entre colunas
Nature’s first green is gold por Luís de Matos “A escrever alguns pensamentos num caderno diário, tudo num tom marcado de início do dia, com o sol forte e dourado da manhã entrando pela janela. A aura de ouro não passa despercebida.” Durante o tempo de confinamento tive a oportunidade de rever alguns clássicos a que não dedicava atenção há algum tempo. Entre eles o notável “Os Marginais” de Francis Ford Coppola. Não vos venho falar do filme (que, aliás recomendo), nem do facto de ter sido a plataforma de lançamento de várias carreiras de êxito (como as de Tom Cruise, Patrick Swayze, Rob Lowe, Matt Dillon, entre muitos outros), o que mostra a sagacidade de Coppola ao escolher os seus protagonistas. Venho falar-vos da mensagem central do filme, inspirada por um curto poema escrito em 1923, que desvela significados novos, agora que o revisitei O filme inicia-se com um plano em que vemos o protagonista - muito jovem - a escrever alguns pensamentos num caderno diário, tudo num tom marcado de início do dia, com o sol forte e dourado da manhã entrando pela janela. A aura de ouro não passa despercebida. Adiante iremos notar que a juventude e a sua inocência, afogada na violência e rebeldia criminosa dos gangs rivais, é associada a essa aura dourada. “Stay gold, Ponyboy, stay gold”, escreve Johny ao seu companheiro de gang poucos momentos antes de morrer. “Stay gold” é a mensagem central de “Os Marginais”. Mantém-te ouro. Mantém-te puro. Mantém-te original. Mantém-te incorruptível. Mantém-te jovem. Foi assim que sempre entendi esta poderosa imagem.
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Esta noção do “Stay gold” é chamada ao enredo pela citação do poema que vos quero trazer aqui hoje. A dada altura os mais jovens do gang citam o poema “Nature’s first green is gold”, de Robert Frost. Trata-se de uma jóia literária que valeu ao seu autor um dos 4 prémios Pulitzer que ganhou na sua vida. Robert Frost foi um dos poetas Americanos mais aclamado do século XX, autor, entre outros, do famoso “The Road Not Taken”. Neste “Nature’s first green is gold”, Frost fala-nos dos primeiros raios do raiar da aurora, em que do negrume da noite surgem as cores desde os vermelhos vivos que se manifestam nos céus e nos objectos pela iluminação dourada da aurora. Não importa que a natureza seja verde, pois aos primeiros raios da manhã tudo é banhado a ouro, tudo reluz, tudo é dourado ainda antes de ser verde. “Nature’s first green is gold”. Vamos então conhecer o poema na beleza da sua língua original, vendo depois a sua tradução para português, necessariamente mais limitada. Nature’s first green is gold Her hardest hue to hold. Her early leaf’s a flower; But only so an hour. Then leaf subsides to leaf. So Eden sank to grief, So dawn goes down to day. Nothing gold can stay.