados das 9h às 10h para alunos dos 5 aos 16 anos

Valores: Ginástica Rítmica e Tumbling: inscrição 250 Mt / mensalidade: 1750 Mt Ginástica Artística: primeiro mês 2250 Mt, meses subsequentes 2000 Mt Ginástica Acrobática: primeiro mês 2250 Mt, meses subsequentes 2000 Mt Informações: ir à faculdade ou 842973907 (Aristides)

Local: Rua do Rio Inhamiara, 3867 Horários: marcação

Aulas: a partir dos 5 anos de idade Preços: aulas - 1000 Mt por hora. Para jogar golfe, 300 Mt para nove buracos, 600 Mt para 18 buracos durante a semana, e 400Mt para nove buracos e 800 Mt para 18 buracos aos fins-de-semana. O custo para alugar o saco de golfe é de 1000 Mt

Informações: polanagolfclub60@gmail. com

PADEL PADEL CLUB | MAPUTO

Local: ATCM, Autódromo do ATCM Horários: 6h às 22h.

Aulas: Padel, Box Personal Trainer, Golf Driving Range Virtual, Circuito Manutenção. Preços: desde 500 Mt

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GOLFE | CLUBE DE GOLFE DA POLANA Local: Faculdade de Educação Física e Desportos Av. Eduardo Mondlane no 955, esquina com a Av. Salvador Allende

JUDO | ESCOLA DE JUDO EDSON MADEIRA

Local: Clube Naval de Maputo (Avenida da Marginal, 1866); Academia Alfa (Av. Emília Dausse, 402) Horários: Clube Naval de Maputo: 6h às 7h, diariamente para adultos; 8h às 10h, diariamente, iniciados e federados; 15h30 às 16h30, diariamente, entre os 4 e os 6 anos; 16h30 às 17h30, diariamente, entre os 7 e os 9 anos; 17h30 às 18h30, diariamente, entre os 10 e os 14 anos; 18h30 às 20h, diariamente, a partir dos 15 anos.

TÉNIS | CLUBE DE TÉNIS DE MAPUTO

Local: Parque Tunduru, entrada pela Rua da Rádio Horários: das 6h às 22h.

Aulas: a partir dos 4 anos, todas as terças e quintas das 15h às 19h ou com professores particulares em horários a serem combinados com os mesmos e com o clube. Preços: 3500 Mt duas vezes por semana. Aluguer do campo com antecedência por 550Mt/hora durante o dia, com taxa de iluminação de 200Mt/hora à noite.

Informações: 845593569 ou 21427027

PAINTBALL PAINTBALL ARMY

Local: Tricamo Village Txumene – Av. Samora Machel, 1. P-3380/A. Estrada Nacional n.º4

Horários: das 9h às 17h – fazer reserva prévia.

Preços: desde 600 Mt até 1400 Mt com direito a balas e equipamento. Informações: 844608664 ou Instagram @paintballarmymoz

A partir dos 13 anos, não têm aulas, é apenas uma modalidade desportiva de recreação.

TAEWKONDO

Local: Igreja Católica do bairro de Bagamoyo | Horários: segundas, quartas e sextas das 17h às 19h, e sábados das 9h às 11h. | Preços: Inscrição 500 Mt e mensalidade 700 Mt | Informações: 840691660 ou 861579266 ou pelo e-mail adilsonjossias@gmail.com ou Facebook Academia Taekwondo Baek jul Bool Gool

Horário: Terças, quintas e sextas, das 16h às 18h | Preços: Clube Naval: inscrição desde 400 Mt. Renovação desde 300 Mt. Mensalidade desde 2000 Mt para três vezes por semana. | Academia alfa: Inscrição 300 Mt e mensalidade 1500 Mt Informações: www.edsonmadeira.org ou Instagram @escoladejudoedsonmadeira ou Facebook Escola de Judo Edson Madeira

NATAÇÃO

Clube Naval de Maputo

Local: Clube Naval – Avenida da Marginal, 1866 | Horários: das 5h30 às 11h45 e das 13h às 19h15

Aulas: Natação em grupo, particular e alta competição

Preços: taxa de inscrição 1000 Mt, seguro 1000 Mt, mensalidades desde 1300 Mt até 16 000 Mt, dependendo da quantidade de aulas por semana. Informações: clubenaval@clubenaval. co.mz ou 843034887

MAPUTO TENNIS ACADEMY

Local: Maputo e Matola, diferentes localidades

Horários: das 6h às 21h

Aulas: de Ténis e Cardio Ténis para crianças e adolescentes entre os 4 e os 19 anos, adultos entre os 29 e 65 anos Preços: desde 4000 Mt por mês Informações: 856468404 ou 863187322 (Whatsapp) e Instagram @maputo. tennis.academy

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ACADEMIA ALFA MOZ Taekwondo Baek Jul Bool Gool

On Court

Padel, a Grande Novidade da Capital

As novidades não param na capital e, em finais do ano passado, abriu ao público um daqueles espaços que muitos já vinham pedindo nos últimos anos — um recinto de padel.

A atrair cada vez mais praticantes na Europa e nas Américas, este é um desporto em franca exapansão, praticado com raquetes maciças, ou seja sem rede, jogado em duplas e que combina elementos do ténis, squash e badminton.

Localizado no recinto do ATCM, fazendo fronteira com a pista, e com uma ampla vista sobre a Baía, o novo Padel Club Maputo conta com quatro campos para a prática deste desporto de grupo, além de estar disponível um pack de aulas personalizadas com professores formados internacionalmente.

Existe ainda a possibilidade de um box de personal trainer, podendo ser usa-

do com professor disponível no local ou trazendo o seu próprio PT (alugando só o espaço à hora).

Tem também um Golf Driving Range para praticar o swing, sendo possível alugar com ou sem instrutor.

Para além das actividades desportivas, conta com um bar de apoio à infra-estrutura desportiva, parque infantil, espaço para actividades ao ar livre como yoga ou outras aulas, alugável tanto para actividades pessoais como corporativas.

O espaço funciona das 6h às 22h todos os dias, com aulas entre as 9h e as 17h. O clube tem o serviço de venda ou aluguer de material e todo o sistema de reserva das infra-estruturas (dos vários desportos) é feito por meio da plataforma online.

O Maputo Padel Club está localizado junto ao Autódromo de Maputo (ATCM), na Avenida Marginal, atrás do Baía Mall.

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On Track

Karting Para Acelerar os Mais Novos

Maputo tem modalidades desportivas para todas as idades, como já demonstrado, e muitas delas disponíveis para crianças a partir dos 4 ou 5 anos. Se o leitor for alguém que prefere mais adrenalina e quiser partilhar este sentimento com a sua criança, o Karting pode ser muito interessante.

Parte do Automóvel e Touring Clube de Moçambique (ATCM), a Academia de Karting Cristiano Morgado (o piloto de karts moçambicano cinco vezes campeão mundial da modalidade) oferece aulas para miúdos a partir dos 5 anos de idade. O espaço fornece todos os equipamentos necessários para quem quer aprender a modalidade, ou seja, os próprios karts e todos os equipamentos de segurança – macacão, balaclava, capacete, luvas, entre outros.

Segundo Rodrigo Rocha, presidente do ATCM e também vice-presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA) para África, “qualquer pessoa com 5 anos que queira iniciar o karting a nível internacional pode formar-se e criar as sinergias necessárias para começar uma carreira neste desporto.

O ponto positivo é que o karting forma pessoas para além daquilo que estamos à espera, pois manter-se saudável, com a sua integridade física, requer muito mais atenção que outras modalidades”, explica Rodrigo. “Felizmente, hoje em dia todas as regras do Karting tornam a modalidade, apesar de requerer alguns cuida-

dos, menos perigosa que outros desportos. E isso mostra-se por números”, afirma Rodrigo Rocha. A Academia acontece algumas vezes por ano e tem uma média de dez pessoas por turma, “e o mais interessante é que a maioria são meninas”, comenta o responsável. Apesar de ter uma idade mínima, não há um limite. Porém, a preferência é pelos miúdos. O curso é dividido em quatro etapas, um dia para cada, sendo que todos possuem dois momentos: um teórico e um prático. No primeiro dia de aulas, os pais são convidados a participarem para entenderem como funciona. No entanto, as aulas subsequentes são apenas para os filhos.

O ATCM realiza um campeonato de Karting anualmente, com cinco ou seis provas, realizando também algumas isoladas. Como vice-presidente da FIA para a África, Rodrigo Rocha está também a organizar o primeiro Campeonato Africano de Karting. Nas primeiras edições vai ser apenas uma prova. “Vai ser Cup, no sistema de arrive and drive, o piloto paga a inscrição, chega, tem já o carro e equipa e compete”.

Como próximos passos, o responsável conta que os melhores pilotos entre os 8 e os 12 anos formados pela Academia “serão seleccionados, e vamos começar a alocar karts próprios, de alto rendimento, para serem utilizados por estes pilotos nas provas seguintes, numa corrida dedicada a essas pessoas. Temos, ao todo, cinco karts, por isso será este o número de seleccionados”. Caso o miúdo queira seguir na carreira, mas não seja seleccionado, deverá com-

prar o seu próprio carro para competições. A Academia tem um valor de 12 mil meticais, sendo que, neste momento, o ATCM não está a fazer aluguer de karts para divertimento ou treinos. Porém, existe um plano para que isto passe a acontecer em 2023, até com as melhorias que estão a ser realizadas na pista, como a iluminação para utilização também no período da noite. O ATCM tem ainda três campeonatos por ano de e-sports, com uma classificação geral com o campeão absoluto. Conta igualmente conta com dois simuladores, havendo planos para a inauguração de um autódromo digital, com dez simuladores, todos ligados entre si e que competem uns contra os outros numa prova. A ideia é que comece a funcionar ainda este ano, e a prioridade é a competição, mas Rodrigo Rocha não descarta a possibilidade de abrir para fins recreativos.

Local: ATCM, na Avenida da Marginal.

Horários: Quatro lições aos sábados, das 9h às 12h.

Preços: 12 000 Mt

Informações: sede do ATCM no Baía Mall - entrada 2 ou pelo mail academia@atcm.org.mzz

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KART | ACADEMIA DE KARTING CRISTIANO MORGADO

Mundialmente, a indústria dos transportes é um dos principais contribuidores para as emissões de carbono e, consequentemente, uma das maiores responsáveis pelas mudanças climáticas.

De acordo com a Agência Internacional de Energia, o sector dos transportes foi responsável por 27% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) em 2022, tornando-se a segunda maior fonte de emissões, depois do sector da energia. O caminho será a adopção de veículos elétricos (VE)? O que motivará esta decisão?

Mudanças climáticas: o transporte é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, e os VE são uma forma sustentável de reduzir essas emissões. Estes não geram emissões quando estão em movimento e, mesmo quando estão a carregar, o nível de emissões é significativamente mais baixo quando comparado com o que os veículos movidos a gasolina emitem.

Independência energética: muitos países dependem fortemente do petróleo importado, o que significa um dreno significativo às suas economias. Ao mudar para VE, os países poderão reduzir significativamente a sua dependência do petróleo e impulsionar a sua independência energética.

Poluição do ar: os veículos movidos a gasolina emitem uma variedade de poluentes que podem ter sérios impactos na saúde, incluindo material particulado, óxido de nitrogénio e compostos orgânicos voláteis. Os VE não produzem emissões de escape, tornando-os mais limpos e saudáveis.

Custo: embora o custo inicial dos VE possa ainda ser maior do que o dos veículos movidos a gasolina, o custo de propriedade a longo prazo é, tendencialmente, menor. Estes veículos têm menos peças móveis e requerem menos

A Electrificação da Indústria dos Transportes Poderá Impulsionar a Liberdade Económica de Moçambique

manutenção, o que se traduz em custos de manutenção mais baixos. Eles usam também electricidade em vez de gasolina, que geralmente é mais barata.

Tecnologia: a electrificação do transporte está a impulsionar a inovação no desenvolvimento e adequação de novas tecnologias, incluindo baterias e infra-estruturas de carregamento. Isso poderá gerar novas oportunidades de negócio, geração de novos empregos e, consequentemente, um crescimento económico. Não há dúvida que a electrificação do transporte é um passo importante na redução das emissões de gases de efeito

Ao conceder incentivos, investir em infra-estruturas para carregamento, promover a consciencialização e a educação, estabelecer metas e objectivos... os Governos poderão ajudar a acelerar a adopção de veículos eléctricos

estufa, melhorando a qualidade do ar e reduzindo a nossa dependência de combustíveis fósseis. Adicionalmente, tem o potencial de impulsionar a inovação tecnológica e o crescimento económico.

Especificamente para Moçambique, acredito que a electrificação da indústria de transportes poderá ser importante tendo em conta alguns factores que listo:

Em primeiro lugar, o nosso País é altamente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. Os eventos que se fizeram sentir nos últimos anos tiveram efeitos nefastos nas pessoas e no cres-

cimento e desenvolvimento de algumas regiões nacionais.

Temos uma forte dependência de combustíveis fósseis, que contribui, como mencionado, para as emissões de gases de efeito estufa. A mudança para VE será uma forma de reduzir essas emissões e mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas.

Além dos benefícios ambientais, a electrificação da indústria de transportes em Moçambique também poderá trazer benefícios económicos. Actualmente, o País importa uma quantidade significativa de petróleo, o que poderá, a médio e longo prazo, prejudicar a sua economia.

Ao mudar para VE, Moçambique poderá reduzir a sua dependência no que toca às importações de petróleo e, potencialmente, poupar a longo prazo, ao mesmo tempo que reduzirá os choques na economia advindos das flutuações do preço de combustível que afecta, directa e drasticamente, os preços de todos os bens de consumo.

Podemos considerar que Moçambique é uma das power houses de África, uma vez que produz, actualmente, cerca de 187 gigawatts, que ao compararmos com a África do Sul – o cliente número um de energia de Moçambique – apresenta uma produção de 58 095 megawatts. A produção energética no País está dividida da seguinte forma: hídrica, 75%, gás, 5%, solar, 1%, e outros, 19%, o que nos coloca como um dos maiores produtores de energia limpa em África.

O País produz mais energia do que consome, chegando a exportar perto de 60% da sua produção, pelo que electrificar a indústria dos transportes poderá servir também como uma forma de impulsionar a criação de um mercado interno para a nossa energia. A electrificação da indústria de transportes acabará por trazer melhorias ao nível da saúde, uma vez que os VE não produzem emissões de gás de escape e, portanto, são

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considerados mais limpos do que os veículos movidos a gasolina.

Consequentemente, melhorariam a qualidade do ar, o que seria especialmente benéfico em áreas urbanas onde os níveis de poluição costumam ser elevados.

No geral, a electrificação dos transportes em Moçambique é um passo importante para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, melhorar a qualidade do ar e reduzir a dependência do País de combustíveis fósseis.

Os Governos têm um papel importante enquanto impulsionadores de mudança neste tema.

