Sax & Metais #2

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FLAUTA: LÉA FREIRE Como a postura correta ajuda a tocar melhor

RAUL MASCARENHAS

Conversamos com o mestre do sax brasileiro, sucesso absoluto na Europa

GUIA DE COMPRAS Especial traz 23 opções de produtos e acessórios

ANDRÉA ERNEST DIAS Talento e versatilidade

IVAN MEYER

Revelamos quem é o saxofonista mais comentado do Brasil

WALMIR GIL

Supermatéria + estudo com 17 dicas do trompetista

DAVID CABRAL

MELHORE SUA TÉCNICA

4 AULAS

só com feras do sopro!

SAX&METAIS•2006•Nº 2•R$ 8,50

Fala do novo álbum, gravação e tecnologia na música

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EDITORIAL

PARA TODAS AS TRIBOS

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e fizermos uma pesquisa informal nas lojas de instrumentos musicais, veremos que, do sax ao trombone, o sopro no Brasil está em expansão. Tanto no consumo como no ensino e na profissionalização dos músicos de todas as regiões. Para nós, esta é a melhor notícia possível, pois quanto mais cresce o mercado, mais a revista pode participar e ajudar nesse desenvolvimento. Com este pensamento, esta edição de Sax & Metais procurou abordar a maior diversidade possível de estilos musicais. Do jazz ao gospel, quem faz boa música tem espaço em nossas páginas, a exemplo do saxofonista David Cabral. Com apenas 23 anos, é um dos maiores talentos da música instrumental gospel do País. Mudando de seara, conversamos com a renomada flautista carioca Andréa Ernest Dias, que esteve em São Paulo em maio, apresentando-se no SESC. Com o amigo e pianista Tomás Improta, ela lançou seu primeiro disco-solo e falou sobre carreira, técnicas de estudo e a influência da família de músicos em sua trajetória. Virando a página, damos um salto continental e, direto da França, o mestre do saxofone Raul Mascarenhas nos conta sobre o que tem feito na Europa. Não menos conhecido, o multiinstrumentista Ivan Meyer é pauta de uma interessante matéria sobre como a Internet pode ser aliada do músico na divulgação do conhecimento e no fortalecimento da imagem como profissional. Para nos encher de alegria, nossa capa traz um brasileiro reverenciado por onde quer que vá: Walmir Gil, trompetista com mais de 30 anos de carreira, um novo álbum-solo e muito o que nos ensinar sobre técnica e como ser músico no Brasil. Se você quer aprender com quem conhece, essa é uma oportunidade especial. Falando em aprender, os workshops estão incríveis, com assuntos para todos os gostos, bem como o guia de compras, com 23 dicas para você escolher bem seu instrumento. Para completar, a flautista Léa Freire mostra a importância da postura correta ao tocar. Boa leitura e até o mês que vem! Regina Valente 4

Esta revista apóia Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Reportagem Rafaela Bueno Supervisão Técnica Débora de Aquino Revisão Hebe Ester Lucas Gerente Comercial Marina Markoff Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Fotos Daniel Neves, Maria Stela Martins, Marcelo Rossi Colaboradores André Carlini, Bobby Wyatt, Léa Freire, Paulo Oliveira e Reginaldo Gomes Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 Brooklin Novo • CEP: 04569-001 São Paulo / SP / Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais saxemetais@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.saxemetais.com.br e-mail ajuda@saxemetais.com.br

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ÍNDICE MATÉRIAS 18 Raul Mascarenhas: mestre do sax brasileiro fala sobre a vida de músico na Europa 20 Um dos mais comentados músicos do Brasil, Ivan Meyer distribui conhecimento musical e dinamismo na internet

SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 16 Vida de músico Tico D’Godoy

28 Do pop ao gospel, o jovem David Cabral lança CD e quer ir longe

36 Reviews Sugestões de CDs, DVD e Livros

30 A versatilidade e talento do flautista Andréa Ernest Dias

48 Página aberta A flautista Léa Freire revela os macetes para tocar melhor

32 Guia de compras: selecionamos 23 itens, entre instrumentos e acessórios, para ajudá-lo a fazer bons negócios

22 Walmir Gil Um balanço e as novidades da carreira de um dos maiores trompetistas da música brasileira. De quebra, confira 17 dicas de aquecimento do ‘Nego Véio’ para você se preparar com todo cuidado.

WORKSHOPS 38

PAULO OLIVEIRA Exercícios de fraseado e expressão

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DÉBORA DE AQUINO Teoria musical: instrumentos transpositores

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ANDRÉ CARLINI Como improvisar na gaita

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REGINALDO GOMES Explica a música Ceora, de Lee Morgan

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BOBBY WYATT Grade de Voando Baixo: opção de arranjo

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TRANSCRIÇÃO Tarde em Itapuã, de Toquinho e Vinícius de Moraes

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CARTAS A revista Sax & Metais é realmente uma luxuosa publicação, bem diagramada e com variedade de assuntos, para músicos e não-músicos. Apenas gostaria de comentar que, com tantos grandes saxofonistas no Brasil, me incomodou o fato de a revista de abertura trazer na capa um músico estrangeiro. Nós, músicos brasileiros, temos um espaço tão reduzido em todas as mídias, que vocês, já de saída, poderiam dar um No CD Pimenta valor à nossa gente (Delira Música), bronzeada. Aproveito Malta faz um tributo à diva Elis Regina para agradecer à Maria Luiza Kfouri pelas aspas em ‘escultores do vento’, pois o nome é criação minha e dá título ao meu primeiro CD-solo. E que esta publicação abra novos horizontes para todos os que amam a música e os instrumentos de sopro. Carlos Malta - instrumentista, arranjador e compositor Rio de Janeiro/RJ www.carlosmalta.com.br Prezado Carlos, de fato, é muito difícil escolher uma capa, ainda mais em um mercado tão fértil como o brasileiro. Nossa opção pelo instrumentista Ravi Coltrane teve como base o Congresso de Nova York, que reuniu grandes mestres do sopro mundial, incluindo brasileiros, e é um evento importante para a música em todo o planeta. Mas, sem dúvida, nosso objetivo é fortalecer o mercado nacional e fazer da Sax & Metais um canal de troca de informações entre músicos. Portanto, para todos os que quiserem participar, a revista está à disposição para divulgar as atividades, eventos e novidades do setor. Quero parabenizar a equipe da revista Sax & Metais. Até que enfim temos um trabalho de classe e de ponta, com respeito à metaleira! Gostei da publicação como um todo. Espero que continue assim, com essa boa bagagem que publicaram. Vale a pena fazer uma assinatura, espero que em breve esteja disponível. Faço apenas uma observação: nosso conceituado trombonista Bocato foi classificado como trompetista, na página 12. Mas volto a reforçar meus parabéns a todos que colocaram essa maravilhosa idéia nas bancas. Maurício Souza São Paulo, SP

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Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - CEP: 04569-001 - São Paulo / SP - Brasil

Caro Maurício, obrigada pelos elogios e pela torcida. Sobre sua observação, você está certo, pois o Bocato é um dos maiores trombonistas do Brasil e desde já pedimos desculpas pelo equívoco. Adorei a revista, pois, finalmente, os músicos de sopro, como eu, temos à disposição uma publicação que abrange esses instrumentos. Parabéns a todos vocês da editora M&M por essa iniciativa. Estou torcendo muito para que este projeto perdure por todo o sempre. Um abraço! Tom Silva São Paulo, SP Prezado Tom, agradecemos pelos elogios e pela torcida! Nossa idéia é ampliar o canal do mercado de sopro e facilitar o acesso à informação a todos os músicos do Brasil. Por isso, seu contato é fundamental nesta jornada que estamos iniciando. Participe sempre! Gostei muito da qualidade da revista, especialmente da capa. Desejo um grande sucesso e que siga com milhares de edições. Abraços a todos da equipe. Marcelo Monteiro - Projeto Cru www.projetocru.com.br São Paulo, SP Surpreendi-me ao ver a revista. Está linda! Tem tanta gente boa que dava para montar uma orquestra de sopro. Desejo muito sucesso a todos! Mário Valle, gaitista www.sodabilly.com Manaus, AM É raro encontrar uma revista como a Sax & Metais, ninguém mais espera por publicações bem realizadas assim, bem-acabadas, cuidadas, parabéns mesmo! Marcelo Pera - Delira Música www.deliramusica.com.br Rio de Janeiro, RJ Comunidade Sax & Metais no Orkut - participe! www.orkut.com/ Community.aspx? cmm=12315174

Erratase esclarecimentos Em virtudede uma falhana transmissão dos arquivos com o conteúdo da revista para a gráfica,algumas matériasda ediçãonº 1 da Sax & Metaissaíramcom problemas.Desde já, gostaríamosde deixar claro a você, leitor, que temos um rígido processode revisão,que começana redaçãoe passapor profissionaisespecializados.Porém,os erros aconteceram e estamos aqui para nos desculpare apresentaras devidas correções.Também já tomamosas providênciasnecessárias,realizando uma reformulaçãona equipe,para que nosso comprometimento com a qualidade seja ainda maior.

• Na página11, o multiinstrumentista, arranjador e compositor WagnerTiso saiu incorretamente identificadona legendada foto, bem como a BandaMantiqueira, na foto do alto. • Na página12, o trombonistaBocato saiu incorretamenteidentificadocomotrompetista. • Na página13, os CDs do saxofonistaCarlosMaltaforamlançados pela DeliraMúsica. • Na página17, no box,o nomecorreto do flautistaé Ian Anderson(e não Lan),comoestá corretamente escritona legendada foto. • Napágina21, na matéria‘Encontro dosmestres’, nosegundoparágrafo, o músicoOrnetteColemansaiucom o nomegrafadoincorretamente. • Na matéria‘A teoriaprecisada prática’ (página24), o nomeda instrumentistaé Déborade Aquino. • As imagensdos livros da página 28 saíram trocadas. • Na página32, na dica6, ondeestá escrito‘teclar’, o corretoé ‘digitar’. • Na liçãode Ivan Meyer,na página 42, o títulocorretoé ‘Aplicando arpejosdiminutosem acordes dominantes’. • Nos workshopsde MauroSenisee Daniel Garcia, faltou a indicação do instrumento:sax sopranoem Si bemole sax tenor,respectivamente.

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LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

Big Time Orchestra:

SoundScape: tradição do jazz

música, performance e diversão

Os fundadores: Galante, Souza e Bobby Wyatt

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LIVE!

SAX & METAIS: BIG BANDS RESGATAM ÉPOCA DE OURO DO SWING

Big bandsresgatamépocade ourodo swing

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big band de Curitiba (PR), vem se destacando no cenário instrumental brasileiro ao tocar o chamado neoswing ou retro-swing, uma releitura do velho e bom swing das big bands dos áureos anos 1930 e 1940. Desde o final dos anos 1980, surgiram, nos EUA e Europa, várias bandas e orquestras resgatando o swing com novos arranjos. “Pesquisamos muito, ouvimos, tiramos e tocamos centenas de CDs de inúmeras bandas. Em 2001, criamos a Soulution Orchestra, que deu certo, mas sentimos que precisávamos de algo mais, promover mudanças na própria concepção da banda. Então nasceu o projeto Big Time Orchestra, no fim do ano passado”, explica Márcio Rangel, que toca sax tenor, soprano, alto, barítono e clarinete. A banda estendeu seu repertório aos

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hits das décadas de 1950 e 1960. “Misturamos o neo-swing ao rock, blues, soul, R&B, com uma nova roupagem. Queremos divertir o público com músicas envolventes, conhecidas ou não. Aliamos a parte técnica e musical a um visual instigante, que chama a atenção pelo cuidado com a indumentária e as performances”, diz. A Big Time usa e abusa das coreografias, nos moldes das antigas orquestras de swing de Glenn Miller e da Chick Webb Orchestra. Além de Rangel (sax tenor), o naipe da banda é composto por mais seis metais divididos da seguinte forma: Karl Rogers e Oscar Costa (trompetes), Raule Alves e Jiraya (trombones), Everson Martins (sax alto), Jerônimo Bello (sax barítono, flauta e clarinete). O primeiro CD de inéditas da Big Time Orchestra deve sair no primeiro semestre de 2007.

oda segunda-feira, às 22h, a SoundScape Big Band se apresenta no Blen Blen Club, em São Paulo (Rua Inácio Pereira da Rocha, 520, (11) 3815-4999). A banda apresenta um repertório de nove músicas, em 1h15 de show. “O bacana é que vamos revezando os estilos, dentro do que nos propomos a tocar”, destaca Galante. Resgatando o jazz tradicional, a SoundScape conta com a formação-padrão das big bands: cinco saxofonistas, quatro trompetistas (entre eles, Daniel D’Alcântara), quatro trombonistas (incluindo o maestro Toddy Murphy) mais a famosa cozinha – piano, baixo, bateria e guitarra. Aproveitando o sucesso nas noites de segunda, a banda, fundada por Galante, em parceria com o saxofonista Maurício de Souza e o baterista e arranjador norteamericano Bobby Wyatt, programa o lançamento de seu novo CD. Intitulado Uncle Charles, o disco é uma homenagem a um de seus mais célebres integrantes, o saxofonista e flautista Carlos Alberto Alcântara. “Ele é o mais velho do grupo e criou uma geração de músicos. Entre as faixas do disco, com influência de nomes como Wayne Shorter e Duke Ellington, a faixa-título é Goodbye Mingus, ambas com arranjos de Toddy Murphy; Byrdlike, com arranjos de Maurício de Souza e Dolphin Dance, com arranjos de Alexandre Nihanovic.

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Bandas & Fanfarras

Orquestra de metais A banda marcial do São João, uma das mais tradicionais do Rio Grande do Sul, tem como destaque a orquestra de metais, grupo que apresenta clássicos da música popular internacional, formada por naipes de bombardinos tenores, seção de trombones e seção de trompetes, com arranjos para três e quatro partes. No apoio harmônico, o baixo souzafone e o melofone. Completam a formação a bateria e

Quinteto Villa-Lobos: na estrada com novo CD a percussão auxiliar. É composta, no total, por 60 integrantes e o instrumental conta ainda com bombos, taróis, surdos, pratos e liras. O site do grupo é www.bandasaojoao.com.br.

