Turismo, ar te e conhecimento 30
Cananeia
a maternidade do Atlântico
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Editorial Cananeia, a maternidade do Atlântico, capital do turismo educativo no Brasil e primeira vila do país. Como não se apaixonar por tal lugar? Dos sambaquis aos dias atuais, a cidade preserva sua história, o meio ambiente e a cultura de suas comunidades tradicionais: indígena, quilombola e caiçara. A diversidade de sua fauna e a maravilhosa flora de sua Mata Atlântica encanta não só os diversos turistas, mas também a população local que, mesmo habituada a tais paisagens, para suas atividades ao longo do dia para admirar o meio em que vivem. Essa revista traz um pouco desse rico universo cultural em suas páginas e a beleza desse lugar único em suas imagens. Tenho plena convicção de que, assim como eu, você se apaixonará por essa terra e essa gente. Boa leitura!
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52 74 Conselho Executivo Ana Lucia F. dos Santos, Célio Emerique, Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Mário Zelic , Ricardo Martins, Roberto Turrubia, Thabata Alves e Thiago de Andrade Diretor Executivo Márcio Alves Editora Renata Weber Neiva Reportagem Alice Neiva e Nathália Weber Assistente de produção Evellyn Alves CIDADE & CULTURA SÃO PAULO é uma publicação anual da KM Marketing Cultural PARA ANUNCIAR (11) 97540-8331
Revisão Marco Briones Produção Gráfica Thabata de Andrade Produção Audiovisual - Km Filmes Fotografias Marcio Masulino, Marcus Zilli e Thiago Andrade Foto Capa Márcio Alves
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Índice
48 Fauna
06 Linha do Tempo
52 Aves
Diversidade e Exuberância
Capital do turismo educativo
Cores que Voam
08 História
56 Flora
Marco Histórico do Brasil
Jequitibas, jatobás, canelas, cedros...
12 Caminhos do Peabiru
58 Cachoeiras
Os Incas e os Guaranis
Paisagens inigualáveis
16 Naufrágios
60 Ilha do Cardoso
A Força do Mar
Paraíso Preservado
18 Museus
66 Ariri
Do Passado à Modernidade
Uma Fronteira Disputada
20 Turismo Religioso
68 Aromas e Sabores
Conforto da Alma
Delícias Carregadas de Tradições
24 Lendas
72 Gastronomia
Mistério ao Lado
Capital Gastronômica
26 Arquitetura
74 Esportes
Patrimônio Histórico
Em Sincronia com a Natureza
30 Artes - Fotografia
78 Turismo Naútico
Registrando a Natureza
As Trilhas do Mar
34 Comunidades Tradicionais
80 Turismo Educativo
Tradições que Encantam
A Conquista da Preservação
42 Meio Ambiente
82 Pesca
Maternidade do Atlântico
Pescar, Preservar e Soltar
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Linha do Tempo
Década de 1500 - Fixação de Cosme Fernandes Pessoa, Bacharel de Cananeia.
1500
Chegada da esquadra de Martim Afonso de Souza e fundação da Vila de Cananeia.
1531
Entrincheiramento de Iguape e Guerra de Iguape.
Construção da Igreja São João Batista e elevação da Vila de Cananeia a conselho.
Inaugurada a Usina de Força Municipal.
1532 1600 1927
Cananeia
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Início da criação de pequenas indústrias.
1950
Ligação por terra pela Rodovia Régis Bittencourt.
Tombamento do Centro Histórico de Cananeia pelo CONDEPHAAT.
Inaugurada a ponte que liga Cananeia ao continente.
1960 1969 1982 Cananeia recebe o epíteto de Capital do Turismo Educativo do Brasil.
Alta no Turismo Educativo com intensa participação de escolas de vários estados.
1990
2018
História
Marco Histórico do Brasil AS BELEZAS NATURAIS NAS QUAIS CANANÉIA ESTÁ INSERIDA nada lembram seu passado nos idos do início da colonização brasileira. Sua história é repleta de intrigas e revoltas que modificaram os rumos de uma fixação tranquila dos colonos europeus em solo brasileiro. Segundo alguns estudiosos, a primeira vila do país deve ter sido Cananeia, e não São Vicente. No entanto, não existe documentação que comprove tal fato, apenas a história contada e narrada pelos personagens da época. Para entendermos a rica história de Cananéia, temos que situá-la no contexto das Grandes Navegações protagonizadas por Portugal e Espanha. O comércio de especiarias oriundas da Ásia era, nos séculos XV e XVI, um importante setor econômico. Esse comércio estava nas mãos dos muçulmanos e dos venezianos, que cobravam altas taxas de importação da noz08 cidadeeecultura.com
moscada, canela, cravo, gengibre e pimenta vindos da Índia. Com o desenvolvimento da navegação e o espírito desbravador dos navegadores ibéricos, o objetivo das esquadras era conseguir encontrar uma rota marítima que alcançasse as Índias e viabilizar o comércio das especiarias para Portugal e Espanha, livres das taxações impostas. A partir desse ponto, o que a história registra foi que uma enorme quantidade de navios começou a explorar a costa africana, descobrindo as Américas, contornando o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Magalhães e, por fim, chegando até a tão almejada Índia, onde feitorias foram construídas e um intenso comércio estabelecido. Contudo, entre idas e vindas, descobertas e invasões, a costa brasileira por parte de Portugal ficou à margem do objetivo principal, que era o de se encontrar uma rota mais curta até as especiarias da Índia. Mesmo após a
Sambaquis
descoberta do pau-brasil, explorado intensamente pelos franceses, Portugal não deu a devida importância a questão de colonizar ou, pelo menos, estabelecer seu domínio em suas novas terras. Somente quando os espanhóis souberam da lenda do Rei Branco, que detinha em seu reino uma montanha de prata chamada de Potosí (atual Bolívia), é que os portugueses entenderam que deveriam entrar na disputa desse território. É nesse ponto que se inicia a história de Cananeia, situada em um ponto nevrálgico entre Portugal e Espanha. Para entendermos melhor sua história, a situaremos no contexto internacional. Tratado de Tordesilhas Esse tratado, assinado entre Portugal e Espanha em 1494, estabelecia o limite de terras que fossem
A ocupação humana no litoral brasileiro se deu há muitos milhares de anos. A principal prova dessa ocupação são os sambaquis. Os sambaquieiros viviam da coleta de crustáceos, caça e pesca. Ainda não se sabe ao certo o porquê de depositarem em um determinado local os sambaquis, os restos de suas presas. Conchas e ossos foram sendo amontoados ao ponto de formarem montanhas de até 30 metros de altura e 400 metros de extensão com as sobras não utilizáveis do que conseguiam. Há evidências também de ali terem sido depositadas ossadas humanas, talvez um indício de uma espécie de censo religioso. O que se tem certeza é de que muitos sambaquis foram destruídos quando da colonização portuguesa, pois essa se utilizava do material fossilizado que, junto com o óleo de baleia, fornecia a liga necessária para a solidez estrutural na construção de edificações. Não raro encontramos vários exemplares arquitetônicos que perduraram com essa característica construtiva. Os que restaram estão passando por processo de tombamento e sendo estudados por universidades. A incidência maior dos sambaquis se dá no litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Aqui, em particular, vamos abordar os sambaquis situados no Lagamar de Cananeia. Essas maravilhas, testemunhas de um tempo muito distante até para a população indígena, são vistas com muita clareza devido ao seu estado de conservação. Alguns desses sítios arqueológicos podem ter até 8 mil anos de existência. Um dos mais interessantes é o sambaqui localizado na Ilha do Cardoso. O Gambriú Grande, como é chamado, está situado dentro do Parque Estadual da Ilha do Cardoso e pode ser o mais antigo do país. Há também os sambaquis submersos, que foram descobertos pelo Programa Arqueológico do Baixo Vale do Ribeira. No total foram identificados oito sambaquis. Esses sambaquis foram construídos ao longo dos anos em que o mar ainda se encontrava recuado em 100 metros. No estado em que se encontram há muitos séculos, ou seja, submersos, sua preservação é maior pois, além de não sofrerem com a ação das intempéries, eles também não passaram pela destruição proveniente das mãos dos colonizadores.
Cananeia 09
História
Este mapa histórico é parte do Atlas do Brasil de 1640, de João Teixeira Albernaz. Indica-se um trecho do litoral da antiga Capitania de São Vicente, incluindo a costa do atual Estado do Paraná, desmembrado de São Paulo, em 1853.
de Cabo Verde (arquipélago da costa africana), toda a parte oriental seria de Portugal e toda parte ocidental seria da Espanha. Ou seja, o Rio da Prata, acesso ao território do Rei Branco, não poderia ser explorado por Portugal, pois estava fora de seus domínios. E mais, Cananeia também, segundo o Tratado, estaria dentro do território Espanhol. Degredo Outro ponto importante na riquíssima história anterior ao da colonização do litoral brasileiro, é a figura emblemática dos degredados. Apesar de serem personagens tratados como secundários em toda e saga do Novo Mundo, os degredados foram, em certa medida, peças fundamentais do início da formação do povo brasileiro. Articuladores e adaptados às terras selvagens, incluindo aí, penetração nas várias tribos indígenas locais, esses homens foram responsáveis pelo estabelecimento de povoados que formaram o que hoje são os municípios do litoral brasileiro. O degredo era, nas leis portuguesas entre os séculos XV e XVIII, uma pena judicial de crime grave, no qual o culpado era exilado, bandido da sociedade em que interagia. Na época, navios deixavam esses criminosos ao longo das costas por onde passavam: África, América do Sul e Ásia. Os penados poderiam sim ter cometido crimes como assassinatos, porém os mais comuns eram os presos políticos e os cristãos novos. A maioria deles auxiliava na construção de feitorias e no estabeleci10 cidadeeecultura.com
mento de pontos comerciais de produtos de extração nas colônias. Outros eram simplesmente deixados em uma praia qualquer e esquecidos pelo tempo. Um típico exemplo é o caso de João Ramalho, que se adaptou à nova vida e ao ambiente hostil em que foi deixado e se transformou em um dos maiores líderes de tribos indígenas, onde era capaz de reunir mais de cinco mil índios e constituir um exército imbatível. Graças a ele e ao cacique tupiniquim Tibiriçá é que Martim Afonso de Souza obteve sucesso na colonização de São Vicente. Em busca da prata Depois das notícias vindas do Novo Mundo da existência de prata e ouro, Portugal começou a olhar para o Brasil de forma diferente. Então, o Rei Dom João III, enviou, em 1530, Martim Afonso de Souza para iniciar a colonização, descobrir uma rota que chegasse até às terras ricas em minerais preciosos, explorar o rio Amazonas e expulsar de vez os franceses da costa brasileira. Os primórdios de Cananeia Os ingredientes do princípio da história de Cananeia foram expostos acima. Basta, agora, colocá-los em uma só tigela para então entendermos como foi a formação, no que hoje é a capital do Turismo Educativo do Brasil. Muitas expedições, portuguesas e espanholas, foram realizadas desde o fim do século XV, na costa brasileira e argentina. A primeira expedição portuguesa foi a co-
Este mapa é parte do Atlas do Brasil de 1640, de João Teixeira Albernaz. Indica-se um trecho do litoral da antiga Capitania de São Vicente, de Cananeia até Barra de Bertioga.
mandada por Américo Vespúcio e Gaspar Lemos, dois anos após o descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral. E, assim como foi dito anteriormente, essas expedições deixavam, ao longo do percurso, vários degradados. Um deles, foi Cosme Fernandes Pessoa, o chamado o Bacharel de Cananeia, que se tornou a figura central na constituição do povoado de Cananeia. Sua história ainda é um mistério. Muitos dizem que ele foi deixado aqui pela expedição de Américo Vespúcio, outros não têm tanta certeza. O que se sabe ao certo é que, quando a expedição espanhola comandada por Diego Garcia, em 1528, aportou em Cananeia, este conheceu Cosme Fernandes Pessoa e o descreve como um rei branco, vivendo com os indígenas, casado com no mínimo seis índias, muitos escravos e mais de mil nativos dispostos a guerrearem ao seu lado. Com tamanho poder, o Bacharel de Cananeia era tido como o “dono” de todas as terras do litoral sul e o maior e pioneiro traficante de índios da região. Cosme também tinha como aliados muitos desertores, sobreviventes de massacres indígenas, náufragos e exploradores, todos espanhóis, porque naquela época, a região pertencia à Espanha. Para Diego Garcia, se aliar ao Bacharel era interessante, pois ele seria um facilitador para a exploração da prata do Império Inca. Quando Martim Afonso de Souza chegou em Marataia-
ma (Cananeia), em 12 de agosto de 1531 (data de sua fundação), enviou para a terra Pedro Annes, que falava a língua nativa. Após cinco dias, Annes retorna com o Bacharel de Cananeia, seu genro Francisco de Chaves e mais seis espanhóis. No encontro, Martim Afonso tratou o Bacharel como um chefe de estado e doou-lhe uma sesmaria. Nas tratativas, ficou acordado que se Martim Afonso fornecesse homens e armas para que o pessoal do Bacharel trouxesse, em dez meses, ouro, prata e mais quatrocentos escravos. Assim sendo, Pero Lobo, da expedição de Martim Afonso e seus homens, mais Francisco de Chaves e seus homens, adentraram na mata com o objetivo de atacar o Império Inca que se localizava a dois mil quilômetros dali. Eles seguiram uma trilha chamada de Caminho do Peabiru. Triste fim para todos os que investiram nessa empreitada, pois foram massacrados pelos índios Payaguá. Cananeia foi, portanto, um porto de abastecimento, de venda de escravos e ponto de partida até o território do Império Inca. Em 1532, o espanhol Francisco Pizarro, conquistou o Rei Branco, Atahualpa e sua montanha de prata Potosi. Com essa conquista, a costa do ouro e da prata, que ia de Cananeia até o Rio da Prata, onde antes fervilhavam embarcações, perdeu o interesse e foi por muito tempo esquecida.