Existem várias formas de impulsionar a electrificação dos transportes no País:

- Fornecer incentivos para a adopção de veículos eléctricos: conceder incentivos de modo a que os indivíduos e empresas mudem para VE, como, por exemplo, de âmbito fiscal ou em subsídios, o que poderia ajudar a tornar estes veículos mais acessíveis financeiramente e incentivar a que mais pessoas efectuassem a troca.

- Investir em infra-estruturas para carregamento, podendo estar alojadas em estações de carregamento em áreas

públicas ou conceder subsídios às empresas para a instalação de estações de carregamento em locais específicos, como estações de serviço.

- Promover a consciencialização e educação na promoção sobre os benefícios dos VE e as opções disponíveis, sensibilizando a população para a redução da emissão de gases tóxicos e para a preservação do ambiente com vista a um futuro mais duradouro.

- Estabelecer metas e objectivos para a electrificação do transporte, ou seja, estipular que uma certa percentagem de veículos nas estradas seja eléctrica até uma determinada data. Isso poderá ajudar a criar um senso de urgência e encorajar à mudança.

Efectuar parcerias com o sector privado e outras partes interessadas em toda a cadeia de valor, para ajudar a impulsionar a electrificação do transporte. Estas parcerias poderão ser no âmbito de projectos de infra-estruturas, apoio em pesquisas e desenvolvimentos ou até mesmo no âmbito de linhas de financiamento para esforços de electrificação. Há muitas maneiras pelas quais o Governo pode ajudar a impulsionar a electrificação dos transportes no País.

Ao conceder incentivos, investir em infra-estruturas para carregamento, promover a consciencialização e a educa-

ção, estabelecer metas e objectivos e fazer parcerias com o sector privado e outras partes interessadas, os governos poderão ajudar a acelerar a adopção de VE e impulsionar o progresso em direcção a um sistema de transportes mais limpo e sustentável.

O Papel da Banca Comercial

Os bancos comerciais pelo seu papel na sociedade poderão ser um mecanismo para a materialização destas iniciativas, quer seja pela concessão de financiamentos que suportem a aquisição directa de VE, quer pelo apoio a projectos de investimento em infra-estruturas que suportam a tecnologia “verde” e, eventualmente, pelo desenvolvimento de parcerias sustentáveis que ajudem a promover e a implementar estas iniciativas.

Assim, e em modo de conclusão, a electrificação comercial da indústria de transportes poderá ter uma forte contribuição económica para Moçambique. Esses esforços poderão ajudar a acelerar a adopção de veículos eléctricos e impulsionar o progresso em direcção a um sistema de transportes mais limpo e sustentável.

Moçambique tem todos os componentes necessários para posicionar-se como o primeiro país africano com emissões zero na indústria dos transportes.

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A electrificação dos transportes é um passo importante para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis

As Artes Que, Mais do Que Dominar o Corpo, Ajudam a Formar a Mente

Cansado, decidiu procurar um desporto onde pudesse retribuir a provocação sem ser penalizado. Começou a praticar Taekwondo. Depois, descobriu que já não tinha tanta vontade de retribuir. Não é uma história incomum, esta, bem pelo contrário, e ajuda a explicar como as disciplinas (este é o termo a reter) orientais podem ser decisivas no desenvolvimento de competências, personalidade e valores tão importantes num contexto como o moçambicano

Écaso para dizer que as aparências iludem. As artes marciais são, muitas vezes, julgadas agressivas pelo aspecto das técnicas que utilizam. Contudo, não é por acaso que se chamam de artes (marciais), porque se baseiam em várias filosofias orientais que, bem para lá da componente física, apuram o foco nos objectivos, activam a capacidade de superação e diminuem drasticamente, por contraditório que possa parecer, a apetência por comportamentos violentos.

Assim, tanto ao nível nacional como internacional, diferentes entidades, como a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –, incentivam a sua utilização para ajudar os jovens a construir a sua autoconfiança e a cultivar atitudes que promovem uma cultura de paz e de não violência.

Por cá, quem já venceu, na vida como no tapete, garante que “as artes marciais aumentam o sentido de hierarquia, disciplina e respeito, contribuindo para melhorar a estrutura emocional, resiliência e controlo da agressividade de quem as pratica.” Por isso, os atletas entrevistados no contexto da celebração do Dia Mundial do Judo, que se celebrou a 28 de Outubro do ano passado, consideram que a inclusão destas modalidades nas escolas poderia reduzir alguns dos proble-

mas sociais que mais frequentemente afectam os jovens.

Provas dadas

Dois campeões têm em comum o caminho que os levou das condições humildes dos bairros onde viviam, ao pódio de competições internacionais, sem esquecer o sucesso estudantil e profissional (integram ainda a reduzida taxa de alunos que concluiu a licenciatura e que exerce actividade na área da formação). Coincidência ou resultado da prática de artes marciais? Edson Madeira, acha que não e a sua vida prova-o. Em 2008, foi o primeiro judoca moçambicano a ir aos Jogos Olímpicos, concretizando um sonho de criança, e em 2015 trouxe para casa a primeira medalha dos Jogos Pan-Africanos. A história de Edson, um pioneiro da modalidade em Moçambique, conta-se a partir da primeira coisa que se aprende no judo e, talvez, da lição mais marcante que levou dos tapetes – “só se levanta quem sabe cair”.

Depois, passa por tapetes de palha coberta com tecido que “doía e tinha pulgas”; pela medalha que trouxe da primeira viagem ao estrangeiro; pela concentração e espírito de fraternidade que encontrou nos colegas e treinadores; pela imposição dos pais para estudar e concluir com sucesso a licenciatura e o mestrado em Educação Física; e pela calma e resiliência que apren-

deu a manter, atributos indispensáveis para triunfar nas competições e na vida. Quando faz contas às muitas batalhas e adversidades vencidas, o atleta não hesita: “Aprendi muito com o judo e foram estas experiências que fizeram de mim o homem que sou hoje.”

Edvaldo Boca, arquitecto, pratica tang so doo, arte marcial coreana baseada no karaté que fomenta a unificação da mente, do corpo e do espírito. Participou em diversas provas nacionais e internacionais e sagrou-se bicampeão mundial da modalidade. E se não tivesse ido àquele treino e não tivesse continuado a praticar tang so doo, o que seria diferente? O campeão não duvida. Na Escola Secundária Estrela Vermelha, muito perto do bairro da Mafalala e Chamanculo, seria muito fácil ele e os amigos “distraírem-

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 40 NAÇÃO | SAÚDE E BEM ESTAR
Texto Maria Dias • Fotografia Mariano Silva
A história de Edson Madeira, pioneiro da modalidade em Moçambique, conta-se a partir da primeira coisa que se aprende no judo — “só se levanta quem sabe cair”

-se” e perderem-se pelos caminhos erráticos que o destino ali plantou. Mas não. A prática de artes marciais semeou-lhe a disciplina e ensinou-o a distinguir o que é correcto e a ignorar as provocações, mantendo-o focado no objectivo. Não sabia ainda quais eram os destinos que o destino lhe guardava, mas do seu grupo de dez amigos do Bairro Estrela Vermelha, só ele se licenciou. E aqui está.

Passagem de testemunho

A Escola de Judo Edson Madeira foi fundada para fomentar a prática e a transmissão dos valores da arte a crianças e jovens em idade escolar, em particular nos meios mais desfavorecidos. Nesse sentido, a instituição estabeleceu protocolos com algumas escolas de Maputo para executar actividades, que per-

mitem um primeiro contacto com o treino e a filosofia do judo, e trabalha actualmente com cerca de 300 crianças e jovens. Shenidy Carlos, a campeã de artes marciais mais jovem do País e a primeira judoca a ganhar uma medalha de ouro na categoria dos 57 Kg, é uma realidade viva desses projectos sociais.

A adolescente, a quem o tatami ensinou que, quando compete, “a primeira luta que tem de se travar é com o medo”, ainda não ciente da influência que pode ter nos amigos e na comunidade. Mas, na opinião do seu mestre, atletas como ela podem fazer a diferença na missão de mostrar o caminho aos mais novos.

Por isso, a academia de Edson organiza palestras durante as quais a prática e a (anti)relação das artes marciais

com comportamentos de risco são tema de conversa entre os mais graduados e os mais novos. Foi assim que, na semana que antecedeu o Dia Internacional do Judo, encontrámos Carla Faria na Escola Secundária Quisse Mavota a falar sobre iaido e a preparação para a vida adulta.

De katana embainhada (tradicional espada japonesa), qual personagem de um filme de Tarantino, a iaidoca explica a um grupo de adolescentes como as drogas, o álcool e as relações sexuais desprotegidas põem em risco o sucesso escolar e profissional dos futuros adultos. Por isso, tal como no iaido, arte que enfatiza a necessidade de aperfeiçoamento através da crescente complexidade das katas (formas que simulam combates), é importante manter o foco e estar sempre alerta para antecipar o peri-

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Eventos como o Martial Fest, que juntou cerca de 500 atletas na demonstração de 20 artes marciais, são de grande importância para a divulgação e compreensão da filosofia-base destas actividades

go e para “cortar e sair de forma controlada de qualquer conflito que tenhamos na vida.”

Prós e contras

O judo é reconhecido pela UNESCO como modalidade de utilidade mundial na formação do ser humano, na medida em que promove o desenvolvimento dos jovens dos 4 aos 21 anos de forma integral. Carla Santos, representante da instituição na comemoração do Dia Internacional do Judo, referiu que “a UNESCO está convicta de que esta arte é benéfica não só para a saúde mental e física do cidadão, mas também para a sua segurança e defesa pessoal.” Nesse sentido, disse, “existe uma necessidade de nos unirmos com o objectivo de incentivar esta prática no nosso quotidiano.”

Contudo, a aceitação destas práticas por diversos actores da cadeia de valor da educação encontra ainda muita resistência em diversas geografias, incluindo Moçambique. “A ideia que as pessoas têm é que isto (judo e artes marcais em geral) é uma coisa agressiva e vai fazer mal às crianças,” diz Ed-

son, para quem este preconceito tem condicionado um maior apoio à introdução das actividades no contexto escolar. No entanto, não faltam estudos e casos práticos que provam o contrário.

Para Edvaldo Boca, o problema reside no facto de as artes marciais se apresentarem pela parte física, isto é, pelos chutos e pontapés que são utilizados como ferramenta para o entretenimento, o que dificulta a visualização do modelo conceptual que está por trás disso. É necessário mudar mentalidades e tornar visível “a parte da disciplina e da perseverança que vem das artes marciais”.

Na opinião de Carla Faria, tornar estes desportos mais abrangentes ao nível escolar “poderia fazer toda a diferença em termos de educação e formação, dos resultados que podem atingir, de levar estes valores para casa e de, assim, ajudar a resolver problemas até nas próprias famílias.”

Mas a falta de uma cultura de actividades extracurriculares, associada à componente socioeconómica que envolve a educação, condiciona a divulgação e prática de artes marciais no

País, impedindo que esse efeito seja visível.Finalmente, a falta de uma infra-estrutura de apoio adequada reflecte-se numa taxa de desistências elevada que limita, também, a evolução e o impacto social destas modalidades. Muitas vezes, os treinadores acabam por ser uma espécie de pais substitutos, aconselhando e até apoiando financeiramente os seus alunos para os manter no caminho certo.

Rumo ao futuro

Ao nível internacional, o mérito do País mede-se pelas medalhas forjadas e suadas, no contexto das condições actuais, e Moçambique está muito bem visto. No entanto, a alta competição é muito exigente e os atletas precisam de apoio psicológico e financeiro consistente e sustentado para poderem evoluir e competir no seu melhor. Logo, para ir tão além quanto poderia, o País precisa de investir nas infra-estruturas necessárias e numa estratégia que permita aproveitar os bons recursos humanos de que dispõe.

Eventos como o Martial Fest organizado pela Academia de Edson Madeira, que juntou na sua 3.ª edição, a 29 de Outubro, cerca de 500 atletas moçambicanos na demonstração de 20 artes marciais, são de grande importância para a divulgação e compreensão da filosofia-base destas actividades e para a sua desmistificação e verdadeira implantação ao nível nacional.

Este ano, o Festival contou com o apoio das embaixadas do Japão e de Portugal, da UNESCO, do Município de Maputo, da Federação de Judo e de algumas empresas.

Não obstante os esforços e sacrifícios já feitos, todos os actuais envolvidos continuam a lutar pelo dia em que a prática das artes marciais consiga trazer a todas as crianças e jovens moçambicanos a capacidade de transformação e o benefício de terem um objectivo que lhes poderá mudar a vida.

A resiliência e persistência vêm do foco, do treino, do sentimento de terem encontrado neste mundo um caminho e uma família, assim como dos momentos de alegria que vivem e proporcionam a quem os apoia quando, no tapete, vencem o medo e outros adversários.

“Não há dinheiro que pague a alegria que vimos nos olhares dos pais, avós e todas as pessoas próximas dela”, testemunha Edson, referindo-se ao dia em que Shenidy regressou a casa com a sua (e nossa) primeira medalha de ouro. “É isso que nos leva a querer trabalhar mais e mais, dia após dia”.

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Aprimeira coisa a regenerar é o pensamento. A forma como percebemos o mundo e a vida e nos relacionamos com ela.

A predominante percepção de separação – Humanidade/Natureza, Interno/ Externo, e até mesmo as inúmeras fragmentações manifestas entre Seres Humanos, é o primeiro aspecto a ser reavaliado, pois é a partir desta perspectiva que emergem todas as nossas interacções.

Esta percepção de separação não afecta apenas as questões mais primordiais e básicas, como compreender que nós somos a Terra e cuidar da Terra é cuidar de nós.

Ela estende-se a questões complexas e triviais do quotidiano, que nos fazem perceber o mundo como “Nós e os Outros”; “Aqui e Lá”; “Certo e Errado”; “Bom e Mau”. Deixando-nos frequentemente na “Equipa dos Bons”, e os “Outros” – Povos, Governos, Líderes – na Equipa dos Maus.

Gerando uma incapacidade em distinguir, por um lado, as várias tonalidades entre as polaridades e, por outro, a manifestação de todas elas em todos os sistemas vivos, que são dinâmicos, porosos e relacionais.

Outro importante convite que a regeneração nos faz é olhar para a vida, para os sistemas e para os lugares, colocando o foco no potencial. Até aqui, temos vindo a observar, pensar e agir a partir do problem-solving. É isto que andamos sempre a fazer, quer ao nível das instituições e estratégias - incluem-se aqui os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), quer ao nível dos nossos sistemas e organizações.

Não estamos contra os problemas, eles existem. Mas o que acontece quando partimos do foco no problema? Essencialmente perdemos a visão do todo/do sistema maior, do lugar, das rela-

Culturas Regenerativas – O Foco é no Potencial e não no Problema

ções de interdependência e respectivas consequências, que uma acção dirigida, ainda que bem-intencionada, pode acabar por gerar.

