ORIGEM | Soberana Magazine #6

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A Teoria do Nada

Já escrevi muitas ou mesmo demasiadas vezes que Portugal precisa de elites, precisa de uma sociedade que se reveja nas suas elites, precisa de um Poder Político que entenda as elites como um fator de coesão para o seu exercício político. Não precisa é de uma massa intelectualmente aculturada, pronta a respostas meramente emotivas, sem tentar descortinar a sua natureza ou as consequências da sua adesão. Falo de Portugal, falo da Europa e os exemplos estão aí, são palpáveis, onde a guerra na Ucrânia será talvez o momento mais crítico que hoje atravessamos.

Na verdade, estamos a viver outra vez o tempo de medo quando devia ser de assunção de responsabilidades. O estado de negação de grande parte das lideranças europeias é confrangedor. Esse mesmo estado de negação perante as constantes mudanças ideológicas e sociológicas das nossas sociedades modernas, essa sistemática destruição de um tão necessário espaço público como forma de combater a aculturação provocada pela excessiva mediatização do discurso político mas que, em última análise, se estende viralmente a todos os domínios da sociedade, projetou uma cultura de massas onde o desvio de valores tende a ser normativo pois o elemento agregador e catalisador resultante do exercício do Poder democrático está, cada vez mais, vazio de sentido.

Hoje já estamos a meio caminho entre a mediatização e a espetacularização, correndo o risco – mesmo que não seja essa a intenção – de transformar todo o discurso político numa imensa amálgama de propaganda com todas as consequências nefastas que daí podem advir.

A este propósito relembro só o que, há mais de 70 anos, escreveu Adolf Hitler, no capítulo dedicado à Propaganda, no seu livro Mein Kampf: “A capacidade de compreensão das grandes massas humanas é limitada e o seu entendimento muito restrito; em compensação, a sua falta de memória é maiúscula (…) Toda a propaganda deve ser popular e adotar um nível intelectual dentro dos limites das faculdades de assimilação do mais limitado daqueles a que é dirigida”.

E neste sentido, hoje, mais uma vez, continuamos a falar de propaganda, muitas vezes materializada no discurso estereotipado a que todos os dias assistimos nos media, principalmente na televisão.

Como rasgar esta cortina? Este papel cabe não só aos políticos mas também às elites, essas mesmas capazes de catalisar o amorfismo do discurso político vigente, propagandeado pela forma mas que em simultâneo lhe vaza o conteúdo.

É fundamental rasgar esta cortina e que os políticos – os que representam as forças partidárias capazes de alicerçar a Democracia e o Estado de Direito – percebam que têm de voltar a falar para as pessoas. E que só o podem fazer se procurarem apoio nas elites que têm teimado em aniquilar.

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Editorial

Ficha Técnica

Origem - Soberana Magazine

Edição Outubro de 2022

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Editor e Proprietário

João Pestana Dias

Grande Loja Soberana de Portugal – Associação

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NIF: 514 991 437

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ÍNDICE

A Teoria do Nada | José Manuel Caria

Soberana Comemora Sostício de Verão por entre os Mistérios da Penha Longa | Fernando Correia

Carta do Grão Mestre | Abílio Alagôa da Silva

A Palavra do do Grão Mestre | Fernando Correia

Rito Português: Fundamentos Literários, Míticos e Filosóficos | Fernando Casqueira

O Descobrir de Uma Âncora Comun | White Louis

Almada Negreiros | Nuno Henrique Duarte

A Dialética Hegeliana | Paulo Réfega

Sons da Minha Pedra | João Crispim

O Tempo Quotidiano | Luís Miguel Barbosa

Eis o que Somos, lensas interrogações | Joffre Justino

Os Direitos dos Animais | Paulo Réfega

ÉTICA ( de Bento Espinosa) Um livro para ler... sempre! | Fernando Correia

Recordando o Live Aid | Vasco Lima

Irene Fargo, a Mulher com voz de Anjo | Fernando Correia

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A presença das várias Delegações pertencentes à Organização Maçónica Internacional foi um dos momentos altos da Sessão, não só pelo seu significado, como também pelas palavras proferidas que demonstraram não só a união maçónica existente como também o desejo de que a OMI seja uma grande força de uma nova ordem internacional.

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Soberana Comemora Sostício de Verão por entre os Mistérios da Penha Longa

É a festa da alma. A celebração do trigo que doura o espírito. A união dos corações que batem juntos na transformação da vida, apetecendo novos dias de esperança para os que encontraram na Maçonaria a razão de ser da sua transformação.

A Penha Longa voltou a ser o cenário do encontro da Soberana com os seus obreiros, familiares e convidados e, sobretudo, com a receção às Delegações Maçónicas que vieram de fora juntar – se em egrégora à esperança renovada que os primeiros dias do Solstício anunciam.

De manhã decorreram os trabalhos da Associação profana que dá corpo legal à Grande Loja Soberana de Portugal, já nas instalações da Quinta da Penha Longa, transformando o hotel numa espécie de casa – abrigo onde se faz com que as almas se sintam bem.

Ao mesmo tempo e com destino aos irmãos Aprendizes e Companheiros decorreram sessões de instrução e de formação, sempre bem recebidas por todos os iniciados e obreiros em aprendizagem que necessitam de perceber onde estão, qual a proposta que lhes é feita e o sentido do caminho que vão percorrer até que lhes seja permitido subir os degraus do Oriente.

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Mais duas Lojas marcaram presença pela primeira vez depois de terem levantado colunas: a Atlas (rito de York) e a Porto Graal (rito escocês retificado).

Esta última levantou colunas na véspera da Sessão graças à presença do “Gran Priorato Rettificato d´ Itália” que apadrinhou o ato e exaltou (elevação ao grau de Mestre) os obreiros da Soberana que tinham condições para tal e que receberam o respetivo Diploma de Grau das mãos do Irmão Domenico Chindamo, Grão Mestre e Grande Prior do “Gran Priorato.

A Sessão de Grande Loja decorreu a partir das 15 horas, sendo necessário e justo referir a forma como uma das salas reservadas se transformou progressivamente num Templo de Rito Português, graças ao trabalho desenvolvido pelos obreiros da Soberana que tinham essa missão.

Nunca é demais salientar o trabalho de grupo, resultado perfeita da alma comum que se cria no ambiente fraterno da Grande Loja, onde os Obreiros sentem o orgulho pessoal de poder colaborar, como virtude e missão, emprestando à cerimónia a força do seu trabalho coletivo.

Esta festa anunciada do Solstício anuncia transformação e crescimento e foi isso que esteve principalmente em causa na Sessão de Grande Loja realizada na Penha Longa, a coberto dos mistérios da poderosa e mística Serra de Sintra. Com um número elevado de presenças e a certeza de que a Soberana está a crescer.

De resto foi interessante perceber que mais duas Lojas marcaram presença pela primeira vez depois de terem levantado colunas: a Atlas (rito de York) e a Porto Graal (rito escocês retificado).

Esta última levantou colunas na véspera da Sessão graças à presença do “Gran Priorato Rettificato d´ Itália” que apadrinhou o ato e exaltou (elevação ao grau de Mestre) os obreiros da Soberana que tinham condições para tal e que receberam o respetivo Diploma de Grau das mãos do Irmão Domenico Chindamo, Grão Mestre e Grande Prior do “Gran Priorato Rettificato d ´Itália.

A presença das várias Delegações pertencentes à Organização Maçónica Internacional foi um dos momentos altos da Sessão, não só pelo seu significado, como também pela troca de lembranças e pelas palavras proferidas que demonstraram não só a união maçónica existente como também o desejo de que a OMI seja uma grande força de uma nova ordem internacional capaz de divulgar, aperfeiçoar e tornar mais clara a mensagem de fraternidade que a OMI propõe, como base importante e definitiva da sua formação e constituição.

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Os discursos do Past Grão-mestre, João Pestana Dias, e do Grão-mestre, Abílio Alagoa da Silva, foram bem claros quanto à importância da OMI, dirigindo – se também aos Obreiros da Soberana, incentivando – os a continuarem o seu caminho, com a certeza de que só percorrendo uma estrada comum serão capazes de engrandecer a Ordem e de a tornar verdadeiramente como um símbolo histórico da Nova Maçonaria Regular Portuguesa.

Seguiu – se a cerimónia de atribuição das Ordens Honoríficas, determinadas pelo Grão-mestre, que representou uma fase da Sessão de grande emotividade, até porque houve o fator surpresa a ampliar a emoção e a determinar o anseio de fazer cada vez melhor,

na luta incessante que se trava pela difusão da palavra comum que deve ser um alicerce de fraternidade.

A Sessão do Solstício de Verão correspondeu, igualmente, à eleição do novo Grão-mestre, do Grande Tesoureiro e do Presidente do Tribunal Maçónico.

As votações globais decorreram em cada uma das Lojas, abertas a todos os Mestres que reuniam condições para tal, para depois serem as Lojas a votar na Sessão de Grande Loja, de acordo com as indicações fornecidas por cada uma delas.

As votações determinaram que nos próximos dois anos, o novo Grão-mestre da Soberana será Fernando Correia; o Grande

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Tesoureiro, Pedro Pacheco; e o Presidente do Tribunal Maçónico, Rui Teixeira.

A posse será dada na Sessão do Equinócio de Outono, depois das férias maçónicas, tal como indica o Regulamento da Grande Loja.

Nessa altura tomarão posse os eleitos, bem como os novos Grandes Oficiais que serão determinados pelo novo Grão Mestrado.

Saliente – se a forma elevada como decorreu a votação, considerada Justa e Perfeita, por corresponder inteiramente à vontade dos Obreiros.

Depois da Sessão de Grande Loja houve um “cocktail” de receção aos convidados de honra e às Senhoras que tiveram, como sempre, um lugar de destaque, por lhes ser dedicado o jantar que se seguiu, também nas instalações da Penha Longa.

Após os brindes rituais registou – se um momento de particular emoção quando o Grande Hospitaleiro (que tem desenvolvido um trabalho notável de apoio aos “sem – abrigo”, apresentou dois convidados que vieram da rua para a mesa da Soberana e que serão mais dois a livrar do pesadelo correspondente á vida sem destino e sem objetivo. Serão, certamente,

dois Seres Humanos que a Grande Loja Soberana de Portugal vai retirar das ruas da cidade, dando – lhes abrigo conveniente e apoio social.

De resto, esta é uma das tarefas da Nova Maçonaria Portuguesa que procura, cada vez mais, demonstrar que o trabalho dos Obreiros não é só no Templo, durante as Sessões Rituais, mas muito mais na sua atividade exterior de bem – fazer.

A festa terminou com a atuação de um convidado especial: o showman Fernando Pereira, o homem das mil vozes, o cantor dos cantores.

Foi outro momento inesquecível deste Solstício de Verão celebrado em paz, em amor e em fraternidade pela Soberana, num momento muito importante de responsabilização global pelo futuro, pela harmonia, pelo Universo na importância do Inverno que terminou e da Primavera que ensaiava os seus primeiros passos.

De facto, naquele dia 20 de Março, a natureza encomendou uma séria reflexão sobre a sequência da vida, numa espécie de programação, criteriosamente estudada, para que tudo possa existir em equilíbrio.

E a natureza é, sobretudo e antes de outra

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reflexão mais profunda, um ato contínuo e profundo de equilíbrio, assim saiba o Homem entender e agir de acordo com o estabelecido.

De resto, a Sessão de Grande Loja foi um reflexo desse equilíbrio, anunciado pela natureza, percebendo-se que todos os obreiros queriam deixar palavras e atos que revelassem, em si, a transformação proposta pela Primavera, o renascimento da natureza, a proposta florida do tempo novo.

Mas, para que o equilíbrio seja uma realidade, é fundamental entender o porquê da vida e a razão da morte e cumprir os ciclos sem contraposição que, de resto, seria escusada.

Delegações Estrangeiras Presentes

Na Sessão de Grande Loja do Solstício de Verão estiveram presentes as seguintes delegações estrangeiras:

- Grande Loja de Jerusalém, de Malta / Sicília

- Grande Loja Platone, da Roménia

- Grande Loja de San Antonio de Marbella, Espanha

- Grande Loja Regular da Bulgária

- Grande Priorado Rectificado de Itália

As três primeiras são membros fundadores da OMI - Organização Maçónica Internacional.