História
Caminho do Peabiru Antes de os espanhóis e portugueses chegarem aqui, havia uma grande população indígena que ocupava as terras da América do Sul. Seus vários grupos mantinham contato através de trilhas que formavam uma teia imensurável. Esses caminhos ligavam pontos extremos do continente e, em sua totalidade, eram denominados por Caminho do Peabiru. Composto de um emaranhado de percursos, o Caminho de Peabiru tornou-se conhecido do homem branco nos tempos da caça insana promovida por espanhóis e portugueses ao tesouro de Potosí, na região do lendário Rei Branco, em terras da atual Bolívia. Esse caminho ligava Cananéia (SP) a Guaratuba (PR), Florianópolis (SC), Guaíra (PR), Potosí (Bolívia), Assunção (Paraguai) e Cuzco (Peru), o que permitia o contato das tribos da nação guarani com as do Norte e do Sul do Estado do Paraná, entre elas, as que habitavam os Campos de Piratininga (SP), os Campos Gerais (PR), o Chaco (MS) e os Pampas (RS), através de rotas denominadas Tupiniquim, Tupinambá, Tamoio, Guaná, Carijó e Guarani. Aqui mencionaremos um dos troncos principais, partindo de Cananeia,
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cruzando São Paulo, Paraná e Paraguai, chegando à Bolívia e ao Peru. Muitos traçados de rodovias modernas seguem as picadas feitas por essas tribos indígenas, pois foram demarcadas sabiamente em terreno pouco acidentado, contornando os obstáculos naturais. Peabiru, em tupi, significa “pe”, caminho, e “abiru”, gramado amassado. Através das vias tortuosas o comércio entre índios e incas era intenso, fato comprovado após um machado andino ter sido encontrado em Cananéia. Alguns trechos preservados têm o piso recoberto da grama puxa-tripa; outros têm piso de pedra, onde aparecem inscrições rupestres e mapas. Atualmente, pessoas de espírito desbravador estão tentando tornar o Caminho do Peabiru acessível, como forma de incentivo à cultura e de valorização da história dos nossos antepassados. Nada mais justo, pois o Peabiru é a prova concreta de que os índios que aqui habitavam antes da chegada dos “colonizadores” não eram tão grotescos e selvagens como os homens brancos os descreveram no início do século XVI.
Mas a participação do Bacharel de Cananeia na história da colonização não parou por aí. Com a morte de Pero Lobo na tentativa de chegar a Potosi, Pero de Góis, também da esquadra de Martim Afonso de Souza, mandou o Bacharel de Cananeia se entregar e este prestasse obediência à Coroa Portuguesa. Porém, Cosme não se entregou e ainda não reconheceu a região como sendo domínio português. Ameaçado de pena de morte, Cosme não teve dúvida, reuniu duzentos homens, armamentos de um navio francês que aportara em Cananeia e, protegido por uma trincheira e homens escondidos nos manguezais na barra do Icapara (atual cidade de Iguape), esperaram a chegada dos portugueses que vieram pelo mar e foram emboscados. Foi uma luta sangrenta, onde Pero de Góis saiu ferido e muitos morreram. O evento ficou conhecido como Entrincheiramento de Iguape. Felizes, Cosme e seus soldados partiram no dia seguinte, embarcados no navio francês, para atacar a Vila de São Vicente, onde apenas um terço dos habitantes sobreviveu. Foi a chamada de Guerra de Iguape. O fim do misterioso Bacharel de Cananeia também é incerto. Sabe-se que ele, depois de massacrar a Vila de São Vicente, voltou para Cananeia e expandiu seu domínio ainda mais na região. Mesmo com o desinteresse de grandes expedições pelos mares mais ao sul, Cananeia manteve sua vocação natural de porto e posto de abastecimento. Já no final do século XVI, a Igreja de São João Batista foi construí-
da de forma peculiar, como um sistema defensivo de invasões, ou seja, muros altos e ausência de janelas, uma espécie de fortaleza. Em 1600, a Vila de São João Batista de Cananeia foi elevada a Conselho e começou a desenvolver a construção naval. No século seguinte, possuía cerce de quinze estaleiros. Com a queda na construção de embarcações, Cananeia entrou no século XX com sua economia voltada à pesca e ao turismo. Com a chegada da eletricidade, por meio da Usina de Força Municipal, a economia recebeu um impulso com o beneficiamento de arroz, engenhos de aguardente, fabricação de gelo, entre outros setores.
Cananeia recebeu o epíteto de Capital do Turismo Educativo por sua capacidade de reunir em um só lugar áreas preservadas de Mata Atlântica e mangue, arquitetura colonial e a cultura de comunidades tradicionais. Cananeia 13
Naufrágios
A força do Mar QUEM AVISTA UM NAVIO, LÁ NO HORIZONTE, flutuando placidamente a espera de atracar no cais, na maioria das vezes, não imagina os perigos que os marinheiros ou pescadores já tiveram que enfrentar. O mar é lindo, com o sol refletido na superfície, a dança dos grandes cardumes, a companhia dos golfinhos, e com sorte, baleias exibidas, formam um espetáculo para poucos. Porém, esses poucos, sabem muito bem dos perigos da força do mar. Só esses poucos entendem o medo de um vagalhão, de uma corrente inesperada, do encontro das águas das chuvas com as águas do mar. O frio e a solidão em meio ao nada em um turbilhão de tantas variáveis. Das pontas dos promontórios e da baixa visibilidade. Muitas vezes, as luzes dos faróis apontam o caminho, o porto seguro, mas seguir o curso e ser desviado pelos caprichos das terras de Netuno, eleva o nível do desespero. O mar engole mercadorias e desti16 cidadeeecultura.com
nos. Muda a trajetória de famílias. Contudo, é preciso ganhar o pão de cada dia. E, quando avistamos um navio, lá no horizonte, sabemos que os que estão embarcados, possuem toda a sorte do mundo e os que não estão certamente deixaram um oceano de saudade. E assim, no fundo do mar, é que mergulhadores e arqueólogos subaquáticos, resgatam essas histórias repletas de aventura e terror e trazem à luz seus destinos e sua humanidade.
Guasca O cargueiro a vapor brasileiro, Guasca, naufragou nas imediações de Cananeia em 1907 por colidir com o navio “San Lorenzo”. Foi construído no estaleiro John Elder & Co., em Glasgow, Escócia. Com destino a Santos, quando o Guasca saiu de Paranaguá, no dia 4 de dezembro de 1907, levava a bordo setenta
Peonea – Moinhos Itajaí S/A. Seu último contato foi no porto de Paranaguá. O navio foi fabricado na Itália no ano de 1948. Misteriosamente, quando a FAB encontrou o “Laguna”, este estava meio submerso, porém nenhum dos 16 tripulantes foram encontrados.
Conde D`Aquila
pessoas. No dia seguinte, às duas da manhã o vapor colidiu de forma violenta com o San Lorenzo, no Largo de Cananeia, devido a má visibilidade. No naufrágio morreram 29 pessoas.
Laguna No dia 13 de dezembro de 1963, o cargueiro “Laguna” naufragou a 10 milhas da Ilha do Bom Abrigo. As condições do mar eram boas, como também a visibilidade. O motivo mais provável do ocorrido foi o excesso de carga. Foram embarcadas cerca de 725 toneladas de farinha de mandioca, em Imbituba, SC. Segundo relatos de jornais da época, o “Laguna;’ só poderia levar 399 toneladas. Seu destino era o porto Rio de Janeiro. A Armadora era de propriedade da Empresa de Comércio e Navegação
Entre os anos de 2000 e 2003, o Conde D’Áquila, naufragado em 1858, no antigo porto de Cananeia, as serviço do Império do Brasil, foi pesquisado e muito foi desvendado, pois, com o assombro do ocorrido, uma lenda se criou. Segundo a população que testemunhou o naufrágio, os tripulantes do Conde D’Ávila, quando passava por Cananeia, falaram que “se não tivessem carvão para as caldeiras, eles queimariam as pernas da imagem de São João Batista”. O Santo castigou os tripulantes e incendiou o navio que ali mesmo afundou. A hipótese da origem da lenda está no tipo da embarcação que era movida à vela e a vapor, uma novidade na época, e fugia do normal, do tradicional. Não podemos esquecer que Cananeia era tradicionalmente um local de construção naval, com 17 estaleiros. Os navios eram todos à vela e aquele navio, movido também a vapor, possuía uma tecnologia inovadora, o Conde D’Áquila era uma prova de “uma nova concepção tecnológica e que aquele tipo de navio só poderia ser reparado em grandes estaleiros”. Ou seja, Cananeia iria perder um grande mercado a partir do momento em que as embarcações a vapor substituíssem as movidas por vela, segundo Gilson Rambelli, pesquisador e arqueólogo subaquático. Outros naufrágios em Cananeia Ociania II - pesqueiro brasileiro naufragado em 1962. Elisa Sims - barca norte americana naufragada em 1891. Uma galera inglesa - naufragada em 1891, na Ilha do Cardoso. Perseverante - naufragado em 1931. Cananeia 17
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Museus
Do passado à modernidade Os museus possuem um objetivo primordial de preservar, conservar e transmitir a essência da formação estrutural de um povoado ou um determinado momento histórico e também amealhar, junto aos visitantes e estudantes, o interesse dos pontos críticos do conjunto dos patrimônios materiais e imateriais da temática escolhida. No caso do Museu Histórico Artístico Victor Sadowski, as especificidades estão claras e demonstram toda a preocupação nos quesitos aos quais objetivam. Podemos perceber que o Museu está abrigado em uma estrutura colonial, conferindo-lhe o aspecto histórico desde a sua edificação. A casa onde o acervo está devidamente exposto é um clássico da arquitetura colonial, construída com pedras, areia misturada com a cal e unida com o óleo de baleia. Esses recursos construtivos eram os mais utilizados devido a abundância das matérias primas locais. Eram construções resistentes às intempéries da região como ventos fortes, maresia, elevada umidade e chuvas torrenciais. O acervo, devidamente exposto, é uma mostra de peças resgatadas na região. Esses materiais, após grande reformulação museológica, estão dispostos cronologicamente a fim de facilitar 16 cidadeeecultura.com
a visualização e o entendimento dos períodos de ocupação do ser humano na região, o que transforma o Museu em um espaço didático e moderno. Além de peças de época e armamentos bélicos, o Museu conta com a sua principal atração: o tubarão-branco (fêmea), pescado em 1992, a 27 km da costa de Cananeia. O mais curioso é que este animal possuía cinco metros e meio de comprimento e pesava 3,5 toneladas, sendo o segundo maior da espécie já capturado por um ser humano. Em seu estômago foi encontrado, uma cabeça de tubarão-azul, outra de tubarão-baia, restos de tartarugas e um boto. Após sua captura, o tubarão foi taxidermizado e se tornou o primeiro tubarão-branco em exposição no mundo. E para pontuar a moderinização desse espaço foi criado o Centro de Exposição “J. Leandro Sobrinho”, idealizado por Guilherme Werneck e Antônio Carlos Rodrigues, onde está destinado a ações educativas e exposições de diversos artistas e eventos culturais. Fica aberto de terça a domingo das 10h às 18h. Contato: (13) 3851-1930. Onde: Rua Tristão Lobo, 78 – Centro.