Planeta Bandas reformulado

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riado em outubro de 1998, o site BandCenter passou a se chamar PlanetaBandas (www.planetabandas.com.br). Em sete anos na rede, o endereço já chegou a marca de 3 milhões de visitantes. É um portal dirigido às bandas e fanfarras de todo o País, com cobertura de eventos, interação entre as comunidades, vendas de produtos e troca de informações. Visitantes registrados podem ainda fazer download de partituras.

Músicaparao astronautabrasileiro Considerada uma das melhores corporações musicais do Brasil, a banda marcial do colégio Liceu Noroeste, de Bauru, SP, realizou, em maio, uma apresentação especial para homenagear o astronauta Marcos Pontes, natural da cidade do centro-oeste paulista. Na ocasião, a banda executou pela primeira vez a música Nave Soyuz, no Teatro Municipal de Bauru, composta para Pontes. O grupo é composto por 75 alunos, entre 10 e 20 anos.

Superdicas

6 coisasque vocêdevesabersobreMANUTENÇÃO

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Se seu instrumento quebrou, não se preocupe: pequenos ajustes podem ser feitos em minutos, como reconduzir uma mola de saxofone ao lugar correto. Polimentos e reparos em flautas e saxofones podem levar entre uma e três horas. Ensapatilhamentos completos, incluindo reforma do corpo, podem levar dias. Flautas e oboés, por serem instrumentos agudos, apresentam mecanismos sensíveis e cheios de regulagens. Fatores como afinação, uniformidade do timbre por toda a escala, altura das chaves e vedação total são extremamente importantes nesses instrumentos. Fagotes exigem mais trabalho e atenção na madeira e na vedação: o

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mecanismo é grande, mas os orifícios e as sapatilhas são delicados. Os serviços mais comuns são soldas em instrumentos de metal, reposição de sapatilhas, polimentos e tirar amassados. Ensapatilhamento de clarinetes e saxofones também são corriqueiros. Sempre que o instrumento oferecer condições, prefira a revisão e o ajuste, que têm menor custo e são mais rápidos de executar. Muitos instrumentos podem ser recuperados em sua aparência sem precisar refazer o acabamento original de fábrica. Isso é mais interessante do ponto de vista técnico do que estético. Fonte: Oficina Plander

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tradicional quinteto de sopros carioca está com a agenda cheia desde o recente lançamento do CD Um Sopro Novo, projeto que traz uma série de músicos considerados revelações da música instrumental brasileira, como o Sexteto Tim Riscala para piano e sopros. “É um apanhado de obras que foram tocadas nas Bienais de Música Contemporânea Brasileira”, conta Aloysio Fagerlande, fagotista do quinteto, que traz ainda Antônio Carrasqueira (flauta), Paulo Sérgio (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Luis Carlos Justi (oboé). Ele conta que os instrumentos de sopro andam cada vez mais populares. “Flauta e clarinete ainda são mais conhecidos, mas é bom ver esse crescimento dos metais”, comenta o instrumentista. Vale comentar, a título de curiosidade, que o fagote (que oferece uma sonoridade mais grave) e o oboé fazem parte da família de sopros de palhetas duplas, enquanto o sax, por exemplo, é das palhetas simples. O quinteto também esteve a todo vapor em maio, apresentando oito concertos em escolas municipais do Rio de Janeiro, com o apoio da Funarte e da Petrobras. Durante o mês de junho, o Villa-Lobos passará por algumas cidades do interior paulista, como Itapira e Araraquara, e segue para o Rio Grande do Sul, onde se apresentará em Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Para completar, em julho, o quinteto grava participação especial no novo trabalho de Antônio Nóbrega.

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LIVE!

Festival de jazz e blues em Rio das Ostras

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SAX & METAIS: FESTIVAL DE JAZZ E BLUES EM RIO DAS OSTRAS

pontado como um dos melhores festivais do gênero no País, o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival chega à quarta edição, de 14 a 18 de junho. Será uma seleção dos melhores instrumentistas e intérpretes da atualidade, que se apresentarão nos palcos montados na Cidade do Jazz & Blues. A programação de shows traz músicos internacionais como o saxofonista James Carter, o trompetista Wallace Roney, o gaitista Charlie Musselwhite, o grupo T. S.

Monk e grandes nomes do jazz nacional, como a Banda Mantiqueira, o saxofonista Léo Gandelman, e ainda do blues brasileiro, representado por Prado Blues Band e Fernando Noronha & Black Soul. Este ano, a novidade fica por conta da Dixie Square Jazz Band, que percorrerá os principais pontos da cidade fluminense, executando standards do jazz de New Orleans. Outra atração é a Casa do Jazz & Blues, uma exposição de fotos e biografias dos artistas mais importan-

tes do jazz e do blues, com exibição de documentários sobre música. A infra-estrutura do festival contará, além do palco principal, com uma praça de alimentação com restaurantes, um telão que transmitirá os shows ao vivo e um ponto-de-venda de CDs, revistas e camisetas. Serão cinco dias de shows gratuitos, com apresentações às 14 horas (Lagoa de Iriry), 17 horas (Tartaruga) e 20 horas (Costazul). Para mais informações acesse www.riodasostrasjazzeblues.com.

LIVE!

Wallace Roney: Ás do trompete

O gaitista Charles Musselwhite

James Carter: sax em grande estilo

Silvério Pontes e Zé da Velha tocam Pixinguinha

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ssim como Pixinguinha e Benedicto Lacerda formaram, na década de 1940, a maior dupla que o choro já teve, o trompetista Silvério Pontes e o trombonista Zé da Velha dão continuidade ao legado. O novo disco da dupla, Só Pixinguinha (Biscoito Fino) reúne 12 temas de Alfredo da Rocha Vianna Filho, entre clássicos e redescobertas em versões que flertam com o samba, o maxixe e a gafieira, sem abandonar a essência do choro. O lançamento oficial aconteceu em maio, na Modern Sound (Rua Barata Ribeiro, 502D, Copacabana, Rio de Janeiro, (21) 2548-5005), reduto carioca de shows de grandes instrumentistas. Entre os destaques, na abertura do CD o maxixe Já te digo, além de clássicos como Carinhoso (aqui sem a letra de João de Barro), Chorei, Ingênuo, Desprezado, Ainda me Recordo, Diplomata e Trombone Atrevido, entre outros. O disco, que contou com alguns arranjos de Henrique Cazes, tem um time de músicos de respeito: Humberto Araújo (sax tenor), Alessandro Cardozo (cavaquinho) Cristóvão Bastos (piano), Joel Nascimento (bandolim), Paulo Sérgio Santos (clarinete) e Maionese (flautim), entre outros.

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Conversa de Músico

O polivalente Manito

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om o retornodo grupoUltrajea Rigorao topo das paradasem 2005 com suas novas versõesacústicas,abriu-seuma oportunidadee tanto para um outro músico– já tarimbadoe conhecidopelas participaçõesnos gruposOs Incríveis,Camisade Vênuse acompanhando a cantoraRita Lee (entreoutrosde um currículoimenso)– voltaraos holofotes.Nascidona Espanha,aos 8 anos o multiinstrumentista Manitoveio parao Brasile fez seu nomena músicanacional.Aproveitouo convitedo vocalistae guitarristado Ultraje,RogerMoreira,para mostrarque está em ótimaformae que os arranjos de sopro dão um tempero especial ao rock. Sax & Metais - O que você estava fazendo antes de gravar o Acústico com o Ultraje a Rigor? Manito - Estava meio free lancer, fazendo turnê na Espanha e gravando com outros artistas, quando surgiu o convite do Roger. Adorei, gosto muito de trabalhar com o público jovem, tem a ver comigo, até porque essa coisa de Jovem Guarda me marcou muito. Eu ia apenas gravar o DVD e o especial, a princípio. Mas acabei acompanhando a banda nas turnês pelo Brasil e voltei à atividade com o grande público, o que tem sido muito gratificante. S&M - Foi difícil introduzir arranjos de sopro em clássicos do rock dos anos 1980? Manito - Tive de estudar as músicas, em algumas realmente não cabia o sopro. Mas há exemplos de um encaixe perfeito, como em Ciúme. Coloquei sax barítono para reforçar o contrabaixo e deixar o som forte. Na parte lenta, fiz com bongô, para parecer um bolero latino. Outra música que deu certo foi Nós vamos invadir sua praia. Ali foi introduzida uma grande orquestra, e o barítono ofereceu

um som diferente. Fui definindo entre sax e flauta no decorrer dos ensaios. Levei vários instrumentos para o estúdio e, junto com a banda, pensávamos nos melhores encaixes de som. muito bem idealizada a proposta do acústico, onde colocar vocais e cada instrumento. Entrei com o sopro para dar um tempero final, e foi muito bom, porque se enquadrou superbem com equipamentos modernos. O sotaque do sax nas músicas deu um ar de orquestra, e as pessoas têm gostado.

S&M - Como era o clima nas gravações? Manito - Era ótimo, porque eu já conhecia o Roger, toquei muito sax com ele na Fabulosa Orquestra de Rock, além do Ricardinho (violão). O próprio Roger tinha

S&M - Quais são suas dicas para quem está começando? Manito - Em primeiro lugar, é preciso ser muito dedicado, estudar harmonia, escala e notas longas, e perceber a música cada vez mais. Depois, ter postura na hora de soprar é algo muito significativo para obter uma boa sonoridade. Se o músico toca torto, o ar sai errado e interfere na afinação. É interessante também aprender um outro instrumento de harmonia, como violão ou teclado, para ajudar nas partes técnica e teórica.

Yamahahomenageia seusmúsicos

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o fim de abril, a Yamaha Musical do Brasil promoveu uma grande festa no Tom Jazz, em São Paulo, para homenagear seus músicos patrocinados. Todos os artistas que fazem parte do casting da Yamaha foram premiados e alguns receberam homenagens especiais, caso de Frejat, Zeca Baleiro e Zélia Duncan, que não pôde comparecer por questões de agenda. Os instrumentistas também foram agraciados com prêmios, com destaque para o saxofonista Hugo Hori, do Funk

Como le Gusta, que foi um show à parte e muito aplaudido pelo público. “É muito bacana participar desse tipo de festa e ver a preocupação da empresa com seus artistas”, comentou Hori quando recebeu o prêmio. O instrumentista utiliza saxofones Yamaha barítono, tenor, alto e soprano, além de flauta em Sol, Dó e piccolo. Também marcaram presença o saxofonista Derico, com seu bom humor típico animando a platéia, e o consagrado trompetista Walmir Gil, um dos melhores músicos brasileiros da atualidade. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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LIVE!

Qualfoi seu primeiroinstrumento? Músicos em ação

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SAX& METAIS:QUALFOI SEU PRIMEIROINSTRUMENTO?

• A OrquestraSinfônicaJovemTom Jobim completa5 anos e seu regente,o maestro e saxofonistaRobertoSion, passouos últimosmesescoordenandoas gravaçõesdo primeiroCD da orquestra. O lançamentoestá previstopara o segundosemestree, no repertório,estarão cançõesde Tom Jobim,Edu Lobo,Francis Hymee DorivalCaymmi.

TenorMichael By IvanMeyer

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“O primeiro sax que adquiri foi um Tenor Michael customizado pelo mestre Ivan Meyer, comprei há um ano. Escolhi esse modelo pelo diferencial da customização e também pela condição de pagamento. Além disso, não tinha possibilidade de comprar um sax top de linha, inclusive pelo pouco conhecimento que possuía.” Danilo Araújo Diniz, estudante de música de Monte Castelo, MG

Weril Spectra A971

“Comprei esse sax em 2001 e, apesar de já ter saído de linha, é um modelo adequado para o público iniciante. Possui ótimo timbre, mas a afinação não é muito precisa. Outro incômodo é em relação à altura do apoio do polegar da mão direita: apesar de regulável, ficaria melhor se a curvatura do apoio estivesse mais abaixo, o que não acontece com as regulagens originais proporcionadas. O acabamento laqueado em 24 K é muito bom. O posicionamento das chaves está bem equilibrado, oferecendo comodidade e agilidade ao instrumentista.” Rogério Gomes da Silva, músico e professor de Araçatuba, SP

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FlautadoceRMV

“Meu primeiro instrumento foi uma flauta doce RMV, eu tinha uns 10 anos. Graças a ela comecei a estudar música e guardo-a até hoje. Uso de vez em quando para brincar e compor algo.” Márcio Rangel, saxofonista de Curitiba, PR

Eu recomendo...

Gaita Lee Oskar

“Gosto desse modelo pela ótima durabilidade. Algumas de minhas gaitas têm mais de 5 anos e precisei, no máximo, fazer um pequeno ajuste na afinação devido ao desgaste natural do metal. O timbre dela me agrada bastante, principalmente nos tons mais agudos, de Dó a Fá, vibrante e com resposta rápida e precisa nos bends. Nos tons graves, de Sol a Si, o som é um pouco abafado, sem brilho. Uma dica para as Lee Oskar é não forçar demais nos bends, principalmente do orifício 3, que soa um som esguio, ardido. O preço, no Brasil, é alto em relação aos concorrentes, mas vale pelo custo-benefício.” Alex Dupas usa há 8 anos gaitas Tombo modelo Lee Oskar afinação maior

• O saxofonistaPaulo Oliveira, que toca com o Zarabatana,deve finalizar a produçãode seu primeiroCD-solo,em fase de masterização,até o fim de junho. O disco vai enfatizara utilizaçãodo sintetizadorde sopro (wind-synth), recurso que Oliveira estuda e usa desde 1989. • O flautistae saxofonistaZé Carlos Bigorna, do Gente Fina e Outras Coisas, está a pleno vapor, apresentando um show com o tradicionalrepertório que vai do jazz à bossa. • O trombonistaPauloWilliamstocou com MarvioCiribellidurante o Montreux Jazz Festival,na Suíça.A apresentaçãofoi registradano novodiscodo pianista e compositor,Ao Vivo com Aditivo. A festade lançamento,no Rio de Janeiro, em maio,contoucom as participaçõesespeciaisdo saxofonistaTino Jr. e do trompetista Silvério Pontes. • O flautistaDavidGancmergulhouno universode Tom Jobime preparourefinadosarranjosparao QuartetoGuerra-Peixe. O resultadoé o CDDavid Ganc e Quarteto Guerra-Peixe Interpretam Tom Jobim, que vemsendodivulgadoem turnêpeloPaís. • Bocato, um dos maiorestrombonistas do País, está na estrada,com a agenda cheia. Em maio, passoupelo interiorde SP e deve viajarpelo Brasilmostrandoo novotrabalho,em parceriacom a flautista Léa Freire.

trumpetstuff.com O site (em inglês) traz a biografia dos principais trompetistas internacionais.

