Revista Ruminantes 47

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RUMINANTES

Genética

EXEMPLAR DE OFERTA ANO 12 | 2022 OUT/NOV/DEZ (TRIMESTRAL) PREÇO: € 8.00 047 A REVISTA DA AGROPECUÁRIA WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM
A eficácia da transferência embrionária em bovinos de carne Agricultura regenerativa Entrevista a Nuno Mamede Santos, fundador e diretor da Terracrua Design Saúde e bem-estar animal Novas estratégias de prevenção de abortos em ovinos S. Miguel 2 empresários contam como gerem os negócios para serem rentáveis

ROBOT EXPERT ALIMENTAÇÃO INTELIGENTE

TESTEMUNHO VITOR ARAÚJO

Na De Heus sabemos que para se atingir a máxima eficiência e tirar o melhor proveito das ordenhas robotizadas é necessária uma abordagem integrada que otimize as várias dimensões da exploração leiteira. Foi por isso que desenvolvemos RobotExper t, o Sistema de Alimentação Inteligente para explorações com robots de ordenha.

O Sistema RobotExpert foi recentemente aplicado na exploração leiteira Vitor Manuel Carreira Araújo. Situada em Macieira de Rates, concelho de Barcelos, esta exploração tem atualmente cerca de 60 vacas em produção.

A exploração tem beneficiado de muitas alterações, sendo a instalação de um sistema de ordenha robotizada em maio de 2021, a que teve maior impacto. Estas alterações refletiram-se na produtividade do efetivo leiteiro, mas também nas condições de trabalho e bem-estar animal.

‘’Começámos a trabalhar a nutrição da nossa exploração com a De Heus no início de 2018 e, a par com um aumento da produção leiteira, destaco a melhoria na saúde animal, o que se traduziu numa melhoria substancial da rentabilidade da exploração e na margem do leite (cálculos utilizando a ferramenta Margin Monitor Milk, da De Heus). Quando, no início de 2021, fizemos as melhorias na exploração e colocámos o robot de ordenha, continuei a trabalhar com a De Heus: o César Novais, que me dá a assistência técnica, tem-me ajudado com as ferramentas específicas para ordenha robotizada da De Heus, tanto nos aspetos da nutrição como na configuração do robot. E os resultados voltaram a melhorar, com um ganho médio de 5 litros na produção e um excelente aproveitamento do potencial do efetivo leiteiro!’’

02
Quer saber mais sobre o RobotExpert? Contacte-nos: info.pt@deheus.com
Vitor Araújo

Caro Leitor,

Em setembro, entrevistámos, na ilha açoriana de São Miguel, dois produtores de leite que se sentem bastante satisfeitos com o curso dos seus negócios. Habituados a ser recebidos com queixas sobre o continuado preço baixo do leite e a falta de ajudas à produção, surpreendeu-nos o testemunho destes empreendedores que conseguiram encontrar, internamente, soluções para tornar os seus negócios interessantes. Desta vez, vimos sintonia na forma como se referem aos subsídios: “bem-vindos, mas vistos como um extra”. No contexto atual, ou os produtores são de excelência ou, se forem apenas bons, não terão hipóteses. Como bem disse o agricultor João Coimbra, numa reportagem intitulada “O preço da Seca” que passou na televisão à data de fecho desta edição: “O agricultor já não pode já ser mais ou menos, porque senão temos que estar sempre na rua a pedir ajudas e a dizer que a nossa vida está a correr mal. Isso não pode acontecer porque os contribuintes cada vez estão menos disponíveis para isso, e a economia precisa cada vez mais de profissionais que não possam falhar.”

A propósito de soluções, a InLac (Interprofissional láctea que engloba todo o setor lácteo espanhol) continua empenhada em fazer crescer a presença do setor além fronteiras. Numa entrevista à empresa de comunicação EFEAgro, em junho, Nuria Arribas, diretora da organização, reforça a importância de “aumentar as vendas em produtos de valor acrescentado, que vão para além do leite líquido”. E diz que, “após um início de percurso difícil para atingir este objetivo, o setor está a fortalecer-se cada vez mais no exterior, com uma exportação crescente de produtos elaborados como manteiga, nata, queijos, leite condensado e iogurtes, para a União Europeia (principalmente França, Itália e Portugal), mas também para o Reino Unido, Estados Unidos, República Dominicana, China, Australia ou Arabia Saudita.”

Seria bom conhecer o que vai na cabeça dos responsáveis da maior indústria de lacticínios portuguesa, para criar mais valor para os produtores de leite associados, pois não é fácil encontrar notícias sobre o que se está a fazer de diferente para conseguir remunerar melhor o leite entregue pelos produtores.

“Fia-te na Virgem…” A ameaça de que Espanha poderá não cumprir os caudais anuais nos rios Tejo e Douro, deve servir para pensarmos a sério sobre o futuro da política agrícola portuguesa e sobre a nossa soberania alimentar. Quando os interesses económicos do país são postos em causa, seja pela escassez de água, seja por questões sanitárias na exportação de animais ou por quaisquer outros “embargos”, há que repensar estratégias, mesmo correndo o risco de por em causa a eficiência na produção de alguns produtos essenciais.

Nuno Marques

REVISTA RUMINANTES

#47

OUTUBRO . NOVEMBRO . DEZEMBRO 2022

DIRETOR

Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

André Antunes, António Moitinho, Arsénio Massinhas, Bárbara Fernandes, Benjamim Massinhas, Cândido Maquedo, Carlos M. Martins, Carlos Rego, Carlos Reis, Carlos Vouzela, Cristiano Massinhas, Deolinda Silva, Enrique Pernaute, George Stilwell, Guillaume Olivier, Hélder Quintas, Inês Pitacas, Joana Silva, Joana Tomás, João Chagas e Silva, João Ferreira, João Santos, Joel Presa, José Rodriguez Estribi, Luís Viveiros, Marcelo Silva, Marie-Laure Ocaña, Martin Hapke, Miguel Quaresma, Nuno Mamede Santos, Paula Rego, Paulo Rego, Pedro Dinis, Pedro Maquedo, Pedro Nogueira, Ramiro Valentim, Ricardo Freixial, Sandra Campelo, Sofia Teixeira, Valentim Martins.

DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO

Francisca Gusmão

REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda

FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques

IMPRESSÃO

Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320

ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO

Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com

PROPRIEDADE/EDITOR

Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955

Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras

GERENTE

Nuno Duque Pereira Monteiro Marques

DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação)

Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação)

TIRAGEM 5.000 exemplares

PERIODICIDADE Trimestral

REGISTO N 126038

DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11

O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação.

Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda.

Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico.

O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial. www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes

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#47 EDITORIAL

Começámos o projeto da Ruminantes em 2010, com o objetivo de poder contribuir para a divulgação do conhecimento neste setor, fazendo eco de histórias de negócios de produtores que possam servir de inspiração para outros. Tem sido essa a nossa principal motivação. Hoje, passados 12 anos, sentimos que tem valido a pena, pelo feedback que recebemos dos nossos leitores e das empresas que nos apoiam.

Durante os últimos anos, conseguimos que a Revista chegasse, de forma gratuita, a todos aqueles que se mostraram interessados em recebê-la. Porém, o aumento de custos provocados pela conjuntura obriga-nos, agora, a repensar o financiamento deste projeto que, até aqui, tem recaído exclusivamente nas empresas.

Decidimos, assim, propor uma forma de patrocínio livre, dirigido a todos os leitores que entendem que a Revista Ruminantes tem um valor.

Para contribuir para o projeto Ruminantes, poderá optar pelo método de pagamento por transferência bancária ou MB WAY (dados abaixo). Depois de fazer o donativo, envie o comprovativo e os dados de faturação para geral@revista-ruminantes.com ou por WhatsApp para o telemóvel 917 284954. Para a emissão de fatura, indique por favor o seu nome, morada, NIF, email ou telefone.

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Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros. Otto von Bismarck " PATROCÍNIO LIVRE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA — IBAN: PT50 0269 0111 0020 0552 399 92 MB WAY —TLM 917 284 954 RUMINANTES

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PARA CUIDADOS NATURAIS DA PELE
06 10 Produção | Bovinos de leite Entrevista aos produtores de leite Massinhas, em S.Miguel 22 Alimentação | Vitelos Considerações sobre o colostro materno 28 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite O desafio da desmedicalização 32 Agricultura regenerativa Uma conversa com Nuno Mamede Santos, diretor do projeto Terracrua Design 36 Agricultura Regenerativa A empresa Fertiprado colabora no projeto Farming For Generations 38 Forragens hidropónicas Milho versus cevada, comparação entre quantidade produzida e valor nutricional 42 Ovinos e caprinos Seroprevalência aparente e possíveis fatores de risco associados à infeção por lentivírus 46 Genética | Bovinos de carne Eficácia da ransferência embrionária, em algumas explorações do sul de Portugal 20 Alimentação | Bovinos de leite Os resíduos da bananeira na alimentação dos bovinos #47 OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 2022 26 Alimentação | Bovinos de leite Arraçoamentos com aminoácidos 52 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite Dermatite digital: o que é, como se propaga, como se evita e como se trata 56 Saúde e bem-estar | Ovinos Novas estratégias na prevenção de abortos 64 Equipamento | Bovinos de leite Custos e benefícios do sistema integrado de ordenha robotizada Lely Astronaut 62 Formação Como se processa a certificação em bem-estaranimal 16 Produção | Bovinos de leite Como o fim das quotas leiteiras fez nascer um negócio WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM HÁ 12 ANOS A PROMOVER IDEIAS #47 | out. nov. dez. 2022 SUMÁRIO

Minerais Superiores, Resultados Superiores. Comprovado.

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#MoreThanMinerals

Heus:

08 76 Associativismo | Açores Entrevista a Luís Viveiros, presidente da Cooperativa Agrocapelense, em S. Miguel 72 Observatório do Leite "Inflação, incerteza, doença renal e stevia". 74 Índice VL e Índice VL-Erva "Preço de leite: uma ténue luz ao fundo do túnel" 78 Bovinos de Leite Investigação leiteira, o que há de novo 70 Observatório das Matérias-Primas "Destruição de procura ou de oferta". WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM HÁ 12 ANOS A DISTRIBUIR CONHECIMENTO 80 Saúde e bem-estar animal | Vitelos Demonstração da aplicação de um gel de aplicação tópica para controlo da dor 82 Evento De Heus Convenção De
"Os segredos dos robots de ordenha" 66 Produção | Bovinos de leite Cândido e Pedro Maquedo relatam a sua experiência com o novo robot de ordenha 89 Equipamento Lakto Hayvancilik tec. Laktowash: a solução de limpeza para mini sistemas de ordenha 84 Produto Plurifoam, a nova espuma para o cuidado do pêlo dos animais, da Plurivete 86 Equipamento Gea Farm Tchnologies AutoDry: solução para a secagem de vacas com alta produção de leite 85 Notícias O novo trator New Holland T6.180 Methane Power que funciona 100% a metano 87 Equipamento Cowhouse International Dreamstall: maior conforto para as vacas nos cubículos 90 Equipamento Albert Kerbl Ako Wolfstop: as cercas que protegem dos predadores 88 Equipamento Meier-Brakenberg Lifty: remover com facilidade tampões de chorume 86 Equipamento Silicon Vertriebs Stimulor® Stressless, a solução para os diferentes tamanhos de tetos numa ordenha #47 | out. nov. dez. 2022 SUMÁRIO

Menos cetose. Mais leite

Também pode utilizar o Keto-Test para implementar um programa de monitorização da cetose na sua própria exploração.

A cetose subclínica é uma doença metabólica subtil, que tem consequências negativas na produção de leite e na reprodução: menos 411 litros de leite3 e uma redução de 20-50% na taxa de conceção à primeira inseminação6. Como prevenir a cetose? Com os dados do Controlo Leiteiro de BHBA4,5, ou com o Keto-Test7 poderá monitorizar a cetose na sua exploração, e com o seu médico veterinário poderá definir o programa que melhor se adapte às suas necessidades. A Elanco, com os seus produtos e serviços, ajuda-o a ter um período de transição com êxito: vacas saudáveis, mais produtivas e mais férteis.

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4,5 De acordo com um estudo de campo, 28% das vacas sofre de cetose subclínica, com a consequente redução da quantidade e qualidade do leite produzido1,2,3
A medição
de BHBA em amostras de Controlo Leiteiro, permite aferir os resultados do maneio dos problemas metabólicos e da cetose.4,
5 1. Bach A., Andreu C., 2016. «A field study about incidence, risk factors, and consequences of ketosis in dairy cattle”. World Buiatric Congress, Dublin, July 2016. | 2. Vanholder T. et al., 2015 “Risk factors for subclinical and clinical ketosis and association with production parameters in dairy cows in the Netherlands” J. Dairy Sci. 98 :880–888 | 3. Ospina P. et al. 2010. «Association between the proportion of sampled transition cows with increased nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate and disease incidence, pregnancy rate, and milk production at the herd level” J. Dairy Sci. 93 :3595–3601 | 4. Viña C. et al., 2017. “Study on some risk factors and effects of bovine ketosis on dairy cows from the Galicia region (Spain)” Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition 101 (2017) 835-845. | 5. Guadagnini et al., 2019 Prevalence and risk factors associated with ketosis detected in dhi control samples in catalonia. XXIV Congreso Internacional Anembe de Medicina Bovina Sevilla 22 Mayo 2019. | 6. Walsh R. B. et al., 2007. “The Effect of Subclinical Ketosis in Early Lactation on Reproductive Performance of Postpartum Dairy Cows”J. Dairy Sci. 90:2788-2796. | 7. Carrier J. Et al., 2004 “Evaluation and Use of Three Cowside Tests for Detection of Subclinical Ketosis in Early Postpartum Cows” Journal of Dairy Science Vol. 87, No. 11, 2004. Keto-test tem o número de registo AV: 348/00/12PUVPT. Keto-Test, Elanco e a barra diagonal são marcas registadas de Elanco ou suas filiais. ©2019 Elanco Animal Health, Inc. ou suas afiliadas . PM-PT-19-0070 RECARREGA ENERGIA

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

NÃO DAR UM PASSO MAIOR DO QUE A PERNA

NOS ÚLTIMOS DIAS DE AGOSTO, VISITÁMOS A EXPLORAÇÃO DOS IRMÃOS MASSINHAS QUE FICA EM ARRIFES, A MAIOR BACIA LEITEIRA DOS AÇORES. NESSA PAISAGEM FÉRTIL ONDE PREDOMINAM PASTAGENS, OS IRMÃOS ARSÉNIO, BENJAMIM E CRISTIANO MASSINHAS CONTINUAM A PRODUZIR LEITE, DANDO CONTINUIDADE A UM NEGÓCIO DE FAMÍLIA COM MAIS DE 100 ANOS, DIZ BENJAMIM MASSINHAS: “O GRANDE OBJETIVO FOI SEMPRE COMPRAR TERRA, POIS ERA A FORMA DE CONSEGUIRMOS PRODUZIR LEITE BARATO, E DE FORMA SUSTENTÁVEL. POSSO DIZER QUE O LEITE NUNCA DEU PREJUÍZO.”

Aprodução de leite na família Massinhas começou há mais de 100 anos com o avô, mas foram os pais que compraram os terrenos onde está agora o centro de exploração, conta Benjamim: “Nós nascemos no meio das vacas. Logo que acabava a escola obrigatória, vínhamos trabalhar para a exploração. Na altura já tínhamos entre 50 a 60 vacas leiteiras.”

“Nesse tempo — conta Benjamim — tínhamos uma propriedade de 150

alqueires (±22 hectares), de renda. Então, antes de comprar uma vaca tínhamos de ter terra para ela. As vacas alimentavam-se quase exclusivamente do pastoreio (e algum milho, dado em dezembro, janeiro e fevereiro) e não se compravam forragens fora. As poupanças eram aplicadas pelos seus pais, na compra de terras, ainda que, por vezes isso não agradasse aos filhos, como conta Benjamim: “Eu tinha cerca de 10 anos, já trabalhávamos na exploração e quando chegou o Natal, pedi-lhes uma bicicleta; os meus pais responderam-me,

“Oh filho, comprámos aquela terrinha, para o ano ela está paga e compramos a bicicleta". No ano seguinte, chegava o mês de agosto e eles compravam outra terra; e eu, pensava logo que a bicicleta não vinha outra vez... Mas hoje, tenho orgulho nesses terrenos, são eles que nos vão dando o sustento. O grande objetivo foi sempre comprar terra, pois era a forma de conseguirmos produzir leite barato, e de forma sustentável, sem nunca dar um passo maior do que a perna. Posso dizer que o leite nunca deu prejuízo.

010 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Por Ruminantes | Fotos FG

Hoje, com todas as bases e princípios que adquirimos dos nossos pais, e que nos tem orientado neste negócio, mesmo numa altura como esta, de crise, ganhamos dinheiro. Nesta casa, o subsídio é bemvindo mas é visto como um extra.

Em 1994, tínhamos 180 vacas leiteiras, hoje temos 250 (220 em produção e 30 secas), ou seja, temos tido um aumento de apenas 2 a 3 vacas por ano. Não se aumenta o efeitivo sem primeiro garantir a alimentação das vacas."

Na exploração dos irmãos Massinha, "as funções estão bem divididas de acordo com as preferências naturais de cada um", explica Benjamim, "mas as decisões são tomadas em conjunto".

A quem vendem o leite? A que preço?

Vendemos à Prolact. Pela nossa dimensão e pela qualidade e forma de produção que temos, recebemos o leite a um preço mais elevado do que a média da Ilha, cerca de mais 5-6 cêntimos.

Qual é o principal fator no custo de produção?

A terra. As rações também representam muito, mas em relação a isso vamos seguindo o princípio dos nossos pais, a fatura da ração não pode representar mais de 1/3 da faturação.

Que instalações têm para os animais?

Um estábulo para ordenha e uma manjedoura com forragens. As vacas dormem num parque ar livre.

Como é a ordenha?

Uma sala de 12+12 pontos, paralela, não informatizada, onde são ordenhadas 100 vacas por hora, de 12 em 12 horas. É o único local onde damos ração.

Que tipo de vaca têm?

Já andámos nos concursos, e aí tínhamos umas vacas bonitas, altas, mais exigentes mas mais débeis. Há 10 anos decidimos começar a fazer vacas para terem uma maior vida útil. Temos que evitar ter problemas de fertilidade, porque estes problemas “roubam” leite.

Gosto de levantar troféus, mas gosto mais de ter uma carteira com dinheiro. Atualmente, de 3 em 3 anos vou ver um concurso europeu, mas tenho de ter dinheiro, e ele tem de vir das vacas.

A ideia, agora, é ter vacas que todos os anos deem um bezerro, que estejam sempre a produzir sem problemas.

Nos últimos 10 anos, tivemos mais de 20 vacas acima dos 100.000 litros de produção acumulada na sua vida útil.

E mais de 30 vacas classificadas com "Excelente" (+ de 90 pontos) na classificação do livro da raça Holstein. Em 2020, tivemos a vaca campeã nacional, com maior produção de leite acumulada (lactações terminadas) - 153.332 kg em 13 lactações.

Só utilizam inseminação artificial (IA)?

As 2 primeiras são IA, depois temos 2 touros para as vacas que repetem.

Qual é o critério na escolha do sémen?

Animais com longevidade, níveis elevados de proteína e gordura no leite, pés e capacidade de ingestão.

Como é a alimentação das vacas?

A alimentação das vacas em lactação é baseada no pastoreio (12 horas por dia), em alimento dado no unifeed e em ração dada na sala de ordenha.

Unifeed (composição por vaca e dia): 34 kg silagem de milho, 18 kg de erva e cerca de 1 kg de palha. É feito 2 vezes por dia e o alimento está disponível para os animais durante toda a noite, entre a ordenha da noite e da manhã.

Como fazem a gestão da pastagem?

Todos os dias, as vacas em lactação vão para um parque novo, com erva fresca, onde pastam durante o período entre a ordenha da manhã e a da tarde. Durante cerca de 11 horas, 220 vacas permanecem num parque de 1 ha de pastagem. Em média, ao longo do ano, as vacas levam cerca de 21 dias até voltarem ao mesmo parque.

Periodicamente, fazemos análises ao solo, fertilizamos a cada 2 meses depois de pastoreado, utilizando adubos de libertação controlada adequados para a situação do solo.

As quantidades utilizadas de adubo dependem do objetivo. Para pastoreio, a quantidade é menor do que para silagem (de 10 a 70 kg/ha).

“O facto de todos os dias irem pastar para um parque novo, com erva fresca, leva à produção de um leite diferente, mais saboroso. Era assim que se fazia antigamente, quando o leite era consumido aqui na Ilha. Janeiro e fevereiro são meses mais difíceis, mas melhorámos a estrada de acesso aos parques para não haver problemas de patas. Ao fim de 21 dias, porque os terrenos são muito férteis, as vacas já podem voltar ao parque onde estiveram.

Na nossa exploração utilizamos 2 fatores para influenciar a produção de leite: alargar a área de pastagem, o que nos dá mais leite e diminuir o consumo de ração, o que nos dá menos leite.

Normalmente, em média, temos 220 vacas por ha e por dia.

Que silagens fazem?

Silagem de milho em 42 ha e silagem de erva em 56 ha, vários cortes. Fazemos cerca de 1900 rolos de silagem de erva; desses, os piores, cerca de 20%, serão dados apenas às novilhas.

011 Não dar um passo maior do que a perna PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE
Os irmãos Arsénio, Benjamim e Cristiano Massinhas são a terceira geração na gestão da sua exploração Cristiano Massinhas (pai dos irmãos Massinha), à esquerda e seu pai, João Massinhas (ao centro), num concurso em que participaram.

Como é a preparação dos terrenos e que adubações e mondas fazem na cultura do milho e azevém?

Após colher o milho, fazemos um corretivo de solo (controlo do pH), passamos com um rototerra ou uma grade, espalhamos o azevém e voltamos a passar uma grade ou vibrocultor. Normalmente fazemos 4 cortes, normalmente os primeiros são feitos pelas vacas (pastoreando) e os outros 2 são cortados para rolos.

Este ano, por exemplo, numa das parcelas fizemos 33,5 ton/ha de erva nos 4 cortes entre março e o fim de junho. Semeámos em outubro, e só começámos a adubar em fevereiro. A partir daqui, aduba-se após cada corte. Estes solos são muitos ricos em matéria orgânica, potássio e fósforo. Não precisam de grandes adubações.

Depois vem o milho. A preparação começa com o espalhamento do estrume e uma lavoura, “viramos a terra e deixamos uma semana a arejar”. Noutras parcelas que não são pastoreadas, mas são

pressionadas por rodados de tratores, não lavramos, passamos apenas com o ríper e semeamos.

Ao contrário do azevém, em que somos apologistas da variedade regional, no milho queremos sempre a última novidade, da tecnologia mais recente. Neste tipo de solos utilizamos milhos de ciclo 500, com 96.000 plantas/ha (65 cm entre linhas e 16 cm na linha). Em termos de mondas, aplicamos o Monsoon apenas quando a planta tem até 3 folhas.

Como dão a ração?

É dada somente na ordenha. A média está nos 10 kg/vaca e dia. A quantidade é personalizada na sala de ordenha, onde podemos regular a quantidade dada a cada animal (múltiplos de 2 kg).

Com o aumento dos preços dos fatores de produção, tomaram alguma decisão em relação à alimentação?

O que fizemos foi diminuir a quantidade de ração na ordenha (2 kg/vaca/dia) e aumentar a quantidade de silagem de

milho no unifeed. Claro que as vacas diminuíram a produção de leite, mas para nós, sempre que o concentrado está mais caro do que o preço que nos pagam pelo leite, não justifica apostar no concentrado.

No que respeita ao milho, conseguimos otimizar as sementeiras e adubações e com isso conseguimos controlar os aumentos dos custos. O primeiro fator onde poupámos foi na compra antecipada de adubo, logo em fevereiro. Outro foi a utilização de uma gama de adubo diferente, o Energetic, da ADP.

Entendemos que a indústria tem que perceber que tem que pagar mais pelo leite e que os produtores reclamem porque o negócio está a atravessar um período difícil, Mas temos que ir tomando as nossas decisões, e em 'casa' é que temos que fazer o leite barato para fazer face a estes problemas. Não podemos esperar que sejam os outros a resolver os problemas.

Que indicadores utilizam na gestão da exploração?

- a natureza, dependemos muito do que

012 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Benjamim Massinhas com Nuno Marques (Ruminantes) e Marcelo Silva (Delegado de Vendas Ilhas de São Miguel e Santa Maria, ADP Fertilizantes)

o S. Pedro vai fazendo. Um bom ano de chuvas representa um ano de produção de leite a baixo custo;

- o controlo da despesa. A ração não pode ultrapassar um terço das receitas do leite;

- o número de litros de leite por hectare: hoje estamos com cerca de 25.500 litros/ano/ha;

- a longevidade das vacas associada à produção de leite, ou seja, a produção de leite durante a vida útil. A terra é demasiado cara para ter animais sem produzir. Se as vacas duram menos tempo, tenho mais área ocupada com as novilhas de substituição, que não produzem.

Quando visita uma exploração, que pergunta gosta de fazer para saber se essa exploração está bem?

Quantas vacas tem em tratamento? O que é normal?

Qual é o segredo para se ganhar dinheiro neste período difícil?

Vender a um preço mais alto, ter uma excelente produção de erva (excelentes terras), ter as vacas sempre a produzir leite e não investir em equipamento desnecessário.

Aos 54 anos, 43 como produtor de leite, sente-se realizado?

Plenamente, foi uma vida dura, mas hoje, se fosse necessário poderia reformar-me sem depender do estado, e o meu filho poderia continuar o negócio.

O que faz para ir tendo ideias para o negócio?

Procuramos viajar bastante, pelos EUA, Europa e Continente, para ver outras explorações e falar com colegas de profissão. Quando aparecem ideias novas e fazem sentido na nossa exploração tentamos implementar.

Como estão a preparar a continuidade do negócio?

Este negócio é duro, são 365 dias por ano sempre a trabalhar. Eu gostava que o

meu filho continuasse, ele tem 15 anos e vem de manhã comigo, quando pode, mas quer continuar a estudar. Quando vamos jantar fora, em família, digo-lhe sempre que é o leite que nos paga esta refeição, que o negócio é interessante. Se não fosse, não teria, seguramente, sucessor.

DADOS DA EXPLORAÇÃO

Nome Massinhas, Lda.

Localização Arrifes, S. Miguel

Área total 700 alqueires (102 ha)

Silagem milho 42 ha

Silagem de erva 60 ha, vários cortes/ano

Nº empregados 3 sócios / 1 empregado

Produção leite vacaria/ano 2,6 M litros (2021)

Efetivo total 440, raça Holstein

Nº de vacas em ordenha 220

Produção média aos 305 dias 11.455 litros (2020)

Produção média diária 7.000 litros

GB (%) | PB (%) | 3,96 | 3,27 | 130.000 cél/ml

Não dar um passo maior do que a perna PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

MANEIO DOS ADUBOS E RESPETIVA TECNOLOGIA

LOCALIZADA NA ILHA

DE S. MIGUEL NOS AÇORES, A EXPLORAÇÃO MASSINHAS ASSENTA QUASE EXCLUSIVAMENTE NA GAMA DE ADUBOS TÉCNOLÓGICOS DA ADP FERTILIZANTES (FERTIBERIA TECH), NO QUE TOCA À COMPONENTE FORRAGEIRA. MAIS PRECISAMENTE NAS LINHAS NERGETIC DYNAMIC E PLUSMASTER.

Os fertilizantes NERGETIC DYNAMIC, com a tecnologia DUO PRO, regulam a libertação dos nutrientes, evitando perdas e maximizando a produção. Na realidade açoriana, onde a precipitação é frequente, a utilização destes fertilizantes tecnológicos acresce muitas vantagens, uma vez que protege todos os nutrientes do adubo de perdas por lixiviação. Esta proteção traduz-se numa maior eficiência de utilização, o que irá originar um maior desenvolvimento vegetativo e, consequentemente, um aumento de produção e qualidade.

NOS CAMPOS DESTINADOS

A CORTES DE ERVA PARA A FORMAÇÃO DE ROLOS DE FENO-SILAGEM, O PRODUTOR UTILIZA ESSENCIALMENTE TRÊS TIPOS DE ADUBOS:

• 1ª adubação: NERGETIC DYNAMIC D401 (20-8-10); 200 kg por hectare.

• 2ª adubação: NERGETIC DYNAMIC D406 (20-17-0); 250 a 300 kg por hectare.

• 3ª adubação e posteriores: NERGETIC DYNAMIC DS+ (24-00); 300 kg por hectare. Este modelo é geral e apenas indicativo, uma vez que o maneio de adubação e doses de aplicação podem variar de ano para ano, de acordo com o clima e as características dos solos

observadas nas análises ao solo. A tecnologia DUO PRO dos fertilizantes NERGETIC DYNAMIC disponibiliza o azoto com dupla proteção, o que aumenta ainda mais a eficiência de utilização neste nutriente. Este aumento de eficiência deve-se a dois fatores: a forma de polímero regulador que reveste os grânulos de adubo protegendo todos os nutrientes e retardando as perdas por lixiviação do azoto nítrico e amoniacal; e à forma de inibidor de nitrificação, que promove a diminuição da lixiviação do azoto nítrico.

PARA A PRODUÇÃO DA COMPONENTE FORRAGEIRA DE MILHO SILAGEM, O PRODUTOR GERALMENTE COSTUMA ASSOCIAR DUAS LINHAS DE ADUBOS TECNOLÓGICOS: a linha NERGETIC DYNAMIC, já anteriormente referida, associada à linha PLUSMASTER.

Os adubos PLUSMASTER incluem a tecnologia AntiOx, constituída por um complexo ativado de minerais siliciosos que regula seletivamente a circulação de nutrientes ao nível do xilema, aumentando o teor de antioxidantes nas plantas. Estes antioxidantes ajudam a combater os desequilíbrios do stress oxidativo nas plantas, originado por fatores abióticos (seca, calor, geadas, encharcamento, vento, salinidade, etc). Os antioxidantes também fortalecem o mecanismo fotossintético e o desenvolvimento das raízes, garantindo assim uma maior absorção de água e nutrientes e o aumento das produções.

A adubação do milho é feita de uma só vez. Após a preparação do terreno, um adubo NERGETIC DYNAMIC é distribuído a lanço e coberto posteriormente. Um adubo da linha PLUSMASTER

é então aplicado aquando da sementeira do milho. A simbiose entre estes adubos origina culturas com elevadas performances e excelentes produções.

Ao longo dos anos, os equilíbrios aplicados na adubação do milho podem variar para haver um melhor ajuste à fertilidade do solo e às necessidades da cultura. A ADP Fertilizantes disponibiliza um conjunto de formulações vasto nas duas linhas de fertilizantes. Exemplificamos um plano de fertilização para o milho silagem: • em fundo, a lanço: NERGETIC DYNAMIC D404 (24-7-7) - 650 a 700 kg por hectare; e • à sementeira, em linha: MASTER 14 (10-18-12) - 350 a 400 kg por hectare.

Neste ano (2022), esta exploração utilizou apenas a linha NERGETIC DYNAMIC na adubação do milho por motivos logísticos. Contudo, nos anos anteriores sempre utilizou a consociação da gama de adubos NERGETIC DYNAMIC e PLUSMASTER.

A CORREÇÃO DA ACIDEZ DOS SOLOS também é uma prática desta exploração. Esta é feita essencialmente com AMICOTE CORBIGRAN após o corte do milho e colocada em fundo após a mobilização dos solos. Caso não seja feita a correção em fundo, pode também ser colocado em cobertura.

O AMICOTE CORBIGRAN é um corretivo alcalinizante calcário formulado com calcário magnesiano, formulado com a tecnologia C-VIDA, e enriquecido com azoto. É utilizado para correção da acidez do solo, calagens de manutenção e ainda para correção de carências de cálcio e magnésio.

A tecnologia C-VIDA baseia-se na ação de um consórcio interativo

de moléculas e microrganismos benéficos, criteriosamente selecionado. Este consórcio possui um elevado potencial enzimático, fitohormonal e bioestimulante, que estimulam a vida microbiana do solo, promovendo a solubilização e a eficiência de utilização dos nutrientes pelas plantas.

AMICOTE CORBIGRAN é um corretivo de excelente valor neutralizante, granulado, o que ajuda à sua distribuição nos dias de vento, em relação a corretivos em pó. Normalmente, como o maneio da correção do pH do solo é realizado anualmente, as doses de aplicação geralmente não excedem a tonelada por hectare e por ano. Contudo, deve-se seguir sempre as recomendações descritas nos boletins de análises de solos.

Benefícios agronómicos:

• Intensificação da atividade biológica do solo e estimulação da vida microbiana;

• Potenciação da atividade enzimática necessária ao bom funcionamento dos ciclos de nutrientes e ao desbloqueio de nutrientes no solo;

• Solubilização do fósforo;

• Ação fitohormonal e bioestimulante nas plantas;

• Resistência ao stress hídrico;

• Maior desenvolvimento radicular e vegetativo das culturas;

• Aproveitamento massivo dos nutrientes do solo e dos adubos, por parte das plantas.

Vantagens:

• Valor nutricional elevado;

• Enriquecido em azoto;

• Apresentação sob a forma de granulado;

• Facilidade de aplicação e distribuição homogénea, podendo ser aplicado com um distribuidor de adubos normal;

• Isento de pó, podendo ser aplicado em dias ventosos.

014 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
EXPLORAÇÃO MASSINHAS-EXPLORAÇÃO AGRO-PECUÁRIA, LDA.
Por Marcelo Silva, Delegado de Vendas Ilhas de São Miguel e Santa Maria, ADP Fertilizantes | Email: marcelo.silva@adp-fertilizantes.pt

CORBIGRAN

Em solos ácidos, há menor disponibilidade de nutrientes essenciais ao desenvolvimento das pastagens e forragens, por isso, recomendamos AMICOTE CORBIGRAN. Este fertilizante granulado e isento de pó, com elevado efeito neutralizante e corretivo sobre a acidez do solo, fornece em simultâneo

cálcio

AMICOTE CORBIGRAN

solo,

Leites de altíssima qualidade Qualidade consistente assegurada por fabricação própria de ingredientes lácteos “spray-dry” Produção de carne de vitela como membro do grupo VanDrie >800.000 vitelos produzidos por ano Apoio local através de Jan Zondervan – Técnico da Schils em Portugal Produtos : Eurolac Red - Para o máximo crescimento Eurolac Green - Produto seguro para resultados iguais a leites incorporando leite em pó Eurolac Blue - Economia : mais baixo custo por kilo de crescimento Para informações contacte o nosso agente em Portugal José Caiado - 912790694 – jose.pires.caiado@gmail.com
azoto,
e magnésio. O
irá tendencialmente aumentar o pH do
favorecendo a disponibilidade da maior parte dos nutrientes para as plantas, proporcionando pastagens e forragens mais ricas e nutritivas. Azoto Fósforo Potássio Enxofre Cálcio Magnésio Ferro Manganês Boro Cobre e Zinco Molibdénio 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 ACIDEZ ALCALINIDADE www fertiberiatech.com Influência do pH na disponibilidade dos nutrientes no solo. A sua disponibilidade é tanto maior, quanto mais próximo o pH estiver da neutralidade.