A GL da Bulgária esteve presente a convite dos Muitos Respeitáveis Grão-mestre e Past Grão-mestre da Soberana.

O Grande Priorado de Itália esteve presente no âmbito do levantamento de colunas da “Loja Porto do Graal” a Oriente de Lisboa, Rito Escocês Retificado.

Fernando

Pedro

Maçónico Rui Teixeira.

A Grande Loja dos Maçons Livres de França não esteve presente fisicamente, mas delegou a sua representação no MRGM da nossa Augusta Ordem.

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O novo Grão Mestre da Soberana será
Correia, o Grande Tesoureiro
Pacheco e o Presidente do Tribunal

A Festa do Solstício

Não é necessário recordar a história, da vida e dos povos, para nos situarmos nos porquês da celebração do Solstício de Verão.

Apetece dizer que são suficientes as razões espirituais, aliadas às razões da natureza, para dar expressão a esta realidade insubstituível que representa a reabilitação da vida e significa o renascimento da alma.

Solstício é crescimento, é remodelação, é recuperação, é o renascer do dia, com projeções de Luz dentro de cada um de nós, como se a nova manhã fosse o acordar de novas consciências.

Por aí se chega a felicidade de estarmos juntos nesta celebração do Solstício de Verão que corresponde a mais um passo em frente na caminhada da Grande Loja Soberana de Portugal.

E como na vida os acasos não contam, porque a realidade procura – se em paralelo com a Verdade, esta “festa do pão e das flores” transforma – se, por mercê da razão, no milagre da existência.

Mas é um milagre procurado, trabalhado, lutado, conquistado, através da consciência

e da fraternidade. Um milagre de querer. E, sobretudo, o resultado de uma tarefa constante de aperfeiçoamento interior.

Chegamos ao quarto ano da esperança. Quatro anos. Quatro gritos de boa nova. Quatro abraços de alegria. Quatro “alqueires de trigo” na sementeira do amor, transformando a seara em abraços para uma boa colheita de vida nova.

Abrimos os olhos às lágrimas da expiação e estendemos os braços à luz da purificação.

Para que nos banhe o Sol da compreensão nesta Mãe – Terra que nos há – de conduzir ao Oriente eterno da espiritualidade, pelo caminho do crescimento interior.

É hora de continuar a construir, sem desfalecimentos nem hesitações.

A fraternidade não pode ser, apenas, uma palavra de dicionário, um vocábulo enraizado nos costumes.

Tem de ser muito mais do que isso.

Tem de ser verdade.

E com a verdade construímos o Solstício do Futuro.

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Carta do Grão Mestre

Meus queridos e ilustres irmãos

O meu Grão Mestrado na nossa SOBERANA que honrosamente me conferiram, terminou.

Saio de coração cheio e com a Alma lavada.

Nesta hora quero apenas recordar com carinho e já com saudade os momentos bons e inesquecíveis que me proporcionaram.

Tomarei mais tarde a verdadeira consciência da importância destes 2 anos na minha vida.

O balanço do meu mandato foi feito no anterior numero da nossa revista “ Origens” .

E como disse mais detalhadamente, temos uma Obediência, muito bem preparada para os desafios que temos pela frente.

Sem nunca abandonar a SOBERANA, vou agora dedicar mais do meu tempo aqueles que penalizei durante estes últimos anos, a minha família e as minhas empresas.

Farei parte do Senado Maçonico, apoiarei o MRGM:. na condução dos nossos trabalhos sempre que me for solicitado e dedicar-me-ei a colocar a OMI no mapa da Maçonaria Universal nestes próximos 2 anos.

Como já disse anteriormente, mudam as lideranças, mas permanecem imutáveis os nossos ideais, princípios e valores.

O ciclo, encerra-se hoje, dia 8 de Outubro. Fiel ao juramento que proferi e com o dever de missão cumprida, despeço-me com a tristeza de quem vê findar um momento maravilhoso na vida, mas também com a mais profunda alegria da consciência

tranquila de quem fez tudo que os limites físicos e intelectuais permitiram.

Reitero o meu profundo agradecimento por todo apoio recebido e o meu sincero e honesto pedido de desculpas por alguma falha cometida, que quero debitar a ânsia de não ficar inerte, ao desejo de atender às muitas procuras requeridas, mas principalmente às minhas inequívocas limitações humanas.

Continuará a ser um honra ainda maior, enquanto Past Grão Mestre e enquanto o Grande Arquiteto do Universo me permitir, continuar a servir a SOBERANA, esta instituição maravilhosa que co-fundei com muito empenho, dedicação e suor.

Termino com a profunda certeza e tranquilidade de que deixo a SOBERANA em melhores mãos que as minhas e uma vez mais peço a todos os irmãos a cerrarem ainda mais fileiras junto ao nosso novo Grão Mestre Fernando Correia e à sua equipe, a emprestarem a ele o mesmo carinho, apoio e comprometimento de que fui alvo, não só pelo merecimento que tem, mas também e, principalmente, pela indefectível e inabalável certeza de que juntos conquistaremos os ambiciosos objectivos que nos propusémos.

Porque me sinto outro e melhor, sou feliz!

Que o Grande Arquiteto do Universo continue a abençoar, a nossa Grande Loja Soberana de Portugal!

Bem Hajam Disse!

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A Palavra do Grão Mestre

Um agradecimento responsável

Fui reconhecido, votado e eleito como terceiro Grão Mestre da Grande Loja Soberana de Portugal, com mandato definido para os próximos dois anos, sucedendo a João Pestana Dias e a Abílio Alagoa da Silva, a quem deixo aqui uma palavra de agradecimento pelo muito que me ensinaram.

Deixo, também, uma palavra de agradecimento pela confiança que depositaram em mim. Fico sinceramente muito sensibilizado pela escolha e, sobretudo, pela forma como me incentivaram a ser a vossa escolha.

Uma última palavra reflete a minha determinação em cumprir o mandato da melhor forma, da mais fraterna, da mais empenhada, da mais humilde, mas também da mais rigorosa, em termos maçónicos.

Isto porquê?

Porque me ensinaram assim, porque nesta Nova Maçonaria Regular Portuguesa não pode haver lugar para outra coisa que não seja dedicação, amor à causa, lealdade, honestidade, responsabilidade, cumprimento dos juramentos feitos e respeito pela Obediência e pelos Obreiros.

De facto, ao longo do meu percurso maçónico deparei – me com algumas situações das quais não gostei, a par de outras que me encheram os sentidos e me tornaram feliz.

Provavelmente é assim mesmo. A Maçonaria não deixa de ser um retrato da vida comum.

O Ser Humano reflete o que é nas suas ações e vai alternando a insuficiência com a retidão, o amor com o desamor, a verdade com a mentira, a dedicação com a indiferença, a entrega total com o “deixa andar”, a assiduidade com as faltas não justificadas.

Porque sou um homem de convicções gostaria que deixasse de ser assim e que cada um dos obreiros da Soberana soubesse interpretar da forma mais correta o facto de ser Maçom e fizesse um esforço para ser um obreiro de construção.

Para quê a vaidade? Para quê o ciúme? Para quê o querer ser mais do que o outroa a qualquer custo? Para quê dar nas vistas pela negativa? Para quê desejar

ter um avental bordado?

É verdade que somos Seres Humanos cheios de insuficiências. Algumas vezes não sabemos honrar, muito menos construir o nosso Templo interior.

Mas, a Maçonaria existe por essa razão, para nos dar as ferramentas do entendimento e da descoberta do caminho sério e fraterno.

Prometo que serei amigo, leal, ajudante, aprendiz, companheiro e mestre sempre ávido de aprender mais. Mas, serei também exigente, rigoroso, cumpridor, respeitador das leis Maçónicas, tanto no Templo como na vida diária; tanto no Ágape como num jantar ocasional; tanto nas celebrações Maçónicas como numa festa de fim-de-semana; tanto na assinatura de um Tratado de Amizade, como numa visita de estudo; tanto na receção a um novo Irmão como na apreciação de uma falta não justificada.

Temos de perceber, de uma vez por todas, o que significa ser Maçom.

Temos de entender que ninguém é obrigado a ser Maçom, mas quando escolhemos esse caminho é para cumprir e para respeitar o Tempo Novo e perceber que lutamos para adquirir uma nova consciência.

Temos de avaliar o significado da expressão Homem Novo e verificar a semelhança que existe com as verdades dogmáticas, expressas em diversos momentos da história, algumas delas escritas em livros intemporais e que são, tão somente, a execução prática das leis universais.

Precisamos, finalmente, de fazer um estudo profundo da Humanidade e do Humanismo, para nos podermos julgar a nós próprios, percebendo o que andamos a fazer na vida terrena, preparando o futuro espiritual, o futuro de memória e história que nos aguarda.

Com o novo Grão Mestre podem formular–se novos desejos e abrir-se novos caminhos, mas todos eles conducentes à grandeza da Soberana. Grandeza espiritual. Grandeza preferencial. Grandeza pela credibilidade. Expansão nacional e internacional. Distinção pelo rigor.

Darei especial atenção ao CRESCIMENTO da Ordem. É fundamental que isso aconteça. Todos tere-

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mos de nos empenhar profundamente em continuar a trazer para a Soberana novos Obreiros.

É preciso divulgar, comunicar (externa e internamente), apresentar esta nova Maçonaria Regular Portuguesa e dizer claramente quais são as suas propostas, a fim de ampliar a boa imagem que a Soberana já tem.

Sem crescimento, a Soberana não pode atingir os objetivos a que se propôs e outros que deseja ver realizados.

Vamos continuar a abrir as portas do Templo aos profanos, promovendo palestras, exposições, ações culturais diversas, convívios e debates de ideias.

Vamos interessar familiares e amigos nesta tarefa.

Temos de olhar com mais atenção para os que ajudamos no exterior, promovendo ações conjuntas, e prestar atenção às intenções de cada Loja, de forma a valorizar a ação da Grande Loja. Devemos estar junto dos sem-abrigo, dos carenciados de diversa índole, dos doentes, dos que estão sem emprego, dos

que não têm voz, dos que não têm ninguém que converse com eles e os entenda.

Mas não podemos ser solidários apenas com o exterior e para o exterior.

Oportunidades de Emprego, Ação Social, Bolsas de Saúde (médica e paramédica), Seguros, Apoio Jurídico, Ajuda Psicológica, Auxílio Doméstico, podem ser próximas virtudes e preocupações da Soberana no capítulo do apoio interno.

Pertencemos à OMI - Organização Maçónica Internacional - que mobiliza centenas de Maçons em todo o Mundo e cujo Presidente é o Past Grão Mestre, Abílio Alagoa da Silva.

Estou aqui, no desempenho desta função, naturalmente, pela grandeza da Soberana, o que implica que estarei neste lugar por todos nós.

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Rito Português: Fundamentos Literários, Míticos e Filosóficos

O Rito Português filia-se numa perspetiva Maçónica inédita e específica que, não descartando a matriz Universalista, reivindica uma autenticidade (Heidegger), em que se evidencia a especificidade e a dinâmica da nossa estrutura profunda, qual SER que flui: o SENDO.

Socorremo-nos de vias alternativas a uma opção meramente historicista, que foram referidas nas vastas referências pretéritas (filosóficas, literárias, poéticas), não racionalizantes, das idiossincrasias, das ideologias ou do psiquismo. São referências fenomenológicas que possibilitam uma hermenêutica (e uma heurística) sobre as coisas, situada para além das barreiras da razão e da consciência, pois existem apenas (ou sobretudo) em estruturas (simbólicas), mentalmente muito plásticas, inerentes à Poesia, Literatura, Filosofia, Artes Plásticas, onde se inscrevem implícitas narrativas oníricas e mitológicas.

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“(…) E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia Nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas «daquilo de que os sonhos são feitos». E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal antearremedo, realizar-se-á divinamente (…)”

In “A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico”, por Fernando Pessoa, publicado em A Águia, nº 12, II série, Abril de 1912.

O Canto, a Poesia, o Teatro, a Literatura e as Artes Plásticas, atualizando os poderes da palavra, dos sons, das imagens, permitem intuir (ou aceder ao limiar), de dimensões de uma realidade, inefável, invisível, situada para além do sensível, do existencial, do experimental e que, no entanto, fazem parte da Realidade, mas não obstante, são liminarmente rejeitadas na ótica historicista racionalista. Aquelas dimensões revestem-se de características mágicas, iniciáticas, sagradas, apontando para a transcendência do Absoluto, conformes à arte real e à ciência sagrada.