Os exemplos são vários, mas vamos usar um que nos toca (ou tocará) a todo(a)s:

Crises alimentares, provocadas por guerras, conflitos ou catástrofes, tendem a induzir-nos a acelerar os ciclos de produção agrícola, naturalmente recorrendo a meios artificiais.

Para quem lida de perto com a fome, a crítica impulsiva e simplista desta atitude é delicada. Mas a verdade é que a tentativa de resolver o problema da crise alimentar e a destruição massiva dos solos gerou, ao longo das últimas décadas,

É que embora os pequenos agricultores de países em desenvolvimento produzam um terço dos alimentos do mundo, e sejam ele(a)s que na prática lidam com secas, inundações, ciclones e outros desastres, só lhes chega apenas 1,7% do financiamento climático, um dado constrangedor lembrado por Sabrina Elba do Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), recentemente, na COP27.

E assim se anunciaram mais programas e milhões para resolver mais problemas, pois de Heróis Salvadores e Resolvedores está o mundo cada vez mais cheio.

Relembrando uma ideia-chave de Daniel Wahl: “a vida é uma força sintrópica. Não é para ser resolvida.”

A nossa intenção original de dividir e arrumar os assuntos, para melhor compreender, gerir, controlar, sistematizar, faz-nos perder e repetir os mesmos padrões.

outros problemas que muitos de nós já bem conhecemos. Na recente COP27, Zitouni Ould-Dada, vice-director da Divisão de Clima e Meio Ambiente da ONU para a alimentação e agricultura, alertou para esta questão, lembrando que “temos 828 milhões de pessoas que passam fome todos os dias (…) no entanto, jogamos fora um terço dos alimentos que produzimos (…) além disso, não podemos continuar com o modelo actual de produzir alimentos e depois degradar o solo, diminuir a biodiversidade, afectar o meio ambiente.”

Se sabemos que a agricultura tem um papel importante na mitigação da crise climática, temos de pensar em formas mais sustentáveis, inclusivas e justas.

Como já dizia Einstein “não podemos resolver os nossos problemas com o mesmo pensamento que utilizamos quando os criamos.” Ou como nos provoca o nigeriano Bayo Akomolafe, “e se a forma como respondemos à crise for parte da crise?”

Vanessa Andreotti, professora e investigadora que integra o colectivo transnacional e interdisciplinar GTDF (Gesturing Towards Decolonial Futures – Global Citizenship Education Otherwise Study Program), reforça esta ideia, lembrando que, quando olhamos para os problemas de forma isolada, vamos acabar por usar abordagens que reproduzem três coisas:

- Soluções simplistas;

- Formas de envolvimento paterna-listas;

- Ideais etnocêntricos de sustentabildade, justiça e mudança.

E tudo isto se afasta da dinâmica dos sistemas vivos e dos princípios da re-

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É em rede e na qualidade de aprendiz/praticante que melhor se faz o caminho da regeneração
Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org

generação. Pelo contrário, o paradigma do problem-solving está muito ligado às fontes de processos degenerativos (adaptado de Lúcida e Carol Sanford Institute):

1. Fragmentar: Focar em temas e problemas (pobreza, clima, alimentação, desigualdade de género);

2. Categorizar: Para conseguir gerir tanta informação;

3. Generalizar: Fazer com que todos encaixem nos conceitos idealizados;

4. Determinar: Em categorias, definindo intervalos de normalidade. Sistematizando processos rígidos onde todo(a)s têm de se encaixar, esquecendo o potencial dos lugares/sistemas, anulando a sua essência, bio-inteligência e capacidade de autodeterminação;

5. Agregar/linearizar: Reforçar uma visão de mundo como melhor que outra, como a “certa”;

6. Escalar: Levar os outros a aceitar essa visão de mundo, esses programas e medidas e, claro, as “comprovadas” best pratices;

7. Esquecer: Entrar em modo automático, reproduzindo os padrões definidos (e literalmente saturando os mercados com “soluções” que podem já não ter adequabilidade – ou o público adequado), sem reavaliar resultados.

Todos nós que já criámos, implementámos ou participámos em projectos e programas altamente patenteados, sabemos que, na prática, acabará frequentemente por existir um desencontro entre a necessidade e a realidade, entre a oferta e a procura e, acima de tudo, entre

a solução e o impacto que era suposto gerar e o que concretamente acabou por se manifestar. Ainda assim, é sobretudo para resolver problemas que nós, consultores, somos frequentemente chamados.

E o jogo de cintura para, no meio de diferentes interesses e forças, honrar e activar a inteligência colectiva do sistema, a caminho do seu melhor potencial, é um exercício delicado, que exige maturidade, profunda honestidade e ética e abertura para pedir e receber mentoria e suporte. Porque é também em rede e na qualidade de aprendiz/praticante que melhor se faz o caminho da regeneração.

É importante ainda acrescentar que andar constantemente a combater problemas limita-nos, acaba por nos desgastar, imobiliza-nos, desmotiva-nos. É uma abordagem alopática.

Partir do potencial abre possibilidades, caminhos, reforça o entusiasmo, motiva e mobiliza. É uma abordagem sistémica.

Todos os Lugares/Sistemas têm um potencial único e estão em constantes ciclos evolutivos, e quem melhor conhece os Lugares são as suas Pessoas, que são, na verdade, a expressão desses territórios (ou organizações).

Por isso, mudar o paradigma do foco – do problem-solving para o potencial –só funciona nos (e com os) Lugares.

Não são democráticos – nem inteligentes, nem regenerativos – os modelos, agendas e programas em que os decisores são os “donos da visão de mundo

melhor/certa”, e em que os verdadeiros especialistas dos Lugares não são chamados ou devidamente escutados e valorizados.

Partir do potencial orienta a nossa perspectiva para o futuro e para as possibilidades de vida e harmonia para todo o sistema, e não apenas para parte(s) dele e/ou para visões demasiado curtas de futuro.

Actualmente seria impensável (à partida) produzir desenfreadamente plástico, pois aquilo que na altura resolveu e melhorou problemas de armazenamento, mobilidade e transporte gerou questões sérias, porque no momento da sua criação não foram feitas as perguntas certas, nem olhados, quer a interdependência e consequências, quer o horizonte alargado de futuro.

Quando partimos do potencial, as perguntas-guia que fazemos mudam.

Jenny Andersson, consultora organizacional, dá-nos um exemplo prático:

“Uma abordagem problem-solving faz a seguinte pergunta: como reduzimos a poluição atmosférica nesta cidade? (…) Banimos os veículos com elevadas emissões dos centros das cidades. Criamos zonas pedonais. Cobramos custos adicionais pelo acesso de veículos privados, que reinvestimos em medidas de qualidade do ar.

Uma abordagem de potencial regenerativo perguntaria: “qual é o potencial desta cidade para se tornar um ambiente saudável para viver toda a vida?” Outras perguntas que podemos fazer:

“Qual é a essência deste Lugar/Sistema? O que queremos trazer/fazer gera vida? Para todo(a)s? Mantém a identidade? Ou descaracteriza? O que está a limitar a manifestação do potencial deste Lugar/Sistema?

Quais são as forças de activação e resistência presentes? Que forças de reconciliação podem harmonizar e trazer mais vitalidade a este Lugar/Sistema?”

Não é que as perguntas sejam mágicas ou nos tragam respostas definitivas. Mas elas abrem um campo novo, de possibilidades, de vitalidade, de vida.

Ainda assim, a frase que melhor me parece fechar esta reflexão é a que dá início ao Livro “Design de Culturas Regenerativas”, de Daniel Wahl, e que não temos a certeza, mas que é atribuída a Albert Einstein:

“Se eu tivesse uma hora para resolver um problema do qual a minha vida dependesse da solução, eu passaria os primeiros 55 minutos a determinar a pergunta certa a ser feita e, uma vez sabendo a pergunta, resolveria o problema em menos de cinco minutos.”

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Partir do potencial abre possibilidades, caminhos, reforça o entusiasmo, motiva e mobiliza

“Modelo da Incubadora Está a ser Replicado em Vários Mercados Africanos Onde o Standard Bank Está Presente”

ASasha está aqui desde o dia zero da Incubadora. Como é que nasce este projecto, em Agosto de 2017?

Bem, olhando para trás, foi um caminho longo e desafiante. Começámos por uma constatação óbvia: olhando a algumas estatísticas do País, em 30 milhões de pessoas, apenas 1,7 milhões de moçambicanos tinham acesso ao sector formal de emprego.

Depois, ao nível do empreendedorismo, e segundo o Índice Global GEI (indicador da saúde do ecossistema de empreendedorismo que mede a qualidade deste e a extensão e profundidade do ecossistema de apoio), Moçambique classificava-se apenas em 124.º no total dos 137 países de todo o mundo.

Das 14 áreas avaliadas, as competências das startups, do capital de risco, do capital humano e da internacionalização tiveram as pontuações mais baixas. Como podíamos começar a encarar e resolver este problema? - perguntámo-nos. E foi com base nessa premissa que avançámos para este projecto.

Olhando o empreendedorismo enquanto chave transformadora do País...

Sem dúvida, o futuro de qualquer país pode e deve ser baseado no empreendedorismo. Mas tivemos muitos desafios, o ecossistema era, e é ainda, muito ‘verde’ e são precisos muitos recursos.

Mas a ideia-base esteve sempre lá: o que é que o Standard Bank pode fa-

zer pelos empreendedores moçambicanos? Claro que oferecer serviços bancários, obviamente, é a parte da solução financeira.

Mas faltava, realmente, uma ideia clara sobre como é a vida de um empreendedor, quais as suas necessidades, como é que nos poderíamos colocar dentro dos seus sapatos e quais os recursos de que eles precisam para criar uma empresa sustentável.

Tínhamos muitas perguntas e, por isso, fomos em busca de respostas. Começámos por fazer várias entrevistas com o sector privado, com organismos públicos e vários actores dentro do ecossistema para entender melhor como poderíamos desenhar um mecanismo, uma incubadora que respondesse, de facto, a estas questões.

Daí surge, então, o primeiro esboço do que é hoje a Incubadora, é assim?

Sim, sempre num processo de experimentação. O modelo inicial do que oferecemos foi-se alterando, fomos arranjando parcerias com diversos programas e a própria Incubadora organizou e patrocinou vários programas de capacitação desde a sua inauguração oficial, em Agosto de 2017.

A esse nível, o nosso principal programa de bootcamp de empreendedorismo, o #iDeate (22 edições já realizadas), organizado em colaboração com a ideiaLab, foi um verdadeiro sucesso, com quase 900 participantes treinados até hoje, e com vários ex-alunos vence-

dores de prémios e competições internacionais, além de garantir o financiamento para os seus projectos. Fomos patrocinadores da comunidade de programação MozDevz ao longo dos anos, e apoiamos os seus esforços para permitir que programadores e codificadores de Moçambique tenham acesso a formação de boa qualidade, a ferramentas e aos recursos necessários para empreender.

Já antes, desde 2015, o Standard Bank patrocina o Seedstars Maputo, que faz parte da Seedstars World Global Summit, e no qual já houve vários vencedores locais que competiram na Seedstars Regional Global Summit, em África, e na Global Summit em Lausanne, na Suíça.

O banco vê toda esta dinâmica enquanto investimento, na sua própria evolução, até ao nível do serviço, é assim?

Sim, enquanto grupo, estamos sempre a olhar para formas através das quais

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Texto M4D • Fotografia Mariano Silva Sasha Vieira, responsável pela incubadora Standard Bank, faz um balanço de cinco anos de actividade deste ‘viveiro’ de ideias empreendedoras situado bem no coração de Maputo

o banco se possa envolver cada vez mais neste universo da inovação e associar-se a fintechs e outras startups, reconhecendo o valor de soluções ágeis e inovadoras no universo de pagamentos e cobranças, e olhando ao inevitável futuro digital dos negócios no sector financeiro.

O conceito de ‘incubadora’ está um pouco ‘na moda’ como solução mágica para todos os problemas, e não será tanto assim, até porque tem de haver incubação, aceleração, acompanhamento na ligação e introdução num mercado que não é fácil. Qual é a receita que esta experiência que já têm

vos trouxe para as PME poderem encarar, com sucesso, estes desafios?

Basta olhar para a questão das parcerias que foram essenciais para criar e a fazer evoluir a arquitectura da Incubadora, que tem cinco pilares estratégicos e cinco pilares operacionais da nossa oferta aos empreendedores (ver caixa).

Como dizia, o ecossistema é ‘verde’ e, por isso, o pilar das pessoas e capacitação, os serviços de suporte ao desenvolvimento de negócio, o acesso aos mercados e acesso a financiamento e a monitoria são fundamentais.

Mas tudo começa na pessoa e na avaliação do seu nível de maturidade. As

startups, quaisquer que sejam, enfrentam muitos desafios. Na Incubadora do Standard Bank, a capacitação é parte integrante do nosso modelo estratégico, podemos dizer que é a prioridade das prioridades. É imperativo que projectemos e executemos programas que equipem os jovens e aspirantes a empreendedores com a capacidade de entender a ciência e as metodologias que estão por trás do passo de iniciar um novo negócio, por forma a desenvolver ideias inovadoras. Mas, mais importante ainda, para perceber como podem elas ser transformadas em negócios sustentáveis Depois, o acesso aos mercados também desempenha um papel crítico. Se houver poucas ou nenhumas oportunidades de mercado, as ideias e soluções tornam-se redundantes, e é por isso que nos desafiamos a pensar em formas de fazer parcerias com startups locais de Moçambique e fintechs para compartilhar os nossos desafios específicos e os dos nossos clientes, e assim determinar a sua capacidade de os resolver.

Isso cria uma oportunidade de as vincular à nossa cadeia de suprimentos e, possivelmente, à dos nossos clientes, o que já acontece.

Uma das vossas apostas actuais é o iCreate, um programa de aceleração de startups que é uma evolução do iDeate (incubação), um dos vossos primeiros programas. Em que consiste?

É um programa de aceleração que iniciámos em 2021, em parceria com a ENI, na altura muito direccionado para a cadeia de valor do GNL, em que escolhemos as empresas com mais potencial que tinham saído do programa iCreate.

Na segunda edição, avançámos em parceria com a embaixada do Reino dos Países Baixos com um foco mais direccionado para empresas geridas por mulheres em várias províncias do País. Até hoje, tivemos 46 empresas e 86 participantes que se graduaram nos dois programas, que estão agora numa fase de digitalização muito acelerada pela pandemia e pela situação no Norte do País.

O projecto da incubadora não é comummente encontrado na banca, em Moçambique ou noutros mercados. Como é que este projecto é visto como investimento e não como despesa?