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Conforto da alma
A HISTÓRIA DE CANANEIA É REPLETA DE LUTAS e domínio por personagens que chegaram aqui, não com o intuito de “domesticar” os índios. O relacionamento dos primeiros europeus que se estabeleceram na região, como o “Bacharel de Cananéia”, era de adaptação e cumplicidade com os nativos locais. Mesmo sendo escravizador, o “Bacharel” agia sozinho ou com a participação dos índios de sua aldeia. Não podemos nos esquecer que muitos brancos vindos da
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Europa no fim do século XV e início do século XVI haviam sido degredados por crimes políticos e, principalmente, religiosos contra a Santa Sé. Desta forma, Cananéia se destacou pela não participação religiosa na fundação do povoado que, somente mais de um século depois de criado, ergueu seu primeiro templo católico, no caso, a Igreja de São João Batista. Igreja Matriz São João Batista Calcula-se que a data da construção da Igreja de São João Batista tenha sido entre 1660 e 1680. Seu principal destaque é o estado de preservação do templo que, desde sua edificação tem sobrevivido ao tempo, além de não ter sido substituído por outro mais moderno. Obviamente, muitas reformas, até mesmo estruturais, foram feitas. Porém, o que temos hoje é um patrimônio histórico da mais alta relevância no quesitos religioso e histórico do litoral sul do Estado de São Paulo. Um outro ponto interessantíssimo dessa construção é a mostra clara da vulnerabilidade dos moradores da Vila
de Cananéia diante de ataques oriundos do mar, seja por piratas ou por dominadores, pois a igreja local, casa do Santíssimo, servia também para proteger e atacar os invasores que porventura chegassem até ali. Tanto é que podemos observar as seteiras ainda existentes, que serviam tanto para a entrada da pouca luz que recebia inicialmente, como também para ataques furtivos, pois na planta original, a igreja não possuía janelas. O templo também conserva a torre de sinos, as pias de água benta e as portas. A Universidade de São Paulo – USP pesquisou o local onde a Igreja de São João Batista foi construída, na Praça Martim Afonso de Souza, e chegou a algumas conclusões bastante interessantes, sob o ponto de vista arqueológico. Notadamente o local possui muitas camadas de ocupação, concluindo-se que, anteriormente à construção atual, havia outra edificação de pequena estrutura (9x4,5 metros), na qual em seu entorno foi encontrado um cemitério. Também foi encontrado um objeto, em forma de caveira, que poderia estar relacionado com uma espécie de culto aos mortos. Foram encontrados também pedaços de porcelanas e vidros.
Padroeiro São João Batista No tempo de Jesus, João Batista foi pregador e profeta. Judeu, possuía parentesco distante com Maria de Nazaré. Ele é considerado o arauto da vinda de Jesus. Batista pregava aos judeus e, em suas falas, colocava a moral e a retidão como pontos cruciais para a salvação, e os batizava como uma forma de purificação de suas almas. Foi em uma dessas pregações, na região de Pela que Jesus o encontrou as margens do Rio Jordão. Ali, Jesus se sentou e ouviu João, e aceitou ser batizado. Ao mergulhar Jesus na água, João disse: “Este é meu filho amado no qual ponho toda a minha complacência”. Na época, o Rei Herodes Antipas mandou prender João, tratando-o como líder revolucionário. Este ficou por quase um ano na prisão de Maqueronte (fortaleza na Jordânia), quando Salomé, filha de Herodes, pediu a cabeça de João em uma bandeja. O motivo, segundo o Novo Testamento, é que João Batista acusava Herodes de adultério. Assim foi feito. João Batista morreu decapitado aos 28 anos. João Batista está presente em várias religiões: no Espiritismo, como uma das encarnações de Allan Kardec; no Judaísmo, como o iniciador da revolução que ocasionou a queda do exército de Herodes; e no Islamismo, como um dos profetas citados por Maomé.
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Turismo Religioso
Nossa Senhora dos Navegantes Com o início da era das Grandes Navegações, quando os europeus, principalmente os portugueses e os espanhóis, começaram a explorar o oceano Atlântico, os destemidos desbravadores rogavam à Maria, Nossa Senhora, proteção dos perigos que poderiam encontrar. Esses navegadores temiam os monstros marinhos e as tempestades. Histórias com enredos assustadores chegavam aos portos, causando temor entre os que embarcavam nessas aventuras rumo ao desconhecido. Somente com muita coragem e fé conseguiriam vencer o medo e o distanciamento do porto seguro. Pedro 22 cidadeeecultura.com
Álvares Cabral trazia em sua nau a imagem da santa, também conhecida como Nossa Senhora da Boa Esperança. Louvor a Santa A padroeira de Cananéia não poderia ser mais simbólica que a Nossa Senhora dos Navegantes. Uma cidade que conseguiu se estabelecer sob os caprichos do mar e da fúria dos ventos, que sempre esteve voltada à pesca, à construção de embarcações e do oceano tirar seu sustento, consagra sua devoção em uma gigantesca demonstração de fé entre os dias oito e quinze de
agosto. A festa é preparada pelos festeiros e toda a comunidade participa, com muito entusiasmo, para que nessa data possam pedir e agradecer as muitas graças recebidas. As procissões passam pelas ruas e também pelo mar. Participam do louvor as comunidades de São João Batista, de São José Operário do Porto Cubatão, de Nossa Senhora Aparecida do Itapitangui, de São Francisco de Assis do Carijó, de São Paulo Bagre, do Morro São João Batista, de Nossa Senhora de Guadalupe do Acaraú, de São José de Registro, de Nossa Senhora da Conceição de Jacupiranga, de Sagrado Coração de Jesus e Barra do Turvo e de Sant’Ana de Iporanga.
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Lendas
Mistérios ao lado ENTRE A FERVOROSA CRENÇA EM DEUS e os mistérios da natureza, histórias macabras e sobrenaturais ficaram registradas no inconsciente dos que aqui chegaram e fixaram moradia. No isolamento e na tentativa de interpretar o desconhecido, figuras fantásticas surgiram e tomaram forma, fazendo parte do cotidiano dos cidadãos que as preservam, como a resgatar as memórias de seus antepassados. Mas não se iludam! muitas delas ainda estão à espreita e, a qualquer momento, você poderá encontrá-las! O Saci-pererê Através dos indígenas das missões do Sul surgiu a figura ilustre do Saci-pererê. Com o passar do tempo, a fama do Saci se espalhou por todos os cantos do Brasil. A personalidade desse personagem varia de região para região. Na maioria delas, ele é brincalhão e gosta de aprontar com os que o avistam. Vive nas 24 cidadeeecultura.com
matas e tem uma perna só, pois era lutador de capoeira e se machucou profundamente. Aqui em Cananéia, sua presença é marcante, principalmente no bairro do Rocio, onde suas travessuras podem ser vistas nas crinas dos cavalos que amanhecem trançadas, ou nos passeios noturnos, nos quais podemos escutar seus assobios. Mas não se engane! Se você ouvir o assovio perto é porque o danado está longe e se escutar algo ao longe é porque está ele bem perto. Há relatos de um pescador que, ao ouvir o Saci, o homem em sua canoa assobiava de volta, como quem quisesse brincar. Sem perceber, o tal pescador recebeu um soco na cara tão forte que até perdeu alguns dentes. Os mais descrentes diziam que não foi o Saci, e sim, um grande galho de árvore que o abateu! A Figueira Ela está ali, bem próxima aos transeuntes que cruzam
o centro da cidade. Tal figueira guarda um mistério. Dizem que seu coração é de pedra, pois germinou em meio a ruínas. Porém, há muitos e muitos anos, uma mulher que vestia sete saias de veludo morava no local da árvore. Essa mulher tinha poderes mágicos e seu destino era proteger um tesouro. Quando morreu continuou em sua sina. Abraçou a ruína, protegendo o tesouro da ganância humana. A Sereia O que seria das cidades litorâneas sem a presença das sereias? Pois é, aqui em Cananéia elas também aparecem. Alguns sitiantes e pescadores contam que na baía Trapandé, em uma noite de luar, uma linda sereia de cabelos longos e loiros foi vista no costão do Morro do São João. Para espanto do pescador, a sereia fez dois pedidos a ele: que trouxesse um pente e uma fita. E assim o fez. O pescador foi para a vila, na casa de um amigo, e contou-lhe sobre o ocorrido. Resoluto, seu amigo o aconselhou a matar a sereia, pois ela é feita de ouro. Dito isso, voltaram juntos ao costão. Para desconcerto do pescador, a bela figura não estava
mais lá. No entanto, os dois resolveram esperar. Não demorou muito e a sereia surgiu do mar e perguntou se o pente e a fita estavam com eles. Capciosos, os dois disseram que sim. De imediato um deles pegou a espingarda e atirou em direção a moça. Esta levantou os braços e gritou a maldição: Cananéia acabou! E sumiu nas águas do mar. Desencantados com a fuga da sereia, os dois amigos contaram o acontecido aos demais e até hoje essa fantástica figura continua aparecendo no costão do Morro do São João. O Pau da Onça São muitas as lendas que permeiam o imaginário dos habitantes da região de Cananéia. Umas são até fatos verídicos, como a história do Pau da Onça. Era o ano de 1795, uma época em que animais de grande porte eram abundantes e uma grande catástrofe aconteceu: o dilúvio do Mandira. Com a fúria das águas da chuva arrasando o povoado veio na enxurrada uma grande árvore descendo com a correnteza do rio. Agarrada a ela, uma onça pintada tentava fervorosamente não se afogar, porém, quis o destino que ela se afogasse no encontro com o mar... Cananeia 25
Arquitetura
Patrimônio histórico Cananeia guarda um patrimônio histórico arquitetônico de enorme relevância para história do Brasil em suas ruas e becos. Ainda na época da colonização, a cidade tinha uma localização estratégica e seu porto, além de abrigar estaleiros de construção, era importante local de reparo para as embarcações. Os minerais da região também eram escoados por aqui, seguindo para os portos de Iguapé ou Paranaguá. As construções tombadas pelo patrimônio histórico são do final do século XIX e início do século XX. São principalmente casas com fachadas de pedras entaipadas, feitas caracteristicamente com argamassa de areia e cal. A influência dos maçons também pode ser observada na arquitetura local, seja no retângulo áureo das janelas, nos pilares sobrepostos de alvenaria nas casas de esquina, ou nas cores branca e azul hortênsia. As janelas com os vidros para fora também nos remete aos padrões europeus da época do império. Detalhes dos telhados, nos quais se pode observar três camadas no acabamento, eira, beira e tribeira, ajudavam na distinção da classe social do proprietário do imóvel. Os que tinham três fileiras eram mais ricos. Os mais pobres tinham apenas uma. Dizem que foi daí que surgiu a expressão “Sem eira nem beira”. Para se observar com a devida atenção as nuances dos estilos e das construções, o melhor é deixar o carro estacionado e passear a pé pelo centro histórico e pelas praças da cidade. 26 cidadeeecultura.com
Workshop de Araquém Alcântara em 2018
Fotografia
Registrando
a natureza Não por acaso, a região vem chamando a atenção de renomados fotógrafos de natureza que realizam aqui workshops de fotografia para privilegiados alunos. É o caso de Araquém Alcântara, precursor da fotografia de natureza em nosso país e militante de causas ecológicas. Ele, em especial, possui uma relação muito estreita com toda a região do Lagamar. Seu primeiro livro de fotografia, Mar de Dentro, lançado na década de 90, já retratava toda a beleza do Lagamar. “Tenho um carinho imenso pela região. A Mata Atlântica sempre me fascinou; tenho muitos amigos lá, e a beleza e a importância desse berçário me contagia. Preocupam-me a sua preservação e os cuidados que a população local deve ter com o crescimento do turismo. Que ele seja pensado, sustentável e beneficie a todos”. Outro fotografo de natureza que se encantou com a “Maternidade do Atlântico” foi Ricardo Martins, editor de diversos livros do gênero, que planeja trazer seus alunos para a região para um workshop de cultura, história e meio ambiente.
Araquém Alcântara - O mestre mostra os caminhos
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Ricardo Martins ficou encantado com a fauna local.
E outras iniciativas de cunho fotográfico estão surgindo, como a de Maria Fernanda Carvalho, fotógrafa e moradora de Cananéia, que promoveu a “Vivência Fotográfica #Euamocananeia”, com o intuito de apresentar a biodiversidade do Lagamar para fotográfos (profissionais e amadores), biólogos e amantes da natureza. É claro que o resultado não poderia ter sido outro. Com experiência de quem fotografa a região há mais de 10 anos e com o conhecimento local dos melhores lugares para se visitar, o evento foi um sucesso!
