DIVULGA ESCRITOR
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM O ESCRITOR ROBERTO MELLO----------------------------------
Vieses da Vida Roberto Mello Carlos, de dez anos, é amiguinho de Paula, de oito. Ambos estudam na mesma escola, mas não na mesma série. É uma rotina vê-los juntos, tanto na hora do intervalo como também no mesmo ônibus escolar por causa do itinerário. Os dois são filhos de militares e pertencem ao mesmo clube social. E no ônibus escolar a caminho de casa, Paula comenta: — Carlinhos, mamãe falou que papai vai solicitar minha transferência de grupo escolar. — Ué! Como assim? — Acho que iremos mudar de casa. — E quando isso vai acontecer? — Não sei! Após o curto diálogo, a preocupação paira sobre ambos. Não conversam mais nada. Provavelmente, o mergulho às profundezas dos pensamentos ou envoltos em emoções e quiçá argumentos, por alguns minutos, os tenham deixados reflexivos. O silencio fora rompido pela supervisora escolar que acompanha os alunos dentro do ônibus. — Paula, seu ponto. Pode vir para frente. Ainda sentada, a menina beija a bochecha do amigo, se levanta e caminha em direção ao motorista. Carlinhos apenas a acompanha com o olhar. Ela desce. O ônibus retoma a viagem. Ele, pela janela, acena. 82
Já em casa, seus pais lhe perguntam: — Que carinha é essa? — Nada não. — Nada? — Estou triste. — Por quê? — A Paula vai sair da escola. — Mas você também vai — o pai afirma. — Como assim, papai? — Não entendi. — É simples. Eu e o pai dela fomos transferidos de unidade militar, consequentemente, iremos para a Vila Militar. Agora seremos vizinhos. Ela irá morar no mesmo prédio e no mesmo andar. Nisso, o menino de pele dourada pelo sol, troncudinho, cabelos e olhos pretos, abre um sorriso e comenta que irá dormir cedo para a noite passar rápido. Os pais, naquele instante, percebem o apego e carinho que sente pela Paula. — Já sei quem será a primeira namorada – a mãe comenta. O pai balança a cabeça e expressa um leve sorriso. Na manhã seguinte, o amigo de Paula está eufórico pelo ônibus escolar. Tão logo o veículo estaciona, a porta se abre e, rapidamente, ele adentra e cumprimenta o motorista com um bom dia muito alegre. O motorista se espanta com a atitude. Então, se dirige ao aswww.divulgaescritor.com | julho | 2021
sento preferido, se acomoda e aguarda a próxima passageira – sua amiga predileta. Não resistindo à ansiedade que o envolve até a alma, fica em pé olhando pelo para-brisa para ver Paula que aguarda a chegada do ônibus. Quando ele a avista, exclama gritando: — A Paula está lá! A Paula está lá! O motorista dá uma gargalhada e comenta: — Calma! Fique tranquilo. Vou parar. O que há com você? Quando ela aparece no corredor, Carlinhos segue ao seu encontro. — Tenho novidades para você. — Boas ou ruins? — Seremos vizinhos de porta e também vou sair da escola. A menina magra de olhos esverdeados, clara, cabelos longos em tom castanho-claro e sempre ao estilo rabo-de-cavalo, solta um grito de torcida quando o time faz um gol e abraça Carlinhos. Ele se assusta com a atitude repentina de Paula. Os colegas ali presentes, em coro, entoam: são namorados, são namorados! *** As famílias tornam-se vizinhas de porta no mesmo prédio. A amizade se solidifica mais e mais. As idades avançam. As brincadeiras e diálogos amadurecem. O despertar de um sentimento