É um facto, mas, modéstia à parte, e mesmo sabendo que este é um trabalho que nunca está acabado, pois há sempre melhorias a introduzir, depois dos bons resultados que fomos alcançando, as várias equipas do Standard Bank do Gana, Angola, Tanzânia, Namíbia, Quénia,

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“Depois de termos dado os primeiros passos, outras operações do Standard Bank no continente começaram a replicar este modelo”

Zâmbia e Essuatíni já estão a replicar o modelo de incubadora que começou aqui em Moçambique. Indo à sua questão, sabemos que as PME têm dificuldades de acesso aos mercados financeiros em todo o mundo, há elevadas taxas de insucesso, e em cada dez novas empresas sete falham nos primeiros cinco anos.

Em África essa estatística é ainda mais elevada. Portanto, a questão é: como podemos desbloquear o acesso ao financiamento neste meio de alto risco, sem ferramentas de gestão, colaterais e viabilidade financeira?

Para nós, a possibilidade mais forte de melhorar este cenário é ser um player na criação de novas ferramentas de suporte ao universo das PME e começar a criar um ecossistema desde a raiz. Com este suporte, e já temos resultados disso, as PME valorizam-se, conseguem aceder a financiamentos e, claro, acabam

por ser também, na maioria dos casos, clientes do próprio banco.

Há casos de sucesso de empresas que tenham começado aqui e que hoje sejam referências no mercado?

Há muitos exemplos desta realidade de que falo, quer startups, quer empreendedores, como a Márcia Uetela (que participou na segunda edição do iDeate), que tem tido enorme reconhecimento, ou a Karinga wa Karingana que, através da sua passagem pela Seedstars, acabou por fechar uma parceria

com a rede Nandos em Londres. Há vários exemplos destes que são muito conhecidos, mas, para mim, o objectivo principal é a sustentabilidade dos negócios, seja numa escala mais pequena ou numa mais abrangente.

Há uma propensão maior para as startups de tecnologia ou acolhem todo o tipo de ideia e projecto de negócio?

Aqui somos ‘agnósticos’ em relação a isso. Há, é um facto, ideias muito repetitivas, e sem grande potencial, em várias áreas, e também ajudamos nesse direc-

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“Para nós, a possibilidade mais forte de melhorar este cenário é ser um player na criação de novas ferramentas de suporte ao universo das PME e começar a criar um ecossistema desde a raiz”

cionamento, de perceber qual é a ideia viável e sustentável. Recentemente, nota-se uma tendência relacionada com as energias renováveis ou com a economia circular, por exemplo. Não é só tecnologia como se pensa.

Quais são os principais pilares da vossa estratégia para os próximos cinco anos?

Continuar a cultivar as parcerias no sector de oil&gas, mas também com outras grandes empresas. Em termos de programas estamos a estudar os requisitos, os desafios.

Queremos desenvolver cada vez mais intervenções que vão ao encontro das necessidades existentes, coisas direccionadas e concretas, e também caminhar no sentido da capacitação profissional, no empreendedorismo, recursos humanos, com casos de estudo locais, tudo através de plataformas digitais que

OS PILARES DA INCUBADORA

São essencialmente cinco, todos voltados para a construção de conhecimento de empreendedores e PME nacionais

Capacitação

Pilar de Pessoas: Procura resolver conhecimentos específicos ou lacunas de conhecimento, ou competências que podem ajudar os fundadores e proprietários das PME a construir e administrar seus negócios de forma mais eficaz, ou seja, com conhecimento.

Desenvolvimento de Negócio, Serviço de Suporte (BDSS)

Pilar de Operações: A chave do sucesso de uma PME é a forma como inicia a sua actividade, bem como a gestão quotidiana da empresa. Os empresários não têm acesso ao devido aconselhamento jurídico, conhecimentos financeiros e contabilísticos, marketing , branding, aconselhamento , RH, fiscalidade, etc. As masterclasses para PME e os nossos serviços de aconselhamento podem fornecer-lhes um apoio crítico.

Acesso ao Mercado

Pilar do Cliente: O acesso a clientes é estrategicamente mais importante do que o acesso ao financiamento, pois a capacidade de demonstrar interesse pessoal dos clientes afecta a capacidade de atrair as soluções de financiamento certas. Além disso, os clientes são a alma da sustentabilidade de qualquer organização e a capacidade de gerar crescimento. Exemplos deste pilar são o Clube de Comércio, Dias de Demonstração, Ligações da Cadeia de Suprimentos.

Acesso ao Financiamento

Pilar do Financiamento: O acesso a finaciamento adequado é relevante para a maturidade do negócio e fundamental para o crescimento e sustentabilidade de qualquer um. O Standard Bank criou produtos de crédito relevantes para os seus clientes. Também apoiamos com vínculos a mecanismos alternativos de financiamento.

Acesso a Mentoria

Pilar de Recurso: Cada negócio é único e requer um conjunto único de mentores, sejam eles especialistas do sector, empreendedores que desenvolveram negócios semelhantes de sucesso, líderes de pensamento, motivadores, etc. Através dos programas da Incubadora, de especialistas bancários e dos nossos parceiros e clientes, procuramos conectar os clientes às pessoas certas.

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FONTE Incubadora do Standard Bank

É o número de mulheres moçambicanas que estão na plataforma Lionesses of Africa em Moçambique. Já se realizaram 27 eventos da Lionesses LEAN-IN com mais de 75 empreendedoras como oradoras.

Empreendedores já foram graduados do programa de incubação iDeate. Começou em 2018 e vai na sua 22.ª edição.

Participantes no Programa iCreate. Começou em 2021 e, até hoje, trabalhou com 46 empresas.

são uma das nossas grandes apostas, até para fazer escalar os programas. Por fim, trabalhar mais ainda a questão do capital, para o qual não existem ainda muitas soluções devido ao risco elevado, e em como desenvolver mecanismos alternativos associados à aceleração, continuando com a participação dos sectores público e privado para agregar fundos e vontades.

Se há coisa que mudou nos últimos anos em Moçambique foi a adopção da palavra empreendedorismo que, de facto, se tornou corrente no dia-a-dia de milhões de pessoas. Gostaria de perguntar-lhe as grandes lições que aprendeu nestes cinco anos.

A primeira coisa foi a noção de ter começado com um projecto com um conceito novo no País, em que nós próprios tivemos de aprender primeiro com as PME e perceber o que era necessário para começar. E isto porque nós próprios somos uma startup dentro do Standard Bank e estamos sempre a procurar

aprender. Por isso mesmo, há uma proximidade enorme com as PME, com os seus desafios, com a sua visão e expectativas que não são apenas de capital, são sonhos específicos, querem causar impacto no seu País. Aprendi também que, antes de correr, é melhor ir passo a passo, procurar perceber se há impacto positivo, resultados que são úteis aos empreendedores, e ter foco permanente.

Por fim, descobri que há muito talento e potencial neste País. Há desafios para desbloquear. Mas, se olhar aos últimos cinco anos, é possível observar que se em 2015 a palavra empreendedorismo nem sequer era pronunciada, hoje isso mudou totalmente. Há meio milhão

de jovens a chegar ao mercado de emprego todos os anos e isso significa que não há tempo a perder. Ninguém faz nada sozinho e é por isso que temos muitos parceiros, do sector público ao sector privado, e esta parte é crítica para poder usar melhor os recursos e estender o impacto.

O que significa para si o empreendedorismo?

Em primeiro lugar, é um mindset, é uma atitude. Mas com o tempo, aprendi que também é inovação e implementação, ou seja, como é que eu vou identificar os desafios, criar a solução e quais os recursos para implementar. É isto.

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“Por fim, descobri que há muito talento e potencial neste País... Se em 2015 a palavra empreendedorismo nem sequer era pronunciada, hoje isso mudou totalmente”
A INCUBADORA EM NÚMEROS 30 357 876 86

O Que o Sector Privado Sente, Vê e Quer Para 2023?

Algumas das decisões do Banco de Moçambique não têm, à primeira vista, favorecido a actividade empresarial embora, em pano de fundo, tenham apontado à estabilidade macroeconómica. Ao longo do ano, por exemplo, as taxas de juro de referência subiram 4 pontos percentuais. No balanço de 2022, e perspectivando o novo ano, há questões por alinhar. O Governo faltou ao debate, mas não faltaram os recados sobre como este deve conduzir a política fiscal e ajudar o BdM a reencaminhar a economia para a estabilidade

De há alguns anos a esta parte, as conjunturas interna e internacional impõem sucessivos desafios ao ambiente de negócios. E as soluções assumidas pelas autoridades competentes para resolver os desequilíbrios dos mercados, no caso o Banco Central (através da Política Monetária) e o Governo (por meio da política fiscal), estão longe de satisfazer a classe empresarial.

Cada vez menos capaz de resistir à multiplicidade de obstáculos – que vão desde o covid-19 à guerra na Ucrânia, passando pelas elevadas taxas de juro, de inflação, cargas fiscais, etc. –, a classe empresarial sentou-se à mesa com o Banco de Moçambique (BdM) e procurou provar, com detalhes, que as soluções de política monetária adoptadas pelo regulador, afinal, desajudam as empresas.

As elevadas taxas de juro É nas elevadas taxas de juro que as empresas encontram o maior obstáculo à sua actividade. Isto não é novo, mas ganhou uma dimensão considerável nos últimos tempos. Ricardo Sengo, presidente do Pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA (Confederação das Associações Económicas de Moçambi-

que), começou por recordar que o ano 2022 foi caracterizado por sucessivos aumentos das taxas de juro de política monetária (taxa MIMO) e da prime rate.

No caso da MIMO, em Janeiro de 2022, o BdM manteve em 13,25% a taxa que vigorava desde 2021. Mas alterou-a para 15,25% em Março deste ano, e para 17,25% em Setembro, representando uma variação total do corrente ano em 4 pp (pontos percentuais).

Em relação à prime rate, que tinha sido fixada em 18,6% em Janeiro, subiu 0,5, 1,5 e 2 pp, em Maio, Julho e Outubro, respectivamente, resultando, igualmente, num acumulado de 4 pp durante o ano.

Outras taxas directoras, nomeadamente a Facilidade Permanente de Cedência (FPC) e a Facilidade Permanente de Depósitos (FPD), foram também ajustadas em alta na ordem dos 4 pp. A FPC passou de 16,25% para 20,25%, e a FPD de 10,25% para 14,25% entre Janeiro e Novembro do presente ano.

“A medida é, no seu todo, penalizadora para o sector privado e para a sociedade em geral, porque vai reduzir, em grande medida, o acesso ao financiamento, sem deixar de referir o aumento do custo do crédito para com a banca comercial em que os agentes económicos nacionais têm de incorrer”, refe-

A sugestão do sector privado para 2023 é que o Banco Central procure actuar no sentido de promover maior previsibilidade e evitar grandes variações das taxas de juro do mercado

riu Ricardo Sengo. O dirigente considera que terão sido estes ajustes os responsáveis pelo crescimento tímido da economia em 0,45 pp no segundo trimestre em comparação com o primeiro, dado o “fraco desempenho empresarial.”

Assim, para o próximo ano, a sugestão do sector privado é que o Banco Central procure actuar no sentido de promover maior previsibilidade e evitar grandes variações das taxas de juro do mercado.

Negócios deram prejuízo

Através do Índice de Robustez Empresarial – relatório da CTA que acompanha a evolução do desempenho das empresas e do ambiente macroeconó-

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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

mico ao longo do tempo – o director-executivo da organização destacou a recuperação do dinamismo empresarial, graças a novos projectos de investimentos de diversos sectores.

Com efeito, o índice de robustez empresarial melhorou, ainda que em escala reduzida, na ordem de apenas 1 pp (de 28% para 29%).

Apesar disso, o cenário que se verifica é de aumento de custos acompanhado da queda de receitas, o que piorou as hipóteses de lucratividade das empresas.

Cálculos feitos pelo sector privado indicam que, em média, o custo por unidade de produção das empresas subiu de 6517 meticais para 6628 meticais do primeiro ao segundo trimestre. No mes-

mo período, a receita média por unidade de produção caiu de 6225 meticais para 6223 meticais. Este grau de deterioração do desempenho, na ordem dos 4,1%, resultou em prejuízos de 292 meticais por unidade de produção no primeiro trimestre, e 305 meticais no segundo trimestre.

No que diz respeito ao aumento de custos, a causa está muito ligada à subida dos preços dos combustíveis, que afectou todos os sectores, ao impactar directamente sobre os preços dos transportes e da indústria.

Todas as taxas de juro de referência aumentaram ao longo do ano. Uma medida que sufoca o sector privado, mas na qual o Banco Central vê alívio aos mais pobres JUROS PERMANECEM ALTOS CRISE NAS EMPRESAS

Jan. Jan. Mai. Jul. Out.

TAXA MIMO CUSTOS MÉDIOS RECEITA MÉDIA LUCRO MÉDIO

(Em % ao longo de 2022) (Em %) (Em %) (Em meticais por unidade de produção)

3,25 15,25 17,25 18,6 18,6 18,6 18,6

PRIME RATE OUTRAS TAXAS DIRECTORAS Jan. 2022 Nov. 2022

19,1

6517 6225 -292 -305

Mar. Set. 20,6 22,6 Taxa FPC Taxa FPD 22,6 Trimestre I Trimestre I I

6628 FONTE CTA

6223

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Os custos da actividade empresarial também foram agravados pelo aumento dos preços dos insumos agrícolas e pelo crescimento da inflação. O ano foi marcado pelo aumento dos custos, queda da receita e da lucratividade

A análise do ponto de vista da produtividade empresarial (através do índice de produtividade) aponta para que, em cada metical investido num determinado sector, se percam 0,05 cêntimos em retornos numa perspectiva agregada. Este resultado não encoraja a realização de novos investimentos.

Estagnação no emprego

Quando há crise, não há emprego. Pelo contrário, é expectável que haja despedimentos. É o que destaca Eduardo Sengo com base em dados fornecidos pela Contact. Ao longo do ano não houve expansão de postos de trabalho.

“A economia foi sendo sustentada pelo emprego temporário e em tempo parcial porque os sectores que surgiram não

tinham certezas sobre a sustentabilidade do seu negócio. Por exemplo, o turismo, que ainda se debate com vários obstáculos, e a comercialização agrícola que é sazonal por característica”, justificou.

E porque as taxas de juro elevadas são o aspecto que mais prejudica o sector empresarial, Eduardo Sengo rebate o argumento apresentado pelo Banco Central para a manutenção das taxas de juro, e que assenta sobre o seu principal mandato (o de promover inflação baixa e estável e, dessa forma, proteger as camadas mais pobres da sociedade).

“Quando olhamos para a distribuição do crédito à economia, percebemos que é maioritariamente concedido a particulares e não a empresas. Tal significa que, de alguma forma, a subi-

da das taxas de juro afecta os particulares, incluindo as camadas da sociedade que o Banco Central acredita estar a tentar proteger. Ou seja, tenta evitar a perda do poder de compra através de uma medida que retira o rendimento disponível das famílias”, criticou.