Paula Rego é responsável pela produção da marca Queijos do Vale, um projeto que começou ainda estudante e que lhe valeu 2 prémios InovAçores.

DE LEITE

QUEIJOS COM ALMA

"QUANDO SE FECHA UMA PORTA, ABRE-SE UMA JANELA", OU, COMO NESTA HISTÓRIA, ABRE-SE UMA PORTA MAIS LARGA. O FIM DAS QUOTAS LEITEIRAS, EM 2015, LEVOU UMA FAMÍLIA DE PRODUTORES DE LEITE, DA REGIÃO AÇORIANA DAS FURNAS, A CRIAR UM OUTRO NEGÓCIO ONDE PUDESSE ACRESCENTAR VALOR AO LEITE DA SUA EXPLORAÇÃO.

FOI ASSIM QUE NASCEU A QUEIJARIA DAS FURNAS, DE ONDE HOJE, PASSADOS 6 ANOS, SAEM 6 VARIEDADES DE UM QUEIJO ÚNICO, FEITO A PARTIR DE UMA SALMOURA DE ÁGUA MINERAL PROVENIENTE DE NASCENTE VULCÂNICA.

A QUEIJARIA

Como surgiu a queijaria?

Paula Rego (PR): A ideia surgiu em 2015, com o anúncio do fim das quotas leiteiras. Na altura, produzíamos em média 1 milhão de litros de leite e, se ultrapassássemos esta quantidade, seríamos penalizados. Foi então que decidimos fazer um derivado do leite, o queijo. Após um ano e meio de

aprendizagem e experiências, abrimos, em 2017, a nossa primeira queijaria.

"Não tínhamos experiência no fabrico de queijo, tivemos que aprender. O nosso primeiro professor foi o Youtube, mas depois tivemos a oportunidade de trabalhar com técnicos ligados à área, bem como a ajuda técnica e científica do Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores (INOVA), até conseguirmos chegar aos produtos

que temos hoje em dia. O nosso queijo amanteigado, por ser de pasta mole, não nos oferece muita dificuldade porque temos o ingrediente mais importante: um leite de qualidade.

Que produtos fabricam?

PR: Produzimos aqui 6 variedades de queijo com a nossa marca, Queijo do Vale: amanteigado, meia cura, aromático com

016 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Por Ruminantes | Fotos FG PRODUÇÃO | BOVINOS

orégãos; aromático com alho; aromático com tomilho e limão (sazonal) e um queijo com 8 meses de cura. Nesta fábrica temos capacidade para 2500 litros de leite por dia, o que representa uma produção de 500 queijos diários. Fabricamos também gelados e o ano passado apostámos nos bombons de queijo com vários dos nossos produtos regionais. Também fazemos queijadas de queijo.

Como chegaram a esta "receita" de queijo?

PR: A nossa ideia era fazer, para além de queijo, um queijo que fosse diferenciado. E isso passou por utilizarmos um recurso natural da nossa freguesia, a “água azeda”, uma água naturalmente gaseificada, vinda duma nascente vucânica, que tem um teor férreo mais elevado. Após ser banhado em salmoura, que é esta água azeda, o queijo absorve algumas características da água e adquire um sabor distinto.

Como comercializam o queijo?

PR: Na loja da queijaria, em várias lojas em Ponta Delgada, no Continente, na Madeira, na Alemanha e, em breve, chegará também aos EUA e ao Canadá.

Porque decidiram entrar neste negócio?

Carlos Rego (CR): No negócio do leite, como produtores não temos capacidade de discutir com a indústria. Em determinado dia do mês enviam-nos uma mensagem a

informar se o leite vai subir ou vai descer, e não podemos fazer nada. Houve uma pessoa que me disse, um dia, que negócio ruim é aquele que dá subsídios…

Porque não há mais negócios como este?

CR: Por causa da burocracia. O país não se desenvolve por causa disso. E nós nem sequer pedimos qualquer tipo de ajuda financeira.

Como imagina este negócio em 2027?

PR: A ideia é melhorar o que temos e vender cada vez mais na nossa cafetaria.

A EXPLORAÇÃO LEITEIRA

Qual é a produção anual de leite da vossa exploração?

CR: Um milhão de litros. Neste momento 2/3 ficam na queijaria e 1/3 vai para a BEL, para o projeto das Vacas Felizes. Do leite que entra na queijaria, cerca de 10% é para o fabrico de produtos diferentes, como gelados, leite do dia, queijo fresco e bombons.

Quando começou a fazer queijo, mudou a forma de fazer leite?

CR: Tornei-me mais sensível à questão da conservação das silagens. Começámos a usar películas nas silagens de milho para evitar os bolores. Isso é muito importante para o fabrico do queijo. Fazemos silagem de erva e de milho.

DADOS DA EXPLORAÇÃO

Área total 70 ha (50+20)

Área de milho 18 ha/ano

Produção de leite da vacaria/ano 1.000.000 litros

Raça Holstein x Montbéliarde

Nº vacas em ordenha 100

GB (%) | PB (%) 3,7 | 3,2

Qual é o efetivo total?

CR: O nosso efetivo atual são 220 animais, dos quais 100 são vacas em ordenha.

Quantas ordenha faz por dia? Fazemos 2 ordenhas diárias, mas o nosso objetivo é passar para apenas uma. Para isso, vamos mudar o nosso efetivo para Montbéliarde. Esperamos dessa forma reduzir o fornecimento de concentrado quase a zero, dando boas silagens e muitos minerais.

O cruzamento da Montbéliarde com a Angus pode dar uma carne de excelente qualidade. Atualmente trabalhamos muito Angus cruzada com Holstein, para produzir carne para a nossa cafetaria. Depois da pandemia, quando abrimos este espaço, constatei que quase só entravam turistas. Sempre achei que isso não era bom, por qualquer razão essa gente

017 Queijos com alma PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE
Paulo Rego, responsável pelo dia-a-dia na exploração e seu pai, Carlos Rego.

pode desaparecer. Como as pessoas aqui gostam de comer carne, começámos a produzir também para abastecer o nosso estabelecimento: as partes nobres vão para os pregos e o resto para hambúrgueres.

Porquê a raça Montbéliarde?

CR: Foi a pensar no leite A2A2, na robustez da raça e na possibilidade de alimentar as vacas quase exclusivamente com forragens. É uma raça com boa fertilidade, com poucos problemas de úberes e de patas e que dá boa carne.

Quantas vacas de leite A2 têm?

CR: Estão 23 identificadas (com coleira) como A2, mas esta identificação resultou de testes feitos há 4 anos. Daí para cá só inseminámos com touros A2, por isso o efetivo de A2 já é muito maior. Na primeira ordenha da manhã, entram primeiro as vacas A2, para o leite não se misturar com o outro.

Espera vir a diminuir a produção de leite com a Montbéliarde?

CR: O meu foco vai estar na produção de queijo. Acho que vou produzir menos leite,

utilizando apenas erva, mas penso que não vou fazer muito menos queijo. Inclusivé, estou a pensar a fazer apenas uma ordenha diária porque também nos permite ter mais qualidade de vida.

A alimentação dos animais é muito importante para o queijo. É igual todo o ano?

CR: Praticamente todo o ano. A qualidade do leite mantêm-se quase sempre em 3,7% de gordura e 3,2% de proteína. A diferença está na qualidade da erva ao longo do ano, que nos pode fazer variar o rendimento queijeiro em até 20%. Para as pastagens que temos e o tipo de queijo que fazemos, o rendimento queijeiro é superior na primavera. Em média precisamos de 7,5 litros de leite para 1 kg de queijo.

Faz rotação de parques?

CR: Todos os dias, durante o dia, as vacas têm acesso a um parque novo, com 1 ha. À noite, depois da ordenha, ficam num parque de 0,5 ha junto à exploração e com acesso à mesma. Em média, passadas 3 semanas, voltam ao mesmo parque.

De 3 em 3 anos fazemos a renovação da pastagem.

Atualmente, como é a alimentação das vacas?

CR: Genericamente, é igual todo ano: pastoreio todo o ano, silagem de milho e de erva e alguma ração.

Como prepara o terreno para a silagem?

CR: Antes de semear o milho, espalhamos o estrume sólido e lavramos em “cru” (a cerca de 40 cm profundidade). Esperamos uma semana, passamos o rototerra e semeamos. Quando tiramos o milho, dependendo dos terrenos, passamos com o subsolador e voltamos a semear azevém.

Face aos aumentos dos preço das matérias-primas e dos fatores de produção, tomou alguma decisão?

Sim, baixei a quantidade de ração por vaca, passei para 3,5 kg/vaca/dia e subi a silagem de milho. A produção desceu menos de 8%, o ano tem sido excelente para a pastagem e isso tem ajudado. Como não têm ração, comem mais pastagem.

018 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
A paisagem que deu o nome ao queijo "Queijo do Vale".
019

ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES

RESÍDUOS DA BANANEIRA NA ALIMENTAÇÃO

O AUMENTO GLOBAL DA PROCURA DE ALIMENTOS, PRINCIPALMENTE PROTEÍNAS, LEVA A UMA NECESSIDADE DE ESTRATÉGIAS MAIS EFICIENTES E SUSTENTÁVEIS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL (HENCHION ET AL., 2017). SENDO A MACARONÉSIA UM GRANDE PRODUTOR DE BANANA, FIZEMOS UM ESTUDO, UTILIZANDO OS RESÍDUOS DA BANANEIRA (FOLHAS E CAULES), COM O OBJETIVO DE ESTUDAR O EFEITO NUTRITIVO DA MUSA SPP COMO FONTE DE FIBRA NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL.

Oaumento global da procura de alimentos, principalmente proteínas, leva a que exista a necessidade de estratégias mais eficientes e sustentáveis na alimentação animal (Henchion et al., 2017). Sendo a Macaronésia um grande produtor de banana, fizemos um estudo, utilizando os resíduos da bananeira ( folhas e caules), com o objetivo de estudar o efeito nutritivo da Musa spp como fonte de fibra na alimentação animal.

A utilização dos mais diversos recursos alimentares para colmatar as exigências nutricionais nos ruminantes, é muito debatido na atualidade. O recurso a alimentos alternativos para ruminantes é uma estratégia que visa reduzir os custos com a alimentação e superar o problema da escassez de pastagens (fibra) que ocorre em diversos momentos. A produção pecuária em regiões de pastoreio muitas vezes vê-se confrontada com períodos de baixa produção de pastagens, motivada por condições climáticas adversas que influenciam fortemente a produção de gramíneas. Com os atuais conceitos de produção, nos países em desenvolvimento, o uso de cereais em dietas para animais

é caro devido à competição direta como fonte de alimentação humana, o que leva à necessidade de maximizar o uso dos recursos disponíveis, que incluem o consumo de alimentos não convencionais.

A alimentação dos ruminantes nos Açores, baseia-se principalmente em gramíneas. A cada ano que passa, a produção de erva é insuficiente para atender as exigências nutricionais dos animais nos meses de seca, causando stress nutricional e diminuindo a produtividade animal. A deficiência de forragem torna necessária a importação de rações ou de fontes de fibra (Borba, 2015). No entanto, a suplementação com concentrados durante a estação seca pode não ser uma prática lucrativa devido aos altos custos. Uma potencial estratégia para aumentar a qualidade e disponibilidade de alimentos para ruminantes na estação mais seca, pode ser através da alimentação de forragens não convencionais como Pittosporum undulatum, Hedychium gardnerianum, Morella faya e Ilex perado (Borba, 2007), plantas já estudadas diversas vezes.

As plantas forrageiras não convencionais são produtos fibrosos de baixa qualidade que são caracterizadas por teores de celulose, hemicelulose e lenhina em

torno de 70%, e baixas concentrações de hidratos de carbono solúveis, proteínas, minerais e vitaminas. Para melhorar o valor nutricional das forragens, estas podem ser submetidas a tratamentos físicos, químicos ou biológicos, podendo ser uma alternativa adequada para fornecer forragem de qualidade, atendendo às exigências nutricionais dos animais.

Existem várias vantagens no uso de alimentos não convencionais na produção animal. A principal vantagem é reduzir o custo dos alimentos utilizando recursos disponíveis localmente. Outra vantagem é a redução da competição por alimentos entre humanos e animais. A capacidade dos ruminantes de usar a fibra de forma eficiente possibilita a exploração de subprodutos agrícolas e resíduos de culturas tropicais, como a bananeira, que também pode fornecer energia e proteína.

A bananeira é uma planta muito conhecida e útil, da qual quase todas as partes podem ser utilizadas, exceto as raízes e os caules. As bananeiras são recursos naturais amplamente produzidos e abundantes nos países tropicais e subtropicais do mundo (Sango et al., 2018) cujo desenvolvimento requer calor constante, humidade alta e boa

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Por Sofia Teixeira, Postdoctoral Research Fellow at IITAA, University of Azores na University of the Azores | Foto Sofia Teixeira #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

distribuição de chuva ou irrigação. O seu fruto, a banana, é das frutas mais consumida no mundo, com uma produção de aproximadamente 113 milhões de toneladas em 2016. Canárias, Açores e Madeira possuem condições climáticas para produzir culturas subtropicais e algumas tropicais, Estas culturas têm vários anos de trabalho, nos quais se adaptaram técnicas culturais, permitindo conhecer profundamente não só a cultura, mas também as diferenças a serem consideradas nas regiões subtropicais. De acordo com Batabunde (1992), cerca de 30-40% da produção total de bananas está disponível para alimentação animal por ser rejeitada para exportação, sofrer danos no terreno ou simplesmente não ter as dimensões para ser vendida. As projeções da FAO (2020) para a produção mundial de bananas são de que deve crescer 1,5% ao ano, chegando a 135 milhões de toneladas em 2028.

Após o corte do cacho de bananas, as partes restantes da planta, ou seja, pseudocaule e folha, constituindo cerca de 80%, podem ser utilizadas como ração para ruminantes, pois contêm grandes quantidades de nutrientes. O maior valor de proteína bruta dos resíduos da bananeira é encontrado na folha. No pseudocaule é onde se encontram quantidades moderadas de fibra. Devido à baixa digestibilidade da folha e aos baixos valores de matéria seca e proteína bruta do caule, a alimentação deveria ser suplementada com alimentos concentrados proteicos para que uma alta produção animal possa ser obtida. Para otimizar o uso desses alimentos na alimentação animal, é importante estabelecer um equilíbrio entre os nutrientes da dieta, para garantir eficiência nos processos de fermentação ruminal e otimização do crescimento microbiano. Estes processos resultam na maximização da digestão das fibras, e na melhoria do desempenho produtivo. Contudo, é importante conhecer a composição química e o seu valor nutricional, no uso racional desses alimentos, considerando o nível que pode ser incluído na dieta, com o objetivo de obter dietas equilibradas que atendam as exigências nutricionais do animal, maximizando seu consumo (Clementino, 2008).

Sendo os Açores e a Madeira grandes produtores de banana, realizámos um estudo utilizando resíduos de banana (folhas e caules) para investigar o papel nutricional da Musa spp como fonte de fibra na alimentação animal.

Nos resultados obtidos, em relação aos

TABELA 1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E NUTRITIVA DA MUSA SPP

Tratamento MS 100 g MS DMS

(%) PB NDF ADF ADL EE Cinza (%)

Folhas 16,54 11,25 70,07 42,38 9,90 2,6 17,74 22,69 (±0,58) (±1,18) (±2,28) (±1,63) (±0,63) (±0,42) (±0,94) (±1,27)

Pseudocaule 6,54 7,25 52,10b 30,62 6,57 1,36 24,07 40,39 (±0,25) (±0,66) (±0,51) (±1,29) (±1,10) (±0,09) (±1,95) (±3,10)

MS – Matéria Seca; PB – Proteína Bruta; NDF – Fibra em Detergente Neutro; ADF – Fibra em Detergente Acido; ADL- Lignina em Detergente Acido; EE – Extrato Etéreo; DMS – Digestibilidade da Matéria Seca In vitro.

valores de Matéria Seca e de Proteína, as folhas e o pseudocaule, apresentaram diferenças significativas entre si, como é possível verificar na Tabela 1.

Quanto aos valores de NDF, existiram diferenças significativas entre folhas e pseudocaules, sendo o maior valor encontrado nas folhas. Estes resultados e os resultados de DMS estão de acordo, mostrando que o pseudocaule tem um valor de NDF inferior 52,10% vs 70,07% nas folhas e o DMS nas folhas é 22,69%, mas no pseudocaule é 40,39%.

Quanto ao ADF, também apresentou diferenças significativas entre folhas e pseudocaules. O EE também apresentou diferenças significativas entre eles, como em Cinza e DMS. ADL não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os tratamentos (p > 0,05). Na maioria dos parâmetros, as folhas apresentaram os maiores valores, exceto cinzas e DMS. Isso é normal, pois as folhas têm mais NDF do que os pseudocaules, por isso têm menor digestibilidade. Por outro lado, os pseudocaules possuem menos proteína, no limite das atividades ruminais e assim a sua digestibilidade não é tão alta.

Quase metade das culturas de bananeira, por volta de 40%, são consideradas resíduos no campo, produzindo cerca de 60-80 toneladas/ha/ano de pseudocaules de bananeira (Salehizadeh et al., 2017). Estes apresentam baixo valor nutritivo e alto teor de água, em torno de 93,4 %, mas com base na MS, o valor nutricional da PB é de 6,5% e o valor nutricional de gordura é de 1,5% (Tuan, 2004). Estes valores estão de acordo com os resultados obtidos no nosso estudo, em que os valores do pseudocaule são semelhantes e inferiores aos apresentados nas folhas. Segundo Cordeiro et al., 2004, o pseudocaule apresenta alta percentagem de cinzas (14%), mas baixo teor de lenhina (12%), quando comparado com outras plantas.

De forma a valorizar o valor nutritivo da

bananeira, foi efetuado um outro estudo com diferentes concentrações de hidróxido de sódio (NaOH) (2%, 4%, 6% e 8%) e com ureia. Após a análise dos resultados, verificámos que, em relação às diferentes concentrações de NaOH, o melhor para tratamento seriam concentrações de 6 e 8%. Esta conclusão deve-se a serem os tratamentos que apresentaram melhores variações na diminuição dos teores de NDF e que aumentaram os valores de digestibilidade. Isso sugere que este subproduto pode ser utilizado na alimentação animal, sendo uma estratégia promissora para melhorar a eficiência alimentar de ruminantes.

No entanto, a qualidade pode ser melhorada se for feita uma silagem com outra folhagem ou com levedura, como promotor de crescimento, de forma a melhorar o teor de proteína, o consumo de ração e também o ganho de peso vivo (Manivanh & Preston 2015). Oliveira et al., (2014) estudaram o efeito do uso de feno do pseudocaule de bananeira na alimentação de pequenos e grandes ruminantes. Estes concluíram que devido ao baixo teor de proteína, a sua inclusão na dieta desses animais deve ser acompanhada de suplementação, na qual é possível incluir a própria folha da bananeira, que possui alto teor de proteína. Esta inclusão deve ser efetuada na produção do volumoso na proporção de, no mínimo, 50% de folha ou silagem de erva, utilizada na dieta do animal.

De momento, está a decorrer um estudo com silagem, com o objetivo de procurar melhorar o valor nutritivo e digestibilidade in vitro da bananeira, com a aplicação de aditivos no momento de ensilar.

Em síntese, os resíduos da bananeira, que não têm valor para benefício humano, poderão sofrer uma reciclagem e reprocessamento, e a sua utilização poderá oferecer a possibilidade de aliviar a escassez de recursos alimentares em períodos mais complicados.

021 Resíduos da bananeira na alimentação ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES

CONSIDERAÇÕES SOBRE O COLOSTRO MATERNO

Sabe-se hoje que o vitelo à nascença só dispõe de imunidade mediada por células, também definida como inata, para se defender de infeções, enquanto a imunidade humoral, ou seja, mediada por anticorpos, apenas fica disponível nas primeiras horas de vida, através da ingestão do colostro. Levará várias semanas de vida até que o vitelo desenvolva o seu próprio conjunto de anticorpos, que pode substituir e complementar aqueles que recebeu da mãe via colostro ingerido.

Para ter uma boa proteção contra os agentes patogénicos, que o vitelo inevitavelmente encontra após o nascimento, uma concentração no sangue de, pelo menos, 10 g/ L de imunoglobulinas IgG é considerada necessária para uma boa proteção. Para atingir este objetivo, o vitelo deve tomar uma grande quantidade de colostro de alta qualidade nas primeiras horas após o nascimento, ou seja, que contenha nada menos que

50 g/L de imunoglobulinas. A capacidade do intestino do vitelo para absorver estas moléculas diminui com a passagem do tempo após o parto, tornando-se completamente impermeável ao fim de 24 horas.

A mortalidade dos vitelos na fase neonatal e nas 4 semanas seguintes continua a ser demasiado elevada, assim como a incidência de doenças entéricas e respiratórias que, muitas vezes, são incapacitantes, ou seja, capazes de comprometer a vida produtiva da futura vaca leiteira.

Há muitos fatores que intervêm durante a fase de preparação para o parto, que podem interferir negativamente com a quantidade e qualidade do colostro que se está a acumular no úbere nesta fase. Além disso, nas explorações agrícolas nem sempre é fácil garantir a todos os vitelos a ingestão de colostro de boa qualidade, na quantidade certa e no momento certo. Ter colostro em pó de forma a ser utilizado sistematicamente para complementar,

parcialmente ou totalmente, o colostro natural é uma excelente oportunidade.

Desta forma, decidimos republicar uma entrevista dada pelo técnico Martin Hapke à revista italiana Ruminantia.

Por que achou importante comercializar uma gama de colostros em pó para os vitelos?

Cada produtor tem o interesse em ter vitelos bem desenvolvidos, uma vez que são a base do seu sucesso económico. Fatores como a receita do leite, o ganho médio diário, a mortalidade, as doenças respiratórias, a diarreia e os tratamentos médicos pesam na economia de uma exploração. Taxas de crescimento e eficiência alimentar são dois pontos que indicam a utilização ideal dos recursos e o impacto na pegada ecológica. Além disso, a sociedade está cada vez mais atenta à produção de carne e de leite, especialmente ao bem-estar animal ou à utilização de antibióticos, exigindo um alimento mais saudável, criando impacto sobre a

022 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
O
Por Martin Hapke; Director de operações – ISR; Chefe de produto e responsável do departamento de colostro e imunoglobulinas, Biochem | Adaptado por Martin
ALIMENTAÇÃO | VITELOS

consciência do consumo de produtos de origem animal.

Tendo em conta estes pontos, juntamente com o pressuposto de que, com base no maneio da exploração e na variabilidade natural, estima-se que até um terço do colostro materno não atinge a qualidade necessária, sendo assim uma excelente prática utilizar colostro em pó nos vitelos recém-nascidos, de forma a ajudar o seu desenvolvimento.

Nas explorações, tenta-se administrar colostro apenas às vitelas de reposição e de vacas pertencentes à exploração, de forma a garantir a não introdução de novos agentes patogénicos. Que garantias sanitárias a Biochem oferece, ao ter um produto como o colostro em pó?

Em geral, a segurança sanitária deve ser sempre garantida em produtos que contenham colostro, embora isso não se verifique. É importante ter implementada uma gestão sanitária e que os processos para o tratamento do colostro sejam escolhidos de forma a que a propagação de doenças possa ser descartada, com 100% de certezas.

O exemplo da IBR. Se o produtor pertencer a uma região, ou país, isentos de IBR, o colostro em pó deve estar também livre de anticorpos da vacinação. Para garantir este passo, temos implementada uma recolha de colostro cru, de explorações livre de IBR, ou seja, de explorações que não são vacinadas frente a esta doença. O colostro em pó destinado a estes países ou regiões é submetido a análises, para garantir que não há mesmo presença dos anticorpos em questão.

Além das imunoglobulinas, o colostro contém moléculas que são importantes para a saúde intestinal do vitelo, pelo que é aconselhável continuar a administrá-lo mesmo alguns dias após o nascimento. O colostro em pó que desenvolveram também desempenha esta função?

Sim, desempenha. Trabalhámos durante muito tempo num tratamento para tornar o colostro seguro e, por outro lado, preservar as substâncias bioativas. Também realizámos diferentes ensaios em vitelos, de forma a observar a atividade imunológica e o desenvolvimento dos mesmos. Podemos também demonstrar o efeito positivo noutras espécies, tais como leitões, borregos e cabritos, onde se pode observar efeitos significativamente positivos.

Pode ajudar-nos a perceber como é que o seu colostro em pó é usado na prática?

Como substituto total do colostro, o colostro em pó é misturado em água ou leite, com o respetivo volume recomendado e fornecido ao vitelo o mais rapidamente possível após o nascimento.

Como suporte ao colostro maternal, a qualidade deste pode ser medido pelo produtor e a diferença de qualidade é preenchida com a respetiva quantidade de colostro em pó.

Outro grande âmbito de aplicação é a utilização em produtos complementares, onde se procuram encontrar efeitos sinérgicos com outro tipo de ingredientes, tais como probióticos, prebióticos ou minerais orgânicos.

Sistema TIM: (Tractor Implement Management) Máximo controlo optimização do seu trabalho

Comunicação total entre o implemento e o trator:

Este sistema, baseado na comunicação Isobus, permitirá ao implemento controlar certas funcionalidades do trator e trazer mais e ciencia ao seu trabalho.

023 Considerações sobre o colostro materno ALIMENTAÇÃO | VITELOS
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024 biochem.net As defesas imunitárias dos animais recém-nascidos da maioria dos mamíferos são desenvolvidas e transmitidas apenas pelo colostro. O B.I.O.Ig®, um produto concentrado de colostro bovino consegue fornecer as substâncias bioativas necessárias como as imunoglobulinas e os fatores de crescimento. Devido à nossa tecnologia avançada, todos os ingredientes são preservados ficando totalmente bio disponíveis. Cientificamente comprovado em diversos ensaios clínicos, o B.I.O.Ig®, ajuda a imunidade e o desempenho dos animais nos primeiros dias de vida. Contacte-nos: João Maria Barreto · Technical Sales Manager · +351 910 884 754 · barreto@biochem.net Concentrado de Colostro 100% Natural. Imunidade e Desempenho.

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| BOVINOS DE LEITE

COMARRAÇOAMENTOAMINOÁCIDOS

As proteínas são essenciais para os animais, porque cumprem muitas funções importantes para a manutenção da vida, reprodução e produção. Esta importância deve-se ao facto de proteínas serem enzimas, hormonas, proteínas de transporte, proteínas do sangue, tecidos, proteínas do leite, entre outras. As proteínas são compostas por um número específico de aminoácidos, colocados numa determinada ordem. Isto é determinado pelo código genético. Os aminoácidos são moléculas orgânicas, compostas por um grupo amino e um grupo carboxilo. Estas moléculas são básicas para o corpo, além de formarem

proteínas, intervêm numa multiplicidade de vias metabólicas essenciais.

Os animais obtêm os aminoácidos digerindo as proteínas dos alimentos.

Alguns aminoácidos são sintetizados pelos animais (aminoácidos não essenciais) e outros, não podendo ser sintetizados, devem ser fornecidos com a dieta, denominando-se aminoácidos essenciais. Se houver um défice de qualquer aminoácido essencial, não é possível continuar com a síntese das proteínas e as vias metabólicas em que intervêm são alteradas. A falta de aminoácidos essenciais é uma limitação para os animais expressarem todo o seu potencial genético.

Devido à especial fisiologia e anatomia digestiva dos ruminantes, antes do

abomaso ("estômago convencional") está o rúmen, onde o alimento sofre um processo de fermentação pela ação de microrganismos específicos. Aqui, uma parte da proteína é degradada (proteína degradável no rúmen, PDR) e os aminoácidos e outras fontes de azoto são transformados e incorporados pelos microrganismos como proteína microbiana. A outra parte da proteína não é degradada (proteína não degradável no rúmen, PNDR) e continua através do sistema digestivo, sendo submetida a uma digestão enzimática que possibilita que os aminoácidos cheguem ao intestino, onde podem ser absorvidos.

Existem duas fontes de aminoácidos para ruminantes: proteína microbiana

026 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES AS
PROTEÍNAS SÃO ESSENCIAIS PARA OS ANIMAIS, PORQUE CUMPREM MUITAS FUNÇÕES IMPORTANTES PARA A MANUTENÇÃO DA VIDA, REPRODUÇÃO E PRODUÇÃO. Por Enrique Fraile Pernaute, Técnico de Ruminantes, Adisseo | Traduzido e adaptado por Teresa Costa | Email: tcosta@indukern.pt
ALIMENTAÇÃO

e proteína proveniente do alimento. A primeira vem do rúmen e pode ser digerida para tirar partido dos seus aminoácidos, PMIN. O segundo tipo de proteína é absorvida no intestino, PDIA (Gráfico 1).

O PMIN é excelente para a produção de lacticínios e pode cobrir grande parte das necessidades básicas do animal. No entanto, devido ao alto nível de produção atual, o PMIN aportado pela dieta é muitas vezes insuficiente, pelo que é necessário complementar com os aminoácidos dos alimentos, PDIA. Nos bovinos leiteiros, o primeiro aminoácido limitante é a metionina e o segundo é a lisina.

Tradicionalmente, procura-se compensar essas necessidades de aminoácidos com elevadas quantidades de alimentos proteicos na ração, como a soja, mas ao fornecermos proteína através da matéria-prima, fornecemos aminoácidos essenciais e também não essenciais. Desta forma, é difícil equilibrar a dieta com precisão, porque as necessidades dos aminoácidos limitantes poderão ser atingidas, mas poderá haver excesso de

outros aminoácidos que serão excretados, o que representa um custo. Atualmente, podemos compensar essas deficiências em aminoácidos fornecendo à dieta os aminoácidos limitantes de uma forma protegida, evitando a degradação no rúmen e disponibilizando-os integralmente para ser absorvidos ao nível do intestino.

No mercado existem muitos produtos com diferentes níveis de proteção relativamente ao rúmen, e é importante garantir que a proteção seja adequada por forma a fornecer aminoácidos realmente disponíveis para a vaca. Estes produtos devem ser estáveis na alimentação, na ração, no rúmen e estar apenas disponíveis no intestino.

Hoje, sabemos que o que as vacas realmente precisam são aminoácidos digeríveis, e não proteína. Conhecemos as necessidades das vacas em aminoácidos, e como os obtêm, bem como as restrições, pelo que temos “ferramentas” para fornecer aminoácidos efetivamente protegidos com a dieta. Por isso, devemos considerar trabalhar com a metionina e

GRÁFICO 1 NECESSIDADE CRESCENTE DE PROTEÍNAS

DEGRADADAS NO RÚMEN (RUP) COM O AUMENTO DA PRODUÇÃO DE LEITE

a lisina protegidas, equilibrando as suas necessidades, garantindo sempre uma quantidade suficiente de azoto e energia no rúmen, em vez de apenas ajustar a proteína como um nutriente (Gráfico 2).

Os benefícios de trabalhar através do equilíbrio dos níveis de aminoácidos são vistos em diferentes aspetos. O efeito imediato é uma melhoria da produção e da qualidade do leite, o que se traduz em benefício económico. Além disso, a melhoria da eficiência da utilização do azoto significa uma diminuição da quantidade de proteína bruta que incorporamos na ração, portanto, menor consumo de fontes proteicas (soja, colza, etc.), o que leva a um menor consumo de ração. Também se consegue uma diminuição da excreção de azoto, portanto menos poluição ambiental (Gráfico 3).

Por todas estas razões, podemos dizer que é lucrativo trabalhar com metionina protegida, e às vezes com lisina protegida, para equilibrar as necessidades de aminoácidos disponíveis e digeríveis.

2 INFLUÊNCIA DA SMARTAMINE® M NA PRODUÇÃO DE LEITE NO INÍCIO DA LACTAÇÃO

027
Arraçoamento com aminoácidos ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE Exigência de AA AA (g) Necessidades a preencher com RUP dos alimentos Fornecimento dos micróbios do rúmen Produção de leite Leite (l)/dia/vaca Semana de lactação Leite: +2,5 litros Startamine® M (6 VL) Controlo (8) Metionina 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 37 36 35 34 33 32 31 30 29 28 27
NÃO
GRÁFICO
N Leite (g/dia) N Urina (g/dia) N Fezes (g/dia) Eficiência (N Leite como % de azoto ingerido) 36,5 Consumo N (g/dia) 300 250 200 150 100 50 0 38 36 34 32 30 28 26 24 22 20 483 531 605 641 711Excreção de N do leite, urina e fezes (g/dia) Eficiência de utilização de N (N Leite como % de ingestão de N) 34 30,6 27,5 25,4 GRÁFICO 3 EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE AZOTO Fonte: Cimos Colmenero and Broderick, 2006

O DESAFIO DA DESMEDICALIZAÇÃO

OS ANTIMICROBIANOS SÃO REGULARMENTE UTILIZADOS NA NUTRIÇÃO ANIMAL POR RAZÕES TERAPÊUTICAS OU AINDA COMO PROMOTORES DE CRESCIMENTO EM ALGUNS PAÍSES. O USO EXCESSIVO DESTA MEDICAÇÃO ESTÁ A CONTRIBUIR PARA A RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA (RAM) QUE AFETA DIRETAMENTE A SAÚDE PÚBLICA. A TENDÊNCIA MUNDIAL DE REGULAÇÃO DO USO DESTA MEDICAÇÃO CONDUZ OS ATORES DA NUTRIÇÃO ANIMAL NA BUSCA DE SOLUÇÕES E PRODUTOS ALTERNATIVOS, PARA UMA PRODUÇÃO ANIMAL MAIS RESILIENTE E UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL.

Um dos principais desafios à redução do uso de antibióticos é a manutenção da saúde dos animais mantendo a competitividade produtiva da exploração. O uso de antibióticos na alimentação animal como promotores de crescimento foi completamente abolido na União Europeia desde 2006. Em 2020, na China, foi banida a adição de antibióticos à alimentação animal pelo Ministro da

Agricultura Chinês. Em fevereiro de 2021, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil proibiu três promotores de crescimento (tilosina, tiamulina e lincomicina) para suinicultura. Para enfrentar este problema complexo, é necessária uma aproximação global e completa. Estão identificadas quatro problemáticas principais, para um programa de redução de medicação antimicrobiana na produção leiteira.

PROBLEMAS TÉCNICOS A ABORDAR

Substituição dos promotores de crescimento

O aumento significativo das resistências antimicrobianas a nível global tem conduzido à abolição do seu uso como promotores de crescimento, em muitos países, e a uma procura acrescida de alternativas eficientes e economicamente viáveis. Os promotores de crescimento de

028
Por Guillaume OLIVIER, Diretor Marketing & Mercado Ruminantes – NEOVIA, ADM Group | Artigo disponibilizado por ADM Portugal, SA; Mais informações Adérito Duarte, Diretor Marketing & Mercado RuminantesADM Portugal, email: geral.portugal@wisium.com #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES SAÚDE E BEM ESTAR | BOVINOS DE LEITE

bovinos dividem-se em diversos grupos: antibióticos, ionóforos, hormonas e beta-agonistas. Alguns deles são ainda permitidos em alguns países para melhorar a eficiência alimentar e aumentar a taxa de crescimento dos animais. O maior desafio é suportar e garantir as performances dos animais com uma abordagem nutricional completa e soluções alternativas mais naturais.