Facilmente se compreenderá que estas formas de linguagem, de expressividade, participando embora da historicidade, comportam dimensões trans-históricas, intemporais, universalmente vigentes, mas válidas, integradas na (nossa) paideia específica e inconfundível. Aqui se inscreve também, essa tradição palpável, no conto popular (e noutras modalidades do pensamento expressivo – poesia, arte, literatura, filosofia, etc.), sobre o qual escritores como Teófilo Braga e Moisés Espírito Santo revelaram o potencial energético e estruturante da espiritualidade popular portuguesa, face á dominância unívoca das epistemologias admitidas e à religião oficial do Estado).

É verdade, que estas asserções, são inerentes a todos os povos e culturas, ou seja, à sua herança cultural, à sua linguagem de comunicação e de expressão, referidas a um acervo de palavras com sentido e significado muito próprio e difuso, dificilmente traduzíveis, para outro contexto linguístico, como será o caso da SAUDADE, integrada no nosso RITO.

Muitos dos nossos cultores dessas linguagens intuíram a riqueza inesgotável do nosso imaginário simbólico (sempre em renovação), viajando acronicamente, para lá de cada época, no mito, no arquétipo, na poesia, no conto, etc., enfim, nas vivências dolorosas e saudosas do sagrado. “A imaginação é inclassificável pelos sensos humanos, porque os transcende, e a transcendência supera os valores, para atingir o infinito, o absoluto, o Universo” (Álvaro Ribeiro, 1957).

No contexto do Rito Português, Fernan-

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Destaque

do Pessoa deverá ser colocado em evidência (sem demérito para um Camões, Teixeira de Pascoaes, Eça, Antero, e diversos outros), até porque é referido insistentemente nas práticas ritualísticas adotadas nos nossos graus simbólicos e, para além disso, apresenta uma conceção sobre maçonaria e uma teoria da iniciação esotérica (“…Neófito, não há morte”.), alcandorada em paradigma e que subscrevemos. Bem se poderá referir que o mundo esotérico, neopagão, gnóstico, místico do poeta da “MENSAGEM”, defensor corajoso da maçonaria (em período difícil), vinha de par, com profundo conhecimento dos ritos maçónicos, da simbologia, da estrutura progressiva iniciática maçónica, da organização

das lojas, da Ars Quatuor Coronatorum, (e outras estruturas) e sobretudo da espiritualidade maçónica.

De notar, em acréscimo, que o poeta, conferia ao Evangelho, conotação com um Tratado de Iniciação maçónica, integrando Magia, Alquimia e Gnose e, em conformidade, referia a Bíblia como um Tratado de Alquimia, escrito em “cifra transcendental”. Por maioria das razões, aquela asserção é compatível com uma conceção da maçonaria fora de uma perceção de univocidade: a maçonaria embora materialmente dividida, considera-se unida espiritualmente e, portanto, igual em toda a parte e “quem tiver as chaves herméticas, em qualquer forma de um ritual encontrará sob

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mais ou menos véus as mesmas fechaduras”. A articulação entre o Rito Português e a questão identitária, que já do antecedente mereceu as necessárias referências, esclarece os motivos que suportam a nossa opção teórica assentar na perspetiva primordialista na construção do processo identitário. Parece-nos que o psiquismo português veio-se cristalizando num original e vasto complexo mítico-arquetípico, lendário, artístico-cultural, sem o qual torna-se difícil compreender a visão instrumentalista, em detrimento de outras.

O Rito Português é sensível à perspeti-

va da existência de uma primordial, vigorosa e antiquíssima Matriz Cultural Indo-Europeia (onde nos inscrevemos), de cunho telúrico, espiritual e natural, cujos importantes resquícios, ainda atualmente, subjazem na cultura popular portuguesa (observáveis em inúmeras manifestações etnográficas e arqueológicas). A Paisagem, em sentido lato, especialmente concebida como os íntimos lugares mágicos da Natureza, em inter-relação espiritual do homem com a “Terra Mãe”, facilmente permite entender o processo construtivo da nossa identidade. Veja-se em o “espírito do lugar” com Alçada Baptista,

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Destaque

Torga, António Quadros ou Pascoaes.

Essa “Terra Mãe”, cedo concebida em Grande Deusa Mãe, refletindo-se nas marcas geográficas e monumentais, constitui reminiscência profunda das origens longínquas, cujo alimento espiritual indicará necessariamente um caminho, uma trajetória, iluminando um futuro saudoso. Acreditamos que “o passado é grávido do futuro” e nessa ótica, tentamos uma aproximação, na consulta em acervos e vestígios do nosso ancestral património cultural, mítico-simbólico, lendário, religioso e espiritual.

Em síntese, o processo identitário sugere a afirmação e a reconstrução do passado no presente, surgindo a história do acontecer, como suporte basilar, e a representação da cultura e seu modelo moral, numa entidade coesa. Assim, o Rito Português recolhe a herança PÁTRIA de Reis e Heróis Fundadores, por vezes de carácter milagroso ou teofânico e, nesse aspeto, o milagre de Ourique deu sentido a uma Nação, doravante investida por Cristo, numa missão ecuménica, que o devir seculos depois fará surgir aos nossos olhos como o MITO do QUINTO IMPÉRIO e o RITO iniciático (portuguesíssimo e ecuménico) da festa do ESPÍRITO SANTO (de raízes Joaquimitas), que os portugueses, levaram de Alenquer (1321) para lugares distantes: Açores, África, India, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Hawai, Bermudas.

Nesta conformidade, o Rito Português integra-se na densidade simbólica dos arquétipos (mitologemas) e narrativas míticas (o Mito é o nada que é tudo) que, qual Pedra Angular, irão sustentar coerentemente as suas práticas. Os mitos que a nossa Paideia integra dentro da sua especificidade reportam uma matriz que é comum a diversas culturas, nomeadamente do arco cultural do Atlântico Norte até ao Mediterrâneo Oriental.

Com efeito, Portugal integra um vasto

complexo mítico-simbólico com valência ecuménica, não apresentando rutura com a continuidade do antiquíssimo arco cultural atlântico-mediterrânico. Ocupa, segundo dados recentes da antropologia e da arqueologia, posição intermédia, mediadora e axial. Gilbert Durand ao enunciar os mitologemas portugueses reitera a sua implicação desde o Mediterrâneo Oriental até aos mundos Anglo-Saxónico, Germânico e Nórdico. A bacia semântica de Portugal possui, assim, inusitada abrangência e pertinência na sua globalidade, incitando novos questionamentos sobre a eventualidade de uma “missão “, (aludida e abordada por muitos pensadores, embora diferenciados, como, Guilherme Oliveira Martins, Eduardo Lourenço, Dalila Pereira da Costa, Pinharanda Gomes) e que culminará no Império Espiritual, segundo Fernando Pessoa. Para o Rito Português e considerando a “caminhada espiritual” do individuo em direção à Luz, ganha pleno sentido e expressão do poeta ”…partiremos em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus construídas daquilo que os sonhos são feitos…”.

No mesmo sentido, a excessiva coisificação, laicização e perca de sentido do sagrado da civilização Europeia, o seu sentido redutor de progresso, de par com a ideia superlativa de um desenvolvimento confundido com crescimento económico (não esquecendo as crises e outros desequilíbrios) poderia ser colmatada, se essa mesma Europa decidisse embarcar connosco, naquelas naus, em caminhada para aquelas novas Índias do sonho, da paz e da harmonia universal.

“…Até agora incorporamos almas alheias… chegou o momento, porém, (com o RITO PORTUGUÊS) de revelarmos a nossa própria alma”, (Delfim Santos).

O Rito Português que idealizamos, na sua trajetória para a iluminação, indica um caminho ao plano do transcendente, da

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espiritualidade e do sentimento do sagrado, presente nas origens pré-históricas de um povo, de uma Mátria, de um complexo imaginário cujos fundamentos se inscrevem nos dados da antropologia, da história, do filosófico e do mítico. Afastamo-nos assim de uma excessiva narratividade hegemónica, exclusivamente de tradição judaico-cristã. O RITO PORTUGUÊS, neste passo, aproxima Fernando Pessoa, Gilbert Durand, Lima de Freitas, e outros, parecendo admitir o pressuposto de uma missão ínsita, no devir histórico de Portugal. Apenas lembramos, que, afinal e na opinião de Fernando Pessoa, o “MITO É O NADA QUE É TUDO” (Mensagem-Ulisses), o qual (mito), indicando sempre uma hermenêutica do real e explicando esse mesmo real, acaba por se tornar,

também ele próprio, realidade concreta. Nesse questionamento sobre o nosso “NOUS” (atividade intelectual da perceção profunda), tem perfeito cabimento, tendo em conta, os intentos de um saber Maçónico (Maçonaria, Maçonismo, Maçonologia Lusófila?) recuperar e integrar na atualidade, eventuais contributos do riquíssimo e complexo, pensamento filosófico e literário, de Leonardo Coimbra (Criacionismo), de Teixeira de Pascoaes e António Nobre (Saudosismo), Cunha Seixas (Pantiteísmo), Fernando Pessoa (Filosofia da Inquietação e do Saudosismo), Teófilo Braga (Positivismo e Tradicionalismo) e também alguns contributos sobre o “enigma português”, de Cunha Leão ou sobre a polissemia da SAUDADE de Pinharanda Gomes.

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O Mergulho Recreativo e a Maçonaria

O Descobrir de Uma Âncora Comum

Comparo o Batismo de Mergulho a uma Iniciação Maçónica, em que, na véspera e no próprio dia, vem a tal dose de mistério e talvez ansiedade antes da Iniciação…. e no fim termina com uma grande satisfação por se terem cumprido as “formalidades” desta cerimónia.

O “Mergulho”, como desporto aquático e também conhecido como mergulho autónomo, confere ao mergulhador a capacidade de respirar através de um equipamento específico, chamado de Scuba (acrónimo de: self-contained underwater breathing apparatus). Daí que o mergulho seja também conhecido internacionalmente como a expressão Scuba Diving.

A modalidade Mergulho Recreativo é a versão que tem mais adeptos e tem como objetivo estar próximo da natureza subaquática de uma maneira divertida e relaxante (para praticar aos fim de semana e/ou durante as férias).

Batismos de mergulho:

É, na prática, o primeiro contacto com o mundo subaquático e normalmente ocorre numa piscina (também pode ser realizado num lago ou numa praia com águas pouco profundas) – e deixa de ser apenas uma fantasia reservada aos

adeptos do Nacional Geographic misturado com Jacques Cousteau.

Antes desta experiência, é natural que levemos connosco uma dose de “mistério”, de “desconhecido” e até comecemos a imaginar: “mas como será?”, “será que vou gostar?” e “será que nas próximas férias já posso fazer mergulho no Algarve/ Açores/Madeira?”.

Durante esta aventura aprendemos algo de novo e a maioria termina com uma sensação de ”Yes, isto é muito Cool” e levam consigo uma dose emocional bem expressiva (outros nem por isso, mas experimentaram esta Aventura).

Para esta aventura basta trazer fato de banho, toalha e chinelos (é simples!).

Comparo o Batismo de Mergulho a uma Iniciação Maçónica, em que na véspera e no próprio dia, vem a tal dose de mistério e talvez ansiedade antes da Iniciação…. e no fim termina com uma grande satisfação por se terem cumprido as “formalidades” desta cerimónia.

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No final do dia, em ambas as situações, quando vamos para a cama começamos a pensar na Experiência que passamos, que será marcante para toda a vida (eu não me esqueci nem do Batismo nem da minha Iniciação, está bem presente em mim).

Para os profanos, o Batismo será o equivalente a entrar num Templo Maçónico, fora do horário de uma Sessão Maçónica claro, e verificar a decoração, as luzes, os símbolos, o chão preto e branco, … e começar a pensar “ O que será que eles fazem aqui? O que dizem eles durante essas reuniões?”.

Ambos possuem um local próprio:

Mergulho = em águas confinadas (piscina, lago, “praia” de baixa profundidade) e o mar para mergulhos mais profundos.

Maçonaria = Templo ou outro local apropriado para se efetuar uma Sessão Maçónica, por ex: no Templo Ecuménico Universalista (Sessão

realizada a 04/Set/21) ou na Igreja de Santiago no Castelo de Palmela (a 29/Jan/22).

