Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 20 - janeiro/2021

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ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS EDIÇÃO 20

Nº. 20

Janeiro/2021

A n s e l mo V a s c on cellos e s ua s m e m ór i as p aulist a na s


EDITORIAL Todo mês de janeiro dedicamos a revista ao aniversário da cidade de São Paulo. Neste período difícil que estamos vivendo devido à pandemia da Covid-19, a melhor notícia, ou melhor, presente que recebemos é a chegada da

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Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: versejandocomimagens@gmail.com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo - MTB 65.363/SP. Depto. Marketing: Ana Jalloul (11) 98025-7850 Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo Cantero. Periodicidade: mensal. Formato: digital. Capa: Anselmo Vaconcellos. Edição 20 - Nº 20 - Ano II - Jan./2021. A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos. Contatos www.editoramatarazzo.com.br Facebook: @editoramatarazzosp Instagram: @editoramatarazzo

vacina, assunto focalizado pelo jornalista Geraldo Nunes que abre esta edição. Seguindo, temos uma crônica do ator e escritor Anselmo Vasconcellos que relembra seu encontro com o comediante Ronald Golias, em Memórias Paulistanas. A atriz Nicette Bruno nos deixou em dezembro passado, durante sua trajetória artística viveu grandes momentos na Pauliceia. Recordando a grande artista, temos a participação do ator e escritor Izak Dahora, e uma matéria de Thais Matarazzo. Recordaremos dois atores, já falecidos, muito queridos do público paulistano, Chiquinho Brandão e Flávio Guarnieri. Outra personalidade que nos deixou, no dia 1º de janeiro foi o Padre Ticão, liderança na Zona Leste da cidade. Recebe aqui as homenagens de Ricardo Cardoso de Ricardo H. Baba A professora Noadias Novaes, de Itapipoca, CE, estreia uma coluna abordando o tema inclusão. Imperdível! Na coluna Direito, a dra. Gisele Luccas traz um artigo sobre a diferença entre racismo e injúria racial. Contos, poemas, crônicas e matérias com nossos colunistas e colaboradores: Ane Cfick, Aparecida de Souza Castro, Atilio de Souza Cirando, Bel Gonçalves, Camila Giudice, Cristina Costa, Fernanda Souza, Luiz Negrão, Marcello Laranja, Marcinha Costa, Nazareth Ferrari, Newton Nazareth, Ricardo Cardoso, Ricardo Hidemi Baba, Sandra Regina Alves, Thais Matarazzo.

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EXPEDIENTE

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SUMÁRIO

CONTOS Comboio das 21:37h, 49 Regina Brito

Editorial, 2 O melhor presente de aniversário que São Paulo já recebeu em sua história, 4 Geraldo Nunes Haverá sempre são paulo, 10 anselmo vasconcellos

Nicette

será sempre uma inspiração e

uma saudade,

Izak Dahora

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Eficiência Em Evidência, Não Importa a Deficiência, 31 Noadias Novaes “A Bíblia na mão, no coração e na ação” - Padre Ticão - Semeador da Esperança, 35 Ricardo Cardoso Padre Ticão, 37 Ricardo Hidemi Baba Encontros Memoráveis temporânea, 38 Por Marcello Laranja

na loja

Con-

A conquista pela simpatia, 41 Atilio de Souza Ciraudo Nicette Bruno

e seu empreendedoris-

São Paulo nos anos 1950, 19 AEE na Quarentena, 34 lembranças, teatro e fotografias: uma homenagem a chiquinho brandão e flávio guarnieri, 43 Thais Matarazzo mo no teatro de

Botafogo / Coca-Cola, 50 Newton Nazareth Lendo e Aprendendo, 53 Nazareth Ferrari POEMAS São Paulo, trabalho teto e afeto, 7 Aparecida de Souza Castro Minha São Paulo, 15 Camila Giudice Assumindo a Re-Vida - Recomeçar, 30 Sandra Regina Alves Reflexo, 48 Marcinha Costa Quando Olhamos os Lírios do Campo C ircuito no C entro Histórico, 51 Luiz N egrão C onversa com A uta trelas , 52 Fernanda Luiza

de

S ouza - Es -

São Paulo, 51 Elisabete Gonçalves (Bel Gonçalves) P oema , 56 Josiane Feliciano S teck C aitano (A ne C fick) São Paulo’s, 57 Cristina Costa Qual

DIREITO a diferença entre

injúria racial ”?,

58

D ra . Gisele Luccas

“ racismo

e


São Paulo

de todos os tempos

Geraldo Nunes Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

S ão Paulo

já recebeu em sua história

A cidade de São Paulo lembra neste 25 de janeiro os seus 467 anos de fundação, ainda sob o trauma das mortes causadas pelo coronavírus e muitas pessoas ainda hospitalizadas por causa da covid-19. Mas agora, com o início da vacinação, se abre a possibilidade de melhoria nos ânimos e a perspectiva da situação se normalizar a partir da metade do ano. Precisamos ser otimistas, afinal não poderia haver melhor presente de aniversário para a cidade do que essa vacina para a população depois das 15.705 mortes pela covid somente na capital paulista,

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aniversário que

conforme balanço final da Secretaria Municipal de Saúde, relativo ao ano de 2020. Em termos comparativos, essa quantidade significa o triplo de vítimas da gripe espanhola de 1918, quando 5.331 pessoas morreram no município.

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melhor presente de

Gripe Espanhola, 1918

Há 102 anos a cidade precisou se resolver sozinha porque não houve nenhuma vacina. Agora a situação passou a ser diferente com o plano de se vacinar 9 milhões de pessoas durante o 1º ciclo de aplicações. A CoronaVac precisa ser oferecida em duas doses, com intervalo de duas semanas entre elas, ou seja,

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O

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Merece elogios o empenho do Instituto Butantan na comprovação de eficácia da vacina dentro dos padrões da Organização Mundial de Saúde – OMS, além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa e o esforço das autoridades em trazê-la para o país. Após a imunização o desafio para São Paulo será o de se recuperar economicamente. Neste sentido, acreditamos na disposição ao trabalho, tão característica do paulistano. São Paulo continua sendo a locomotiva do Brasil, seus números correspondem aos de uma nação. Somente na capital, são 12,3 milhões de habitantes, quantidade

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Instituto Butantan

superior à de países como Israel, Grécia ou Portugal. Dentro do nosso perímetro urbano a zona leste é a região mais habitada, com 4 milhões de moradores quantidade acima do nosso vizinho Uruguai. A maior Bolsa de Valores da América Latina, a B3, está em São Paulo. No ano de 2020 o total de investidores cresceu 92,1% e passou de 1.681.033, em dezembro de 2019, para 3.229.318 neste mesmo mês do ano passado. Um dos motivos para tamanho crescimento está ligado à diminuição da atividade econômica causada pelo isolamento social. Pode parecer um paradoxo, mas tal situação levou muitas pessoas físicas a investirem na bolsa para não deixar seu dinheiro parado. Com a volta das atividades, acreditamos que muitos desses investidores utilizarão seus lucros na reabertura de suas empresas, colocando de novo a economia nos eixos. As perspectivas para isso são favoráveis porque o Ibovespa

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18 milhões de doses para a etapa inicial. Além das pessoas com mais de 60 anos, serão atendidos em primeiro lugar os profissionais de saúde, indígenas e quilombolas.

