VI
Luz e Dança
U
ma vez que reconhecemos que criei algo, e que esse algo é um composto de luz, cor, música e dança, especialmente de luz e dança, acho que talvez não seja inoportuno, depois de eu ter considerado o meu próprio projeto sob o ponto de vista anedótico e pitoresco, dizer aqui algumas palavras num tom mais grave – talvez até um pouco sério demais, e peço desculpas antecipadamente por isso – sobre quais são as minhas ideias no que diz respeito à minha arte e como a concebo, tanto intrinsecamente quanto nas suas relações com as outras artes. Espero que este “ensaio” teórico seja melhor recebido do que o ensaio prático que empreendi, logo após a minha chegada a Paris, na catedral de Notre-Dame. Notre-Dame! A grande catedral da qual a França se orgulha com toda razão, foi o objeto de uma das minhas primeiras peregrinações artísticas, posso até dizer que foi a primeira. As altas colunas, cujos fustes são compostos de frágeis colunelos, elevando-se até às abóbadas; as proporções admiráveis da nave; o coro e o seu cadeiral de velho carvalho esculpido e suas grades de ferro forjado: esse conjunto harmonioso e magnífico comoveu-me profundamente. O que me encantou mais que qualquer outra coisa, porém, foram os maravilhosos vitrais das rosáceas laterais; e mais ainda, talvez, foram os raios de sol que vibravam na igreja, variados e intensamente coloridos após atravessarem os vitrais suntuosos.