Ambos possuem Condições/Requisitos de entrada:

Mergulho = saber nadar é essencial (não que esta competência seja o que mais interessa, mas sim o estar “à vontade na água” – e, para isso, o “saber nadar” é o que mais se aproxima). Outro aspeto a ter em conta é que não ter problemas auditivos, por causa da pressão na água pois, por cada metro que descemos, a pressão aumenta e pode ser desconfortável.

Maçonaria = é primordial ser Homem de bons costumes e acreditar que há algo Superior, acreditar num Deus de um Livro Sagrado (referente à Maçonaria Regular).

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Níveis de Conhecimento:

Na Maçonaria temos as chamadas Lojas Azuis – grau de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

No Mergulho, há algo semelhante e está intimamente relacionado com os conhecimentos adquiridos em cada nível (semelhante à Maçonaria).

Simplificando, há um curso inicial chamado Open Water (podendo ser equiparado ao Grau Aprendiz). Depois, o Advanced Diver que será um upgrade (o nível do grau de Companheiro) e, por fim, considero um Rescue Diver (alguém já com uma mestria subaquática), comparando-o com o grau de Mestre Maçom.

Para além destes, ainda existem outros cursos de mergulho, de categoria avançada em termos de experiência e conhecimentos teóricos e práticos, para os quais faço equivalência aos “Altos Graus da Maçonaria”.

Desenvolvendo um pouco mais este curso Open

Water (nível inicial), aqui ensina-se a introdução à teoria subaquática (a flutuabilidade, a pressão, …) e praticam-se exercícios em piscina e no mar. Na Maçonaria, estamos perante o grau de Aprendiz e aqui os Aprendizes adquirem conhecimentos sobre a Simbologia Maçónica, o significado da Pedra Bruta cinzel e malhete, a parte Ritualística em Loja, os sinais utilizados, o uso da Linguagem Maçónica entre os Maçons, a história da Maçonaria Especulativa, onde dão os primeiros passos na sua reflexão interior e qual o caminho que pretendem percorrer na Vida.

Ensino vs Aprendizagem:

Há uma grande diferença neste tópico que carece de uma nota especial.

No mergulho, o Instrutor ensina e os alunos são ensinados.

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Na Maçonaria não se ensina, “Aprende-se”, e cada um de nós tem o seu ritmo, tem o seu Tempo, cada um faz o seu caminho interior sem datas marcadas.

Há uma grande distinção relativamente à forma de expor os conhecimentos e de os absorver entre [Formador-Aluno] e [Mestre-Aprendiz/ Companheiro].

Sozinho ou acompanhado:

Não se mergulha sozinho (regra base no mergulho recreativo). Um mergulhador deve sempre mergulhar com outro(s), de preferência fazendo uma parelha, pois o facto de ter um buddy (o outro elemento do par) poderá ajudá-lo caso haja um funcionamento anormal do equipamento (é pouco frequente mas poderá acontecer) ou caso um dos mergulhadores se sinta mal por alguma razão.

Na Maçonaria, não é por acaso que usamos com frequência a palavra Fraternidade. De que serve sermos Maçons para vivermos sozinhos?

Um Maçom não “trabalha” apenas para si mesmo, mas também para o(s) outro(s) - por isso, reunimo-nos em Loja para depois refletirmos na sociedade - além de de também contribuir para a sua Obediência e Loja apresentando Pranchas, divulgando a sua sabedoria pelos seus II’.

Quais são as Organizações?

No Mergulho há diversas organizações de Formação: PADI, SSI, CMAS, BSAC, ..., e todas com um objetivo comum: formar mergulhadores, em segurança, claro! Há um denominador comum em todas estas organizações: têm de estar integradas no World Recreational Scuba Training Council, organismo dedicado à segurança mundial do

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mergulho recreativo e a garantia que todas as orientações são cumpridas nas diversas organizações participantes.

O mesmo se passa com a Soberana e outras Grandes Lojas/Orientes: estas também seguem as orientações das(os) Grandes Lojas/Orientes “líderes” (usei a palavra “líderes” para simplificar a compreensão). Por exemplo, a Soberana segue a United Grand Lodge of England (UGLE) como matriz orientadora da Maçonaria Regular.

Durante o curso (inicial) de mergulho:

Quando estamos em aulas práticas em piscina, totalmente equipados, ficamos habitualmente na parte mais funda da piscina e de joelhos, para

receber as indicações do Instrutor.

Para o Maçom, o estar de joelhos é também posição de receber algo, o que demonstra, no nossos íntimo, uma dose de humildade, pois é também uma posição para se efetuar um Juramento sobre o Livro da Lei Sagrada.

Outro exercício praticado nas aulas de Mergulho é o chamado “pivô” – em que o aluno equipado está deitado e virado para o fundo da piscina, sempre acompanhado pelo Instrutor. Nessa posição, começa a insuflar ar no seu equipamento em pequenas doses, aos poucos, começando a “elevar-se” - a Flutuabilidade Neutra – mas sem subir até à superfície nem descer até ao fundo (é o ponto-chave para qualquer mergulhador) – muito semelhante a ser um Astronauta na lua, com aquela leveza…

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Maçonicamente falando, eu sinto a mesma “sensação” quando estou numa Cadeia de União, de mão dadas aos II’s, num momento muito interno e profundo, onde o corpo parece não ter qualquer peso…(por vezes, parece que estou a flutuar ao longo do Cosmos).

Como já foi referido o Ponto-Chave de qualquer mergulhador, também para um Maçom, o que é essencial está escrito nos Rituais, podemos começar a re-ler o Ritual de Aprendiz na 1º Instrução, está tudo lá!

Agora já no mar mas ainda à superfície e a aguardar o preciso momento para começar a descer, é preciso retirar o ar que se encontra no equipamento e nos pulmões (apenas durante alguns segundos), o suficiente para começar a descer e a

ingressar no mundo subaquático…este processo, é equivalente ao que fazemos antes de começar uma Sessão Maçónica em Loja – estamos à entrada do Templo (nos Passos Perdidos), e através do Mestre-de-cerimónias, dá o aviso aos presentes para se “prepararem” para a Sessão, o tempo suficiente para nos abstrairmos da vida profana e prepararmo-nos mentalmente para ingressar num ambiente mais espiritual – Sessão Maçónica.

Após toda a atividade de mergulho e, posteriormente, lavar e cuidar do equipamento, é tempo de conviver numa esplanada, beber algo e trocar história de mergulho = o mesmo quando termina uma Sessão em Loja, arrumamos os paramentos e depois vamos para o Ágape conviver, comer e beber.

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“Narcose”:

Nos mergulhos mais profundos (aumento da pressão) e se não estivermos em boas condições físicas, podemos sofrer a chamada “Narcose” cujos sintomas são semelhantes a uma pessoa embriagada = o mesmo acontece se excedermos com a Pólvora Fulminante!

O Ambiente à volta do Mergulho:

Por norma, antes de qualquer mergulho, há sempre a menção da Proteção Ambiental: não deitar lixo, trazer lixo e não tocar na fauna e flora subaquática. Na Soberana, temos os projetos de Solidariedade, com o auxílio aos sem-abrigo, do projeto de ajuda aos “Meninos do Barreiro” (jovens que foram retidos dos seus pais para possibilitarem terem uma Vida melhor).

Navegação subaquática:

Antes de mergulhar é fundamental saber qual o percurso a fazer, por exemplo, mergulhar no sentido Norte-Sul ou andar à volta de um barco afundado, onde agora é um recife artificial e cheio de vida marinha.

Nós, Maçons, também devemos saber qual o Caminho que pretendemos seguir, um Caminho rico de sabedoria, de partilha, de ajuda, até onde for possível.

Curiosidades:

No mar, lá “em baixo” há um silêncio peculiar, e facilmente, quem passa pela experiência do

mergulho, entende porque é que o livro de Jacques Cousteau se chama “O Mundo Silencioso”, pois também é uma história de descoberta e aventura submarina. Esta obra, traduzida em 22 idiomas e com mais de 5 milhões de cópias vendidas, serviu de base para um documentário galardoado com um Óscar.

White Louis

Mestre Maçom (& Instrutor de mergulho)

RL Almada Negreiros

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Almada Negreiros

por Nuno Henrique Duarte

Apresentar uma prancha sobre o patrono da nossa mui nobre e respeitável loja Almada Negreiros é uma responsabilidade acrescida. Espero estar á altura de tamanha empreitada.

Sobre Almada Negreiros dada a sua diversidade, pluralidade, versatilidade e multidisciplinaridade, tudo o que vos direi será muito pouco dada a sua dimensão.

Quis o destino que apresentasse este trabalho no dia 9 de Maio, aquele que é o dia da Europa cuja frase que a define é In Uno Plures - Unidos na Diversidade. Se bem analisada pode ser quiçá maçónica? Pois em 1950 quem a proferiu foi Robert Schumann (na altura ministro dos Negócios Estrangeiros francês e um dos arquitetos do projeto integração europeia, juntamente com Jean Monnet, grande impulsionador da mesma e que deu origem à digamos “iniciática” europeia CECA (Comunidade Europeia do Carvão e Aço).

De seu nome José Sobral de Almada-Negreiros Nasceu a 7 Abril 1893 em São Tomé e Príncipe (dia do Nascimento de São Francisco Xavier, missionário Jesuíta e fundador da Companhia Jesus, dia da fundação da Organização Mundial saúde em 1948 cuja definição mais difundida é a encontrada

no preâmbulo da Constituição da Organização Mundial saúde: Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Dia da data de nascimento simbólico da Internet). Faleceu a 15 junho 1970, em Lisboa (Dia Mundial do Vento desde 2009 que é uma fonte de energia limpa e renovável). Viveu em Portugal e revelou-se como um artista e um escritor polifacetados: artista plástico, poeta, ensaísta, romancista e dramaturgo… até no bailado se expressou.

Almada Negreiros é uma figura ímpar no panorama artístico português do século XX. Essencialmente autodidata (não frequentou qualquer escola de ensino artístico), a sua precocidade levou-o a dedicar-se desde muito jovem ao desenho de humor.

Pela morte da mãe no parto do 3 º filho, Almada e o Irmão António foram internados num colégio Jesuíta (Coincidência? Acaso? pois nasceu no mesmo dia de S. Francisco Xavier conforme já referi).

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templo interior

Aí “Fechado no colégio, onde permanece com António (irmão), e sem a companhia dos colegas durante os meses de verão, o irrequieto Almada entretém-se a devorar livros da biblioteca dos jesuítas, sobretudo os de geometria e mecânica e escapa-se da sala de estudo para pintar e desenhar. Faz caricaturas, redige e ilustra jornais gráficos que revelam estar a par do seu tempo – “O Progresso”, “A República”, “A Pátria”. Tudo isto com a cumplicidade dos padres, que reconhecem naquele rapaz com “olhos de gigante” capazes de devorar o mundo, uma natureza particular. É-lhe concedida uma sala, onde monta um ateliê e que lhe proporciona uma liberdade de atos e aprendizagem que toda a vida transportará na sua bagagem. O colégio dos Jesuítas, lugar inaugural de um programa de pensamento e reconhecimento autodidata, será transposto para a sua geografia artística e intelectual”. *

Mas a notoriedade que adquiriu no início de carreira prende-se acima de tudo com a escrita, interventiva ou literária. Almada teve um papel particularmente ativo na primeira vanguarda modernista, com importante contribuição para a dinâmica do grupo ligado à Revista Orpheu com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, sendo a sua ação determinante para que essa publicação não se restringisse à área das letras. Aguerrido, polémico, assumiu um papel central na dinâmica do Futurismo em Portugal: “Se à introversão de Fernando Pessoa  se deve o heroísmo da realização solitária da grande obra que hoje se reconhece, ao ativismo de Almada deve-se a vibração espetacular do «futurismo» português e doutras oportunas intervenções públicas, em que era preciso dar a cara”.

Utilizou sempre uma linguagem considerada mais elementar que a do seu desenho e construiu a sua obra literária por entre tensões - dividido entre a intuição e a análise, entre a vocação poética e

o espírito ensaístico. Em todas estas manifestações criativas mostrou sempre uma grande capacidade de invenção.