Prevenção das doenças respiratórias

As doenças respiratórias em ruminantes, bastante frequentes e dispendiosas, com causas uni ou multifatoriais, afetam o trato respiratório, inferior i.e., pulmões (pneumonia) ou superior (rinite, traqueíte, bronquite). A doença respiratória afeta principalmente ruminantes jovens e animais em fase de adaptação e agrupamento para engorda, e ocorre principalmente em situações de stress ambiental e fisiológico. O maior desafio é a implementação de soluções preventivas e uma aproximação global aos fatores de risco da doença, de modo a limitar o uso de antibióticos.

Prevenção de Mastites

A mastite é uma infeção do úbere, causada pelo acesso de patógenos através do esfíncter do teto. A infeção desencadeia uma reação inflamatória associada a um influxo de glóbulos brancos sanguíneos (leucócitos) para o úbere, aumentando o número de células somáticas no leite.

A mastite ainda é sistematicamente tratada com antibióticos e permanece sendo a principal causa de utilização de antibióticos na bovinicultura de leite.

O principal desafio das mastites é ter em conta a sua natureza multifatorial que requer a adoção de soluções adequadas de maneio em conjunto com os tratamentos mais adequados.

Prevenção do parasitismo

Muitos tipos de parasitas (vermes, coccídeas, etc.) podem afetar os animais e causar diferentes doenças como Coccidiose, Cryptosporidiose e Babesiose. Os parasitas requerem a utilização de antiparasitários (diferentes de antibióticos) que podem igualmente causar o desenvolvimento de resistências. Afetam

particularmente animais jovens, pois os animais mais velhos vão desenvolvendo uma resposta imunitária mais forte, tornando-se menos suscetíveis. O principal desafio é a adoção de uma abordagem preventiva, que permite a redução do uso de substâncias químicas, com o objetivo de reduzir a indução de resistências parasitárias e otimização das performances dos animais.

UMA APROXIMAÇÃO GLOBAL

A desmedicalização assenta numa estratégia multifatorial, na qual soluções focadas unicamente no produto final não podem ser eficientes para obter resultados concretos. São identificados três eixos principais para o desenvolvimento de um programa de redução global de medicação:

Estratégia nutricional

É primordial que, primariamente, se trabalhe numa nutrição de maior precisão, para suprir com exatidão as exigências nutricionais dos animais. Tal permitirá a otimização da performance e a minimização de perturbações metabólicas.

A Wisium está a adotar uma abordagem holística para res ponder à crescente tendência de redução de medicamentos. O novo conceito P4L baseia-se em três pilares com um programa dedicado para cada espécie animal.

Esta resposta inclui um completo conhecimento nutricional, combinado com uma vasta gama de produtos inovadores e soluções de gestão das explorações.

Seja um parceiro Wisium no objetivo de uma produção animal mais resiliente.

029 O desafio da desmedicalização SAÚDE E BEM ESTAR | BOVINOS DE LEITE
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Um conhecimento profundo das exigências dos ruminantes, dos ingredientes, forragens e análises, e uma elevada especialização em formulação, são fundamentais para esta estratégia. Algumas ferramentas digitais e software de formulação são muito úteis para um maneio nutricional exato. Pode ser realizada uma auditoria às rações (rações, matérias-primas, pastagens, TMR…) para melhor identificação de oportunidades nutricionais.

Maneio da exploração

Um forte pilar para o sucesso de um programa de desmedicalização é o melhoramento do maneio da exploração (higiene, infraestruturas, maneio de manjedouras, análise de dados de produção, etc.). Podem ser implementadas auditorias dedicadas e procedimentos específicos standardizados, para obter o melhor retorno do investimento.

Seleção adequada dos produtos disponíveis no mercado

A retirada dos antibióticos pode comprometer a saúde animal e a produtividade, devido ao aumento da inflamação intestinal. O trato gastrointestinal é constantemente exposto a microrganismos potencialmente patogénicos e toxinas. Uma investigação recente realça o papel da inflamação nas doenças infeciosas e sugere que a inflamação está envolvida também nas doenças metabólicas (Bradford, 2019). Adicionalmente, a inflamação crónica consome nutrientes e energia em detrimento das performances zootécnicas (incluindo crescimento, reprodução, eficiência alimentar e produção de leite). A modulação da inflamação tem um elevado potencial na gestão efetiva da saúde dos ruminantes, reduzindo o uso de antibióticos e contribuindo para a performance zootécnica.

Várias soluções foram identificadas e encontram-se disponíveis no mercado há muito tempo, mas estudos recentes têm demonstrado que ingredientes ativos de extratos de plantas podem revelar-se soluções sustentáveis. O Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Wisium desenvolveu o POWERJET®, uma combinação patenteada de três moléculas ativas, provenientes de duas plantas reconhecidas pelas suas capacidades de modulação da inflamação da mucosa intestinal e do stress oxidativo associado.

FOCO NOS EXTRATOS DE PLANTAS

Um ensaio universitário realizado em Beauvais (França) permitiu a avaliação do efeito de POWERJET® no processo inflamatório. Células humanas do cólon foram cultivadas e posteriormente estimuladas com um modelo de inflamação severa (cocktail de citoquinas). Durante o estudo, a secreção de Interleucina 8 (IL-8) foi quantificada de modo a refletir o nível de inflamação (marcador pro-inflamatório).

Como se pode verificar no Gráfico 1, a secreção basal de IL-8 aumenta em resposta ao desafio inflamatório, o que significa que o estímulo inflamatório resulta (Controlo). A combinação de extratos de plantas (POWERJET®) reduz significativamente a secreção basal de IL-8, quando comparada com o Controlo, demonstrando a sua capacidade de limitar a sobreativação do sistema imunitário, após um estímulo inflamatório.

Um segundo estudo foi conduzido com o objetivo de analisar a atividade antioxidante de POWERJET®. O ensaio foi realizado no período peri-parto, que é especificamente reconhecido como stressante para a vaca de leite e caracterizado por um aumento da

inflamação intestinal e do stress oxidativo. O ensaio incluiu 25 vacas Holstein que foram divididas em dois grupos. Um grupo Controlo de 12 animais com alimentação à base de silagem de milho, e um grupo Teste de 13 animais que receberam a combinação de extratos de plantas (incorporada no alimento concentrado três semanas antes do parto e durante a lactação). Foram recolhidas amostras de sangue a todos os animais de ambos os grupos uma semana antes do parto e uma semana após o parto, para medição da enzima Super Óxido Dismutase (SOD), cuja atividade é positivamente proporcional à sua capacidade antioxidante. Tal como se pode verificar no Gráfico 2, observou-se um forte aumento na atividade da SOD, o que demonstra que a combinação dos extratos de plantas reforça a capacidade oxidativa dos animais.

As ações de POWERJET® capacitam os animais para uma melhor resposta aos processos inflamatórios e oxidativos perto de períodos stressantes e sensíveis.

ENFRENTAR O DESAFIO DA DESMEDICALIZAÇÃO

A desmedicalização é um desafio complexo para a produção animal em geral e deve ser enfrentada numa abordagem holística e global. Os consumidores procuram produtos lácteos mais seguros e adequados, e os produtores devem ser assessorados na implementação desta abordagem. A Wisium está a abordar este desafio através da oferta de um programa de desmedicalização dedicado e adaptado ao cliente: P4L (Partner for Life – Parceiros para a vida) é um programa destinado a animais e especialmente desenhado para a produção leiteira, oferecendo uma parceria destinada a suportar os nossos clientes nesta exigente mudança do mercado.

030 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
GRÁFICO 1 IMPACTO DE POWERJET® NO PROCESSO INFLAMATÓRIO GRÁFICO 2 EFEITO DO POWERJET® NA ATIVIDADE DA ENZIMA SOD NO SANGUE DAS VACAS. Concentração Basal de IL-8 (pg/ml) Antes do processo inflamatório Depois do processo inflamatório 600 450 300 150 0 Secreção de IL-8 P<0,05 Controlo POWERJET® Controlo negativo POWERJET® SOD (U/g d'Hb) -240% -0,231 241
032 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES DESENHAR O FUTURO FOI BUCKMINSTER FULLER, UM VISIONÁRIO, PENSADOR, INVENTOR, FILÓSOFO E ARQUITETO, RECONHECIDO POR MUITOS COMO O LEONARDO DA VINCI DO SÉCULO XX, QUE DISSE QUE A MELHOR MANEIRA DE PREVER O FUTURO ERA DESENHÁ-LO. DESTA IDEIA PARTILHA NUNO MAMEDE SANTOS, FUNDADOR E DIRETOR DA TERRACRUA DESIGN, E UM APAIXONADO POR PROJETAR O ORDENAMENTO DAS PAISAGENS, QUE TIVEMOS O GOSTO DE ENTREVISTAR PARA A RUMINANTES NUMA MANHÃ QUENTE DO FINAL DE AGOSTO. Por André Antunes, Agricultor, Conselheiro de Agroecologia e Médico Veterinário e Nuno Marques (Revista Ruminantes) | Fotos Terracrua Design ORDENAMENTO DA PAISAGEM

Encontrámo-nos com Nuno Mamede Santos no café da Aldeia do Monte da Estrada, uma pequena povoação no concelho de Odemira. A nossa conversa com o fundador e diretor da equipa de planificação e design de paisagem/território da Terracrua Design começou à volta duma mesa, debaixo dum guarda-sol, enquanto uma senhora mais velha, perto de nós, descascava as batatas que haviam de acompanhar as carnes deliciosas que almoçámos mais tarde.

Foi nesta zona do país que Nuno decidiu “estabilizar”, como o próprio diz, há três anos. Nascido em Lisboa e criado no Algarve, andou durante quase 20 anos por outros lugares, sempre em busca de aprender: “Motivos diferentes levaram-me a diversos sítios. Corri muitas comunidades de Espanha e França, sempre em busca de sistemas alternativos ecológicos, agrícolas, de construção, sociais e económicos. Durante este tempo, tive oportunidade de experimentar com as minhas mãos tudo aquilo que queria fazer, desde o vinho à aguardente, à carne e aos legumes, à construção natural. Tinha e tenho uma paixão grande pela construção tradicional e pela construção ecológica local - daí veio o nome Terracrua Design.”

A Terracrua Design é uma equipa de consultoria e planeamento que atua profissionalmente na prestação de serviços especializados na assessoria, planeamento, implementação e gestão de quintas e herdades de agricultura regenerativa.

Foi da paixão pela construção que lhe veio o gosto por desenhar a paisagem?

Sim. Dei conta que estávamos muitas vezes a construir casas em sítios errados. Na arquitectura existem critérios nesse sentido, mas estão limitados a uma propriedade e não à paisagem como um todo.

Como chegaram ao método que usam na Terracrua Design?

A nossa abordagem assenta num pano de fundo agro-regenerativo e inspira-se nos princípios do design de permacultura (Bill Mollison e David Holmgren), no Design em Key-line (P.A. Yeomans), Agricultura Natural (Masanobu Fukuoka), no Pastoreio Holístico (Allan Savory, Kirk Gadzia e Joel Salatin) e na agricultura biodinâmica (Rudolph Steiner).

Pode ser aplicada em espaços e paisagens produtivas, em áreas e zonas

zonas 2 e 1 (em volta das casas). Assim que desenhamos o zonamento, passamos às infraestruturas. No final, fica uma matriz.

De que vantagens usufrui um produtor pecuário, de média ou grande dimensão, do método que desenvolveram?

com funções puramente ecológicas ou em espaços de lazer. Para tal, o território é abordado sempre de forma holística: como um todo. E como parte de um sistema maior, dentro do qual se visa a integração equilibrada: entre economia e necessidade de retorno, produtividade, ecologia regenerativa e bem-estar social.

Qual a tipologia de projetos dos vossos clientes?

Temos projetos mais pequenos, abaixo dos 50 ha, e intensos, com mais detalhe. São mais virados para a auto-suficiência e regeneração. Depois, temos quintas e herdades maiores, de 200, 300 ha, com uma forte componente agro-pecuária. Em Angola, estamos com projectos de grande dimensão. Um deles é uma fazenda em produção de fruta e horticolas, de 10.000 ha, e outro, mais pequeno, de 100 ha, é um projeto de gestão comunitária que envolve 400 famílias.

Como interpreta a Escala da Permanência de Yeomans?

Primeiro, trata-se de perceber onde é que a paisagem pode armazenar água: em corpos de água, nos solos, com socalcos, swales, charcas, barragens. Depois, definir os acessos: de que forma nos podemos e devemos mover pela paisagem e como é que as estradas e caminhos podem ser usados para captar e conduzir a água, não fomentando a erosão. A seguir, vem a floresta permanente ou de habitat (zona 5) que nós, como utilizadores, deveríamos repor, não só pelos serviços ecológicos mas também para honrarmos os antepassados e proporcionarmos um farol às gerações que aí vêm. Por exclusão de partes, chegamos à zona 4 (a floresta de gestão, de colheita), à zona 3 (a zona de cultivos comerciais) e às

Os acessos, as infraestruturas e até a escolha de zonas produtivas numa quinta, foram muitas vezes definidas ou localizadas, em reação a um imprevisto, ou na pressa em tomada de decisão, por um ou outro motivo. Isto tem a ver com a capacidade de investimento das pessoas. Um projecto nosso é entregue em 3 "frentes": os mapas georeferenciados, os mapas de medições/estimativas de custo, e o cronograma de implementações; tudo esquematizado segundo a sequência baseada na escala da permanência.

Em Portugal não há o hábito de investir de início numa herdade, de modo que nós expomos numa linha temporal, ao proprietário, aquilo que é possível fazer, e porquê, e depois adaptamos o projeto às possibilidades financeiras. É necessário ter uma visão de longo prazo e nós tentamos dá-la, ao longo de várias fases de investimento.

O produtor pecuário é um dos que mais pode beneficiar com esta abordagem, a começar pela questão da água. Acho que é do conhecimento comum que cada vez há menos capacidade de infiltração de água nos solos em Portugal. Por isso, passamos de inundações para secas e fogos e vice-versa. Ao criarmos, mesmo apenas em 100 ha, 50 corpos de água de várias dimensões, mais ou menos passivos e com ou sem necessidade de licenciamento, conseguimos aumentar a água disponível que, ao mesmo tempo, se infiltra no aquífero a jusante, beneficiando o ecossistema. A seguir, os acessos. A má planificação dá origem a muita erosão e a custos de manutenção altíssimos. Com uma planificação cuidada, isto pode evitar-se e resolvem-se muitos problemas, ao mesmo tempo que se delimitam e acessam zonas. Depois, a planificação e implantação de vegetação permanente reduz o impacto da chuva, dos ventos e a erosão que daí advém, e ajuda a criar zonas de descontinuidade que são a génese da biodiversidade e resiliência futuras. A implantação de vegetação permanente em zonas altas acaba por criar polos de fertilidade onde normalmente não existiriam. Também proporciona sombra e forragem alternativa para os animais. O

033 Desenhar o futuro AGRICULTURA REGENERATIVA
Nuno Mamede Santos, fundador e diretor da Terracrua Design.

facto de as vedações estarem em contorno, ou em keyline, também influencia a acumulação de detritos e a criação de solo pelo efeito do calcamento dos animais. Em relação ao pastoreio holistico, esquematizamos as zonas de pastagem, e criamos as condições para se poder efectivamente, fazer uma boa rotação nas parcelas em keyline. A calendarização e todo o espectro da gestão holistica, não concebemos.

Como é o processo desde que alguém vos contrata até assinarem contrato?

Existe um um formulário no site da Terracrua Design que já filtra muito bem os contactos. Desde logo, pedimos um mapa do local, as coordenadas e uma ideia do que é pretendido. Se a ideia original for muito concentrada apenas num segmento ou atividade, e limitada, tentamos mostrar outros caminhos mais abrangentes mas sempre respeitando as ideias do cliente. Tentamos trazer a perspetiva económica a quem pensa só em restauro ecológico e vice-versa. Começamos até a ser vistos na comunidade da Permacultura como “os gajos que pensam demasiado em dinheiro (risos)”.

Numa visita técnica feita posteriormente, em que conhecemos o cliente, percebemos a flexibilidade para modelar o terreno e gerir o orçamento, na medida em que os projetos normalmente são a 20 anos. O projeto tem 3 fases:

- fase 1: o desenho padrão, em que o terreno nos indica o caminho a seguir, pede-nos coisas - onde é definida a água, os acessos e a vegetação permanente. Trabalhamos com dados em cloud e tablet GPS com georreferenciação e um erro máximo de 1 a 2 cm, ou em telemóvel com 2 ou 3 m de erro. Isto permite ao cliente andar pelos terrenos e visualizar o desenho

futuro com SIG e possibilita a obtenção de volumes, perímetros, alturas, etc.;

- fase 2: após a aprovação e familiarização do cliente com o desenho, entramos no fluxo da água - como fazer a água circular o mais lentamente possível, de modo a infiltrar-se melhor. Aqui vamos mais ao detalhe e atualizamos em tempo real, em cloud;

- fase 3: já com acesso dado ao cliente a tudo o que já foi citado, e as infraestruturas, passamos às estimativas de orçamentação de trabalhos e ao cronograma, nunca a menos de 3 anos e idealmente a 5. No final do projeto, conforme a vontade do cliente, podemos, ou não, fazer uma coordenação de implementações.

No final de cada fase, é feita uma visita. O mapeamento inicial é subcontratado.

Como vê as planificações em grandes escalas, usando o conceito de Baldios ou Commons (usando o termo britânico)?

Acho importante haver uma visão integral para o território. Se há uma urgência tão grande em, por exemplo, reflorestar, temos de saber onde e como o queremos fazer. Especialmente quando há grandes organizações, instituições e fundações a investir fortemente, sem planos de impacto duradouro para as próximas gerações. Isto evitaria as ações eminentemente reativas, tipo plantações de fim-de-semana ou após incêndios de efeito de inspiração da massa civil. Pedrógão é um bom exemplo: em vez de se ter feito um plano regional e ordenar de vez as plantações para celulose, até para lhes tirar continuidade, investiu-se em outdoors e em plantações desordenadas, inclusivamente em mais eucaliptos. Muitas vezes, existe falha na parte de

planificação, outras na de implementação.

Isto faz-me pensar no conceito dos commons, que nós perdemos quase por completo, tendo-se mantido de forma ténue nos baldios no norte. Ainda assim, temos uma história de destruição mais ou menos acelerada da floresta, desde os tempos da Reconquista. Foi sempre a tirar camadas à floresta, por razões diversas, até ficarmos com o que temos agora, que é pouco. A reposição planificada vai ajudar a fixar a biodiversidade e a melhorar o ciclo da água no solo. Não são precisos milagres. Milagre é ainda haver água a correr nas fontes no Alentejo — é fascinante, especialmente quando não há floresta nos pontos altos. Eu escolhi esta zona para viver porque tem muito nevoeiro — aliás temos um projecto de fog-catching na calha. A precipitação real pode ir até 3 vezes mais do normalmente considerado. Se, por exemplo, nos pusermos por baixo de um sobreiro - que hoje em dia é uma árvore muito fragilizada pelas más técnicas agrícolas - em muitas manhãs de agosto, verificamos que está cheio de água, pinga até ao meio-dia devido à condensação do nevoeiro noturno.

Se tivermos floresta estruturada ao longo de uma cumeada, há captação de água em cota e recarregamento de aquíferos. Pode parecer impossível, mas isso apenas acontece porque, desde há muito, não sabemos qual é o potencial máximo do ecossistema. O montado que temos hoje, em que predominam 2 espécies de árvores com espaçamentos muito largos, não existe há assim tanto tempo, apenas há umas poucas centenas de anos. Quando combinado com uma cultura cerealífera intensiva e uma pecuária mal gerida, torna-se muito pouco resiliente a nível hidrológico. Pergunto-me se o montado mais comum é uma espécie de resultado

034 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

da purga que se fez à floresta. É necessário considerá-lo com um sistema silvopastoril multi-espécies com atenção ao renovo a acontecer por baixo. Felizmente, temos alguns casos de proprietários já despertos para este facto. Devido à desflorestação desregulada para fins agrícolas ou urbanos, houve uma linha de quase não-retorno que foi ultrapassada. É necessário pôr um travão e retroceder. O país devia ser quase todo redesenhado.

Refere-se também às zonas urbanas?

Sim, no passado, as cidades nunca foram edificadas nos deltas, ali apenas existiam fortificações. Lisboa seria em Santarém e Portimão em Silves. Demos cabo dos sistemas ripícolas na sua zona mais a jusante e agora é complicado voltar atrás. Contudo, nada disto é irreversível. Talvez, apenas, se destruirmos a atmosfera. A Natureza tem uma capacidade notável de se adaptar e os humanos também. O importante é pôr em causa o que parece irrefutável: a água, os acessos e o zonamento.

Fale-nos do projeto que estão a desenvolver da Bacia do Mira e do Sado.

É um projeto que fazemos por paixão, que tem um aspecto de planificação de visão para o território. Escolhemos estas duas bacias porque se tocam, mas também porque queremos trabalhar em ideias com um alcance significativo. É um projeto baseado no sistema SIG com uso de associações de algoritmos - com automatização dos sistemas de informação geográfica e, no fundo, usando a questão dos commons, da floresta e do enquadramento do gado. Partindo da estratégia.

De momento estamos a subdividir as grandes bacias do Mira e do Sado. Quando temos trabalhos para clientes dentro de uma sub-bacia, trabalhamos o enquadramento da mesma por inteiro, antes de fazer o projeto: a localização dos acessos, corpos de água, etc. e a interação desta herdade com o resto do território. É uma planificação territorial mais holística e com visão de longo prazo. Por exemplo, a herdade em causa vai ter floresta e essa floresta vai ser parte de um corredor florestal que envolve toda a sub-bacia que, por sua vez, envolve a bacia e por aí em diante.

Também queremos trazer para a mesa a planificação das aldeias e povoações, trazendo todas a áreas já focadas e também

a da soberania alimentar. Estes projetos, para já, têm como intenção servir de piloto para poder escalar e criar modelos para outras zonas da Península Ibérica, trabalhando com colegas da mesma área. Isto pouparia anos de tentativa e erro às pessoas. Através da automatização do SIG, podemos definir os zonamentos, a água, os acessos, as estruturas, etc. Em muitos países, as entidades de gestão territorial já usam o SIG para algumas automatizações, mas as variáveis deles são outras que não são tão valiosas para uma planificação hidrológica e florestal resiliente, a longo prazo. Por exemplo, não existe um reconhecimento real das bacias hidrográficas e da repercussão que deveriam ter na organização territorial, política, financeira e económica. Com o SIG conseguimos também criar volumes de negócios potenciais de determinadas zonas. Já desenhámos aldeias em conjunto com a população - por exemplo Ferraria de São João, em Penela. O que falta é, depois, enquadrá-las dentro da região.

Tentamos prever, aqui nesta zona, de onde pode vir o dinheiro para investir na floresta, por exemplo. Pode vir do carbono.

O que pensa do mercado dos certificados de carbono?

Tem tudo o que é preciso para se tornar em mais uma artimanha ao serviço dos interesses corporativos globais. Mas recuso-me a ser contra somente. Não se muda o mundo só por não se fazer o que parece mau, ou pior; muda-se o mundo a fazer o que acreditamos ser melhor. Estamos a trabalhar com uma empresa que tem uma perspetiva diferente do habitual, ao considerar uma quinta como um projeto heterogéneo, com diferentes graus de potencial sequestro de carbono, em vez da mais comum que é focar-se em monoculturas de árvores para tornar a prova do sequestro de CO2 mais fácil. Os clientes que investirem neste crédito vão poder depois visitar, presencialmente ou online, os projetos e ver os resultados de forma muito mais satisfatória. Com o SIG, podemos depois calcular, de forma rápida, se um cliente tem uma zona disponível para florestar e se é numa área de interesse ecológico, como uma cumeada. Podemos instalar um programa de pastoreio dirigido, com recuperação/ instalação florestal, encontrando forma de financiar tudo. Concordo com o Allan Savory, quando ele diz que o impacto

animal é essencial nestes ambientes mais secos, para evitar a decomposição química - oxidação - da matéria vegetal, incorporando-a no solo, fertilizando com o estrume e quebrando a crosta superficial.

Plantar árvores em escala, em solos degradados, no nosso clima e com a contextualização sócio-económica do nosso país, seja ou não com técnicas avançadas de agroflorestação, não será o modelo a seguir… Ninguém inventou nada. Há uma tendência de registar patentes, criar modelos e práticas e logo se segue o desejo de procurar a fama com ou sem resultados concretos. É preciso humildade para dizer: "Isto é experimental, vamos estudar os resultados e adaptar o modelo a seguir a partir daí". São as estratégias que importam, e não as técnicas, se não arriscamos seguir um modelo reducionista e dogmático como o que nos trouxe até aqui. Devemos começar com ética, depois partir para princípios seguidos por estratégias e só depois técnicas. Há confusão, por esse mundo fora, com esses conceitos. Ninguém deve ser penalizado por usar uma palavra mal uma vez, mas várias não é aceitável.

O sucesso de uma plantação em espaço público (como as frequentemente feitas em resposta aos incêndios) tem um efeito muito positivo na moral das pessoas que participaram, mas também nas que por lá passam e vão ano após ano, vê-la crescer.

O fracasso tem o oposto impacto: "desempodera" e desanima, e só reforça a velha máxima Portuguesa do "Isto aqui não dá".

Parece-me mais importante plantarmos qualidade em vez de quantidade.

Há que olhar bem para Portugal e entender as bioregiões (delimitação baseada na geografia das bacias hidrográficas), e de que forma cada uma deve ter a sua estrutura natural de florestas e parques naturais, as suas zonas de floresta gerida, as suas reservas de água e de sementes. Numa visão assim, há muito espaço para plantarmos florestas, e isso poderia trazer um sério crescimento económico ao nosso país.

035 Desenhar o futuro AGRICULTURA REGENERATIVA
+351 910 748 670 info@terracruadesign.com https://www.terracruadesign.com Terracrua Design - Portugal

FARMING FOR GENERATIONS AGRICULTURA REGENERATIVA

Farming For Generations (F4G)

é uma aliança global de empresas líderes no setor agroalimentar, com o objetivo de promover boas práticas nas explorações agrícolas, promovendo a transição para a agricultura regenerativa.

Os objetivos globais deste projeto resumem-se em: - melhorar a eficiência das explorações agrícolas; - reduzir a emissão de carbono do setor agrícola; - acelerar a transição para a agricultura regenerativa; - difundir a implementação de boas práticas.

Quase uma dúzia de empresas colaboram neste programa global, contribuindo com o seu conhecimento, experiência, produtos e apoio técnico aos agricultores em vários projetos e temas. Atualmente, em Espanha, a Danone trabalha com outras 3 empresas nessa causa: Yara, Corteva e Fertiprado. A Yara é especialista em nutrição de culturas e maneio de estrume e fertilizantes, a Corteva na qualidade de silagens e sementes e a Fertiprado em culturas de leguminosas e pastagens. Na Fertiprado, Joel Presa e Carlos Garrido, são os responsáveis pelo desenvolvimento e

acompanhamento do projeto, que a Ruminantes entrevistou:

Como nasceu a ideia deste projeto?

O projeto é da Danone e pensado a nível mundial, com o objetivo de implementação nos fornecedores da empresa, de agricultura regenerativa. A Fertiprado juntou-se a este projeto em Espanha.

Em que áreas atua este projeto?

Em várias áreas mas, concretamente em Espanha, a área é o campo. Olhando para tudo o que acontece na superfície territorial das explorações e perceber como se pode atuar para reduzir a pegada de carbono.

A Yara tem a responsabilidade de colocar, com precisão, os nutrientes que fazem falta, onde fazem falta. A Corteva atua na parte dos milhos, com variedades de elevada digestibilidade, que resistam melhor ao stress hídrico, contribuindo para produzir mais leite por hectare.

A Fertiprado entrou neste projeto no final de 2020, para trabalhar nas culturas de outono/inverno. A primeira sementeira já foi feita em finais de 2021.

A jornada de divulgação de resultados é feita em novembro/dezembro, com os

produtores de Espanha, mas também com os produtores participantes neste projeto de outros países. Cada país apresenta o trabalho que está a realizar na sua área. Há países que começaram pela área da saúde animal, nomeadamente com a redução de antibióticos na produção de leite. Um sucesso no projeto que está a ser feito em Espanha, poderá ser extrapolado para outro país que tenha interesse em desenvolver esta área.

Quando se pode esperar resultados do trabalho que está a ser realizado nas culturas de outono/inverno?

No primeiro ano foram semeados pouco mais de 200 hectares, este ano vão ser bastante mais. Esperamos ter alguns resultados nas jornadas do próximo ano, e já estamos a trabalhar nos simuladores de impacto da redução da pegada de carbono.

Este tipo de projeto aumenta os custos de produção do litro de leite?

Não, a ideia é exatamente o contrário. O objetivo é conseguir produzir de forma sustentável e mais eficiente, para ter um custo de produção mais baixo. Por exemplo, quanto melhores forragens tiver e mais ricas em proteína, menos soja terá que comprar...

Quantos produtores estão envolvidos neste projeto em Espanha?

Em 2021, com misturas biodiversas, estiveram envolvidas 11 explorações e 227 hectares, distribuídos por diversas regiões do País.

Quem pode entrar neste projeto?

Qualquer produtor Danone. No primeiro ano entraram 4 produtores, agora estão cerca de 40. A ideia é chegar, em 2022, a mais de 1000 hectares com práticas de agricultura regenerativa.

O que é medido neste projeto?

No caso das misturas biodiversas, o que se vai medir é a quantidade de proteína produzida por hectare, e o que essa quantidade representa em termos da redução de compra de soja e da sua pegada de carbono (emissão da pegada da soja e do seu transporte) e o impacto na melhoria da fertilidade solo pela rotação de cultivo com leguminosas que, para através da fixação de azoto no solo, permite uma redução do custo em fertilizante (associado a uma diminuição da emissão de CO2). No final, chega-se à pegada por litro de leite produzido pela exploração.

036 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | FORRAGENS HIDROPÓNICAS

MILHO VERSUS CEVADA

NUM ENSAIO REALIZADO NA ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO (ESACB) NO FINAL DE MAIO, PRETENDEU-SE COMPARAR A QUANTIDADE PRODUZIDA E O VALOR NUTRICIONAL DA TRADICIONAL FORRAGEM HIDROPÓNICA DE CEVADA COM OS RESULTADOS OBTIDOS PARA DUAS POPULAÇÕES DE MILHO.

Com o objetivo de manter a produção de leite e melhorar a fertilidade dos animais, desde há muitos anos que os produtores de leite do norte da Europa utilizam forragens hidropónicas na alimentação das suas vacas durante o inverno (Bakshi et al., 2017). No sul da Europa, as forragens hidropónicas também são uma alternativa interessante para satisfazer a procura crescente de forragens nas épocas do ano mais quentes e secas em que há escassez de pastagens verdes.

A forragem verde hidropónica é produzida induzindo a germinação de sementes de gramíneas e/ou leguminosas em tabuleiros, em condições de temperatura, luz e humidade favoráveis, na ausência de solo e durante um curto período de tempo (6 a 8 dias). Pode ser produzida em sistemas tecnologicamente sofisticados, com controlo automático da rega, temperatura, humidade e intensidade luminosa, mas de custo elevado, ou em sistemas de baixo custo com utilização das condições e materiais disponíveis localmente (Bakshi et al., 2017). Normalmente, em ambas as situações, as sementes são desinfetadas numa solução

diluída de hipoclorito de sódio, lavadas em água corrente e depois transferidas para água limpa onde permanecem, para embebimento, durante um período de tempo que varia entre 12 e 24 horas.

As sementes são depois espalhadas em tabuleiros de plástico com furos para drenagem da água. A quantidade de semente a utilizar para produção de forragem hidropónica de cevada, trigo ou sorgo é de 4-6 kg/m2 (Al-Karaki e AlMomani, 2011) e para forragem de milho é de 6,4-7,6 kg/m2 (Naik et al., 2017). Os tabuleiros, que não devem estar expostos à luz solar direta, ao vento e a chuvas fortes, são depois colocados em prateleiras e as sementes são regadas regularmente com água limpa.

As condições ambientais ótimas para a produção de forragem hidropónica incluem temperatura entre 19 e 22°C, humidade entre 40 e 80% (valor ótimo 60%) e luz indireta. Como os tabuleiros podem ser colocados em prateleiras sobrepostas, a produção de forragem hidropónica requer pouco espaço físico e a colheita é realizada poucos dias depois da sementeira. Vários autores referem que o custo das sementes corresponde a 85-90% dos custos totais de produção de forragem hidropónica (Naik,

2014; Jemimah et al., 2015).

Entre as principais vantagens apontadas para a produção de forragem hidropónica salientam-se a elevada palatabilidade, a maior eficiência de utilização da água, a economia de espaço físico, a reduzida utilização de fertilizantes e pesticidas e a diminuição da pegada de carbono (Bakshi et al., 2017; Newell et al., 2021). É possível produzir muita forragem verde com muito pouca área de terra.

Segundo Fazaeli et al. (2012) e Putham et al. (2013), a maior desvantagem deste sistema de produção é a perda de matéria seca quando se compara a matéria seca (MS) da forragem obtida após um período de crescimento de 6 a 8 dias com a MS inicial das sementes utilizadas. Existe também a possibilidade de desenvolvimento de fungos que podem comprometer a qualidade e a quantidade da forragem produzida.

Como a espécie mais utilizada em Portugal para a produção de forragem hidropónica é a cevada, o objetivo deste trabalho foi testar a produção de uma forragem hidropónica alternativa em condições de baixo custo. O ensaio foi realizado na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco

038
Por Inês Pitacas(1), José Rodriguez Estribi(1), Carlos Gaspar Reis(1)(2), António Moitinho Rodrigues(1)(2) (1)Escola Superior Agrária - Instituto Politécnico de Castelo Branco; (2)CERNAS-IPCB Instituto Politécnico de Castelo Branco Castelo Branco, Portugal #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Figura 1 Imersão das sementes durante 24 horas. Figura 2 Tabuleiros mantidos na ausência de luz durante 72 horas. Figura 3 Tabuleiros contendo sementes em germinação (8 dias). Figura 4 Preparação das forragens para análises laboratoriais (10 dias).

(ESACB) no final de maio de 2022. Pretendeu-se comparar a quantidade produzida e o valor nutricional da tradicional forragem hidropónica de cevada com os resultados obtidos para duas populações de milho.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizaram-se sementes de cevada (Hordeum vulgare), milho híbrido e milho biológico (Zea mays) na quantidade de 7,6 kg/m2 por população. As sementes não foram desinfetadas, mas foram lavadas em água corrente e colocadas em água limpa para embebimento durante um período de 24 horas (Figura 1). Foram depois colocadas em tabuleiros para germinação e mantidas na ausência de luz durante 72 horas (Figura 2). Após aquele período, os tabuleiros com as plântulas foram sujeitos a luz natural indireta (14,4 horas/dia), temperatura média de 25,8°C e humidade relativa média de 39,3% durante 7 dias. Os tabuleiros contendo as sementes em germinação (Figura 3) foram regados diariamente por pulverização com água de composição química conhecida.

