Edição 40, março de 1989

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gados, que tinham nesse período feito cursos de como enfrentar a organização dos trabalhadores, passamos a levar as nossas reivindicações para os encarregados, isso é uma tática dos patrões, assim eles ganham tempo e não se comprometem . Isso estava deixando os trabalhadores revoltados. Passavam-se 1 ou 2 meses sem resposta às nossa~ reivindicações, quando antes em no máximo 1 semana as reivindicações eram atendidas. E nós vlnhamos reivindicando que retornassem os patrões para as negociações, sem êxito. "E nesse momento a comissão cometeu um erro grave, chamou uma greve que não era opor-

tuna, porque vínhamos de um processo de eleições sindicais para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo na qual a comissão de fábrica da Gazarra fazia parte da Chapa 2, a chapa derrotada, havia muito interesse que essa comissão terminasse. "Por uma advertência dada a um membro da comissão, alguns companheiros mais exaltados resolveram ir para a greve, e não aceitaram a proposta de sentar na mesa para negociar. A comissão de fábrica junto com o sindicato chamou uma assembléia na empresa. O diretor do sindicato colocou para votação duas propostas, a primeira de negociar com as máquinas paradas, e a segunda de um

dos membros da comissão ir ne~o­ ciar com a empresa e dar um prazo de 24 ou 12 horas e só após esse prazo chamar outra assembléia e decidir se paralisava ou não. Numa primeira votação dividida, foi aprovada a primeira proposta, parar as máquinas e negociar com a empresa. A fábrica parou ao meio-dia, aquela tarde tudo bem, no dia segu inte metade da fábrica entrou para trabalhar e a outra metade ficou parada, com repressão policial, falta de apoio, ficamos sozinhos e a greve só durou dois dias. Quando fomos para a Delegacia Regional do Trabalho os patrões não queriam negociar, eles queriam a cabeça da comissão e mais 74 companheiros. Fomos todos demitidos por justa causa."

Sindicato, comissão de fábrica e delegado sindical Serginho Ford-lpiranga : "Num sindicato pelego que não realiza ação sindical, as comissões de fábrica não são bem recebidas. · As comissões são a organização dos trabalhadores ao-pé-da-máquina, com eles os trabalhadores sentem-se representados, sentem-se atuantes no movimento sindical, é uma representação direta.

"As comissões servem também para melhorar bastante as relações de trabalho dentro de uma empresa. Muitas vezes as empresas concordam com as comissões pensando com o cooptá-las. Na Ford não foi diferente, a empresa pensou cooptar a comissão para o trabalho participativo e os trabalhadores organizados reagiram prontamente. Hoje atravessamos um momento complicado na indústria automobilística, é a primeira vez que duas grandes indústrias se unem e formam a Autolatina. "Tem os dois problemas a resolver : o primeiro, organizar ascomissões da Autolatina. O segundo, o não fechamento da fábrica de caminhões. "A comissão de fábrica atua prioritariamente dentro da fábrica,

ela deve representar aqueles t ~aba­ lhadores. Penso que não deve se restringir a isso, deve atuar também junto com o movimento sindical e outros movimentos sociais. "A comissão vive os problemas de todos os trabalhadores, junto com eles procura resolvê-los, mas não é ela ou um conjunto de comissões que vai fazer a revolu ção, não é um processo de fábricas mas sim um processo social que abrange outras camadas. Os momentos mais fortes das comissões são quando elas estão na fábrica, resolvendo os problemas, lutando pela melhoria das condições de trabalho. Agora com a nova Constituição que aprovou um representante dos trabalhadores no local de trabalho, que a comissão de fábrica da Ford- Ipiranga entende que seja a figura do delegado sindical, melhorou alguma coisa; é a representação do sindicato dentro das empresas, ele traz para os trabalhadores o que o sindicato está propondo, e leva para o sindicato as ansiedades dos trabalhadores, o que não elimina a função da comissão de fábrica, cada um vai ter um papel distinto. A função da comissão de fábrica é organizar e representar todos os trabalhadores da

fábrica independente da sindicalização. "Já o delegado sindical vai trabalhar só com os sindicalizados, os associados do sindicato. Toda a questão de representatividade e autenticidade dele vai depender de uma política correta do sindicato em relação às propostas dos trabalhadores. A figura do delegado sindical pode tornar os sindicatos mais atuantes e mais próximos dos trabalhadores nas fábricas. Não resolveu os problemas do sindicalismo mas pode ajudar. Com uma convergência de · idéias os delegados sindicais e as comissões de fá brica vão trabalhar juntos. "No caso de São Paulo - capital é bem mais complicada na medida em que os delegados não estão sendo eleitos, mas sim nomeados pela diretoria do sindicato." Ortiz Ford-lpiranga : "As comissões de fábrica são importantes para organizarem os trabalhadores nas empresas, e junto com eles resolver os problemas que surgirem e as suas reivindicações. Porque devido às leis existentes os sindicatos não entram nas empre-

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negociação

4min
pages 60-64

Necessidade de uma nova correlação de forças

3min
page 59

operária

1min
page 58

comissões de fábrica

2min
page 55

do Rio de Janeiro

10min
pages 47-51

O trabalho da FASE e as comissões de fábrica

3min
page 52

Bibliografia comentada Alcances e limites da experiência das

5min
pages 53-54

O movimento sindical no Rio e sua base operária

3min
page 42

Sindicato, comissão de fábrica e delegado sindical

7min
pages 25-26

A solidariedade entre os trabalhadores

6min
pages 28-29

A importância da fábrica na esfera de organização politica

1min
page 41

E DIADEMA Organização dentro da fábrica: Avanços e dificuldades

39min
pages 30-40

História das comissões

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pages 23-24

Para Quando?

4min
pages 21-22

As causas das debi i idades

8min
pages 11-12

Possibilidades de mudança

6min
pages 13-14

Dimensão pol ftica das novas formas de organização

3min
page 20

O nascimento do novo sindicalismo

3min
page 17

O surgimento do novo sindicalismo

3min
page 9

A reação patrona I

3min
page 19

Suas debilidades

3min
page 10

A organização nas empresas através da história

6min
pages 15-16
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