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Mais para frente, aí sim, haverá motivos para se comemorar o aniversário de São Paulo, quem sabe no mês de julho. Em 1954, quando se festejou o quarto centenário de fundação da cidade de São Paulo, boa parte das solenidades, inclusive a “chuva de prata”, aconteceu no dia 9 de julho, data comemorativa da Revolução Constitucionalista de 1932 de grande significado para os paulistas. Façamos assim novamente e que até lá todos estejam vacinados e fortalecidos para sair às ruas e dizer: “Viva São Paulo!”

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Símbolo IV Centenário

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de segurança contra a disseminação do vírus precisam ser mantidos, inclusive o distanciamento social. Não se pode baixar a guarda em relação ao coronavírus e para isso precisaremos ter ainda um pouco mais de paciência. Nada de sair às ruas ou visitar lugares sem necessidade, principalmente se você ainda não tomou a vacina.

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movimentou em 2020, cerca de R$ 200 bilhões em ações. Todo esse dinheiro garantiu mesmo durante o auge da crise a sobrevivência de inúmeras empresas de pequeno, médio e grande porte. Óbvio que apareceram dificuldades e muitos empresários ainda não fecharam suas contas em dia, mas com empenho, disciplina nos gastos e bons financiamentos, teremos um 2021 melhor que o ano passado. Aos que ainda estão pessimistas na questão dos negócios, vale lembrar que os maiores prejuízos foram os de ordem familiar pela perda dos entes queridos para a pandemia; pais, mães, filhos, irmãos, avós. Quem não passou por isso deve dar graças a Deus. Nos primeiros dias deste mês de janeiro - 2021, o país ultrapassou a triste marca de 200 mil mortes e, na capital paulista, inúmeras famílias continuam de luto. Não existe clima para se festejar o aniversário da cidade nesta situação. Aos que perderam seus familiares só se pode dedicar nesta hora, a solidariedade e as orações para que apesar da tristeza não se perca o entusiasmo pela vida. Precisamos acreditar na ciência e na eficácia da vacina, instrumentos capazes de fazer a pandemia arredar pé. Ao mesmo tempo não podemos nos descuidar. A doença ainda está presente e todos os procedimentos

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São Paulo, trabalho teto e afeto Série Acróstico

Acolhidos em São Paulo meus pais me fizeram nascer... O lugar em que me fiz, São Paulo, meu teto. Paulista, uma avenida, eu, e o teatro na pista. Arquitetura, engenharia, profissão e diversidade. Uma formação de pai para filho no valor humano. Literatura, teatro, cinema, arte, universidade. O estado do sim, do não, do são e do insano.

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São Paulo, cidade do trabalho e afeto

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Ilustração: Leonardo de Sousa Castro

Aparecida de Sousa Castro

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Foto: acervo pessoal de Anselmo Vasconcellos


Memórias paulistanas

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No cinema já atuou em mais de 50 filmes, tendo estreado em 1978, no longa Se Segura, Malandro! Um dos seus trabalhos de destaque foi a personagem Eloína em A República dos Assassinos (1979), Miguel Faria Jr. Na TV Globo atuou em novelas, minisséries, seriados, programas humorísticos, integrou o elenco do Zorra Total, no qual interpretou vários personagens. Anselmo tem uma carreira extensa de trabalhos fantásticos que fica difícil enumerar todos. Vamos à crônica!

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Nesta edição comemorativa ao aniversário da cidade de São Paulo, quem ganha um presentão somos nós da revista EBC. Sim! Trazemos a seguir uma crônica do genial ator eclético, comediante, diretor, roteirista e escritor Anselmo Vasconcellos. O artista divide conosco a lembrança da ocasião em que conheceu Ronald Golias, de quem é fã. Trabalharam juntos no programa Bronco, na TV Bandeirantes, na década de 1980. No elenco também desfilavam artistas pioneiros da televisão nacional: Nair Bello, Renata Fronzi, Ivon Curi, Agnaldo Rayol, Laerte Marrone, entre outros. Anselmo é versátil: possuí trabalhos destacados na TV, no cinema e no teatro. Por três décadas foi professor da mais antiga escola de teatro da América Latina, a Martins Pena. Promove workshops com técnicas de interpretação para televisão e teatro em diversas cidades brasileiras e alunos de todas as idades. Recebeu diversos prêmios na sua trajetória artística.

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Anselmo Vasconcellos

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Anselmo Vasconcellos Na cabine do Trem de Prata, deitado vejo no janelão a paisagem deslizar lenta e sonora como uma cadencia antiga de samba. Rumo a São Paulo que desconheço de respirar a imensa confusão de ruas, avenidas e tantos concretos desconexos para quem nada sabe de suas modernidades, seus vestígios históricos do passado colonial. Vou conversando com o genial Augusto César Vanucci no vagão restaurante do trem, temos o mesmo destino. Vou trabalhar com o maior clown moderno. Ronald Golias vai voltar à cena e estou na sua trupe artística. Vanucci é o diretor geral da Tevê Bandeirantes e alinha para mim seus planos. Meus olhos brilham, ele me diz. Já na varanda do quase clássico Hotel São Raphael, no Largo do Arouche, contemplo as famosas avenidas, canções que já ouvi e que agora leio na paisagem. Logo um carro me conduz cortando a cidade até o Morum-

encontro os maravilhosos artistas. Nair Bello, Renata Fronzi, Laerte Morroni, Tácito Rocha, Walter Breda, Sandra Anemberg e Adriano Stuart me recebem com carinhosa satisfação. Que luxo, penso. O Golias me abraça com ternura e estou diante do meu ídolo da adolescência. Meu tutor de transgressões, meu vagabundo sonhador da comédia icônica Família Trapo. Ele me enaltece com seu convite para ser o amigo do Carlo Bronco Dinossauro. Que mais o menino Anselmo pode querer? Quero, digo ao Golias, que você abra esta caderneta escolar na página 22 e leia o que está escrito, em voz alta, por favor. Entrego o documento roto para ele que perplexo com o pedido inusitado, me atende. O aluno Anselmo Carneiro de Almeida Vasconcellos está suspenso por 3 dias por insistir em imitar o comediante Ronald Golias em sala de aula causando tumulto entre os alunos, prejudicando o bom andamento das aulas. Golias me olha em silêncio e faz no seu rosto aquela máscara irônica, debochada,

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S ão Paulo bi. Chego na sede da Band e lá

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sempre

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H averá

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Naquela minha primeira noite em São Paulo com as pernas trêmulas me despedi do gigante Golias e ele me disse: É o começo de uma bela amizade. *****

Foi uma enorme honra ter a participação deste grande artista brasileiro em nossa revista. Valeu! Em uma oportunidade futura desejamos trazer para os nossos leitores uma entrevista com Anselmo Vasconcellos focalizando o seu trabalho literário.

