XVIII
Como Descobri Hanako
T
udo o que vem do Japão sempre me interessou no mais alto grau. Por isso, é fácil de entender a alegria que senti quando conheci Sada Yacco106; não hesitei um só segundo em assumir a responsabilidade financeira por suas apresentações quando ela decidiu vir para a Europa com a sua companhia. Sada Yacco trouxera uma trupe de trinta pessoas. Essas trinta pessoas me custaram mais do que noventa outras teriam me custado, pois, além de tudo o que fiz para entretê-los, tive constantemente que mover céus e terras para ter a permissão de anexar, em cada trem que os transportava, um enorme vagão cheio de doces japoneses, arroz, peixes salgados, cogumelos, nabos em conserva, que serviam para alimentar os meus trinta japoneses, incluindo a própria Sada Yacco. Numa só temporada, paguei às companhias ferroviárias trezentos e setenta e cinco mil francos de custos de transporte; mas isso me custou muito menos do que pagar
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Sada Yacco (1871-1946). Atriz de tragédia e dançarina japonesa celebrada pelo poder realista de suas interpretações. Judith Gautier (1845-1917) observa em Les musiques bizarres à l’Exposition de 1900: “Ela nos traz como que uma breve e última visão desse Japão feudal que nós não conhecemos e que não existe mais; do qual somente as grandes cortesãs e os atores de tragédia ainda guardam piamente a tradição; mas que será também submerso pela avalanche da nova civilização” (Librairie Ollendorff, 1900).