Grupo de fotógrafos participantes do Workshop do Araquém
Cofoca - Coletivo Fotográfico de Cananéia Fotográfos de Cananéia se reuniram, há dois anos, para fundarem o Cofoca. A iniciativa partiu de Maria Fernanda, que resolveu criar um ambiente coletivo para compartilhamento das imagens dos amantes da fotografia da cidade. Com um grupo no WhatsApp, Facebook e conta no Instagram, o Cofoca vem atingindo os objetivos propostos e, mais do que isso, vem conseguindo reunir um grupo de amigos cada vez maior em eventos sociais de confraternização e trocas de ideias. Grupo Cofoca no facebook: Coletivo Fotográfico Cananeia No Instagram:@cofoca
Vivência Fotográfica - “EuamoCananeia”
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SILVANA S. BIANCHI
SILVANA S. BIANCHI
SILVANA S. BIANCHI
MARIA FERNANDA CARVALHO
Fotografia
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SILVANA S. BIANCHI
cofoca
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CLEBER KOUYOMDJIAN
MARCIO MASULINO
MARCIO MASULINO
SILVANA S. BIANCHI
MARCIO MASULINO MARIA FERNANDA CARVALHO
Imagem
Comunidades Tradicionais
Tradiçþes
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que encantam
DEPOIS DE MUITOS ANOS DE ESTUDOS, conhecimentos antropológicos, considerações ao uso do solo e extração de recursos naturais, definições de direitos e deveres e, principalmente, o entendimento da relevância das culturas tradicionais, hoje temos um quadro favorável, além de um amadurecimento na continuação e preservação dos hábitos e costumes dos núcleos onde residem os antigos moradores locais, caiçaras, quilombolas e indígenas. Esses, além de terem garantias quanto ao seu futuro, geram importante fonte de renda ao município nas áreas educativas e turísticas. Vale ressaltar que tal amadurecimento foi conquistado com muito suor nas várias tentativas de conciliar conflitos existentes há décadas, como a exploração imobiliária, a preservação ambiental, os costumes
migratórios indígenas, as atividades extrativistas e a pesca predatória. Colocando tudo isso em um caldeirão de interesses, chegou-se a um consenso definitivo onde todos saíram ganhando, principalmente os que vão às essas localidades e podem desfrutar de dias diferenciados e ricos em conhecimento. Cananéia é um grande laboratório dessas experiências descritas acima, pois conseguiu fazer com que todos os conflitos fossem atenuados e as afinidades e interesses fossem consolidados, sendo desta forma um local que se transformou em um grande berço de atividades antropológicas e viu o seu turismo ecológico e educativo aumentar de forma significativa. Na parte seguinte mencionaremos algumas comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras estabelecidas.
Cananeia 35
Comunidades Tradicionais Imigração
Aldeias indígenas AS TRÊS ALDEIAS INDÍGENAS Que encontramos em Cananeia são de origem Guarani M’Bya. Também conhecidos como embiás, os M’Bya fazem parte do povo guarani e povoam o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. De cultura riquíssima, preservam rituais muito bonitos e fundamentais para a continuidade nas próximas gerações, como: o Batismo das Crianças, momento em que elas recebem seus nomes indígenas; Batismo das Ervas, para fortalecer os laços espirituais; o Natal; e o Ano Novo que é comemorado no mês de agosto. Seu Deus se chama Nhanderu e o arauto está na figura do Pajé que transmite os conhecimentos espirituais e medicinais, e a “Lei da Natureza” que preconiza a preservação e o respeito, para toda a tribo. Acreditam nos significados dos sonhos; extraem da natureza o sustento; têm o milho e a mandioca como seus principais produtos agrícolas; fazem lindos trabalhos artesanais com cabaças, penas, sementes, madeira e outros que possuem significados sagrados como o chocalho. Já o Turismo Educativo e o Turismo Ecológico estão proporcionando experiências ímpares, tanto para os próprios índios, tanto para os Juruás, assim chamados os não índios. São elas: Aldeia Takuary-Ty Onde: Bairro Acaraú. Pakuri-ty Onde: Ilha do Cardoso. Tapy-i Onde: Bairro de Rio Branco.
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Artesanato
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Cacique AbĂlio
Cananeia 37
Comunidades Tradicionais Imigração
Quilombo do Mandira ESTABELECIDOS AQUI DEDE 1868, hoje, moram 24 famílias, com cerca de 100 pessoas e sua área compreende 1.200 hectares. Sua história remete a Francisco Mandira que recebeu o Sítio Mandira como doação, no século XIX. Sabe-se que Francisco era filho de Antônio Florêncio de Andrade e uma escrava. Segundo consta, a doadora das terras foi sua meia irmã Celestina Benícia de Andrade. As principais atividades são a pesca, o artesanato, o ecoturismo, a extração de caranguejo e o cultivo de ostras. Aqui, podemos conhecer a Casa de Farinha, local de fabrico da farinha de mandioca, ingrediente fundamental da gastronomia dos índios e dos caiçaras. Outros atrativos são as festas como a Festa de Santo Antônio, a Festa da Ostra de
Mandira e a Festa Unidos Pela Cana, além da cachoeira do Mandira. A ostra de Cananeia, considerada por grandes chefs da cozinha internacional, como a mais saborosa do país, tem aqui no Quilombo um dos melhores pontos para sua degustação. É daqui também que sai o passeio de barco para se conhecer o local onde elas são mantidas, após colhidas no meio do mangue, para se desenvolverem e estarem prontas para o consumo na época certa. Passeio obrigatório para quem visita a cidade, não só para comer a melhor ostra do Brasil, direto do produtor, mas se enriquecer com a cultura quilombolo. Onde: Estrada Municipal Colônia da Santa Mandira, 2.
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Comunidades Tradicionais Imigração
Comunidades Caiçaras O povo caiçara é o resultado da mistura de índios, europeus e negros. Essa brava gente se destaca em seus hábitos peculiares, nos solos arenosos e muitas vezes pobres, além da intimidade que tem com o mar. São denominados “caiçaras” os que se fixaram no litoral dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Apesar de a colonização brasileira ter começado pelo litoral, as condições climáticas eram obstáculos quase que insuperáveis pela falta de estrutura e abrigos locais. Foi preciso muita determinação e adaptação para que pudessem superar todos os infortúnios. Para tal superação ser alcançada, os conhecimentos ancestrais de índios, negros e europeus conseguiram, aos poucos, criar harmonia e um desenvolvimento econômico e social razoável, que favoreceu o estabelecimento definitivo na região. A cultura caiçara está impregnada em muitas vertentes sociais, tais como no linguajar, na gastronomia, no modo de pesca, nos produtos agrícolas, na arquitetura e na religiosidade. Com o passar dos anos, o aumento de pessoas de outras culturas, a especulação imobiliária e a evolução social, fizeram com que as legítimas comunidades caiçaras se espremessem em recantos onde ainda podem viver como no passado, salvo o uso de tecnologias fundamentais indispensáveis para os ajustes evolutivos. Cananéia abriga a maior parte dessas comunidades, principalmente na Ilha do Cardoso que, na qualidade de Parque Estadual, conseguiu preservar o ambiente natural dos caiçaras. Nessas comunidades temos a oportunidade de nos hospedarmos e passarmos dias vivenciando sua cultura singular e entendendo suas dificuldades e crenças. Todas as comunidades estão localizadas na Ilha do Cardoso: 40 cidadeeecultura.com
Tradicional corrida de canoas que acontece todos os anos
Tarrafa caiçara
Comunidade do Marujá Vila Rápida Enseada da Baleia Pontal de Leste Camboriú Foles Pereirinha Itacuruçá
Pescadores artesanais se espalham pelo grandioso Lagamar
Os golfinhos se beneficiam do cerco e os pescadores da sua presença
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Meio Ambiente
Maternidade do Atlântico
MARCIO MASULINO
Lagamar – Cananéia
Meio Ambiente
AS PECULIARIDADES GEOGRÁFICAS DE CANANÉIA FAZEM da região um local ímpar, onde vários ecossistemas se interligam harmoniosamente. Um ponto de destaque está na conscientização da população, dos visitantes e das autoridades públicas, pois sabedoras do potencial que esta preservação oferece ao município, reconhecem a rentabilidade econômica que somente turismo sustentável proporciona.
Ilha do Cardoso – Cananéia
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Parque Estadual do Lagamar de Cananeia - PELC Criado em 2008, o Parque Estadual do Lagamar de Cananéia, junto com outras 13 Unidades de Conservação, perfaz um total de uma área com mais de quarenta mil hectares, toda ela no litoral sul do estado de São Paulo. A área que compreende Cananéia forma um complexo estuarino considerado o maior berçário de espécies marinhas do Atlântico Sul, além de ter sido reconhecido pela UNESCO como Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade. Com a formação do parque, vários objetivos devem ser alcançados. Dentre eles: a preservação dos ecossistemas, da diversidade genética, a realização de pesquisas científicas, a educação ambiental e atividades ecoturísticas. Onde: Avenida Professor Wladimir Besnard, s/n° (13) 3851-1163.
Ecossistemas A razão de Cananéia ser de extrema relevância ao meio ambiente está na quantidade de ecossistemas que a integram. Aqui podemos observar e desfrutar de manguezais, praias, estuários, rios, planícies,
montanhas verdejantes, dunas, costões rochosos, braços de mar, planície litorânea, restingas, lagunas e barras. É impossível não se deslumbrar com tamanha oferta de belezas naturais e, porque não dizer, com um aprendizado tão amplo.
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Meio Ambiente
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Dunas de Araçá – Ilha Comprida
Manguezais O fato de Cananéia ser considerada o berçário do Atlântico Sul se dá por conta da quantidade de manguezais preservados. O mangue, por sua formação, é o local perfeito para várias espécies de peixes fazerem a desova. Apesar de sua aparência lodosa e seu odor muitas vezes desagradável, o solo desse ecossistema é composto de grande quantidade de material orgânico em decomposição oriundo do continente e despejado em suas águas salobras. Esse material orgânico é a base da cadeia alimentar de muitos peixes e crustáceos, como o caranguejo. A abundância desses peixes e crustáceos, por sua vez, atrai muitas aves. Outra característica marcante dos manguezais são suas árvores. Como o solo é pobre em oxigênio, suas raízes são aéreas e, no período da cheia, se transformam em um importante abrigo para os ovos dos peixes. Essas raízes são denominadas de halófilas e as principais espécies são o mangue-vermelho, o manguebranco, o mangue-preto e o mangue-abaneiro, entre outras. A importância dos manguezais é tanta que, na legislação brasileira, quase 100% deles são considerados áreas de preservação ambiental. Como Cananéia está repleta deles, a região é riquíssima em fauna marítima, oferecendo espetáculos significativos aos nativos e aos visitantes. Restinga Outro ecossistema importantíssimo na preservação da fauna e flora locais é a restinga. Esse bioma da mata Atlântica é caracterizado por ser uma área de influência marinha. Aqui, a formação de dunas é constante. A vegetação típica da região inclui samambaias, bromélias, orquídeas e o interessante jundu. Esses exemplares possuem raízes fixadas em solo arenoso e salino. Desta forma, tais raízes são fortes e apresentam caules muito duros.
Cananeia 47
Jaguatirica
RICARDO MARTINS
Meio Ambiente
Caxinguelê
TATYANA ANDRADE
FAUNA AQUI ESTÁ ABRIGADO O MICO-LEÃO-DE-CARA-PRETA, espécie endêmica da mata Atlântica, que corre sério risco de extinção. Outros animais compõem o cenário paradisíaco da região, na qual se encontram o jacaré-do-papo-amarelo, o bugio, o morcego, o mono-carvoeiro, a cuíca-d’água, o veado mateiro, a lontra, a paca e a cobra d’água, entre outros. Já a fauna marinha é repleta de espécies muito conhecidas por nós, tais como a tainha, o robalo, a anchova, o cação, o sargento, o linguado, o namorado, a garoupa, a pescada, o pargo e a sardinha. Além deles, podemos encontrar também a baleia jubarte, o golfinho-bico-de-garrafa, o pinguim, a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-verde, a tartaruga-de-pente, a tartaruga-oliva, a tartaruga-de-couro, as águas-vivas, as caravelas, as ostras, os camarões e os caranguejos. No caso dos pescados, Macaco-prego
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Veado
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RICARDO MARTINS
SHUTTERSTOCK - VITOR MARIGO
Tatu-canastra
Caranguejo
é importante respeitar as épocas do defeso, que cumpre seu papel na preservação das espécies marinhas, conservando-as para que tamanho espetáculo nunca acabe. Macacos bugio e monocarvoeiro – barulhentos e bagunceiros, tais macacos encontram farta alimentação e ambientes propícios para a reprodução. Em meio à mata Atlântica não é raro avistarmos esses moradores. Veado-mateiro – esse lindo cervo pode ser encontrado nas matas de Cananéia. Esperto e arisco, o veado-mateiro chama a atenção por sua bela postura. Aqui encontra fartura de alimentos e refúgio. Não está catalogado como espécie em extinção, mas como vulnerável. Cobra-d’água – essa linda cobra varia de cor, dependendo do local onde habita. No caso do litoral, sua cor é amarelada. Dócil, se afasta quando ameaçada. Alimenta-se de peixes e anfíbios.