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marcante de seu personagem Bronco. Eu, imediatamente o imito replicando em mim a careta pontual. Cumplicidade explícita. À noite vamos jantar no Restaurante tradicional da boemia paulista, O Parreirinha. Encontro artistas notáveis. Lima Duarte, Paulinho da Viola, Plínio Marcos com seus livros à venda e vários profissionais da televisão e do cinema estão por ali no convívio etílico que vou aprendendo a beber e farei isso por anos, bons anos de bem colhida safra.

Ronald Golias Foto: reprodução

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Fotos: acervo pessoal de Anselmo Vasconcellos


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Golias, quem não se recorda das suas atuações na televisão e no cinema brasileiro? Nos últimos anos de sua carreira, Golias interpretava o personagem Pacífico em programas no SBT. Transmitia alegria, simpatia e bom-humor aos telespectadores. Ator e comediante de grande popularidade, seu verdadeiro nome é José Ronald Golias, nascido em São Carlos, interior de São Paulo, em 4 de maio de 1929. Aos 8 anos fez sua estreia nos palcos, como artista amador da Escola Dante Alighieri na sua cidade natal. Transferiu-se para a Capital em 1940, começou a praticar natação no Clube Regatas Tietê, em seguida, ingressou no grupo Acqua Loucos. Golias sugeriu que as apresentações deveriam ter diálogos para demonstrar mais dinamismo. Seu palpite foi certeiro, suas performances chamaram a atenção do público, logo, estaria participando do programa Calouros em Cena, da Rádio Cultura. Foi em 1957 que recebeu o convite de Manuel de Nóbrega para participar de um quadro humorístico no programa A Pra-

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Foto: reprodução

R onaldo Golias

ça da Alegria, na TV Paulista. Sua fama cresceu. O próximo passo foi o cinema, tomou parte nos longas: Vou te contá (1958); Os três cangaceiros (1959), de Victor Lima, quando contracenou com Ankito e Grande Otelo; O homem que roubou a Copa do Mundo (1961), Um marido barra-limpa (1967); e Golias contra o Homem das Bolinhas (1969). Seu grande destaque foi na TV. O personagem Carlos Bronco Dinossauro foi um dos pontos altos da Família Trapo, programa exibido pela TV Record entre 1967 e 1971. Golias contracenava com Jô Soares, Ricardo Corte-Real, Cidinha Campos, Renata Fronzi e Otelo Zeloni, Trabalhou em diversas emissoras. A partir da década de 1990 tornou-se fixo em A Praça É Nossa, no SBT, comandado por Carlos Alberto de Nobrega, onde permaneceu até 2005 interpretando personagens como O Profeta, Bronco, Pacífico e Professor Bartolomeu. Foi protagonista de outros programas na mesma emissora, A Escolinha do Golias com Nair Bello, SBT Palace Hotel (2002) e Meu Cunhado com Moacyr Franco. O artista faleceu em 27 de setembro de 2005, aos 76 anos, em São Paulo. Em 2007 a prefeitura de São Carlos inaugurou a Praça Ronald Golias em homenagem ao humorista no bairro de cidade Aracy, e em 2016 inaugurou o Memorial Casa Ronald Golias na rua Geminiano Costa, 401, na casa onde artista residiu. Já Serra Negra, SP, o homenageou com uma estátua em bronze, em tamanho real, onde está sentado em um banco da praça em frente à prefeitura. A estátua se tornou grande ponto de visitação na cidade, onde locais e turistas vão ao local e posam para fotos ao lado da imagem.

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Minha São Paulo Camila Giudice

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Minha São Paulo de pura poesia... Feridas abertas em suas calçadas, Corações perdidos em vielas, Hoje tão calada e cansada... Por que choras, minha São Paulo? O tempo passa e você não envelhece... Somente ressalta todas as aventuras das más mudanças, Dizem que se torna mais sábia e madura, Mas sabemos das dores de ganhar algumas rugas... Já não és tão bela como aos 20... quis se fazer de moderna, Mas a beleza reside resistente, na memória dos poetas.... Muitos agitos, noitadas intensas de bêbados arrogantes que se largavam por suas passarelas. Músicas cantadas repetidamente as quais sabe de cor todos os versos, És uma menina vivida, mas não se lamente... Sua cor ainda pulsa vida... Ainda que suas calçadas não estejam já mais tão habitadas naquele frenesi... É jovem senhora e esperança para os que chegam aqui, Onde tudo é novidade, por isso se encha de vaidade! Minha São Paulo linda, se refaça em menina, flor que desabrocha, Em delicadas pétalas, porque ainda é toda minha, E habita a alma desta jovem artista, que por ti ainda brinca de poeta!

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Artista plástica

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► O ator e escritor

Izak Dahora

será o destaque da nossa próxima edição.

Foto: Lukas Alenkar

Aguarde!


inspiração e uma saudade

Sobre o falecimento de Nicette, Izak escreveu nas suas redes sociais: “Localizei aqui em casa, nas minhas estantes, esta delicada e generosa dedicatória, típica da queridíssima Nicette Bruno. Sempre guardei, com especial afeto, estas palavras dela como um símbolo daqueles anos nossos de “Sítio do Picapau Amarelo”.

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Nicette será sempre uma

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Izak Dahora e Nicette Bruno, no aniversário da atriz em 7/1/2020

Durante o “Sítio”, estudei uma época no @teatrotablado e, após uma aula, encontrei este livro em uma das estantes da livraria Ponte de Tábuas (se não me engano era este o nome da livraria). Trata-se de “A máquina de repetir e a fábrica de estrelas: Teatro dos sete”, da crítica, professora e querida Tania Brandão. No Teatro dos Sete, importante companhia, trabalharam (ainda em início de carreira) fundamentais atores e atrizes (que eram os seus organizadores): Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Britto... Todos sob o signo da encenação moderna, tão fortemente encarnada em Gianni Ratto, diretor italiano que viera para o Brasil. Nicette esteve em um dos primórdios desse grupo e da modernização do teatro brasileiro (em montagem ainda de jovens estudantes, em 1951): “As alegres canções nas montanhas”, de Luchaire, direção de Maria Jacintha, com

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também com Fernando Torres, Fernanda Montenegro e Beatriz Segal no elenco. Que elenco. Por conta do registro, pedi, na ocasião, a Nicette que autografasse para mim esta publicação da querida Tânia Brandão. Era uma alegria pra mim reconstatar a importância da atriz com quem eu, menino, tinha a honra de dividir a cena.