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NA ESTRADA

Vida de músico

TICO D’GODOY F

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VIDA DE MÚSICO • TICO D’GODOY EM NOVA FASE COM QUASÍMODO

ilho do pianista Amilton Godoy, do ZimboTrio, o saxofonistanão planejava enveredarpara a músicaprofissional. “Fiz faculdadede artes plásticascom habilitaçãoem cênicaspelaBelasArtes,mas a músicaacaboutomandocontada minha vida”, diz o músico, que toca no grupo Quasímodo.Conheçamais sobre este talentoso instrumentista,que está em turnê divulgandoo novo trabalhocom o grupo que ajudou a fundar há 13 anos.

LIVE!

O início: Aos 18 anos, em 1991, começou a ter aulas com Vadim Arsky, então diretor da Universidade de Música de Brasília. “Tinha uma identificação com o som do sax e, logo que comecei meus estudos, encomendei um sax Yamaha 23, importado, ótimo.” Carreira: “Os diretores sabiam da minha veia musical e me colocavam para tocar nas peças, fazendo a trilha sonora”, relembra. Tem diversas participações no teatro, como no musical Noturno (da Oficina dos Menestréis, companhia teatral de Oswaldo Montenegro). “O teatro me deu mais segurança na performance no palco e mais possibilidades de interpretação, o que me deixou mais à vontade para tocar.” Em 1993, montou a banda Quasímodo com o amigo Júnior, vocalista. “A idéia sempre foi fazer um som anos 70, mas sem pretensão de nos tornar virtuoses, e montar uma banda performática mesmo”, diz Tico, que é professor de sax no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical). Estilo preferido: “Sou eclético, gosto de todas as manifestações musicais, do samba à música clássica. Cada uma tem a ver com um estado de espírito. Componho baladas românticas, samba, forró. Gosto também de jazz, funk e R&B”. Influências musicais: O pai, Amilton Go-

SETUP DE TICO D’GODOY • Sax alto Selmer Super Action 2 • Sax tenorCon • Sax sopranoYanagisawa • Flauta Yamaha • Boquilhas Otto Link (metal), Ivan Meyer (massa) • Palhetas Vandoren nº 3

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Tico: sax dançante, resgatando o ritmo dos anos 70

Em nova fase com Quasímodo doy, é pianista e integrante do Zimbo Trio. “Ele sempre tocou muita música e diversificada: desde MPB até clássicas, me acostumei com a variedade.” Fez aulas de sax com Vinícius Dorin, participou de workshops com Nelson Bergamini, Phill Wilson, Michael Brecker, Cristiane Neves e Mestre Dinho, Nelson Ayres e James Carter. Novidades: O Quasímodo lançou, recentemente, um DVD com uma coletânea dos melhores momentos de seus 13 anos de estrada. São fotos tiradas pelos integrantes da banda, clipes, tudo amarrado ao show de 10 anos de carreira no

Tom Brasil, em 2002. Entre outros projetos, Tico planeja regravar composições de Frank Zappa, David Brubeck e Egberto Gismonti, com uma nova leitura. “São artistas de épocas diferentes, mas falam a mesma língua em termos de música.” Conselho para os novatos: “O bom instrumentista é aquele que sabe ouvir e, acima de tudo, divide seu conhecimento com o grupo e toca com o coração. Críticas são bem-vindas, mas na hora certa, não no meio de um show, por exemplo. E devem ser feitas sempre com respeito pelo trabalho do colega”.

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CINCO MINUTOS COM

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CINCO MINUTOS COM:

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RAUL MASCARENHAS

RAUL MASCARENHAS

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Grande mestre do sax brasileiro

Raul Mascarenhas Filho de músicos, o saxofonista e flautista Raul Mascarenhas começou tocando em bailes e na noite, em 1971, fazendo parte do grupo de Johnny Alf. Passou os dois anos seguintes em Nova York, se aperfeiçoando e, desde então, é reverenciado como um dos maiores nomes do sopro brasileiro no exterior.

E

m sua temporada nos Estados Unidos, Mascarenhas estudou com músicos do nível de Michael Brecker, Bob Mover e Danny Dank, entre outros. Morou na França, trabalhou com o sexteto Pau Brasil em Paris, liderou um grupo de música brasileira na Alemanha (Ipanema Quintet) e já tocou com Gal Gosta, Caetano Veloso, Maria Bethania, Moraes Moreira e Fafá de Belém. Listar tudo o que este exímio saxofonista já fez em seus mais de 30 anos de carreira levaria um bom tempo (e tomaria boa parte de nossas páginas). Mas o mais interessante é que, mesmo carregando uma bagagem tão sólida e tendo atuado ao lado de grandes nomes da música no mundo, Mascarenhas não se porta como uma estrela inacessível. Pelo contrário. Vivendo na França desde 1998 – toca atualmente com o grupo Terra Brasilis –, ele topou de imediato dar esta entrevista e, sempre simpático, conversou com a reportagem de Sax & Metais. Sax & Metais - Como foi sua formação musical? Você foi muito influenciado pela família? Raul Mascarenhas - O fato de ter pai pianista e mãe can-

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tora fez com que, desde bem pequeno, meu universo fosse concentrado na música. Eu ia aos programas da Rádio Nacional aos sábados e domingos de manhã com minha mãe, ficava junto da orquestra, conversava com músicos, enfim... Viver nesse ambiente realmente me incentivou. Meu pai, um excelente pianista, sempre exigiu bastante de mim em relação à melodia, à harmonia e à postura, entre outras coisas. Acho que uns 75% dos standards de jazz e MPB que conheço aprendi com meu querido pai. S&M - Por que você foi para a Europa no começo da década de 1970? RM - Segui os passos de meu pai, que sempre viajou pelo mundo afora tocando. Nós, músicos, somos privilegiados nesse sentido. Nossa linguagem é universal, nos permite exercer a profissão em qualquer lugar! S&M - Como você vê a formação do músico brasileiro hoje? RM - O que posso dizer é que o ensino musical progrediu, tem mais facilidades, internet, etc. É preciso apenas ter cuidado para não relaxar com tanto progresso! O músico

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CINCO MINUTOS COM

RAUL MASCARENHAS

precisa ralar, no bom sentido. O empenho é o mais importante. Isso significa também estudar. Nos últimos tempos, contamos com muitos softwares que facilitam a vida e têm mais é que ser utilizados. Mas não podemos deixar de lado o estudo à moda antiga, como transcrever um improviso que você goste de ouvido, sem auxílio da tecnologia. Eu sou mais acústico, na verdade, mas no meu computador tenho programas como Encore e Sound Forge, que resolvem meus problemas por enquanto.

FIM

RM - Para mim, não há nada melhor do que um Shure SM 58 para shows, tanto para flauta como para saxofone. Sei que muita gente pode não concordar, mas gravação, estúdio, é outra coisa. Os engenheiros de som conhecem bem o assunto, sou um pouco leigo nisso. Deixo na mão dos profissionais do ramo.

S&M - Você utiliza algum tipo de efeito ou amplificação? RM - A amplificação para um saxofone é necessária sobretudo em grandes palcos, mas deve reproduzir o som puro do instrumento. É como se você estivesse com uma boa palheta, tocando de frente para uma parede e recebesse aquele retorno maravilhoso. É difícil conseguir isso às vezes. Até porque adoro tocar em pequenas formações, sem microfone.

S&M - Você vê diferença no tratamento dado à classe artística na França e no Brasil? RM - Sim. A grande diferença está no estatuto ‘intermitent de spectacles’, uma espécie de fundo de garantia, que permite ao músico, no caso de desemprego ou pouco trabalho, ter uma ‘allocation’, ou seja, uma pequena remuneração como uma ajuda de custo. Mas não pense que é fácil fazer jus a essa remuneração. Seria fácil demais, mas ela existe, e só aqui na França! Desse mesmo estatuto fazem parte atores, técnicos de luz, som, enfim, toda profissão ligada ao show como espetáculo.

S&M - Qual o critério para selecionar o melhor equipamento para shows e gravações?

S&M - Há algum requisito para receber essa remuneração?

SETUP DE RAUL MASCARENHAS • Sax tenorSelmerMarkVI - “Nãoconsigo nem pensarem outrosax tenor.Comprei em Nova York, em 1971, de segunda mão,por 175 dólares.” • Sax tenor Gold Plated e barítono Spectra, da Weril • Sax alto Spectra, da Weril • Boquilhas: * “Uso uma Otto Link Super Tone Master 10, dos anos 1960, conhecida como Florida,porquena época a fábricaera em Pompano Beach, na Flórida.” * No sax soprano,boquilhaBARI 68 com palheta La Voz Med. Hard * No alto, boquilha Berg Larsen de massa 105/2/M(correspondea 9) e palhetas Medium * No barítono,boquilhaWilliamBucaya de massa,muito rara, número9, e palheta Medium.“WilliamBucayafoi um grande saxofonistafrancês que trabalhouem inúmerasbig bandse, em Paris, foi sidemande Charlie Parker! Ele fabricou algumasboquilhasde barítono, uma produção pequena.” • Palheta- “Usode váriasmarcas,número3.”

Há oito anos morando na França, Mascarenhasé reverenciado no Brasil e na Europa e lançou, recentemente, um álbumem homenagem ao colegaJoãoBosco (vejamaisna seçãoReview)

RM - Sim, você precisa conseguir 517 horas de trabalho declaradas em dez meses e meio. Trabalho declarado é aquele em que o empregador contribui com encargos sociais, ou seja, o que eles chamam de ‘securité social’, ‘congés spectacles’, entre outros fatores, que oneram o empregador em mais ou menos 60%. Se você ganha um cachê de 100 euros declarados, quem paga está desembolsando 160, para se ter uma idéia. S&M - Para finalizar, quem você considera referência musical atualmente? RM - Muitos valores novos têm aparecido, músicos excelentes que só vêm somar, pois os de outrora terão sempre o seu lugar. Em termos de saxofone, muitos dizem, com certa razão, que o (Michael) Brecker é o (John) Coltrane de hoje. Ele é a maior influência para os saxofonistas atuais – foi influenciado por Coltrane, que sempre será o grande mentor do nosso instrumento. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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Ivan Meyer FÁBRICA DE IDÉIAS

IVAN MEYER

IVAN MEYER

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Fábrica de idéias

O instrumentista e empresário é um dos músicos mais comentados do segmento no Brasil. Muito atuante na internet, ele distribui pela rede seu amplo conhecimento e ganha um número cada vez maior de admiradores.

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mpliar o acesso à informação musical é o grande objetivo do multiinstrumentista e empresário Ivan Meyer. Dono de um currículo extenso, tem curso técnico em flauta, pelo Conservatório Estadual de Música de Pouso Alegre, MG, em 1983. Também cursou violoncelo nos três anos seguintes, mas decidiu ir para a Europa em 1986 (França, Espanha e Portugal), onde estudou e trabalhou por cinco anos. Na Europa, estudou jazz com Antonio Molto (sax) e Javier Castaneda (improvisação), na Espanha; e com Santi (harmonia), nas Ilhas Canárias. Também trabalhou com várias bandas de jazz e rock e orquestras de baile nesses países e foi professor no tradicional conservatório paulistano Souza Lima. Em 2001, iniciou uma inteligente estratégia de popularização do sax, ao lançar as boquilhas de metal que levam seu nome e uma série de videoaulas, desenvolvidas por ele mesmo. Entre outros destaques, foi o primeiro endorsee da Júpiter no Brasil. Atualmente, cursa bacharelado em oboé com Carlos Justis, no Rio de Janeiro. S&M - Como professor e autor de métodos de ensino, como você avalia o ensino de música no Brasil?

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IM - É muito triste dizer isso, mas o que falta é o próprio ensino regular de música. Já não é fácil encontrar escolas que tenham aula de música e, ainda assim, na maioria das vezes, as crianças ficam olhando aquelas bolinhas penduradas num varal de cinco cordas, acompanhadas de nomes esquisitos, como fusa, semifusa, bequadro, bemol, semibreve, etc., sem saber, na prática, o que são. Música não é só teoria. Música é cantar ou tocar um instrumento. A teoria serve apenas para auxiliar e aperfeiçoar o desenvolvimento dessa atividade. Devolvam a música para as escolas e terão pessoas, cidadãos melhores. Tenho certeza, porque música é celebração, música é compartilhar, música é sentimento... Veja nossa comunidade do Explicasax e compare com tantas outras. S&M - Os preços dos instrumentos não fazem os potenciais alunos ou bandas recuarem? IM - Até com flautinhas de R$ 1,99 e instrumentos de percussão feitos do que chamam nas escolas de ‘sucata’, dá para fazer e ensinar música. Temos de dividir todo o nosso conhecimento, cada um à sua maneira. É claro que há um enorme potencial a ser explorado! O povo brasileiro é carac-

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CINCO MINUTOS COM

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FIM

terizado por essa maravilhosa miscigenação de culturas e de raças. Imagine a capacidade criativa que tem o nosso povo! Felizmente, temos excelentes conservatórios musicais, mas não espalhados pelo Brasil, como deveria ser. Aqui se formam músicos, mas não se dá a eles a opção de trabalhar, ou seja, não se criam campos de trabalho. A música deveria ser ensinada em todas as escolas do Brasil, aumentando a oferta de empregos aos nossos músicos e novas bandas surgiriam. S&M - Seus produtos são bastante respeitados em todo o País. Como são produzidos para obter esse resultado? IM - A resposta é muito simples. É de saxofonista para saxofonista, ou seja, as boquilhas são feitas por alguém que entende o que eles querem, que tem experiência nisso. São fabricadas sob medida, de acordo com uma série de perguntas, cujas respostas me permitem traçar o perfil da boquilha juntamente com meus clientes. Depois, faço a boquilha ter a sonoridade desejada. Sei o que o músico quer tendo a minha experiência como saxofonista para ser o piloto de provas, pois tenho a vivência necessária para saber o que está acontecendo com a boquilha a ser submetida a diversas situações sonoras em que é exigida, levando em consideração o gosto pessoal do cliente. Por isso, cada boquilha que fabrico é única. Meus produtos são produzidos de forma artesanal, um a um, em minha oficina em Pouso Alegre (MG). Não tenho linha de montagem nem representantes. S&M - Com tudo isso que já conseguiu, como empresário e músico, ainda há o que conquistar? IM - Sim, certamente há muito a fazer e a conquistar! Ninguém pode se dar por satis-

SETUPDEIVANMEYER • Boquilhas: fabricação própria • Saxofones Yamaha • 2 oboésMarigaux

FORÇA NA INTERNET Um dos destaquesna carreirado multiins- • Em conjunto com o fórum e o site, o trumentistaIvan Meyer (toca sax, oboé, músicogerenciaum portalde vendade flauta e cello) é que ele soube construir instrumentos,a loja Soprasax (www. uma imagemforte e participativano mersoprasax.com.br), em que disponibiliza cado,graçasa açõessignificativasutilizantoda a sua linha de produtos. do a Internet como maior aliada: • É o músicomaisatuanteda Internet:possui váriascomunidadesno Orkute estásempre • O fórumdo Explicasax(www.explicasax. presente,enviandomensagense responcom.br)– com 10 mil instrumentistascadendo a dúvidas dos estudantes em geral. dastrados– é o únicoque sorteia,todo • Na escolaon-linegratuita,os alunosenconmês, um sax e uma boquilhade metal tram salas para desenvolvera leitura,imaos seus usuários.Já são mais de 480 provisação,repertórioe técnica,entre oumilhõesde acessosem cincoanose uma tros tópicos,utilizandoferramentascriadas médiade 1.500 visitas/dia. pelaequipede webmastersde IvanMeyer.

feito, se não, morrem seus sonhos. Tenho vários projetos para os próximos 40 anos! Um deles já aconteceu, que foi a criação da Escola On-line gratuita e que está ajudando muitos saxofonistas. Quero agora montar um selo especializado em sax para lançar novos talentos no mercado, pois o Brasil é um celeiro de bons saxofonistas que não encontram apoio para seus projetos.

