“Quando ainda mal se ouviam os primeiros ecos do jazz em Portugal, alguns dos mais notáveis jovens artistas plásticos e ilustradores captaram-lhe a alma, sentiram-lhe o ritmo (...)”
“Abertura para o Jazz” pintura Xico Fran
Cromatismo do Jazz:
90 anos a desafiar as telas De Stuart Carvalhais e Almada Negreiros a XicoFran
por João Moreira dos Santos Recuemos, por um instante que seja, até aos anos 20, a Idade do jazz-band, como lhe chamou António Ferro, mimetizando a célebre jazz age de F. Scott Fitzgerald. Quando ainda mal se ouviam os primeiros ecos do jazz em Portugal, alguns dos mais notáveis jovens artistas plásticos e ilustradores captaram-lhe a alma, sentiram-lhe o ritmo, adivinharam-lhe as cores e logo o plasmaram nas telas e nas páginas da Imprensa. Essa elite estética foi, porventura, a primeira a ver no jazz mais do que uma “música infernal”. Mais até do que a materialização sonora da “hora preta”, termo que o cronista Fernando Pamplona utilizou para enquadrar na revista ABC a emergência de um género musical em que declarava sentir “a voz das árvores e dos macacos, a voz ébria, ruidosa, do sertão”. Não foi, porém, sequer original. Antes dele já o escritor Ferreira de Castro olhara para o neófito
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como uma “música de selvagens, donde se levitam gritos de desbravadores de selvas, onde há mãos que rufam tambores como nos batuques africanos, mãos negras que tangem peles de veado distendidas sobre troncos ocos”. Tudo para o autor de A Selva declarar que “o jazz-band não tem a suave harmonia das músicas clássicas”. Preconceitos à parte, nada senão a plasticidade do jazz e dos seus cultores parece ter interessado aos mestres da pintura que com ele contactaram nos nightclubs da Lisboa dos anos 20. No Bristol Club terá António Soares encontrado inspiração para “O charleston”, um óleo sobre tela datado de 1926. Para aquele mesmo club, trabalhava o jovem Stuart Carvalhais, que em 1925 pintou um guache sobre cartão cujo protagonista era um quarteto de músicos negros que, vestidos de vermelho e branco, acompanhavam um cantor branco vestido de preto… E depois, Almada