Izak Dahora @izakdahoraartista

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em 2003, para Izak Dahora

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Dedicatória feita por Nicette Bruno,

Importante registrar o protagonismo feminino no teatro brasileiro moderno, do qual Nicette fez parte. Diversas das grandes atrizes do período (estou “falando” da geração que ganha a cena nos anos de 1940) foram donas de companhia e/ ou de teatros. Enquanto a profissão era ainda fortemente estigmatizada e marginalizada, e mulher apagada socialmente, via-se no teatro um forte empreendedorismo vital pra renovação da nossa cena teatral. Assim o fizeram Dulcina, Maria Della Costa, Nydia Lícia, Nicette... até Marieta Severo e Andrea Beltrão. ... e outras bravas. A emoção de nossa amizade está para sempre registrada, querida Nicette. Você é uma das referências fundamentais que me forjam como ator, artista.

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empreendedorismo no teatro de

S ão Paulo

nos anos

1950

Por Thais Matarazzo A atriz Nicette Bruno foi uma das grandes personalidades do teatro brasileiro. Mulher de fibra, coragem, criatividade, de grande sensibilidade, empatia pelo próximo, e amor à arte. Faleceu no último dia 20 de dezembro, aos 87 anos, vítima de Covid-19, no Rio de Janeiro. Querida pelos paulistas, deixou sua marca artística e empreendedora na Pauliceia da década de 1950, em dois projetos: o Teatro de Alumínio e o Teatro Íntimo Nicette Bruno, TINB.

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e seu

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N icette B runo

Nascida em Niterói, RJ, a 7 de janeiro de 1933, desde pequena teve contato com as artes: nos saraus promovidos por sua avó materna, nas apresentações na Rádio Guanabara, nos estudos de piano no Conservatório Nacional, no grupo de teatro da Associação Cristã de Moços, e no Teatro do Estudante, dirigido por Pascoal Carlos Magno e Maria Jacintha. Desde menina teve o apoio, o incentivo e a companhia de sua mãe, Norma Bruno, que viria a se tornar atriz por causa da filha talentosa. Em 1947, aos 14 anos, Nicette tornou-se profissional ao estrear na companhia Dulcina-Odilon, da atriz Dulcina de Morais. Sua atuação valeu-lhe a medalha de ouro de atriz revelação pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT. Daí em diante, só fez trabalhos de destaque e foi se tornando conhecida. A companhia de Dulcina estreou sua temporada nos palcos paulistas em janeiro de 1950, no Teatro Santana, na Rua 24 de Maio. A peça apresentada foi Sorriso da

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Nicette e Leonor Bruno

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Nicette Bruno em 1949, revista A Cigarra

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preendimento idealizado pelo “fotógrafo das estrelas”, Halfeld. Convidou a jovem Nicette para tornar-se sua sócia. Eles tinha planos de instalar o teatro desmontável no Passeio Público, no Rio de Janeiro. Entretanto, as negociações não avançaram. Em 1952, recebeu um aval da Prefeitura de São Paulo para armar a estrutura de alumínio, madeira e alvenaria do teatro na Praça da Bandeira, após grande burocracia. Em maio daquele ano estreava a peça de De amor também se morre, original de Margareth Kennedy, tradução de Maria Jacinta, direção de Turkow, cenários de Edgard Loefleur, guarda-roupa de Pascoal Bruno, direção geral da “estrela”. No elenco, além de Nicette, estavam, entre outros, Eleonor Bruno, Fernando Villar, Sérgio de Oliveira, Margarida Rey, Regina Aragão, Ângela Belmar e Kleber Macedo. Foi um sucesso! O teatro com capacidade para 500 pessoas fiocu apinhado! A imprensa paulistana se referia à artista como “jovem estrela do Teatro de Alumínio”. Sobre a estreia do espetáculo, Nicette contou ao Correio Paulistano na edição de 8/6/1952. “Quando comecei a organizar a companhia, De amor também se morre já estava escolhida, apesar de exigir um elenco numerosíssimo. A peça me foi cedida pela tradutora. Aliás, foi Maria Jacintha que me mostrou

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Gioconda, no escritor inglês Aldous Huxley, além de Nicette integravam o elenco, Graça Melo, Suzana Negri, Jorge Diniz e Eleonor Bruno - contemplada com um prêmio revelação 1950. O Teatro de Alumínio foi um em-

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Vemos, à esquerda, o Teatro de Alumínio, montado na Praça da Bandeira, 1952. Foto: reprodução

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1 Nicette Bruno e Paulo Goulart: tudo em família. Elaine Guerini. Coleção Aplauso, série Perfis, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.

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receberam. (...) Não deixam escapar nada! A reação é imediata e geral. A proclamada frieza do paulista caiu completamente por terra”, finaliza a atriz. Antes da segunda peça ser levada à cena, Halfeld resolveu abandonar a parceria. Nicette ficou à frente do seu elenco, mostrou a força do sonho e a evidência do empenho. Teve o apoio da mãe e do tio Pascoal. Sobre o assunto, ela revelou no livro Tudo em família1 de Elaine Guerini. “Halfeld foi embora assim que percebeu que eu não queria mais namorá-lo. Houve sim um início de romance, mas, no fundo, nunca gostei dele.

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a peça, ainda quando iniciava a minha carreira artística, sob a orientação segura e proveitosa de Dulcina. Este teatro é como um filho. Custou tanto a nascer, mas desde que apareceu só tem nos dado alegria. E apesar dos percalços, uns inerentes ao próprio teatro, outros procedentes de fora, é verdade que nos sentimos duplamente felizes por tê-lo podido realizar: primeiro, porque assim estamos fazendo teatro, e fazer teatro é o máximo objetivo do ator dramático; e segundo, porque estamos trabalhando concretamente pela arte cênica nacional.” Ainda comentou sobre o público paulistano. “Estou satisfeita com a reação do público. Nunca pensei que os paulistas recebessem a peça da forma como

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Estava apenas sendo grata por tudo que ele havia feito para me ajudar profissionalmente. Halfeld mostrou que todo o seu esforço, no sentido de montar um teatro, era apenas para me conquistar. Com o orgulho ferido, nos abandonou, deixando vários pepinos para trás. De repente, eu me vi sozinha, com a responsabilidade de manter ou não o emprego de 22 pessoas que trabalhavam conosco. Eu e Abelardo Figueiredo, meu amigo e secretário da Companhia, não tínhamos noção de como manter um teatro. Só entendíamos do aspecto artístico. Na falta de um administrador, Abelardo teve de assumir o cargo e pedimos reforço financeiro a meus parentes, que, reunindo suas economias, nos ajudaram a terminar a temporada. A partir da segunda peça, porém, nós sabíamos que teríamos de nos virar sozinhos. Sem falar que, diante das dificuldades econômicas, tivemos vários desfalques no elenco da Companhia. Como a