S&M - Qual será a participação do portal nesse projeto? • Violoncello,sax sintetizado,clarinete, IM - O Explicasax vai apadrinhar esses saxoflautas,tecladosdiversos:“Tenhomuitos fonistas produzindo seus trabalhos em nosso equipamentosno meu estúdiode gravaestúdio e dando ao saxofonista uma matriz. ção e umabandade baile,commesasde Assim, ele poderá ter algo para mostrar, pois potências, caixas, microfones, etc”. a maior dificuldade dos saxofonistas é a • Efeitos:“Uso o reverbe, algumasvezes, produção do trabalho, depois a divulgação. chorus,digitalpitch Shifere oitavadores. Nossa comunidade no fórum é muito eclétiUma pedaleirade guitarrafuncionabem ca nos gostos musicais e haja sax neste Brasil no sax, basta saber escolhero efeito de querendo gravar seu trabalho! Com esse projeto, encontrarão, no Explicasax, um apoio acordo com o estilo.”

para a sua carreira-solo, ajudando desde a produção até a divulgação. S&M - Como são feitas as videoaulas? IM - O processo não tem mistério, nem roteiro, na verdade, pois meus anos de magistério e a experiência em ministrar workshops e palestras me transformam num orador nato (risos). Eu só escolho o assunto, alguém aperta o botão de gravar e a videoaula acontece. Para isso, montei um estúdio, assim eu mesmo edito minhas videoaulas, já que a primeira fiz em um estúdio alugado e senti falta de ter recursos didáticos. A partir do volume 4, passei a fazer tudo e pude, por exemplo, filmar em uma fazenda e mostrar como funciona o diafragma, tendo como coadjuvante uma vaca (risos), bem como ao ensinar a propagação da onda, ter um coro de seriemas a disputar terreiro comigo! O segredo é que eu falo do jeito que os alunos entendem e uso recursos para isso. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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Walmir Gil O trompete versátil do ‘Nego Véio’

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Por Regina Valente CAPA

Walmir Gil é um dos trompetistas mais requisitados atualmente e já gravou com cantores como Caetano Veloso, Gal Gosta e músicos como o pianista César Camargo Mariano

Com o amigo Nailor Azevedo, o Proveta, fundou a elogiadíssima banda Mantiqueira. Tocou por muitos anos com o cantor Djavan e já esteve ao lado de grandes nomes da música brasileira. Recentemente, lançou seu primeiro CD-solo. “Foi por acaso”, brinca ele. Dono de uma trajetória sólida, Walmir Gil é um dos

Foto: Maria Stela Martins

mais renomados instrumentistas brasileiros.

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WALMIR GIL

O t r o m p e t e v e r s á t i l d o ‘ N e g o V é i o’

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TESTE CAPA CAPA ESTÚDIO

O TROMPETEVERSÁTIL DO ‘NEGO VÉIO’

TECNOLOGI A REVIEW LIVE!

música sempre esteve presente na vida do trompetista. Ele conviveu com estímulos musicais muito fortes, já que o avô, Sebastião Gil, era regente de bandas civis e militares e regia um grupo chamado Lira Musical Pedro Salgado. “Eu o acompanhei desde os 5 anos. Como sempre lidou com a música, mesmo depois de se aposentar da carreira militar, passou a dar aula de música em casa”, conta o trompetista. Ainda criança, ele sabia que a música estava no seu caminho. Algum tempo depois, aos 6 anos, Gil desafiou o avô: “Eu sei fazer esta lição”, apontando para a trompa. “Ele falou para eu ir brincar com outras crianças, mas insisti, até ele deixar. Fui bem claro com ele: ‘Se eu não conseguir ler a partitura, nunca mais falo disso’”, conta o músico. Instigado pela curiosidade, o avô deixou. E qual não foi a surpresa quando Gil dedilhou bem o instrumento. “Aprendi de tanto ouvir e prestar atenção durante as aulas de leitura e teoria musical lá em casa”, justifica. Já aos 13 anos, integrou a Banda Mirim de Rudge Ramos, no ABC paulista. Mudou-se para Santos e, depois, para São Paulo, quando passou a ser requisitado para integrar grupos com profissionais tarimbados, como o Maestro Branco, que animava as noitadas do saudoso Ópera Cabaré. Quando fez parte da banda do 150 Night Club do hotel Maksoud Plaza, na capital paulista, pôde acompanhar nomes respeitáveis da música como Benny Carter, Anita O’Day, Paquito D’Rivera, entre outros. Para completar o currículo, dos músicos brasileiros, tocou com César Camargo Ma-

riano, Fafá de Belém, Caetano Veloso, Djavan (a quem acompanhou em turnês), Gal Costa, Cauby Peixoto e Rosa Passos, uma lista enorme que comprova que Gil nasceu mesmo para o trompete. A história de Gil com esse instrumento tem fortes influências familiares, já que ele vem de um clã musical, com parentes que até se tornaram virtuosos, segundo ele, mas não dedicaram suas carreiras integralmente à música. Seguindo a linhagem do DNA musical, dos seis filhos de Gil – também conhecido como Nego Véio –, um deles, o primogênito William Gil ‘Zulu’, está terminando seu primeiro CD, em que o pai participa; outro, Rafael, estudou guitarra, mas agora se dedica à faculdade de engenharia da computação. “Acaba sobrando pouco tempo para a música”, diz o pai Gil, que nunca forçou os filhos a seguirem a mesma carreira. “Só exijo que eles estudem, porque em qualquer área é preciso. Sempre os deixei livres, como meu pai e meu avô fizeram.”

SETUP DE WALMIR GIL Instrumentos • Trompete Yamaha Xeno (foto acima) • Flugelhorn Yamaha 0635H - modelo Bobby Shew Efeitos:“Nãouso, prefiroo som acústico. Na gravação,o tecladista Dino Vicente, com quem toquei,utilizoudelay, chorus e harmonize”.

Paulista e tentou vaga de mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), em meados dos anos 1980. O diretor da escola chegou a elogiar o desempenho do trompetista na prova, e o nível de familiaridade com o instrumento. “Havia alguns cursos na época, mas curiosamente, nenhum de música popular brasileira, o que eu gostaria de fazer”, diz o músico. “Tentei na USP e, quando o diretor me perguntou sobre qual tema eu gostaria de defender tese, respondi: ‘O trompete na música popular brasileira’. Ele logo negou. Acabei não fazendo, mas Músico com diploma Depois de muito tempo de estrada, Gil hoje existem universidades com a cadeira resolveu estudar música de forma acadêmi- música popular brasileira”, lembra Gil, ca. Apesar de tanta experiência, sentia falta que sempre teve uma forte veia de prode um conhecimento teórico, até para se fessor: ministra freqüentemente oficinas preparar para passar adiante sua técnica aos de música em festivais e escolas. “Com a mais jovens. Formou-se pelo Mozarteum Internet, há escolas fazendo intercâmbio com grandes faculdades e a turma jovem BANDA MANTIQUEIRA: REFERÊNCIA NACIONAL aprende muito mais rápido, porque tem mais conhecimento à disposição.” Mas ele Certamente,um dos fatos que impulsionou duas músicasautorais,dos compositorese avisa: “É só na prática que vamos pegando a carreirade Gil, especialmenteem expo- arranjadoresda banda,Provetae Edson,e os macetes, conhecendo a rotina”. sição na mídia, foi a formaçãoda Banda as outrasfaixas são interpretaçõesde ouComparado à Europa e aos Estados UniMantiqueira,em 1991. Ao lado do cole- tros artistas.Esta é, na verdade,uma filodos, o Brasil está engatinhando, mas Gil é ga clarinetista,saxofonista,arranjadore sofia dos integrantesem relaçãoàs gravaotimista. “No meu tempo, não havia escolas compositor Nailor Azevedo, o Proveta, ções da Mantiqueira.“Lançaruma música como se tem hoje, com salas de concerto, de iniciaramum trabalhoousadoe difícilpara nova é uma ação de risco, pois você está canto, de prática. Lá fora, isso é comum. Reo cenário musical brasileiro:uma banda colocandono mercadoalgo que ninguém centemente, estive nos EUA para fazer um só com versõesinstrumentaisde músicasjá conhece,nuncaouviu.Por outrolado,para curso com William Adam, um grande tromconhecidas.A bandaganhouo respeitodo a bandacrescer,essas regravaçõesforam petista norte-americano. O próprio Adam públicoe da crítica,e foi até indicadaao importantes,mostrandoa nossaleituradas me indicou a universidade de Indiana para Grammyem 1998,pelo CD Aldeia. músicas.Gostamosde tocar Pixinguinha, praticar. Fiquei realmente bem impressionaDosdiscosda banda(Aldeia, de 1996, Tom Jobim,DorivalCaymmi,João Bosco, do com a estrutura: cada uma das 400 salas Bixiga, de 2000, ambos lançados pelo são artistasque admiramos.É bacanater tinha um piano, isolamento acústico, e toselo Pau Brasil, além de dois CDs grava- versõesinstrumentaiscomouma big band. das funcionavam 24 horas. Lá eles levam isso dos com a OrquestraSinfônicado Estado Acabase tornando,de certomodo,umaremuito a sério. E olha que essa escola existe há de São Paulo,com quemse apresentaram ferênciae valorizao trabalhodos músicos, mais de 50 anos”, comenta Gil. inúmerasvezes,Gil contaque cadaum tem

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como também do artista e compositor.”

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WALMIR GI WALMIR GIL L O TROMPETEVERSÁTIL DO ‘NEGO VÉIO’

Gil e seu trompete: disciplina diária de estudos e exercícios para evoluir técnica e musicalmente. No destaque, a capa do CDPassaporte, primeiroálbum-solodo músico,muitobemrecebidopelacrítica

O passaporte que veio por acaso C

om mais de três décadas de estrada, Gil só foi produzir seu primeiro CD-solo no fim do ano passado, chamado Passaporte (Tratore Discos). Curiosamente, o trabalho foi lançado antes em Londres e só recentemente chegou ao Brasil. “Mas esse CD não foi planejado”, declara Gil, quando perguntado sobre o processo de produção do álbum, em parceria com o baterista, percussionista e produtor inglês Chris Wells, um grande admirador da música brasileira. Sax & Metais - Como tudo aconteceu? Walmir Gil - Nós nos conhecemos em 2002, durante uma turnê minha na Inglaterra. Ele disse que um dia gostaria de trabalhar comigo. Deixei meus contatos com ele, mas foi só. Em 2003, ele veio para o Brasil e me ligou, disse que ia gravar um disco-solo, me convidou para participar. Mas acabou não dando certo. Um tempo depois, estava com a banda Mantiqueira em uma turnê e viajei para Londres, quando retomamos o contato. No ano seguinte, ele veio para o Brasil e me chamou para fazer dois solos no disco que estava produzindo. Ele pediu para gravar mais músicas

e acabamos formando uma banda internacional, a Azul, com um organista americano, Charlie Wood, que mora em Memphis; eu, no trompete, o Chris na bateria, e um guitarrista da Bahia, Webster Santos, que não está mais na banda e hoje mora em São Paulo. Um ano depois, o Chris voltou ao Brasil e me chamou para um outro projeto, um CD com solos de trompete e flugelhorn e aí nasceu o Passaporte. S&M - Como é o estilo do CD? WG - Como o próprio nome diz, traz músicas que lembram viagens, saídas e passagens. Costumo chamar de uma trilha sonora para uma viagem imaginária, em que se exploram diversos tipos de sonoridades, do trompete e do flugelhorn, por meio de estilos musicais de jazz, R&B e MPB. Posso dizer que é um álbum de smooth jazz. Foi gravado em apenas dois dias, em setembro de 2004, com um complemento de duas semanas em que o Chris, que tem uma produtora independente – a Moophonix, em Londres –, trabalhou adicionando arranjos de bateria, percussão e a mixagem.