Por muitos classificado como alguém de “fulgurante dispersão”. Sem se fixar num domínio único e preciso, o que emerge é sobretudo a imagem do artista total, inclassificável, onde o todo supera a soma das partes. Também neste aspeto Almada se diferencia dos seus pares mais notáveis, Amadeo de Souza-Cardoso e Fernando Pessoa, cuja concentração num território único, exclusivo, foi condição necessária à realização das obras máximas que nos deixaram como legado.

Autor profuso e diversificado, Almada Negreiros pôs em prática uma conceção heteróclita do artista moderno, desdobrado por múltiplos ofícios.  Toda a arte, nas suas várias formas, seria, para Almada, uma parte do «espetáculo» que o artista teria por missão apresentar perante o público, fazendo de cada obra, gesto ou atitude um meio de dar a ver uma ideia total de modernidade.

Almada pintou o famoso Retrato de Fernando Pessoa em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, local de encontro da geração de Orpheu a que ambos pertenciam. Dizia ele “o desenho é o nosso entendimento a fixar o instante“.

Almada assumiu a modernidade como a sua identidade, partindo sempre à descoberta do novo. Almada Negreiros considerava a “representação das relações geométricas como a base de toda a representação”. O que leva a um paradoxo entre abstração e figuração, na sua pintura dita abstrata.

Almada Negreiros foi e será sempre Maçon tal como muitos ilustres portugueses, desde escritores como Alexandre Herculano, Antero de Quental, Aquilino Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, etc., a jornalistas como Heliodoro Salgado, a arquitetos como Afonso Domingos, Cassiano Branco, Carlos Mardel, Ventura Terra, a historiadores como

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Oliveira Marques, a militares como o herói nacional General Gomes Freire de Andrade, médicos como Azevedo Neves, Bissaya Barreto, clérigos como D. João de Deus Pinto, compositores como Domingos Bomtempo, políticos como Fontes Pereira de Melo, Afonso Costa, Ferreira Borges, cientistas como Gago Coutinho e Egas Moniz, entre muitos outros. Mas também presidentes da República, como Bernardino Machado e Mário Soares.

É uma personalidade incontornável. Segundo alguns de Almada Negreiros fica sobretudo a

imagem de “português sem mestre” e, também, tragicamente, “sem discípulos”. Poderemos e deveremos contrariar esta última parte pois cabe-nos a nós Respeitável Loja Almada Negreiros diligenciar no perpetuar da sua memória.

Dizia Almada: “Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir, mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.”

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A Dialética Hegeliana

Por Paulo Réfega

Hegel foi o maior expoente do idealismo alemão. Na filosofia, idealismo é uma corrente filosófica que faz das ideias o princípio interpretativo do mundo. Segundo o idealismo, conhecemos o mundo a partir das ideias que temos feito de todas as coisas materiais. O princípio básico do idealismo está no próprio homem (na subjetividade), ou seja, a realidade descobre-se através do homem e é ele quem “define a realidade”. Podemos considerar Platão como o primeiro idealista onde, para ele, a realidade estava no “mundo das ideias”, nas formas inteligíveis, atingíveis apenas pela razão. Dentro do idealismo hegeliano há a procura pela resposta a um problema que já vinha sendo discutido por filósofos como Kant: a questão de sujeito e objeto, consciência e mundo. Como se dá o conhecimento? Segundo Hegel “o real é racional e o racional é real”.

Hegel afirmava que a filosofia está sempre enraizada na História, embora persiga sempre uma concepção de realidade como um todo em evolução,

em que cada parte é animada por todas as outras. Por isso criticou todas as concepções anteriores de filosofia como sendo sem vida, tendenciosas e não históricas.

Hegel desenvolveu a ideia da dialética, que não era um conceito novo ou desconhecido. Dialética é uma palavra grega que significa “arte do diálogo, de convencer, de persuadir ou raciocinar”. É um debate de ideias diferentes, chegando a uma conclusão a partir desses pensamentos diversos que se tornam num novo conceito que pode ser contrariado novamente. A dialética nascera no ambiente da Escola de Eleia, principalmente com Zenão, e tinha alcançado o seu zénite com Platão. Foi retomada por Kant, que contudo lhe retirava o valor cognitivo. Para alguns filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles a dialética é uma maneira de filosofar.

A dialética para Hegel é o procedimento superior do pensamento é, ao mesmo tempo, “a marcha e o ritmo das próprias coisas”. Hegel parte da dialética

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Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em 1770 e faleceu em 1831 em Stuttgart, na Alemanha.

clássica, mas dá dinamismo e movimento conceitos universais. Embora estes conceitos já tivessem sido descobertos pelos filósofos gregos, tinham porém permanecido rígidos, sem evolução. O âmago da dialética torna-se a assim o movimento, e precisamente o movimento circular ou em espiral. Os três momentos do movimento dialético são:

1 - A Tese, que corresponde a um pensamento, uma ideia,

2 - A Antítese, um pensamento diferente da tese, uma ideia contrária.

3 - A Síntese, que é uma conclusão da tese com a antítese, ou seja, após o debate de ideias chegaria a uma conclusão resumida. No entanto, essa síntese passa a ser uma nova tese para uma dialética.

Essa estrutura dialética, segundo Hegel, seria aplicada a todos os campos do real, desde a aquisição do conhecimento até os processos históricos políticos. Estes momentos sucedem-se como um movimento em espiral, que não se fecha.

Dando um exemplo prático, a Tese seria a Revolução Francesa, a Antítese seria o Reino de Terror que se lhe seguiu e teria como resultado a Síntese, o Estado constitucional e os direitos dos cidadãos.

Este conceito de tese, antítese e síntese dá a noção errada de que ideias ou coisas são opostas ou contraditas por coisas que vêm do seu exterior. Pelo contrário, a noção fundamental da dialética hegeliana é que ideias ou coisas têm contradições internas.

O processo dialético é um processo racional original, no qual a contradição já não é o que deve ser evitado a todo o custo, mas, pelo contrário, se transforma no próprio motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história, uma vez que esta não é mais do que o Pensamento que se realiza.

Vemos assim que Hegel desenvolveu um sistema chamado dialética, que é um processo espiral sobre o conhecimento, partindo da uma ideia base que é chamada de tese, contrariada por outra ideia, chamada de antítese e chegando a uma conclusão chamada de síntese, que passa a ser uma nova tese. É uma espiral, algo que não tem fim, mas sim uma evolução de uma ideia.

As mais recentes correntes filosóficas afirmam que explicar a filosofia de Hegel em termos de tese, antítese e síntese é impreciso. Contudo, esta interpretação surge ainda em inúmeros tratados filosóficos e só prova a importância de Hegel e a sua influência no pensamento moderno.

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Sons da Minha Pedra

Até lá, trabalho a minha pedra, desperto para o sentir do pulsar da música que surge pelo golpe do malhete no cinzel... em nuances que distinguem o som ritmado dando-lhes uma identidade única e não repetível.

Desde o meu renascimento, no passado abril, no tempo-espaço que atravesso tenho recebido dos Irmãos, sabedoria que me ajuda a consolidar os alicerces na vida e nesta Augusta Ordem: ritos, sinais, representações e seus significados, profundidade, palavras, gestos, objetos, alusões, silêncios - abordagem que vai transformando o meu olhar em estar mais atento aos detalhes que me rodeia, a avaliar cada situação, e a procurar respostas com maior profundidade. Depois do desafio de um nosso Irmão, em prestar melhor atenção aos sons que me rodeiam, durante este período de férias que passei com as minhas netas, concentrei-me no terceto das suas vozes, associando-as a alguns instrumentos:

- Na mais velha (11 anos) encontro um naipe de entoação complexa que balanceia entre o clarinete, o violoncelo e o saxofone. Do timbre e suas diversas nuances sai um registo que vai desde o sopro balanceado e gracioso, ao grito acre da impulsividade.

- Na do meio (6 anos), a voz eleva-se com doçura terminando as frases em vogais abertas. Pelo ar pairam como uma brisa, tons de flauta, oboé e violino.

- Na mais nova (3 anos), ao querer impor-se às irmãs, rompe um vozeirão de trompete, ou trombone misturado com xilofone. A sua marcada presença ouve-se em todos os cantos da casa - afirma que está ali!

Distanciando o olhar da aparente cacofonia, apesar do rebuliço, solicitude física e atenção que as suas idades nos exigem, talvez pareça incoerente como estes sons traduzem conforto que interiormente me pacifica - apenas fazem sentido pela ligação afetiva que transmitem.

A partir daí alarguei o espetro e refleti em quem passou pela minha vida. Imagens de sons concordantes ou dissonantes espelhados em diálogos, sensações, interesses de momento, num aparente

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turbilhão e dispersão sonora onde cada qual segue o seu caminho. O que ficou, pelo que me fez crescer, refletir, repensar, aprender e repartir, são pedaços de notas soltas que associadas integram a construção de um esboço musical, desenhando a minha identidade mais ou menos coerente.

Tendo a idade igual à minha neta mais nova (3 anos), vejo que há um caminho a percorrer e muito a desbastar. Apesar de consciente sobre as limitações do meu espaço-tempo, não apreço, nem corro. Pretendo continuar este caminho-construção, sustentado em passos firmes e seguros, a agarrar o chão que piso.

Se desde a minha juventude reflito sobre o meu papel neste mundo, e o que se espera de mim, fruto do despertar em que vivo, passou a estar presente uma maior inquietude: de onde vens (conhece-te)?, o que és (aceita-te)? , para onde vais (supera-te)?, já não apenas como simples grão num vasto areal, mas empenhado em melhorar com retidão e verticalidade, para que o esquadro, nível

e fio de prumo possam medir e avaliar o resultado, na meia-noite em ponto onde o GADU dará por encerrados os meus trabalhos.

Até lá, trabalho a minha pedra, desperto para o sentir do pulsar da música que surge pelo golpe do malhete no cinzel, não num tom forte do trompete, ou trombone misturado com xilofone, mas em nuances que distinguem o som ritmado dando-lhes uma identidade única e não repetível. No caminho da minha aprendizagem, o tocador de ferrinhos apenas quer contribuir com o seu desempenho, na complementaridade dos sons e instrumentos que cada um transporta e se apresenta entre colunas de sabedoria, beleza e força, de onde a melodia emerge ondulando num sincopado harmónico que trabalha para transformar a humanidade numa sinfonia justa e perfeita.

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O Tempo Quotidiano

Que é o tempo?

Esta pergunta tem intrigado estudiosos, matemáticos, físicos, filósofos e curiosos ao longo da história da humanidade. Dificilmente se irá chegar a um consenso sobre a definição absoluta e definitiva do que é o tempo, porque ele é para a ciência um valor absoluto e imprescindível, e para o ser humano apenas um evento psicológico, apenas uma sensação derivada da transição de um movimento.

Muito pode ser dito sobre o tempo, mas o que importa aqui salientar é o tempo quotidiano de cada individuo. A forma como cada um interpreta o seu próprio tempo.

Com certeza que já todos viveram momentos em que horas pareceram segundos, e outros em que segundos pareceram horas.

O tempo corre de uma maneira fluida e constante para todos os seres vivos. Quando o que se está a viver é do nosso agrado, cria-se um magnetismo positivo que eleva os níveis de energia e vibração espiritual. Níveis esses que geram uma espécie de força que se irá adicionar ao tempo, acelerando-o, fazendo uma distorção espaço tem-

poral que nos leva crer que o tempo passou mais rápido que o normal.

Por outro lado, quando o que se está a viver não é do nosso agrado, cria-se um magnetismo negativo que baixa os níveis de energia e vibração espiritual. Níveis esses que geram também uma espécie de força, desta vez negativa, que se irá opor ao tempo, desacelerando-o, fazendo a mesma distorção espaço temporal, mas ao contrário, levando-nos a crer que o tempo está a demorar mais a passar.

Convido-vos a fazer um exercício. Peço-vos que fechem os olhos e que imaginem um rio. O caudal de água que corre no estuário do rio é constante para todos aqueles que o observam, podendo assim ser equiparado ao tempo cotidiano que é comum a todos os seres vivos. Imagine-se agora que pretendem atravessar esse mesmo rio. Quando se encontram junto ao local onde as margens do rio estão mais próximas, como o caudal do rio é constante, podem constatar que a velocidade da água é superior à do restante estuário. Já quando se encontram numa zona onde o rio sofre um aumento da distância entre as suas margens,

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“O tempo é uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.”
Por Luís Miguel Barbosa

observam uma redução na velocidade de deslocação da água. Ou seja, quando o nosso ponto focal ou, se quiserem, o objetivo, está próximo, seja ele o quer que seja, tangível ou intangível, físico ou psicológico, a perceção que temos do tempo é que corre mais rápido, tal como a água de um rio onde as margens estão próximas. O contrário também se verifica. Quando o nosso ponto focal se encontra mais afastado, ou seja, mais difícil de atingir, a perceção que temos do tempo é que corre de forma mais lenta, tal como a água de um rio onde as margens estão mais afastadas.

