Essas quatro histórias adquirem interesse ainda maior ao recordarmos que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo vem promovendo, de forma pioneira, a nomeação dos delegados ou representantes dos trabalhadores nas empresas, nos moldes da nova Constituição. Já são mais de mil trabalhadores às voltas com essa tarefa. As experiências de organização, a sua inevitável interação na vida e nas ações práticas do movimento sindical dirão muito a todos que estiveram atentos, sobre o renascimento do projeto de construir a organização dos operários nas fabricas. E isso não é tudo. Como será possível aos trabalhadores enfrentarem, com conhecimento de causa, todas as questões ligadas à introdução de novas tecnologias - CCO - Círculos de Controle de Qualidade, CEP - Controle Estatístico da Produção, nova política industrial, zonas de processamento de exportação, etc. se não estiverem organizados no cenário onde as coisas realmente acontecem -o local de trabalho?
Como enriquecer as negociações para tirá-las de seu atual ponto morto sem a iniciativa dos trabalhadores organizados em seus locais de trabalho? Os companheiros Sérgio L. Bertoni, Carlos A. Ortiz, da comissão de fábrica dos trabalhadores da Ford-lpiranga, João Carlos Gonçalves (Juruna) da CIPA da Frigor e ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Alemão, ex-membro da comissão de fábrica da Gazarra, contam nesta entrevista os avanços e recuos impostos pelo patronato e pela estrutura sindical à organização por local de trabalho. Sérgio Luiz Bertoni, secretário da comissão de fábrica dos trabalhadores da Ford-lpiranga, eleito em maio de 1987 (seu primeiro mandato) e Carlos A. Ortiz, membro da comissão de fábrica dos trabalhadores da Ford-lpiranga, eleito em 1985 já para o segundo mandato (integrante do movimento de oposição metalúrgica desde 1979) contam como surgiu a comissão.
História das comissões "A com1ssao de fábrica da Ford surge em 1980/1981 num bate-papo de porta de almoxarifado; foram feitas reuniões c~andestinas e um abaixo-assinado reivindicando a comissão de fábrica até que em 31 de agosto de 1982 surgiu a comissão. "Hoje a comissão, no seu segundo mandato, estabeleceu ter um coordenador, Lúcio Antonio Bellantani, um vice-coordenador, um secretário e quatro distritais com os seus respectivos suplentes, dá um total de 11 pessoas. "Sempre procuramos renovar os membros da comissão, tentamos manter de um a três companheiros para dar continuidade ao trabalho que vem sendo realizado. "Temos a estabilidade de três anos garantida num estatuto assinado por ambas as partes da comissão de fábrica e direção da empresa, a estabilidade começa a contar a partir do momento de registro de candidatura, a partir do final do mandato conta mais um ano em que o companheiro tem estabilidade. "Desde 1985 a fábrica vem vivendo um novo ciclo, a direção vem estudando a introdução de novas tecnologias e novas filosofias de administração, foi um momento de transição, de muitas mudanças na cúpula da empresa.
"Existia muita repressão dentro da fábrica por parte das chefias. Com a comissão isso foi sendo quebrado, foi avançando no sentido de abrandar essa repressão, claro que ela não acaba, as chefias não mudam os seus métodos de atuação, a alta cúpula da empresa tem um discurso participativo, mas as atitudes são repressivas, quem exerce a repressão direta são as chefias que estão em contato com os trabalhadores, mas quem autoriza é a gerência, quando a empresa começa a se preparar para implantar uma nova filosofia, o trabalho participativo, ela começa a mudar as chefias, começa a fazer uma preparação da gerência até chegar agora ao treinamento de delegados quanto aos eco Círculos de Controle de Qualidade. O processo foi treinar a gerência, depois a supervisão e agora os encarregados. Hoje a organização dos trabalhadores na fábrica está num estágio bem diferente, foram atendidas as reivindicações mais imediatas e passamos para outro patamar, depois que conseguimos o transporte coletivo, plano médico, mais diálogo, as horas-extras passaram a ser voluntárias, só faz quem quer, os abusos acabaram, a empresa não demite sem motivos; temos agora reivindicações de caráter mais político com a junção da Ford e Volks que se transformaram numa empresa,a Autolatina, estamos trabalhando conjuntamente com as comissões de trabalhadores da Autolatina para discutir os problemas específicos de cada fábrica e num contexto mais geral. Neste primeiro momento pretendemos a manutenção de todos os postos de trabalho."
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