Banco Central garante ter “situação sob controlo”

No encontro, o Banco de Moçambique fez-se representar pela administradora da instituição, Silvina de Abreu, que ouviu atentamente os pontos colocados pelo empresariado.

Lembrou que o BdM tem como mandato primário a manutenção da estabilidade de preços, o que pressupõe que se tenha uma inflação baixa, ao nível de

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um dígito, e estável a médio prazo (dois anos). Assume, entretanto, que a ideia é proteger o poder de compra das famílias, incentivar investimentos e favorecer o crescimento económico de uma forma equilibrada e estável. Mas explica que, para assegurar a estabilidade monetária, o Banco Central tem como principal instrumento a taxa MIMO.

Silvina de Abreu esclareceu aos empresários que o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) decide sobre a taxa MIMO conforme a análise que faz sobre as perspectivas de evolução da inflação no médio prazo. E sempre que notar que há um desvio em relação ao objectivo pretendido, ajusta, em termos de decisão, a medida mais adequada para manter a

inflação ao nível de um dígito. Assim, de acordo com a responsável, a decisão de manter as taxas de juro foi sustentada pelos elevados riscos e incertezas associados às projecções.

Entre os riscos mais importantes, destacou a prevalência da tensão geo-política na Europa cujo fim não é previsível; o abrandamento da procura externa; as perspectivas de abrandamento do crescimento mundial em 2023 devido, essencialmente, ao aprofundamento dos efeitos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia; os isolamentos que têm lugar na China para travar novas ondas do covid-19; os agravamentos das taxas de juro de política monetária que os bancos centrais de quase todos os países do mundo estão a fazer para controlar a inflação; e a tendência do enfraquecimento do dólar perante as principais moedas, entre outros riscos”, justificou a administradora do Banco de Moçambique.

Ou seja, as condições que determinam a fixação das taxas de juro ao nível actual são impostas por um estudo minucioso dos riscos prevalecentes interna e internacionalmente.

“Quando tivemos condições de reduzir a taxa MIMO, fizemo-lo. Não é por prazer que o BdM continua com taxas de juro em níveis elevados. Mas só as poderemos reduzir quando estivermos num cenário em que as condições analisa-

Também não excluímos efeitos de segunda ordem, seja através dos aumentos salariais mais elevados e persistentes ou através de medidas de estímulo fiscal mais fortes”, explicou.

Belchior estima que um cenário de aumento do preço das matérias-primas importadas em cerca de 50% acima das previsões poderá manter a inflação nos níveis actuais, o que quer dizer que poderá falhar a intenção do Banco Central de tentar mantê-la num dígito.

O efeito disso, segundo o responsável, é o impacto que se gera ao nível da procura de financiamento e na oferta do crédito bancário. “Do lado da procura, créditos mais caros tornam os investimentos privados menos apetecíveis, menos rentáveis e menos viáveis economicamente.

E, do lado da oferta, a preocupação tem que ver com as vulnerabilidades do sector financeiro, já que o próprio Banco de Moçambique aponta o crédito mal-parado ou crédito não produtivo como um dos potenciais riscos que podem degradar a qualidade dos activos detidos em balanço nos bancos”, anotou.

“Por isso, mesmo cientes da prevalência de riscos no próximo ano, recomendamos que haja algum gradualismo na subida das taxas de juro, porque o sector privado é dependente do consumo de capital alheio que é disponibi-

No frente-a-frente de balanço de 2022 e as perspectivas para 2023, o sector privado e o

das dos riscos e incertezas nos permitirem essa redução, o que não é o caso”, explicou.

O que se espera em 2023?

Coube ao vice-presidente do Pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA, Oldemiro Belchior, fazer a antevisão do desempenho da economia em 2023. “A incerteza vai permanecer elevada.

Na nossa óptica, teremos pressões inflacionistas que podem resultar em mais medidas restritivas por parte do Banco de Moçambique. Tais riscos incluem uma possível escalada da tensão entre a Rússia e a Ucrânia, bem como outros eventos geo-políticos e desastres naturais relacionados com as mudanças climáticas.

lizado pela banca comercial. Torna-se, por isso, crucial que haja uma melhor coordenação entre a política monetária e a política fiscal no sentido de reduzir as pressões inflacionistas, e de o Banco Central conseguir cumprir com o seu mandato principal”.

Ao mesmo tempo que teme pela subida das taxas de juro em 2023, Oldemiro Belchior antevê cenários que podem favorecer a sua descida, nomeadamente a queda da inflação ocasionada pelo início da exploração do gás na bacia do Rovuma, pela entrada de fluxos internacionais sob forma de desembolsos das ajudas financeiras internacionais, pela retoma dos empréstimos multilaterais do FMI e do Banco Mundial, entre outros.

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Banco Central deixaram clara a prevalência de elevados riscos para a estabilidade económica

Todos querem ter mais. Depois acham que ter mais é ter menos. Como se diz localmente em Moçambique: Nunca se está conforme

Feliz. Ano Novo. E porquê?

Na passagem do ano, todos os anos, se deseja um Feliz ano novo. Mas isso depois passa.

E em todo o planeta é igual. Happy new year!

Existem muitas frases e mais elaboradas.

“Votos de tudo bom para este ano.” “Muita saúde!”

“Próspero ano novo!” “Sucessos!”

Mas na essência tudo vai dar ao mesmo:

Desejar a felicidade.

Porque a felicidade é o que qualquer ser humano procura.

É a maior ambição de todas. E a razão pela qual se vive.

Depois, com o passar dos meses, todos os anos, parece que esquecemos o que desejamos aos outros e a nós próprios. Acreditamos que a razão supera a emoção.

Esquecemos que a felicidade não tem lógica.

Entra o dia-a-dia. E a felicidade que desejámos para os outros e nós próprios na virada do ano dá lugar à realidade da vida.

E é sobre esse dia-a-dia real do ano inteiro que se deve aprofundar sobre o ser humano.

Isso é essencial no marketing.

Porque só conhecendo realmente o que move e comove as pessoas, conseguimos comunicar melhor.

O profissional de marketing é como um bom massagista, um fisioterapeuta.

Sabe tocar nos pontos certos para aliviar o paciente.

Este texto é sobre a importância de entender porque procuramos a felicidade a qualquer custo todos os dias.

E por isso podemos dizer que a felicidade não tem preço.

E como as marcas que entenderem esse aspecto fundamental da vida vão comunicar com mais eficácia.

Criar produtos e serviços que deixem os consumidores mais felizes.

E sobretudo perceber que as Empre-

sas que se preocuparem genuinamente mais com a felicidade dos seus clientes do que com a sua terão melhores resultados.

Como as estratégias de comunicação e campanhas devem ser feitas para oferecer mais do que a oferta descrita nos briefings. Devem oferecer um sorriso.

A passagem do ano já passou.

Vamos passar à frente.

De formas diferentes todos procuram a felicidade.

A maior parte das pessoas acha que nunca está realmente totalmente feliz.

Falta sempre alguma coisa.

Os jovens querem ser mais velhos. Os velhos querem ser mais jovens.

Os altos acham que estão muito altos. Os baixos queriam ser mais altos.

Os fortes acham que estão gordos. Os magros queriam ter um pouco mais de peso.

Os honestos vivem felizes e bem com esses valores e princípios. Os ladrões, roubam bens para terem mais, achando que serão mais felizes assim.

A pessoa que não tem carro, sonha em ter um. A que já tem quer um melhor.

Todos querem ter mais. Depois acham que ter mais é ter menos.

Como se diz localmente em Moçambique: Nunca se está conforme.

O ser-humano vive inconformado.

E isso leva cada um a tomadas de decisões que são cruciais analisar.

Fazem-se pesquisas de mercado infinitas. Mas o que as pessoas pesquisam é a felicidade até ao infinito.

Marketing é psicologia de massas.

Mas pode se tornar um emaranhado como num spaguetti.

Se queremos comunicar com eficácia temos de falar as coisas mais simples. Aquelas que só o povo sabe. As mais verdadeiras e reais.

É muito bom comer de vez em quando um bom sushi.

Mas a comida local é muito M´boa. Mais saborosa. E com ingredientes mais frescos. O sorriso sai mais fácil.

Há muito a aprender sobre este tema

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Thiago Fonseca • Sócio e Director de Criação da Agência GOLO PCA Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda.
BAZARKETING

que não se consegue num curso superior.

É no curso da vida.

E para isso temos de ser sempre inferiores a qualquer superioridade. Mais humanos.

É um tema complexo. E no entanto a felicidade é simples.

Nascemos da mesma forma. Morremos da mesma forma. E todos queremos apenas levar uma vida feliz.

Não cabe dentro deste texto a felicidade.

Nem em nós próprios cabe.

É comum dizer, esta felicidade é tanta, que não cabe em mim.

O propósito das marcas.

O Budismo também aprofunda muito este tema.

Segundo o Dalai Lama, o maior propósito da vida é a felicidade.

Todas as marcas fortes, tem o que se chama em bom marketês, o brand purpose.

O propósito maior da marca.

Já participei de inúmeras sessões com algumas das maiores marcas globais e locais a analisar o propósito das marcas.

O seu posicionamento global. A sua relevância para o mercado moçambicano.

Passam-se dias e semanas em sessões intermináveis para entender isso que deve ser aplicado depois em cada acção da marca.

Por norma, o brand purpose também assenta sempre na felicidade de diferentes formas.

Dependendo do ramo de actividade da Empresa e da marca.

Ou seja, é sempre a procura do papel da marca em fazer o bem na sociedade.

Ter um sentido maior do que a empresa, e os seus produtos e serviços.

Isso só as marcas conscientes dessa importância conseguem.

Desde a felicidade instantânea como no caso dos produtos FMCG. Ou a felicidade a longo prazo em outros casos.

Não importa. Todos os caminhos vão dar a esse mesmo destino comum de toda a humanidade.

Nesta altura é comum também se traçarem planos e resoluções para o ano novo que começa. Listas longas disto e daquilo para a estrada que temos pela frente.

Então, ao percorrer esse caminho durante este ano, os próximos e todos os outros, faça com que em cada dia se realize o maior desejo.

Esse que o mundo inteiro já há muito tempo sintetizou numa só frase:

Feliz ano novo.

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Ilustração de Maisa Chaves

especial inovações daqui

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Como a proposta de uma fonte alternativa de energia, no caso a electricidade produzida do biogás processado a partir dos dejectos de aves, deu um importante reconhecimento internacional a cinco aspirantes a cientistas moçambicanos.

UXENE SMART CITY PANORAMA

Um projecto que quer materializar, em Moçambique, o conceito de cidade inteligente

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo

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Jovens Cientistas Moçambicanos Distinguidos por Criarem Energia Inovadora Para Impulsionar Agronegócio

Se é verdade que a academia em Moçambique não tem ainda os meios mais adequados para fomentar a pesquisa científica, é também verdade que o paradigma actual e global de incentivo à criação de negócios sustentáveis está a despertar nos jovens a busca por respostas tecnológicas capazes de suprir esse défice.

Mas como para ter boas ideias não é preciso mais do que apenas uma boa ‘infra-estrutura’ de pensamento ‘fora da caixa’, esta é uma das mais recentes histórias

A equipa, composta por cinco elementos, é liderada por Vasco Cossa, empreendedor e professor de física numa escola comunitária. Dessa equipa fazem parte outras duas estudantes – Carla Mavila e Odavia Naftal – do departamento de química na Universidade Eduardo Mondlane, Abel Junga, da Faculdade de Engenharia, e Erasmo Sique, da Faculdade de Agronomia e Ciências Florestais.

precisamente

Os premiados designaram o projecto de Green Poultry Farm (em português, Quintade Agricultura Verde), o que explica, na génese, a sua ideia, que con-

este facto: um grupo de trabalho de jovens moçambicanos alunos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), de diferentes áreas do saber, decidiu unir-se e, agregando os conhecimentos adquiridos durante a sua formação, criou um sistema de produção de biogás a partir das fezes de aves. Estes inertes são, assim, uma matéria-prima que é depois transformada para gerar energia eléctrica.

Com esta iniciativa, os jovens foram distinguidos numa competição internacional de startups, designada 928 Challenge, em Macau, na China, tendo ficado em segundo lugar na sua categoria.

siste, essencialmente, em tornar a cadeia de valor da avicultura sustentável. Mas como é que a avicultura e a sustentabilidade se juntam num projecto que preconiza a geração de uma energia limpa a partir de uma fonte energética, digamos, suja?

“Constatámos, durante as nossas pesquisas, que o frango produzido em Moçambique é muito mais caro se comparado com o importado, o que, em condições normais, não deveria acontecer. Então, começámos por analisar o processo de produção de frangos, que é o que dita o preço final e apercebemo-nos de que existem muitas irregularidades,

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que testemunham Uma equipa de estudantes da Universidade Eduardo Mondlane foi distinguida, em Outubro passado, numa competição internacional de startups designada por 928 Challenge, realizada em Macau, por desenvolver um sistema de produção de biogás a partir das fezes de aves, enquanto forma de eliminar o défice energético e reduzir os custos de produção avícola no País TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Mariano Silva
“Constatámos, durante a nossa pesquisa, que o frango produzido no País é muito mais caro se comparado com o importado e os custos energéticos têm uma importante parte nisso”
GREEN POULTRY FARM
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principalmente no que diz respeito ao consumo de energia eléctrica, para sustentar a produção”, explica Vasco Cossa.

Pensando numa ideia para suprir a necessidade de energia de forma sustentável, o grupo percebeu, através das suas pesquisas, que os excrementos do frango poderiam ser utilizados para produzir biogás e fertilizantes. “Então, focámo-nos nesta ideia simples para um problema concreto de que muitos se queixam: como é que podemos usar este conhecimento para melhorar os processos de produção do frango? Reunimos este ano (2022), começámos a trabalhar exactamente em finais de Setembro e desenvolvemos a ideia um mês antes de concorrermos a esta competição de Macau”, relatou Vasco Cossa.

“A ideia era ter um espaço de produção de frango alimentado pelo desperdício da matéria-prima (fezes dos animais), através de um sistema que a transforma em gás, o que, ao mesmo tempo, evita que os dejectos fiquem no meio ambiente e, por outro lado, produz uma energia responsável por poucas emissões”, explicou o líder da equipa.

Como funciona o sistema?

Vasco Cossa explica: “temos o digestor que é acompanhado por um tanque de água, uma botija e outros componentes intermediários. Coloca-se a matéria orgânica no digestor e, a partir da digestão anaeróbica, algumas bactérias alimentam-se dela e, em simultâneo, libertam o gás, através de um processo químico, que é armazenado numa botija.

O que resta de todo este processo são fertilizantes que depois podem ser utilizados para a agricultura.”

Desta forma, e com um processo aparentemente simples e com custos reduzidos, esta matéria orgânica é transformada em biogás que pode ser utilizado como fonte energética que ajuda a suprir os elevados custos de produção avícola (para a criação de galinhas é necessária energia eléctrica para aquecer as capoeiras no Inverno e refrescar os locais de produção na época quente), tornando-a, desta forma, mais competitiva, especialmente numa altura em que os custos de energia subiram consideravelmente.

