EDITORIAL Falta a nossa escrita (a “literatura brasileira”) um enfrentamento indignado, descrente, que não afunde na lama do presente. Uma literatura que lute além dos seus limites, que denuncie a destruição monstruosa do teatro, da educação, da arte, da política, da justiça, da diversidade absoluta que funda o pensamento, a vida democrática, a sociabilidade, os corpos em luta, os corpos e suas diferenças. Uma literatura que lute para chegar a outros povos, não como adorno de carnaval de grupos e poderes, sem chegar a atingir a “cultura”, a “vida”, a “língua” dos outros países. Uma literatura que consiga chegar em guerrilha, em guerra, com pensamento a outros povos e seja acolhida por seu valor de coragem e renovação, coragem de interferência no seu próprio mundo, agora numa ditadura mafiosa estranha e mortal, sem ser uma cristalização de covardia e cumplicidade. Sem ser estabelecida uma tentativa estética sólida (sempre longe da gramática do poder) para responder a questões (políticas, éticas, filosóficas: em aberto, não respondidas, escamoteadas, não vistas, impostas pelo agora etc.), a literatura inteira afunda num contar algo para nada. Isso acontece no Brasil e em quase toda a literatura mundial, principalmente na poesia, presa principal de uma “interioridade” crente, romântica, fútil, memorialística pra nada, uma vontade idiota em “ser reconhecido” e ter uma “migalha de poder ilusória”. O editor seria aquele que avaliaria se esse livro pensou,