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Nicette Bruno, década de 1950. Foto: reprodução

maioria dos atores era do Rio, eles quiseram voltar para casa. Inclusive o galã, Fernando Villar, que fazia par romântico comigo. Enquanto nós lutávamos para montar a segunda peça, Ruggero Jacobbi, diretor da TV Paulista, se encantou pelo meu dinamismo, ao ver uma jovem tão devotada ao teatro. Ele se associou à Companhia, assumindo a direção do segundo espetáculo. Eu estava inclinada a montar A Rainha do Ferro Velho, de Garson Kanin, mas a peça pedia muitos cenários e figurinos e não tínhamos dinheiro. Ruggero sugeriu Senhorita minha mãe, de Louis Verneuil, mencionando que conhecia um jovem ator, interessante e bonito, que poderia ser o nosso galã. Era Paulo Goulart, que atuava na novela Helena, de Machado de Assis, na TV Paulista.” A segunda première da companhia aconteceu em 31 de julho de 1952, com Senhorita minha mãe, comédia em três atos, com tradução de Bandeira Duarte. Nicette atuou e dirigiu, os cenários foram de Lino Fernandes, guarda-roupa de Pascoal Bruno; no elenco, Wallace Viana, Kleber Macedo, Nicete, Paulo Goulart, Paulo Navarro, Eleonor Bruno e Nelson Mota. O próximo espetáculo apresentado foi Amor versos casamento. Foi nessa época que Nicette e Paulo se conheceram e que “deu mel

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Suplemento Cultural do Correio Paulistano, 8/6/1952.


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cipalidade recém contruídos, como o “Arthur Azevedo”, na Mooca, e o “Alfredo Mesquita”, na Vila Mariana. Em seguida, excursionaram com os espetáculos pelo interior de São Paulo. No início de 1953, a companhia estreou com a peça infantil O casamento da Branca de Neve, de Fernando Fortarel, no teatro “Leopoldo Fróes”, na Vila Buarque. Em 7 janeiro de 1953, natalício de Nicette Bruno, surgiu uma luz no fim do túnel: estava acompanhada da mãe e do amigo Ruggero Jacobbi, no Teatro Santana, assistiam a uma peça da companhia de Dulcina de Moraes, quando o industrial Carlos Alberto Baccini, do Paraná, a procurou na frisa do teatro para lhe fazer uma proposta. Baccini havia lido uma crônica no Diário de São Paulo, assinada por Arruda Dantas, a explicar sobre a luta da jovem atriz para manter o seu ideal e todas as aflições que vinha passando. O homem ficou sensibilizado e propôs uma parceria para Nicette. Foi um belo presente de aniversário! Em breve nasceria o Teatro Íntimo Nicette Bruno, TINB. Abelardo Figueiredo tornou-se o secretário do TINB. Ele, Nicette e Paulo Goulart visitaram diversos condomínios para encontrarem um espaço ideal para montar um teatro. Conversaram com os mais variados proprietários, tiveram a perspectiva de construir um auditório ao lado do

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na sopa!”. Desde então, ele esteve ao lado da sua amada namorada. Aos 19 anos a “estrela” sofreu um grande drama: a 19 de setembro de 1952, às 12 horas, uma ação judicial determinou a busca e apreensão de todas as poltronas do Teatro de Alumínio, o motivo foi o fato daqueles móveis terem sido adquiridos sob o regime de reserva de domínio por Halfeld, proprietário do teatro desmontável. Ele não quitou as parcelas do mobiliário. Aquela lamentável cena foi assistida por Nicette e seus colegas, um advogado e um representante da empresa. Levaram todos os assentos, inclusive os do escritório da companhia. A operação durou cerca de duas horas. Sem experiência em administração e sem empresário, a atriz não se fez de rogada e foi à luta: pediu ao público que morava próximo para trazer cadeiras de casa, e o comércio local também colaborou. Ela contoucom a solidariedade dos paulistanos. Alguns dias depois, nova decepção: a Prefeitura resolveu fechar o teatro e enviou uma intimação, pois a companhia não tinha alvará de funcionamento para manter o teatro sem poltronas. Ainda no segundo semestre de 1952, a companhia foi contratada para encenar espetáculos patrocinados pela Prefeitura de São Paulo a fim de levar as artes cênicas aos bairros longínquos, em teatros da muni-

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Foi levada à cena a peça Ingênua até certo ponto, do norte-americano Hugh Herbert, com tradução de Raimundo Magalhães Júnior, e direção de Armando Couto. A plateia lotou, muitas palmas e flores recebeu a “estrela”, que, gentilmente, compartilhou toda aquela felicidade com a sua equipe e amigos. A imprensa registrou diversas felicitações à atuação de Nicette. Sobre Paulo Goulart o crítico Oscar Nimtzovitch destacou em sua crônica no Correio Paulistano. “Não esperávamos. Contracenando com Nicette de uma maneira tão viva e precisa que nos espanta. Paulo tem apenas um ano de arte cênica, iniciada na própria companhia de Nicette Bruno, porém, sem nunca nos haver proporcionado uma interpretação mais favorável.” Acerca de Eleonor Bruno, o mesmo cronista registrou. “É a primeira atriz da companhia, muito embora muitos não acreditem, é progenitora de Nicette Bruno, também faz parte da homogênea equipe. Eleonor já nos proporcionou algumas facetas de sua notada carreira artística, dando-nos cabal demonstração de que a arte teatral conta na família Bruno duas das mais representativas atrizes”. Na Rua Vitória Nicette teve sua vitória!

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Claridge Hotel, na Av. 9 de Julho, esquina com a Praça da Bandeira. Porém, os ventos sopraram para o bairro de Santa Ifigênia. Em uma reunião, Sérgio Cardoso falou de um salão vazio que havia na Rua Vitória, 653. O edifício chamase José Oswalld, nome do pai do escritor Oswald de Andrade, proprietário do imóvel. Nicette passou a planejar as instalações do seu teatro. Logo após o Carnaval de 1953, foram iniciadas as obras de adaptação dos baixos do prédio 653. Clóvis Garcia fez a decoração interna. Em um tempo em que os teatros eram enormes, com cerca de 2000 poltronas, a nova casa de espetáculos da cidade contava com apenas 240 lugares, por isso, foi batizada como “Teatro Íntimo”. Após vários adiamentos, finalmente, em 14 de julho de 1953, houve o coquetel à imprensa e à classe teatral paulista, Abelardo Figueiredo cuidou de tudo. Ruggero Jacobbi fez um discurso e falou em nome dos artistas, desejando sucesso ao auditório batizado simbolicamente com champanhe. A estreia do TINB aconteceu na segunda-feira, 20 de julho de 1953, às 20 horas, uma noite fria do inverno paulistano, mas o calor esquentava os corações de todos.