PREPARO FÍSICO PARA O TROMPETE Tecnicamente,o trompeteé um dos líderes em dificuldadeentre os instrumentosde sopro.O fato de ter começadocom a trompa, quando criança,ajudou Gil a se adaptar melhorà embocadurado trompete.“É um instrumento que exige uma manutenção bastanterigorosade limpeza,ser guardado corretamenteno estojoe, principalmente, a manutençãofísicado próprioinstrumentista. O trompeteé muitodifícilde soprar,necessita muitaresistência.Se vocêfizerumamaratonade instrumentistas de sopro,certamente os trompetistasserãoos primeirosa pararde tocar.Depoisviriamos quetocamtrombone, tuba,clarinetee, por fim,o sax.Issosignifica que,paraagüentartocardas8 da manhãàs 8 da noite é preciso manter a boa forma.” Gil corre todos os dias de sua casa,no centrodeSãoPaulo,atéo ParqueIbirapuera, e lá completaa trajetóriade 12 quilômetros. Nodiada entrevistaparaestamatéria,Gil já havia cumpridosua tarefa.“Saí de casa às 5h30 e corriduranteduashoras”,conta.Só em dias de showou viagens,quandochega cansado,é que ele abreumaexceção. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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TESTE

Walmir Gil

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músico jamais deve ignorar o aquecimento, pois uma performance é também uma atividade atlética que, em alguns trabalhos, pode ser considerada até de médio para alto impacto. Quando tocamos ou cantamos utilizamos centenas de músculos que precisam ser preparados e lembrados em que estarão envolvidos. Como trompetista, sugiro que se comece com um leve alongamento na região do pescoço e ombros, pois na garganta e pescoço temos vários músculos ligados à língua. Podemos seguir com alguns exercícios de respiração, porque a quantidade de ar

CAPA CAPA

utilizada para tocar ou cantar difere da que usamos para falar. No mercado há excelentes livros para a prática de uma boa respiração, como os que acompanham alguns métodos: James Stamp ou 80 exercícios respiratórios de Svásthya Yoga (Ana Maria Marinho - Editora Global/Ground). Passamos a seguir para a parte aural, se o tempo permitir, que envolve exercícios de percepção (identificação de intervalos, acordes, escalas, etc.). Para os trompetistas, há inúmeros e maravilhosos livros com diferentes rotinas, na qual o músico, de acordo com suas necessidades, deve escolher o que melhor funcio-

na ou se adapta ao seu tipo de trabalho. Sugiro também que o músico procure a orientação de um amigo ou professor, para que tenha certeza do caminho a percorrer. Falando da minha rotina: começo com os exercícios de alongamento, depois alguns exercícios de respiração, percepção e, em seguida, toco algumas escalas no bocal ou sopro no lide pipe (depende do dia e do meu tempo disponível), aqueço com notas longas, intervalos, flexibilidade, escalas e, finalmente, corro para a música!

17 SUGESTÕES DE EXERCÍCIOS PARA AQUECER

ESTÚDIO

O TROMPETEVERSÁTIL DO ‘NEGO VÉIO’

FAÇA COMO O MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO AQUECIMENTO

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CINCO MINUTOS COM:

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DAVID CABRAL

DAVID CABRAL

Do pop ao gospel

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CINCO MINUTOS COM

David Cabral Um dos nomes mais conhecidos da música instrumental gospel, o saxofonista de apenas 23 anos vem construindo uma sólida carreira em um segmento que não pára de crescer

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os 11 anos, David Cabral iniciou sua vida musical na igreja Assembléia de Deus, antes de partir para a carreira profissional, quando foi estudar na Universidade Livre de Música (ULM) com Demétrio Santos Lima e Roberto Sion e, em seguida, em Tatuí. Admirador de músicos como Erick Marienthal, Michael Bracker, Joshua Redman, Kenny G, Nelson Rangel e outros, o jovem saxofonista é um dos nomes de maior destaque da música instrumental gospel brasileira, e lançou, recentemente, seu primeiro CD, batizado de My Desire, de forma independente. Além da carreira-solo, Cabral acompanha as bandas The Flavours, Grouveria e já tocou com intérpretes importantes da nova geração da música pop nacional, como Seu Jorge, Cláudio Zoli e Luiza Possi, entre ou-

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O músico com seu sax tenor L.A.

SETUP DE DAVID CABRAL “Uso um sopranocurvo JGM para me diferenciare acabeitirandoum sommaravilhosodele.Percebitambém que,no sax reto,o som se espalhamuitodepressae, conformeo lugarondeeu toco,muitasvezesnão consigome ouvir,entãome identifiqueicom o sopranocurvo. Alémdisso,troqueium saxaltoConpor um altoYamaha62 e já percebialgumasdiferençasna sonoridade: o Con tem um timbreindiscutívelnos gravese médios,enquantoo 62 tem uma afinaçãoimpecável.Toco também com um tenor L.A., que tem ótima mecânica,excelente acabamento,sonoridadee afinaçãomuitoboa.Só é muito pesado,por causado metalde que é fabricado,o que incomoda em um show de mais de duas horas.”

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DO POP AO GOSPEL

DAVID CABRAL

FIM

tros. Curiosamente, antes de enveredar para o saxofone, David Cabral tocou clarinete (seu primeiro instrumento) e bateria. “Hoje também estou aprendendo piano”, conta o instrumentista. Sax & Metais - Qual a influência do maestro Roberto Sion na sua carreira? David Cabral - Ter estudado com o Sion foi uma experiência única, porque estava começando a estudar improvisação e tive este privilégio de iniciar no caminho certo.

Em julho, Cabral grava seu primeiro DVD, que serálançadocomo CD Meu Desejo (My Desire)

S&M - Pode-se dizer que o segredo do bom instrumentista é a técnica? DC - Ela é muito importante, mas nas horas certas. Muitos músicos hoje jogam DO CLARINETE AO SAX, ENCONTROS MARCANTES David Cabral começoua estudar com o clarinetistada OrquestraSinfônicade São Paulo e maestro Elias Evangelista.“Esse períodofoi muito importante,mas eu queria ir mais longe”,conta o músico,que na épocadecidiuprestarconcursona UniversidadeLivrede Música(ULM)parao curso de saxofoneda Jazz Sinfônicado Estado de São Paulo. “Eram 360 inscritos para 11 vagase fui um dos escolhidos”,lembra. Também na ULM estudou improvisação com o maestro Roberto Sion. Em seguida,foi paraTatuí(SP),estudar no ConservatórioDramáticoMusical Dr. Carlos Campos.“Lá as portas se abriram paramim,poisconheciprofessoresque me mostraramo caminhopara ser um verdadeiromúsicoprofissional,comoAlexandre Bauab,professorde harmonia;Paulo Flores, de repertórioe diretor do Conservatório; Paulo Braga,tambémde repertório; Celso Veagnolli,de saxofone; e Carlos Carranca, de percepção”, enumera. No fim de 1999, Cabralcomeçoua lecionarna Escolade MúsicaMusicVille.De 2001a 2003acompanhou a cantoragospel SorayaMoraes,que já ganhouo Grammy Latino e, finalmente,em 2003, gravouseu primeiroDVDao vivo com a cantora,como instrumentista e arranjador dos metais. Entre tantosoutrostrabalhos,também participouda gravaçãodo DVD Renascer Praise XI, no estádiodo Pacaembu,em um showpara 70 mil pessoas.

Cabral com seu sax alto Yamaha62 tanta informação em um único solo que acabam desinformando. Devemos, acima de tudo, tocar com a alma. Se pararmos para pensar, o que nos chamou a atenção um dia quando decidimos tocar um instrumento? Noventa por cento das pessoas vão responder que foi ‘o som’. Portanto, técnica sem história é conversa fiada. S&M - Como define seu estilo? DC - Sou um músico pop, ganhei até apelidos carinhosos como ‘Kenny G brasileiro’ ou David D e por aí vai! Muitos saxofonistas vão ficar meio decepcionados com esta declaração, mas cresci ouvindo Kenny G e, por isso, sempre tive vontade de ter um CD como o dele. Porém, no decorrer do tempo, ouvi outras coisas e quando gravei este CD (My Desire) não ficou igual ao do Kenny G ou ao do Erick Marienthal... Consegui deixá-lo igual a David Cabral, à minha identidade. S&M – Que critério usa para selecionar o melhor equipamento para shows e gravações? DC - Primeiro analiso que tipo de show será realizado, então monto o set de instrumentos apropriado para aquele tipo de evento. Agora, quando falamos em gravação, não há muito que analisar: você tem de ter um instrumento que lhe atenda em todas as suas necessidades, como afinação – o

mais importante; mecânica, para execuções de velocidade e precisão, uma boquilha que projete o seu som da melhor forma e, para finalizar, uma boa palheta. S&M - Como você avalia a tecnologia na música? DC - Acho que tudo o que facilita, não atrapalha! O que não podemos é admitir que um software tenha o mesmo som que um músico ao vivo. Talvez chegue muito perto, mas ficar igual ou melhor, não, nisso eu não acredito. Tenho o meu home estúdio e, quando faço algum playback, uso muito instrumento virtual, mas quando o assunto é gravação, abro a agenda e ligo pra galera vir gravar comigo. Nada substitui o talento humano. S&M - Seu novo CD terá três faixas bônus para o músico tocar junto. Como funciona isso? DC - Quando iniciei os meus estudos, não havia muitos músicos à minha disposição para me acompanhar. A fase de iniciante não é fácil, então pensei nessas faixas como um presente para quem está começando e coloquei as três faixas bônus, de músicas com estilos diferentes. A idéia é que o músico toque me escutando como referência e aplique essas músicas, as melodias, onde estiver tocando, no seu quarto, na igreja ou até em um evento. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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Flauta para admirar

PERFIL FLAUTA

FLAUTA PARA ADMIRAR

ANDRÉA ERNEST DIAS FOTOS: DIVULGAÇÃO

Andréa Ernest Dias mostra por que é uma das grandes flautistas da atual geração e conta como a influência familiar a fortaleceu como instrumentista

F

ilha da consagrada flautista Odette Ernest Dias, irmã do pianista Carlos Ernest Dias, Andréa conviveu com a música – leia-se flauta – desde que nasceu. A mãe, francesa, veio para o Brasil com 22 anos, contratada para trabalhar na Orquestra Sinfônica Brasileira, em 1952. Por aqui ficou, constituiu família e hoje, dos seis filhos, cinco são músicos, incluindo Andréa. “Minha mãe é uma grande solista, trabalhou nas grandes orquestras da rádio Nacional e nas orquestras da TV Globo, nos anos 1950. Tem uma experiência muito diversificada em música e nos passava isso quando éramos crianças. Convivi com música popular, mas também de concerto”, lembra a flautista. Amparada pelo talento genético, Andréa decidiu estudar música de forma acadêmica. Formou-se em Flauta pela Universidade de Brasília (com a mãe como uma das professoras) e fez pós-graduação pela Universidade Federal do Rio de Ja-

INFLUÊNCIAS MUSICAIS • OdetteErnestDias • Chiquinho do Acordeon • Netinhodo Clarinete- “Foi um excelente clarinetistada OrquestraPixinguinha,no Rio de Janeiroe da rádio Nacional.Tinha uma experiência incrível.” • Maciel do Trombone,Franklinda Flauta e MauroSenise,com quema flautista toca no Quinteto Pixinguinha

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neiro, com uma tese sobre a expressão da flauta popular brasileira. Estudou na Europa com grandes músicos, entre eles, Pierre-Yves Artaud, um dos mais influentes flautistas franceses da atualidade. “Ele é um pesquisador e grande incentivador da música contemporânea”, avalia Andréa, que participa de várias orquestras e bandas, como a Ouro Negro, de Moacir Santos, nos moldes das big bands tradicionais. “Também trabalho muito em estúdio, desde os anos 1980, com música instrumental. Toco com o Pife Muderno,

com quem gravei dois CDs, além da Orquestra Pixinguinha, uma orquestra de sopros, que inclusive gravou os arranjos originais dele, e ainda toco na Orquestra Sinfônica”, enumera. Com tanto trabalho, gravar um CD próprio era questão de tempo. “Convidei o Tomás Improta, grande pianista e meu amigo, para fazer um concerto em 2004. Selecionamos o repertório juntos e ficou superbonito. O Tomás é um pianista do jazz com uma cultura erudita muito forte. A mãe dele foi concertista internacio-

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PERFIL ANDRÉA ERNEST DIAS

FIM

nha Vida, original para voz, substituída pela flauta, e piano”, comenta a flautista, que cita ainda So in Love, de Cole Porter, clássico da música americana e Choro Bandido, de Edu Lobo e Chico Buarque. No show do disco, há a apresentação de quatro canções bônus: Coração Vagabundo (Caetano Veloso), Paraíso (de Moacir Santos, gravada no CD Choros e AleSETUP DE ANDRÉA gria, da Banda Ouro Negro, em • Para concertos: Flauta Miyazawa que Andréa participa), Estrada Branca, de Tom Jobim e Horas, • Flauta baixo, Armstrong de Dorival Caymmi. • Flautaem Sol,Gemeimhardt “Escolhemos músicas pou• FlautimKing- “Tinhaum de ébano,mara- co gravadas. Criamos um clima vilhoso,mas sofri um assaltono ano passa- próximo da new age. Pixinguido e levaram embora justamente esse.” nha não poderia ficar de fora.

nal e o pai, Eurico Nogueira França, era um grande crítico de música, escreveu vários livros na área”, explica Andréa. “Como venho nesse caminho de vários músicos diferentes, com estilos diversos, música de concerto, suingada, bossa nova, nos reunimos e encontramos essa síntese das atividades que desenvolvemos

Dois CDs,dois estilos:em Os Bambas da Flauta (Kuarup),Andréafaz participação especiale explorao repertóriode Patápio e Callado.Acima,seuprimeiroCD-solo.

juntos”, diz. O CD, intitulado Andréa Ernest Dias e Tomás Improta - Flauta e Piano, foi gravado em 2004 e lançado pela Biscoito Fino no fim do ano passado. Vale destacar uma participação especial: a masterização foi feita pelo pianista Lelo Nazário. “É um músico sensacional, que lapidou tudo e fez uma moldura, em termos de qualidade sonora, para o disco”, elogia a flautista.