Jacaré-do-papo-amarelo – o caiman latirostris, é uma das estrelas da região de Cananeia e está no topo da cadeia alimentar. Sua presença é um grande indicativo de áreas não degradadas, porém ainda é alvo da caça predatória. Apesar da incidência alta, o jacaré-de-papo-amarelo ainda está na lista, mesmo com risco baixo, de animais em extinção. Vários estudos foram feitos e, na maior parte dos avistamentos, se encontraram em áreas de mangue.
Tartaruga-verde – vive nas costas tropicais e subtropicais e se alimenta de plantas marinhas. É muito comum avistá-la próxima aos costões rochosos que acumulam algas. Baleia-jubarte – esse magnífico cetáceo, que pode alcançar até 16 metros de comprimento, nos brinda com sua presença no inverno e primavera, época da reprodução. Com o fim da caça predatória, a cada ano mais e mais exemplares visitam a região. Sardinha – o nome “sardinha” é uma referência à Sardenha, local com abundância desta espécie de peixe. Rica em ômega 3, é um dos principais pescados da região. Água-viva – apesar de ser linda, a água viva ou medusa, é extremamente perigosa pois seus filos possuem toxinas, normalmente utilizadas para a defesa e a captura de presas. Cananeia 49
Meio Ambiente
Caxinguelê
A beleza e simpatia dos O QUE NÃO FALTA EM CANANEIA são atrativos naturais, mas um deles chama a atenção de todos, principalmente das crianças, os charmosos golfinhos. Mamíferos da ordem dos cetáceos se espalham por quase todo o meio ambiente marinho do planeta, com exceção dos polos. Aqui, no Lagamar, a espécie encontrada é a do boto-cinza (sotalia guianensis). A nomeclatura do boto ou golfinho depende da região do país, mas é uma diferença apenas de denominação. Eles encontram na região um local propício para o desenvolvimento da espécie. A costa e o estuário os protegem de predadores ao mesmo tempo que fornece uma quantidade enorme de alimento, como peixes, polvos, camarões e lulas. Aqui, após uma gestação de 11 meses, criam seus filhotes que nascem com aproximadamente 1 metro, chegando a fase adulta com 2,10 metros em média. Os filhotes passam de 3 a 8 anos sendo orientados pela mãe. Mas, no período de um anos após o nascimento do filhote ela engravida novamente, gerando assim, de dois em dois anos, novas crias. Cabe salientar que os golfinhos, além de extremamente inteligentes, possuem uma consciência de grupo muito grande e sempre socorrem quem se machuca ou ado50 cidadeeecultura.com
Golfinhos
ece. Normalmente também caçam e se defendem em grupos, como no caso de ataques de tubarão que, por meio de inúmeras “cabeçadas”, afugentam o predador. Sua respiração, como todo mamífero, é pulmonar e por este motivo precisam subir para a superfície respirar. Ao invés do “nariz” possuem o espiráculo, um orifício no meio da cabeça que desempenha essa função.
Observação de Golfinhos Um dos atrativos mais procurados pelos turistas é a observação dos botos. Claro que por ser uma atividade realizada na natureza não se pode garantir que eles apareçam na hora que os observadores querem... mas eles aparecem! Guiado pelos monitores locais, os turistas são levados à pontos estratégicos onde eles aparecem com frequência como no canal entre Ilha Comprida e Ilha do Cardoso, onde a água do mar encontra a água do estuário. O local, não por acaso, é chamado de Baía dos Golfinhos. Eles aproveitam os movimentos da maré e o consequente deslocamento dos peixes para facilitar a busca
Ameaça e Preocupação Para variar um pouco, a preocupação com a preservação da espécie está ligada ao comportamento humano! A degradação do meio ambiente, a poluição sonora, aos acidentes com barcos e jet sky e capturas acidentais em rede de pesca. Nós, do projeto CidadeeCultura, somos a favor da proibição de jet sky em toda a região do Lagamar e regras e punições severas para todos que insistem em não respeitarem esse verdadeiro santuário ecológico.
Curiosidades
- Os botos não dormem! - Esta espécie dedica mais de 90% do seu tempo buscando alimento ou se alimentando. - Tanto os machos quanto as fêmeas chegam a viver por 30 anos. - Os botos se utilizam dos cercos (armadilhas artesanais feitas pelos caiçaras) para encurralarem os peixes. O que na prática, ajuda também os pescadores porque muitos deles acabam entrando no cerco. - Orcas, não são baleias, são da família dos golfinhos e chegam a atingir 10 metros de comprimento.
TATYANA ANDRADE
por alimento. Neste local você pode observá-los nos passeios de barco, da praia do Pereirinha na Ilha do Cardoso, ou da Trilha da Trincheira, ponta da praia do Boqueirão Sul, em Ilha Comprida. Mas isso pode variar conforme a estação do ano e é no inverno, com a água mais salina, que eles se espalham por todo o Lagamar. O boto cinza não salta tanto para a fora da água como a espécie rotador encontrada em Fernando de Noronha, mas mesmo assim você pode observar alguns saltos em função do mergulho para pegar peixes ou das brincadeiras do filhotes.
Cananeia 51
Meio Ambiente
Cores que voam AS MAIS DE 430 ESPÉCIES DE AVES são outro atrativo natural que Cananeia oferece. Além dos voos rasantes, com uma oferta generosa de peixes e outros petiscos, podemos observá-las se alimentando, procriando e, muitas vezes, interagindo com seus observadores. É comum vermos a garça-brancagrande, o atobá, o colhereiro, o papagaio-da-cara-roxa, a fragata, a gaivota, o carcará, a harpia, o sabiá-cica, o jaó-do-litoral, a jacutinga, a araponga, o jacu, entre outras aves. Toda essa diversidade se dá pelo simples fato da preservação das matas e dos manguezais de Cananéia. O Lagamar, além de ser refúgio de peixes 52 cidadeeecultura.com
e crustáceos também é um chamariz de aves, devido à fartura de alimento disponível. Além das aves que se aproveitam da abundância do Lagamar, a mata preservada abriga espécies menores que se alimentam de frutos, insetos e larvas contidas nas árvores que compõem a mata Atlântica. O colorido intenso desses animais salpica o verde denso da floresta e fazem a alegria dos observadores de pássaros que vêm aqui desfrutar desse espetáculo natural que somente áreas preservadas têm o privilégio de oferecer. Com o intuito de conscientizar os visitantes e moradores, muitos projetos são realizados para a preservação desse relevante ecossistema.
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Meio Ambiente
Meio Ambiente
FLORA ABAIXO DOS JEQUITIBÁS, jatobás, canelas, cedros, manacás-da-serra, guanandis, guapuruvus, palmeiras, temos um solo rico em nutrientes devido à grande quantidade de folhas, restos de animais e troncos de árvores caídos que, lentamente, se transformam em material orgânico de excelente qualidade. Não podemos nos esquecer de que, na Serra do Mar, o solo contém uma fina camada desses materiais orgânicos. Dada a grande quantidade de chuva, esse é um solo instável. É comum nas trilhas pisarmos em montanhas de folhas caídas e avistarmos muitos cogumelos, que são decompositores das matas. Nos troncos e galhos, em formas e cores quase infinitas, temos as orquídeas típicas locais, assim como as bromélias, que acumulam água da chuva e é onde
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os animais bebem. Muito comum e perigoso é o capim-navalha, que corta os braços dos menos avisados. As flores também dão um show à parte, como a delicada mariasem-vergonha e a vistosa helicônia. São mais de 1.200 tipos de plantas catalogadas ao longo da costa do litoral paulista, e é impossível descrever todas elas. Desta forma, a sugestão é sairmos do lugarcomum e, com o auxílio de um guia especializado, conhecermos esse magnífico mundo que está ao alcance de todos. Cananeia 57
Meio Ambiente
Cachoeira Rio das Minas
Cachoeiras Com uma natureza exuberante e relevo acidentado, Cananéia possui várias cachoeiras de tirar o fôlego. Vale ressaltar que para chegar a todas elas, informamos que guias estão disponíveis para fazer do seu passeio uma grande aventura. No continente ou em área insular, os visitantes podem desfrutar de várias horas de puro deleite ao tomarem banhos revigorantes nas águas límpidas desses espetáculos naturais. 58 cidadeeecultura.com
O Roteiro das Cachoeiras é composto por quatro cachoeiras na área continental. São elas: Cachoeira do Pitu – é a mais frequentada, com piscina natural e infraestrutura para lanches e piqueniques, além de banheiros. Cachoeira do Mandira – em época de chuvas, o volume de água é intenso e a correnteza é forte. Aqui podemos ver muitos animais, tais como quatis, tamanduás, cotias e cobras, entre outros. Por isso é importante tomar
Cachoeira Grande - Ilha do Cardoso
certos cuidados, como fazermos uso de botas. É situada bem próxima a comunidade quilombola do Mandira. Cachoeira do Encanto – situada em propriedade particular, aqui é possível almoçar pratos feitos com produtos produzidos no local. Cachoeira Rio das Minas – não é um lugar ideal para crianças, pois é a mais selvagem de todas. Está em propriedade particular e há uma pequena taxa de entrada. É considerada a mais bela do Vale do Ribeira.
A Ilha do Cardoso possui duas cachoeiras acessíveis e maravilhosas, em lugares repletos de culturas típicas. São elas: Cachoeira Grande – localizada na Ilha do Cardoso, próxima à praia do Marujá. Pode ser acessada por meio de embarcações que fazem os passeios náuticos da Ilha. Cachoeira do Ipanema - também situada na Ilha do Cardoso, está no caminho do poço das Antas, lugar de para descanso em meio a bela natureza. Cananeia 59
Ilha do Cardoso
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Preservado
Ilha do Cardoso
As ilhas despertam em todas as pessoas um grande fascínio. Algumas são pequenos pontos de terra em meio à vastidão do oceano, outras, são tão grandes que, muitas vezes, não nos damos conta de que estamos mesmo dentro delas. No entanto, não importa o tamanho ou os atrativos que as compõem. Todas
são lindas e exuberantes. Como podemos observar, Cananeia é um município salpicado de ilhas, inclusive a sede do próprio município é também uma ilha separada do continente por vários canais que, juntos com a foz de vários rios, formam o que chamamos de “Lagamar”. Cananeia está situada em uma região de mangue, a qual é um dos principais do litoral brasileiro, devido a sua preservação, além de ser considerada o maior criador de espécies marinhas do Atlântico Sul. Além da ilha sede, temos outras, como a do Camboriú, Filhote e a do Pai do Mato, e outras mais conhecidas. Há ainda muito a ser desbravado, como demonstraremos em seguida: Ilha do Cardoso É a maior e com mais diversidade e atrativos. Além de ser um parque estadual, nela existem várias comunidades de pescadores e indígenas, sítios arqueológicos (sambaquis), trilhas, cachoeiras, praias e costões rochosos, entre outros. Não há carros e a energia elétrica provém apenas de geradores. Campings e casas de pescadores estão disponíveis para acomodar os aventureiros. Agências fornecem
guias e embarcações para o transporte. O lado voltado para o Canal de Ararapira e a Baía de Trapandé é rico em manguezais e as praias estão voltadas para o leste. Aqui, você precisará de alguns dias para conhecer, pois, além da área ser grande, os recantos são maravilhosos! Parque Estadual ilha do Cardoso O Parque Estadual da Ilha do Cardoso foi criado em 1962. Aqui se situam comunidades de influência indígena, formadas por pescadores. Além da pesca, o sustento dessas comunidades vem do turismo, atualmente bastante desenvolvido. Essa área é rica em sítios arqueológicos, como os sambaquis e ruínas coloniais. São 113 mil hectares de vegetação de Mata Atlântica com enorme diversidade biológica, com mais de mil espécies de plantas e animais em extinção, tais como o jacaré-do-papo-amarelo e o papagaio-de-cara-roxa.
A ocupação humana na Ilha do Cardoso remonta aos primórdios da civilização humana no continente americano. Como mencionado anteriormente, sambaquis foram encontrados, sendo o de Grambiú Grande considerado o mais antigo do Brasil. Posteriormente vieram os índios que visitavam a ilha apenas para a caça e a pesca, não se fixando no local. Com a chegada dos colonos portugueses, suas matas foram exploradas.
