XVII
Alguns Filósofos
V
i com frequência soberanos cujo papel consistia em governar multidões. Entrevi às vezes multidões que pareciam maiores do que os maiores soberanos. Encontrei raramente filósofos desapegados de tudo, e que sabiam criar reinos dentro de si. E estes parecem-me singularmente mais impressionantes que o mais altivo dos soberanos e que a mais extraordinária das multidões. Tentarei descrever aqui os traços característicos de alguns deles, em razão das emoções que suscitaram em mim. *** Morávamos, minha mãe e eu, em Passy, numa casa situada no meio de um jardim. Escutei um dia uma música animada vinda da rua. Corri até o portão para ver os artífices daquela alegre harmonia. Um homem e uma mulher passavam. O homem tocava acordeão enquanto caminhava lentamente. Ele era cego, e a mulher o guiava. A música era tão alegre, tão diferente das pessoas que a tocavam, que chamei o casal. Queria que o homem tocasse no jardim atrás de casa, para que a minha mãe, que estava paralisada, pudesse ouvir. De bom grado concordaram. Eu os fiz sentar à sombra de uma árvore, perto da cadeira onde estava minha mãe, e o homem tocou acordeão até que vieram nos avisar que o almoço estava