Para cada uma das populações foram realizadas três repetições. Após um período de crescimento de 10 dias (3 dias escuridão + 7 dias luz natural), foi avaliada a produção de biomassa e o valor nutricional de cada população (Figura 4). No Laboratório de Nutrição e Alimentação Animal da ESACB, as sementes utilizadas e as amostras de de forragens hidropónicas produzidas foram analisadas para determinação da humidade (%), matéria seca (MS) (%), cinzas (%MS), proteína bruta (PB) (%MS), gordura bruta (GB) (%MS) (AOAC, 2000), fibra em detergente neutro (NDF) (%MS), fibra em detergente ácido (ADF) (%MS), lenhina em detergente ácido (ADL) (%MS), hidratos de carbono não fibrosos (NFC) (%MS), hemicelulose (%MS) e celulose (%MS) (Van Soest et al., 1991). A partir dos valores obtidos em laboratório, foi estimada a energia bruta (EB) (MJ/kgMS), a energia metabolizável (EM) (MJ/kgMS) e a metabolizabilidade (qm) (ARC, 1980; McDonald et al., 2011). Foram quantificadas as produções de matéria verde (MV) (g/m2) e matéria seca (MS) (g/m2) e os valores na MS/m2 dos parâmetros nutricionais analisados.

Para a análise estatística de resultados utilizou-se o programa informático SPSS, a ANOVA para um nível de significância de 0,05 e o Teste de Tukey como teste de comparações múltiplas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Produção de biomassa

Na Tabela 1 apresentam-se os resultados médios obtidos por m2 de forragem hidropónica produzida pelas três populações estudadas. Relativamente à produção de matéria verde por m2, a cevada foi a população que apresentou maior produção de matéria verde (26583,4 g/m2) (p<0,05) com um teor em humidade muito elevado (84,6%). Relativamente à produção de matéria seca, os valores mais elevados (p<0,05) verificaram-se no milho híbrido 5010,2 gMS/m2 e os valores mais baixos na cevada 4099,0 gMS/m2. Ao fim dos 10 dias de ensaio, foi identificada a presença de fungos nas duas forragens de milho (principalmente milho híbrido), mas não na cevada.

A partir dos valores de produção de biomassa obtidos por m2 no nosso ensaio (Tabela 1), foi possível estimar a produção de matéria seca por ha das três forragens verdes hidropónicas obtidas em ciclos de produção de 10 dias: cevada 41,0 toneladas de MS/ha; milho biológico 45,6 toneladas de MS/ha; milho híbrido 50,1 toneladas de MS/ha.

Comparando os resultados obtidos neste trabalho com os resultados obtidos por outros autores em ensaios de campo, encontram-se valores de produção de cevada de primavera para silagem com 35% de MS variando entre 10 a 17 toneladas de MS/ha (La Crosse Seed, 2020 e Hofmann, 2018) e de produção de milho para silagem com 33% de MS variando entre 19,1 e 21,1 toneladas de MS/ha (Roth e Heinrichs, 2001) ou 13,8 e 26,9 toneladas de MS/ha (Ucak et al., 2016) em ciclos de produção de 110 dias. Quer com a cevada quer com o milho, as produções de forragens hidropónicas permitem obter, em curtos períodos de tempo, quantidades muito mais elevadas de MS por ha.

Produção de nutrientes

A forragem hidropónica de cevada apresentou produções por m2 significativamente mais elevadas de cinzas (146,2 gMS/m2) e de PB (734,3 gMS/m2), enquanto que a forragem de milho híbrido apresentou valores mais elevados de GB (155,5 gMS/m2) e de EM (57,4 MJ/m2) (Tabela 1). Relativamente à metabolizabilidade (qm), não se encontraram diferenças significativas entre as duas forragens de milho que, no entanto, apresentaram valores mais elevados (p<0,05) relativamente à cevada.

Ao analisarmos os constituintes

da parede celular das três forragens (Tabela 2), verificámos que a cevada hidropónica apresentou produções por m2 significativamente mais elevadas de NDF (1792,2 gMS/m2), ADF (837,9 gMS/m2), ADL (140,3 gMS/m2) e celulose (697,5 gMS/ m2), enquanto que as duas forragens de milho, biológico e híbrido, apresentaram quantidades mais elevadas de NFC (p<0,05), respetivamente 2533,2 gMS/m2 e 2705,4 gMS/m2 (Tabela 2).

Tal como referido por alguns autores (Fazaeli et al., 2012 e Putham et al., 2013) e por comparação com os resultados das análises químicas às sementes utilizadas na produção das três forragens hidropónicas, neste ensaio ocorreu uma perda de MS ao fim dos 10 dias de cultura, mais evidente na cevada (-40,7%) e menos evidente no milho híbrido (-27,0%). De acordo com Putnam et al. (2013), a perda no teor de MS deve-se à atividade respiratória resultante da utilização dos hidratos de carbono armazenados na semente pelas plântulas no início do seu desenvolvimento, numa altura em que estas ainda não realizam a fotossíntese.

Utilização de forragem hidropónica

Apresentamos agora um exemplo de aplicação prática da utilização de forragem hidropónica na alimentação de novilhos de engorda.

Necessidades nutricionais de um novilho de raças pesadas (ARC, 1980; NRC, 2000):

• características do bovino - peso vivo 400 kg - ganho de peso (GPD) 1,0 kg/dia;

• necessidades por animal - EM 83 MJ/dia; PB 645 g/dia; NDF 3212,8 g/dia; capacidade de ingestão de matéria seca (IMS) 8032 g/dia, consumo de água 42,5 l/ dia (temperatura ambiente média 26,6°C).

Analisando o Gráfico 1 (página seguinte), observa-se que a quantidade de forragem hidropónica produzida por m2 consegue satisfazer apenas uma parte das necessidades diárias de IMS, EM, NDF e água e uma parte da PB, apenas no caso da forragem de milho biológico. Tendo em conta as necessidades diárias de um novilho de engorda, a quantidade de forragem hidropónica produzida por m2 consegue satisfazer entre 51% (cevada) e 62% (milho híbrido) da IMS, entre 50% (cevada) e 69% (milho híbrido) da EM, entre 45% (milho biológico) e 64% (cevada) do NDF e entre 32% (milho híbrido) e 52% (cevada) das necessidades em água. No entanto, relativamente à PB, o consumo da forragem de cevada hidropónica ou de milho híbrido hidropónico produzido por m2 permite

039 Milho versus cevada ALIMENTAÇÃO | FORRAGENS HIDROPÓNICAS

TABELA 1 VALORES MÉDIOS DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA VERDE,

Produção verde (g/m2)

Produção MS (g/m2) Cinzas (g/m2) PB (g/m2) GB (g/m2) EM (MJ/m2) qm

Cevada 26583,4a 4099,0c 146,2a 734,3a 131,3b 41,3c 0,531b

Milho biológico 20897,4b 4560,0b 84,0c 532,6c 139,7ab 51,8b 0,605a

Milho híbrido 18699,3b 5010,2a 110,2b 669,5b 155,5a 57,4a 0,610a

VALORES MÉDIOS

CONSTITUINTES

NDF (g/m2)

PAREDE CELULAR VEGETAL

ADF (g/m2) ADL (g/m2)

NFC (g/m2)

Hemicelulose (g/m2) Celulose (g/m2)

Cevada 1792,2a 837,9a 140,3a 1294,7b 954,2a 697,5a Milho biológico 1270,4b 418,1b 49,2c 2533,2a 852,3b 368,8b Milho híbrido 1369,4b 417,5b 89,1b 2705,4a 951,8a 328,4b

ultrapassar as necessidades diárias de proteína em 14% ou 4%, respetivamente.

Considerando os valores que constam do Gráfico 1 para os 3 tipos de forragem verde hidropónica, será necessário suplementar com outros alimentos para satisfazer as necessidades diárias dos novilhos. Como suplementos, poderão ser utilizadas matérias-primas com níveis baixos de proteína, devendo ser utilizados alimentos ricos em glúcidos facilmente fermentescíveis que consigam cobrir 31% a 50% das necessidades em EM e fenos e/ou palhas que consigam cobrir entre 36% e 55% das necessidades de NDF e 49% a 38% da capacidade de IMS. Este ajustamento deverá ser feito com o apoio do nutricionista da exploração.

CONCLUSÕES

Os valores mais elevados de produção de matéria verde registaram-se na forragem hidropónica de cevada. Contudo, é a forragem hidropónica de milho híbrido que apresenta maior produção de matéria seca por m 2

A forragem hidropónica de cevada apresentou produções por m2 mais elevadas de cinzas, PB, NDF, ADF, ADL e celulose. Com este tipo de forragem, a quantidade de PB produzida por m2 ultrapassou em 14% as necessidades diárias de PB de um novilho de engorda.

A forragem hidropónica de milho híbrido apresentou produções por m2 mais elevadas de MS, EM, NFC e qm superior. A quantidade de PB produzida por m2 ultrapassou em 4% as necessidades diárias de PB de um novilho de engorda.

Embora a melhor fonte de proteína tenha sido a forragem hidropónica de cevada, verificou-se que a forragem hidropónica de milho híbrido produziu

GRÁFICO 1 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA PERCENTAGEM DE ALGUNS PARÂMETROS NUTRICIONAIS QUE É COBERTA QUANDO FORNECEMOS A UM NOVILHO DE ENGORDA (400 KG PESO VIVO E 1,0 KG DE GANHO DE PESO DIÁRIO), A QUANTIDADE DE FORRAGEM HIDROPÓNICA DE CEVADA (4099 G MS/M2), DE MILHO BIOLÓGICO (4560 G MS/M2) E DE MILHO HÍBRIDO (5010 G MS/M2) PRODUZIDA POR 1 M2

por m 2 maior quantidade de MS, EM e de NFC, apresentou um valor mais elevado de qm e produziu uma quantidade de PB que ultrapassou em 4% as necessidades de PB de um novilho de engorda. Podemos considerar que, das três populações estudadas, a forragem hidropónica de milho híbrido é a mais equilibrada do ponto de vista nutricional. No entanto, foi a que apresentou maior incidência de fungos ao fim de 10 dias de germinação.

A produção de forragem hidropónica em sistemas de baixo custo pode ser uma técnica interessante para pequenos produtores em alturas do ano em que existe escassez de alimento. Permite ter maior autonomia e disponibilidade para utilizar um complemento forrageiro altamente palatável e nutricionalmente

interessante na formulação de regimes alimentares para ruminantes.

Para a produção de forragem hidropónica deverão ser utilizadas sementes não tratadas com fungicidas ou com outros produtos químicos que possam afetar o bom funcionamento do ecossistema ruminal.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro concedido pelo CERNAS-IPCB, através do Projeto UIDB/00681/2020 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

040 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
MATÉRIA SECA E DE ALGUNS NUTRIENTES POR M2 DAS TRÊS FORRAGENS HIDROPÓNICAS PRODUZIDAS (VALORES APRESENTADOS EM MATÉRIA SECA) TABELA 2
DOS
DA
DAS TRÊS FORRAGENS PRODUZIDAS (VALORES APRESENTADOS POR MS DE FORRAGEM PRODUZIDA POR M2) (%) 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 das necessidades de 1 novilho Cevada Milho biológico Milho híbrido IMS (g/m2) EM (g/m2) PB (g/m2) NDF (g/m2) Água (g/m2) 51 57 62 50 62 69 114 82 104 64 45 49 38 52 32
MS
– matéria seca; PB – proteína bruta; GB – gordura bruta; EM - energia metabolizável; qm – metabolizabilidade da energia do alimento (qm =EM/EB); a, b, c – médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05).
NDF
– fibra em detergente neutro; ADF – fibra em detergente ácido; ADL – lenhina em detergente ácido; NFC – hidratos de carbono não fibrosos; a, b, c – médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05).
IMS – ingestão de matéria seca; EM – energia metabolizável; PB – proteína bruta; NDF – fibra em detergente neutro; MS – matéria seca.
041

SAÚDE E BEM ESTAR | CAPRINOS E OVINOS

LENTIVÍRUS DOS PEQUENOS RUMINANTES

O ESTUDO A SEGUIR APRESENTADO TEVE POR OBJETIVO DETERMINAR A SEROPREVALÊNCIA APARENTE E POSSÍVEIS FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À INFEÇÃO POR LENTIVÍRUS, EM EXPLORAÇÕES DE PEQUENOS RUMINANTES NO CONCELHO DE BRAGANÇA.

O QUE SÃO OS LENTIVIRUS DOS PEQUENOS RUMINANTES?

Os Lentivirus dos pequenos ruminantes são reconhecidos em todo o mundo há décadas, sendo esta designação atualmente utilizada para designar o que classicamente era conhecido por Maedi-Visna ovino e Artrite-Encefalite caprina. Causam doenças de evolução lenta, multissistémica, progressiva e debilitante nestas espécies. Originalmente, pensava-se que estes vírus eram específicos de cada espécie, porém, devido à proximidade filogenética e infeciosidade natural entre espécies, existe a possibilidade de transmissão do

agente entre ovelhas e cabras e até mesmo ruminantes selvagens.

As principais vias de transmissão comprovadas são a via horizontal, por contacto próximo prolongado entre animais através dos aerossóis/secreções respiratórias, e a via vertical da mãe para filho, pela ingestão de colostro/leite contaminado. A transmissão venérea, transplacentária e iatrogénica (através da utilização da mesma agulha em vários animais por exemplo) carecem de estudos adicionais que as suportem.

Estes vírus possuem um tropismo especial para o sistema imunitário,

sobretudo para os monócitos que posteriormente, ao se diferenciarem em macrófagos, chegam aos tecidos normalmente afetados, com sinais clínicos associados aos principais órgãos-alvo: pulmões, articulações, glândula mamária e sistema nervoso central. A dificuldade respiratória associada ao emagrecimento crónico é a característica predominante em ovinos clinicamente infetados, enquanto a poliartrite e a mastite são os principais sinais clínicos em caprinos.

A maioria dos pequenos ruminantes infetados com lentivírus são assintomáticos (apenas 1/4 destes animais

042
Por
Valentim Martins 1,2, João Jacob Ferreira 3, Ramiro Valentim 4, Ricardo Bexiga1, Hélder Quintas 4 1 Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa. 1300-477 Lisboa, Portugal, 2 Cooperativa Agrícola de Serviços União Sebastianense, Angra do Heroísmo, 3 Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 4 Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Santa Apolónia, Bragança Email: valentimmartins1995@hotmail.com #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

apresentam sinais clínicos, frequentemente a partir dos 2 anos de idade), permanecendo portadores persistentes do vírus (i.e., infeção duradoura para o resto da vida) e capazes de transmitir a infeção. As formas nervosas ocorrem por norma em animais jovens (até 6 meses de idade), podendo aparecer casos esporádicos em adultos. Em casos graves, a doença pode provocar a morte.

Os lentivírus dos pequenos ruminantes estão presentes em todo o mundo, não existindo tratamento ou vacinas comerciais para combater a doença, desta forma o diagnóstico e a compreensão da sua epidemiologia tornam-se fundamentais para estabelecer programas de controle eficazes e controlar a sua prevalência.

As perdas económicas associadas a esta doença incluem restrições de comercialização e exportação, diminuição do peso vivo dos animais infetados, baixo peso vivo do animal ao nascimento e desmame e perdas na produção leiteira. Estes lentivírus parecem não influenciar os aspetos reprodutivos, nomeadamente a idade ao primeiro parto e o intervalo interpartos.

Os lentivírus dos pequenos ruminantes estão incluídos no conjunto de doenças de declaração obrigatória a nível internacional pela Organização Mundial da Saúde

Animal (WOAH), no entanto não constam nas listas da União Europeia nem na nacional. Não existe evidência científica que os lentivírus dos pequenos ruminantes possuam potencial zoonótico ou que representem um risco para a saúde pública.

ESTUDO NO CONCELHO DE BRAGANÇA

Foi realizado um estudo com o objetivo de determinar a seroprevalência aparente (número total de casos existentes numa determinada população num determinado momento) e possíveis fatores de risco (qualquer situação que aumente ou agrave a probabilidade de ocorrer determinada doença) da infeção por lentivírus em explorações de pequenos ruminantes no concelho de Bragança. Nesta região a produção de pequenos ruminantes faz-se predominantemente em regime semiextensivo, seguindo práticas tradicionais, em resultado da adaptação entre os interesses dos criadores e as condições propícias e específicas do meio onde está inserido.

O pastoreio é quase exclusivo de áreas significativas de baldios de uso comunitário, com grandes terrenos em pousio, pastagens e forragens, onde grande parte do tempo do pastoreio é permanente e em percurso (Foto 1). Este tipo de

pastoreio pressupõe a utilização do solo como um bem de todos, de uso social, comunitário. A utilização de rações ao longo do ano é rara.

Nestas explorações as crias geralmente acompanham as mães pelo campo, sendo a sua base de alimentação o leite materno. O principal produto destas explorações é a venda de cordeiro e borrego de forma sazonal, na Páscoa e no Natal.

Através de uma amostragem por conveniência, foram colhidas amostras em 28 explorações, das quais 16 explorações de ovinos, 7 explorações de caprinos e 5 explorações mistas, sendo colhidos 511 soros e realizados inquéritos epidemiológicos aos produtores em cada exploração. A evidência da presença de infeção por lentivírus em cada amostra foi determinada por um teste ELISA indireto comercial, realizando-se posteriormente a análise estatística dos dados.

O que foi encontrado?

Verificou-se que 27 das 28 explorações tiveram pelo menos um animal positivo ao teste ELISA. Das 511 amostras de animais, 238 (46,3%) eram positivas e 273 (53,1%) negativas. Desta forma obteve-se uma seroprevalência aparente a nível de exploração de 96,4% e a nível animal de 46,3%.

043
Lentivírus
dos pequenos ruminantes SAÚDE E
BEM
ESTAR |
CAPRINOS E OVINOS FOTO 2 Exemplo de estabulação no concelho de Bragança, numa exploração mista. FOTO 1 Raça autóctone Preta de Montesinho no concelho de Bragança. FOTO 3 Exemplo da quarentena de novos animais adquiridos, na exploração. FOTO 4 Isolamento de um animal doente.

A análise estatística dos fatores de risco revelou que vários destes fatores foram associados à infeção por lentivírus. De todas as variáveis estudadas, as que demonstraram uma associação muito significativa com a seropositividade das amostras foram o contacto entre ovinos e caprinos dentro da exploração (2 vezes mais provável de haver infeção quando havia contacto entre espécies), o contacto com outras explorações de pequenos ruminantes (1.9 vezes mais provável). A partilha de bebedouros com animais de outras explorações (1.6 vezes mais provável), também demonstrou uma associação significativa

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir da avaliação dos resultados serológicos, obteve-se uma prevalência aparente a nível das explorações de 96,4 %, e a nível animal de 46,3%, pelo que quase todas as explorações e quase metade dos animais analisados neste estudo, no concelho de Bragança, mostraram estar infetados com lentivírus dos pequenos ruminantes.

A prevalência de infeção a nível de exploração apresentou neste estudo resultados preocupantes, com a quase totalidade das explorações com animais infetados. Estes resultados estão de acordo com inúmeros estudos e confirmam os dados apresentados por outros investigadores, que salientam que a infeção por lentivírus está presente em todos os continentes, apresentando a Europa uma prevalência a nível de exploração a rondar os 45%.

Em Espanha, na região de Aragão a prevalência a nível de exploração atingiu sensivelmente os 52,6%. As diferenças entre valores de prevalência a nível de exploração podem ser explicadas por diferenças nos sistemas de maneio, fatores ambientais e até mesmo demográficos. A influência de fatores culturais e geográficos também devem ser considerados.

A enorme prevalência a nível de exploração encontrada neste estudo poderá eventualmente estar associada ao contacto estabelecido durante o período de estabulação noturna, uma vez que, em todas as explorações visitadas os animais eram confinados durante a noite devido às condições atmosféricas adversas e aos predadores, nomeadamente o lobo ibérico (Foto 2). Estas particularidades de maneio implicam um contacto próximo entre animais, e assumem possivelmente o principal fator responsável pela elevada

prevalência observada.

A prevalência a nível animal está compreendida entre a obtida em dois estudos espanhóis com cerca de 24,8% na região da Galiza e 52,8% na região de Aragão. Em Portugal existem publicações que referem prevalências a nível animal desde os 36% até aos 82%, colocando a nossa prevalência dentro desses valores.

O contacto interespécie na mesma exploração e entre explorações já foi identificado em diversos estudos como fator de propagação desta doença, em explorações semi-intensivas. Os nossos resultados apenas vêm reforçar os estudos anteriormente publicados, demonstrando que apesar do baixo número de animais nas explorações mistas estudadas, existe um risco potencial de infeção (Foto 2). A proximidade filogenética dos lentivírus e a capacidade de infeção entre espécies, facilita e demostra que o mesmo subtipo pode infetar ambas as espécies de pequenos ruminantes em explorações mistas. No concelho de Bragança, como em grande parte da região de Trás-os-Montes, os pequenos ruminantes são explorados em pastoreio de percurso, sem delimitações de área, favorecendo e permitindo o contacto próximo entre explorações. A partilha de caminhos, locais de pastoreio e bebedouros é relativamente comum.

Curiosamente, quer o isolamento de animais doentes, quer a quarentena de novos animais introduzidos na exploração foram associados a uma maior probabilidade de infeção por lentivírus. Esperava-se que estas boas práticas fossem protetoras contra a infeção por lentivírus. No entanto, a forma como estas práticas são efetuadas, pode levar a que estas sejam de facto um fator de risco e não um fator protetor. Foi possível verificar que o isolamento e a quarentena eram realizados com grande proximidade física entre animais, não permitindo cumprir um verdadeiro isolamento, numa doença que é transmitida por aerossóis (Foto 3). De facto, os produtores que realizavam isolamento e quarentena podiam ser os que mais animais compravam para as suas explorações, resultando daí um risco mais elevado. A quarentena, quando realizada, não era efetuada de modo eficaz, não respeitando o afastamento e isolamento dos animais recém-chegados à exploração (Foto 4). Além disso, a realização de um curto tempo de quarentena não limita a transmissão dos lentivírus. A realização de quarentena ou o isolamento dos animais doentes como medidas isoladas fora de um plano de biossegurança integrado,

ao serem realizados por produtores com animais infetados, pode resultar num risco paradoxal associado a estas medidas que se destinam a ser protetoras contra a infeção. A esmagadora maioria dos produtores aos quais foi realizado o inquérito tem baixa escolaridade, com idade média a rondar os 55 anos e as suas explorações têm assistência veterinária geralmente limitada apenas às visitas das organizações dos produtores pecuários. Além disso, a grande maioria dos produtores nunca tinham ouvido falar desta doença nem das implicações negativas na saúde animal (i.e., problemas respiratórios, artrite, mastite).

Um resultado interessante do nosso estudo foi o aumento significativo de risco de infeção por lentivírus em explorações nas quais era realizada a partilha de bebedouros com animais de outras explorações, com cerca de 1,6 vezes mais possibilidades destes pequenos ruminantes serem seropositivos. Este resultado vem apoiar os de outro estudo que observou que além da transmissão pelo ar, ocorria a transmissão pela água do abeberamento, visto que foram encontradas evidências da presença de lentivírus em amostras de água de bebedouros de explorações infetadas. Além disso, temos de considerar que o contacto próximo durante o abeberamento pode influenciar os resultados, e essa possível forma de transmissão.

CONCLUSÃO

Foi encontrada uma seroprevalência aparente a nível de exploração e a nível animal bastante elevada nas explorações de pequenos ruminantes estudadas no concelho de Bragança. Mais estudos serão necessários, em Portugal, para investigar o estatuto dos rebanhos e avaliar a prevalência da infeção nas diferentes zonas do país. Esses dados serão essenciais para caracterizar a epidemiologia da infeção e determinar as estratégias de controlo mais adequadas a serem adotadas futuramente. A implementação de um plano de biossegurança eficiente é imprescindível para controlar a prevalência desta doença no rebanho.

Verificou-se que o, contacto interespécie na exploração, contacto com outras explorações vizinhas e partilha de bebedouros com outros animais estiveram associados a maiores seroprevalências por lentivírus e maior risco de infeção nestas explorações analisadas.

044 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

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DE CARNE

TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA NO ESTUDO QUE APRESENTAMOS, COMPARA-SE A EFICÁCIA DA TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA EM BOVINOS DE CARNE, EM ALGUMAS EXPLORAÇÕES NO CENTRO E SUL DE PORTUGAL E

ALGUNS DOS FATORES QUE

O SEU SUCESSO.

Atransferência embrionária é uma biotecnologia reprodutiva de segunda geração, muito usada para aumentar o potencial reprodutivo da fêmea dadora, zootecnicamente muito valiosa, num curto período de tempo. A variabilidade da resposta superovulatória e da taxa de gestação afetam o sucesso dos programas de ovulação múltipla e transferência de embriões (OMTE). O estádio de desenvolvimento e a qualidade do embrião, o local de deposição do embrião no corno uterino, a experiência do técnico, a idade e

estado nutricional da dadora e da recetora e a qualidade do corpo lúteo (CL) desta última, são alguns exemplos de fatores que afetam o sucesso dos programas de OMTE.

O objetivo deste estudo retrospetivo foi o de comparar a eficácia da transferência embrionária em bovinos de carne entre explorações e identificar alguns dos fatores que condicionam o seu sucesso. Foram avaliados os registos de 49 ovulações múltiplas e 134 transferências embrionárias, realizadas entre 2012 e 2020, em explorações localizadas no Centro e Sul do país. Neste trabalho, a idade e paridade da dadora e a estação do ano não

influenciaram a resposta das dadoras ao tratamento superovulatório. Relativamente à transferência embrionária, a sincronia do cio (p=0,016) e o tipo de embrião transferido (fresco vs. congelado) (p=0,011) demonstraram ter efeito significativo na taxa de gestação. Adicionalmente, a qualidade do CL da recetora e a qualidade e o estádio de desenvolvimento do embrião transferido, não revelaram efeito estatisticamente significativo sobre a taxa de gestação.

Por tudo isto, torna-se fundamental conhecer os fatores que influenciam o sucesso dos programas de OMTE, e

046
IDENTIFICAM-SE
CONDICIONAM
Por Bárbara Fernandes1,2, Miguel Quaresma1,3,4, João Chagas e Silva2* | 1Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, Vila Real de Trás-os-Montes, Portugal; 2Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; 3CECAV– Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal; 4Laboratório Associado para Ciência Animal e Veterinária (AL4AnimalS), Portugal | *Email nestorchagas@fmv.ulisboa.pt #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES GENÉTICA | BOVINOS

que podem variar de exploração para exploração, de forma a obterem-se os melhores resultados possíveis, nas condições de trabalho em Portugal.

INTRODUÇÃO

A superovulação (SOV) e a transferência embrionária (TE) são duas das biotecnologias reprodutivas mais importantes para aumentar o potencial reprodutivo de fêmeas de elite e, consequentemente, da produção animal (Arega, 2019).

A SOV pode ser definida como o aumento do número fisiológico de ovulações próprio da espécie, através da administração de hormonas gonadotróficas exógenas (Waltero & Dias, 2013). O objetivo principal é aumentar o número de oócitos ovulados por fêmea e, por consequência, o número potencial de embriões (McDonald & Pineda, 1989).

A TE consiste na remoção de um ou vários embriões do trato reprodutivo da fêmea dadora e a sua transferência para uma ou mais fêmeas recetoras e é uma das etapas de um processo que pode incluir, SOV, inseminação artificial (IA) das dadoras, recolha de embriões e a sua avaliação, micromanipulação, testagem genética e congelação. Os embriões também podem ser produzidos em laboratório com a utilização de técnicas como a fertilização in vitro (FIV) ou clonagem a partir de núcleo de células somáticas (Hasler, 2004). Com base na potencialização reprodutiva de fêmeas valiosas (Jones & Lamb, 2008), esta biotecnologia tem sido utilizada na intensificação da seleção genética, diagnóstico e tratamento de infertilidade, controlo da transmissão de doenças infeciosas, triagem de defeitos genéticos e na proteção de espécies raras e/ou em vias de extinção (Genzebu, 2015).

A variabilidade, quer da resposta SOV, quer da taxa de gestação, afetam negativamente o sucesso dos programas de TE (Alkan et al., 2020). Após a TE, a taxa de gestação é condicionada por vários fatores como o estádio de desenvolvimento e a qualidade do embrião, o local de deposição do embrião no corno uterino, o grau de dificuldade da transferência, o tipo de embrião (fresco ou congelado), a experiência do técnico, a qualidade do corpo lúteo e a paridade da recetora (vaca vs. novilha), a época do ano (Erdem et al., 2020), e o estado nutricional da dadora e/ ou recetora (Alkan et al., 2020).

Dada a importância crescente da TE

em Portugal e considerando a escassez de estudos publicados na realidade nacional, o objetivo deste estudo retrospetivo foi o de comparar a eficácia da transferência embrionária em bovinos de carne entre algumas explorações do centro e sul do país e identificar alguns dos fatores que condicionam o seu sucesso.

MATERIAL E MÉTODOS

Os programas OMTE analisados foram selecionados de uma base de dados do Serviço de Reprodução e Obstetrícia, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, obtidos e coligidos por um dos autores e, recolhidos entre 2012 e 2020, em explorações localizadas no Ribatejo, Alentejo e Algarve.

Programas de ovulação múltipla

Foram analisados 36 programas convencionais de ovulação múltipla em dadoras da raça Aberdeen-Angus (n=18), Algarvia (n=2), Limousine (n=11), Red Angus (n=4) e Salers (n=1), em 6 diferentes explorações, localizadas em Alcochete (n=3), Montemor-o-Novo (n=1), Portel (n=6), Sintra (n=2), Tomar (n=22) e Vila do Bispo (n=2). Estas fêmeas tinham, em média, 3,42 ± 2,44 anos, sendo que a idade mínima foi de 1,28 anos (aproximadamente, 15 meses) e a máxima, de 9,55 anos. Quanto à paridade, 24 eram nulíparas (68,4%), 5 primíparas (13,2%) e 7 multíparas (18,4%).

Os programas de superovulação foram realizados em diferentes estações do ano, com 7 no inverno (19,4%), 11 no outono (30,6 %), 5 na primavera (13,9 %) e 13 no verão (36,1%).

Nas restantes 13 dadoras, da raça Aberdeen Angus (n=2), Red Angus (n=3) e Limousine (n=8), em explorações localizadas em Portel (n=8) e Tomar (5), foi aplicado um protocolo de superovulação experimental. Estas fêmeas apresentavam idade média 1,79 ± 0,25 anos (idade mínima = 1,45 anos; idade máxima = 2,18 anos) e eram nulíparas. Os programas de ovulação múltipla ocorreram no Outono (n=7) e na Primavera (n=6).

Após a seleção, as dadoras foram submetidas a dois protocolos hormonais para indução de ovulação múltipla e do cio superovulatório: um, com 36 dadoras, que consistiu em 8 administrações intramusculares de FSH em doses decrescentes, 2/dia, com 12 horas de intervalo, durante 4 dias; e outro, com 13 dadoras, e 2 administrações subcutâneas e uma intramuscular de FSH. Foi

colocado um dispositivo intravaginal impregnado de progesterona (CIDR®, 1,38g, Zoetis Portugal), em associação a uma administração dupla de PGF2α (Estrumate, MSD, Portugal) no final. Para a indução da superovulação utilizou-se Pluset® (Calier Portugal, Portugal).

A beneficiação das dadoras foi efetuada por IA com sémen convencional, com a primeira às 12 horas após as primeiras manifestações de cio verdadeiro e a seguinte, 12 horas depois. Aproximadamente 7 dias após a IA, realizou-se a recolha não-cirúrgica nas dadoras com resposta positiva (≥3 CL).

Foi registado, por palpação transretal, o número de CL presentes no momento da recolha e número total de estruturas recolhidas, subdividindo-as em: estruturas fertilizadas e não fertilizadas (oócitos). As estruturas fertilizadas ainda foram subdivididas em embriões viáveis e degenerados/retardados.

Transferência de embriões

Foram analisados dados respeitantes a 134 TE para recetoras novilhas, maioritariamente de raça cruzada de carne (Cruzada = 120; Limousine =8; Salers = 6), distribuídas por 8 explorações: Alcochete (n=47), Leiria (n=11), Mafra (n=15), Montemor-o-Novo (n=13), Portel (n=13), Tomar (n=7), Viana do Alentejo (n=26) e Vila do Bispo (n=2).

Para a indução e sincronização do cio, as recetoras foram sujeitas ao protocolo SelectSynch + CIDR 7d. Foi registada a sincronia do cio da recetora em relação ao da dadora: assincronia negativa quando o cio da recetora ocorreu depois da dadora e assincronia positiva, quando ocorreu antes do da dadora.

Antes da TE, as recetoras foram sujeitas a um exame ginecológico por palpação transretal para avaliação da saúde genital e a localização e qualidade do CL (ovário esquerdo ou direito e, CL1: bom; CL2: razoável).

Os embriões transferidos foram classificados de acordo com o seu tipo (congelado/fresco), o seu estádio de desenvolvimento (MC: mórula compacta; JB: jovem blastocisto, B: blastocisto) e qualidade morfológica (1: excelente/bom; 2: razoável; 3: medíocre).

No total foram transferidos, por via não cirúrgica, 78 embriões congelados (58,2%) e 56 embriões frescos (41,8%), com uma idade média de 7,09 dias (idade mínima= 6,5 dias; idade máxima= 8 dias), o mais atraumática e profundamente possível,

047 Transferência embrionária GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

no corno uterino ipsilateral ao ovário contendo o CL com desenvolvimento adequado.

ANALISE ESTATÍSTICA

A análise estatística foi realizada através do IBM ® SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences. IBM Corp. Armonk, NY, USA), versão 26, com um nível de significância α definido a 0,05. As variáveis contínuas foram representadas sob a forma de média e desvio-padrão e as variáveis categóricas através da sua frequência relativa (%) e absoluta (n). A normalidade da distribuição das variáveis contínuas foi analisada com recurso ao teste Kolmogorov-Smirnov. Os testes Qui-Quadrado (χ2), ANOVA e KruskalWallis permitiram determinar associações na distribuição de variáveis relacionadas com a dadora, a recetora, o embrião e o protocolo superovulatório e o sucesso do tratamento superovulatório e/ou o diagnóstico de gestação da recetora após TE.

RESULTADOS

Dos 36 programas de ovulação múltipla analisados, 32 das dadoras tiveram resposta positiva ao tratamento SOV (88,9%) e 4, resposta negativa (11,1%). Neste estudo, foi obtida uma taxa de gestação global de 42% nas novilhas recetoras; 58,9% após transferência de embriões frescos e 30,5% após transferência de embriões congelados.

Programas de ovulação múltipla

As Tabelas 1 e 2 mostram as correlações obtidas neste grupo entre o número e tipo de estruturas recolhidas e a paridade da dadora e a estação do ano, respetivamente. Nenhuma das variáveis analisadas influenciou significativamente o número ou tipo de estruturas recolhidas.

Na Tabela 3 pode ser observada a média ± DP das estruturas recolhidas de acordo com a exploração onde ocorreram os programas SOV. Não foram registadas diferenças significativas nas respostas ao tratamento SOV entre explorações.

Programa de transferência de embriões

A Tabela 4 mostra a distribuição das variáveis relacionadas com a recetora, tais como a qualidade do corpo lúteo da recetora e a sincronia do cio, e a sua relação com o diagnóstico de gestação. Registouse uma taxa de gestação de 44,0 % em recetoras que apresentavam um CL de qualidade boa (CL1) e 41,2 % em recetoras

com CL de qualidade razoável (CL2). Neste trabalho, a qualidade do CL não influenciou significativamente a taxa de gestação das recetoras. Porém, a sincronia do cio influenciou significativamente a taxa de gestação das recetoras (p = 0,016). Foi obtida uma taxa de gestação mais elevada em recetoras com sincronia de 0 horas (44,4%) e de -12 horas (57,6%).

