13 ANJOS DO VERÃO silvia teske
S
empre amei o Natal. A criança em mim ainda vibra, mesmo agora com meus cabelos embranquecendo. No passado, era o presente embaixo da árvore, que era realmente surpresa, e praticamente o único que eu iria receber no ano, o que me fascinava. Também o fato de que estávamos em férias e depois das festas iríamos para a praia, o mar, a brincadeira na areia, nos pés de café de Itapema. Por isso, quando, a Prefeitura de Brusque contratou a mim, a meu querido Osmar Luis Teske (falecido), ao João Celso Gomes Hyarup e Marta Haydée Ordoñez Hyarup (falecida) para fazer uma decoração de Natal para a principal rua da cidade, eu simplesmente amei!!! Foi no início da década de 90 (1993\94) e estávamos, os dois casais, com uma parceria de trocas de materiais e de técnicas artesanais. Havia uma sintonia e uma força criativa enorme: a proposta foi de preencher a rua principal com anjos gigantes. Resolvemos dividir o processo, pois cada casal tinha sua própria oficina e suas peculiaridades artísticas\artesanais. Enquanto João e Marta ficaram com o corpo dos anjos, eu e Osmar ficamos com as cabeças. E juntos desenhamos e recortamos em madeira trombetas e arpas. Para as asas encontramos bambus e arcamos no formato de asas e forramos com tule colorido. Não lembro ao certo quantos anjos eram, mas acredito que deveriam ser mais de 10. O que mais lembro é que aquele final de ano, e início de verão, nos fez trabalhar praticamente umas 18 horas por dia para dar conta de tudo até a data estipulada. Um dia antes de montarmos os anjos na rua, reunimos todo o material no antigo CEIB da Lala (minha mãe). Foi uma surpresa imensa quando foi constatado que a roupa dos anjos era extremamente pop, com estampas coloridas enquanto as faces eram envelhecidas e douradas, remetendo aos anjos barrocos das igrejas mineiras. Mas aquilo que num primeiro momento assustou, em seguida trouxe a certeza de que eram anjos peculiares, únicos e que representavam nosso trabalho e o poder que a arte proporciona para além do óbvio. Resolvemos colocar tule colorido da mesma cor das asas sobre suas faces para que a diferença não ficasse tão evidente. Assim, na noite seguinte após as 22 horas, começamos a instalação dos anjos. Varamos a noite inteira e quando amanheceu, as primeiras pessoas que chegaram na avenida Cônsul Carlos Renaux foram surpreendidas por uma saraivada de anjos enormes. Uns amaram, outros odiaram, outros ainda hoje não sabem bem o que sentiram, mas foram, todos, sem dúvida impactados. Nossa tarefa foi cumprida, trazer anjos para olhar pela cidade, olhar pelas pessoas… nunca dissemos que eles seriam bonitos, mas com certeza eram cheios de fé.