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Coquetel organizado para apresentação do TINB à imprensa e à classe teatral, Correio Paulistano, 12/7/1953. Fonte: Hemeroteca BN


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Grandemente elogiada pela crítica pelo seu hercúleo esforço em prol do teatro, deve ter causado melindre entre outros atores que não conseguiram alcançar o seu feito. Weekend de Noel Coward, com direção do jovem Antunes Filho, foi o segundo espetáculo em cartaz, estrou no princípio de outubro de 1953. “Nicette Bruno, que há menos de dois anos chegava a São Paulo para experimentar justamente com seus companheiros as mais amargas decepções, soube refazer o seu grupo como um general hábil e quando a derrota já parecia inevitável, de um golpe, conquistou a Vitória. Do Teatro de Alumínio ela foi para a Rua Vitória e ali triunfou com elenco novo, novo diretor

e novo programa. Agora temos a companhia reorganizada lançando na peça de hoje de uma vez, um diretor profissional estreante, Antunes Filho, atual assistente do TBC, o cenógrafo Rubem Rey, e o desenhista Pascoal Bruno”, publicou o Diário de São Paulo, de 2/10/1953. “Enfim... Nicette Bruno conseguiu um teatro próprio e Maria de Della Costa também. Só assim realmente, é que se pode formar uma companhia e trabalhar.”, foi a anotação do crítico teatral do suplemento cultural do Correio Paulistano, em 22/11/1953. A matéria ainda ressalta as dificuldades de montar uma companhia e alugar espaço para ensaios e alugar um teatro. O jornalista censura a Prefeitura paulistana por não construir teatros no centro e sim nas periferias: “locais onde ninguém consegue se manter senão alguns dias da semana”. Em janeiro de 1954 estreou É proibido suicidar-se na Primavera,

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► Prédio 653 da Rua Vitória. No térreo funcionou o TIBN

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5, onde a companhia de Nicette vinha se apresentando regularmente. A respeito do casamento, eis a pequena crônica de Oscar Nimtzovitch para o Correio Paulistano de 27 de fevereiro. “Casados, sim! – ontem foi o casamento. Quanta gente de teatro! Quantos admiradores do jovem par! Nicette Bruno e Paulo Goulart passaram para a fileira dos casados com uma deliciosa festa, com muitos parabéns, bastante felicidades. Primeiro a cerimônia religiosa na igreja de Santa Cecília. Depois uma reunião no Timbinho. E o casal, sra. Nicette, sr. Paulo, com aquela simpatia de sempre, ia recebendo um por um,

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de Alejandro Casona, tradução de Nair Lacerda, com Nicette, Eleonor Bruno, Paulo Goulart, Kleber Macedo, Guilherme Corrêa, Walmor Chagas, Elísio Albuquerque, Rubens Costa, e como atriz convidada Elisabeth Henreide, direção de Ruy Affonso, cenários e figurinos Darcy Penteado. No mês seguinte, no dia 26, logo após o Carnaval, Nicette e Paulo se casaram no civil e em uma linda cerimônia na paróquia de Santa Cecília. O vestido da noiva era deslumbrante! Dali os pombinhos e seus convidados rumaram para uma recepção no TINB. Tudo foi transmitido pela TV Paulista, canal

Anúncios do teleteatro da TV Paulista e da peça “É proibido suicidar-se na Primavera”. Correio Paulistano

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Então, a companhia foi convidada a levar as peças já encenadas em uma excursão em Porto Alegre. Era preciso ganhar dinheiro! Com muita garra e perseverança, Nicette Bruno legou às memórias teatrais paulistanas dois empreendimentos que valeram o seu esforço e ideal, sempre junto dos amigos e colegas fiéis, sua querida mãe, sua família, e seu amado Paulo Goulart.

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de amigos e amigos, os votos sinceros para uma vida feliz, repleta de auspiciosas novidades.” O ano teatral paulista de 1953 foi considerado bom e com o aparecimento de diversas companhias e diretores nacionais. De volta da lua de mel, a companhia começou a ensaiar Ingenuidade, de John Van. Duas semanas após a estreia, o casal precisou desistir do TINB por problemas financeiros. Uma pena!

Casamento de Nicette e Paulo, 1954. Foto: internet / reprodução

▼ Notícia do casamento dos artistas no Correio Paulistano, 27/2/1954

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Assumindo a Re-Vida Recomeçar

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volte lá e recomece. Faça tudo diferente. Você pode... Chore menos, sorria mais, estude, trabalhe, batalhe, crie... Dependa mais de você, sem esquecer de quem ama. Revida sem medo, é o que veio buscar. Encontre-se feliz, nos entremeios das suas procuras. Nas pausas dos seus versos, mesmo sem rima. Permita-se, desafie-se, aceite-se, proseie mais, ame-se mais, doe-se mais, pra não sentir mais a sua falta, em algum momento da sua revida. Prepare-se para as mudanças, desse novo desafio, que o ano preparou para todos os sobreviventes dessa grande nave. Enfrente-o, e de frente, não olhe para trás. Recomece falando do sentimento maior. O AMOR, com fé e esperança, é preciso viver a mudança que novo traz para não estagnar. Agora vai... Assuma sua vida. Recomece.

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Numa fuga desenfreada. Saio de mim. Isso acontece quando o novo chega e me surpreende, e com ele: o medo, as incertezas, as perguntas sem respostas... Lá vou eu, tentando me esconder disso tudo. Porém, ao ouvir o ecoar do meu coração encavernado. Sigo a estrela guia, e saio em busca. Encontrei-me onde sempre vou, quando preciso de um abrigo; ou uma maternal resposta. Lá estava eu, em posição fetal, protegida no caloroso ventre negro e todo dourado, da minha amada mãe. Vi a minha vida sendo regerada. Um novo corpo negro de mulher, sendo tecido, para abrigar minh’alma carente e desprotegida. Senti afeto, amor, acalanto e sabedoria para enfrentar o que vier. Desta vez, com um outro tom, com a voz firme e impostada, pois já me conhecia, minha mãe disse: - Olhe aqui,

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Sandra Regina Alves

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Eficiência Em Evidência, Não Importa a Deficiência Noadias Novaes

Marcelo Rubens Paiva Nascido em 1º de maio de 1959, um dos filhos mais ilustres da sociedade paulistana. Escritor, dramaturgo, roteirista e jornalista sofreu grandes traumas em sua vida, sendo um dele a fratura de uma vértebra do pescoço na qual lhe deixou tetraplégico e posteriormente por meio de fisioterapia retornou

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Dorina Nowill (São Paulo, 28 de maio de 1919 — 29 de agosto de 2010). Cega aos 17 anos decorrente de uma infecção ocular. Foi educadora, filantropa e administradora paulistana. Deixou seu legado de luta e uma instituição conhecida como Fundação Dorina Nowill Para Cegos onde além de distribuir livros gratuitos em

braille, produz livros em áudio, fonte ampliada e em formato digital acessível Daisy. Os mesmos são distribuídos para mais de 2500 escolas, organizações, associações e bibliotecas que atendem ao público com deficiência visual. Além de oferecer atendimentos personalizados de reabilitação e educação especial, atendimento psicológico, fisioterapia e programas de empregabilidade.