A Tabela 5 mostra a correlação das variáveis relacionadas com o embrião, tais como tipo de embrião (congelado vs. fresco), qualidade e fase de desenvolvimento do embrião, com o diagnóstico de gestação. O tipo de embrião (p=0,002) demonstrou influenciar significativamente a taxa de gestação após TE. Registou-se uma taxa de gestação nas recetoras de embriões frescos de 58,9% e de 32,1 %, nas de embriões descongelados. A qualidade e o estádio de desenvolvimento dos embriões transferidos não revelaram qualquer influência na taxa de gestação.

A Tabela 6 compara a taxa de gestação entre as diferentes explorações onde foram realizadas as TE. Apesar das diferenças numéricas, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre as explorações (p=0,059).

Protocolo convencional vs. Protocolo experimental

A Tabela 7 compara a média ± DP das estruturas recolhidas em dadoras submetidas ao protocolo convencional (n=36) com 8 administrações (IM) de FSH e o experimental (n=13) com apenas 3 administrações (2 SC e 1 IM).

Obteve-se uma diferença estatisticamente significativa no número de estruturas totais recolhidas entre os dois protocolos (p=0,019), com um maior número de estruturas nas recolhas de embriões de dadoras sujeitas ao protocolo convencional (12,83 ± 11,18 x 5,0 ± 5,05).

DISCUSSÃO

No presente trabalho, a paridade das dadoras não revelou qualquer influência significativa no número de estruturas recolhidas. Este resultado não é concordante com os obtidos por Hussein et al. (2014) e Ferraz et al. (2016), que registaram diferenças no número e tipo de estruturas recolhidas entre dadoras nulíparas, primíparas e multíparas.

A época do ano também não revelou qualquer diferença significativa quanto ao número das várias estruturas recolhidas. Este resultado diverge do registado por Vieira et al. (2014), que verificaram que a

estação do ano influenciava a resposta ao tratamento SOV, tendo obtido melhor resposta ao tratamento SOV, nos meses mais frios. Uma possível explicação para esta diferença nos resultados poderá ser a dimensão e dispersão da amostra. No estudo atual, foram analisados dados de 36 dadoras de embriões, em que 2/3 eram multíparas, o que significa que existiu uma grande discrepância entre os grupos de paridade. Em relação à época do ano, realizaram-se mais recolhas de embriões no Outono e Verão, do que no Inverno e Primavera.

Quanto à distribuição dos diferentes tipos de estruturas recolhidas por exploração, não se registaram diferenças significativas no número total de estruturas recolhidas (p=0,228), estruturas fertilizadas (p=0,202), embriões viáveis (p=0,160), embriões degenerados (p=0,153) e oócitos (p=0,194).

O facto de os dados selecionados terem sido obtidos em ambiente comercial, diminuiu-se a variabilidade entre explorações, pelo que era expectável que, neste estudo, não fossem encontradas diferenças significativas entre explorações, relativamente ao sucesso dos programas SOV.

Em relação aos fatores relacionados com a recetora, a qualidade do CL (p= 0,908) não apresentou influência significativa na taxa de gestação após TE. Este resultado não é concordante com o obtido por Vieira et al. (2014), que concluíram que a qualidade do CL da recetora era um dos fatores com grande impacto na taxa de gestação. A provável explicação para esta diferença poderá residir no facto desses autores terem transferido embriões para recetoras com CL de qualidade boa, razoável e má, enquanto que, no presente estudo, apenas foram sujeitas à TE recetoras com CL de qualidade boa ou razoável. Assim, poderemos sugerir que, num cenário comercial, a diferença entre recetoras com CL1 ou com CL2 não é um fator de exclusão.

Neste estudo, a sincronia do cio (p=0,016) foi um dos fatores que influenciou significativamente a taxa de gestação das recetoras de embriões. Obteve-se uma taxa de gestação mais elevada em recetoras com sincronia de 0 horas (41,4%) e -12 horas (57,6%). Este resultado difere dos obtidos por Hasler (2001) e Spell et al. (2001), que referem que a sincronia do estro entre a dadora e a recetora, quando a mesma se mantém num intervalo temporal de ± 24 horas, não

048 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

influencia significativamente a taxa de gestação da recetora.

Em relação aos parâmetros relacionados com o embrião, constatouse que o tipo de embrião esteve significativamente associado ao desenvolvimento de gestação por parte das recetoras. No entanto, a qualidade e o estádio de desenvolvimento embrionário não afetaram significativamente a taxa de gestação.

A taxa de gestação nas recetoras que receberam um embrião fresco foi significativamente superior à das que receberam um embrião descongelado (58,9% x 30,5%, p=0,001). Este resultado é concordante com os obtidos por Hasler (2001), Spell et al. (2001), Chebel et al. (2008), Vieira et al. (2014) e Ferraz et al. (2016), que obtiveram taxas de gestação mais elevadas após a transferência de embriões frescos, em comparação com os embriões descongelados.

Quanto ao estádio de desenvolvimento embrionário, os resultados agora registados foram concordantes com os estudos realizados por Vieira et al. (2014), Ongubo et al. (2016) e Erdem et al .(2020),

que concluíram que o estádio do embrião não afetava significativamente a taxa de gestação.

A qualidade do embrião não influenciou significativamente a taxa de gestação, o que está em desacordo com os trabalhos de Alkan et al. (2020) e de Erdem et al. (2020), que registaram taxas de gestação mais elevadas após transferência de embriões de qualidade 1, sugerindo ser um dos aspetos que mais influencia o sucesso após TE.

O resultado agora obtido pode ser explicado pelo facto de apenas terem sido transferidos embriões com melhor qualidade morfológica, com o objetivo de se alcançar uma taxa de sucesso comercialmente aceite.

Ao compararem-se as taxas de gestação entre as explorações (Tabela 6) não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p=0,059). Tal como aconteceu para os programas SOV, ao trabalhar-se num cenário comercial, tende a diminuir-se a variabilidade entre as explorações, pelo que a dimensão e a dispersão da amostra poderá explicar que não existissem, neste estudo, diferenças

na taxa de gestação das recetoras de embriões, entre as diferentes explorações.

Quanto ao protocolo experimental, das 13 dadoras submetidas a este protocolo apenas 1 teve resposta negativa, ou seja, foi obtida uma taxa de sucesso de 92,3%. No entanto, ao serem comparadas a média e a máxima das estruturas recolhidas entre os dois protocolos, observou-se uma diferença significativa no número de estruturas recolhidas (p=0,019) entre os dois grupos, com o protocolo convencional a revelar-se mais eficaz (Tabela 7). Para uma avaliação mais precisa da eficácia deste protocolo experimental será provavelmente necessário um maior número de fêmeas a serem tratadas.

CONCLUSÕES

Este estudo retrospetivo teve como objetivo avaliar a eficácia da transferência embrionária em bovinos de carne, entre explorações e, identificar alguns dos fatores que poderiam influenciar o sucesso de um programa de OMTE no centro e sul de Portugal.

TABELA 1 O NÚMERO E TIPO DE ESTRUTURAS (EMBRIÕES E OÓCITOS) RECOLHIDAS E A PARIDADE DAS DADORAS NUM GRUPO DE FÊMEAS BOVINAS DE CARNE, SUJEITAS A PROTOCOLOS DE SOV E IA.

Paridade

Variável (média ± DP) Nulípara (n=24) Primípara (n=5) Multípara (n=7) p

Total de estruturas recolhidas 10,7 ± 9,8 9,20 ± 8,8 22,7 ± 12,8 0,074 Estruturas fertilizadas 4,75 ± 4,6 2,8 ± 5,2 12,9 ± 14,1 0,563 Embriões viáveis 4,13 ± 4,16 2,4 ± 4,28 11,3 ± 12,4 0,546 Embriões degenerados 0,62 ± 0,97 0,4 ± 0,89 1,57 ± 1,9 0,290 Oócitos 5,96 ± 8,09 6,4 ± 6,58 9,86 ± 13,0 0,634

Foi notória a interferência que os diversos fatores revelam entre si, bem como a dificuldade em se avaliar isoladamente cada fator e a sua influência. O mesmo parâmetro, em diferentes estudos, pode conduzir a diferentes resultados e conclusões.

Para além dos fatores acima referidos, e com o objetivo de ser otimizado, o sucesso dos programas de OMTE é importante um bom planeamento de todas as intervenções, uma comunicação eficiente entre todas as partes envolvidas, assim como, um bom maneio geral da exploração, de forma a serem evitados erros como, por exemplo, na execução dos protocolos hormonais e na deteção dos cios, ou ainda, no maneio das dadoras e das recetoras (saúde, alimentação, infraestruturas e bem-estar).

TABELA 2 COMPARAÇÃO ENTRE O NÚMERO E TIPO DE ESTRUTURAS RECOLHIDAS (EMBRIÕES E OÓCITOS) E A ÉPOCA DO ANO, NUM GRUPO DE FÊMEAS BOVINAS DE CARNE, SUJEITAS A PROTOCOLOS DE SOV E IA.

Estação do ano

Variável (média ± DP) Inverno (n=7) Outono (n=11) Primavera (n=5) Verão (n=13) p

Total de estruturas recolhidas 12,0 ± 14,66 13,91 ± 10,46 13,20 ± 7,19 12,23± 12,11 0,888 Estruturas fertilizadas 5,86 ± 9,44 6,45 ± 8,56 5,40 ± 4,62 6,08 ± 8,38 0,953

Embriões viáveis 5,29 ± 8,71 5,18 ± 7,15 4,80 ± 4,27

049

Tal como foi referido anteriormente, os dados analisados foram obtidos a partir de um ambiente empresarial, com o objetivo de ser alcançada uma taxa de sucesso comercialmente aceite, pelo que a amostra analisada foi a mais conveniente, o que poderá ter condicionado os resultados obtidos. Em conclusão, pode afirmar-se que existem múltiplos fatores relacionados com as fêmeas, o maneio e o ambiente, assim como outros relacionados com a experiência do técnico, que podem afetar a resposta SOV das dadoras e a taxa de gestação das recetoras.

5,54 ± 7,51 0,960 Embriões degenerados 0,57 ± 0,976 1,27 ± 1,56 0,60 ± 0,894 0,54 ± 1,13 0,493 Oócitos 6,14 ± 11,19 7,45 ± 7,26 7,80 ± 9,26 6,15 ± 9,75 0,693
Transferência embrionária GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

TABELA 3 COMPARAÇÃO ENTRE O NÚMERO E TIPO DE ESTRUTURAS RECOLHIDAS (EMBRIÕES E OÓCITOS) E A EXPLORAÇÃO, NUM GRUPO DE FÊMEAS BOVINAS DE CARNE, SUJEITAS A PROTOCOLOS DE SOV E IA.

Exploração/Localização

Variável (média ± DP) Alcochete (n=3) Montemor-o-Novo (n=1) Portel (n=6) Sintra (n=2) Tomar (n=22) V. do Bispo (n=2) p

Total de estruturas recolhidas 12,33 ± 9,07 27,0 11,67 ± 15,48 27,0 ± 12,73 10,36 ± 9,1 23,0 ± 12,73 0,228

Estruturas fertilizadas 4,33 ± 2,89 26,0 3,5 ± 4,14 0 5,59 ± 7,21 17,5 ± 14,85 0,202

Embriões viáveis 3,33 ± 2,08 24,0 2,5 ± 3,27 0 5,0 ± 6,18 15,5 ± 13,44 0,16

Embriões degenerados 1,00± 1,0 2,0 1,0 ± 1,095 0 0, 59 ± 1,3 2,0 ± 1,41 0,153

Oócitos 8,00 ± 7,0 1,0 8,17 ± 12,22 27,0 ± 12,73 4,77 ± 6,2 5,5 ± 2,12 0,194

TABELA 4 COMPARAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS RELACIONADAS COM A RECETORA DE EMBRIÕES (QUALIDADE DO CL E SINCRONIA DO CIO), DE ACORDO COM O DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO (POSITIVO OU NEGATIVO), NUM GRUPO DE NOVILHAS DE CARNE, SUJEITAS À TE.

Variável

Qualidade do CL

Diagnóstico de Gestação

Gestante (n=58) Não gestante (n=76) p

CL1 44,0 % (44) 56,0% (56)

CL2 41,2 % (14) 58,8 % (20) 0,774 Sincronia (horas)

>- 24 100% (1) 0,0 % (0)

- 24 42, 9 % (9) 57,1 % (12)

- 12 57,6 % (19) 42,4 % (14)

0 44,4 % (24) 55,6 % (30) 0,016

+ 12 11,8 % (2) 88,2 % (15)

+ 24 75 % (3) 25 % (1)

>+ 24 0% (0) 100 % (4)

TABELA 5 COMPARAÇÃO DE VARIÁVEIS RELACIONADAS COM EMBRIÃO, DE ACORDO COM O DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO, NUM GRUPO DE NOVILHAS DE CARNE, SUJEITAS À TE.

Variável

Tipo de embrião

Diagnóstico de Gestação

Gestante (n=58) Não gestante (n=76) p

TABELA 6 COMPARAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE ACORDO COM O DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO, NUM GRUPO DE NOVILHAS DE CARNE, SUJEITAS À TE.

Variável

Explorações/Localidade

Diagnóstico de Gestação

Gestante (n=58) Não gestante (n=76)

Alcochete 44,7 % (21)

Leiria 27,3 % (3)

Mafra 20,0 % (3)

Montemor-o-Novo 46,2 % (6)

% (26)

%

% (12)

% (7)

bibliográficas

consultar

bibliografia utilizada, contacte

Congelado 32,1 % (25) 67,9 % (53)

Fresco 58,9 % (33) 41,1 % (23)

Qualidade do embrião

1 44,7 % (38) 55,3 % (47)

2 42,9 % (15) 57,1 % (20)

3 35,7 % (5) 64,3 % (9)

Estádio de desenvolvi mento embrionário

0,002

0,819

autores

0,274MC 38,6 % (27) 61,4 % (43)

JB 39,1 % (9) 60,9 % (14)

B 53,7 % (22) 46,3 % (19)

TABELA 7 NÚMERO MÁXIMO E MÉDIA ± DP DE ESTRUTURAS RECOLHIDAS (EMBRIÕES E OÓCITOS) POR PROTOCOLO SOV: CONVENCIONAL OU EXPERIMENTAL, NUM GRUPO DE DADORAS DE CARNE.

nestorchagas@fmv.ulisboa.pt

050 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
p
0,059
55,3
72,7
(8)
80,0
53,8
Portel 69,2 % (9) 30,8 % (4) Tomar 14,3 % (1) 85,7 % (6) Viana do Alentejo 50,0 % (13) 50,0 % (13) Vila do Bispo 100 % (2) 0,0 % (0)
Protocolo convencional Protocolo experimental Máximo Média ± DP Máximo Média ± DP Valor p Total estruturas recolhidas 38 12,83 ± 11,18 15 5,0 ± 5,05 0,019 Estruturas fertilizadas 29 6,06 ±7,93 10 2,77 ± 3,27 0,156 Embriões viáveis 25 5,28 ± 7,01 7 2,23± 2,49 0,134 Embriões degenerados 5 0,78 ± 1,22 3 0,54± 0,97 0,528 Oócitos 36 6,78 ± 8,91 8 2,23 ± 2,83 0,079
Referências
: para
a
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através do email:

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MSD Animal Health Intelligence PT-BOV-220200001

E

ANIMAL | BOVINOS DE LEITE

EXISTEM TRÊS LESÕES PRINCIPAIS QUE SÃO AS MAIORES CAUSAS DE CLAUDICAÇÃO EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS. ESTAS INCLUEM AS LESÕES NÃO INFECIOSAS - ÚLCERAS DE SOLA E LESÕES DE LINHA BRANCA, E A LESÕES INFECIOSAS - DERMATITES DIGITAIS. ESTAS LESÕES SÃO GERALMENTE CHAMADA DE “AS TRÊS GRANDES”. NESTA EDIÇÃO DA RUMINANTES VAMOS FALAR SOBRE A DERMATITE DIGITAL (DD), DANDO CONTINUIDADE À SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE "A SAÚDE DOS CASCOS E AS 3 GRANDES CAUSAS DE CLAUDICAÇÃO” JÁ PUBLICADOS NAS DUAS EDIÇÕES ANTERIORES DA REVISTA.

Tal como as outras causas de claudicação, a dermatite digital (DD) representa um custo económico significativo para os produtores devido à redução de rendimentos, ao pior desempenho reprodutivo, ao aumento da perda de peso e ao maior risco de refugo precoce (que geralmente está ligado a um refugo involuntário, com um valor económico reduzido e a um custo de substituição da vaca). Embora a DD seja a menos

onerosa das três principais causas de claudicação, altera a conformação da unha e pode resultar num aumento das lesões ungueais não infeciosas mais dispendiosas.

A dermatite digital, verrugas do calcanhar ou Doença de Mortellaro é uma condição infeciosa bacteriana da unha, que requer vários fatores predisponentes. Afeta principalmente a crista interdigital e o calcanhar e, às vezes, a fenda interdigital (Figura 1).

052 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
DERMATITE DIGITAL SAÚDE
BEM-ESTAR
MARIE-LAURE OCAÑA Dairy Technical Services Manager Zinpro Corporation mlocana@zinpro.com SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE "A SAÚDE DOS CASCOS E AS 3 GRANDES CAUSAS DA CLAUDICAÇÃO" 1. Úlceras da sola 2. Lesões da linha branca 3. Dermatite Digital 4. Claudicação como doença do periodo de transição 5. Implicações para a longevidade da vaca

As lesões são frequentemente associadas à erosão do corno do calcanhar em forma de V ou em camadas. São muito dolorosas, pois resultam na exposição das terminações nervosas. Podem ter um odor característico como resultado da quebra da queratina da unha e também levar a infeções bacterianas secundárias.

As lesões iniciais são ulcerativas e têm uma forma circular ou oval. À medida que a infeção progride, podem transformar-se em verrugas peludas no calcanhar.

A progressão da doença é classificada em cinco estádios (figura 2).

As lesões definidas como M2 e M4 têm maior importância nas explorações, pois do ponto de vista epidemiológico são as mais relevantes. As lesões são infeciosas no estágio M2; o M4 é significativo porque pode reverter para M2 infecioso. O tratamento precoce e eficaz das lesões M2 é um componente fundamental de um programa eficaz de controlo da doença.

COMO SE PROPAGA A DOENÇA

A dermatite digital é introduzida na exploração através da introdução de novos animais com uma infeção pré-existente. Uma vez que a infeção é introduzida, pode espalhar-se rapidamente, especialmente entre animais de primeira e segunda lactação. Os bovinos mais jovens parecem ser mais afetados do que os animais mais velhos. Existem alguns animais que, mesmo em rebanhos com alto nível de infeção, nunca desenvolvem lesões, demonstrando uma possível resistência genética.

A doença parece ser multifatorial e requer três elementos-chave: a presença de bactérias, um nível de higiene baixo que propícia à transferência de bactérias e um comprometimento da pele. Este último

componente é fulcral, uma vez que as bactérias não penetram pele intacta.

A dermatite digital é uma doença que afeta as vacas alojadas em cubículos no hemisfério norte. O uso de raspadores automáticos parece estar implicado num risco aumentado de infeção, já que força as vacas a passar por grandes quantidades de chorume enquanto caminham pela exploração ou quando estão no comedouro. Estes equipamentos também podem causar danos à pele da região do calcanhar, permitindo a entrada de bactérias.

O equipamento de aparamento de cascos, quando partilhado entre explorações, é também uma possível fonte de infeção. Procedimentos adequados de desinfeção do material são essenciais, de preferência após o tratamento de cada vaca.

PREVENÇÃO

Nas doenças infeciosas, a prevenção é uma tática vital para reduzir o risco e as consequências. Esta prevenção deve incidir nos fatores que contribuem para aumentar as taxas de infeção.

Novos animais que chegam à exploração devem ser encarados como uma fonte de infeção. À chegada, os animais devem ser inspecionados e deve-se banhar as patas ou tratá-las com um spray antibiótico. Devem ser mantidos separados do efetivo principal durante duas semanas.

A higiene é a medida de controlo mais importante para a DD. Reduzir a exposição ao estrume e evitar molhar as patas são pontos fundamentais para reduzir o risco. Fatores que melhoram a higiene das patas incluem:

• design dos cubículos (por exemplo: estábulos com duas filas de cubículos têm 20% mais espaço de superfície do que estábulo com 3 filas),

• limpeza dos cubículos para evitar áreas molhadas,

• redução da densidade animal,

• remoção frequente do estrume dos corredores por raspagem ou lavagem pelo menos três vezes por dia,

• não permitir que o estrume se acumule nas áreas com mais trânsito animal, como corredores de retorno e cruzamentos.

• evitar o funcionamento de raspadores automáticos durante as horas de pico de alimentação.

• acionar raspadores automáticos a cada duas horas e com mais frequência, se os corredores forem estreitos ou os estábulos tiverem uma ocupação elevada.

• certificar-se de que os cubículos são confortáveis e têm as dimensões corretas.

A imersão regular das patas deve ser uma componente integral de qualquer programa de prevenção. Os pedilúvios ajudam a limpar e desinfetar a pele interdigital e são parte integrante do controlo de DD para a maioria dos efetivos leiteiros. Estes tratamentos reduzem a probabilidade das lesões crónicas M4 reverterem para lesões M2 ativas e de as lesões M2 infeciosas progredirem para M4.

Deve-se conhecer o volume do pedilúvio para permitir que a quantidade correta de produto químico usada para fornecer a concentração final seja apropriada. O volume em litros pode ser calculado pela seguinte fórmula:

Comprimento (metros) x largura (metros) x profundidade (cm)

Para permitir uma cobertura eficaz de todas as patas, os pedilúvios devem ter pelo menos três metros de comprimento, para garantir que as patas traseiras recebam pelo menos duas imersões na solução. Os pedilúvios devem ser enchidos até uma altura de 10 centímetros e deverão ter uma largura mínima de meio metro, ao nível do chão. O pavimento deve ser antiderrapante, porém, não muito áspero ou ripado, uma vez que isso poderá impedir as vacas de quererem passar pelo pedilúvio.

Geralmente os pedilúvios são colocados nas zonas de retorno da sala de ordenha ou num corredor de transferência. Para todas as localizações, o corredor deve ser largo o suficiente para fornecer uma rota alternativa à volta do pedilúvio quando não estiver em uso. Banheiras de lavagem localizadas em frente a banheiras de tratamento não oferecem benefício adicional e não são recomendadas.

O FirstStep® Program Footbath Assessor, quando utilizado em conjunto com a avaliação da higiene, ajuda a desenvolver um programa de pedilúvios para a sua

053 Dermatite digital SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BOVINOS DE LEITE FIGURA 1 As zonas "9" e "10" são as partes da unha afetadas quando uma vaca sofre de
dermatite
digital.
Vista inferior Vista axial (interna) Vista abaxial (externa)

exploração. Faça ajustes com base nas recomendações do Programa FirstStep para criar um programa de pedilúvios que funcione na sua exploração e otimize o desempenho do seu efetivo.

A frequência do pedilúvio é determinada pela higiene das patas e pela extensão do problema de DD no efetivo. Em situações com altas percentagens de contaminação, é necessário o banho uma vez ao dia durante, pelo menos, 5 dias por semana; em condições mais limpas e mais higiénicas, um banho uma ou duas vezes por semana pode ser suficiente.

Devido à suscetibilidade dos animais no início da lactação, o pedilúvio deve começar no período em que a vaca se encontra seca e ser implementado de forma agressiva no início da lactação.

Assegure-se de que todas as vacas sejam tratadas antes de entrarem no estábulo das vacas secas e que continuam a fazer o pedilúvio durante todo o período seco. Como as novilhas também podem introduzir DD no efetivo, um programa de pedilúvio em novilhas também pode ser necessário quando apresentam uma alta incidência de DD.

TRATAMENTO

As lesões existentes precisam de ser tratadas no imediato e, geralmente, os animais respondem rapidamente ao tratamento. As lesões devem ser limpas com uma escova rija, detergente ou um agente oxidante, como o peróxido de hidrogénio, para remover o biofilme bacteriano, e secas e tratadas com um

produto antibacteriano. Quando os curativos são removidos ou dissolvidos, como com ADAPTARAPTM, a lesão deve ser verificada quanto a sinais de cicatrização que podem incluir ressecamento, escurecimento e ausência de dor. Repita o tratamento se necessário.

As taxas de recorrência da lesão após o tratamento podem ser menores quando se trata de lesões M1 e M2 do que quando se trata de lesões M4.

Um fator importante que contribui para o sucesso do maneio da saúde do casco é o tratamento rápido e eficaz de todas as lesões o mais cedo possível, juntamente com um programa preventivo que inclui o uso de Zinpro Performance Minerals®, como Availa® Dairy.

054 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
FIGURA
2 O Sistema de Classificação de Lesões M-Stage reconhece 5 estádios da doença. M1 M2 M3 M4 ...sempre na linha da frente, a distribuir conhecimento. Foto FG, Herdade Defesa da Atalaia A REVISTA DA AGROPECUÁRIA WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM RUMINANTES
055nanta@nutreco.com Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também. www.nanta.es/pt/profissional/programa-prima/

SAÚDE E BEM-ESTAR | OVINOS

NOVAS ESTRATÉGIAS NA PREVENÇÃO DE ABORTOS

NO SETOR DOS PEQUENOS RUMINANTES, TAL COMO NO SETOR PECUÁRIO EM GERAL, O OBJETIVO PRIORITÁRIO É INCREMENTAR A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E ALCANÇAR A MÁXIMA RENTABILIDADE POSSÍVEL NAS EXPLORAÇÕES.

Para conseguir a máxima rentabilidade nos rebanhos de ovinos, o bem-estar animal assume um papel muito importante e baseia-se, fundamentalmente, na aplicação de algumas medidas de maneio adequadas e adaptadas a cada exploração.

Em qualquer rebanho de ovinos, há uma multitude de fatores que podem dificultar a consecução deste objetivo. Ainda que alguns deles sejam específicos de determinados rebanhos, ou mais prevalentes e relevantes noutros rebanhos, há vários que são comuns a todos eles, quer estejamos a falar de rebanhos de aptidão cárnica, de leite ou mista.

Um dos problemas que complicam consideravelmente o aumento da eficiência e a melhoria da rentabilidade, e que é comum a todas as explorações de pequenos ruminantes, são os abortos.

IMPORTÂNCIA E PREVALÊNCIA DOS ABORTOS EM OVINOS

Atualmente, o aborto é um dos principais e mais comuns problemas em rebanhos de ovinos. Reveste-se de especial relevância porque, para além de comprometer o bemestar animal, tem uma grande repercussão económica para o produtor (Foto 1).

A presença de abortos durante cada época de partos é relativamente frequente. Por isso, é muito importante determinar que percentagem de abortos poder-se-ia considerar um problema que estaria a comprometer a rentabilidade da exploração.

Em geral, o objetivo deveria ser ter uma taxa de abortos inferior a 5% (relativamente ao total de animais gestantes), valores considerados normais e que podem estar relacionados com o maneio; entre 5 e 10%, sugere que poderá haver uma outra causa talvez infeciosa para além do maneio; e

056 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Por Deolinda Silva, Diretora Serviços Técnicos Ruminantes, HIPRA Portugal, Email: deolinda.silva@hipra.com| Fotos Deolinda Silva | Para consultar a bibliografia utilizada, contacte o autor O aborto é um dos problemas sanitários principais, e um dos mais comuns, nos rebanhos de ovinos.

TABELA

TIPO CAUSA

Chlamydia abortus

Coxiella burnetti

Salmonella abortusovis

Bactérias

Campylobacter spp.

Leptospira spp.

Brucella melitensis

Listeria monocytogenes

Border disease

Infeciosos

Vírus

Parasitas

Fungos

Bluetongue

Schmallenberg

Toxoplasma gondii

Neospora caninum

Aspergillus Absidia

Rhizopus

Mecânicos Golpes

Stresse Excesso de maneio especialmente a partir dos 3 meses de gestação

Tóxicos Ingestão de plantas, substâncias fitotóxicas ou químicas

Cordeiro(s)

Diretas

Não infeciosos

Nutricionais Toxemia de gestação, acidose, deficiências vitamínicas

Farmacológicos

Administração de corticos teroides, prostaglandina ou oxitocina.

Genética Malformações que impossibilitam de levar a termo a gestação

Indiretas

quando a taxa supera os 10%, considera-se existir um “surto de abortos”, e nestes casos as causas são alheias ao maneio e podem ser atribuídas a abortos de tipo infecioso.

Os abortos podem ser de uma natureza muito variada, podendo ser classificados segundo diferentes critérios (Tabela 1).

Apesar da grande variedade de causas de abortos, as de origem infeciosa revestem-se de particular importância, especialmente pela dificuldade do seu controlo e pelo impacto económico que acarretam.

ABORTOS INFECIOSOS

Este tipo de abortos pode ser provocado por um só agente infecioso, ou por vários (infeção mista).

As prevalências dos diferentes agentes infeciosos causadores de abortos em ovinos variam em função da zona geográfica, e em muitos países, onde o diagnóstico não é comummente realizado, é difícil de determinar.

Chlamydia Salmonella

Coxiella burnetii

Toxoplasma gondii Brucella

Campylobacter Actynomices

Chlamydia + C. Burnetii

Chlamydia + Salmonella

Chlamydia + T. gondii

Chlamydia + Actynomices

Chlamydia + Brucella Salmonella + C. Burnetii Outros

Mortos, moribundos ou nascidos débeis (com atraso no crescimento)

Leite Não se inicia a lactação ou reduz-se drasticamente a produção, encurtando a sua duração

Refugos/ Mortes Complicações durante o aborto, infeções secundárias por retenção placentária

Tratamento De animais abortados e/ou cordeiros nascidos debilitados

Manutenção

Infertilidade

Custo de alimentação de animais que abortam até voltarem a entrar no ciclo produtivo.

Animais que após o aborto, têm dificuldades em ficar gestantes ou que inclusive não conseguem, e têm de ser refugados do rebanho

Na Europa, o aborto enzoótico ovino provocado pela Chlamydia abortus, é a principal causa de aborto. Em países como Espanha, esta bactéria tem grande importância em rebanhos leiteiros e de carne, estando presente em mais de 70% dos abortos diagnosticados (Gráfico 1).

No Reino Unido, a Chlamydia abortus, Campylobacter spp e Toxoplasma gondii provocam mais de 70% dos surtos de abortos, sendo o aborto enzoótico o mais prevalente.

IMPACTO ECONÓMICO DOS ABORTOS

Os abortos de tipo infecioso, são os que maior repercussão têm em termos de impacto económico na exploração. Isto é devido ao facto de grande parte dos animais poderem ser afetados (podendo superar 70% do rebanho, em casos extremos), bem como à dificuldade

do seu controlo, tanto pelas medidas de controlo necessárias, como pelo tempo que podem levar a ser implementadas.

Para determinar o custo de um aborto, em animais de aptidão cárnica, leiteira ou mista, há que ter em conta as possíveis perdas que provocam. Há dois tipos fundamentais (Tabela 2).

As perdas diretas são as únicas que erroneamente se têm em consideração quando se pretende determinar o impacto real. As indiretas têm um papel fundamental, sendo especialmente importante o custo de alimentação principalmente nesta conjuntura atual, em que os custos de produção estão a aumentar.

Após ser verificado um aborto, esse animal entra num período improdutivo com uma duração mínima de 7 meses (2 meses para recuperar desse aborto, mais 5 meses de gestação). Este período

057 Novas estratégias na prevenção de abortos SAÚDE E BEM-ESTAR | OVINOS
1 TIPOS DE ABORTOS E SUAS CAUSAS GRÁFICO 1 PREVALÊNCIAS DOS DIFERENTES AGENTES INFECIOSOS CAUSADORES DE ABORTOS EM OVINOS NA EUROPA TABELA 2 TIPOS DE PERDAS PROVOCADAS PELOS ABORTOS a 57% b 8% d 3% e 2% f 2% g 1% h 6% i 3% j 2% l 1% n 1% m 1% o 5% c 8%
a 57% e 2% f 2% g 1% h 6% i 3% j 2% l 1% n 1% m 1% o 5% b 8% c 8% d 3%

TABELA 3 CÁLCULO DO CUSTO DE UM ABORTO CONSIDERANDO O SEGUINTE CENÁRIO: REBANHO LEITEIRO COM 1000 OVELHAS DE RAÇA ASSAF; LACTAÇÃO MÉDIA DE 300 LITROS; PREÇO POR LITRO LEITE = 0,85 €; PROLIFICIDADE = 1,2; PREÇO POR KG DE CORDEIRO = 5,2€; CUSTO DA ALIMENTAÇÃO DO PERÍODO IMPRODUTIVO = 0,25 €/ DIA; CUSTO DA ALIMENTAÇÃO DURANTE O PERÍODO EM LACTAÇÃO = 0,55 €; TAXA DE ABORTOS = 12%.

Leite Borregos(s)

Ingressos nos partos 30.600 €

da ovelha Alimentação do borrego

Total

€ 38.088 €

Despesas nos partos 13.860 € 2.736 € 16.596 €

Custo oportunidade 21.492 €

Alimentação das ovelhas

Custo do período improdutivo 6.300 €

Por animal presente na exploração 27,79 €

CUSTO POR ABORTO

pode ser mais extenso, especialmente em rebanhos com um único período de partos por ano, ou em animais que não ficam gestantes após a primeira cobrição.

Para se poder avaliar o impacto económico que os abortos têm numa exploração, é imprescindível determinar o custo que estes acarretam mediante uma correta recolha de dados.

São muitos os parâmetros que determinam o custo de um aborto, e estes são variáveis dependendo do país, época do ano e inclusive de cada exploração (diferentes custos de alimentação, preço do cordeiro e/ou leite, raça, etc.). Em países como o Reino Unido, estima-se que, em ovinos de carne um aborto possa superar os 90 €, sendo este custo sempre muito superior em ovinos de leite, alcançando um custo mínimo de 200 € e podendo mesmo superar os 300 € em explorações de produção intensiva.

A Tabela 3 simula o cálculo do custo de um aborto considerando o seguinte cenário: rebanho leiteiro com 1000 ovelhas de raça ASSAF; lactação média de 300 litros; preço por litro de leite = 0,85 €; prolificidade = 1,2; preço por kg de cordeiro = 5,2€; custo alimentação do período improdutivo = 0,25 €/dia; custo da alimentação durante o período em lactação = 0,55 €; taxa de abortos = 12%.

Podemos concluir que neste rebanho, o custo por um animal abortado seria de 231,60€. Considerando uma taxa de abortos de 12%, o custo total dos abortos seria de 27.792€.

É fundamental estar consciente de como os abortos podem comprometer a rentabilidade e eficiência produtiva de uma exploração. É necessário darlhes a importância que têm e atuar em conformidade para se poder minimizar

Por animal abortado 231,60 €

Custo total para a exploração 27.792,00 €

e controlar este problema o mais cedo possível, podendo assim retornar aos objetivos produtivos desejados.

CONTROLO E PREVENÇÃO

A prevenção é a melhor estratégia na luta contra os abortos, tentando sempre antecipar o problema e reduzindo assim a sua incidência na exploração, bem como as consequências económicas que podem provocar.