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Ilha do Cardoso
Praias da Ilha do Cardoso Camboriú Excelente para a prática do mergulho. No entanto, seu acesso é feito por barcos. Itacuruçá Situada na boca da saída do Lagamar, também é chamada de praia do Perigo, pois aqui muitas embarcações sofrem acidentes, devido à instabilidade do leito, composto de inúmeros bancos de areia. É nessa praia que está o Marco do Tratado de Tordesilhas, que dividia os territórios da região entre Portugal e Espanha. Praia do Pereirinha Também situada no Lagamar, suas águas são mais agitadas e sua areia é claríssima. Praia Kayan Selvagem e de águas calmas, com acesso apenas através de trilhas. Praia da Laje Por trilha, saindo da comunidade do Marujá, caminha-se cerca de 1,5 km, parte em costão rochoso. Sua extensão é de 7 km de pura tranquilidade, já que essa praia é praticamente deserta.
Ainda assim, eles deixaram boa parte dela preservada. Ao longo dos séculos, moradores passaram a encontrar na Ilha um refúgio perfeito, principalmente para a pesca. Deu-se a criação de várias vilas que, até os dias atuais, são acessadas apenas por embarcações ou por meio de trilhas. Essas vilas, essencialmente de pescadores e pequenos agricultores, foram em certa medida protagonistas da economia local. Um exemplo claro disso está na maricultura, ou seja, na criação de ostras, que gera empregos e fornece condições estruturais para as famílias envolvidas nesse negócio. O tombamento da Ilha do Cardoso como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO é justo, devido à sua beleza natural e pelos projetos sustentáveis implantados pelas comunidades locais.
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Praia do Marujá Localizada na Comunidade do Marujá, você pode pernoitar na casa de pescadores e aproveitar essa praia que possui 18 km de extensão. Excelente para caminhadas diurnas e noturnas, já que a areia é firme e plana. Praia do Ipanema Um paraíso dos amantes do mergulho por suas águas calmas. Destaque para a piscina natural e a trilha que leva à cacheira do Ipanema. Praia de Foles Saindo da praia de Camburiú, através de uma trilha de cerca de dez minutos, você chegará à praia de Foles. A praia de Foles é dividida entre Foles Pequena e Foles Grande. Aqui encontramos piscinas naturais, nascentes de água e até outra praia, a da Baleia, que só aparece na maré baixa. Sem dúvida, um lugar lindo!
Outras ilhas Bom Abrigo Um lugar cheio de história e muitas belezas naturais. Situada na entrada da Barra do Mar de Cananéia, essa ilha recebeu tal nome por ser perfeita para que embarcações nela se protejam das tempestades. Aqui, podemos mergulhar, tomar banho de cachoeira e conhecer o farol do Bom Abrigo, construído em 1886. Nas idas e vindas dos navios que tinham como objetivo explorar o Rio da Prata, um dos locais para abastecimento de água e madeira era justamente aqui. Devido a isso, no fundo de suas águas circundantes é possível acharmos muito objetos caídos ou jogados de tais embarcações, tais como garrafas, cachimbos, pratos e até armas. É um verdadeiro sítio arqueológico. Em 1760 também foi local de uma armação de baleia, onde todo o óleo era destinado à iluminação e à construção para as vilas vizinhas. A praia é pequena e suas águas são calmas. Castilho Essa ilha é um excelente local para mergulho. A ida de
balsa demora, em média, 4 horas. Figueira Formada por paredões de pedras vulcânicas, é local para aves migratórias e ponto de ninhos. Casca Local do cultivo das famosas ostras de Cananéia. Está localizada entre o continente e a Ilha do Cardoso. Bom Abrigo, construído em 1886. Nas idas e vindas dos navios que tinham como objetivo explorar o Rio da Prata, um dos locais para abastecimento de água e madeira, era justamente aqui. Então, no fundo de suas águas circundantes é possível acharmos muito objetos caídos ou jogados dessas embarcações, como garrafas, cachimbos, pratos e até armas. Um verdadeiro sítio arqueológico. Também foi local , em 1760, de uma armação de baleia, onde todo o óleo era destinado à iluminação e à construção para as vilas vizinhas. A praia é pequena e suas águas são calmas. Cananeia 65
Ariri
Vila do Ariri
Uma fronteira disputada NÃO PODEMOS FALAR DA VILA DO ARIRI sem antes mencionarmos a história de Ararapira. A Vila do Ariri atualmente é um distrito da cidade de Cananéia, porém, já pertenceu ao distrito de Ararapira (criado em 1709), em Guaraqueçaba, estado do Paraná. A história da vila São José do Ararapira remonta ao período em que o Marquês de Pombal (1699 – 1782) incentivou o desenvolvimento do então Brasil Colônia. Ararapira foi um típico exemplo urbano das regras impostas pelo Marquês. Ararapira foi citada por Hans Staden em seu livro “Duas Viagens ao Brasil”, e pelo padre jesuíta José de Anchieta em suas famosas cartas, que a descreve como um caminho para o Paraguai, ainda no século XVI. Por sua localização estratégica, a Vila de São José se desenvolveu e chegou a abrigar 500 famílias. Possuía um comércio considerável e era famosa por suas festas religiosas. Com a construção de estradas que ligam São Paulo à Curitiba, o tráfego 66 cidadeeecultura.com
de pessoas diminuiu severamente, além da elevação da maré, que vem constantemente engolindo parte do que restou da vila, em consequência seu total abandono.
Culinária caiçara com paisagens paradisíacas
de essa época, o prédio da escola em Ariri ainda se encontra de pé. Hoje, a Vila do Ariri prima por ser um dos recantos mais bonitos do litoral paulista, devido à sua natureza espetacular. Trilhas, passeios de barco, cachoeiras e a Mata Atlântica dão o tom especial para aqueles que amam história e natureza. Sua infraestrutura é boa para os visitantes, com restaurantes e pousadas.
Uma separação nada pacífica Sem um consenso entre Paraná e São Paulo sobre a parte terrestre que faria a divisa entre os estados, o Governo Federal, interveio em 1920, de forma a acabar com as disputas intermináveis entre ambos estados. Foram fixados marcos e limites municipais. Com tal intervenção ficou estabelecido que a linha divisória seria fosse a partir do litoral dos dois estados, onde a Vila Ararapira, então pertencente a Cananéia, passou a compor o município de Guaraqueçaba, no Paraná. Os moradores de Ararapira, paulistas por nascimento, se revoltaram e comoveram as autoridades. Por causa disso foi criado o distrito do Ariri, do outro lado do Canal do Varadouro, para que os desgostosos se mudassem. Para que isso pudesse ocorrer, na nova vila foram construídos um colégio, uma cadeia, um cartório e um tabelionato, além de ser empregue a Força Pública para manter a ordem e realmente definir cada território. Des-
A capela de São José da Marinha, erguida em 1767, é o marco histórico do primeiro povoado do estado do Paraná, situada na Vila de Ararapira. Hoje, poucas pessoas habitam a vila e seus espaços são utilizados em eventos religiosos festivos. Turistas são atraídos pelas ruínas, decorrentes do avanço do mar e do abandono dos antigos moradores, e pelas belas paisagens que podem ser vistas do local.
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MÁRCIO MASULINO
Aromas & Sabores
Delícias carregadas
de tradição
UMA DAS MELHORES COISAS QUE DEVEMOS CONHECER em um lugar é sua maneira de preparar alimentos e os ingredientes de seus pratos. A matéria prima de pratos típicos revela um conhecimento primordial de experimentos, tentativas, erros e acertos. São misturas de coletas na mata e no mar que deram origem a variados pratos, que vão desde os gostosos aos pratos mais exóticos. Em Cananeia isso não é diferente. Aqui, encontramos muitos ingredientes combinado e uma química maravilhosa. Vamos mostrar algumas para que quando você vier aqui não esquecer de saboreá-las!
A banana Todo o Litoral Sul do Estado de São Paulo foi e ainda é um grande polo de produção da banana. Grandes fortunas foram feitas por meio desse cultivo. Tais frutas eram exportadas para a Europa e os Estados Unidos, via porto de Santos. Ao caminharmos nessa região, avistamos várias plantações. Dessa forma, a banana é um dos ingredientes fundamentais da culinária caiçara. Ela pode ser servida crua, frita, 68 cidadeeecultura.com
assada, cozida, utilizada em pratos salgados e na fabricação de doces. A criatividade é infinita no uso dessa deliciosa fruta e em Cananéia podemos experimentar o patê de banana! Sim, patê de banana. Para o preparo do patê, é usada a banana verde, que ainda não está tão doce e com bolachas e torradas, fica uma delícia. Além do patê, a quantidade de doces feita revela a importância para a economia local dessa fruta amada por todos.
A pitanga Fruta brasileira, nativa da Mata Atlântica, de sabor exótico, a pitanga é muito utilizada pelas caiçaras “in natura”, em doces, licores e tortas. Sua árvore, a pitangueira, está na maioria dos quintais, pois sua reprodução espontânea a torna muito comum.
A cataia Muito utilizada como planta medicinal pelas caiçaras, hoje é ingrediente da bebida denominada como cachaça caiçara ou uísque caiçara. O uso da cataia na cachaça começou há mais de 35 anos por iniciativa do produtor Selmo Bernardo. A bebida foi tão bem aceita que é conhecidíssima em todo o litoral norte do Paraná e no Vale do Ribeira. Selmo ainda adiciona, em outra versão, o mel, que confere um sabor adocicado à bebida.
A cana-de-açucar
O palmito O Litoral Sul do estado de São Paulo é rico em palmeiras como a do palmito-juçara. Com o passar dos séculos, o extrativismo do palmito-juçara fez sua produção diminuir radicalmente, devido à morte da palmeira quando da retirada de seu “miolo”. Hoje, a produção de palmito voltou-se ao originário da Amazônia, o palmito-pupunha. Dessa forma, encontramos quem o utilize em receitas que se tornaram famosas em Cananéia como a Torta de Palmito da Suzete. Produtora rural, Suzete prepara seus quitutes com ingredientes oriundos de seu sítio onde florescem os palmiteiros.
Desde o início da colonização, a cana-de-açúcar foi intensamente explorada nas cidades litorâneas brasileiras. Trazida pelos portugueses da Ilha da Madeira, seu cultivo se tornou, nos séculos XVI e XVII, o grande produto de exportação da colônia. Engenhos espalharam-se na costa e índios foram escravizados como mão de obra. Mais tarde africanos viraram a força motriz desse ciclo econômico. Portanto, a cana-de-açúcar é também um ingrediente fundamental na culinária caiçara, tanto no fabrico do açúcar, que é utilizado em doces, como na produção da cachaça. Porém, outro elemento encontrado fartamente nessas cidades é a garapa. Fortificante natural que fez um casamento perfeito com o pastel. Nada mais clássico que comer um pastel de palmito acompanhado de uma garapa. Depois do almoço, que tal experimentar uma cachaça com jabuticaba ou capitiú? Quando o assunto é cachaça, frutas imersas no líquido dão o toque da diversidade da bebida brasileira mais famosa no mundo. Cananeia 69
Aromas & Sabores
Ostras de Cananeia As comunidades de Mandira, Ilha da Casca, Itapitangui e Retiro, após pesquisas e introdução do cultivo da ostra pelo Instituto de Pesca, vem produzindo ostras de excelente qualidade, já conhecidas dos grandes chefs e dos seus apreciadores. O sistema utilizado, denominado tabuleiro, consiste em estruturas em cima de mesas fixas no encontro da água com a areia. As ostras cultivadas são então levadas à cooperativa, onde são selecionadas e distribuídas ao mercado consumidor. Esse tipo de projeto ensinou
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aos produtores o manejo sustentável da produção e contribuiu de maneira significativa para a renda familiar dos participantes. São cultivadas, em média, 250 mil dúzias anuais. As ostras são conhecidas como ostras de mangue. Essas ostras, como o nome já diz, crescem no mangue agarradas às raízes das árvores, sempre inundadas. São retiradas quando chegam a oito centímetros, entre um período de 12 a 18 meses. Grande parte é vendida para São Paulo, Rio de Janeiro e Santos.
A mandioca Proveniente do conhecimento transmitido pelos indígenas, em certa medida foi a salvação dos colonizadores privados do trigo, base para o pão. Com a farinha de mandioca podiam fazer muitos pratos, dentre eles, o pirão de peixe, alimento substancioso e rico em vitaminas e proteínas. Com a banana, a farofa era certamente um dos quitutes mais saborosos e, ao ser frita, se torna um petisco imperdível. A farinha de mandioca era a base de carboidratos dos caiçaras. Até hoje é um ingrediente dos mais utilizados na culinária brasileira. Ainda é possível conhecermos a Casa de Farinha, como a da comunidade do Mandira. A Casa de Farinha funcionava quase que como uma instituição comunitária, onde as mulheres se reuniam, cantavam e produziam o valoroso alimento.
