XIII
Minhas Danças e as Crianças
A
s crianças, embaladas desde as primeiras horas de suas vidas por contos de fadas e narrativas fantásticas, têm a imaginação naturalmente inclinada para o sobrenatural. Minhas danças, em razão do aspecto imaterial que lhes transmitem a luz e a mistura das cores, têm a capacidade de atingir mais especialmente os jovens espíritos, fazendo-os acreditar que a criatura que evolui ali diante deles, entre nuvens e fulgurações, pertence a esse mundo irreal que os subjuga. Vocês dificilmente poderão imaginar as verdadeiras paixões que despertei, ou, para ser mais exata, uma vez que minha pessoa não conta, as paixões que minhas danças despertaram nas crianças. Só tenho que lançar um olhar para trás, pelo palácio da memória, para deparar com imagens de crianças extasiadas pela minha arte. Tenho até mesmo testemunhos escritos, pois encontrei em meus papéis este bilhete, assinado por um amigo meu, o sr. Auguste Masure: Cara Loïe, temos um plano de levar as crianças para assistir a seu espetáculo em matinê, na próxima semana. Nosso caçula é um rapazinho que você ainda não conhece. Ele olha todas as suas litografias e sempre pede explicações; ele tem apenas três anos e meio. Seu irmão e sua irmã rechearam-lhe tanto a cabeça com o nome Loïe Fuller que, quando ele for ver você de verdade, vai valer a pena anotar o que ele dirá...
Só menciono esse fato por se tratar, repito, de um testemunho escrito – testemunho esse que demonstra a profunda impressão das minhas