Para isso, existem certas medidas gerais de maneio que nos podem ajudar ao seu controlo:

- desinfeção das zonas de parto entre as diferentes épocas; - controlo reprodutivo: grupo de animais gestantes e de não gestantes; - evitar períodos de partos excessivamente longos; - controlo da presença de outras espécies na exploração (gatos, roedores, etc.); - controlo serológico de animais comprados: evitar a introdução de animais infetados;

- nutrição: condição corporal adequada.

Perante a presença de abortos, devem ser tomadas as seguintes medidas gerais: - eliminação rápida das placentas e fetos; - identificação e isolamento de animais abortados;

- desinfeção da zona de partos.

Perante a suspeita da presença de um surto de abortos infeciosos (percentagem de animais abortados > 10% relativamente ao total de animais gestantes), é vital diagnosticar de modo rápido e conclusivo qual o agente implicado. Muitos agentes patogénicos provocam sintomatologia similar, e por isso o diagnóstico laboratorial é sempre necessário para confirmar a sua presença.

Depois de confirmado o agente causador desses abortos, para além de se continuar a tomar as medidas gerais anteriormente referidas, devem ser aplicadas medidas específicas de controlo para o agente diagnosticado, incluindo a profilaxia vacinal (quando seja possível).

Quando se confirma Aborto Enzoótico Ovino (aborto infecioso causado pela Chlamydia abortus) no rebanho, a combinação das medidas de controlo anteriormente referidas e a vacinação são a única maneira de controlar este problema.

VACINAÇÃO E RETORNO DO INVESTIMENTO (ROI)

Em 2019, esta situação alterouse radicalmente com a chegada ao mercado de uma nova vacina inativada (Laboratórios HIPRA), indicada para controlar os abortos causados pela Chlamydia abortus e Salmonella abortusovis, sendo eficaz e segura durante a lactação e gestação (ao contrário das vacinas vivas atenuadas), e que reduz significativamente a excreção.

Com a utilização desta vacina consegue-se alcançar uma redução de até 74% (Montebrau et al., 2020) na sintomatologia clínica. É também uma vacina segura para administrar em animais gestantes e durante a lactação, permitindo a vacinação de todo o efetivo ao mesmo tempo, facilitando o maneio no rebanho.

Estes agentes infeciosos frequentemente produzem surtos de abortos no rebanho, afetando mais de 10% dos animais gestantes (podendo superar os 50%), comprometendo seriamente a produtividade do rebanho.

058 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Alimentação
0,00
7.488 €
059 HIPRA PORTUGAL Portela de Mafra e Fontaínha Abrunheira, 2665 - 191 Malveira, Portugal Tel.: (+351) 219 663 450 · Fax: (+351) 219 663 459 · portugal@hipra.com · www.hipra.com PREVINA OS ABORTOS PARA A SUA TRANQUILIDADE Vacina inativada contra Chlamydia abortus e Salmonella Abortusovis 1. T. García-Seco et al. 2020 – “E icacy of a Salmonella enterica serovar Abortusovis (S. Abortusovis) inactivated vaccine in experimentally infected gestating ewes” 2. Montbrau et al. 2020, Evaluation of the E icacy of a New Commercially Available Inactivated Vaccine Against Ovine Enzootic Abortion 3. Fontseca M. et al 2018, E icacy of a new inactivated vaccine against Chlamydia abortus and Salmonella abortusovis experimental challenges of pregnant ewes. Consulte o seu médico veterinário para obter mais informações sobre a implementação de programas de vacinação para prevenção dos abortos. MENOS ABORTOS1,2,3 DIMINUIÇÃO DA EXCREÇÃO1,2,3

Leite Borregos(s)

Alimentação da ovelha Alimentação do borrego Total

Ingressos nos partos 30.600 € 0,00 € 38.088 € 7.488,00 €

Despesas nos partos 138.600 € 2.736 € 16.596 €

Custo oportunidade 21.492 €

Alimentação das ovelhas

Custo de período improdutivo 6.300 €

Custos de abortos

Rebanho não vacinado 27.792 € Rebanho vacinado 16.675 €

Custo da vacinação 1º ano A partir do 2º ano 2.400,00 € 1.003,60 €

ROI 4,63 € 11,08 €

Vacinação vs. Não vacinação 11.116,80 €

Por isso, em rebanhos nos quais foi confirmada a presença de um destes agentes patogénicos (C. abortus e S. abortusovis), é fundamental uma rápida atuação para poder controlar este problema, tomando as medidas de maneio correspondentes e incluindo a vacinação como medida de prevenção.

Quando se toma esta decisão, é importante conhecer o retorno do investimento (ROI). Como se referiu anteriormente, o custo por aborto é muito variável entre explorações. Para poder determinar o ROI, dever-se-ia estabelecer o custo que os abortos estão a causar em cada exploração.

Consideremos uma estimativa do ROI de vacinação com esta vacina contra a Chlamydia abortus e Salmonella abortusovis, tendo em conta o exemplo do rebanho de ovelhas leiteiras, anteriormente apresentado.

Na Tabela 4 temos uma estimativa do retorno do investimento que um rebanho leiteiro de 1.000 ovelhas ASSAF com uma taxa de abortos de 12% e um custo total de abortos de 27.722€, poderia alcançar, caso iniciasse a vacinação com uma vacina inativada contra Chlamydia abortus e Salmonella abortusovis.

Considerando uma redução da sintomatologia clínica de 74% após a vacinação, podemos concluir que houve uma redução total do custo de abortos de 11.116,80€, correspondendo a um ROI de 4,63€ por cada Euro investido logo no 1º ano de vacinação.

De referir que o ROI depois da vacinação é diretamente proporcional à taxa de abortos e ao custo dos mesmos, sendo consideravelmente superior quando falamos de surtos de abortos.

CONCLUSÕES

Os abortos do tipo infecioso podem comprometer consideravelmente a rentabilidade do rebanho, Ovino, causado pela Clamydia abortus, sendo o Aborto Enzoótico Ovino a principal causa de aborto infecioso na Europa.

O controlo dos abortos infeciosos em ovinos passa por implementar as medidas de maneio adequadas em conjunto com a vacinação de todo o efetivo. Para aqueles rebanhos que comprem animais, é essencial assegurar que estes tenham sido vacinados na exploração de origem, ou, caso contrário, vaciná-los à chegada (gestantes ou não gestantes), o mais cedo possível, para reduzir o risco de propagação da infeção.

A vacinação é benéfica para o controlo de abortos causados por Chlamydia abortus e Salmonella abortusovis, reduzindo assim o impacto económico que estes agentes patogénicos podem acarretar numa exploração.

060
TABELA 4 ESTIMATIVA DO RETORNO DO INVESTIMENTO DE UM REBANHO LEITEIRO DE 1000 OVELHAS ASSAF VACINADA COM UMA VACINA INATIVADA CONTRA CHLAMYDIA ABORTUS E SALMONELLA ABORTUSOVIS.
#47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

Lely Horizon dados, conselhos, a sua performance

Aqui está um exemplo do que o Horizon, a nova plataforma de gestão da exploração online, tem para oferecer

A margem sobre o custo de alimentação por vaca e por rebanho

A previsão da produção de leite para os próximos 6 meses Conselho «Temos de insiminar», de acordo com o índice da vaca Conselho «Acetonemia» para prevenir o risco de cetose

Otimização do tempo das escovas para uma ordenha mais rápida Para mais informações visite www.lely.com | www.alteiros.pt/

A minha vaca é saudável? Quanto é que ganho com isso? Quanto vou produzir nos próximos meses?
www.lely.com

CERTIFICAÇÃO EM BEM-ESTAR ANIMAL

A (BOA) FORMAÇÃO DE AUDITORES INTERNOS É ESSENCIAL À CERTIFICAÇÃO EM BEM-ESTAR ANIMAL

Para o produtor de alimentos de origem animal, a relação com o mundo comercial é muito diferente do que era há poucas décadas. Hoje em dia, as exigências do consumidor, e, por arrasto, do retalhista, já não se limitam a um bom preço ou a um produto saboroso. Atualmente, os requisitos vão muito mais além e tocam todas as facetas e fases da produção. Estas exigências devem aumentar ainda mais nos próximos tempos, até que toda a cadeia de produção, incluindo as explorações de origem dos animais, seja perscrutada e exposta para apreciação do consumidor final. Daí nasceu o conceito, hoje muito difundido, da avaliação do Prado ao Prato (Farm to Fork).

As questões de bem-estar animal são talvez as mais recentes preocupações, pelo menos nos países desenvolvidos. Esta evolução ética era expectável numa população bem alimentada e com acesso a produtos alimentares seguros e a preços acessíveis.

Aos produtores é, portanto, pedido (exigido) que produzam alimentos de qualidade, usando práticas e sistemas que respeitem o bem-estar e a dignidade dos animais colocados a seu cargo. Só que, para o resto da cadeia, incluindo para o consumidor final, deixou de bastar a palavra do produtor e passou a ser pedido que as boas

práticas sejam investigadas e certificadas. E como surgiu e como funciona este acto de certificar o bem-estar animal?

Comecemos por um pouco de história. Durante e depois da 2ª Guerra Mundial, na Europa e também um pouco por todo o mundo, ocorreu uma deserção das zonas rurais, uma redução da mão-de-obra masculina na agricultura e, portanto, uma redução na produção de alimentos. Houve muita carência e mesmo fome. A solução foi intensificar a produção (também animal) levando a mais produção por área e mais produção por trabalhador.

Uns anos depois, este tipo de produção começou a preocupar os mais atentos que consideraram estes novos locais como quintas-fábricas, que não respeitavam os

animais como seres sencientes. O livro Animal Machines de uma senhora inglesa chamada Ruth Harrison e a comoção que gerou na Grã Bretanha, foi a gota de água que espoletou a procura de regras para garantir o bem-estar animal nestas novas explorações de pecuária. O livro levou o governo britânico a nomear uma comissão técnica, que listou uma série de recomendações que definiam as condições mínimas de bem-estar para a produção animal (Relatório Brambell, 1965). A partir daí, começou a desenvolver-se a ciência do bem-estar animal e espoletou-se o interesse dos consumidores em conhecer todo o percurso dos alimentos de origem animal até chegarem às prateleiras dos supermercados. A atenção e a pressão passaram a ser imensas.

Por exemplo, em 1997, uma campanha de alerta para a maneira como os bovinos usados pelo McDonalds eram tratados, levou a que se iniciasse uma enorme campanha (McCruelty) que finalmente levou a famosa empresa de hambúrgueres a contratar a Temple Grandin para visitar e auditar as suas explorações. Muitas explorações foram, na altura, convidadas a fechar. As estas campanhas, seguiram-se outras: contra o Burger King (Murder King) e contra o Wendy’s (Wicked Wendy’s), que também levou a mudanças substanciais na forma como se criavam e produziam os bovinos que alimentavam essas lojas. São estes alguns dos primeiros exemplos de como a pressão pública começou a conseguir, através de pressão sobre os retalhistas e restaurantes, afetar a produção. Uma das primeiras respostas adotadas pelos retalhistas a esta crescente preocupação pelo bem-estar animal, foi a criação de comissões de avaliação ou a contratação de consultores especialistas em bem-estar animal. Foram os primeiros passos no caminho da certificação em bem-estar dos animais no seu local de origem.

Infelizmente, nem sempre as melhorias em bem-estar na exploração (resultantes das exigências dos consumidores, retalhistas e processadores) correspondem a um acréscimo no preço do produto pago ao

062 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Por George Stilwell, Médico Veterinário, Faculdade Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, email: stilwell@fmv.ulisboa.pt Fotos George Stilwell Curso de auditores na Ilha Terceira, Açores: formação adequada e com uma forte vertente prática, é essencial ao cumprimento cabal do papel dos auditores internos.

produtor. Ou seja, nem sempre os que forçam as mudanças estão preparados para comparticipar diretamente nessa melhoria. Mas isso é outra história que não cabe hoje aqui.

COMO SE PROCESSA A CERTIFICAÇÃO EM BEMESTAR ANIMAL?

Quem é o verdadeiro cliente do produtor de animais? Poderíamos pensar que é o consumidor final ou o processador (indústria de leite ou de carne) mas, na realidade, é o retalhista, seja este uma cadeia de supermercados, de talhos ou de restaurantes. São estes elementos da cadeia os mais interessados em implementar ou em forçar sistemas de certificação, para, por sua vez, responderem às exigências dos seus clientes – os consumidores. É por isso que as primeiras iniciativas de certificação e de rotulagem em bem-estar animal, tiveram origem neste setor, ou por sua influência.

A certificação, obviamente, só terá alguma credibilidade se for executada por entidades imparciais e isentas. As empresas certificadoras terão de ter nos seus quadros pessoas com formação e experiência suficiente na avaliação dos indicadores de bem-estar, que nem sempre são completamente objetivos. Aliás, grande parte dos indicadores

hoje em dia usados para avaliar o bem-estar são baseados em sinais recolhidos nos próprios animais – grau de claudicação, presença de lesões, comportamentos não naturais etc… A esses avaliadores, dos quais depende a classificação final da exploração e, portanto, a certificação, damos o nome de auditores externos.

É óbvio que num esquema de certificação que se quer exigente e transparente, os atores não se podem nem se devem resumir aos produtores e àqueles que vão avaliar as condições e garantir o cumprimento das regras. De um esquema tão simples como esse resultaria, por certo, muita confusão, muitos incumprimentos e muito (mau) dispêndio de dinheiro. Nem animais, nem produtores, nem retalhistas, nem consumidores ganhariam com isso.

Há, por isso, um outro elemento que é imprescindível e que designamos por auditor interno. Ao contrário do externo, o auditor interno já poderá pertencer à parte interessada – pode ser o próprio produtor, um elemento da sua equipa técnica, um consultor, um membro de uma empresa que presta apoio, etc. O papel deste auditor é o de identificar eventuais entraves ou problemas e, em conjunto como o produtor, procurar solucioná-los ou colmatá-

los. Os seus conhecimentos sobre os indicadores, sobre o discorrer dos protocolos de avaliação e sobre as exigências dos esquemas de certificação, têm de estar a par dos que são demonstrados pelo auditor externo. Por exemplo, qual a utilidade de um auditor interno que não sabe ou não consegue avaliar a prevalência de claudicações ou que não sabe como serão avaliados os indicadores de conforto ou os sinais de doença? De que serve um consultor que não sabe como se irá processar a recolha de medidas ou a que classificação irá corresponder?

Um auditor interno realmente útil será aquele que tem capacidade e competência para replicar uma avaliação externa, para detetar os pontos a precisar de ajustes e, no extremo, para aconselhar o adiamento da auditoria externa por perceber que o resultado será insuficiente.

Para que o auditor interno funcione como uma maisvalia e não apenas como um elemento neutro, é preciso que tenha o mesmo tipo de formação, treino e experiência de um auditor externo. É preciso que a formação que recebe inclua uma forte vertente prática, para que o próprio possa confirmar que está preparado para avaliar os indicadores de uma forma igual ou semelhante ao que será

feito pelo auditor externo. Um produtor ou um técnico muito experiente pode pensar que tem conhecimentos suficientes para reconhecer problemas de bem-estar nos seus animais (e se calhar tem). No entanto é muito provável que, se não tiver o treino indicado, será incapaz de identificar pequenos detalhes e de fazer uma apreciação metódica e sistemática, deixando pontas soltas que irão prejudicar a avaliação externa e, por isso, a classificação da exploração.

Em suma, a certificação em bem-estar animal ao longo de toda a cadeia é já uma realidade bem presente na produção. E irá aumentar em termos de exigência nos próximos tempos. O produtor que pensa que poderá passar ao lado ou fechar os olhos a esta realidade e continuar a ser competitivo, irá no futuro encontrar imensas dificuldades. Os retalhistas irão aumentar o seu grau de exigência por certificações credíveis e transparentes. Os auditores externos serão crescentemente severos na classificação e na penalização de não conformidades. Sendo assim, o produtor tem de estar precavido e preparado, o que apenas será possível se tiver o apoio de auditores internos competentes, experientes e com formação prática adequada.

063
Certificação em bem-estar animal SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BOVINOS DE LEITE

CUSTO-BENEFÍCIO DA ORDENHA ROBOTIZADA

ANÁLISE DOS CUSTOS E DOS BENEFÍCIOS NO INVESTIMENTO NO SISTEMA

Na atual conjuntura económica, em que se verifica um aumento generalizado dos custos de produção, do custo financeiro, do custo e escassez de mão-deobra, torna-se imprescindível aumentar o rendimento das explorações leiteiras.

É necessário aumentar a produção de leite por vaca, melhorar os índices de saúde e fertilidade do rebanho, otimizar a alimentação, o rendimento de cada hora de trabalho e ter uma estrutura de custos previsível e um custo total o mais baixo possível.

O Sistema Integrado de Ordenha Robotizada (SIOR) Lely Astronaut, é claramente a melhor resposta para estes desafios.

CUSTOS Investimento

O custo de investimento inicial, de qualquer robot de ordenha, é elevado. Porém, a utilização de materiais de alta qualidade e um número reduzido de peças móveis contribui para prolongar a vida útil e garantir o valor de revenda.

Manutenção

Para se obterem custos de manutenção razoáveis e previsíveis, é fundamental cumprir com o plano de manutenção definido pelo fabricante e não pelo mercado. Este plano contempla não só o conjunto de componentes a rever em cada serviço, mas também o intervalo de tempo entre os mesmos. Assim, reduzem-se consumos de água, energia e intervenções técnicas desnecessárias.

Outro ponto relevante é a utilização de consumíveis que respeitem as características de funcionamento do equipamento (Gráfico 1).

Com os robots Lely é verificada uma estabilidade de custos ao longo dos anos, e é possível ter um contrato de manutenção com tudo incluído, válido para toda a vida do robot.

OPERAÇÃO

Um estudo realizado por Dansk Landbrugsrådgivning, em 2009, mostra que o robot de ordenha com o consumo elétrico mais baixo é o Lely Astronaut A3 (Gráfico 2).

Em 2019, a empresa DLG testou o Lely Astronaut A5 e comparou-o com os seus concorrentes. Verificou que a poupança

GRÁFICO 2 COMPARAÇÃO DO CONSUMO

1

MANUTENÇÃO

PRODUÇÃO

064 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
INTEGRADO DE ORDENHA ROBOTIZADA (SIOR) LELY ASTRONAUT. Por Pedro Dinis e Joana Tomás, Lely Center, Vila Nova de Gaia| Fotos Lely EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE
Produção de leite por vaca 2019 9,279 kg 8,745 kg 9,600 kg
Outros
robots de ordenha Sala de ordenha Robot de
ordenha Lely
Astronaut
LELY Custo Outras marcas GRÁFICO
A LELY TEM OS CUSTOS
MAIS BAIXOS DO MERCADO. 500 400 300 200 100 0 OM OM Lely 1 Lely 2 OM OM OM OM 2,66 2,37 2,80 2,99 2,43 2,15 2,49 2,32 Empresa e número de ordenhas por vaca kWh por vaca por ano
DE ELETRICIDADE DAS DIFERENTES MARCAS POR VACA POR ANO 50 40 30 20 10 0 A5 Marca A Marca B A5 Marca A Marca B
ROBOT
SIMPLES ROBOTS DUPLOS kWh/dia GRÁFICO 3 COMPARAÇÃO DOS KWH/DIA DO A5 COM OUTRAS MARCAS GRÁFICO 4 MEDIÇÃO DA
DE LEITE DA SALA DE ORDENHA, ROBOTS DE ORDENHA DE OUTRAS MARCAS E O LELY ASTRONAUT FOTO 1 ROBOT DE ORDENHA LELY ASTRONAUT A2 COM 28 ANOS DE USO

de energia variava entre os 30 e os 80%, e concluiu que o Lely Astronaut A5 é o robot de ordenha mais económico que alguma vez foi testado (Gráfico 3).

BENEFÍCIOS

Produção de leite

A introdução do robot de ordenha Lely Astronaut e os conceitos de Tráfego Livre, Nove Toques e bem-estar durante a ordenha a ele associados, permitem fazer mais ordenhas e, assim, aumentar a produção de leite (Gráfico 4).

Esta melhoria da ordenha permite um melhor arranque de lactação, assim como atingir um pico de lactação mais cedo e mais alto, e com maior persistência (Gráfico 5).

Saúde

Vacas saudáveis poupam nos custos e no tempo, e aumentam a produção de leite.

O conceito de Tráfego Livre leva a um melhoramento do bem-estar animal, permitindo que as vacas expressem o seu comportamento natural, como comer, beber, descansar, socializar e visitar o robot de ordenha.

A utilização de escovas para a limpeza e estimulação do úbere, a recolha dos primeiros jactos de leite ser feita por volume e não por tempo, a ordenha –vácuo e pulsação - ser feita de modo individualizado para cada teto, e a limpeza das tetinas ser feita com vapor após cada ordenha (Lely Pura), permitem melhorar a qualidade da ordenha (Gráfico 6).

Desta forma, é possível ter:

4 Rotinas de trabalho mais eficientes.

4 Melhor saúde das suas vacas (cascos/ pernas e úbere).

4 Aumento na produção de leite.

4 Melhor qualidade do leite.

4 Uma redução nos custos veterinários e mão-de-obra.

A Lely disponibiliza, ainda, algumas

opções para um melhor controlo na saúde dos seus animais através de:

4 Medição e análise da qualidade do leite - condutividade, temperatura, cor de sangue, de colostro, de mamite, de leite aguado e de cor anormal – sem custos de reagentes

4 Contagem de células somáticas através do MQC-C Smart.

4 Medição e análise da gordura, proteína e lactose.

4 Sistema de monitorização da ruminação a longa distância (colares QWES-LDN).

4 Sistema de pesagem Lely Gravitor.

4 Pulverizador de cascos automático (Lely Meteor).

4 Pulverizador de cascos móvel (Lely Meteor Móvel).

4 Conselhos de apoio de gestão da exploração (FMS).

4 Consumíveis Lely adequados.

Alimentação

A estratégia de alimentação do SIOR Lely assenta no PMR na manjedoura e no reforço positivo no robot. Com isto, reduzem-se os desperdícios, beneficiam-se as vacas mais produtivas e otimiza-se o fator de produção que teve o aumento de custo mais significativo.

Com o Lely Astronaut A5 podemos ter:

4 Uma alimentação adaptada às necessidades e produção de cada vaca.

4 Uma melhor eficiência alimentar.

4 Vacas mais saudáveis.

4 Uma redução do custo dos alimentos.

4 Uma redução da mão-de-obra necessária.

4 Um software dinâmico com relatórios que o ajudam a ter um melhor controlo da alimentação.

4 Um segundo dispensador de alimentos.

4 Um dispensador de alimentos líquidos (Titania).

Diminuição da produção (120

Aborto (63

Diminuição das visitas ao robot (43

Mão-de-obra (30 €)

Custos de tratamento (15

4 Um sensor de presença de concentrado.

Reprodução

Com a eliminação do trabalho de ordenha, melhoria do bem-estar, diminuição dos problemas pós-parto, melhoria da alimentação e produção de leite, a introdução de sistemas fiáveis de deteção de cio e o módulo de reprodução do Lely Horizon obtém-se:

• Uma maior taxa de conceção.

• Mais inseminações bem-sucedidas.

• Economia da mão-de-obra e sémen.

• Intervalos entre partos reduzidos.

CONCLUSÃO

O investimento na ordenha robotizada deverá trazer um retorno ao produtor a médio e longo prazo e o robot de ordenha Lely Astronaut A5 foi construído para atingir um preço de custo significativamente menor por quilo de leite produzido, levando a uma redução no consumo de energia de 17% e de 10% no consumo de água.

Para conseguir reduzir ainda mais as despesas e aumentar os lucros é necessário que os animais estejam confortáveis e livres de stress, que a alimentação e a reprodução estejam otimizadas. É também necessário ter um melhor controlo na saúde dos animais, podendo aumentar em 22% a produção diária e a qualidade do leite.

Tudo isto é possível com a escolha do robot adequado para os objetivos, um bom maneio e uma boa gestão dos dados fornecidos pelo robot.

065 Custo-benefício da ordenha robotizada EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE GRÁFICO 5 RELATÓRIO 52 – ANÁLISE DA LACTAÇÃO DAS VACAS GRÁFICO 6 PRINCIPAIS CUSTOS EM CASOS DE MAMITES
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 820 800 780 760 740 720 700 680 660 640 620 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360Média de recusas/ Média de ordenhas Peso (kg) Dias de lactação: 341 Produção diária: 43,63 litros
€)
€)
€)
€) Alimento Produção diária Número de recusas Média de ordenhas Peso

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

MAXIMIZAR O RENDIMENTO DO ROBOT CÂNDIDO E ALDA MAQUEDO, JUNTAMENTE COM O DEU FILHO, PEDRO, GEREM UMA EXPLORAÇÃO DE VACAS DE LEITE NA ALDEIA DE VILARIÇA, CONCELHO DE MOGADOURO. EM MARÇO DE 2020 CONSTRUÍRAM UM ESTÁBULO DE RAÍZ E INSTALARAM UM ROBOT DE ORDENHA, PARA UM EFETIVO DE 65 VACAS EM PRODUÇÃO.

Àexceção da silagem, que contratam fora, desempenham todas as tarefas diárias relativas à exploração agropecuária.

Mas nem sempre foi assim. Antes de terem o robot, precisavam de mais uma pessoa para ajudar nas 2 ordenhas diárias que demoravam 5 a 6 horas. Em setembro, visitámos a Agropecuária Maquedo para perceber a evolução dos resultados após as melhorias introduzidas.

Que culturas fazem?

Cultivamos cerca de 100 ha, entre próprios e arrendados, todos de sequeiro. Fazemos feno de aveia, e também feno e silagem de azevém. Semeamos em outubro, e colhemos até ao final de maio; a silagem é feita no início de abril. O que cortamos em abril dá um segundo corte, os restantes, por regra, apenas um.

Que forragens utilizam na exploração?

Para além da silagem e feno de azevém, e do feno de aveia, que produzimos, utilizamos silagem de milho que compramos.

Porque decidiram adquirir um robot de ordenha?

Por causa da falta de mão-de-obra. A ordenha era feita pela minha mulher e por

Ruminantes |

uma funcionária, que já estavam no limite das capacidades e demoravam 5 a 6 horas por dia a ordenhar, muitas vezes em condições de frio e humidade. Ou mudava para um projeto com futuro, ou fechava a exploração. Com este investimento também se torna mais fácil ao meu filho Pedro dar continuidade ao negócio.

Porque optaram pelo DeLaval VMS?

Principalmente por termos assistência em Mogadouro, a 15 minutos da exploração.

Por outro lado tinha saído o novo modelo V300, que tem várias melhorias em relação ao modelo anterior.

Com a transição, tiveram quebras na produção e/ou na qualidade do leite?

Não, antes pelo contrário. É preciso explicar que fizemos simultaneamente a transição de ordenha e de estábulo. Em cerca de 2 meses, passámos de 25 litros/vaca/dia para 30 litros/

066 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Por
Fotos FG
Alda, Cândido e Pedro Maquedo são os donos e gestores da Agropecuária Maquedo, Lda. na freguesia de Variz, concelho de Mogadouro.

vaca/dia. Hoje, passados dois anos e meio, estamos com 38-40 litros/vaca/dia.

O que pensa ter contribuído para esse aumento de produção?

O bem-estar animal melhorou significativamente, já que o estábulo é completamente novo e a ordenha passou a ser robotizada. Também houve alterações na alimentação, mudámos de nutricionista (para a Nanta) e alterámos o maneio alimentar de 1 para 2 unifeeds por dia. As forragens mantiveram-se as mesmas.

Quantas vacas tem em ordenha?

Cerca de 67. Já tivemos menos, com uma produção diária do robot semelhante à que temos agora.

Quantas logetes tem este estábulo?

Tem 69, todas as vacas têm lugar para descansar. Penso que isto tem sido muito importante para os resultados.

O que mudou na vossa rotina com a aquisição do robot?

Começámos a ordenhar em março 2020, já passaram dois anos e meio, e estamos muito satisfeitos. Claro que continuamos a ter alguns problemas aqui e ali, mas a qualidade de vida e os resultados produtivos mudaram muito. Ainda que nos continuemos a levantar cedo, pelas 6 da manhã, a obrigação de nos levantarmos às 5 da manhã para ir ordenhar, terminou.

Como foi feita a transição para o robot?

Durante o primeiro mês após a instalação, as vacas viviam no novo estábulo, passavam pelo robot para comer ração, mas iam ser ordenhadas à sala de ordenha antiga. Talvez, se fosse hoje, não tivessemos estado tanto tempo nesta transição.

Em termos de alimentação, antecipámos

o fornecimento da ração específica do robot, mesmo antes de iniciarmos a ordenha robotizada.

Houve alterações no custo com a saúde animal?

Atualmente, é raro ter um caso de mamite, quando antes era recorrente ter animais com problemas. Deitávamos fora cerca de 50 litros de leite por dia.

Que indicadores utiliza para perceber se está a correr tudo bem na exploração?

O primeiro é o número de vacas atrasadas à ordenha. Outros são o índice de deteção de mamites (MDI) — que é um indicador da condutividade do leite—, o intervalo entre ordenhas e também a produção diária de leite por vaca e dia.

Sem o robot, continuaria com o negócio de produção de leite?

Acho que não, o robot dá-nos muita liberdade de ação. A ordenha é um trabalho muito duro e não se consegue arranjar mão-de-obra. Penso que será o futuro da produção de leite. É muito cómodo, fornece muita informação sobre as vacas e para elas também é muito mais natural, pois são ordenhadas quando querem.

Se as suas vacas falassem, o que lhe diriam?

Porquê tanto tempo para fazer este investimento? Agora sim, estamos bem instaladas!

Onde quer estar daqui a cinco anos?

Com melhor genética e maior produção de leite.

Para conseguir aumentar a produção de leite num efetivo com robots de ordenha, os produtores têm que pensar em como produzir mais leite por vaca e como otimizar a produção de leite por robot.

DADOS GERAIS DA EXPLORAÇÃO

Nome Agropecuária Maquedo, Lda.

Localização Variz / Mogadouro

Área total explorada 100 hectares

Culturas Feno de aveia, feno e silagem de azevém

Produção leite total vacaria/ano 850.000 litros

Efetivo total 150 (vitelos são vendidos e as fêmeas são recriadas por nós)

Raça Holstein

Nº vacas em ordenha 67

Nº ordenhas por dia 2,6

Produção média diária 39 litros

GB (%) 3,68

PB (%) 3,18

CCS abaixo de 200.000 cél/ml

Idade ao 1º parto 25 meses

Nº médio de lactações/vaca 2,31

EQUIPAMENTO DA VACARIA

• Distribuidor: Harker XXI

• Robot V300 DeLaval

• Porta separadora inteligente

• Tanque de Refrigeração DXCR 8000L DeLaval

• Arrefecedor de Placas DeLaval

• Buffer BVV 300L DeLaval

• Escova Swing DeLaval

• Bebedouros DeLaval

• Tapete M40R p/cama DeLaval

• Arrastadores de Estrumes JOZ

• Ventiladores Horizontais CMP

• Cortinas corta-vento Vervaeke

• Silo em fibra Millenium 18M3 (10.000Kg) EuroSilos

• Logetes EURO BP Jourdain

• Cornadis Safety Jourdain

Sandra Campelo, técnica de Ruminantes da Nanta, é a resposável pela nutrição desta exploração.

067 Maximizar o rendimento do robot PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE
A "Chefa" é a vaca preferida da exploração.

NOTAS SOBRE O EQUIPAMENTO INSTALADO NO ESTÁBULO

Carlos Manuel, técnico da Harker XXI, apresentou alguns equipamentos que equipam o estábulo desta exploração e o robot DeLaval VMS.

Como se faz a deteção de cios nesta exploração?

Através dum medidor de atividade DeLaval. Estes aparelhos, ligados a antenas sem fio, registam continuamente os movimentos dos animais, permitindo manter registos da atividade de cada vaca durante 24 horas por dia. Através destes dados, que podem ainda ser combinados com os dados e informações de outros sensores DeLaval (ex: medidores de leite), é

possível detetar problemas nos animais para poder tratá-los antecipadamente.

Como é feito o controlo do ambiente dentro do estábulo?

Instalaram-se ventiladores horizontais, com sensores de temperatura que atingem a velocidade máxima aos 33º C, e cortinas corta-vento Vervaeke. Estas cortinas podem ser subidas e descidas com facilidade, premindo um botão, para gerir o ensombramento e a ventilação no estábulo.

Os dados de desempenho deste robot são bons, apesar do número de vacas que o utilizam estar no limite superior do aconselhado. Porquê?

Há duas situações que ajudam a obter estes resultados:

- a porta inteligente, que não deixa nenhuma vaca sair sem ser ordenhada;

- o sistema de ordenha DeLaval de pulsação inteligente. Este sistema, passado uma a duas semanas de ordenha, consegue conhecer o comportamento de cada vaca relativamente à velocidade de descida do leite. O padrão do mecanismo de ordenha divide-se em 40% do tempo em massagem e 60% na descida do leite, mas nem todas as vacas se comportam de forma igual. O robot consegue adequar o tempo de massagem em relação ao perfil da vaca que está a ordenhar. Nesta exploração este sistema de otimização permite ter uma média de 14 litros de leite/ordenha em menos de 7 minutos (desde que abre a porta de acesso ao robot até que a porta de saída feche).

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Cortinas corta-vento Vervaeke ajudam a manter a temperatura e ventilação adequadas. As vacas têm instalados colares com medidor de atividade. Carlos Manuel, técnico da Harker XXI. Da esq. p/ dta.: Sandra Campelo (Técnica de Ruminantes Nanta), Alda, Pedro e Cândido Maquedo e Carlos Manuel (Técnico Harker XXI).

ALGUNS FATORES LIMITANTES AO RENDIMENTO MÁXIMO DO ROBOT DADOS REAIS DA EXPLORAÇÃO AGROPECUÁRIA MAQUEDO, LDA. VERSUS RECOMENDAÇÕES NANTA DAIRY ROBOT

Para ajudar o produtor a configurar o robot para que este trabalhe de forma ideal e eficiente, independentemente da marca e modelo, a NANTA desenvolveu um modelo de consultoria chamado NANTA Dairy Robot (ver edição nº 46 da Revista Ruminantes, página 64). Este modelo baseia-se em 3 pontos chave: - trabalho de consultoria; - elaboração de um plano alimentar personalizado; - análise contínua dos principais parâmetros e indicadores fornecidos pelos robots para identificar as oportunidades de melhoria e problemas na sua exploração.

Abaixo, apresentamos os resultados atuais de alguns parâmetros importantes avaliados na exploração Agropecuária Maquedo, Lda., comparativamente com os resultados considerados ideais pelo modelo de consultadoria Nanta.

1. PRODUÇÃO DE LEITE: 38 a 40 litros, com 2,6 ordenhas diárias/vaca, e 2500 litros de leite vendido/robot/dia.

NANTA Dairy Robot: "O objetivo de produção deverá ser superior a 40 kg/ vaca/dia, e a 2400 kg de leite vendido/ robot/dia e, no mínimo, 3 ordenhas/vaca/ dia”.