Os estudos feitos pelo grupo concluíram igualmente que, ao longo dos 40 dias de vida num aviário, um frango produz, em média, dois quilos de matéria orgânica, o equivalente a 70 litros de biogás, um potencial considerado “muito grande. Se tivermos um espaço com mil galinhas, e cada uma produzir essa

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GREEN POULTRY FARM

quantidade de matéria durante um mês, então poder-se-ia obter, em média, duas toneladas de matéria-prima, equivalentes a 70 mil litros de gás, que garantiriam as necessidades energéticas de uma farma de produção de frango com vários milhares de aves.

Quanto tempo leva a produção deste biogás?

“Depende da quantidade, mas em condições normais 45 dias são suficientes para conseguirmos uma quantidade considerável. Por isso, é recomendável que seja produzido por nós porque há factores de temperatura e pressão a ter em conta, sendo por isso que temos de isolar o sistema porque não pode entrar em contacto com a luz solar”, detalhou Vasco Cossa.

Para já, e para passar da ideia à prática, o grupo de cientistas pretende implementar o projecto na cidade de Maputo, por ter percebido que é o ponto onde a produção de frangos tem maior volume. E tenciona também instalar uma planta com um biodigestor de maior capacidade, que vai colectar a matéria orgânica angariada por vários criadores e produzir o biogás que vai ser revendido aos produtores de frango a um preço substancialmente mais baixo do que o praticado no mercado.

Apoios precisam-se

A ideia está lá e até foi premiada, mas a equipa de cientistas-académicos-empreendedores tem enfrentado desafios para colocá-la em prática e escalá-la. Por isso prossegue na busca de parceiros e investidores.

Além disso, o grupo ainda está a desenvolver estudos para tornar o projecto mais eficaz, sendo que se debate com a dificuldade de encontrar dados actualizados do sector avícola, que possam permitir um levantamento de informações e projecções mais precisas do potencial que pode ser produzido.

Na competição internacional de startups, a equipa recebeu um prémio no valor de 10 mil mops (aproximadamente 80 mil meticais). Mas a implementação do projecto nos moldes desejados exige, no mínimo, 10 mil dólares, correspondente a 670 mil meticais.

O 928 Challenge é um concurso de startups e universidades com o propósito de reforçar as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. Equipas destes países apresentam as suas ideias e os finalistas são seleccionados para apresentar os seus projectos aos investidores.

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O Despertar de Uma Nova Cidade Inteligente em Moçambique

Com o avanço da tecnologia e o apelo das organizações internacionais para reduzir as emissões de carbono, surgem novos modelos de cidades que combinam tecnologia e ecologia. O conceito de cidade inteligente está ainda distante da realidade moçambicana, mas, desde Dezembro, ficou bem mais próximo de ser verdade

‘Smart city’ é um conceito que se tornou comum no mundo imobiliário, da arquitectura à construção civil e engenharia urbana, e significa ‘cidade inteligente’.

Esta nova forma de entender aquilo que é uma cidade tem vindo a conquistar espaço e a captar o interesse de investidores de inúmeros países nos últimos anos, por trazer uma nova abordagem que, tendo por base a tecnologia e a conectividade absoluta e permanente, serve os propósitos de eficiência energética e emissões zero, respeito pelo meio ambiente, e coloca o indivíduo como foco de todo o design arquitectónico.

A esse nível, as cidades inteligentes integram, geralmente, toda uma panóplia de serviços à população, segurança pública, sustentabilidade, transporte e soluções integradas de governação, educação, planeamento e transparência.

Exemplos recentes de projectos deste género não faltam e, no final de 2021, o governante do Reino da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, anunciou a sua visão para a The Line, ou “A Linha”, uma cidade linear com mais de 170 quilómetros de arranha-céus que abrigará milhões de pessoas em dois edifícios que funcionarão em paralelo e terão 487 metros

de altura num projecto avaliado em meio bilião de dólares que deve estar terminado até 2030.

Claro que falamos de projectos absolutamente futuristas que, à primeira vista, estarão muito longe do presente moçambicano, mas, em Dezembro passado, o primeiro projecto de cidade inteligente no País foi anunciado. Está projectado para o distrito de Marracuene, onde a empresa Uxene S.A., liderada por Henrique Bettencourt (que se apresenta como desenvolvedor de negócios sénior, licenciado em agro-negócios e mestrado em Finanças na Universidade Golden Gate, nos EUA) pretende erguer a Uxene Smart City, num espaço de 565 hectares. Trata-se de uma cidade inteligente cujo investimento total é de 3,5 mil milhões de dólares, que contribuirão para a criação de 6500 empregos directos e 30 mil indirectos. A primeira fase de implementação está orçada em 600 milhões de dólares durante cinco anos.

“Este não é apenas mais um projecto imobiliário, mas a construção de um novo pólo económico e de uma nova cidade inteligente, um lugar ecológico, sendo o primeiro projecto de desenvolvimento urbano deste género em Moçambique”, explica Henrique Bettencourt à E&M. E prosseguiu: “será um modelo de desenvolvimento urbano para mais tarde ser replicado noutras regiões. Estamos a trazer um conceito de desenvolvimento urbano sustentável, integrado e inclusivo. A ideia é que a Uxene seja um lugar de excelência para viver, conviver, estudar e investir”.

E foi mesmo a pensar no futuro que o Grupo Uxene começou a conceber o plano-director conceptual em finais de 2020. De 2021a2022,foiestabilizandoopensamento de uma cidade integrada e pensada para o futuro. Para tal, representantes do Grupo visitaram algumas cidades de países de quatro continentes – Brasil, Portugal, Dubai, Vietname, Indonésia, África do Sul e Angola –, para tentar entender o que correu mal na implementação do projecto de

construção de uma cidade. “Com isto, trouxemos um pensamento estratégico no desenvolvimento diferenciado e bem estruturado. Além disto, contamos com empresas de renome, com experiência comprovada no desenvolvimento de projectos desta natureza. Temos seis países envolvidos no projecto, e empresas que vêm da África do Sul, Quénia, Moçambique, Canadá, França e China”, esclarece o CEO da Uxene.

O projecto, programado para albergar 100 mil habitantes e que será construído pela China Jiangxi International Economic and Technical Cooperation (CJIC), terá um período de implementação de 15 anos dividido em três fases, sendo que a primeira arranca já a 29 de Maio de 2023 com o lançamento da primeira pedra. Nas fases subsequentes, será incluída a construção das vias de acesso, depois energia e água, o hospital, o centro oncológico, um shopping center, um parque logístico, um terminal da metrobus e um parque residencial com 3200 apartamentos. Prevê-se que “10% do projecto seja habitacional, e o restante infra-estruturas de suporte, porque queremos criar a massa crítica de serviços que vai dar vida à cidade. Vamos arrancar com apartamentos na primeira fase. Nas fases seguintes, complementaremos com o resto – a parte habitacional mista, a parte do lago e o parque ecológico.”

“Queremos introduzir tecnologias ‘smart enviroment’, que significam um ambiente inteligente, mobilidade ‘smart’, tudo o que são tecnologias que melhorem ou reduzam as emisões de carbono, razão pela qual prevemos a introdução de autocarros dentro da cidade com conversão para o sistema eléctrico, para termos menos poluição”, assinala.

“Pretende-se ainda digitalizar toda a cidade, para torná-la conectada, e com isto melhorar a eficiência na recolha do lixo, no tratamento dos resíduos sólidos e na captação e tratamento das águas pluviais para irrigar as áreas verdes”, conclui.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 64 CIDADES INTELIGENTES B EMPRESA Uxene SA PROJECTO Smart City PROPRIETÁRIO Henrique Bettencourt CRIAÇÃO 2020
UXENE SMART CITY
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Estudantes da Escola Superior de Desenvolvimento Rural (ESUDER), unidade orgânica da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) localizada em Vilankulo, província de Inhambane, criaram um protótipo de máquina controladora de temperatura e humidade na actividade agrícola.

O sistema começa no computador, num programa denominado hardline, que serve para escrever os códigos.

A informação é transportada para uma placa que, em conexão com sensores, revela a temperatura que se faz sentir no ambiente em causa.

Os estudantes explicam que o protótipo funciona também com recurso à energia eólica, o que minimiza custos quanto à sua implementação, e irá também ajudar a maior parte do público-alvo, tendo em conta que se destina às zonas rurais onde ainda há falta de corrente eléctrica.

O sistema poderá fazer face sobretudo ao desafio que a maioria dos agricultores do distrito de Vilankulo tem vindo a sofrer com a perda de insumos causada pela temperatura e humidade altas.

O mesmo sistema funciona também na avicultura, ajudando a estipular a temperatura ideal para cada um e denunciando qualquer alteração do termómetro.

Digitalização

O Banco Mundial vai desembolsar 200 milhões de dólares para apoiar o País no processo de digitalização, no âmbito do projecto “Aceleração Digital de Moçambique”, lançado a 12 de Dezembro de 2022, na Cidade de Maputo, com a parceria dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação e Desenvolvimento Humano e da Secretaria de Estado do Ensino Técnico Profissional.

A iniciativa prevê que, nos próximos seis anos, pelo menos 50% da população tenha acesso à Internet em todo o território nacional, e que a cobertura seja alarga-

Competição

da às zonas rurais para mais de dois milhões de pessoas que não têm acesso ao sinal de telefonia móvel.

Actualmente, no País, apenas sete milhões de pessoas têm acesso à Internet, dos cerca de 30 milhões de habitantes que compõem a população total moçambicana. E, nas zonas rurais, um terço da população vive em locais onde não há sequer sinal nem habilidades para o uso da rede.

O Ministério dos Transportes e Comunicações pretende, assim, através deste projecto, reverter este cenário e desenvolver o sistema das telecomunicações no País.

Startup senegalesa Kwely ganha o MEST Africa Challenge 2022

A startup senegalesa Kwely foi a vencedora do MEST Africa Challenge 2022 e assegurou 50 mil dólares em financiamento de capital próprio.

Trata-se de uma startup que procura redefinir o posicionamento e a imagem dos produtos fabricados em África, aumentar a sua competitividade nos mercados internacionais e fazer com que compradores e consumidores globais descubram a extensa gama de ingredientes naturais e saudáveis que o continente tem para oferecer.

Também desbloqueia o acesso aos mercados globais e fornece soluções de embalagens para criar condições equitativas para os pequenos produtores que se aventuram no comércio internacional. A plataforma foi construída com tecnolo-

gia de ponta, com características únicas, que reflectem a forma como as empresas e os fornecedores transaccionam uns com os outros, tendo em conta os prazos de entrega, as quantidades mínimas de encomendas, as ordens de compra e os pedidos de cotação, e permite maior facilidade e rapidez aos compradores para fazerem encomendas e receberem as suas mercadorias onde quer que se encontrem.

O MEST, fundado no Gana em 2008 pelo empresário Jorn Lyseggen, é um programa pan-africano de formação em software e empreendedorismo e incubador de empresas, que ajuda a lançar as startups tecnológicas em todo o continente. Até à data, já formou milhares de empresários e investiu em mais de 80 startups.

O Governo vê a transferência de tecnologias e a investigação agrária como prioridades para Moçambique acelerar o processo de transformação do sector da agricultura, para evitar que o País dependa totalmente da importação de tecnologias

e criar, assim, as suas próprias. “A transferência de tecnologias é uma das sete componentes estruturais de apoio à agricultura familiar do Programa Sustenta, que tem como um dos principais objectivos integrar o produtor familiar na cadeia de valor”, disse o vice-ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Olegário Banze.

O governante falava na abertura do seminário sobre Revisão Periódica de Tecnologia (REPETE), que juntou investigadores, extensionistas e produtores, com o objectivo de reflectir sobre os pacotes tecnológicos no processo produtivo.

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Agro-negócio Governo confia na transferência de tecnologias para acelerar transformação da agricultura
Banco Mundial anuncia 200 M$ para apoiar processo de digitalização no País
PANORAMA
Agritech Estudantes criam máquina controladora de temperatura para a agricultura

“A Nossa Aposta no Mercado é de Longo Prazo”

Por ocasião da época festiva, nada melhor do que uma análise às indústrias de bebidas alcoólicas e promoção de convívios. Até porque se assiste a um crescimento da classe média que abre boas perspectivas para os negócios destas áreas, conforme refere Francisco Júnior, country manager da Pernod Ricard Moçambique, líder mundial das espirituosas e vinhos

APernod Ricard é uma multinacional francesa que existe desde 1975, resultante da fusão das duas maiores empresas de bebidas da França – a Pernod e a Ricard. A marca tem crescido e é hoje a maior empresa de bebidas espirituosas e vinhos do mundo, em termos de valor.

Está em Moçambique desde 2015, país que acredita ser estratégico para o futuro e, por isso, abriu aqui uma filial para contribuir para o seu crescimento do mercado.

A Pernod Ricard entrou para o mercado moçambicano e ficou conhecida como o “criador de convívios”. Fale-nos um pouco sobre os factores que ditaram a entrada da empresa em Moçambique.

Com certeza que foi o potencial de Moçambique. Mesmo antes de termos uma visão mais clara sobre a exploração do gás, já era bastante positiva.

Podemos pensar, inclusive, sob o ponto de vista do potencial logístico, olhando para a extensão da costa, para o facto de termos uma população jovem e com tendência de crescimento, uma classe média em ascensão alavancada pelo crescimento da economia e dos mega-projectos. Todos estes factores se tornaram, naturalmente, numa localização a apostar e foi uma aposta com uma perspectiva de médio e longo prazo.

Logo após a entrada no mercado, a empresa ter-se-á deparado, com certeza, com cenários desfavoráveis ao investimento a todos os níveis (covid-19, insurgência no Norte, ciclones, etc.). Não terá havido um repensar, se valeria, de facto, a pena?

Todos os investidores desejam ter um retorno no menor intervalo de tempo possível. Infelizmente, na altura em que nós entrámos em Moçambique, poucos meses depois o País entrou numa recessão económica que mudou o paradigma do mercado e da economia nacional, com a inflação a disparar e um retrocesso do crescimento económico que nos obrigaram a rever a nossa ambição inicial e a trabalhá-la para a adaptar à nova realidade.

Isso trouxe desafios no sentido de revermos os timings que tínhamos para esperar o retorno. Obrigou-nos a inovar nas propostas que tínhamos para oferecer aos nossos consumidores, no modelo com que trabalhávamos no mercado com os clientes e parceiros e no dimensionamento do nível de investimento que tínhamos no período inicial.

Tal trouxe resultados positivos e as adversidades não nos fizeram pensar que fosse um retrocesso estar cá. Pelo contrário. Olhámos como um novo desafio e com uma perspectiva de que conseguiríamos sobreviver. Significa que o mercado tem potencial para mais.