Rizicultura Depois do Ciclo do Ouro e da construção naval, a região de Cananéia teve parte importante na produção de arroz. A rizicultura, hoje em declínio, ainda tem forte apelo na agricultura das comunidades tradicionais.
Feira do Agricultor Familiar de Cananeia Muitas dessas delícias escritas acima podem ser encontradas na Feira do Agricultor Familiar de Cananéia. Essa feira é uma iniciativa dos produtores rurais, a fim de incrementar o consumo, incentivar e promover os produtos típicos de Cananeia. Onde: Praça do Rocio Locais para visitação Sítio Bela Vista - Agrofloresta Contato: (13) 98165-2588. Sítio Dez Irmãos Onde: Área Continental de Cananeia. Sítio Guanandi Onde: Rodovia Cananeia/Pariquera-açu, Km 20. Sítio Porto do Meio Onde: Estrada do Ariri, Km 15. Jacostra – Ostras de Cananeia Contato: (11) 5669-3049. Associação Rede Cananeia Onde: Rua Laurino Feliciano Rosa, 120 – (13) 3851-1201.
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Gastronomia CAMARÃO À TRAPANDÉ Camarões grandes grelhados em molho de gengibre, pimenta rosa (semente de aroeira) e risoto de banana. Foto: Márcio Martini
Restaurante - Via Maria Bistro
Capital gastronômica
do Vale do Ribeira
A DENOMINAÇÃO DE “BERÇÁRIO DO ATLÂNTICO SUL” já nos dá uma ideia da gama de opções de cardápio de peixes e frutos do mar disponíveis em Cananéia. Não é à toa que a cidade é chamada de a “Capital gastronômica do Vale do Ribeira”. Apesar dos ingredientes principais serem por si só maravilhosos, os acompanhamentos dão o toque final no diferenciamento dos pratos. A culinária caiçara, que combina conhecimentos dos índios, negros e colonizadores, é famosa e apreciada por todos os que a conhecem. Por algumas décadas, nossas raízes gastronômicas foram relegadas às influências internacionais e, em certa medida, os ingredientes regionais foram tratados com alguma irrelevância. Em uma reviravolta cultural que 72 cidadeeecultura.com
trouxe a valorização dos produtos locais, mais uma vez a gastronomia se reinventou. Cananéia se manteve firme no propósito manter seus valores originais, seus produtos de qualidade e da boa comida caiçara. Com isso todos ganharam: os agricultores, os pescadores, os restaurantes e, acima de tudo, os munícipes e os turistas. Aqui, você pode saborear pratos simples como um filé de pescada com arroz, feijão, batata frita e salada, até pratos mais sofisticados, feitos com ingredientes mais exclusivos como o vôngole. Tais pratos são produzidos por chefs especializados. Devido à toda essa variedade de pescados, a cidade promove alguns festivais gastronômicos que valem muito a pena serem vivenciados e terem seus pratos saboreados.
Fotos: Divulgação LAGOSTA E LUAS COM ARROZ SELVAGEM Cauda de lagosto sapateira e lulas, puxado na manteiga e vinho branco, acompanhado de arroz selvagem. Restaurante - Jardim Mirim
A Festa do Mar A Festa do Mar é um exemplo dessa diversidade gastronômica de Cananéia. Ela acontece há mais de 13 anos e tem o objetivo de valorizar a cultura caiçara. Atrações como música, oficinas, exposições, artesanato e dança, atraem pessoas de todas as faixas etárias. A ideia por trás da Festa do Mar é mostrar que a gastronomia, assim como qualquer área de conhecimento, é fruto de experimentações e vivências diretamente ligadas ao meio no qual ela está inserida. Trata-se de uma iniciativa da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado de São Paulo. Sabores de Cananéia Com a união dos empresários do setor gastronômico e da Prefeitura Municipal, o “Sabores de Cananéia” é um circuito que tem como objetivo proporcionar diversas vivências de sabores aos visitantes e munícipes. Esse circuito ocorre em bares e restaurantes que oferecem a culinária caiçara, utilizando ingredientes regionais. Assim sendo, preservam a cultura e ainda divulgam o próprio município. Cada estabelecimento coloca em seu cardápio um prato especialmente produzido para o evento. Um exemplo de pratos diferenciados servidos: a feijoada caiçara feita com frutos do mar e feijão branco; Lambe-lambe à Mandira, com arroz, mariscos e farofa de ostra; entre outros.
KADGERY CAIÇARA Risoto feito com cúrcuma e frutos do mar: lula, marisco, filé de peixe, camarão e polvo, usando produtos regionais. Restaurante Pont`s Café
LAMBE-LAMBE À MANDIRA
Para saber mais e conhecer os restaurantes participantes e seus maravilhosos pratos, acesse: www.saboresdecananeia.com.br
Prato tradicional caiçara feito com arroz e mariscos. Acompanha farofa e ostras. Restaurante Ostra e Cataia Cananeia 73
Esportes
Em sincronia com a natureza CANANÉIA TEM UMA GEOGRAFIA perfeita para a prática de várias modalidades esportivas. Montanhas, planícies, mar, rios, praias, ilhas e muito verde e azul fazem daqui uma academia a céu aberto. Entretanto, para que você possa praticar qualquer esporte radical, é importante procurar as agências especializadas ou os guias locais certificados para que nenhum problema ocorra. Mesmo na mata não podemos nos esquecer de que se trata da Mata Atlântica, ou seja, esses locais turísticos apresentam vegetação densa e de difícil identificação de trilhas. Quanto ao mar, já sabemos que, dependendo das condições, ele pode ser traiçoeiro. 74 cidadeeecultura.com
Sempre é bom conferir a previsão do tempo e confirmar se nenhuma frente fria está para chegar. Muitas vezes, céu azul, poucas nuvens e vento fraco não são sinônimos de calmaria. Depois de tudo checado e planejado, respire fundo e desfrute o melhor de Cananéia! Corrida de Canoas Em comemoração ao aniversário da cidade, no dia 12 de agosto, uma tradição que há mais de 30 anos mantém vivo o espírito caiçara é a Corrida de Canoas. A canoa é homenageada nesse evento por ser o principal meio de transporte local, além de ser o instrumento de trabalho dos caiçaras.
Trekking A caminhada é o esporte mais antigo da humanidade. Ela oxigena o cérebro, diminui o stress, acalma a alma, condiciona o corpo e faz você pensar melhor. Se sua “praia” é caminhar, aqui é o lugar perfeito. São vários caminhos por onde nossos pés podem pisar, tanto na ilha de Cananéia quanto na Ilha do Cardoso, onde podemos fazer também as caminhadas noturnas. Para melhorar seu desempenho e ir a lugares inesquecíveis e pouco explorados, vale contratar guias locais que, além de lhe propiciarem segurança, lhe mostram atrativos que, sem eles, jamais conheceríamos, tais como a Ilha do Bom Abrigo. No entanto, é necessário estarmos preparados para trilhas de níveis mais difíceis. Para isso, um calçado apropriado, água, repelente, boné e protetor solar, são itens indispensáveis para uma caminhada sem percalços. Ah! Não podemos nos esquecer de que todo o lixo produzido por nós deve sempre retornar conosco.
Cicloturismo O cicloturismo na região do Vale do Ribeira está crescendo a cada ano e conta com muitos caminhos interessantes que, partindo de Cananeia, leva a lugares muito bonitos como é o caso de pedalar até Superagui, praia do Litoral Norte do Paraná. Também é possível explorar a parte continental da cidade e seus encantos, como cachoeiras, comunidades tradicionais, entre outros. Grupos oriundos de várias cidades do estado de São Paulo transformaram a região de Cananeia em um destino certo. É importante salientar que a infraestrutura da cidade é excelen-
te. Portanto, não há empecilhos para você começar a pedalar e desfrutar dos ares litorâneos. Circuito Lagamar São Paulo de Cicloturismo Esse circuito compreende cinco cidades: Iguape, Ilha Comprida, Pariquera-açu, Jacupiranga e Cananeia. São percorridos 180 km entre praias e matas com direito a guias e passaporte, nos moldes europeus. Esse circuito é excelente para pedalar, principalmente porque grande parte do caminho é plana, além de passar por monumentos históricos e naturais das cidades do Vale do Ribeira. Cananeia 75
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Campismo Para os que adoram dormir em meio à natureza, sem paredes de concreto e tendo a luz da lua como companheira, Cananéia é o lugar a ser visitado. A Ilha do Cardoso também oferece campings para você desfrutar dessa aventura e ter muitas experiências ao conviver com os caiçaras de raiz e partilhar do modo que vivem. Camping Caiaque Onde: Rua Josino Carneiro, 226 – (13) 3821-7608. Camping das Bromélias Onde: Rua das Bromélias, 30 –(13) 3851-4042.
Quem ama o 4X4 tem que conhecer Cananeia e suas trilhas lamacentas e cheias de obstáculos. A topografia pouco nivelada transforma um pequeno passeio em uma grande aventura. É preciso estar preparado e saber que, na maioria das trilhas, rios e riachos devem ser ultrapassados. Em época de muita chuva, há de se tomar cuidados especiais. O ideal é viajar sempre com dois carros para qualquer emergência. A Mata Atlântica pode ser linda, porém é traiçoeira, cria barreias onde não deveria haver. Além disso, o solo muitas vezes pode estar coberto pelo que chamamos de serapilheira, ou seja, muitas folhas e restos de árvores caídas que o transformam em terreno escorregadio. Uma dica é sair da ilha de Cananeia e seguir até Ariri. Uma trilha com paradas em duas cachoeiras e na Comunidade do Mandira, em
um percurso de 128 km. Isso é só um exemplo. Vale conferir todos os caminhos. Agora é só abastecer e acelerar! Cananeia – Ariri Distância – 128,97 km. Nível – difícil. Cachoeira do Mandira e Rio das Minas Distância – 60,83 km. Nível – fácil. Estrada das Bananas – Ilha Comprida – Cananeia Distância – 190,54 km. Nível – fácil. Cananeia – Pedrinhas Distância – 26,29 km. Nível – fácil. Cananeia – Pariquera-açu Distância – 65,06. Nível – moderado.
Canto para Dois Onde: Av. Luiz Rangel, 383 (13) 98123-6193. Casa da Praia - Por do Sol Onde: Rua 6, 49 (19) 99160-1139. Camping Sol a Sol Onde: Avenida Luís Wilson Barbosa, 573 – (13) 3851-1907. Ilha do Cardoso Camping Luz do Sol Onde: Marujá (13) 3852-1210. Camping da Mari & Passeios Náuticos Contato: (13) 98132-7268. Camping Irmãos Cordeiro Onde: Itacuruçá – (13) 981426339.
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Turismo Náutico
As trilhas do mar JUNTAMENTE COM ILHABELA E SÃO VICENTE, o turismo náutico em Cananéia tornou-se uma referência no estado de São Paulo pela variedade de roteiros, lindas paisagens e atividades proporcionadas aos turistas. Para a análise dos critérios adotados na votação, a Revista Veja e a Skal Internacional premiaram a cidade pelo empenho, dinâmica, acessibilidade e organização dos que compõem e participam desse segmento turístico. Aqui, iremos citar alguns roteiros interessantes a serem feitos, que são imperdíveis para quem quiser visitar Cananéia sob uma nova ótica. Whalewatching Como dissemos anteriormente, a região de Cananéia é um berçário para a vida marinha. Essa riqueza está principalmente nos manguezais, que são o resultado das águas dos rios que se unem com a do mar, com uma quantidade enorme de material orgânico, fonte de alimentação para várias espécies. Atraídos para cá, peixes fazem do local seu ponto de desova. Essa cadeia atrai peixes maiores e estes, por sua vez, atraem também os botos-cinza. São muitos deles que vivem na área estuarina e nos propiciam um verdadeiro espetáculo. Com esse cenário fantástico, somado à organização das associações de donos de embarcações e à infraestrutura da cidade, hoje, o Whalewatching é uma realidade. O Whalewatching, observação de cetáceos, é uma das principais atividades turísticas da cidade. Com embarcações saindo do Trapiche Municipal até a Baía de Trapandé, os botos-cinza ficam próximos à praia do Itacuruçá, na Ilha do Cardoso. A procura por esse atrativo é tanta, que até os pescadores se envolveram e mudaram de atividade. Essa 78 cidadeeecultura.com
Existem diversos passeios, diversos roteiros para diferentes finalidades. Turismo, pesca, observação de pássaros, fotografia...
prática de turismo é uma das melhores, pois é sustentável, desenvolve economicamente a região e, ao mesmo tempo, realiza pesquisas científicas e promove a conscientização da preservação do animal. A importância do boto–cinza é tão grande que, entre 2011 e 2012, o Projeto Boto-Cinza foi selecionado para participar do Programa Petrobrás Ambiental. formando assim o habitat perfeito para essa espécie, que é encontrada com certa abundância, principalmente nos rios Jacó e Olaria, em Cananéia e nos rios Boguaçu e Nóbrega, em Ilha Comprida.