2. DIAS EM LEITE (DEL): 170 dias (média dos últimos 12 meses).

NANTA Dairy Robot: “Um bom indicador é uma média, para 12 meses, de 160 a 170 dias, o valor está perto do ideal.”

3. PERCENTAGEM DE VACAS > 45 KG DE LEITE: 29%

NANTA Dairy Robot: “Quando o valor está entre 5 e 15%, indica que a nutrição não é limitante.”

4. PERCENTAGEM DE PRIMÍPARAS: 34%. Quando passámos os animais para o novo estábulo começámos a renovar o efetivo, por isso temos bastantes primíparas.

NANTA Dairy Robot: “O objetivo deve ser <30% e o ideal, do ponto de vista económico, é 25%. Normalmente,

as novilhas produzem 75 a 80% da quantidade de leite das multíparas.”

5. TIPO DE TRÁFEGO: semi-livre. Têm acesso livre às camas e manjedouras. O acesso aos bebedouros é feito com uma cancela anti-retorno. A saída do parque onde estão os bebedouros é feita através da porta separadora inteligente. Implementámos este sistema no início da ordenha robotizada, talvez se instalássemos o sistema completamente livre agora este funcionasse bem.

NANTA Dairy Robot: “As explorações com tráfego livre produzem mais 1,1 kg leite/vaca e mais 68 kg leite/robot do que com tráfego guiado.”

6. NÚMERO DE ORDENHAS/ROBOT: Cerca de 180 ordenhas/robot/dia.

NANTA Dairy Robot: “O ótimo razoável deve ser superior a 180 ordenhas/robot/ dia.”

7. NÚMERO DE VACAS/ROBOT: 66, com um sistema semi-livre.

NANTA Dairy Robot: “No sistema de tráfego livre a meta é de 55 a 60 vacas/ robot, nos sistemas de tráfego guiado é de 60 a 70 vacas/robot.”

8. TEMPO LIVRE DO ROBOT: está em 15%.

NANTA Dairy Robot: "O valor de referência deve ser de 15% para que todas as vacas possam ser ordenhadas quando quiserem ir à ordenha."

9. TEMPO NA BOX: 6 minutos e 22 segundos.

NANTA Dairy Robot: "O tempo de ordenha deve ser superior ou igual a 70% do tempo na box. Se o tempo na box for inferior a 6 minutos e 30 segundos e o tempo total de tratamento permanecer em 2 minutos, então o tempo de ordenha fica aquém dessa meta."

10. NÚMERO DE ATRASOS: 3 animais/ dia (4,5%).

NANTA Dairy Robot: “O valor de referência deve ser inferior a 5% das vacas que são ordenhadas.”

11. KG DE LEITE/ORDENHA: valor atual está em 14,0 kg.

NANTA Dairy Robot: “O ponto de referência é de 11 a 13 kg de leite/ordenha.”

PLANO ALIMENTAR DA EXPLORAÇÃO

Ingestão matéria seca (IMS)/ vaca/dia 23 kg

PLANO ALIMENTAR DAS VACAS EM LACTAÇÃO

Silagem de milho 7 kg

Ração de lactação 10 kg no unifeed

Ração no robot 5 kg

Silagem de erva 6,5 kg

Feno de aveia + azevém 10 kg

PLANO ALIMENTAR PRÉ-PARTO

Novalac Transição 4 kg

Unifeed lote de produção 6 a 7 kg

Feno de aveia À descrição

Kexxtone 25 dias antes

Rotavec Corona 25 dias antes

069
Robot V300 DeLaval.
Maximizar o rendimento do robot PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

DAS MATÉRIAS-PRIMAS

DESTRUIÇÃO DE PROCURA OU DE OFERTA!

MOVIMENTAÇÃO DURADOIRA NOS PREÇOS!

Podemos dividir a movimentação dos preços em dois motivos: i) factos/ noticias que afetam a procura e a oferta no curto-médio prazo, e ii) factos/notícias que afetam a procura e a oferta a médio-longo prazo. Este último motivo é o que marca os longos períodos de preço relativamente altos, seguido por longos períodos (ciclo) de preços relativamente baixos. Para dar um exemplo, falando do leite: os grandes avanços nutricionais e a genética deste século, permitiram que a grande maioria das vacas leiteiras produzisse mais de 25 litros/dia, pelo menos em toda a Europa, o que, com o fim das quotas leiteiras, conduziu a uma oferta ampla de leite que o mercado teve dificuldade em absorver. Este ciclo terminou pelo início do ano passado, empurrado pela subida de preços das matérias-primas

a partir de meados de 2020, pelas exigências ambientais e pelas mudanças geracionais que levaram um pouco por toda a Europa a uma redução do número de vacas leiteiras, ou seja, à destruição da oferta de leite.

Esta redução da capacidade de produção será permanente?

Só o futuro dirá se será permanente ou se viremos a ter uma recuperação do número de efetivos na Europa, devido ao incremento de preços do leite e à potencial descida dos preços dos cereais e oleaginosas, que aumentarão as margens do negócio do leite facilitando a entrada num novo período de redução de preços do leite. Deixo a cada um de vós a resposta a esta questão.

No que respeita aos cereais e oleaginosas, pelo lado da oferta temos muito potencial para incrementar a produção com a melhoria das práticas agrícolas, em particular com a melhor utilização de fertilizantes no Mar Negro: a Rússia tem

uma utilização de 20kg/ha, a Ucrânia 60kg/ha, contra a media da UE de 68kg/ha (em Portugal são 31kg/ha, segundo os dados que tenho, referentes a 2019). Por outro lado, a expansão da área agrícola no Brasil dificilmente deixará de ser incrementada, seja por via da pecuária se tornar mais intensiva e com isso libertar área para plantar milho e soja, ou por via da expansão de área pura e dura. Pelo lado da procura, não me parece que seja realista dizer que o consumo de carne, ovos e leite, no mundo, como um todo, diminua de modo a permitir um ajustamento à baixa dos cereais e oleaginosas, ou seja, que vá haver uma destruição da procura. Os pequenos ajustamentos em baixa da procura que possa haver (e logo, de preço) serão, em meu entender, factos/noticias de curto-médio prazo.

Não nos podemos também esquecer que as matériasprimas são transacionadas em

Dólares, e desde junho que o Euro passou de 1,07 para 0,98, o que, em números redondos, são 10%, ou seja, se a farinha de soja estiver agora a 600€, com o cambio de junho estava a 540€; e o milho, se agora estiver a 330€, equivaleria a estar, em junho, a 297€.

PROTEÍNAS

Como era de esperar, o USDA, no seu relatório de setembro, reduziu a previsão da produção de soja nos States, se bem que em agosto tenha subido o rendimento por hectare versus o seu primeiro valor de maio para a colheita de 22/23, algo que me pareceu incompreensível, atendendo a que maio, junho e grande parte de julho foram muito secos nos States. Com isto, temos os preços em Lisboa a roçar os 600€/mt da farinha de soja. Que só não estão mais altos porque o governo argentino, na ânsia de recolher divisas, criou um cambio especial

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OBSERVATÓRIO

para os agricultores de soja, (melhor que o oficial), para os incentivar a vender grão de soja e, com isso, recolher impostos. Esta medida teve um efeito em cadeia, uma vez que o grosso do grão da argentina sai do país em forma de farinha e óleo. Esta é uma boa notícia para os compradores de soja, por dois motivos: por um lado fez descer os prémios da farinha argentina e, por outro lado, permitiu por todas as fábricas na Argentina a produzir, e, com isso, termos as toneladas necessárias para suprir a produção de algumas fábricas de extração de soja que terão de deixar de extrair soja por não terem margem para operar, em particular na Europa.

No que se refere à procura, temos a China que está a aliviar as medidas de controlo do Covid, que levaram muitas cidades a estarem em quarentena total. E, por outro lado, a China também passou por um verão muito seco, tendo esta seca tido impacto direto nas suas sementeiras de primavera (milho e soja em particular).

No que se refere à farinha de colza, esta teve, nos meses de julho-agosto, valores mais baixos do que os atuais. Hoje, em Lisboa, está pelos 390€, o que se deveu à pressão de colheita e a algumas fábricas

(multi-seed) mudarem de soja para colza, durantes estes meses, pelas melhores margens. Entretanto, a extração de colza já não tem margens tão ricas, o que levou a farinha de colza a recuperar o preço. O mesmo podemos dizer da farinha de girassol, que já esteve oferecida sobre os 250€ em Lisboa e agora está sobre os 300€, pelo mesmo motivo da colza.

Deste modo, o panorama não é baixista para a farinha de soja, mesmo que vejamos uma correção importante do preço atual. Mas voltar a estar perto dos 500€, que já nos parecia caro, hoje só depois de sabermos como vai correr a próxima sementeira na América do Sul é que será verosímil.

CEREAIS

Desde o último Observatório, tivemos boas e más noticias. Começando pelas más, como já era previsto, chegado o período de importação de milho brasileiro, esta campanha foi muito complicada em termos de limites máximos de resíduos, em particular de pesticidas. Uma vez que, por um lado, a UE cada vez impõem limites mais baixos e os produtores brasileiros que produzem essencialmente para o seu enorme mercado interno e para exportação para

o Médio Oriente e Ásia, não veem como necessário adotar às suas praticas agrícolas as exigências europeias, o que causa enormes dificuldades em encontrar, com algum grau de confiança, milho que cumpra as especificações europeias. Outra má noticia foi a seca que, de forma generalizada, afetou os 3 continentes no hemisfério norte e, com isso, a redução correspondente de rendimentos por hectare. No que toca às boas notícias, apesar da guerra na Ucrânia continuar, o acordo entre as partes para criar um corredor marítimo seguro de exportação permitiu começar a exportar cereais ucranianos em grande escala. Se até julho, as exportações totais ucranianas eram de cerca de 1 milhão de toneladas, maioritariamente por via terrestre, em agosto, já se exportaram mais de 1 milhão de toneladas de milho e 1 milhão de toneladas de trigo por via marítima, a que há que acrescentar 1.5 milhões de toneladas de cereais por via terrestre. A expectativa para o milho é que com a nova colheita se exporte cerca de 2 milhões de TM. Sabemos que a guerra é imprevisível, pelo que é difícil dizer o que vai acontecer.

Deste modo. ao longo dos últimos meses vimos os preços

do milho retrocederem para perto dos 300€ nos portos de Lisboa, para estarem hoje sobre os 330€. O trigo e a cevada forrageira este ano não serão concorrência para o milho, pelo que é de esperar que tenhamos um primeiro semestre de 2023 com preços superiores aos que agora estamos a falar. Como tipicamente acontece todos os anos, depois de estarmos no pico da campanha do hemisfério norte.

Para quem comprava alguns destilados, não creio que vá ter muita sorte, uma vez que o custo do gás está a levar os produtores de etanol na Europa a parar a atividade.

CONCLUSÃO

As matérias-primas vão continuar com preços altos, pelo que a função do mercado, leia-se, dos produtores de leite e carne, é fazer que o mercado funcione e as leis da procura e da oferta funcionem para que os preços dos seus produtos se ajustem. Por outras palavras, para que o leite seja pago em Portugal ao mesmo preço do que é pago no norte da Europa. A única maneira de parar a destruição da oferta.

Termino com um abraço solidário ao povo ucraniano.

COLHEITAS MUNDIAIS

SOJA

Produção

MILHO

Produção

071 Destruição de procura ou de oferta! OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS
Milhões de tm 14/15 15/16 16/17 17/18 18/19 19/20 20/21 21/22 22/23
mundial 319,00 312,80 351,40 342,09 360,30 339,00 366,20 353,20 389,80 Stocks finais 77,60 76,60 96,00 98,56 111,88 96,04 99,88 89,70 98,82 24% 24% 27% 29% 31% 28% 27% 25% 25%
mundial 1.008,80 961,90 1.070,20 1.076,20 1.123,30 1.116,50 1.122,80 1.219,80 1.172,60 Stocks finais 208,20 210,90 227,00 341,20 320,80 303,10 292,20 312,10 304,50 21% 22% 21% 32% 29% 27% 26% 26% 26%
Fonte: USDA s&d relatório de setembro.

INFLAÇÃO, INCERTEZA, DOENÇA RENAL E STEVIA

À MEDIDA QUE NOS APROXIMAMOS DO FINAL DO ANO, MUITAS CONTINUAM A SER AS INCERTEZAS A NÍVEL GLOBAL: AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, O CONFRONTO A LESTE E A INFLAÇÃO QUASE SEM PRECEDENTES SÃO HOJE TEMAS INCONTORNÁVEIS TAMBÉM PARA O SETOR LEITEIRO.

Os preços dos produtos lácteos estão em alta, o que infelizmente não alivia as margens apertadas dos produtores, devido aos custos de produção elevados a nível de alimentação, eletricidade e logística. Ainda assim, as previsões do Rabobank apontam para um fecho de ano com crescimento da produção leiteira nos sete produtores-chave – Europa, Estados-Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Brasil, Uruguai e Argentina – contrariando a tendência dos últimos meses. Para este crescimento contribuirão a diminuição dos custos em alimentação dos efetivos e a abertura do corredor de cereais vindos da Ucrânia. No entanto, os especialistas pedem cautela, visto que a qualquer momento a situação a leste se pode voltar a agravar. A Rússia ameaça

agora limitar as exportações através dos portos ucranianos consoante o país de destino, alegando que as principais economias europeias se estão a aproveitar dos carregamentos de cereais em detrimento destes chegarem a economias em desenvolvimento.

Voltando aos dias de hoje, os valores de produção leiteira têm-se mantido em linha ou, em alguns casos, a registar perdas face ao período homólogo.

Na Austrália, por exemplo, o semestre fechou com uma perda de 9,2% face a 2021.

A melhoria das condições ambientais e a disponibilidade alimentar deverão contribuir para o aumento dos volumes de produção na temporada 2022/23, na ordem dos 1,1%.

As exportações para a China e Sudeste Asiático poderão no entanto ficar aquém do desejado, caso exista deterioração económica nessas regiões.

Na Europa, apesar do Verão seco e da perda de 0,7% em termos de volume total de produção, países como a Irlanda, Alemanha, Polónia e Países Baixos registaram uma evolução positiva. A França, particularmente impactada pelo Verão implacável, continua com uma perda de cerca de 2,9% comparativamente ao ano passado. No entanto, produtos lácteos europeus, como o queijo, parecem querer contrariar esta tendência negativa. Com um aumento estável das exportações para os Estados Unidos e Reino Unido, as previsões apontam para que este mercado possa acabar o ano a crescer 0,5%.

Nos Estados Unidos, cuja produção tem subido, ainda que modestamente, poderemos assistir a um ganho de quota de mercado face à Europa devido à força do dólar sobre o euro, em produtos como o leite em pó. Nos últimos

tempos, a volatilidade de preços do leite em pó tem posto nervos em franja, com oscilações significativas de preço em intervalos de quarenta e oito horas, em grande parte devido à incerteza associada a eventuais retaliações russas. A diminuição dos stocks chineses parece tornar iminente o regresso da China aos mercados, principalmente a nível de proteína whey, o que pode trazer também alguma volatilidade aos preços do leite em pó. Ainda assim, existem dúvidas sobre quão forte será este regresso, tendo em conta a fragilidade económica de algumas regiões chinesas e as restrições impostas pelo governo. Será interessante perceber se algum outro importador ganhará relevância sobre a China nos mercados, caso a sua participação em 2023 seja mais tímida, apesar de tal ser improvável.

No setor da inovação,

072 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
OBSERVATÓRIO DO LEITE
Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes Bdairy, Comissão Europeia, Dairy Industries International, Dairy Reporter, Farmer’s Weekly, Rabobank, The Dairy Site

a Fonterra anunciou recentemente a criação de uma nova marca, a Nutiani, sob a qual serão desenvolvidas soluções nutricionais específicas para empresas que desenvolvam produtos nas áreas de nutrição e bem-estar. Assim, a cooperativa pretende alargar o seu leque de competências para além da produção leiteira tradicional, fortificando a sua identidade como parceiro de negócios na área da inovação nutricional. Também a dinamarquesa Arla Foods se está a aventurar nestas andanças, com a criação de uma beta-lactoglobulina denominada Lacprodan BLG-100, a qual promete trazer benefícios a pessoas que padecem de Doença Renal Crónica, uma patologia que afeta atualmente mais de 850 milhões de adultos a nível global. Atualmente existem dois produtos desenvolvidos: uma bebida pronta a consumir, com 7% de proteína, e um shot proteico com 21% de proteína. Ambos permitem a estes doentes receber as quantidades diárias recomendadas de proteína sem o excesso de minerais que podem ser prejudiciais aos seus rins. A criação deste tipo de produtos de valor acrescentado abre caminho para novos (e lucrativos) mercados: a nível mundial, a área dos nutracêuticos e suplementos alimentares cresce 6% ao ano,

com consumidores cada vez mais informados e atentos à influência da dieta no seu bemestar.

No entanto, nem todas as inovações no setor leiteiro têm de ser tão ambiciosas: a mudança pode ser pequena e, ainda assim, ter um impacto significativo. Por exemplo, a utilização de stevia em produtos lácteos está a despertar interesse na indústria e nos consumidores. A stevia é um adoçante natural derivado da planta com o mesmo nome e cujo poder adoçante é superior ao do açúcar sem,

no entanto, possuir calorias. A empresa britânica Tate&Lyle tem sido uma das pioneiras na utilização desta substância –cujo mercado vale atualmente mais de 700 milhões de dólares – em produtos lácteos. De acordo com a pesquisa levada a cabo, quatro em cada dez consumidores europeus entre os 18 e os 35 anos têm maior probabilidade de comprar lacticínios adoçados com stevia. Cerca de 34% dos consumidores nesta mesma faixa etária considera que os produtos lácteos tradicionais contêm demasiado açúcar. Entre 2019

e 2021, 61% dos novos produtos adoçados com stevia foram iogurtes, mas será expectável que a expansão a outros produtos seja igualmente bem sucedida.

Fatores como a diminuição dos efetivos leiteiros, gestão rigorosa dos terrenos agrícolas e legislação cada vez mais pesada sobre o setor, em grande parte devido ao combate às alterações climáticas, porão à prova a capacidade de adaptação e inovação dos produtores e indústria, que terão cada vez mais de ser seletivos no que toca a alternativas para escoar o leite.

LEITE À PRODUÇÃO | PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2021/2022

ANOS MESES EUR/KG

TEOR MÉDIO MG1 (%) TEOR PROTEICO (%)

Continente Açores Continente Açores Continente Açores

Julho 0,309 0,275 3,71 3,68 3,24 3,09

Agosto 0,310 0,276 3,77 3,73 3,29 3,10

Setembro 0,312 0,279 3,79 3,78 3,30 3,13

2021

Outubro 0,328 0,289 3,89 3,79 3,31 3,19 Novembro 0,330 0,293 3,96 3,85 3,36 3,24

Dezembro 0,329 0,298 3,93 3,88 3,34 3,24

Janeiro 0,356 0,317 3,86 3,85 3,30 3,19

Fevereiro 0,358 0.314 3,85 3,74 3,30 3,16

Março 0,358 0,313 3,82 3,69 3,28 3,18

2022

Abril 0,405 0,333 3,81 3,71 3,27 3,15

Maio 0,404 0,345 3,73 3,70 3,25 3,14

Junho 0,401 0,349 3,67 3,75 3,22 3,12

Julho 0,421 0,368 3,69 3,76 3,19 3,08

Fonte: SIMA, Gabinete de Planeamento e Políticas

073
Inflação, incerteza, doença renal e stevia OBSERVATÓRIO DO LEITE
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VL-ERVA

PREÇO DE LEITE:UMA TÉNUE LUZ AO FUNDO DO TÚNEL

NESTE NÚMERO DA RUMINANTES OS ÍNDICES VL E VL - ERVA PARA O PERÍODO DE MAIO A JULHO DE 2022. AO LONGO DO TEMPO, A REVISTA RUMINANTES TEM VINDO A MONITORIZAR ESTE INDICADOR DE RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS, TENDO IDENTIFICANDO MOMENTOS BONS, MENOS BONS E MOMENTOS MUITO MAUS PARA A PRODUÇÃO DE LEITE NACIONAL.

Por

Consultando os dados do SIMA-GPP (2022), durante o trimestre em análise o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,404 €/kg em maio e 0,421 €/kg em julho. Na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,345 €/kg em maio e junho e 0,368 €/kg em julho.

Os dados publicados pelo MMO (2022) permitem verificar que, na Europa, o preço médio do leite pago aos produtores no período de maio a julho de 2022 foi, mais uma vez, muito inferior em Portugal (0,3885 €/kg) quando comparado com a média da UE27 (0,4947 €/kg). A incrível diferença de 10,6 cêntimos a menos por kg de leite pago em Portugal relativamente à média Comunitária, tem sido determinante para prejudicar

o sucesso económico das explorações leiteiras, o que tem levado ao abandono do setor por muitos produtores.

Esta situação tem implicações diretas e indiretas na economia e na qualidade de vida das populações rurais, contribuindo para o aumento do desemprego e para o agravamento da desertificação de regiões de baixa densidade. Na UE27, em julho de 2022, o preço médio pago aos produtores de leite variou entre 0,6000 €/kg na Holanda e 0,4014 €/kg em Portugal, o último da lista. Esta diferença, de quase menos 20 cêntimos/ kg significa que, de um modo geral, as organizações que controlam a recolha e a transformação do leite em Portugal, maioritariamente organizações cooperativas, não conseguem acrescentar valor ao produto leite nem conseguem servir os interesses dos seus associados. Preferem recorrer à via mais fácil que é continuar a

pagar muito mal aos produtores.

A grande distribuição também não tem ajudado. Utiliza o leite como “produto íman”, o que contribui para esmagar o preço do leite a pagar aos produtores nacionais.

Por comparação com o trimestre anterior, os preços médios das principais matérias-primas utilizadas na formulação dos alimentos compostos e o preço das forragens utilizadas na formulação dos regimes alimentares tipo para calcular os Índice VL e Índice VLERVA, tiveram pouca variação. Esta evolução traduziu-se numa variação dos custos dos regimes alimentares de -0,6% no continente e de -10,4% na Região Autónoma dos Açores, neste caso, como consequência da maior utilização de pastagem na alimentação da vaca tipo durante a primavera/ verão.

A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação

refletiu-se no Índice VL e no Índice VL-ERVA que, em julho de 2022 foi, respetivamente, de 1,712 e de 2,056. De referir que em julho de 2021 o Índice VL havia sido de 1,547 e o Índice VL-ERVA de 1,762.

Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Com um Índice VL médio do trimestre igual a 1,619, pode concluir-se que os produtores de leite do continente se encontram muito próximo do limiar de rentabilidade da exploração. Nos Açores, durante o trimestre em análise, a situação parece ter sido mais favorável uma vez que o Índice

074 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES ANALISAMOS
ÍNDICE VL E ÍNDICE
António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador, Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes | Email: nm@revista-ruminantes.com.

VL DE JULHO DE 2012 A JULHO DE 2022

O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

ÍNDICE VL-ERVA DE JULHO DE 2013 A JULHO DE 2022

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado) (outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

VL-ERVA médio trimestral foi igual a 1,922, situação que reflete melhor a realidade dos produtores da ilha de S. Miguel onde os preços pagos aos produtores são mais elevados do que nas restantes ilhas da Região Autónoma. Tanto no continente como nos Açores o Índice VL e o Índice VL-ERVA do trimestre em análise foi o mais elevado dos últimos 7 trimestres.

NOTAS

- comparando com o mês de julho de 2021, o preço pago aos produtores do continente em julho de 2022 foi superior em 11,2 cêntimos/kg e nos Açores foi superior em 9,3 cêntimos/kg; - durante o trimestre em análise não houve variação representativa no preço das matérias-primas que entram

na formulação dos alimentos compostos das vacas tipo. No entanto, como entre abril e setembro nos Açores a quantidade de pastagem que entra na alimentação da vaca tipo é maior, verificou-se uma redução do custo total do regime alimentar formulado para calcular o Índice VL-ERVA (-10,4%); - no trimestre em análise, os preços dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar não apresentaram variações representativa; - as três considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL-ERVA que em julho de 2022 foram, respetivamente, de 1,712 e 2,056

Nota: para consultar a bibliografia, contacte os autores.

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA

JULHO DE 2021 A JULHO DE 2022

Mês Índice VL Índice VL-Erva jul/21 1,547 1,762 ago/21 1,490 1,742 set/21 1,511 1,765 out/21 1,566 1,517 nov/21 1,550 1,515 dez/21 1,520 1,524 jan/22 1,614 1,596 fev/22 1,506 1,645 mar/22 1,361 1,387 abr/22 1,548 1,659 mai/22 1,571 1,842 jun/22 1,573 1,868 jul/22 1,712 2,056

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

075 Preço de leite: uma ténue luz ao fundo do túnel ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA
ÍNDICE

AÇORES

"ABRIR A COOPERATIVA À COMUNIDADE"

“QUERO UMA COOPERATIVA QUE SIRVA A COMUNIDADE EM GERAL, QUE POSSA AJUDAR TODOS OS QUE AQUI VIVEM OU TÊM NEGÓCIOS.” FOI COM ESTE OBJETIVO EM MENTE QUE LUÍS VIVEIROS SE CANDIDATOU A PRESIDENTE DA COOPERATIVA AGRÍCOLA AGROCAPELENSE, CARGO QUE EXERCE APÓS TER SIDO ELEITO EM ABRIL PELA MAIORIA

ASSOCIADOS

Fomos conhecer as instalações da Agrocapelense, no final do mês de agosto, pela mão do seu recém eleito presidente, Luís Viveiros. À passagem pelos vários espaços do edifício, Luís Viveiros foi falando sobre as ideias da nova direção para exponenciar as valências da cooperativa em prol dos seus associados, mas também da comunidade em geral.

O novo presidente da Agrocapelense é natural da Vila das Capelas, tem 45 anos e é pai de 2 filhos. É agricultor e produtor de leite há 24 anos, atualmente no programa Vacas Felizes.

“A Agrocapelense nasceu há quase 45 anos, em 1978, com o intuito de regular os preços e servir as explorações pequenas e médias, que não tinham máquinas”, começa por contar Luís Viveiros. “No início da

cooperativa havia muitos produtores de leite, e também muitas quintas e laranjais. Hoje, a agricultura gira à volta dos bovinos de leite e carne”.

Quem serve a cooperativa?

Atualmente são cerca de 930 sócios, mas também queremos servir a comunidade em geral. Penso que ambos os grupos têm interesse nisso: a cooperativa quer estar cada vez mais presente na comunidade, e a comunidade quer ter acesso aos nossos produtos, nomeadamente ao talho da cooperativa que é abastecido com animais da freguesia de excelente qualidade.

Desde quando é sócio da Agrocapelense?

Desde que me tornei produtor de leite, há 24 anos. Enquanto associado, estive sempre presente nas assembleias.

Porque se candidatou?

Entendo que os cargos de direção, neste tipo de organização, devem ser rotativos. Na Agrocapelense, a Direção era a mesma há 34 anos. Assim, reuni com um grupo de associados e amigos e

decidimos avançar. Candidatei-me para mudar a Cooperativa.

Que mudanças pretende fazer nos próximos 4 anos de mandato?

Um dos pontos principais refere-se ao nosso talho.

076
DOS
DA COOPERATIVA. Por Ruminantes | Fotos FG #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES ASSOCIATIVISMO |
Luís Viveiros, presidente da Cooperativa Agrocapelense.

Compramos animais aos associados e vendemos no talho. A ideia é vender cada vez mais e melhor carne. Estamos a considerar entrar na carne maturada, e noutros produtos que se diferenciem pela qualidade, rentabilizando ao máximo a carcaça.

Queremos também rentabilizar as infraestruturas da cooperativa. Por um lado, conseguir que a Câmara Municipal instale aqui um gabinete de apoio para os associados e para a comunidade em geral. Por outro, passar a ter aqui um mercado de frescos, ao sábado de manhã, com produtos locais. Outra ideia ainda, é tirar partido do nosso auditório para dar cursos de formação agrícola, em parceria com o IEFP, a jovens que acabem o 9º ano de escolaridade, com acesso ao 12º ano. O auditório poderá passar a ser

utilizado também pelos nossos fornecedores para ações de formação sobre novas soluções e práticas agrícolas.

Em relação à prestação de serviços, o objetivo é manter a que temos, relacionada sobretudo com a sementeira e colheita do milho e rolos de erva. Por último, pretendemos continuar a disponibilizar os fatores de produção com os melhores preços possíveis para os nossos associados.

Que balanço faz dos primeiros meses de trabalho?

Foram tempos difíceis, não só pela situação em que a cooperativa se encontrava, com um passivo bastante elevado, mas também pela conjuntura geral que se vive no mundo e, em particular, na produção de leite em S. Miguel. O objetivo neste período foi conhecer e entender os problemas

que existiam e ir arranjando soluções: pôr ordem na casa, quer a nível financeiro, quer organizativo. A cooperativa tem que ser financeiramente sólida, cumprindo as suas obrigações.

Como quer ver a cooperativa daqui a 3 anos?

Gostava que fosse reconhecida por ter serviços de qualidade e um talho muito pretendido pelos clientes, com carne dos Açores de excelente qualidade. Quero uma cooperativa que sirva a comunidade em geral, que possa ajudar todos os que aqui vivem ou têm negócios.

Esta postura de nos relacionarmos diretamente com a comunidade também nos vai ajudar a desmistificar a imagem dos agricultores como “papa subsídios”, pois não é essa a nossa filosofia, mas é dessa forma que somos muitas vezes conotados. Não temos

mais incentivos/subsídios que muitas outras áreas de negócio ou mesmo pessoas, apenas queremos um rendimento que faça juz ao produto que produzimos.

Que papel acha que a cooperativa Agrocapelense deve ter na definição da política agrícola açoriana?

Em número de associados, penso que seremos a 3ª maior cooperativa dos Açores. Até agora, não temos sido ouvidos porque não era essa a ideia da anterior direção. Mas a atual tem a pretensão de ser ouvida, temos quase 9.000 vacas leiteiras “associadas”.

Imagine que durante o mandato consegue obter um lucro significativo. O que faria com ele?

Baixava o preço dos produtos, de forma a reverter o dinheiro aos sócios.

077 "Abrir a cooperativa à comunidade" ASSOCIATIVISMO | AÇORES

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA, O QUE HÁ DE NOVO

NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES

NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE.

“REVISÃO CONVIDADA TECNOLOGIA DE SENSORES PARA MONITORIZAÇÃO DO AMBIENTE RUMINAL EM TEMPO REAL”

Journal of Dairy Science Vol. 105 No.85, 2022

Este artigo de revisão, de investigadores das universidades da Pensilvânia, Purdue e Virginia Tech, visa resumir o atual conhecimento sobre tecnologias de sensores que monitorizam o ambiente ruminal em tempo real. Os autores dizem que apesar da quantificação dos processos digestivos e fermentativos no

ambiente ruminal ter sido objeto de décadas de pesquisa, as metodologias atuais de investigação dificultam a avaliação dos processos em tempo útil, bem como em diferentes regiões do rúmen.

Os autores fornecem algum contexto para este estudo, explicando que, à medida que a população global aumenta, maior é a necessidade de produzir alimentos de forma sustentável. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que até 2050 a procura de carne e laticínios aumentará, respetivamente, 73% e 58% em relação a 2011. Essa tendência tem levado à

intensificação da produção animal em vários países, bem como ao desenvolvimento da alimentação de precisão e de tecnologias que melhorem a eficiência e a produtividade. Compreender o ecossistema ruminal é fundamental para aproveitar a capacidade destes animais e abordar as principais fontes de impacto ambiental atribuídas à sua produção.

Tradicionalmente, o pH ruminal tem sido o principal foco dos estudos ruminais, devido à relação entre o pH e a digestão da celulose. A monitorização em tempo real do pH ruminal tem sido proposta como uma ferramenta crítica de gestão

para enfrentar desafios de saúde animal, como a acidose ruminal, e para melhorar a compreensão dos processos fermentativos. A técnica de medição do pH ruminal, com sondas inseridas no rúmen através de uma fístula ruminal, tem sido bem sucedida. No entanto, dizem os autores, esta solução não é adequada para outras aplicações porque é impraticável manter grandes rebanhos de vacas canuladas em ambientes de produção.

Atualmente, a principal via de investigação faz apelo a sondas buco-ruminais. Os sistemas contemporâneos de monitorização do rúmen comercialmente disponíveis

078 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
PUBLICADOS
Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain | e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom | Foto @adrianciurea69 NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

concentram-se na deteção de estro ou cio, detetando o início de doenças como a SARA (acidose ruminal subclínica) e mamites, e monitorizando a atividade e a produtividade por meios indiretos que usam e integram informação de biomarcadores medidos (por exemplo, temperatura, pH e atividade). Para além destes sistemas, existe uma considerável investigação noutras áreas, nomeadamente a expansão da capacidade dos sensores para metabolitos importantes, como os ácidos gordos voláteis (a principal fonte de energia dos ruminantes), ou os biomarcadores como a histamina.

No artigo, os autores explicam detalhadamente cada um desses novos sistemas, o seu potencial, vantagens e desvantagens. É um assunto bastante complexo, devido à natureza dinâmica do rúmen. Os autores reconhecem este facto dizendo que, apesar do progresso acentuado nas tecnologias de deteção para analitos importantes dentro do rúmen, existem várias limitações/desafios que se colocam aos protótipos de investigação e tecnologias comerciais atuais. Estes desafios devem ser abordados antes que a biomonitorização generalizada do ambiente ruminal seja viável. Esses desafios referemse nomeadamente a: (1) tamanho do sensor, (2) vida útil do sensor, (3) seletividade do sensor ou durabilidade à interferência ambiental, (4) relevância do sensor para a faixa biológica e (5) interpretação das informações obtidas dos sensores. Curiosamente, os autores consideram que o desafio final, e talvez o maior, associado ao biossensor ruminal, coloca-se após o desenvolvimento bem sucedido de um sensor: a interpretação de dados para tomar decisões acionáveis.

“REVISÃO DA LITERATURA DE UM ALUNO DE PÓSGRADUAÇÃO PAPEL DA MITIGAÇÃO DA DOR NO BEM-ESTAR DE VITELOS LEITEIROS SUBMETIDOS À DESCORNA”

Journal of Dairy Science Vol. 105 No.85, 2022

Esta revisão de literatura, da Universidade de Guelph, sintetiza resultados de investigações sobre a dor e o bem-estar de vitelos leiteiros submetidos a procedimentos de descorna.

Os autores explicam que a descorna é um procedimento doloroso, regularmente realizado em explorações leiteiras que, quando realizado sem anestesia ou analgesia (ou ambos juntos), tem sido identificado como fator de risco para o mal-estar dos vitelos. São referidas estatísticas sobre um inquérito que indica que nos Estados Unidos 94% das explorações leiteiras que responderam relataram ter animais descornados; no Canadá mais de 95% dos produtores que responderam relataram que descornam os seus vitelos.