“Com o crescimento da economia aumenta a classe média, que é o motor para as empresas que trabalham com produtos específicos. Premium ou luxuosos, como é o nosso caso...”

Quais são os exemplos de inovação que a Pernod Ricard fez para garantir a permanência no mercado?

Como negócio, tivemos de olhar para as valências do País e para os nossos consumidores como os principais assets que temos. Ou seja, desde as marcas que tínhamos, o tamanho, os sabores dos produtos, todos foram feitos a pensar no consumidor, o que nos permitiu trazer um grande diferencial.

Adicionalmente às propostas para o consumidor, que é o principal motor do nosso negócio, olhámos para a forma de chegar a ele, à capacidade de distribuição, ao relacionamento com os distribuidores. A estes, tivemos de os capacitar a olharem para a informação que vem do mercado, informatizá-la e saber o que fazer com ela (número de vendas, clientes, etc.) e transformá-la em acções concretas que nos permitam identificar oportunidades no mercado e criar um plano para aproveitar essas oportunidades.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 68 CEO TALKS | PERNOD RICARD
Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva & D.R

BPERFIL

Francisco Adelino Tomás Júnior é um profissional que estudou no Brasil e se formou na Universidade Politécnica.

Tem quase 13 anos de experiência profissional, oito deles em marketing e vendas. Em Julho de 2020, foi nomeado country manager da Pernod Ricard Moçambique.

Francisco Junior tem também experiência em vendas e marketing fruto da experiência na indústria FMCG, adquirida em empresas como a British American Tobacco, Cervejas de Moçambique e Pernod Ricard Moçambique. O seu início de carreira começou em marketing sendo responsável pela gestão de insights para decisões estratégicas.

Mais tarde decidiu passar para gestão de marcas na British American Tobacco e, posteriormente, na Cervejas Moçambique, onde trabalhou durante quase cinco anos, tendo sido responsável por várias marcas e pelo desenvolvimento de novos produtos.

Esteve também envolvido em diferentes projectos como a optimização de distribuição, rota para o mercado, entre outros, quando foi gerente de trade marketing e, depois, gerente comercial da Pernod Ricard Moçambique.

Como é que vocês geralmente actuam, desde a distribuição até chegar ao público-alvo?

Para criar os momentos de convívio há um trabalho que precisa de ser feito por trás. O primeiro passo é criar uma estrutura robusta que permita chegar ao consumidor, ou seja, garantir que este tenha o produto acessível, ao preço correcto. Para isso, criámos uma rede em que trabalhámos directamente com distribuidores, armazenistas e retalhistas para que tenham sempre disponibilidade dos nossos produtos, e criámos experiências para os nossos consumidores perceberem que o motivo pelo qual compram os nossos produtos é o diferencial dos mesmos e por que são os mais consumidos a nível mundial.

Quais são os produtos em causa e o peso que têm ao nível nacional e mesmo mundial?

Ao nível mundial, somos a primeira empresa que lidera em termos de valor,

somos a única empresa que detém todas as categorias das espirituosas e vinhos, o que nos permite oferecer uma grande variedade para os nossos consumidores para todos os momentos de convívio.

E preservamos a herança das nossas marcas, cada uma continua a ser produzida no local onde foi desenvolvida ou iniciada a sua produção.

Temos o exemplo da Jameson que continua a ser produzida na Irlanda, a Beefeater que é o único gin que continua a ser produzido no centro de Londres. Temos mais de 65 marcas dentro do nosso portefólio.

Em Moçambique, trabalhamos com 48 marcas, mas é um número que com certeza vai aumentar ao longo do tempo porque os consumidores assim o exigem.

Temos em Moçambique pessoas com a cultura de consumo das marcas da Pernod e que possam acom-

panhar e, até, serem determinantes para o seu crescimento?

De uma forma geral, o mercado de bebidas alcoólicas é vasto. Portanto, existem várias opções para cada um.

Trabalhamos com produtos premium, mas acreditamos que sim, existem consumidores. Ainda que falemos das massas, todas as pessoas têm uma ambição e essa ambição faz consumir diversos produtos.

Com o crescimento da economia aumenta a classe média e essa, naturalmente, é o motor para as empresas que trabalham com produtos específicos. Premium ou luxuosos, como é o nosso caso. Então, com o crescimento da classe média no País, este sector cresce.

Como foi operar no período das restrições impostas pela pandemia, quando quase todos os convívios tiveram de ser cortados?

Mais uma vez tivemos de nos reinventar. Isso afectou todas as indústrias e o

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sector das bebidas alcoólicas foi um dos mais prejudicados devido às restrições que incidiam, essencialmente, na limitação da comercialização e do consumo.

Pessoalmente, achei injusto porque se olharmos para a dimensão da indústria de bebidas alcóolicas, os postos de trabalho e a sua contribuição fiscal, veremos que é uma das que mais contribuem para as receitas do Estado e para a empregabilidade, quer no sector formal, quer no informal.

Houve casos em que as empresas do sector declararam perdas de 60% do volume de negócios o que obrigou a medidas drásticas, como os despedimentos.

Nós, ao nível da Pernod, tivemos de adoptar uma postura de austeridade e tentámos, ao máximo, proteger os trabalhos que estavam em curso. Vimo-nos numa situação em que não havia escolha senão congelar todos os projectos de expansão.

Mas, felizmente, não despedimos nenhum colaborador nem restringimos os trabalhos que estavam em execução porque essa foi a prioridade do Grupo ao nível mundial.

Mas prevalecem outros desafios, como o da obrigatoriedade de selagem das bebidas…

Sim, esse desafio já existia antes mesmo da pandemia. Arrisco-me a dizer que fomos os primeiros do ramo das espirituosas a se registarem durante o processo da selagem porque acreditávamos que iria nivelar o mercado e ser justo para todos.

Na verdade, continuamos com desafios na vertente de selagem. São desafios básicos que têm que ver com a fiscalização e a garantia de que todos os players no universo das bebidas alcoólicas continuem a jogar pelas mesmas regras.

Continuamos com o desafio de identificar bebidas sem selo no mercado, e outros que duvidamos que paguem os devidos impostos, o que coloca desafios adicionais para as empresas como a Pernod Ricard, que se baseia na transparência na sua acção de ajudar o mercado a formalizar-se.

Pela área em que a Pernod actua, faz todo o sentido que tenha uma voz activa em campanhas sociais

importantes na sociedade moçambicana como, por exemplo, a consciencialização sobre acidentes rodoviários e consumo responsável de álcool pelos jovens. Isto está a acontecer ou já pensaram em juntar-se a iniciativas do género?

Esse é um dos nossos focos, faz parte dos nossos pilares inseridos no consumo responsável do álcool.

Acreditamos que os convívios devem acontecer, mas o consumo de bebidas alcoólicas deve ser feito de forma moderada e responsável. Como acções especificas desse movimento, temos algumas actividades.

Uma delas é a campanha através das redes sociais relativa aos locais onde a juventude se concentra. Por outro lado, desenvolvemos parcerias com eventos promovendo campanhas como “beba mais água”, feita a nível mundial, porque o consumo de bebidas alcoólicas deve ser acompanhado pela hidratação. Nos nossos eventos oferecemos águas e incentivamos a que as pessoas as consumam.

Com que entidades, públicas ou privadas, estabelecem relações?

São várias, com destaque para a Autoridade Tributária, as Alfândegas, a Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE), o Instituto Nacional do Turismo (INATUR), o Ministério da Saúde (MISAU) e a Polícia da República de Moçambique (PRM) para as campanhas de sensibilização.

Há que ressalvar que já assumimos a presidência da Associação dos Produtores e Importadores de Bebidas Alcoólicas (APIBA) há dois anos, o que permitiu que acelerássemos a assinatura de memorandos e o fortalecimento das relações com essas instituições, e hoje podemos dizer que temos relações cordiais, apesar dos desafios.

Já estão em Moçambique há 15 anos. O que projectam para daqui a 5/10 anos?

A Pernod Ricard veio para ficar em Moçambique e veio para ajudar na transformação e no crescimento. A nossa perspectiva é continuar a acompanhar esse crescimento e contribuir para momentos de convívio de uma forma responsável e com impacto positivo no crescimento e capacitação de jovens, no meio ambiente, com as acções que temos na gestão de resíduos, e nas comunidades onde estamos.

Somos criadores de convívios, mas acreditamos que estes devem ser feitos de forma responsável, com uma boa gestão do álcool.

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É o número de marcas de espirituosas e vinhos distribuídas pela Pernod no País, de um portefólio global de 65 marcas
“Acreditamos que os convívios devem acontecer, mas o consumo de bebidas alcoólicas deve ser feito de forma moderada e responsável, e desenvolvemos acções específicas neste aspecto”

Poupar em Tempos de Festas

Omês de Dezembro pode tornar-se um verdadeiro inimigo das poupanças se não conseguir usar os seus rendimentos com cuidado e ponderação. Desde presentes, alimentação, vestuário, calçado, são promoções infindáveis e tentadoras que, muitas vezes, o podem “desviar” dos seus objectivos de poupança.

Mas nem sempre tem de ser assim. Mesmo em época de festas, há truques que o podem ajudar a poupar. Antes de se aventurar nas compras, reflicta e gaste de forma prudente, colocando as emoções e o consumismo de parte.

Confira as dicas de Nancy Mafundza, directora de Retalho do FNB Moçambique.

Defina o seu orçamento

“Em primeiro lugar, defina quanto pode gastar para as festas que se aproximam”, aconselha Nancy, salientando ainda: “faça as suas contas e veja quanto pode pagar confortavelmente neste período sem ter de recorrer ao crédito ou às suas poupanças. Seja cauteloso e mantenha-se fiel aos seus limites orçamentais, não compre por impulso."

Faça uma lista e mantenha-se fiel ao que definiu

Nunca é demais reforçar este conselho sábio que requer um pouco de disciplina. Ao planear as suas compras nesta altura, liste por prioridades e importância considerando os seguintes pontos: artigos para o lar, mercearias não perecíveis e material escolar para as crianças. Mas lembre-se de respeitar, sempre, o orçamento definido.

Pesquise antes de fazer as suas compras

cer as promoções ou campanhas, que são uma boa oportunidade para poupar.

Investigue sobre as garantias e políticas de devolução

Ao adquirir electrodomésticos ou aparelhos tecnológicos, por exemplo, certifique-se de que compreende os termos e condições das garantias. No caso de aquisição de vestuário ou calçado para oferecer, verifique a política de devolução e limitações de tempo.

Invista em presentes com significado

Os bons presentes são os que tocam o coração de quem os recebe! Deste modo, o valor monetário que gastar não é sinónimo de uma grande prenda. Pense na pessoa a quem vai oferecer e no que ela valoriza ou até precisa.

Presentes DIY (Do-It-Yourself) – Ofereça o seu tempo e talento

Sabe fazer umas bolachas, compotas, artigos de artesanato que todos adoram? Estas são ideias óptimas e económicas para oferecer aos amigos e familiares, além de terem o seu toque especial.

Não se perca nas decorações de Natal Tenha um pensamento ecológico e consciente face aos desperdícios! Aproveite para reciclar decorações de anos anteriores e, com alguma imaginação, dar-lhes uma nova imagem.

Compre com segurança

Assegure-se de que está a fazer compras em segurança e mantenha-se alerta para evitar ser defraudado, tanto em lojas como em compras online. Lembre-se que não deve, em momento algum, partilhar o seu PIN ou os seus dados bancários.

monetário que gastar não é sinónimo de uma grande prenda"

Faça a sua pesquisa sobre quanto custa normalmente o artigo que pretende adquirir antes de o comprar. Para evitar andar de loja em loja, pode recorrer à internet para comparar preços e conhe-

“As promoções de fim de ano podem, na verdade, ser grandes aliadas para adquirir artigos de que precisa e para os quais tem estado a poupar há algum tempo. Contudo, procure certificar-se de que não se arrepende do dinheiro gasto, seguindo as dicas acima”, conclui Nancy Mafundza.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2023 72 OPINIÃO
"Os bons presentes são os que tocam o coração de quem os recebe! Deste modo, o valor
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ócio

Uma aventura memorável pelas cidades da Tailândia

Ao sabor dos pratos típicos de Moçambique, servidos no Wonna Bay

Conheça os benefícios do vinho na saúde e bem-estar

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(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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João Tamura partiu, em Setembro de 2022, numa viagem sem data de regresso ou destino definido. Tem documentado a sua jornada através de crónicas, numa simbiose entre as suas linguagens predilectas - a prosa e a fotografia analógicaque tentam transportar o leitor para os lugares pisados pelo autor.

Ásia

13h até ao Norte

jet lag. O barulho dos carros lá fora; da chuva a cair nos telhados; da voz num quarto distante, ao fundo do corredor. Quatro da manhã e quem me dera adormecer.

Ligo a televisão, onde passam os resumos da mais recente jornada da liga de futebol tailandesa. O Chonburi perdeu, em casa, com o Bangkok United.

O Ratchaburi FC e o Chiang Rai United empataram. O Buriram United, campeão da edição anterior, lidera o campeonato e encontra-se em boa posição para revalidar o título. Cinco da manhã e quem me dera adormecer.

- Não deveríamos colocar a roupa para lavar?

eVestimos as primeiras peças que encontramos e cambaleamos escadas abaixo. Inserimos 40 baht na máquina de lavar e o tambor roda, e roda, e roda.

Depois, 30 baht na máquina

Um mês na Tailândia

de secar e o tambor roda, e roda, e roda. Jet lag e o corpo entre dois lugares. Jet lag e a cabeça roda, e roda, e roda. Seis da manhã e quem nos dera adormecer.

Bangkok: conheço bem este lugar, de passagens anteriores. Desta vez há menos gente nas ruas, menos turistas no metro. Há mais bancas fechadas, mais lojas entaipadas. Bangkok tem cheiro: cheiro a roupa lavada, a erva-príncipe, a galanga cortada.

Cheiro a terra molhada, a sumo de pitaia, a calor que não acaba. Os dias desfilam, fugazes. Escapam-nos por entre os dedos, como areia. As noites, pelo contrário, parecem-nos infinitas: podemos tudo, nelas. Caminhamos sem destino, sob os néons em Sukhumvit ou junto às margens do Chao Phraya; caminhamos so-

bre o asfalto molhado dos becos de Khlong San e por entre os prédios de Khlong Toei, onde as varandas se enchem de parabólicas, de roupa estendida, de plantas e de vasos.

Caminhamos até as pernas nos pesarem em demasia e até o cansaço nos guiar de novo a casa. Adormecemos quando Morfeu assim nos ordena, sobre este colchão velho e gasto, que nos magoa as costas, o pescoço, os ombros.

Bangkok tem cheiro, e eu conheço-o bem. Como tantas outras coisas, este esconder-se-á numa gaveta recôndita da memória e só o reencontrarei quando aqui regressar.

