XXI
Coisas da América
U
m estrangeiro, especialmente um francês, que nunca esteve nos Estados Unidos, não pode imaginar o que é o nosso país. Um francês pode ter uma ideia da Alemanha sem ter visto o país; da Itália, sem ter estado lá; até mesmo da Índia, sem nunca tê-la visitado. No entanto, é impossível para ele representar-se a América tal como ela é. Tive a demonstração dessa verdade em circunstâncias bastante imprevisíveis. Lembro dessa experiência como algo particularmente divertido – tão divertido, na verdade, que considero esse incidente como um dos mais cômicos que já pude presenciar. O herói da aventura era um jovem e bulevardeiro jornalista parisiense chamado Pierre Mortier122. Seríamos levados a pensar, visto a sua profissão, que geralmente dá àqueles que a exercem um conhecimento razoável sobre tudo, que ele seria menos sujeito à surpresa e espanto do que um atendente de padaria ou um servente de obra. O desenrolar da história deveria provar o contrário.
122
Pierre Mortier (1882-1946). Jornalista e diretor do jornal Gil Blas, dramaturgo e romancista. Em 1922, ele casa-se com Hélène Dutrieu (pioneira belga da aviação e campeã do mundo de ciclismo feminino) e entra para a Société des Gens de Lettres, do qual foi presidente até março de 1936. Ele presidiu igualmente a Associação da Imprensa Teatral Francesa e foi deputado radical e radical-socialista do departamento de Sena e Marne de 1932 a 1936.