A razão para se descornar os animais deve-se a que o gado leiteiro com cornos representa um acrescido risco de ferimentos para as pessoas, bem como para outros animais. Nota: Os anglosaxónicos fazem a distinção entre dois tipos de descorna, utilizando dois termos distintos: disbud e dehorn

Os autores explicam a diferença entre disbud e dehorn Disbud é a remoção do tecido que forma o chifre antes da sua fixação ao crânio; aqui atua-se no chamado botão cornual. O termo dehorn refere-se à remoção do chifre, depois que ocorre a fixação ao crânio, normalmente aos 2-3 meses de idade. O disbudding é recomendado em vez do dehorning por ser um processo menos invasivo e menos doloroso. Os 2 métodos mais utilizados para o disbudding são a cauterização (ou ferro quente)

e o uso de uma pasta cáustica, sendo o uso do ferro quente o mais comum. A pasta cáustica é geralmente usada em bezerros mais jovens, em comparação com o ferro quente. Esta prática é utilizada pela maioria dos produtores canadianos antes das 3 semanas de idade. Neste país, a maioria dos produtores (67%) que utilizam o ferro quente fazem-no em vitelos entre 3 e 8 semanas de idade.

Os autores dizem que, embora o uso de substâncias para alívio da dor, aquando da descorna tenha aumentado na última década, ainda há pessoas na indústria de laticínios que não acreditam que o controlo da dor para a descorna seja necessário, referindo o custo como a principal razão. Além disso, na América do Norte, os produtores relataram que é mais comum não recorrerem ao alívio da dor em vitelos mais jovens, pois acreditam que estes são menos sensíveis à dor. No entanto, os autores dizem que não há evidências que sustentem essa crença.

Os autores dizem que as feridas devidas ao disbudding com ferro quente podem levar entre 3 e 13 semanas para re-epitelizar, e que durante o processo de cicatrização, as feridas são dolorosas durante pelo menos 3 semanas. Alguns estudos determinaram que leva de 3 a 13 semanas para re-epitelizar, mas nesses estudos os vitelos foram alimentados com uma quantidade restrita de leite (menos de 6 l/d). Estudos mostraram que níveis mais altos de ingestão de leite (de 10 a 12 l/d de leite) estão associados à melhoria da saúde e do desempenho dos vitelos, bem como à redução do tempo de cicatrização após a descorna com ferro quente. Alguns dos critérios que os investigadores usam para avaliar a dor durante esses procedimentos são a frequência cardíaca e respiratória, a temperatura ocular e os níveis de cortisol. Citando vários estudos, os autores dizem que

o aumento da frequência cardíaca é diminuído com o uso de um anestésico local ou um AINE (anti-inflamatório não esteroide) ou ambos os medicamentos juntos, em comparação com um menor ou um inexistente controlo da dor. O uso de um anestésico local também demonstrou diminuir a frequência respiratória após a descorna, bem como um anestésico local com um AINE. Fornecer aos vitelos um anestésico local provoca um efeito na mudança da temperatura do olho, em comparação com nenhum controlo da dor.

O artigo conclui que a descorna é um procedimento comum na indústria de laticínios e que está bem documentado como sendo doloroso e uma preocupação significativa relativamente ao bem-estar animal. A mitigação da dor pode aliviar alguns dos resultados negativos associados ao procedimento.

Os investigadores têm mudado o foco dos seus estudos para entender melhor o estado afetivo dos vitelos durante e após este procedimento.

Pesquisas mais recentes identificaram efeitos a longo prazo da descorna nos estados afetivos e motivacionais dos vitelos e no seu funcionamento biológico, incluindo tempos de cura muito longos (até 13 semanas). Os autores recomendam que pesquisas futuras tenham como objetivos: (1) determinar testes comportamentais precisos para bezerros com menos de 1 semana de idade submetidos à descorna, para entender melhor sua experiência, (2) tentar entender melhor os efeitos da sedação com xilazina para a descorna e os possíveis impactos do fornecimento desse medicamento, e (3) determinar mais maneiras de reduzir o tempo de cicatrização e da dor experimentada pelos vitelos após procedimentos de descorna.

079 Investigação leiteira, o que há de novo NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

DEMONSTRAÇÃO DA APLICAÇÃO DE UM GEL DE APLICAÇÃO TÓPICA, PARA CONTROLO DA DOR SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS

No final do mês de agosto, decorreu na vacaria Fonte de Leite uma demonstração, pelo Prof. George Stilwell da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, sobre o uso de um produto recentemente lançado em Portugal – MultiSolfen. Trata-se de um gel de aplicação tópica contendo dois anestésicos locais (lidocaína e bupivacaína), um desinfectante (cetrimida) e adrenalina. A indicação principal do produto é o controlo da dor em feridas, estando aprovado em Portugal para o uso nas feridas da descorna por termo-cautério em vitelos, e em feridas cutâneas em cavalos. Na Austrália, país onde foi inicialmente lançado com o nome Tri-Solfen, é há muito usado para o maneio da dor em ruminantes –nas descornas, castrações, amputações de cauda e numa intervenção executada em merinos chamada mulesing.

Tem sido comprovado em diversos ensaios publicados em revistas internacionais (1,2) , que o Multi-Solfen tem uma ação benéfica sobre a dor pósprocedimentos e também na cicatrização das feridas.

Na demonstração foi efetuada a descorna de várias vitelas, tendo sido mostrado como o Multi-Solfen deve ser aplicado e como o gel se agrega à ferida havendo escorrência mínima. Após a remoção do botão cornual, entre 2 e 4 ml do gel são aplicados na pequena reentrância resultante e a cabeça da vitela é mantida inclinada durante breves segundos para que ocorra alguma aderência do produto aos tecidos. A aplicação deste produto terá ainda a vantagem de substituir o habitual spray de antibiótico, ajudando assim a reduzir as probabilidades de ocorrência de resistências aos antimicrobianos.

Foi realçado que o produto é para ser aplicado na ferida aberta e fresca e que, portanto, a dor derivada do procedimento

em si deve ser controlada pelos meios usuais – bloqueio do nervo cornual por procaína e analgesia a longo prazo com um anti-inflamatório não esteróide (no presente caso, por carprofeno).

Apesar de não estar incluída na lista de indicações, a demonstração também incluiu uma outra potencial aplicação do produto – controlo da dor na aparagem de lesões podais em vacas leiteiras. Este propósito também foi alvo de estudos científicos (3,4) que demonstraram não só a sua eficácia na redução da dor, mas também na ausência de resíduos no leite após a utilização tópica. No entanto, alertamos para o facto de que estas demonstrações e estes ensaios foram efetuados em vacas secas ou cujo leite não seria usado para consumo. O objetivo do eventual uso de Multi-Solfen nestes casos é aumentar o bem-estar dos animais e a segurança dos operadores aquando de aparagens potencialmente dolorosas de lesões no córion

das úngulas de ruminantes.

Foi concluído que este produto é mais uma opção agora disponível aos médicosveterinários portugueses para o controlo da dor em bovinos, desta forma assegurando o melhor bem-estar possível aos animais de produção.

1. Cuttance E.L., Mason W.A., Yang D.A., Laven R.A., McDermott J., Inglis K. (2019) Effects of a topically applied anaesthetic on the behaviour, pain sensitivity and weight gain of dairy calves following thermocautery disbudding with a local anaesthetic, New Zealand Veterinary Journal. Available online. https://doi.org/10.1080/ 00480169.2019.1640651

2. Stilwell G, Laven R (2020) Comparison of two topical treatments on wound healing 7 days after cautery disbudding. New Zealand Veterinary Journal, 68 (5), 304-308. https://doi.org/ 10.1080/00480169.2020.1765891

3. Stilwell G., Ferrador A.M., Santos M.S., Domingues J.M., Carolino N. (2019). Use of topical local anesthetics to control pain during treatment of hoof lesions in dairy cows. J Dairy Sci. 102: 6383-6390. http://dx.doi:10.3168/ jds.2018-15820

4. Stilwell G., Ferrador A. M., Santos M. S., Domingues J. M. (2019) Anaesthetics residues in milk after topical application during treatment of hoof lesions in dairy cows. Journal of Dairy Science. 103 (1), 898-901 http:// dx.doi:10.3168/jds.2019-17160

080 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
A descorna apenas deve ser feita após bloqueio do nervo cornual com anestésico local. Também é obrigatória a administração de um analgésico. O produto é aplicado na depressão resultante da queimadura e após remoção do botão cornual. O gel Multi-Solfen rapidamente adere aos tecidos da zona queimada, reduzindo a sensação de dor nas horas seguintes e promovendo a cicatrização.
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EVENTO DE HEUS

OS SEGREDOS DOS ROBOTS DE ORDENHA

ESPECIALISTAS DA DE HEUS EM ORDENHA ROBOTIZADA JUNTARAM MAIS DE 100 PESSOAS NUM EVENTO QUE DECORREU NA PÓVOA DE VARZIM.

Por

Os Segredos dos Robots de Ordenha foi o tema do evento organizado pela De Heus no passado mês de junho, na Póvoa de Varzim.

As mais de 100 pessoas que estiveram presentes tiveram a oportunidade de assistir às intervenções de um conjunto de especialistas da De Heus em ordenha robotizada, tanto nacionais como internacionais.

Joost Janssens, Gestor de Produto Global de Ruminantes da De Heus, oriundo dos Países Baixos, e César Novais, Gestor de Produto de Ruminantes da De Heus Portugal, realçaram o caráter inovador da De Heus e o seu processo de criação de novas e testadas soluções para o setor da produção de leite. Na sua apresentação, tiveram oportunidade de evidenciar como na base do processo de investigação e desenvolvimento da De Heus está a parceria que a empresa desenvolve com as mais prestigiadas instituições científicas europeias na área

da nutrição animal. Tiveram também a oportunidade de apresentar o seu próprio centro de investigação, que conta com 6 investigadores de ruminantes de leite e 2 explorações robotizadas. Neste centro de investigação, as diferentes soluções desenvolvidas pela De Heus são testadas e validadas antes do lançamento e divulgação junto dos seus clientes.

José Alves e Fátima Silva apresentaram de seguida e detalhadamente o RobotExpert, o sistema de alimentação inteligente da De Heus para explorações com robot de ordenha. Foram explicados os conceitos alimentares e as várias parametrizações do robot de ordenha necessários à otimização de todo o processo. Abordaram-se os parâmetros relacionados com o alimento granulado administrado pelo robot, as tabelas de alimentação, o equilíbrio manjedoura/robot do sistema PMR (Partial Mixed Ration) e

as definições mais adequadas dos acessos à ordenha. A ferramenta informática desenvolvida pela De Heus de análise da informação do robot, que faz parte do sistema RobotExpert, também foi apresentada, sublinhando-se a sua enorme importância no diagnóstico da situação, definição da estratégia a seguir e avaliação dos resultados obtidos na exploração robotizada.

Miguel Naredo, responsável pelo serviço técnico de apoio aos clientes de ruminantes de leite da De Heus em Espanha, após ter nomeado os principais desafios que as explorações enfrentam na transição para a ordenha robotizada, demonstrou, através de um caso real, o impacto da aplicação do sistema RobotExpert na performance de uma vacaria situada na Galiza, tendo partilhado a evolução muito positiva dos principais parâmetros de produtividade e rentabilidade da referida exploração. Foram

evidenciadas as melhorias verificadas num conjunto de pontos chave, destacando-se o aumento da produção de leite e a diminuição drástica do número de vacas atrasadas para a ordenha.

Na mesa-redonda realizada na parte final do evento, esteve também presente, por videoconferência, Jan-Willem Hakvoort, especialista em robots de ordenha da De Heus nos Países Baixos, e uma referência global em maneio e nutrição aplicada à ordenha robotizada. Foi então aberta a sessão de perguntas e respostas, tendo sido debatidas por todos os palestrantes as múltiplas questões colocadas pela audiência, que incidiram em temas como maneio, instalações e, naturalmente, nutrição em ordenha robotizada.

Foi um evento que, ao longo das diferentes intervenções, gerou muita participação e troca de opiniões entre os palestrantes e o público, e que finalizou com um almoço convívio em que todos os presentes participaram.

082 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
Equipa técnica De Heus

EDição 2021

Maior rentabilidade para a sua exploração

A nova geração dos nossos sistemas de ordenha robotizada possibilitam um maior número de ordenhas, maior produção de leite por dia e uma redução dos custos operacionais.

083 GEA DAiryrobot r9500,
Para mais informação: GEA.com/es

31º CONGRESSO MUNDIAL DE BUIATRIA 2022

Decorreu entre 4 e 8 de setembro, em Madrid, o 31º Congresso Mundial de Buiatria. Nas instalações do Palácio Municipal de Congressos do Ifema, reuniram-se aproximadamente 3000 veterinários especialistas em ruminantes de produção.

Portugal teve uma forte representação, com mais de 100 delegados presentes.

O congresso contou ainda com a presença de personalidades mediáticas, como o Dr. Jan Pol, que apresentou as “dicas prácticas” que encerraram os trabalhos.

A próxima edição do Congresso terá lugar em Cancun, em 2024.

73º CONGRESSO DA FEDERAÇÃO EUROPEIA DE CIÊNCIA ANIMAL

A Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ)

em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação

Agrária e Veterinária (INIAV) realizou, na passada semana, o 73º Congresso da Federação Europeia de Ciência Animal (EAAP2022), evento que decorreu no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, entre os dias 5 e 9 de setembro de 2022.

O congresso anual da EAAP representa o fórum mais importante para a discussão e troca de informações sobre a Ciência Animal, sendo um dos mais influentes do mundo.

EXPOSIÇÃO DE GADO

FEIRA DOS 26

A freguesia de Angeja, em Albergaria-A-Velha, assinalou este ano os 300 anos da Feira dos 26. De 26 a 28 de julho, a histórica feira anual contou com uma exposição de gado, tasquinhas e artesanato. Estiveram em exposição cerca de 26 animais, incluindo ovinos e caprinos, dando destaque à Raça Marinhoa, que é uma raça autóctone desta região.

PRÓXIMAS FEIRAS E ENCONTROS

Máquinas e equipamentos para agricultura e agropecuária https://www.eima.it

Estação Zootécnica

Nacional,

Quinta Fonte Boa, Vale de

A maior feira europeia da agropecuária https://www.eurotier.com

Máquinas e equipamentos para agricultura e agropecuária https://en.simaonline.com

7º Encontro Técnico de Produção de Leite 10 de fevereiro de 2023 https://www.serbuvet.com

LER INAUGURAÇÃO

NASCEU UMA FÁBRICA DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS EM VILA DO CONDE

CRÓNICAS DUM

AGRICULTOR

Consciente do “enorme desconhecimento” da população em geral sobre a agricultura, Carlos Neves juntou as crónicas do seu blog “Carlos Neves Agricultor”, num livro que retrata as vivências e experiências da sua atividade como agricultor, pai de família e comunicador. São histórias de vida e do dia-a-dia, contadas com vivacidade e graça, que trazem, a quem lê, a imensa riqueza do mundo rural mas também os desafios e incertezas que se colocam a quem nele, e dele, vive.

Em julho passado, a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde, CRL inaugurou a nova unidade de fabrico de alimentos compostos complementares para animais, localizada no parque industrial da União de Freguesias de Bagunte, Ferreiró, Outeiro Maior e Parada, em Vila do Conde. Este projeto resulta de um investimento de 10 milhões de euros, apresenta uma capacidade de produção de 38 ton/hora e foi concebido numa lógica de “produção à medida” de acordo com as necessidades de cada exploração. A unidade fabrica e comercializa alimentos compostos complementares certificados para explorações de produção de leite, de recria e de engorda com o nome da marca Agrivil. Os principais segmentos de fabrico são os alimentos compostos complementares farinados, expedidos em big-bags ou granel e alimentos compostos complementares granulados expedidos em granel, big-bag, e sacos de 25 kg.

084
#47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
ACONTECEU
Santarém

EQUIPAMENTOS E PRODUTOS EM DESTAQUE

A apresentação original do PluriFoam, na forma de espuma, permite uma excelente distribuição do produto. A sua aplicação, através do uso da cânula, aumenta a precisão nas áreas de mais difícil acesso.

PLURIFOAM ESPUMA PARA O CUIDADO DA PELE

A Plurivet lançou o PluriFoam, uma espuma com características que promovem e ativam o metabolismo das glicoproteínas, nucleoproteínas e fibras de colagénio, proporcionando uma hidratação suave da pele dos bovinos, suínos, caprinos, ovinos e equinos.

O PluriFoam é composto por óleos essenciais de calêndula e menta, que têm uma ação refrescante na pele e fornecem uma fragância ao produto emoliente. Está disponível em frasco (aerossol) de 200 ml, com saqueta que contém 5 cânulas descartáveis.

O PluriFoam é eficazmente recomendado: - para limpar feridas de forma suave e natural, em irritações, queimaduras, inflamações, inchaços, lesões cutâneas, picadas, contusão e castração, na utilização interna após um parto difícil, para cuidados da pele quando o úbere irrita a parte interna da perna do animal, para suavizar a pele.

MERLO EWORKER

GRANDE COMPACTO

A eliminação de gases e a diminuição dos custos energéticos são grandes prioridades em todas as atividades empresariais e, de uma forma geral, na vida das pessoas em particular.

A eletrificação de equipamentos de trabalho aparece, assim, de forma natural, abrindo campo a um número cada vez maior de marcas e modelos elétricos.

O Merlo eWorker 25.5 90 representa totalmente esta nova geração de equipamentos. Modelo compacto e 100% elétrico, é uma solução muito interessante para múltiplos setores de atividade que querem corresponder às exigências ambientais e de produtividade, que se verificam hoje em dia.

Além de compacto, é um modelo potente e ágil, que combina a inovação com a experiência de décadas da marca Merlo no mundo dos carregadores telescópicos.

085 Novidades de produto EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

NOVIDADES EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

FENDT KATANA 850

Dez anos após a entrega dos primeiros modelos da Fendt Katana, a Fendt entra no segmento forrageiras com potência acima de 800 cv com a Katana 850. Inovações como o fluxo de cultivo aprimorado, o ventilador variável com função de reversão ou um novo acessório de 12 segmentos atendem aos requisitos de alta potência de impacto. Com 720 mm de diâmetro, o cilindro de corte é reivindicado como o mais elevado do mercado. Cilindros de corte opcionais com 20, 28 ou 40 facas estão disponíveis para cobrir comprimentos de corte de 2,6 a 41,4 mm. A Fendt Katana 850 poderá ser encomendada a partir de agosto de 2022 e será entregue para a temporada 2023. 6 https://www.fendt.com

PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE

WEIDEMANN CARREGADOR 1190E

NEW HOLLAND

T6.180 METHANE POWER

O T6.180 Methane Power é um trator agrícola versátil que funciona 100% a biometano, o único no mercado até hoje. Este combustível promove a autossuficiência energética das explorações e tem uma pegada de carbono melhorada, ou até negativa quando se trata de chorume. O desempenho é idêntico ao de um trator a diesel. Um dia de trabalho intensivo do trator consome 1 a 2 horas da produção diária de gás do metanizador. 6 www.newholland.com

O carregador de rodas compacto 1190e possui acionamento totalmente elétrico, cabina (conceito único de aquecimento e ventilação) e três baterias íon lítio diferentes à escolha: este modelo é tão multifuncional quanto o seu equivalente a diesel. Todas as tarefas da exploração podem ser executadas com esta máquina dentro dos seus parâmetros e dimensões de desempenho. 6 www.weidemann.de

YANIGAV

BATEDOR DE ESTACAS DE PERCUSSÃO

PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE

AGROINTELLIGENT

LISIER TESTER

Lisier Tester (traduzido para português como “verificador de chorume”) é uma solução compatível com todas as marcas de distribuidores de chorume, que analisa a composição do chorume em tempo real, disponibilizando-a num smartphone, exibe o teor de N em kgN/m3, modula a dose kgN/ha espalhada, melhora as suas características fertilizantes. Importa referir que a empresa Agragex disponibiliza, para além deste dispositivo, uma rampa gotejadora de precisão que pode ir até 9 metros. 6 https://www.agrointelligent.com

O MPEV 600 CT é um batedor de estacas para transportadores (tratores, carregadores telescópicos, carregadoras, escavadoras, etc.) garantindo uma vibração nula no braço do transportador. A pinça de estacas evita que o operador tenha que descer do transportador para posicionar a estaca. 6 https://yanigav.fr

BIOPIC ANIPILE

O Anipile é uma solução de monitorização de nova geração que consiste num implante biocompatível inserido sob a pele do animal, uma única vez na vida, permitindo detetar todos os eventos relativos à sua reprodução e bem-estar. Uma vez introduzido, este implante comunica as informações recolhidas, ao smartphone do criador. O Anipile é um dispositivo patenteado, objeto de mais de 10 anos de pesquisa e desenvolvimento. Desde 2011, foram colocados mais de 600 implantes em bovinos e também em cavalos. 6 www.anipile.com

086 #47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE

NOVIDADES EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

características individuais do animal.

PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE

PROVIMI FRANCE FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO DE ESTRUME

Scanea é um instrumento portátil de análise NIR (Near Infra Red) que avalia com precisão e instantaneamente a digestibilidade do amido, diretamente nas explorações, através da análise do estrume. A calibração deste instrumento foi realizada a partir de inúmeras amostras para máxima fiabilidade, e o desvio padrão obtido foi de 0,696, contra 0,531 através de processos químicos. Portanto, é tão fiável como uma análise química, mas os valores obtidos com Scanea são fornecidos em apenas 5 minutos, em comparação com duas semanas no processo químico. 6 www.provimifrance.fr

PRÉMIO SOMMET DE L'ELÉVAGE

GEA FARM TECHNOLOGIES

AUTODRY - Ouro Eurotier

A secagem de vacas com alta produção de leite apresenta certos riscos para a sua saúde. A elevada pressão interna do úbere, durante os primeiros dias após a ordenha, a falta do efeito do fluxo de leite durante a ordenha e o metabolismo stressado das vacas devido a uma redução dramática no fornecimento de energia, podem afetar a sua saúde e bem-estar. Para prevenir infeções do úbere são frequentemente administrados antibióticos.

O sistema AutoDry é uma função inovadora incluída no software de gestão de rebanhos da GEA, para sistemas de ordenha convencional. A função pode ser ativada para vacas, individualmente, preparando-as de forma suave e eficaz para a secagem. O AutoDry introduz a remoção automática do coletor, após ser atingido um volume de leite predefinido. É iniciado cerca de 10 dias antes da secagem e reduz gradualmente a produção de leite a cada dia adicional, antes da secagem, usando um algoritmo patenteado. Permite reduzir o uso de antibióticos, promover o bemestar animal e reduzir a carga de trabalho.

Isto também se aplica aos diferentes tamanhos das tetinas. O problema neste caso é que, geralmente, as camisas dos copos de ordenha vedam demasiado bem os tetos volumosos, stressando os tecidos, enquanto que, nos tetos pequenos, o ar entra e o conjunto de ordenha cai. O design completamente diferente, em forma de onda, do Stimulor StressLess faz com que esta tetina se destaque claramente das soluções convencionais. O lábio integrado e adaptável permite que tetos de diferentes tamanhos sejam ordenhados usando a mesma tetina.

O novo design em forma de onda do lábio responde à diferença de pressão no revestimento da tetina e permite que o ar externo flua para compensá-la, se necessário. Isto evita um vácuo na cabeça excessivamente alto, atrasa a subida da tetina e reduz o stress dos tecidos. Da mesma forma, a estrutura em forma de onda regula ou fecha novamente no momento certo e mantém o vácuo da cabeça estável num nível ideal para segurar o copo no úbere. Isto evita a entrada de ar indesejada ou que os copos caiam.

Graças ao design da cabeça em forma de onda, o Stimulor StressLess pode adaptar-se bem aos diferentes tamanhos de teto num efetivo, garantindo assim que as vacas sejam ordenhadas de forma consistente. 6 https://www.siliconform.com

SYNTHESE ELEVAGE FITA COESIVA BIODEGRADÁVEL PARA CASCOS DE RUMINANTES

Desenvolvido em tecido natural, o penso INTRA ECO TAPE é um curativo biodegradável que contém as vantagens necessárias (extensibilidade, fácil de rasgar e com perfeita adesão) com a vantagem de ser dois em um: curativo e compressa, que podem ser removidos por si ao final de dois dias. Além disso, a sua permeabilidade ao oxigénio promove a regeneração da pele. 6 http://www.syntheseelevage.com

SILICONFORM VERTRIEBS

STIMULOR® STRESSLESS - Ouro Eurotier

As soluções técnicas no viteleiro representam um compromisso que deve abranger, sempre que possível, todas as

VILOFOSS GROUP

CAREFOSS E-FORCE - Prata Eurotier

A vitamina E melhora a resposta imune e promove o estado de saúde dos vitelos. Após o desmame, os vitelos apresentam frequentemente concentrações plasmáticas excessivamente baixas de vitamina E, o que os torna mais suscetíveis a infeções. O suplemento alimentar CareFoss E-Force serve para otimizar o fornecimento de vitamina E e, portanto, o status de vitamina E dos animais. O RRR-tocoferol, revestido

087 Seleção de novidades premiadas EQUIPAMENTO
6 https://www.gea.com

NOVIDADES EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

com lecitina para oferecer uma boa proteção contra a oxidação, é usado como fonte de vitamina E, em vez do acetato de tocoferol usual, porque é mais facilmente absorvido.

Estudos científicos publicados mostram que o CareFoss E-Force pode aumentar significativamente o nível plasmático de vitamina E em vitelos, durante e após o desmame. Os valores plasmáticos mais baixos de amiloide e cortisol também indicam um nível reduzido de stress e inflamação. A resposta imune dos animais, o estado de saúde e, portanto, o seu desempenho de crescimento, melhoraram em geral.

O produto CareFoss E-Force representa um conceito simples e prático para concentrados iniciais para vitelos, a fim de otimizar os efeitos vantajosos da suplementação natural de vitamina E. A proteção de lecitina mantém a vitamina E estável por mais tempo, resultando no aumento da vida útil do produto. O que é especialmente inovador é a abordagem na combinação dos nutrientes de forma sinérgica e, portanto, aumentando a eficácia dos alimentos para alimentar os animais e mantê-los saudáveis. 6 https://www.vilofoss.com

Deve ser classificado na categoria de ‘aditivos zootécnicos e no grupo funcional de «substâncias que afetam favoravelmente o ambiente».

O efeito da molécula recém-desenvolvida 3-NOP na redução da formação de metano no rúmen, foi confirmado durante o processo de aprovação. Especificamente, 3-NOP inativa a metil-coenzima M redutase, que catalisa a etapa final da metanogénese. No rúmen, a própria molécula é metabolizada para formar 1,3-propandiol, nitrato e nitrito, e não tem efeitos desvantajosos na saúde dos animais, na segurança do consumidor ou no meio ambiente. O uso de Bovaer® representa uma possibilidade promissora para reduzir amplamente as emissões de metano de vacas leiteiras e, portanto, dar uma importante contribuição para a redução das emissões de gases de efeito estufa causadas pela agricultura. 6 https://www.dsm.com

recolhida e transportada para o depósito integrado.

Graças à rápida remoção das fezes, o material de cama permanece mais limpo e seco e, portanto, permanece utilizável por mais tempo. Aspetos relevantes de bem-estar animal, como o deitar livremente e a movimentação, são fomentados neste conceito, enquanto a emissão de gases nocivos e cheiros é reduzida devido à remoção regular das fezes.

DSM NUTRITIONAL PRODUCTS

BOVAER® - Prata Eurotier

Os ruminantes são capazes de decompor alimentos grosseiros ricos em fibras, como gramíneas, silagem e feno, que são de difícil digestão, e transformá-los em alimentos de origem animal no seu préestômago. A ração é decomposta no rúmen por microorganismos, incluindo aqueles que produzem o gás de efeito estufa denominando metano.

O produto Bovaer® é uma preparação que consiste em 3-nitrooxipropanol (3-NOP), que foi aprovado como aditivo alimentar em rações para vacas leiteiras e vacas reprodutoras, na UE, desde abril de 2022.

HANSKAMP AGROTECH BV

BEDDINGCLEANER - Prata Eurotier

Estábulos abertos sem um tapete de cama de compostagem espesso, atingem rapidamente os limites da sua capacidade de absorção, pelo que a cama tem de ser mudada frequentemente para evitar a sujidade.

O BeddingCleaner é um conceito inovador para a remoção de fezes de estábulos abertos e sujos, que pode ser usado com materiais de cama orgânicos e também inorgânicos, como, por exemplo, areia em estábulos abertos.

Como um implemento puxado por um trator, o BeddingCleaner limpa a cama a intervalos regulares. O material da cama é peneirado, através de uma esteira de crivo, e o que se desprende cai de volta no estábulo. Por outro lado, uma pequena quantidade do material da cama adere às fezes depositadas, podendo ser facilmente

FÖRSTER TECHNIK

CLEAN & FILL STATION - Prata Eurotier

A manutenção da saúde dos bezerros é de grande importância na pecuária leiteira.

As infeções causadas pela falta de higiene devem ser prevenidas de forma consistente.

Os sistemas de bebedouros móveis com um tanque de leite maior têm vindo a tornar-se mais populares, principalmente como resultado de aspetos de gestão de trabalho. Estes devem ser criteriosamente limpos e desinfetados, manualmente ou semi-automaticamente, após a utilização.

A Clean & Fill Station da Förster Technik permite agora que o tanque de leite móvel seja conectado, com apenas alguns passos manuais para limpá-lo. O programa de limpeza é executado de forma totalmente automática e limpa todas as superfícies, bem como as áreas sensíveis.

Outra inovação é o facto de que o tanque é reabastecido automaticamente com água, no momento necessário, através do programa definido e é aquecido até à temperatura especificada do bebedouro.

Isso significa que o agricultor só precisa de adicionar a quantidade necessária de substituto do leite, e o bebedouro para vitelos está pronto para ser utilizado.

A Clean & Fill Station da Förster elimina, quase completamente, os déficits de higiene e permite uma economia significativa de tempo de trabalho.

6 https://www.foerster-technik.com/

088
6 https://hanskamp.nl
#47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES
PREPARE-SE PARA UMA EFICIÊNCIA COM VISÃO INIGUALÁVEL. GAMA T5 DYNAMIC COMMAND™ • Transmissão Dynamic Command 24x24 com 8 velocidades, para uma eficiência imbatível • O melhor da sua classe: painel de tejadilho de excelente visibilidade para domínio total do carregador • Apoia-braços SideWinder™ II para uma condução intuitiva e precisão de operação • Potente motor NEF de 4,5 litros e 140 CV, Stage V www.newholland.pt T5. A EXPERIÊNCIA DE CONDUZIR UM AZUL . APRECIE A MAIOR VERSATILIDADE, MAIOR CONFORTO E PRODUTIVIDADE COM O MENOR CONSUMO DE COMBUSTÍVEL. NEW HOLLAND TOP SERVICE 00800 64 111 111* APOIO E INFORMAÇÃO 24/7. *A chamada é gratuita desde que efetuada a partir de um telefone fixo. Se a chamada for feita de um telemóvel, consulte as taxas com o seu operador. btsadv.com A New Holland escolhe lubrificantes

NOVIDADES EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

COWHOUSE INTERNATIONAL DREAMSTALL - Prata Eurotier

A barra de cubículo Dreamstall permite que as vacas fiquem praticamente livres nos cubículos e se movam com mais naturalidade. A característica especial é que neste design de cubículo não existe a barra do pescoço clássica, nem as barras divisórias clássicas e convencionais. A barra do pescoço é substituída pelos dois corpos esféricos flexíveis que guiam a área do ombro da vaca em pé. Isso permite que a vaca fique de pé livremente numa 'brecha' e com a cabeça levantada mesmo no cubículo. As barras divisórias convencionais são substituídas por duas estruturas de guia horizontais, flexíveis, que guiam a vaca em pé para uma posição central em pé. Quando deitadas, as vacas podem, portanto, usar toda a área de descanso sem serem perturbadas. Em pé, as vacas são guiadas para a posição correta pelos corpos de plástico, que são flexíveis na parte superior, em vez de pelas barras do pescoço horizontais. 6 https://www.cowhouse.nl

O Lifty consiste numa estrutura de tripé, com as pernas dispostas de forma cônica e aparafusadas na caixa técnica localizada por cima. A caixa contém um guincho elétrico que pode elevar uma carga até um metro, acionado por baterias recarregáveis disponíveis no mercado. O Lifty é posicionado acima do tampão de chorume a ser removido ou do raspador a ser puxado, ou é apoiado, no caso de tampões de chorume montados na parede, pelo seu próprio peso, após o desaperto de uma das pernas. 6 https://www.meier-brakenberg.de

correspondentes, garantindo assim que o conjunto de ordenha e a lata de leite sejam limpos em profundidade. No final de cada processo de lavagem, o Laktowash coleta o fluido restante no balde e condu-lo para fora. 6 https://www.lakto.com.tr

MEIER-BRAKENBERG

LIFTY - Prata Eurotier

Puxar raspadores de chorume ou remover tampões de chorume é, muitas vezes, um trabalho fisicamente extenuante que comporta risco de lesões e ausências ao trabalho por traumatismos decorrentes de más posturas ou da movimentação incorreta do material.

LAKTO HAYVANCILIK

TEKNOLOJILERI SAN. VE TIC. LAKTOWASH - Prata Eurotier

É fundamental para a higiene do leite, que todas as partes que o conduzem o sejam mantidas, consistentemente e completamente, limpas e desinfetadas. Naturalmente, isso também se aplica aos baldes de ordenha ou a mini-sistemas de ordenha, que são usados em todo o mundo em micro explorações ou, de outra forma, para animais recém-ordenhados ou doentes. Particularmente nestes casos, é de vital importância evitar a transmissão de infeções através de tetinas de borracha, mangueiras de leite, coletores ou baldes de leite, o que nem sempre é alcançado com sucesso pela trabalhosa limpeza manual que ainda é realizada com frequência. A Laktowash é uma unidade de limpeza para sistemas móveis de ordenha de balde, que limpa de forma completa e eficaz todas as superfícies com as quais o leite entra em contato. Para limpeza, a unidade de ordenha móvel é conectada à Laktowash usando um adaptador simples sobre a tampa do balde. A bomba de vácuo instalada na unidade de ordenha garante a turbulência necessária, enquanto a Laktowash executa um ciclo de limpeza e desinfeção pré-especificado com padrões

ALBERT KERBL

AKO WOLFSTOP - Prata Eurotier

A proteção ideal dos rebanhos, com cercas de proteção adequadas, é essencial para os animais em pastagem. Estas têm que oferecer proteção suficiente contra túneis, e saltos por cima de animais selvagens, como raposas e lobos. As redes que são geralmente usadas têm, frequentemente, o problema de a corrente elétrica não poder passar pelo fio inferior ou pela extrema da rede. Isso leva ao risco de curto-circuitos, o que significa que todo o sistema de cerca de rede se torna não-funcional e que também se torna possível a abertura de túneis sob a cerca. Em segundo lugar, por vezes as redes não são suficientemente altas, pelo que os animais conseguem saltá-las.

É precisamente aqui que o AKO WolfStop entra em ação. O seu poste de retenção pode ser fixado, posteriormente e de forma flexível, a cercas de rede existentes, num intervalo definido ou a uma altura apropriada. É, assim, capaz de oferecer proteção contra túneis sob as redes, podendo também ser usado para elevar a sua altura. Um suporte de cordão, ou seja, um suporte para um fio condutor elétrico ou um cordão, é montado na extremidade de cada poste de retenção. Uma vez fixados, os postes de retenção, incluindo o cordão, também podem ser simplesmente elevados para permitir que a rede seja enrolada com a mesma eficiência de antes, a fim de realocá-la ou transportá-la.

6 https://www.kerbl.com

090
#47 | out. nov. dez. 2022 REVISTA RUMINANTES

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