templo interior
Da Experiência da Iniciação por Fred Antunes “Até que este texto poderia ser um artigo vulgar. Ou, quiçá, uma deliciosa crónica lobo-antuniana. Mas na soberana natureza cosmogónica do ser, aliada a uma imperativa experiência divina, é inevitável navegar o corpo e a alma para uma redação intimista.” Partindo do pressuposto Kantiano de que “a felicidade não é um ideal da razão, mas sim da imaginação”, sempre sonhei ser Maçon. E sempre conduzi a minha vida para o ser, ou, em última instância, para o merecer. Sem saber bem como, sem conhecer qual o percurso, o somatório de experiências e o desregramento incontornável somando uma absoluta necessidade de elevação e evolução levou-me a conhecer as pessoas certas. A derradeira provação foi, por isso, o merecimento. Confesso que até hoje quase tudo na minha vida foi fácil. Suspeito que uma insaciável necessidade de aperfeiçoamento associada a uma determinação estóica claramente ajudaram. Contudo, este processo é diferente. Não apenas por se tratar de uma organização milenar; não apenas por ser composta por homens distintos e inebriantemente cultos; mas por, na derradeira essência, representarem na terra, o grande criador (a quem chamam arquiteto) do Universo. Com alguma legitimidade diria que a apreensão da razão de tal facto é para mim ainda um momento incógnito.
“O grande criador (a quem chamam arquiteto) do Universo.” . 58 .
Todavia, no domínio emocional e intelectual fui educado, preparado, desafiado a superar o medo e avançar. E avancei. Disponibilizei-me totalmente para ultrapassar os defeitos convencionais de um típico português, entenda-se: o desrespeito pela pontualidade; o desacato nativo contestatário; o egocentrismo social; ou respirar com uma rebeldia constante. Óbvio que tirei e tiro proveito das qualidades típicas de quem nasceu neste único e virgem país a que chamamos Portugal, leia-se: a capacidade de contemplar e admirar a Natureza e toda a obra criada; a intrínseca e magistral aptidão para improvisar e o princípio de “amar finisterra”. A propósito de finisterra, é incontornável não citar o meu professor e mentor Paulo Borges que, no ensaio filosófico “Do Finistérreo Pensar”, afirma e cito: “uma meditação sobre os limites e sua possível conversão em limiares, uma meditação sobre as fronteiras, não como linhas de separação e antes de passagem, uma meditação, enfim, sobre as regiões crepusculares, madrugantes ou vespertinas, da cultura, da experiência humana, do pensamento e do espírito”.