VIII
Sarah Bernhardt – O Sonho e a Realidade
E
u devia ter uns dezesseis anos. Na época, interpretava papéis de moças simples e ingênuas pelos palcos do país, quando apareceu no horizonte teatral a notícia de que a maior atriz dos tempos modernos, a mais célebre das atrizes francesas, Sarah Bernhardt44, viria aos Estados Unidos. Que evento! Aguardamos com uma curiosidade febril a sua vinda, porque a divina Sarah não era como o restante de nós; era um espírito dotado de gênio. Mas havia um porém, que fazia meu coração palpitar e me arrancava lágrimas: estava certa de que não conseguiria ver essa maravilhosa fada dos palcos. Sabia de antemão que não haveria lugar para alguém tão insignificante como eu. Os jornais consagravam-lhe colunas inteiras, e eu lia tudo o que se diziam a seu respeito. Os jornais afirmavam que os lugares já haviam sido todos comprados, e que nem uma centésima parte daqueles que desejavam vê-la realizariam esse desejo. A bilheteria fora sitiada pelos especuladores. E isso significava que não me sobrava quase nenhuma esperança. Não sabia se Sarah já tinha vindo para a América, pois eu estava sempre em turnê pelo Oeste do país com pequenas companhias nômades. Para mim, em todo caso, era como se fosse a sua primeira visita. O dia tão aguardado finalmente chegou. Um transatlântico, levando uma
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Sarah Bernhardt (1844-1923), cujo nome de nascimento é Henriette Rosine Bernard, foi atriz, diretora teatral e autora dramática; seu talento de atriz e sua personalidade tumultuosa içaram-na para a posteridade. Ela escreveu sobre sua carreira em Ma double vie: Mémoires (1907), testemunho esclarecedor sobre uma época vibrante do teatro francês.