DICAS DA FLAUTISTA

Repertório popular O encontro de dois instrumentistas de percursos tão diversos e abrangentes resultou em um disco de referências plurais e sonoridade singular. Neste novo e inédito trabalho, Andréa e Improta buscaram um repertório diversificado, voltado para o popular: Edu Lobo, Pixinguinha e Moacir Santos fazem parte das faixas. “Incluímos apenas dois clássicos, Après un Revê, de Gabriel Fouré e uma seresta do Villa-Lobos, Saudades de Mi-

Improtae Andréa: parceria para valorizarrepertório bem selecionado

Formação musical no Brasil Para a flautista, é preciso explorar a habilidadenatural do brasileirocom a música. “Temos a característicade nos formar muito na música popular e, ao mesmotempo,trabalharcom o mercado erudito,tambémna chamadamúsica de câmarapopularerudita”,contaela, dando o exemploda OrquestraPopularde Câmara,em São Paulo;da EscolaPortátil de Música,uma escolade chorono Rio e do Conservatóriode Música Popular, em Curitiba,alémda UniRioe da própria UFRJ,ambascariocas,que têm bachare-

ladoem músicapopular,e da Universidade Livre de Música,em São Paulo. A formaçãoacadêmica,na opiniãode Andréa,ajuda tambémna evoluçãotécnica do instrumentista.“O estudo teórico ajudaa conhecere entenderas características de cada estilo.Se você pegarcomo exemploa música Segura ele, um choro rápidodo Pixinguinha,sem uma boa técnica de stacatto e dedilhado,você não conseguetocar.Sem uma boa técnicade emissão,não dá para fazeruma valsado Edu Lobo e por aí vai”, explica.

• O músico deve estar sempre atualizado: desde ir para Caruaruouvir as bandasde pife até ir às salas de concerto,fazersilêncioe ouvir.“O idealé aprendera lidar com as mais diversas manifestações musicais.” • Experimentarrepertóriode músicacontemporânea. • Estudaro clássico:sonatasde Bach,Mozart.“Sãoestilosquenos conduzempor um caminho de profissionalização.” • No quesitomanutenção,Andréapassa apenaspano seco por dentro e fora, para tirar a gordurados dedos. “Se precisarde sapatilhamento,mando o instrumentopara meu luthierno Rio, o Franklin da Flauta.”

Optamos por um andamento de tango, distinto do choro tradicional. A música de Jacob do Bandolim, gravada em um único take, abre o CD, marcado também por muitos momentos de improviso”, destrincha Andréa. Dentre os standards, Coisa Número 9, de Moacir Santos: “Conheci a obra de Moacir a partir do disco Ouro Negro. Nesta faixa, utilizo flautas graves, com um timbre bem característico. Tomás criou um arranjo em 12/8, que Moacir ouviu e aprovou. Há um elemento quase percussivo no arranjo”, avalia Andréa. SAX& METAIS JUNHO / 2006

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Guia de compras

ONDE ENCONTRAR Vejacomoentrarem contatocom as empresascitadasnestamatéria. • Arwel: (11) 3326.3809 www.arwel.com.br / arwel@sili.com.br • CondorMusic: (61) 3629.9400 www.condormusic.com.br • Equipo: (11) 2199.2999 www.equipo.com.br • FreeSax: (11) 4686.2028 www.freesax.com.br / freesax@ig.com.br • Hering Harmônicas : (47) 3338.0299 televendas@heringharmonicas.com.br • Michael: (31) 2102.9270 www.michael.com.br • Musical Express : (11) 3159.3105 www.musical-express.com.br • MusicalIzzo: (11) 3611.2666 www.musicalizzo.com.br • MusicOne: (11) 3739.5044 www.gangmusic.com.br • SolidSound: (41) 3373.2521 www.solidsound.com.br • Yamaha : (11) 3704.1377 www.yamahamusical.com.br • Weril: (11) 4443.1300 www.weril.com.br

Por Regina Valente

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GUIA DE COMPRAS

SAXOFONES E CLARINETES

Saxofones Condor

Novidade da Condor, este sax vem com acabamento laqueado, case e chave de Fá# agudo. Preço médio de R$ 940,00.

Michael Sax soprano com sistemas de regulagem de abertura e microrregulagem das chaves, ressonador metálico nas sapatilhas, dois tudéis removíveis (curvo e reto) e botões em madrepérola. O apoio do polegar é metálico e giratório. Garantia de 6 meses para banho. Acompanha luvas, flanelas e desumidificador. Preços sob consulta. Da Michael.

Conniff Outro modelo é o sax tenor (em SiB), modelo envelhecido, para quem gosta do estilo vintage. O destaque é a campana removível e o porta lira. R$ 2.100,00. Ambos vêm com acabamento laqueado e estojo de fibra. À venda na Music One.

Conniff Da Conniff, saxofone soprano em SiB, com apoio do polegar direito regulável, dois tudéis removíveis (reto e curvo), boquilha completa e chave de Fá# agudo. Preço médio de R$ 1.263,00, na Music One.

Dolphin Importado pela Musical Izzo, o saxofone alto da Dolphin, indicado para estudantes, vem afinado em Mib, com acabamento laqueado e corpo com reforços. Mecânica leve e anatômica. Acompanha estojo Fibra Luxo. Preço médio de R$ 1.400,00.

Clarinetes Michael Feita em ABS, este clarinete tem acabamento fosco com aparência de madeira. Possui juntas de cortiça natural, 17 chaves, sistema Boehm e dois barriletes, que permitem afinação em duas freqüências diferentes. Disponível em três acabamentos: niquelado, prateado e dourado. Da Michael, preço sob consulta.

Yamaha Modelo standard de clarinete soprano afinado em Bb, com 17 chaves (niqueladas) e corpo em resina ABS. Vem com estojo e acessórios. Preço sugerido: R$ 2.420,00. Da Yamaha.

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GUIA DE COMPRAS

FLAUTAS TRANSVERSAIS, TROMPA E TROMPETES

Flauta transversal Yamaha Flauta transversal soprano em C (Dó), com acabamento prateado e G (Sol) fora de linha. Traz ainda chaves fechadas, mecanismo de E (Mi), estojo e acessórios. Modelo standard, da Yamaha, custa, em média, R$ 2.270,00.

Condor Flauta transversal prateada, vem com case para facilitar no transporte. Uma das principais apostas da Condor, alia bom custo com desempenho interessante. Custa, em média, R$ 410,00.

Michael Para os músicos mais avançados, esta flauta transversal traz cinco chaves vazadas (modelo WFLM45) e tampão de silicone, assim as chaves podem ser usadas abertas ou fechadas. Têm acabamento prateado, Mi mecânico e ressonador metálico nas sapatilhas. Preços sob consulta. Da Michael.

Trompae Trompete Yamaha Com afinação em Bb e acabamento laqueado. Fácil de transportar, vem com estojo e acessórios. Da Yamaha, tem preço sugerido de R$ 2.190,00.

Arwel Próprio para músicos de bandas e fanfarras, o trompete M503T Sib, da Dynasty, empresa norte-americana, tem calibre médio de 11,7 mm, campana de 127 mm, pesa 1,8 kg e microtune. Banhado a ouro, é importado pela Arwel e vendido em todo o Brasil. Preço sob consulta.

Weril Stagg Trompa modelo 77-FHB tem campana destacável de 315mm, calibre de 11,5mm e acabamento laqueado. Acompanha case e vem com três rotores. Importada com exclusividade pela Equipo.

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A linha Alpha, da Weril, foi desenvolvida para os novatos no trompete: com afinação em SiB, tem anel regulável na terceira pompa, campana de 124 mm e boa durabilidade, de acordo com o fabricante. Preço sugerido: R$ 890,00.

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GUIA DE COMPRAS

GAITAS E ACESSÓRIOS

Gaita

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Hering Hohner Gaita Marine Band 20 vozes, da Hohner, com afinação em Dó (C) e corpo de madeira. Mede 35 x 120 x 25 mm, importada pela Musical Izzo. Preço aproximado de R$ 80,00.

O tamanho reduzido – 9,5 cm de comprimento e 3 cm de largura da cápsula de voz – ajuda no manuseio. Desenvolvido pela LeSon, a Hering Harmônicas coloca no mercado este microfone que acompanha a curva de freqüência de uma gaita. Preço sugerido: R$ 140,00.

Acessórios Freesax Para realizar a manutenção periódica, uma boa opção é esta escova para manter o instrumento seco por dentro, prolongando a vida útil das sapatilhas. Feita de fibras de polipropileno e algodão, custa, em média R$ 40,00. Disponível em vários modelos, na Free Sax.

Vandoren

SolidSound

Para sax alto, palheta no tamanho 1,5 (há outros números), que proporciona um som puro, graças à sua ponta fina (a área que apresenta maior vibração). Preço médio: R$ 15,00. Da Vandoren, importado pela Musical Izzo.

O SemiCase é feito com uma espuma especial na parte interna e, na externa, em EVA. Ambos atuam como amortecedores de eventuais batidas e quedas. O acabamento interno é em pele sintética. Disponível para sax soprano, alto, tenor e trompete. Para trombone e clarinete há a opção de capas superforradas. Da Solid Sound, à venda nas principais lojas de instrumentos.

La Voz Endossadas por músicos como Mauro Senise e Vitor Alcântara, as palhetas La Voz (importadas pela Musical Express) são fabricadas com cana de nível premium. Recebem corte convencional (arredondado) e oferecem um som escuro e poderoso. À venda nas principais lojas do setor. Preço sob consulta.

Vandoren Para os clarinetistas, palheta com tamanho 1,5, com resposta eficaz em todos os registros. Permite ainda um ataque pianíssimo nas notas mais altas. Preço sugerido de R$ 11,00. Completa o conjunto a boquilha modelo B40 Profile, que custa, em média, R$ 450,00. Da Vandoren, importado pela Musical Izzo.

Rico Feita para suportar mudanças de temperatura e umidade ou para músicos que precisam realizar trocas rápidas entre instrumentos. Bastante resistente e dureavel, a Plasticover, da Rico (importada pela Musical Express), oferece timbre limpo, com grande projeção, ideal para músicos de jazz, pop e estúdio. Para sax e clarinete, ambos nas medidas 1, 1.5, 2 , 2.5, 3, 3.5, 4, 4.5 e 5). SAX & METAIS JUNHO / 2006

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REVIEWSCDs Telescópio

Quarteto Sinequanon Trattore Records

Improvisação coletiva Neste álbum recém-lançado, o saxofonista Vítor Alcântara traz uma sonoridade acústica bem explorada junto com o quarteto Sinequanon (expressão do latim que significa “alternativa única”, neste caso, de expressar a criatividade musical). São muitas improvisações construídas junto dos colegas Carlos Ezequiel (bateria), Lupa Santiago (guitarra) e Guto Brambilla (baixo acústico), com interpretações abertas e composições com influência do jazz norte-americano e europeu, além da música erudita contemporânea e dos movimentos artísticos pós-modernos.

Conversa de Amigos Maurício Einhorn Quarteto Delira Música

Jazz com tempero brazuca O carioca Maurício Einhorn, nascido em 1932, ganhou sua primeira gaita aos 5 anos e, aos 10, já se apresentava em programas de rádio. Filho de gaitistas poloneses, com mais de 60 anos de música, Einhorn interpreta, junto de seus companheiros de quarteto, standards do jazz com pitadas providenciais do suingue brasileiro, com muita técnica e sensibilidade. Daí o nome Conversa de Amigos, retratando um ambiente informal. No repertório, clássicos como Satin Doll, My Foolish Heart, Stardust e Autumm in New York. Além do gaitista, o quarteto é composto por Luiz Alves (baixo), Alberto Chimelli (piano) e João Cortez (bateria).

Revoada

Vinícius Dorin Maritaca Records

Compilação virtuosa Saxofonista, flautista e pianista, Dorin já tocou com Gal Costa, Jane Duboc, integra o grupo do celebrado Hermeto Pascoal e já participou de vários festivais internacionais. O CD Revoada, o primeiro da carreira, traz participações especiais: o próprio

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Pascoal, além de Arismar do Espírito Santo, Írio Xavier, Fernando Corrêa, André Marques, entre outros nomes, reforçam sua condição de instrumentista multitalentoso e virtuose. Dorin fez um ‘bem-bolado’ desses anos todos de carreira e mesclou com alguns toques contemporâneos, criando um repertório emocionante e bastante completo, brilhando no sax, na flauta e no piano.

Projeto Cru Mundo Melhor

Um disco que reúne dois músicos do quilate do trombonista Bocato e da flautista Léa Freire só poderia resultar em uma grande viagem musical. Neste álbum em parceria, a flauta abre espaço para o trombone de forma suave e simples, em canções marcantes do repertório da música popular brasileira: Feito de Oração, de Noel Rosa e Vadico, Pra Dizer Adeus, de Edu Lobo e Torquato Neto, além de outros clássicos como Só por Amor, da dupla Vinicius de Moraes-Baden Powell, Risque, de Ary Barroso e Matriz e Filial, de Lúcio Cardim.

Som autêntico

Caminho

ProjetoCru

O novo trabalho do grupo confirma o conceito experimental, livre, com inspiração na natureza a que o trio se propõe. Formado pelo flautista e saxofonista Marcelo Monteiro, além da percussionista Simone Soul e do arranjador Alfredo Bello, o CD homônimo investiga, em cada acorde, elementos da cultura afro-brasileira e indígena, apresentados em um cenário de tonalidade ritualística. Um conceito diferente para os ouvidos mais tradicionais, porém com uma sonoridade bastante original e diversificada.

CoisaFeita

Raul Mascarenhas e Conexão Rio MPB Universal

De um mestre para outro Em seu mais recente CD, Coisa Feita, gravado em parceria com o Conexão Rio e lançado pela Universal, o mestre do saxofone Raul Mascarenhas faz uma leitura instrumental da obra de João Bosco. A seleção de repertório ficou mais a cargo do Conexão Rio, mas com uma exigência do saxofonista: a música Saída de Emergência. “Escolhi com o João, na casa dele, em uma agradável tarde. João Bosco é um grande músico e uma grande pessoa”, conta Mascarenhas. Este é o terceiro trabalho do instrumentista, que tem no currículo os discos Raul Mascarenhas (WEA Latina, de 1986) e Sabor Carioca (Som Livre, 1992).

Daniel Garcia Delira Música

Estréiacomestilo O primeiro CD do saxofonista, arranjador e compositor Daniel Garcia preenche uma lacuna há muito aguardada por seus amigos e admiradores. Um dos mais articulados improvisadores brasileiros, para este registro significativo Daniel (saxes tenor e soprano) convocou Dario Galante (piano), Augusto Mattoso (baixo) e Rafael Barata (bateria), numa das mais solicitadas seções rítmicas cariocas. O músico valoriza cada solo com precisão técnica, beleza e firmeza do seu timbre, dominando o tempo, o ritmo, a harmonia e a melodia.