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Segundo os dados do último censo do IBGE (2010), a cidade de São Paulo conta com mais de 810.000 pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. A cidade de São Paulo nos seus 467 anos apresenta um histórico de pessoas com deficiência que contribuíram para o desenvolvimento da mais populosa cidade do país e da América Latina e nos motivam com seus exemplos admiráveis. Vejamos algumas delas:

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Professora AEE e amante da inclusão Email: noaquimica@gmail.com

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Fernando Fernandes Modelo e atleta (nasceu em São Paulo, 28 de março de 1981). Sua trajetória de vida é inspiradora, Estrelou campanhas internacionais da marca Dolce & Gabbana mas foi participando do reality show Big Brother Brasil 2 da Rede Globo que ele ficou popularmente conhecido. Em 2009 sofreu um acidente automobilístico que o deixou pa-

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João Carlos Martins Pianista e maestro paulistano (nasceu em 25 de Junho de 1940). Seu trabalho como pianista é reconhecido mundialmente, especialmente suas gravações das obras de Bach. Sua vida é marcada por acontecimentos inusitados, desde uma queda que provocou atrofia nos três dedos da mão direita, perda do movimento da sua mão esquerda, até um golpe na cabeça com uma barra de ferro, vítima de um assalto na Bulgária que com o trauma neurológico, comprometeu comple-

tamente o membro superior direito. Mesmo com todas as sequelas não desistiu da carreira musical. Foi homenageado pela a escola de samba paulistana Vai-Vai com o enredo A Música Venceu na qual foi campeã em 2011. Em 2017, foi lançado o filme “João, o Maestro” contando a sua trajetória de vida. Em 2020, voltou a tocar com as duas mãos, mas dessa vez com a ajuda de uma luva biônica graças a um projeto desenvolvido pelo designer industrial Ubiratan Bizarro Costa, em Sumaré, o fato ocorreu durante a comemoração dos 466 anos da cidade de São Paulo.

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os movimentos dos braços e mãos. Escreveu vários livros, peças e roteiros que lhe renderam muitos prêmios como o Jabuti por três vezes, Prêmio Shell, da Academia Brasileira de letras entre outros. Foi colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo, roteirista do Zorra Total, Sexo Frágil, Fantástico da Rede Globo. Em 2018 a Banda Titãs lança o álbum Doze Flores Amarelas no qual foi co autor das composições. Sendo muito atuante nas redes sociais, foi eleito a sexta personalidade mais influente no twitter.

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Mara Gabrilli Psicológa, publicitária e política nascida na capital paulista em 28 de setembro de 1967. Sofreu um acidente de automóvel, em 1994, que a deixou tetraplégica. Assumiu a cadeira de Vereadora na Câmara Municipal de São Paulo. Foi a primeira titular da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED), criada em abril de 2005, onde desenvolveu dezenas de projetos na cidade de São Paulo em infraestrutura

urbana, educação, saúde, transporte, cultura, lazer, emprego, entre outros. Isso resultou no aumento de 300 para cerca de 3 mil do número de ônibus acessíveis; na reforma de 400 quilômetros de calçadas adaptadas, inclusive na Avenida Paulista, que se tornou modelo de acessibilidade na América Latina. Em 2014, foi eleita deputada federal por São Paulo e em 2018 foi eleita ao Senado Federal do Brasil. Ao longo dos anos tem colecionado vários prêmios em reconhecimento a sua atuação. Dentre inúmeras razões , acredita-se que tantos outros filhos desta terra, anônimos ou não se dedicam dia após dia para construir uma cidade melhor através de seus feitos, muitas vezes superando os obstáculos imposto pela vida. A cidade que não dorme, tem demonstrado que além de ser o maior parque industrial da América Latina, também tem sido uma das maiores produtoras de cidadãos benfeitores para a humanidade. E seus rebentos fazem jus a letra de seu belíssimo hino: “São Paulo teu operário Da ferramenta fez devoção E agora de toda parte São Paulo inteiro faz mutirão”. Parabéns à cidade de São Paulo aos seus 467 anos.

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raplégico. Contudo não se deixou abater, dedicando-se a prática de esportes se consagrou como tetracampeão Mundial (2009, 2010, 2011 e 2012), Tricampeão Panamericano, Tetracampeão Sul-americano e Tetracampeão Brasileiro de Paracanoagem. Apresentou o quadro “Desafio sem Limites” no Esporte Espetacular. Atualmente apresenta o quadro “Sobre Rodas” no Esporte Espetacular (Rede Globo).

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Na edição de novembro trouxemos para os leitores a entrevista com professora cearence, Noadias Novaes. Seu trabalho vocacionado e comprometido com seus alunos, pessoas tão especiais, cativa quem pode conhecer a sua luta cotidiana para continuar as aulas durante a quarentena. Noadias ganhou destaque na televisão e redes sociais por seu esforço e exemplo de perseverança. Seu projeto pedagógico AEE na Quarentena foi contemplado com várias ofertas. A editora Matarazzo enviou uma caixa de livros para os alunos de Noadias, assim como as tintas da Cartucho (@papelariacartucho),

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AEE na Quarentena

jogos educativos doados pelo do Sr. Pimentel e Dona Zeneide (@reciclarte.pai / @zebritopimentel), e cadernos da Stallo (@stalobrasil). O material já está na escola aguardando a chegada do ano letivo de 2021. Parabéns, professora Noadias! Você e seus alunos podem sempre contar conosco! Os livros da Matarazzo já estão na salinha literária da AEE.