Observação noturna do jacaré-de-papo-amarelo Outro passeio náutico para lá de inusitado é noturno e ocorre nas águas fluviais do Complexo Estuarino de Cananéia, para a observação do jacaré-de-papo-amarelo. O embarque é feito no Trapiche Municipal. Pela preservação ambiental da região, o Complexo Estuarino Lagunar é caracterizado por um canal marinho denominado Mar Pequeno, com enorme quantidade de matéria orgânica originária dos rios que compõem o complexo, FOTOS: MARCIO MASULINO
Ilhas de Cananéia Aqui, a proposta é que você alugue um barco e navegue entre as pequenas ilhas de Cananéia e a do Cardoso. São inúmeras paisagens de tirar o fôlego que vão fazer você entender a geografia local.
Roteiro Iguape–Ilha Comprida–Cananéia Em um passeio de 10 horas, você verá o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, a Vila de Marujá, Cananéia, a Vila Fantasma, manguezais, botos, aves marinhas e paisagens que compõem um dos mais importantes ecossistemas brasileiros. Haverá uma parada no Pontal Leste, na Barra de Ararapira, com os mares de dentro e de fora, além da observação dos guarás. Aqui o almoço é preparado pela Associação das Mulheres de Pescadores.
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Turismo Educativo
Ilha do Cardoso vista de Ilha Comprida
A conquista da preservação QUANDO CHEGAMOS À CANANEIA temos a impressão de que voltamos ao passado. Não que a cidade não evoluiu com o passar do tempo, longe disso, mas a preservação de construções coloniais, das comunidades tradicionais, dos muitos sítios arqueológicos espalhados em seu território, da Mata Atlântica, dos manguezais e, principalmente, da valorização da cultura caiçara e suas expressões, saltam aos nossos olhos, o que nos faz sentir nossas raízes pulsando em cada olhar. Por isso, Cananéia tem como epíteto “Capital do Turismo Educativo”. Aqui, estamos em um laboratório de experiências ricas, que aprimoram de forma significativa a compreensão da formação do povo brasileiro. Aqui, temos a possibilidade de interagirmos com o passado, sobre o qual tanto lemos nos livros de história. Por conta de toda essa preservação, muitas escolas consideram essa gama de recursos de patrimônios naturais, históricos e imateriais, como uma ferramenta didática potente. Várias linhas de estudo podem ser seguidas 80 cidadeeecultura.com
dentro dos limites da cidade: história, arquitetura, antropologia, arqueologia, sociologia, meio ambiente, geografia, biologia, entre outras. Em todas as seções dessa revista tratamos dessas ferramentas didáticas que despertam a curiosidade e o prazer em educar e em aprender. As vivências adquiridas serão carregadas para a vida toda e o respeito pela conservação e preservação da memória nacional se transformará em ações. É importante salientarmos que a cidade de Cananéia possui boa infraestrutura e acomodações em pousadas e hotéis com valores acessíveis. Possui também uma gama de agências especializadas em turismo educativo, com guias capacitados que tornam os passeios seguros, com um profundo conhecimento local. Essa complexidade de recursos nos leva a lugares com um ambiente natural diferenciado do restante das outras cidades do litoral paulista, chamado Lagamar. Esse ecossistema faz com que os estudos desse meio sejam ricos em diversidade, como se comprova a bordo
do catamarã que nos leva a lugares incríveis. No âmbito histórico, por Cananéia ser o primeiro povoado do país e ter seu centro preservado, com as típicas casas em estilo colonial, trata-se de um museu urbanístico essencial para os aprendizes entenderem como funcionava a vida social do Brasil colônia em seus primórdios. Outro ponto de fascínio é o contato com os vários tipos de cultivo de animais marinhos, como as ostras, em fazendas que contam com monitores que explicam as várias etapas do processo da maricultura. Também podemos conhecer manifestações culturais típicas locais, como o fandango caiçara, cuja música e dança têm suas raízes na miscigenação entre músicas oriundas de Portugal e os ritmos aqui já existentes, executados em instrumentos fabricados com os recursos naturais do litoral paulista e paranaense. Dessa mistura, o fandango é uma prática que sempre esteve vinculada à organização de trabalhos coletivos – mutirões, puxirões ou pixiruns – nos roçados, nas colheitas, nas puxadas de rede ou na construção de benfeitorias. Nessas ocasiões, o organizador oferecia como pagamento aos ajudantes voluntários um fandango, espécie de baile com comida farta, que era a principal diversão e momento de socialização dessas comunidades, estando presente em diversas festas religiosas, batizados, casamentos e, especialmente, no carnaval, quando se comemoravam os quatro dias ao som dos instrumentos do fandango”. (fonte: fandangoemcananeia.com.br). Já a Ilha do Cardoso é um laboratório de conteúdo pedagógico de inestimável valor onde, além do estudo do meio (manguezal, praia arenosa, costão rochoso, mata de restinga e atlântica, fauna e flora), se tem a oportunidade de se vivenciar a cultura da vila de pescadores de Marujá e entender o modo caiçara de viver.
Cananeia 81
Turismo de Pesca
Pescar, soltar e preservar
PARA OS AMANTES DA PESCA o Complexo EstuárioLagamar é o destino certo. O meio ambiente, com sua rica biodiversidade, é propicio para a prática da pesca amadora e esportiva, mas exige-se a consciência de seus praticantes. No Lagamar já foram registradas 170 espécies. Muitas delas escolhem o local para a sua reprodução. Por isso, aqui (diferentemente de qualquer outro lugar do mundo), não é aceitável a captura de peixes de pequeno porte ou fora das medidas propostas pela legislação. Tais medidas existem para evitar que os peixes deixem de chegar a fase adulta e tal fato comprometa a sua procriação e quantidade de sua população. No entanto, não basta apenas soltar o peixe que foi pescado. A maneira correta de fazê-lo, que possibilite a sobrevida do peixe, também é muito importante. Robalo Os robalos (peva e flecha), muito procurados pelos pescadores, estão presentes durante o ano inteiro e, graças as boas práticas, estão presentes em grandes quantidades. Mas é importante se atentar que as melhores práticas esportivas pedem que os 82 cidadeeecultura.com
pescadores pesquem os peixes e o soltem. Por ser uma espécie hermafrodita, os machos dessa espécie se tornam fêmeas ao longo de suas vidas. Por este motivo, a preservação tanto do macho quanto da fêmea é de suma importância para a sua preservação. Espécies de Meia-Água Salteira, Sargo-de-dentes, Espada, Prejereba, Sorococa, entre outros são encontrados nas regiões costeiras e ao longo de todo Lagamar. Espécies de fundo A Carapitinga, o Dentão, a Pescada-amarela, o Papa-terra e a Corvina são algumas das espécies associadas ao substrato (fundos de areia, lodo ou entre as rochas). O importante em Cananéia, ou em qualquer destino ecológico, é procurar sempre a orientação de um guia. Nesse caso, um piloteiro ou um guia de pesca. O conhecimento de um profissional local lhe trará uma pescaria mais segura, com procedimentos corretos, nos melhores locais e, seguramente, com experiências mais prazerosas.
Roteiros
visitar
Não deixe de
CONFIRA ESTES LUGARES QUE SELECIONAMOS, seja por sua importância histórica, sua beleza natural, por fatos curiosos, interessantes e relevantes relativos à cultura caiçara.
CANANÉIA
1 – CANHÕES – são 20 canhões deixados pelos ingleses, que afundaram no mar. Quatro foram resgatados, dois estão na Praça Martim Afonso. 2 – FIGUEIRA – germinada em meio ao limo de um pilar de 1531, a pequena semente se transformou em uma árvore gigantesca. É conhecida como “árvore do coração de pedra”. Praça da Figueira. 3 – BAIRRO DO ARIRI – Seguindo a estrada Ariri-Rio Vermelho até o seu final, chegamos ao simpático bairro do Ariri, uma vila de pescadores de frente ao mar pequeno e de onde se pode, em poucos minutos, atravessar para Marujá na Ilha
FOTOS: MARCIO MASULINO
do Cardoso.
ILHA COMPRIDA 4 – BAIRRO PEDRINHAS – um dos mais lindos locais do litoral sul com caiçaras que vendem seus peixes e onde podemos saborear seus pratos. A vegetação é pre-
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ALF RIBEIRO
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SHUTTERSTOCK
ALF RIBEIRO
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servada, quase selvagem, e dividimos o
IGUAPE
ELDORADO
espaço com pássaros de porte grande
7 – ESTÁTUA DE CRISTO E FONTE NOS-
8 – CAVERNA DO DIABO
como a garça.
SO SENHOR BOM JESUS DE IGUAPE –
A maior Caverna do Estado de São Paulo
5 – SAFARI ECOLÓGICO – a bordo de
abraçando e abençoando a cidade, a ima-
fica no Parque Estadual Caverna do Dia-
UTVS (veículos off-road), você conhece a
gem de Cristo está localizada em um dos
bo na cidade de Eldorado. Séculos atrás,
ilha em toda a sua extensão. São 72 qui-
lugares mais bonitos da região: o Morro
a imponente caverna foi utilizada por indí-
lômetros, com dois roteiros: Pedrinhas
do Espia, que recebeu esse nome pois
genas e quilombolas e sobre ela conta-se
(costeando a ilha) e Ponta da Praia.
era um local de vigília contra piratas. Nos
inúmeras lendas.
6 – PONTA DOS GOLFINHOS – O ex-
arredores do morro temos a Fonte Nosso
A caverna possui mais de 6.000 metros
tremo sul da Ilha Comprida é um dos
Senhor Bom Jesus de Iguape.
de extensão para o público são abertos
melhores lugares para se avistar as
O centro histórico da cidade é uma via-
600 metros. O que já é muito interessan-
famílias de golfinhos que anualmente,
gem ao passado e o Santuário Senhor
te e desafiador. O local também é muito
na primavera, retornam a região para
Bom Jesus de Iguape uma visita
visitado pelas escolas de diversas regi-
procriar. Um espetáculo!
obrigatória.
ões do estado.
Depoimento
CANANEIA FOI UMA PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA. A primeira vez em que visitei a cidade foi para fotografála para a revista Cidade&Cultura - Litoral Paulista, há uns quatro anos atrás. Tinha poucos dias para ficar na cidade e por isso agendei um passeio de barco para a manhã do dia seguinte. Antes do sol raiar, já estava com o Ilzo, pescador e monitor local, me preparando para um dia de captura de boas imagens. O sol nascendo no horizonte trazendo uma luz alaranjada no mar, pescadores se preparando para mais uma jornada e famílias de golfinhos brincando ao redor do barco. Mais à frente, um enorme banco de areia abrigava uma quantidade enorme de aves que aproveitavam a maré baixa para se alimentarem. Guarás, Biguás, Talha-mares e Gaivotas dividiam o harmoniosamente o espaço. Entrei em êxtase! Como os paulistanos podem desconhecer a beleza e a importância deste paraíso no extremo sul do nosso litoral? Foi a pergunta que me fiz, envergonhado por fazer parte desse grupo. Por um motivo que até hoje não entendi, os paulistas denominam como litoral sul a região abaixo da chamada Baixada Santista, Itanhaém, Peruíbe... Já a região que abriga Iguape, Ilha Comprida e Cananéia está dentro do Vale do Ribeira, uma denominação que não permite
entender com clareza que esta região litorânea do vale é o nosso verdadeiro litoral sul. E que litoral fascinante! Maternidade do Atlântico, berçário de inúmeras espécies de animais. Durante o ano todo a cidade recebe alunos das mais variadas escolas do Estado de São Paulo para estudarem o meio ambiente. Para entender o impacto que as atividades humanas, urbanas ou rurais, causam no meio em que vivem e as consequências destas na vidas de todos. Por tal aptidão natural, a cidade recebeu informalmente o título de Capital do Turismo Educativo no Brasil. Isso enche de orgulho os cidadãos cananeienses e os fazem, na minha opinião, ter um motivo a mais para serem referência na conscientização e preservação do meio ambiente onde vivem. No entanto, muito ainda há de ser feito para garantir um crescimento sustentável, que respeite as comunidades tradicionais e traga benefícios para a população, preservando de fato a natureza. Que o país descubra a beleza desta região, se orgulhe de mais esse paraíso brasileiro e que aprenda com a população local que uma maternidade é um local sagrado, exige silêncio, cuidado e respeito. Márcio Alves
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