Terra Amantiqueira Banda Mantiqueira Maritaca Records

Grandeorquestra popularbrasileira

O CD Terra Amantiqueira, o mais recente trabalho da Banda Mantiqueira, não só foi muito bemaceito pela crítica em geral como revela o talento quase que inesgotável de seus integrantes. Capitaneada pelo saxofonista e clarinetista Nailor Proveta, o trabalho explora a riqueza nordestina, com a interpretação de Luiz Gonzaga, até a música norte-americana e a tradicional música Antologiada MúsicaBrasileira negra, com Sonny Rollins, passando pela delicada e forte obra de Dorival Caymmi, Bocato & Léa Freire Johnny Alf e do próprio Proveta, com arMaritaca Records ranjos perfeitos. Entre outros integrantes não menos importantes estão Vinícius Sinergiaentre Dorin e Walmir Gil (trompete). flautae trombone

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REVIEWS

DVD & LIVROS

O clarinetista PauloMoura,que participado DVD em apresentação marcante

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Nestemês trazemosalgumassugestõesde métodosparadiversosinstrumentosda editora IrmãosVitale,de São Paulo.Informações pelo site www.vitale.com.br ou pelo telefone (11) 5081-9499.

Método completo para saxofone Um Soprode Brasil Mutante Filmes

Encontro dos mestres O projeto inclui um duplo documentário em DVD (Mutante Filmes) e de CD (Núcleo Contemporâneo) com a participação dos maiores ícones do sopro do Brasil: Altamiro Carrilho, Maurício Einhorn, Paulo Moura, Carlos Malta e Antonio Carrasqueira, além do Quinteto Villa - Lobos, SpokFrevo Orquestra, de Recife, Banda Mantiqueira e Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, entre outros. Com patrocínio da Petrobrás e do Grupo Galvani, o projeto teve apoio da Lei de Incentivo da Cultura, do Ministério da Cultura, e do Sesc SP. Um Sopro de Brasil é a sétima etapa do Projeto Memória Brasileira, iniciado no final da década de 80, que vem mapeando a música instrumental no país e seus principais instrumentos e representantes. Com produção de Miriam Taubkin e Morris Piccioto e realizado pela Mutante Filmes, o DVD duplo traz os melhores momentos dos shows e dos bastidores, extras com depoimentos de Moacir Santos, Raul de Barros e Myriam Taubkin, e um vídeo exibido no saguão do teatro nos dias dos espetáculos. Quase todos os arranjos são inéditos, feitos para alguns clássicos da música brasileira e para obras compostas pelos músicos participantes. Destaques, entre outros, para Altamiro Carrilho interpretando Flor Amorosa, Maurício Carrilho tocando Carinhoso, Vittor Santos em arranjo especial para Manhã de Carnaval, e Paulo Moura com a inédita Maré Cheia. Para saber onde encontrar o DVD, escreva para contato@projetomemoriabrasileira.com. br. Preço médio de R$ 140,00.

Amadeu Russo Este é um dos métodos para saxofone mais usados no Brasil e está no mercado há mais de 40 anos. Com didática simples e objetiva, trabalha os elementos teóricos e técnicos, como ligadura, pequenos estudos melódicos, intervalos e exercícios relativos, ornamentos, escala diatônica, expressão, estudos melódicos em todos os tons, além de um quadro da escala cromática de saxofone. R$ 35,00.

Métodoparaclarinete

Domingos Pecci Método para o estudo do clarinete, de autoria de Domingos Pecci, instrumentista, compositor e ‘chorão’ (músico adepto do choro, gênero popular brasileiro). Apresenta exercícios de embocadura, leitura de notas e noções de teoria musical. R$ 29,00.

Métodoilustradoparaflauta

Celso Woltzenlogel Guerra-Peixe Elaborado por Celso Woltzenlogel, renomado flautista e professor titular da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta obra, escrita em quatro idiomas (português, inglês, francês e espanhol), conta com a colaboração do maestro Guerra-Peixe e com o endosso do mestre Rampal. O método inclui peças de importantes compositores como João Baptista Siqueira, Pixinguinha e Alberto Arantes. R$ 85,00. SAX & METAIS MAIO / 2006

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WORKSHOP

Saxofone

FRASEADO E EXPRESSÃO Paulo Oliveira

É

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

PAULO OLIVEIRA - FRASEADO E EXPRESSÃO

muito importante que o saxofonista tenha consciência do fraseado que está executando. Trazemos aqui quatro exemplos para você treinar e melhorar sua técnica. Uma falha muito comum encontrada em saxofonistas iniciantes é a falta de consciência do fraseado que executam. O saxofone como instrumento melódico lida diretamente com idéias musicais expressas por uma nota a cada vez. A simples execução desta seqüência de notas não garante um resultado expressivo, mesmo quando há correção nas divisões. Como na fala, cada frase tem um começo, um meio e um fim. É só quando quem fala consegue articular nitidamente

Ponto 1 - Extensão

Uma composição melódica é formada por várias frases que, principalmente num contexto tonal, encerram uma idéia de tensão seguida de um relaxamento ou ainda de uma pergunta e resposta (veja o Exemplo 1). É interessante notar que essas

Paulo Oliveira é saxofonista, de São Paulo, e toca no grupo Zarabatana cada frase, deixando claro para o ouvinte o começo e o fim de cada idéia, que o discurso como um todo pode ser compreendido. Na música, o discurso é o mesmo: ela deve ser sentida, mas também entendida. Daí a importância da articulação e do fraseado. A expressividade que buscamos, independentemente do estilo que se toca, pode ser atingida analisando alguns pontos, que são explicados a seguir, com exemplos de exercícios para você praticar. idéias que se complementam aparecem, geralmente, de forma simétrica a cada quatro compassos. A consciência que o executante tem dessas estruturas fará com que a performance seja mais convincente, pois o instrumentista não toca notas simplesmente, mas grupos de idéias musicais.

“Body and Soul”, Green

LIVE!

Ponto2 - Horizontalidade

Geralmente, saxofonistas em um nível menos avançado costumam executar frases com exagerado zelo quanto à emissão de cada som. Acentuam indevidamente as notas, valorizando-as verticalmente, mesmo quando dentro de ligaduras. O resultado final desse tipo de execução é parecido com aqueles passatempos infantis de unir os pontinhos: a gente reRuim, vertical

conhece que o desenho representa um elefante, por exemplo, apesar de ser um elefante meio quadrado, cheio de arestas. Esse fraseado truncado pode ser evitado se for buscada uma horizontalidade no tocar. Assim como quem desenha à mão livre, o instrumentista une o som das notas com um sentido de impulsão único, a partir de um fluxo de ar constante e fluido, mesmo quando usa articulações durante a frase. Essa forma de tocar pode ser aplicada mesmo em estudos técnicos (escalas, arpegios, etc.), buscando sempre um resultado fluente e cantabile, evitando os impulsos isolados para cada nota (Exemplo 2).

Correto, horizontal

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Ponto 3 - Respirações

Assim como quando falamos, a colocação de espaços para respiração no fraseado musical pode mudar ou truncar o sentido da idéia. As respirações devem ser colocadas em função do fraseado e não porque não agüentamos mais e precisamos parar para respirar. É bom colocar as respirações após as conclusões de frase (rela-

xamentos) ou entre uma tensão e um relaxamento. Não é adequado respirar entre semitons, pois quebram a força de atração desse intervalo. Frases iniciadas em anacrusis exigem atenção especial, pois este é um caso em que a tendência para colocar respirações na barra de compasso nos induz ao erro (veja o Exemplo 3).

“My Little Suede Shoes”, Charlie Parker

Ponto 4 - Dinâmica

Quando um saxofonista toca constantemente em um mesmo volume, a impressão causada é de monotonia, pois o quadro que se ‘vê’ é chapado, sem relevo. O forte e o piano dão profundidade a este quadro. Com o longe (piano) e o perto (forte), cria-se perspectiva na exposição da frase.

Nas partituras de música popular, as dinâmicas geralmente não são indicadas, o que não quer dizer que elas não existam nesse contexto. Espera-se que o músico, com a sua sensibilidade, crie movimentos de volume, dando à música uma movimentação a mais (veja o Exemplo 4).

“In A Sentimental Mood”, Duke Ellington

Evidentemente, a expressividade musical muitas vezes se apóia não só nesses pontos, mas também em elementos muito mais sutis. E em

especial no saxofone, é bom lembrar, o controle do som do instrumento é essencial para que se obtenham os melhores resultados.

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WORKSHOP

Te o r i a m u s i c a l

INSTRUMENTOS TRANSPOSITORES Débora de Aquino

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TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

DÉBORA DE AQUINO • INSTRUMENTOS TRANSPOSITORES

LIVE!

ocê até hoje se atrapalha quando precisa escrever para instrumentos transpositores? Falar em transposição sempre gera dúvidas e confusão. Se você é saxofonista, trompetista, clarinetista, já deve ter ouvido falar que seu instrumento é afinado em Bb (Si bemol) ou Eb (Mi bemol). Sabe o porquê disso, ou o que isso quer dizer? Isso acontece porque esses instrumentos são os chamados instrumentos transpositores. Como devo proceder se vou tocar sax alto com um pianista? Você já deve ter percebido que se os dois lerem a mesma partitura vão estar tocando em tons diferentes, pois o piano é afinado em C (Dó) e o sax alto em Eb (Mi bemol). Vamos desvendar esse mistério e resolver de uma vez o ‘problema’ da transposição. A princípio pode não parecer lógico utilizarmos instrumentos transpositores. Se pensarmos em um clarinete em C (Dó), ele é apenas um pouco mais longo que um em Bb (Si bemol), então por que usar um em Bb se o trabalho será maior? Isso se deve a razões históricas. Nos primórdios da música, os instrumentos de sopro eram constru-

Débora de Aquino, saxofonista e flautista, de São Paulo, é coordenadora do Departamento de Sopro do CLAM Zimbo Trio (Centro Livre de Aprendizagem Musical). Contato: (11) 5051.5158 ou www.clamzimbo.com.br ídos especificamente para a tonalidade em que tocavam, se não fosse dessa forma ocorriam desafinações, daí termos as famílias de instrumentos sendo cada um construído em uma tonalidade. Com a evolução da música e das teorias musicais, o problema de afinação acabou e os instrumentos passaram a afinar bem em qualquer tonalidade, porém notou-se que alguns instrumentos soavam melhor em uma tonalidade do que em outra. Os clarinetes em Dó, em Ré, ou Mi, não têm boa sonoridade, e caíram em desuso a favor do clarinete em Bb. Outra razão bastante convincente é o fato de os instrumentos estarem organizados em famílias. É lógico que os membros de uma mesma família sejam concebidos de forma idêntica quanto à disposição de sua mecânica. Isso facilita o estudo porque uma nota produzida com um determinado dedilhado terá o mesmo nome em qual-

quer um deles, mas como os instrumentos possuem dimensões diferentes, os sons produzidos serão naturalmente diversos. Assim, a dedilhação correspondente ao Dó soa Dó em um clarinete em Dó, soa Si bemol em um clarinete em Si bemol, soa Mi bemol em um clarinete em Mi bemol. Esse sistema facilita muito a execução dos instrumentistas, mas por outro lado dificulta a leitura e a escrita das partituras. Agora passaremos para a parte prática da história. Abaixo vemos uma tabela com alguns dos instrumentos transpositores. A primeira coluna mostra o som real produzido, a segunda indica o intervalo que deve ser aplicado para o transporte e a terceira a notação a ser empregada. Para um total domínio do emprego dessa tabela é necessário que você já tenha estudado e domine as matérias Construção de Escalas e Análise Interválica.

TABELA DE TRANSPOSIÇÃO

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Agora vamos a um exemplo prático aplicado a uma música. Pensando em transportar para sax soprano Bb, vamos fazer o seguinte raciocínio: 1. Verifique o tom da música. 2. Faça o transporte da tonalidade. Se a música estiver em Dó Maior (nenhum acidente), vai para Ré Maior (dois suste-

nidos), intervalo de 2M (1 Tom) conforme a tabela, corrija então a armadura de clave. 3. Agora vá transportando nota a nota mantendo o intervalo de 2M. * Atenção: A cifragem também deve ser transposta. A seguir temos um pequeno trecho da música All of Me transposta para clarinete e saxofones.

ALL OF ME

Observação: note que o sax soprano Bb e o sax tenor Bb estão no mesmo tom, o que muda é apenas a oitava para que eles soem na mesma região. Porém, tocar a música acima no sax tenor é um tanto desconfortável por estar muito agudo, mas

Simon / Marks

nada impede que ele seja tocado com a mesma partitura do sax soprano, o que facilitará a mecânica e fará com que soe bem mais agradável. Instrumentos de mesma tonalidade podem ler a mesma partitura, mas poderão soar em oitavas diferentes.

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WORKSHOP

Gaita

DICASDE IMPROVISO André Carlini

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TESTE NOVIDADE

Escala blues

André Carlini é gaitista e professor da Escola de Música & Tecnologia, de São Paulo. www.andrecarlini.com.br

ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

ANDRÉ CARLINI - DICAS DE IMPROVISO

m dos maiores objetivos de um gaitista é improvisar com seu próprio estilo, sem deixar com a mesma ‘cara’ os solos já existentes. Como conseguir tal êxito, se em 90% dos solos se usa somente a escala blues? Esta é a resposta que todos buscamos, e para tentar ajudar a superar esse desafio, daremos algumas dicas básicas. Primeiramente você deve tocar a escala blues na segunda posição (tocar as escalas do V grau); na gaita em C, a escala a ser estudada será G, então teremos:

Escala blues

Escala blues - shape

LIVE!