Esta é também a experiência das viagens, desde os nossos antepassados no tempo dos descobrimentos, até às viagens simbólicas que fazemos na passagem para o segundo grau, Grau de Companheiro. Reparem que a experiência adquirida em cada viagem torna menos difícil as seguintes.

À medida que as viagens se tornam menos penosas, a mente fica mais disponível para apreciar e se dedicar a outras matérias que não a do trajeto da viagem propriamente dito.

A primeira viagem do ritual de passagem para o segundo grau incide sobre os sentidos. É a primeira

viagem e o desconforto é total. Não conhecemos o território. Estamos alerta. Objetivo muito difícil de atingir. Margens do rio muito afastadas. A segunda viagem, é dedicada à Arquitetura. A terceira viagem é dedicada às artes, à matemática à astronomia, a quarta à filosofia e a quinta, como uma compilação das anteriores, simboliza a liberdade, que tanto pode ser um elemento da natureza (Margens do rio próximas e fáceis de atravessar) como uma condição intrínseca do homem ou um estado emocional, ou seja, o caminho já não é desconhecido. Existe a perceção de que o objetivo é mais fácil de atingir. Já é possível ter disponibilidade física e mental para observar a forma de tudo o que nos rodeia. Com isto, a perceção do tempo decorrido em cada viagem altera-se, tornando a viagem, em perspetiva, menos dolorosa e, por consequência, menos morosa.

Termino com uma frase do ilustre Albert Einstein:

“O tempo é uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.”

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O que é o tempo?

É algo que não é palpável, é algo que é de todos e que não é de ninguém.

Todos possuem o seu tempo mas ninguém é dono do tempo.

É algo que todos sabem que têm, mas que ninguém sabe o quanto. É algo que o rico não pode comprar e que o pobre não pode vender.

O tempo é dinheiro, é unidade de medida. O tempo é ação, é movimento, é aceleração... o tempo é tudo. Tudo depende do tempo.

O tempo é relativo. Quantificamos a distância entre dois pontos em tempo e não em metros nem quilómetros. Confusos Meus Queridos Irmãos? Estou certo que sempre que alguém se desloca de um ponto para outro, não pensa na distância física que vai ter que percorrer, mas sim, no tempo que vai demorar a percorrer essa mesma distância. Quando alguém apanha, por exemplo, um autocarro, um comboio ou até mesmo um avião, não quer saber a que distância fica o destino, mas sim, quanto tempo demora até o alcançar. O tempo é sem dúvida a unidade mais importante das nossas vidas.

Só no dia de hoje, quantas vezes já disseram a palavra tempo?

Não tenho tempo! Tenho pouco tempo! Daqui a quanto tempo? O tempo é a principal preocupação

da sociedade moderna.

O tempo passa! Ouvimos tantas vezes dizer. O tempo passa sem que tenhamos, na maioria das vezes, noção do quanto fizemos ou do quanto poderíamos ter feito.

O tempo nunca mais passa! Todos ansiamos que ele passe para que este ou aquele objetivo, por vezes fútil, seja atingido.

Que o tempo passe rápido! Pensamos nós ansiosos para pagar o crédito, para que chegue o fim do mês, para ir de férias, para que termine o dia de trabalho que parece não ter fim. Todos queremos que o tempo passe, mas estamos sempre ansiosos por falta de tempo.

Não tenho tempo! Tenho pouco tempo! Não sabemos aproveitar o tempo em que temos o que temos, nem tão pouco o tempo em que estamos onde estamos.

Foi falta de tempo! Se tivesse mais tempo! Dizemos tantas vezes.

Mas afinal o que é o tempo? O tempo é o bem mais valioso que o ser humano possui.

Todos passam o dia, a semana, o mês, o ano e até mesmo a vida... a contabilizar o tempo, a gerir o tempo, mas o mais importante não é o tempo que temos, mas sim, aquilo que fazemos com o NOSSO tempo.

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O mais importante não é o tempo que temos, mas sim, aquilo que fazemos com o NOSSO tempo.

Eis o que Somos, lentas interrogações!

por Joffre Justino

Tempos houve, também, que pensadores, os mais práticos e os mais filósofos, eram alvo da inveja dos poderes político religiosos de governantes e brutais senhores da guerra, algo que ainda não superamos...

Da formação da Terra até ao aparecimento da vida, decorreram três biliões e quinhentos milhões de anos, e, ainda assim,  é possível que não tenha havido o tempo necessário  para que se sucedessem as  reações químicas que  permitam   a  vida, pelo que  este fenómeno de criação terá ocorrido noutro astro e viajado até nós hospedado em equipamento intergaláctico, ou se desprendido de algum planeta mais antigo e de condições gerais idênticas ao nosso possivelmente  um planeta  gémeo, perdido em algum lugar fora da nossa galáxia, cá chegado via um meteorito…

Mas a teoria da evolução da vida diz-nos que esta surgiu no nosso planeta quando aminoácidos aquecidos e resfriados deram início à existência, que ao longo destes quinhentos milhões de anos chafurdou na lama, (dando alguma razão à vetusta Bíblia), reciclou-se no mar, e rastejou em terra,  pelo que  na era mesozoica, pequenos, ou gigantescos e alados dinossauros, dominaram nas planícies, florestas e montanhas durante cento e sessenta milhões de anos, sem adquirir um mínimo de raciocínio que pudesse servir de semente

germinadora da inteligência e sucumbiram, sob as suas aparentes indestrutíveis carcaças, misteriosamente, sem que haja  uma causa que até os dias de hoje não sabemos qual.

Nesse processo nasce e evolui o Ser Humano sempre numa ânsia de crescente aprendizagem e entre as Escolas que a permitiram está a Maçonaria, que no poema Regius nos ensina, “O ofício da maçonaria teve seu início

Quando o sábio Euclides em sua grande sabedoria Fundou o ofício nas terras do Egipto.

Foi em terras do Egipto que ele transmitiu

Seu ensinamento.

Isso durou um longo tempo

Até que o ofício viesse para nosso país.

O ofício chegou na Inglaterra

Quando reinava o rei Athelstan.” (rei dos anglo-saxões entre os anos de 924 e 927.)

Séculos antes, mas também mesmo depois, os então sabedores acreditavam que  a Terra  era o centro do universo e houve até quem dissesse que está tinha a forma de uma mesa e que aquele que ultrapassasse os seus extremos cairia  num abismo

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templo interior

eterno onde se cozinharia num mar fervente. Mas o Ser Humano evoluiu e com Euclides aprendeu,

“Pela graça do Cristo nos Céus Ele (Euclides) fundou as sete ciências. Gramática é a primeira, se não me engano. Dialética é a segunda, sejamos abençoados. Retórica é a terceira, não há contestação. Como lhes digo, Música é a quarta. Astronomia é a quinta, por minhas barbas. Aritmética é a sexta, não há nenhuma dúvida. Geometria, a sétima, encerra essa lista.

Feita de doçura e cortesia

E no Manuscrito de Cooke, um dos documentos maçónicos mais antigos, esta evolução do conhecimento surge sim descrita,

“E também deu ao homem inteligência e habilidade em várias coisas, e arte, por meio da qual podemos viajar por este mundo para assegurar a sobrevivência, para fazer muitas coisas para a Glória de Deus e também para o nosso benefício e paz de espírito. Se tivesse que enumerar todas essas coisas, levaria muito tempo para dizer e escrever. Mostrarei uma delas,

embora deixe outras: Isto é, a forma como começou a Ciência da Geometria, e quem foram os criadores dela e de outras Artes, conforme revelado na Bíblia e outras histórias.

E a Geometria é, como se diz, a medida da Terra: “Et sic dicitur a geoge pin Px ter a Latine e metrona quod est mensura. Unde Geometria i mensura terre vel Terrarum”, ou seja, que a Geometria é, como eu disse, Geo, terra, e metron, medida e, assim, o nome Geometria é composto, e se chama medida da Terra.

O Filho direto da linhagem de Adão, descendente das sete gerações de Adão antes do dilúvio, foi um homem chamado Lameth, que tinha duas mulheres; da primeira, Ada, teve dois filhos: um chamado Jabal e outro Jubal. O mais velho, Jubal, foi o primeiro fundador da Geometria e da Construção, e construiu casas e é chamado na Bíblia de “pater habitancium in tentoriis atque pastorum”, ou seja, o pai dos homens que vivem em tendas, ou seja, em casas. E foi professor de Caim e chefe de todos os seus trabalhadores quando construiu a Cidade de Enoch, que foi a primeira cidade jamais construída, e que Caim entregou a seu filho e a chamou Enoch. E agora é chamada Efraim.”

Mas é do absurdo  pensado “cientificamente” que começou a surgir,  contam-nos os Antigos Maçons,  um  conhecimento mais atual, ainda que nada nos pode garantir que não estamos, hoje, crendo em teorias absurdas perante um nosso conhecimento futuro, e por isso o Maçon deverá estar  em Aprendizagem permanente!

Há cerca de apenas 40  mil anos se privilegiou e desenvolveu nos homens a inteligência pelo que esta ainda tão infantil ciência dos homens, dificilmente pode assumir ter adquirido conhecimentos em graus suficientes para assumir  propostas definitivas.

Tempos houve,  também,   que pensadores, os  mais práticos  e os mais filósofos, eram alvo  da inveja dos  poderes político-religiosos de governantes e brutais senhores da guerra, algo que ainda não superamos pois ainda hoje a grandeza de uma Nação se mede, não pela sabedoria do seu povo e líderes, mas sim pelas batalhas vencidas e, pior, como ontem hoje ainda  os inimigos são mortos sem perdão.

A barbárie, se imperou lei feita nos primórdios da cultura humana, ainda hoje perdura entre manipulações mediáticas, sendo muito pouco

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crível aceitar-se linearmente que a natureza tenha gasto mais de quatro biliões de anos,  ou dez  segundo não poucos, para criar seres, que se dizem inteligentes, mas que queimam corpos no  altar de uma guerra, acreditando que o aroma dessas mortandades  seja agradável ao seu próprio Criador na certeza da incerteza da criação e do como ela surgiu.

Felizmente há mais testemunhos no que se refere ao comportamento social, moral e espiritual, vindo de alguns homens que, sob a ânsia  do Amor, geraram entre povos de diferentes regiões do planeta e em diferentes culturas e épocas outros percursos,  que educaram as nossas Almas,  como Zoroastro, Pitágoras, Buda, Jesus, Maomé, Baha’ u lav‘ ou personalidades já não proféticas,  António Vieira, o padre, ou como Garobaldi, ou Martì, Rosa Luxemburgo, Eleanor Roosevelt, Ghandi, Martin Luther King, Mandela, Savimbi ou Lula,  e  outros bem menos conhecidos  que nos dão a esperança de atingirmos um Mundo Melhor.

Assim, o acaso precisou de quinze biliões de anos para criar seres, cuja conclusão extrema é o parentesco fisiológico, estes seres humanos, semelhantes na sua anatomia, estranhamente diferentes na conduta; percursos  convergentes numa mesma estrada evolutiva.

Este aparente caos na formação das espécies pelo processo de seleção natural, esta lei desconhecida, intitulada de  acaso,  num comportamento humano, tão diverso e de uma força imensurável feita na  liberdade de vícios e virtudes, ignorâncias e sabedorias, empurra-nos para a existência de Um  a quem chamamos de Grande Arquiteto do Universo   (os cientistas hodiernos procuram-no na ‘partícula de Deus’, que se compõe também da evolução do  comportamento humano, e da aquisição de conhecimentos e conceitos morais, alicerces racionais que sustentam a inteligência, mas nele Indescritível.

A  liberdade que enforma a  inteligência,  aparentemente  só sobrevive em processos de abstração já  não o  resultado da natureza orgânica e sim de natureza esotérica, etérea, integrando o  pensamento, a  alma, o  espírito  a imaterialidade.