Demoramos 13 horas até Chiang Rai - viajamos de autocarro, para pouparmos dinheiro. Para combater o tédio, e porque estes assentos não permitem o sono, lemos os cabeçalhos dos jornais portugueses: “Inflação a níveis históricos.

Um peso desproporcional para as famílias mais vulneráveis”; “População portuguesa está mais pobre e a ficar para trás”; “Pedidos de ajuda alimentar aumentam em Portugal”.

Estas palavras afundam-se como pedras, peito adentro. Telefono ao meu pai:

- Esquece isso, quando voltarem já as coisas melhoraram. Temos de ser optimistas!

Finjo sê-lo, e passamos a tópicos que nos confortam; os mesmos que, em noites lisboetas, regavam as nossas conversas no Cabeça de Touro ou no Flor do Minho.

Então, tens falado com a mãe? Conseguiste ver o Benfica, ontem? O Schimdt está finalmente a pô-los a jogar à bola ou não? Rimos em uníssono,

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pontapeio as minhas incertezas, mascaro o meu pessimismo, até o Skype nos cortar a chamada. Um abraço, pai.

No Norte, as noites são mais frias – convidam-nos a redescobrir as roupas esquecidas no fundo das nossas malas. Sentados em bancos de plástico, à beira da estrada, devoramos pad thai (1).

As scooters, os carros e os songthaew (2) rasam os nossos corpos, mas os condutores seguem impávidos, com uma confiança inabalável na sua destreza e agilidade.

- Tuk-tuk?

Abanamos a cabeça em negação; sorrimos e sorriem-nos de volta. Decoramos expressões-chave: “sawadee” e “kawp koon” – olá e obrigado; “chai” e “mai” – sim e não; e, claro, “phet mak mak” – pois a Sara gosta de picante com comida, não de comida com picante.

Praticamos o “wai”, o ritual de juntar as mãos à altura do peito, em forma de “obrigado”, “perdão”, “olá” ou “adeus”.

Penso que também o nosso abraço, consoante a sua intensidade e duração, pode ter a forma de “obrigado”, “perdão”, “olá” ou “adeus”.

E quem me dera que, antes de partir, tivesse abraçado os meus pais por mais tempo, com mais força.

(1) - Pad thai é um dos pratos mais populares da gastronomia tailandesa.

É cozinhado numa wok e, apesar das muitíssimas variações e interpretações, é usualmente composto por noodles de arroz reidratados, tofu fatiado, ovo, camarão, amendoim, rebentos de feijão mungo e lima.

(2) - Sowngtaew são táxis partilhados – com ou sem rota definida – adaptados de carrinhas pick-up: a caixa aberta é coberta por um telhado e dois bancos compridos são fixados em cada um dos seus lados.

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“Bangkok: conheço bem este lugar, de passagens anteriores. Desta vez há menos gente nas ruas, menos turistas no metro. Há mais bancas fechadas, mais lojas entaipadas. Bangkok tem cheiro a roupa lavada...”

gO wonna bay vila nasce de um sonho. Um sonho que acompanhou a vida de Rachida Melo desde que era uma criança, na vila de Luabo, na Zambézia. Conta ela que os primeiros anos de vida passou-os junto ao fogão da cozinha onde a mãe preparava a comida, nutrindo a alma e o espírito dos filhos, dando-lhes uma identidade.

Mais tarde, afastou-se da cozinha e do Luabo. Foi para Maputo onde estudou e ficou a trabalhar, até que, finalmente na reforma, deu vida ao seu sonho de criança e, à volta de panelas e especiarias, recuperou o tempo passado. Fê-lo com o marido, na Catembe, e fê-lo no Wonna Bay Vila, onde procura levar os vários sabores de Moçambique para a mesa.

É um restaurante, um hotel, uma sala para congressos

Saborear Moçambique

e tem uma vista fabulosa sobre a baía de Maputo. “Wonna” vem daí, pois wonna é ver em ‘changana’.

E brincando com as palavras, veio o nome Wonna Bay Vila onde se pode comer o melhor caranguejo grelhado com leite de coco do Sul de Moçambique, a mais cremosa mucapata com feijão-soroco, leite de coco e arroz, uma galinha à zambeziana de chorar por mais, um saboroso mucuane, um caril de camarão com quiabos, que até convida a lamber os dedos…

E como não falar da deliciosa mousse de malambe? Ou os pastéis de mandioca com recheio de camarão e queijo, (também na versão vegetaria-

na), os cakes de mandioca, o matoritori e o pão de sura feitos como a tradição zambeziana manda e a mabûratcha, o pão com leite de coco típico da província de Sofala, o muri-muri e o feijão-soroco à moda indiana, que tanta influência teve na culinária costeira de Moçambique.

Especiarias bem doseadas que vêm directamente da horta – gengibre, açafrão-da-Índia, cardamungo, manjericão, hortelã, coentros, alho, cebolinho… – suco de lima perfumado, piri-piri quente na sua frescura… um concentrado de sabores. Vale a pena dizer que o feijão-soroco e o arroz não estão maquilhados para fingir que são a sério: vêm directamente da Zambézia!

Digam lá, ante tal mostra de arte culinária, não estão já com água na boca? Ingredientes fresquíssimos, confeccionados de forma simples, com todo o tempo necessário, em pleno respeito pela tradição para

manter o sabor. Porque na cozinha não há tempo perdido, na cozinha recupera-se o tempo perdido… Dona Rachida faz questão disso e, com um sorriso, diz-nos que só com o tempo necessário e com muito carinho é que se deve cozinhar. Como diz Mia Couto: “cozinhar não é serviço… cozinhar é um modo de amar os outros.”

No Wonna Bay Vila, pode-se almoçar ou jantar na sala ou debaixo do alpendre, mas o verde das árvores convida a saborear a comida no jardim, à sombra das casuarinas, com os pássaros a chilrear, desfrutando do maravilhoso espectáculo da luz da baía de Maputo. Um pequeno espaço com baloiços e outros brinquedos para as crianças e muitas flores ao redor.

Agora é só saborear e olhar para a baía. São servidos?

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Rua A, 150, Catembe Bairro Chali, 4383 Maputo
... Onde se pode comer o melhor caranguejo grelhado com leite de coco do Sul de Moçambique, a mais cremosa mucapata com feijão-soroco

“É verdade que as calorias vêm principalmente do etanol. No entanto, o vinho é uma fonte rica em potássio, além de conter outros minerais, e é uma das principais fontes de polifenóis na dieta mediterrânica...”

Vinho, o ‘Três em um’ da Saúde…

o vinho já é merecedor de alguns adjectivos ao longo do tempo. Alguns homens dedicaram-se não apenas ao consumo, mas também a tecer palavras de apreço à adega. Até mesmo as escrituras sagradas referenciam o poder de conforto proveniente do fruto da videira

“Dai bebida forte aos que perecem, e vinho aos amargurados de espírito; para que bebam e se esqueçam da sua pobreza, e das suas fadigas não se lembrem mais” (Provérbios 31:6-7). Igualmente dizia Walther Flemming, biólogo alemão e Nobel da Medicina, que “a penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes.”

O poder mágico de alegrar que se encontra no fruto da videira já não era segredo há muito tempo. O que talvez não saiba, e vai descobrir neste artigo, é que o líquido da alegria pode ser um bom aliado caso tenha intenção de queimar algumas calorias.

Um estudo da pesquisadora Rosa Lamuela-Raventos, da Universidade de Barcelona, sugere que a ingestão moderada de vinho durante as refeições pode ajudar a impulsionar o metabolismo e facilitar a perda de peso. A teoria baseia-se num artigo de 2015 publicado no British Journal of Nutrition, que mostrou supostos benefícios da dieta mediterrânica para a saúde cardiovascular. A pesquisadora refutou ainda o que acredita ser uma crença equivocada em relação ao vinho: que é um produto de “calorias vazias”, ou seja, que contém pouco ou nenhum valor nutricional.

“É verdade que as calorias vêm principalmente do etanol. No entanto, o vinho é uma fonte rica em potássio, além de conter outros minerais, e é uma das principais fontes de polifenóis na dieta mediterrânica. Uma taça de vinho contém aproximadamente 125 calorias por porção, mas as pessoas não consideram que o vinho possa neutralizar essas calorias queimando-as, devido ao conteúdo polifenólico”, dizia a pesquisadora à revista Wine Spectator.

Um dos mecanismos que ajuda na perda de peso é a termogénese, um processo metabólico pelo qual os humanos queimam calorias para gerar calor. A pesquisadora afirma que isso acontece quando bebemos vinho durante as refeições e sugere que os polifenóis, como o resveratrol, ajudam o corpo a aumentar a quantidade de um tipo de gordura corporal que transforma os alimentos em calor e ajuda os enófilos a queimar mais calorias. Segundo ela, o vinho tinto contém mais polifenóis do que qualquer outra bebida alcoólica.

As descobertas de Rosa Lamuela-Raventos sugerem que quem bebe com moderação beneficia de um índice de massa corporal (IMC) mais baixo e de menor frequência cardíaca. Ela acredita que isso pode ser o resultado dos antioxidantes do vinho tinto, que também têm um efeito pré-biótico, ajudando a saúde gastrointestinal.

Se já bebia por lazer, beba, agora, por saúde e estética.

Lazer, Bem-Estar e Queimar de Calorias!

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A obra foi menção honrosa em 2019, na terceira edição do Prémio Literário Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM/ Eugénio Lisboa).

Dar Voz à Literatura “O amor que há em ti” Para Fazer Falar

os números e as letras sempre disputaram protagonismo na sua vida. Nas matemáticas diárias, procurou dividir o seu tempo multiplicando esforços para fazer igualar o amor e dedicação tanto pela literatura como pelos números.

Nasceu Néusia da Larsane Abílio Pelembe, mas a arte baptizou-a de Larsan Mendes.

Formada em engenharia de petróleo e gás pela Universidade de Mineração de São Petersburgo, na Rússia, Larsan Mendes sempre foi apaixonada pela arte de ler e escrever. Aos 14 anos, ainda no ensino secundário, começou a desenhar os seus primeiros passos na escrita. Desde então não mais parou.

Agora, com 27 anos de idade, num cenário dominado por livros, Larsan Mendes deixou a sua arte falar mais alto.

A Biblioteca do Camões - Centro Cultural Português em Maputo foi o ponto de encontro e local escolhido para dar linguagem a um dos sentimentos mais nobres do ser humano – o amor –, por meio da obra literária intitulada “O amor que há em ti”.

O romance, que lança a escritora no universo das artes, conduz a uma viagem impactante onde a médica Ana Maria e o advogado Mateus Xali-

ca ditam os caminhos do amor em paragens e avanços marcados por mistérios e revelações, que transformam as aproximadamente 350 páginas, distribuídas em 38 capítulos, numa aventura sem igual.

O amor que há em ti é uma celebração do amor. É um romance que explora a importância do amor para nós enquanto seres humanos. É sobre escolhas, dor, perdão, segredos e tudo isso é abordado de uma forma leve e cativante”, esclareceu a autora.

Chancelado pela editora Fundza, O amor que há em ti foi menção honrosa em 2019, na terceira edição do Prémio Literário Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM/ Eugénio Lisboa).

Rico em detalhes sobre os lugares, acções e personagens, o romance também explora traços da moçambicanidade. Quer pelos nomes (Joaquim Mabungo), pelos sons que ecoam no texto, como “cão de raça” de Azagaia, ou ainda pelas experiências que nos são comuns no dia-a-dia como andar de “chapa”, a escritora fala

de amor amando Moçambique, as suas culturas e as suas gentes.

“Acho importante colocar detalhes típicos nacionais para aproximar os leitores moçambicanos da nossa realidade, e aos leitores internacionais para conhecerem a nossa cultura por meio da escrita”, afirmou Larsan Mendes.

Na mesma ocasião, foi lançada pela Fundza a obra da jovem jornalista Clévia Guivala, intitulada A rapariga sem reflexo. A obra, que também marca a estreia da autora na literatura, é uma história motivacional que pretende inspirar sobretudo raparigas a optarem pela razão em detrimento da emoção no processo de tomada de decisões.

O amor que há em ti e A rapariga sem reflexo são livros seleccionados na primeira chamada literária da Editorial Fundza, o que permitiu a ambas as autoras estrearem-se em livro.

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Oamorqueháem ti é um romance de 38 capítulos que explora o amor nas suas diversas formas: amor entre irmãos, entre amigos, entre casais
TEXTO Yana De Almeida FOTOGRAFIA Mariano Silva
LITERATURA

Um Navio ou Uma Cidade Flutuante? Conheça

A EMPRESA MSC CRUZEIROS, sediada na Suíça, apresentou, a 13 de Novembro de 2022, o MSC World Europa, primeiro navio movido a gás natural liquefeito (GNL) da frota e o mais avançado em questões ambientais até ao momento.

O uso do GNL afigura-se como de grande importância na mitigação das mudanças climáticas, pois reduz as emissões de CO2 em 25%, alinhando-se com a visão da Mediterranean Shipping Company (MSC), que tem como meta de longo prazo eliminar a emissão de gases de efeito estufa nas suas operações até 2050, como diz a empresa nas suas plataformas digitais. “Este é um navio de cruzeiro moderno diferente de qual-

o Novo Cruzeiro da MSC Movido a GNL

quer outro, ultrapassando os limites do que é possível no mar.

Ele quebra recordes, estabelece novos padrões e é o nosso navio de cruzeiro mais sustentável e futurista de todos os tempos.

Alimentado por combustível mais limpo e com tecnologia verde integrada em todo o navio, é uma declaração do nosso compromisso com o futuro deste planeta”, refere a MSC.

O super-cruzeiro tem a popa aberta em forma de Y que leva a um passeio de 104 metros de comprimento e oferece incríveis vistas panorâmicas do oceano. Comporta cerca de nove mil pessoas, conta com

O uso do GNL afigura-se como de grande importância na mitigação das mudanças climáticas, pois reduz as emissões de CO2 em 25%, alinhando-se com a visão da Mediterranean Shipping Company

uma velocidade de navegação de 22,7 km/h, um comprimento de 333 metros e 47 metros de largura, 22 andares, capacidade para 215 863 toneladas brutas, 40 000 m2 de áreas comuns e 2626 cabines.

O mais novo integrante da frota da MSC Cruzeiros oferece uma ampla variedade de acomodações e muitas opções de entretenimento para todas as idades.

O navio conta com 13 restaurantes que oferecem um menu focado em ingredientes naturais, e há seis idiomas falados a bordo: português, espanhol, inglês, francês, italiano e alemão. É uma autêntica cidade!

A mais nova embarcação da companhia serviu de hotel flutuante para abrigar as famílias dos jogadores que participaram no campeonato mundial de futebol e que decorreu entre Novembro e Dezembro de 2022 no Catar. Mas agora está disponível para viagens.

MSC
EUROPA
de navegação: 22,7
Comprimento: 333 metros Largura 47 metros 22 andares
WORLD
v Velocidade
km/h

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