Seguindo o esquema dado na figura acima, primeiro toque a escala ida e volta em semínima, depois colcheia até chegar à semicolcheia, como mostra a figura a seguir:

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Estude com um metrônomo, comece na semínima com velocidade de 100, vá aumentando até chegar a 140, aí você volta o metrônomo para 70 e muda para semínima, e assim sucessivamente até chegar à semicolcheia. Isso lhe dará destreza suficiente para passar à próxima etapa. Agora, com a escala bem decorada, você vai tocar a mesma seqüência rítmica anterior, só que com notas aleatórias. Comece com semínima na ordem que você quiser, depois passe para colcheia e semicolcheia. Este é só o primeiro passo para a improvisação. Ainda não falamos sobre harmonia,

que é fundamental para uma boa improvisação. Mas não adianta falar tecnicamente sobre harmonia se você não está com a escala na ponta da língua, ou da gaita. A música é dividida em harmonia, que é o acompanhamento; melodia, que é o canto; solo ou tema; e ritmo, que é a ‘levada’, o estilo da música. Para uma boa improvisação, essas três partes têm de estar em perfeito conjunto. Como já disse Hermeto Pascoal: “Ritmo é o pai, harmonia a mãe e melodia o filho”. Isso tudo é muito importante, mas não se esqueça de que música é sentimen-

to e com a improvisação é a mesma coisa. Deixe a música levar você, tente reproduzir no seu instrumento as frases ou riffs que estão em sua cabeça, depois você analisa tecnicamente o que tocou. Uma ferramenta muito útil que irá ajudálo bastante é um programa chamado Band in a Box. Com ele você consegue criar qualquer harmonia, tocar músicas existentes, mudar de tom e, o mais importante para o iniciante, ele diminui a velocidade o quanto você quiser. Para saber mais sobre este programa, suas funções e como adquiri-lo acesse o site: www.band-in-a-box.com.

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WORKSHOP

Tr o m p e t e

CEORA, DE LEE MORGAN Reginaldo Gomes

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TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA

REGINALDO GOMESCEORA, • DE LEE MORGAN

REVIEW LIVE!

alar de música é sempre gratificante e um dos principais inimigos quando começamos a aprender um instrumento é a ansiedade em poder tocar como os caras que admiramos. Mas devemos lembrar que, para uma boa execução, precisamos ter certo domínio técnico, que vai se aprimorando conforme prosseguimos nos estudos. Para isso, é necessário ter um professor em quem confiamos fazer com que trilhemos um caminho de progresso técnico. Isso nos permitirá interpretar e executar passagens ou músicas com mais naturalidade e controle. Certa vez, em um workshop, perguntei ao Cláudio Roditi se ele ainda praticava todos os dias, e ele respondeu que os grandes mestres diziam: “Quando alguém toca um instrumento de sopro e fica sem estudar um dia, você percebe, se você fica dois sua família percebe e se você ficar três o mundo todo percebe”. Por isso, devemos praticar como se fôssemos atletas. Poderia falar de muitos trompetistas e escolher uma canção mais conhecida, mas preferi uma música que eu adoro: Ceora, composta e gravada por Lee Morgan, entre os anos 1950 e 1960. Composta em tonalidade maior, ela deslancha na forma da cadência dois-cinco-um na qual, em vários momentos, o primeiro grau se

Reginaldo ‘16T’ Gomes é trompetista e integrante dos grupos Funk Como Le Gusta (www.funkcomolegusta.com.br) e Clube do Balanço (www.clubedobalanco.com.br) e cantor do coral da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (www.osesp.art.br). transforma em segundo reiniciando a cadência e indo para a próxima modulação. É uma ótima harmonia para treinar as escalas e arpejos de cada acorde. Essa música foi composta praticamente dentro da região média do instrumento (observe que as notas estão dentro do pentagrama). Assim, qualquer estudante de nível intermediário poderá tocá-la. Ela foi gravada como se fosse uma bossa nova, mas também pode ser tocada como jazz, basta dar o sotaque certo para cada estilo. Se você não tem um professor, ouça os discos e repare como cada trompetista toca. Para estudá-la com o intuito de improvisar, basta seguir a harmonia: primeiro você pode tocar a fundamental de cada acorde no tempo da música e imaginar, mentalmente, a melodia. Depois vá adicionando a terça do acorde, depois a quinta, a sétima, procurando preencher no tempo em que cada acorde dura. Você pode treinar também tocando as escalas e os arpejos de cada acorde, ou ainda inventar um grupeto de duas, três, quatro ou mais

notas e praticá-las em cima de cada acorde da música. São muitos os caminhos para praticar, mas é preciso disposição e perseverança para que, quando você for tocar a música pra valer, sinta em sua alma uma inspiração nova e realize-a sem dificuldades. Dá também para enfeitá-la com notas de aproximação (apogiaturas) ou grupetos em torno da nota real do acorde. O estudo e a prática servem justamente para fazer o difícil parecer mais fácil. Boa sorte e boa diversão a você!

EU RECOMENDO

Se você quer ouvir boa música,aqui vão minhassugestõesde trompetistas: Lee Morgan,CliffordBrow,Miles Davis, Fred Hubbard,Winton Marsalis, Wallace Roney, Chet Backer, Hoy Hargroove,NicolasPayton,Terence Branchard,e alguns brasileirosque aprecio,como MarcioMontarroyos, Daniel D’Alcântara, Joathan Nascimento,NahorGomese muitos outros.

CEORA

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Obs.: A partitura está para o tom do piano, por isso, os instrumentistas transpositores podem aproveitar e fazer um exercício de transporte: um tom acima para os instrumentos afinados em Bb, e um tom e meio abaixo para os instrumentos em Mib.

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

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WORKSHOP

S a x o f o n e , Tr o m b o n e e Tr o m p e t e

GRADE:VOANDO BAIXO Bobby Wyatt

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TESTE

a sonoridade e energia dessa formação até hoje. O interessante de uma grade é observar a partitura e notar todos os instrumentos, cada um identificado em uma linha. Para quem toca em bandas ou quer ter uma idéia de como funciona uma orquestra, é um ótimo treino.

Bobby Wyatt é baterista e arranjador da SoundScape

NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

BOBBYWYATT• GRADEDE VOANDO BAIXO

screvi esta peça como uma alternativa para encerrar a entrada da banda SoundScape em suas apresentações semanais no Blen Blen, em São Paulo. A passagem incluída aqui mostra um trecho de acompanhamento (background) do solo do sax tenor. Toco em big bands desde os 14 anos de idade e curto

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Para receber esta partitura por e-mail, escreva para ajuda@saxemetais.com.br

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TRANSCRIÇÃO

TARDE EM ITAPUÃ Toquinho e Vinícius de Moraes Afinação: Sax Alto Eb

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TOQUINHO E VINÍCIUS DE MORAES • TARDE EM ITAPUÃ

LIVE!

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PÁGINA ABERTA: LÉA FREIRE

LÉA FREIRE

FOTO: DIVULGAÇÃO

Relaxe... e toque melhor

RELAXE... E TOQUE MELHOR Além da postura certa e da forma de direcionar o ar, manter-se descontraído ajuda na hora de tocar

G

anhei minha primeira flauta transversal aos 15 anos à base de troca – meu pai me deu a transversal, mas pediu a flauta doce – que eu tocava o dia inteiro – em troca.... De lá pra cá já se passaram mais de 30 anos e as flautas que tive sempre foram grandes companheiras. Gosto da flauta pelo som que produz, é claro, mas também porque é leve, fácil de carregar e a gente pode estar sempre com ela. Em 2003 comprei minha primeira flauta baixo – soa uma oitava abaixo da ‘normal’ (que eu não sei até hoje como é chamada – flauta soprano? Então a flauta em Sol seria ‘contralto’ e essa baixo seria na verdade uma tenor? Está vendo como é difícil?). O que eu sei é que me apaixonei pela flauta baixo e hoje em dia não quero outra vida: levo a vida na flauta – baixo. Além do timbre, que é uma delícia, a ‘bengala’ facilita muito na hora de tocar, pois a flauta baixo faz uma curva, parecida com uma bengala, principalmente na postura.

sempre menos. Menos esforço, menos tensão, o mínimo movimento dos dedos, o relaxamento máximo do maxilar, a postura mais confortável do pescoço, a boca mais relaxada, a bochecha relaxada, os ombros relaxados – uma perfeita sessão de ioga. Tocamos melhor quando estamos relaxados e a flauta é sensível a qualquer tensão – costuma

O que você não pode esquecer

• Quantomaisrelaxadona horade tocar,melhor.Deixe as bochechas,ombrose pescoçoleves,sem ficar duro. Até porquea flautaé sensívela qualquertensão,e costuma subir uma oitava ao menor sinal de força. • Comoa flautapromoveum grandedesperdíciode ar quandoo instrumentistasopra,o idealé conseguircolocar a maior parte do ar sopradopara fazer som. Este é um ajuste milimétricoque só se consegueaos poucos,tocandodevagar,com paciência. • Parapassagensmaisdifíceis,umadica:toquemuitodeA postura correta é o início de tudo vagarmesmo,ligado,sem golpede língua,glote,diaTenho reparado em vários flautistas e na postura fragmaou qualqueroutro. Assim,ensinamosao céredeles na hora de tocar e me preocupo com esse pessoal bro comoé essapassagem:estamosprestandoatenção ficando todo torto. É preciso prestar atenção à postura a cada salto e medindo o esforço necessário. para tocar qualquer instrumento, para evitar as tais ten• Procureescutara músicabuscandoentendê-la,tente redinites e coisas piores como desvios de coluna, etc. produziro som.É precisoum grandeesforçoparaisso.É Ao longo desses anos, descobri que o mais legal é um treinamento importante para melhorar a técnica.

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PÁGINAABERTA LÉA FREIRE

FIM

mudar de oitava – para cima – ao menor sinal de força. Isso ficou claro quando comecei a tocar flauta baixo. Ela é muito mais sensível e essas trocas de oitava mais comuns – então é preciso relaxar mais ainda –, principalmente para as notas mais graves. Menos ar, uma coluna de ar mais ‘larga’, faz um som mil vezes melhor do que aquela embocadura tensa que tendemos a usar para a terceira oitava da flauta comum. O melhor de tudo é que esse relaxamento para a flauta baixo resultou na melhoria do meu som de flauta no geral, para qualquer das outras (a em Sol inclusive)! Como não tenho picolo, não sei se esse relaxamento melhora o som, mas desconfio que sim.

Controle a emissão de ar

A flauta é o instrumento que mais desperdiça ar – metade, ou mais, do ar que você sopra acaba indo para fora da flauta, não serve pra nada, só pra deixar a gente tonta. Então, o ideal é conseguir colocar a maior parte do ar soprado para fazer som, não pra ‘babar’ a flauta toda. Este é um ajuste milimétrico que só conseguimos tendo a paciência de tocar devagar, senão a atenção vai para os movimentos das mãos, que podem ser extremamente complexos, às vezes... Para passagens difíceis, um caminho legal é tocar tudo muuuiiiito devagar, tudo ligado, sem golpe de língua, glote, diafragma

Quemé Léa Freire? Flautistae compositora,ouvia desde cedo eruditos brasileiroscomo Guarnieri,VillaLobos,RadamésGnattalie SouzaLima entre outros,duranteseus estudosde piano, quandotambémconheceua obra de Bach, Debussye os muitos autores estrangeiros. Tambémse interessoupelo rock and roll e depoiso jazz,que a trouxede voltaparaa bossanova,quechamouo choroe quemostrouo caminhoparaos inúmerosritmosbrasileiros.Agoracomeçaumanovaetapa– a de unir o popularao erudito– o formalismo à improvisação, com sotaque brasileiro. Já tocoucom muitagentecomoAlaíde Costa,Filó Machado,NelsonAyres,Marlui Miranda,HermetoPascoal,Arismardo Espírito Santo, YamanduCosta, Evandro (bandolim),Rosinha de Valença, Arrigo Barnabé, Itiberê Zwarg, Nenê, Nailor ‘Proveta’ Azevedo,NicoAssumpção,Elton Medeiros,Manezinhoda Flauta, Guilherme Vergueiro,MichelFreidenson,Leny de Andrade,Bocato,Guello,Mozar Terra e

ou qualquer outro golpe. Quando fazemos isso, ensinamos ao cérebro como é aquela passagem: estamos prestando atenção a cada salto, medindo o esforço necessário e reduzindo esse esforço ao mínimo, ensinando os dedos a se movimentar o mínimo possível, pensando na postura, relaxando o ombro, colocando o punho na posição correta (reto, sempre) – é muita coisa! Nunca tive nenhum problema de articulação – e toco também piano e violão, que têm posturas e movimentos comple-

tamente diferentes, e digito no teclado do computador o dia inteiro, respondendo a e-mails ou escrevendo partituras. Tudo na lei do menos – como diz o samba –, a regra três, onde menos vale mais. Claro que o pessoal que toca sax barítono, contrabaixo, etc. e tem de carregar, toma outras providências também. Fazer uma ginástica básica ajuda muito a coluna. Como na música a pausa é importante, o intervalo na hora de estudar é sagrado – e o alongamento, supernecessário. Muito melhor do que pagar ortopedista, acupunturista, relaxante muscular que dá aquele enjôo, etc.

muitos outros representantesdas mais diversas tendências musicais. Lançou seu primeiro CD, Ninhal, em Escute, ouça e sinta dezembrode 1997, gravadono período A coisa de que mais gosto em música de 1994 a 1996 atravésdo selo Maritaca, é escutar. Escutar buscando entender. Afionde constam participaçõesespeciais da nal, música é para ser ouvida. Gosto de ver Banda Mantiqueira,QuartetoLivre, Joyce, o pessoal tocar também, mas gosto mesmo Filó Machadoe muitos outros músicos de é de escutar e tentar descobrir o que está primeiralinha,num total de 51 pessoasen- sendo tocado, para tocar depois. Escutar tre músicos, arranjadores e compositores. envolve um esforço muito grande, sai Em 1998 integrou-setambémao grupo fumaça da cabeça da gente às vezes, mas de Teco Cardoso,com o qual fez várias percebo que quanto mais escuto, melhor apresenta ções, inclusive na Universidade escuto e mais gosto disso. Existem vários de Miami e no Blue Note de Nova York, métodos de percepção bem legais e, em montandocom este um repertórioque ge- minha opinião, todo músico deveria pasrouo CD Quinteto, gravadoem NovaYork, sar por esse tipo de treinamento. Seja feito em outubrode 1998,e lançadoem novem- da forma que for, é muito legal poder tobro de 1999, que contou com Benjamim car qualquer música com qualquer grupo Taubkin(piano),AC Dal Farra (bateria)e ou cantor(a) a qualquer momento sem se Sylvio Mazzucca Jr. (contrabaixo). preocupar com a partitura. Mas isso é um Como produtorae editorade música tema enorme que fica pra outra vez. instrumentalbrasileira,montou uma graComo diz um amigo: muita hora nessa vadora e editora, a Maritaca Records calma. A música nos espera e nos agradece se (www.maritaca.com.br). chegarmos de mansinho, sem atropelar. SAX & METAIS JUNHO / 2006

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