Na verdade, se o ser humano  tivesse em si o conhecimento, no seu todo, impreparado que está, perderia a beleza da curiosidade, a vontade do estudo, da investigação a partir das imensas hipó-

teses com que se confronta,  pelo que vale recordar que Hermes Trismegisto aconselhava a que “Se quiserdes saber o segredo desta força suprema, deveis separar a terra do fogo, o fino e subtil do espesso e grande, suavemente e com todo o cuidado. Sobe da terra ao céu e, dali, volta à terra para receber a força do que está em cima e do que está em baixo”, numa aprendizagem da infância ao aprendizado, deste à mestria do uso do conhecimento para a sua infinita evolução, como nos ensinam filosofias antigas e entre elas as Maçonarias que tantas vezes se perderam

Pois na verdade, se o homem tudo aprende, fá-lo em aprendizagem lenta pois o principio criador é, segundo não poucos,  lento e brando, mas Omnipotente; Incomensurável e Infinito, mas Omnipresente; misterioso e alegórico, mas Omnisciente.

Deus enfim!

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Ponto de grande preocupação são os mercados de animais selvagens na China. Os animais são mantidos em condições péssimas, sem qualquer preocupação com o seu bem-estar e a higiene e são abatidos em público, correndo o seu sangue e outros fluidos para cima de outros animais. Além de surtos de SARS, o surto de Covid começou num mercado destes.

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Animais Nossos Amigos, Os Direitos dos Animais

Por Paulo Réfega

As leis que visam proteger os animais são mais antigas do que se pode pensar: no sec. XII, no reinado de Genghis Khan, na Mongólia, uma lei visava proteger a vida selvagem na época de acasalamento, entre Março e Outubro.

A 28 de Novembro de 1875, um grupo de Juízes Desembargadores, revoltados pelo modo como os animais eram tratados em Portugal, fundaram a primeira Associação de Proteção Animal do nosso país.

Os direitos dos animais é um tema que tem vindo a adquirir importância, à medida que os humanos se apercebem que os animais não são “coisas”, não são objectos inanimados mas sim seres inteligentes e com sentimentos.

Primeiro que tudo, há que distinguir entre direitos dos aninais e o bem-estar animal.

Direitos dos animais: Actualmente, e principalmente em correntes anglo-saxónicas, o movimento

dos direitos dos animais tenta que o público se aperceba que os animais são seres emocionais, sensíveis e inteligentes que merecem respeito e dignidade. Os defensores dos direitos dos animais querem distinguir animais dos objectos inanimados, uma vez que são considerados como tal pela lei e pela indústria. Direitos dos animais são princípios morais baseados na crença que os animais não-humanos devem poder viver como desejam, sem estar sujeitos aos desejos dos seres humanos. Para este movimento, o uso de animais por humanos, seja como animais de estimação, alimentação ou experiências equivale a exploração animal. Os direitos dos animais são também violados pela destruição pelos humanos dos seus habitats naturais, uma vez que impedem os animais de viver a sua vida como bem entenderem. Para os defensores dos direitos dos animais, deveriam ser implementadas as seguintes medidas:

Animais não podem ser caçados;

Animais não podem ser usados como comida;

Animais não podem ser criados;

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O habitat dos animais deve ser preservado para eles poderem viver a sua vida conforme escolherem.

Esta corrente defende que os humanos devem ser vegans ou, no mínimo, vegetarianos.

Bem-estar animal: Tem a ver com as condições de vida de animais mantidos em cativeiro ou, de algum modo, sobe controle humano. Este sentido, bem-estar animal é sinónimo de controle de animais pelos humanos.

Como filosofia para regulamentos e leis, o bem-estar animal tenta mitigar o sofrimento de animais e exigir um mínimo de condições de tratamento e de vida. Os padrões de bem-estar devam ser aplicados a laboratórios, lojas de animais, explorações animais, criação de cavalos e espectáculos. Se bem que estes padrões difiram com base no uso dos aninais e as suas espécies, normalmente, os defensores do bem-estar animal referem cinco princípios ou liberdades que devem orientar os animais controlados por humanos:

Proteção contra desconforto providenciando abrigos adequados;

Proteção contra a dor, ferimentos ou doenças;

Proteção contra o stress e o medo;

Proteção contra a sede e a fome;

Liberdade para os animais terem comportamentos naturais.

Relacionado com estes princípios, há também os problemas mais importantes para o bem-estar animal que se pretendem combater:

Animais de estimação abandonados – Animais de estimação abandonados pelos donos, seja nas ruas ou num abrigo. Em muitos países este abandono é considerado um crime.

Testes com animais – É o uso de animais em experiências que tentam controlar as variáveis que afectam o sistema biológico ou comportamental em estudo. A tendência tem sido cada vez mais de evitar testes que causem stress ou sofrimento a animais, sendo a vivissecção um bom exemplo.

Desportos de sangue – São desportos ou espectáculos que envolvem derramamento de sangue, nomeadamente desportos de combate como lutas de gatos, lutas de cães e algumas formas de caça e de pesca. Estes desportos são proibidos em muitos países.

Gatos ferais – São gatos domésticos sem dono, que vivem ao ar livre e evitam contacto humano, não aceitando ser controlados ou tocados. Estes gatos são devastadores para a vida selvagem e considerados uma das piores espécies invasivas.

Caça – É a prática humana de capturar, perseguir e matar animais selvagens. As razões mais comuns para a caça é obter produtos animais úteis, como peles e obter comida. Contudo a caça excessiva contribui para e extinção ou colocação em perigo de extinção de muitas espécies e os defensores do bem-estar animal vêm a caça com um desporto de sangue desnecessário e perverso.

Procedimentos invasivos – Muitos procedimentos feitos em animais domésticos são mais invasivos do que alterações cosméticas, mas são diferentes de procedimentos veterinários que são feitos exclusivamente por razões de saúde. Os veterinários tendem a chamar a estes procedimentos como mutilantes e incluem castração, corte de orelhas, corte de caudas, remoção de dentes, etc.

Enriquecimento comportamental – É o princípio que visa melhorar a qualidade de vida de animais em cativeiro, dando-lhes estímulos ambientais necessários para o seu bem-estar físico e psicológico.

Crueldade contra os animais – É a imposição, por acção ou por omissão, de sofrimento ou dano a animais. Os países têm visões legais diversas de crueldade contra

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animais. Assim, algumas leis regulam o abate de animais para roupa, comida ou outros produtos e outras regulam a manutenção de animais para educação, entretenimento, de companhia ou para investigação.

Caça ilegal – É a caça ou captura ilegal de animais selvagens, muitas vezes associada a direitos de uso de terras. As consequências são a redução de populações de animais e possível extinção e o aparecimento de doenças zoóticas causada pela transmissão de cadeias de retrovírus. O surto de SARS em Hong Kong foi atribuído ao contacto e consumo da carne de texugos, guaxinins e outros pequenos carnívoros. O surto de Ébola no Gabão e na bacia do Congo nos anos 90 tem sido associado com a chacina de macacos para consumo da sua carne.

Caça de baleias – As baleias foram e são caçadas pelos seus produtos, nomeadamente carne e gordura, que pode ser transformado num tipo de óleo muito usado na Revolução Industrial. Os seus números diminuíram drasticamente e estiveram à beira da extinção, tendo muito países banido a caça à baleia a partir de 1969, determinado o término da caça a nível industrial no fim dos anos 80. Apesar de tudo há ainda países que apoiam e praticam a caça à baleia, como o Japão, Islândia e Noruega.

Sobrepopulação de animais domésticos – É o excesso de animais domésticos, tias como cães, gatos e animais exóticos. Só nos Estados Unidos 6 a 8 milhões

de animais são entregues a abrigos todos os anos, e cerca de 3 a 4 milhões são eutanasiados, incluindo cerca de 2,7 milhões considerados saudáveis e passíveis de adopção. Esta sobrepopulação é um problema financeiro grave, pois o custo de capturar e eutanasiar estes animais é muito alto e representa também um risco ecológico, pois os animais de estimação lançados na natureza causam desequilíbrios graves no ecossistema. Em Portugal no ano de 2021 o abandono de aninais aumentou 38,6% e estima-se que por dia são abandonados 119 animais.

Criação intensiva de aninais de estimação –Normalmente para cachorros, é a criação intensiva com gravidez rápida e com poucas condições. São animais criados apenas para lucro, sem condições nem tratamento adequado. Durante a pandemia de Covid houve um aumento de procura de animais de companhia e descobriu-se que as máfias de leste da Europa estavam a dedicar-se à criação intensiva de cães e gatos.

Legislação

As leis que visam proteger os animais são mais antigas do que se pode pensar: no Sec. XII, no reinado de Genghis Khan na Mongólia uma lei visava proteger a vida selvagem na época de acasalamento, entre Março e Outubro.

No mundo ocidental, legislação a favor dos animais foi implementada no Parlamento irlandês em 1635 e na Colónia de Massachusetts em 1641.

Em 1776 o clérigo inglês Humphrey Primatt publicou um dos primeiros livros apoiando o bem-estar animal, livro esse que teve bastante repercussão no público em geral.

Em 1822, foi aprovada no Parlamento Britânico uma lei elaborada por Richard Martin, oferecendo proteção contra crueldade aos cavalos, gado, e carneiros. A partir daí um movimento de defesa dos animais ganhou grande importância em Inglaterra. Richard Martin foi um dos fundadores da primeira organização de defesa dos animais, a Society for the Prevention of Cruelty to Animals, ou (SPCA), em 1824.

Em 1837, o ministro alemão Albert Knapp

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fundou a primeira sociedade de proteção dos animais na Alemanha.

A 28 de Novembro de 1875, um grupo de juízes desembargadores, revoltados pelo modo como os animais eram tratados em Portugal, fundaram a primeira Associação de Proteção Animal do nosso país.

Uma das primeiras leis nacionais que protegeram animais foi a “Cruelty to Animals Act 1835” do Reino Unido, seguida “Protection of Animals Act 1911”.

Na India, foi publicada a “Prevention of Cruelty to Animals Act, 1960”.

Nos Estados Unidos só em 1966 houve uma lei nacional que protegia animais, a “Animal Welfare Act of 1966”, se bem que alguns Estados tenham aprovados leis anti-crueldade entre 1828 e 1898, além da referido supra na Colónia de Massachussets. Se bem que esta lei é a mais abrangente, a nível de proteção de animais a nível federal, a sua aplicação não é muito ampla, uma vez que muitas espécies são excluídas, tais como animais de quinta. Estabelece contudo algumas orientações básicas para a manipulação, transporte e venda de gatos, cães, coelhos, hámsteres, porquinhos da india e primatas não

humanos. Protege também bem-estar psicológico dos animais usados em experiências laboratoriais e proíbe práticas violentas como lutas de galos e lutas de cães. Todavia, esta lei não reconhece a autonomia e os direitos dos animais, nem sequer reconhecendo que possam sofrer ou sentir dor, mas dá alguma proteção básica aos animais.

Em 2021 a Câmara dos Comuns do Reino Unido aprovou a “Animal Sentience Bill”. De acordo com as últimas notícias, esta lei foi aprovada pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos Comuns e obteve aprovação Real em Maio de 2022. Esta lei reconhece legalmente que os animais são seres com sentimentos e que merecem um tratamento digno às mãos dos humanos, reconhecendo a sua capacidade para sentir e distinguindo-os de objectos inanimados.

Contudo, estas duas peças legislativas não conferem aos aninais a total autonomia que, para os defensores dos direitos dos animais, os animais não-humanos devem ter.

Também a União Europeia tem seguido esta tendência e as actividades da Comissão Europeia

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reconhecem que os animais são seres com sentimentos. Pretende-se que os animais não tenham de suportar sofrimento e dores evitáveis e obriga os tratadores ou donos de animais a respeitarem requerimentos mínimos de bem-estar. A legislação europeia no que toca a bem-estar animal é corrigida regularmente com base em alterações culturais ou novas provas científicas e assim em 2009 foi aprovada legislação visando diminuir o sofrimento durante o abate de animais e em 1 de Janeiro de 2012, foi publicada a Directiva 1999/74/EC que proibiu as gaiolas para galinhas poedeiras.

Conforme referido, esta alteração de mentalidade relativamente ao bem-estar e direitos dos animais tem por base estudos científicos que cada vez mais concluíram que os animais têm sentimentos e alguma consciência e são perfeitamente capazes de sofrer, tanto física como psicologicamente e sentir dor.

Portugal não tem sido alheio a esta evolução de mentalidade e, além das Directivas e legislação europeia que são obrigatoriamente aplicadas no nosso país, tem publicado legislação visando

proteger os animais. É de salientar a Lei n.º 8/2017 de 3 de Março que dá aos animais o estatuto de seres vivos dotados de sensibilidade e os torna objetos de proteção jurídica em virtude da sua natureza. Houve uma notável alteração do regime dos animais: até à publicação desta lei os animais eram concebidos como meras coisas móveis e as suas crias eram apenas frutos naturais e a sua importância era, assim, essencialmente económica, de propriedade e posse, típica de uma sociedade agrícola. Os animais de companhia merecem particular atenção com um regime de proteção detalhado cobrindo as várias dimensões da sua existência como alojamento, transporte, cuidados de saúde permissão de detenção, alimentação etc. enquanto o Código Penal pune o abandono e maus tratos de animais de companhia. Legislação semelhante existe em quase todos os países da Europa e no mundo ocidental.

Pelo exposto, é fácil concluir que o direito e o bem-estar animal está muito mais desenvolvido no Ocidente. Claro que é fácil ter preocupações ético-filosóficas quando as necessidades básicas

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estão satisfeitas. Quando alguém não sabe quando será a sua próxima refeição tem outras preocupações mais importantes. Mesmo assim há países em vias de desenvolvimento que têm leis visando proteger os animais e as suas populações já têm algumas preocupações nesse sentido, como a Tailândia e a India. Contudo, a nível de maus tratos a animais e falta de consciência da população relativamente aos animais, o dedo tem de ser firmemente apontado à China e à diáspora chinesa e a alguns países do sudoeste asiático. Acredita-se que partes de alguns animais, tais como rinocerontes e tigres têm propriedades medicinais, curam o cancro e combatem a impotência sexual sem que haja quaisquer provas científicas que assim seja. Essas partes são vendidas no mercado negro, principalmente na China e no Vietname. O uso de partes do corpo de espécies protegidas, tais como chifres de rinocerontes, escamas de pangolins, cavalos marinhos e ossos e dentes de tigre resultou em caça ilegal e venda desses produtos no mercado negro. Crenças nas qualidades de partes de tigres na China e em países asiáticos são tão profundas que leis protegendo espécies criticamente ameaçadas como o tigre de

Sumatra não são cumpridas. As populações de rinocerontes estão quase extintas devido à procura na Ásia para artigos de luxo e para fins medicinais e no Médio Oriente para decoração.

A China é também um grande consumidor de marfim para objectos de arte e joalharia, o que causa caça ilegal e venda também ilegal de várias espécies animais.

Outro ponto de grande preocupação são os mercados de animais selvagens na China. Os animais são mantidos em condições péssimas sem qualquer preocupação com o seu bem-estar e a higiene e são abatidos em público, correndo o seu sangue e outros fluidos para cima de outros animais. Além do surto de SARS já referido, o surto de Covid começou num mercado destes.

Mas há outros países que têm práticas criticáveis: o Japão, que é considerado e se considera extremamente civilizado, continua a caçar baleias e todos os anos há um massacre de golfinhos na cidade de Taiji sem qualquer utilidade percetível.

Apesar de soar como um chavão, não deixa de ser verdade: não obstante os progressos, ainda há um longo caminho a percorrer para o

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bem-estar animal.

É fácil ver que estas duas filosofias, os direitos dos animais e o bem-estar animal, têm muitos pontos em comum e poder-se-á dizer até que têm um fim comum, se bem que a filosofia dos direitos dos animais seja mais radical Este modesto trabalho não pretende ser radical nem impor comportamentos, muito menos impor escolhas alimentares e foca-se mais no bem-estar animal, apesar do título. Pretende apenas chamar a atenção para o tratamento dos animais que, na opinião do autor, merecem ser respeitados e tratados como seres vivos, com sentimentos e emoções. Seria tentado a escrever que merecem um tratamento humano, mas tendo em conta a maneira como os humanos tratam os outros humanos e os animais ao longo da história, diria que os animais merecem sem qualquer dúvida um tratamento digno e respeitador.

Visando os Maçons e o seu melhoramento constante como Homens, o tratamento digno dos animais faz sem qualquer dúvida parte desse melhoramento. Não podemos ser bons Homens se não tratarmos bem os animais.

Visando os Maçons e o seu melhoramento constante como Homens, o tratamento digno dos animais faz sem qualquer dúvida parte desse melhoramento. Não podemos ser bons Homens se não tratarmos bem os animais.

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ÉTICA (de Bento Espinosa)

Um livro para ler… SEMPRE!

Não é fácil entender a filosofia de Bento Espinosa, de tal modo que muitos outros filósofos dizem, de uma forma geral, que existem dois tipos de filosofia de que não é possível fugir ou ignorar: a que se estuda e a de Bento Espinosa.

E não se trata de uma afirmação elogiosa ou passível de discussão, admitindo – se que, por si própria, é uma projeção infindável da realidade proveniente da superior vontade e da única verdade que Espinosa considera estar em Deus.

O livro ÉTICA deve, portanto, fazer parte de nós, enquanto seres humanos estudiosos da Verdade, já que é essa a procura mais determinada que se faz ao longo do tempo de vida, reconhecida como tal, tornando – se necessariamente um livro de consulta e de estudo, de pensamento e de reflexão profunda, já que nele Espinosa propõe – nos duas conceções universais: uma que ele considera produto da imaginação e outra fundamentada na razão.

Ou seja: o que está em causa é a conceção que se faz do Universo.

Uma aponta claramente para noções subjectivas, como a teoria do bem e do mal; do perfeito e do imperfeito; do bonito e do feio; de Deus e do Diabo.

A outra é necessariamente racional e aponta para um Universo criado por uma vontade livre e transcendente, obviamente inteligível, que é a vontade de Deus.

Nesta conceção do Universo, tudo o que existe e acontece, é claro e natural que seja por virtude da natureza transcendental de Deus, enquanto entidade criadora, não antropomórfica, alicerçada em valores desconhecidos transcendentais.

Por outras palavras e tentando raciocinar de

uma forma (dita) mais percetível, Bento Espinosa diz: -Qualquer ideia de um corpo qualquer, ou de uma coisa singular existente em ato, envolve necessariamente a essência eterna e infinita de Deus.

Sobre o tempo de duração do corpo humano e considerando a pluralidade dos casos e dos axiomas, Bento Espinosa tem esta conceção: - A duração do nosso Corpo não depende da sua essência, nem também da natureza absoluta de Deus. Ele é determinado a existir e a agir por causas que foram também determinadas por outras a existir e a agir, de uma certa e determinada maneira e estas, de novo, por outras, e assim até ao infinito.

Isto significa que a duração do nosso Corpo depende de uma sucessão de causas, mas significa igualmente estar absolutamente vedado a qualquer pessoa determinar o seu tempo de duração, o que reverte para Deus a solução do problema que reside no Universo da inteligibilidade.

É um livro, de alguma forma, hermético, mas profundamente racional que abre caminhos novos à consciência humana e remete – nos para uma plataforma de conhecimento que é, por si própria, um alimento para a vida, um entendimento da razão e uma forma para que não se faça do livre arbítrio uma arma de arremesso, mas tão somente um poderoso argumento para a descoberta da Verdade! Isto por ser vedado à mente humana pensar só por si.

A versão que possuo (e leio amiúde) da ÉTICA, de Bento Espinosa, tem uma excelente introdução explicativa e notas de Joaquim de Carvalho e é uma edição de 1992 da Relógio D ´Água.

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13 de Julho de 1985 uma data memorável a recordar. Live Aid, o concerto de beneficência realizado simultaneamente no Estádio de Wembley, em Londres, e no Estádio JFK, na Filadélfia. Organizado por Bob Geldof, e Midge Ure, o evento teve a participação de cerca de 1,5 bilhões de telespectadores e angariou milhões de dólares para ajudar no grave problema de fome na Etiópia.

Recordando o Live Aid por Vasco

Anos de seca, guerra civil e tentativas fracassadas de controlo governamental do mercado de cerais no início dos anos 80 levaram a uma tragédia de proporções catastróficas que ameaçou centenas de milhares de vidas na Etiópia.

Depois de ter visto uma reportagem na televisão sobre este drama em 1984 que eu recordo com amargura e lágrimas nos olhos ao ver as cruéis imagens de crianças a padecerem e a morrerem de fome, Bob Geldof escreveu a letra de “Do They Know It’s Christmas?” e Ure criou a melodia da música. Geldof recrutou alguns dos maiores nomes da

Lima

new wave britânica para contribuírem com as vozes. O single, foi gravado em novembro de 1984 e comercializado com o nome Band Aid, vendeu mais de três milhões de cópias e inspirou projetos beneficentes semelhantes.

O mais notável foi o USA for Africa de Quincy Jones, que resultou na gravação de “We Are the World” em janeiro de 1985.

O sucesso de Band Aid e USA for Africa inspirou Geldof e Ure na organização de um evento de angariação de fundos que reuniu dezenas de artistas numa maratona de 16 horas de música ao vivo.

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Oz for Africa, um evento realizado em Sydney, deveria ter feito parte da transmissão simultânea do Live Aid, mas as diferenças de fuso horário impossibilitaram essa sincronização.

As imagens de Oz for Africa, em conjunto com as performances gravadas em mais de meia dúzia de cidades ao redor do mundo, acabaram sendo incorporadas na principal transmissão via satélite. Para garantir a continuidade da transmissão, os artistas não tiveram mais de 20 minutos de tempo de palco e as necessidades de equipamento foram mantidas em mínimos absolutos.

Com menos de um mês de preparação, Geldof garantiu a contribuição de uma impressionante variedade de artistas. Os grupos que se reuniram para o evento incluíram The Who, Black Sabbath e Crosby, Stills, Nash e Young. Além disso, os membros sobreviventes dos Led Zeppelin reuniram-se na Filadélfia, apoiados por Phil Collins na bateria. Collins, que tinha estado em Wembley no início do dia, cruzou o Atlântico no Concorde sendo o único artista a aparecer nos dois palcos do Live Aid.

Talvez as apresentações mais notáveis e para quem se lembra tenham pertencido às universais bandas de Rock - U2 e Queen - O espetáculo terminou com as interpretações de “Do They Know It’s Christmas?” em Londres e “We Are the World” em Filadélfia.

Fica hoje a memória, para não esquecermos que os problemas catastróficos de guerra, da seca e da fome estão presentes no mundo.

Nunca as palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade fizeram no passado e fazem sentido nos dias de hoje.

É Hora de Dizer Basta.

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Irene Fargo A Mulher com Voz de Anjo

No dia 1 de Julho de 2022 morreu Irene Fargo, uma das maiores cantoras italianas, atriz de teatro e figura imprescindível da televisão.

Irene Fargo era o nome artístico de Flavia Pozzaglio, nascida no dia 1 de Novembro de 1962 em Palazzolo Su ´ll Oglio, Brescia, que cedo começou a revelar dotes vocais invulgares. Aos onze anos entrou para o Coro Polifónico de Chiari ao mesmo tempo que prosseguia os seus estudos vocais.

Foi um grande êxito nos Festivais de San Remo, em 1991 e 1992, com os temas “Canzoni la donna de Ibsen” e “Come uma Turandot”.

Fez ópera e gravou onze álbuns com enorme sucesso.

A certa altura, a sua carreira artística foi alta-

mente prejudicada, e mesmo interrompida, por sofrer de violência doméstica. Apesar de tudo, nunca abandonou a sua filha, tendo sido apoiada pelo seu irmão Nando (que esteve na nossa última Sessão de Grande Loja, apesar da enorme dor que representou a perda de Flavia), regressando às actuações em público, sobretudo em festas particulares, tentando recompor – se de um sofrimento familiar prolongado.

Foi chamada ao Oriente Eterno no dia 1 de Julho de 2022, vítima (talvez) desse doloroso passado de violência, que deixou marcas profundas no seu corpo e no seu espírito.

A OMI está de luto.

Apresentamos à família, especialmente a seu irmão, as nossas condolências.

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IN MEMORIAM

One more time... por XicoFran

. 66 . CARTOON

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