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“A B íblia na mão , no coração e na ação ” P adre T icão - S emeador da E sperança

O meu primeiro contato na Igreja São Francisco de Assis, fora no encontro de jovens com o Padre Carlos Strabeli e em seguida a

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Antônio Luiz Marchioni, conhecido popularmente como padre Ticão, Pároco da Igreja São Francisco de Assis em Ermelino Matarazzo, periferia leste da cidade de São Paulo, chegou em 12 de abril de 1982. Ticão: “Naquele dia houve uma grande tempestade no bairro e muitas famílias sofreram com a ventania e enchentes, sou caipira de Urupês, SP, meus queridos pais são Adilio Marchioni e Olivia Matheus Marchioni. Na pequena Urupês, Diocese de São Carlos, fui ordenado sacerdote no dia 8 de julho de 1978, e em seguida me transferi aqui para a zona leste onde fui acolhido por Dom Angélico Sândalo Bernardino com muito carinho e fraternidade. Antes de chegar a Ermelino Matarazzo passei um tempo na Vila Granada e Vila Ré: 1978/1982.” (trecho da entrevista para a revista em comemoração aos 30 anos em Ermelino Matarazzo, 2012.)

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Ricardo Cardoso

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“É um clamor da injustiça ecológica e da injustiça social que implora urgentemente ser escutado (...) Queremos que nosso tempo seja lembrado como um tempo de responsabilidade coletiva e de cuidado amoroso para com a Mãe Terra e para com toda a vida.” (São Francisco de Assis, em Carta aos Governantes dos Povos). ► Ricardo Cardoso, Padre Ticão, e Thais Matarazzo, 2020

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conquista de mais de 35 mil moradias populares (Movimento de Moradia 1984/2012), foram discutidos no salão social da Igreja São Francisco de Assis, assim como todas as melhorias em Ermelino Matarazzo e adjacências. Em fevereiro de 2020 a Editora Matarazzo realizou o sonho dos alunos da ACDEM - núcleo Jardim Helena, com a edição do livro Crônicas Eficientes, com organização de Ricardo Hidemi Baba. Neste dia contamos com a presença do Ticão, o qual ficou emocionado com este lindo projeto e manifestou a vontade de dar continuidade a este lindo projeto. Novembro de 2020: fiz uma proposta para o Ticão, escrever sua biografia e convidei a Thais Matarazzo para este desafio, iríamos começar as entrevistas na primeira semana de 2021, mas infelizmente Deus tinha outros planos para o meu querido amigo Padre Ticão!

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chegada do Padre Ticão, houve muitas manifestações dos fiéis que não o aceitavam, mas acredito que após alguns meses, todos os fiéis e moradores da região o reverenciavam. Desde então a sua ideologia pela responsabilidade coletiva e social o representaram como líder que teve uma fé baseada no amor ao próximo. No salão social da Igreja São Francisco de Assis foram discutidas as pautas de politicas púbicas para a região. “Compromisso de promover uma vida digna aos Deficientes e uma melhor qualidade de vida aos seus familiares, contribuindo com o desenvolvimento local e social da região leste de São Paulo, uma delas diz respeito às mães de filhos com deficiência, assim ele funda a Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo (ACDEM)”. O campus da USP (Universidade de São Paulo) em Ermelino Matarazzo e da Unifesp (Universidade de São Paulo) em Itaquera, Hospital de Ermelino Matarazzo, urbanização da Favela Santa Inês, Biblioteca Pública, e a

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P adre T icão

► Ricardo Baba e Padre Ticão, 2017

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ciais. Professor, pois me ensinou que justiça é igualdade de oportunidades, e ele me abriu tantas portas como a pós graduação na USP, a primeira cadeira de rodas motorizada, os saraus e tantas conquistas. Ticão foi principalmente um querido amigo, compartilhamos ideias, projetos, me aconselhava, e sempre que eu o enviava uma proposta, ele me respondia carinhosamente: “Querido amigo, todo apoio!” Dói saber que, nos últimos anos, meu grande amigo sofreu com a intolerância insolente, e não pude trocar ao menos um olhar! Mas, certamente, ele sabia da minha gratidão! Ticão foi um anjo que será eterno em minhas lembranças!

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Ticão é uma destas pessoas que não deveriam partir! Ele era mais que um padre, ele era humano! Fato comprovado em nosso primeiro encontro ocorrido em um festival budista! Alias, foi ele que me ensinou que quando um budista falece, planta-se; por sinal, Ticão ia adorar ter uma árvore em sua memória! Ele foi meu amigo, meu professor e meu herói! Herói sim, pois o vejo como um justiceiro que sabia utilizar as palavras para reivindicar melhorias so-

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Ricardo Hidemi Baba

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“A cidade não desperta apenas acerta a sua posição”... assim diz um trecho da composição Amanhecendo do fantástico Billy Blanco, da Paulistana - A Sinfonia do Barulho, tema do Jornal da Manhã da Jovem Pan. Todo mundo conhece. Pois bem, começo meu modesto texto assim, fazendo pequena citação da obra do nobre compositor paraense que viveu alguns anos em São Paulo. Pois bem, num daqueles sábados, na Paulicéia Desvairada, como de costume - isso já faz alguns anos - fui até a loja de instrumentos musicais da Rua General Osório, a Contemporânea, na época, ainda sob o comando do meu prezado e querido amigo Miguel Fasanelli. Me dirigi aos fundos da loja na Sala Musical “Evandro do bandolim” onde me sentei num daqueles bancos compridos ao lado de uma moça muito simpática que fazia algumas anotações num caderno. Não sei por que aquilo me chamou a atenção. No meio da profusão da roda de choro mais tradicional de Sampa,

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Por Marcello Laranja

entre acordes de violões, cavaquinhos e bandolins, continuei prestando atenção ao trabalho que ela desenvolvia. Curioso como sempre, puxei conversa. Cumprimentei a moça e apresentei-me. Ela, em seguida, respondeu. Amável e sorridente. Mal sabia eu que ali, naquele instante, a semente estava plantada, pois, na sequência, surgiria uma grande amizade, um carinho e um respeito muito grandes. Pra quem não sabe, estava eu ao lado da nobre jornalista, pesquisadora e escritora Thais Matarazzo, a pessoa que, muito tempo depois, me descortinaria o universo da literatura sem que eu jamais, um dia, soubesse que aquilo aconteceria da forma como aconteceu. Naquele momento senti que o santo bateu, o meu com o dela e o dela com o meu. Não me peçam pra explicar como isso acontece na vida das pessoas pois não saberia. Foi assim que nos conhecemos, nada programado, nada combinado, nada premeditado, processo absolutamente natural. Ah... aproveitando o ensejo e fazendo um parêntesis, foi nessa mesma Loja Contemporânea, acho que mais ou menos na mesma época, que conheci outro cara sensacional que tornou-se grande amigo e parceiro também. Estou

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Encontros Memoráveis na loja C ontemporânea

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redes sociais, plataformas e o escambau, como disse acima, já faz algum tempo, anos 90, talvez, não me recordo com exatidão. Mas tudo bem, deixa pra lá, isso pouco importa. O que valeu mesmo foi o que veio na sequência. Os laços de amizade se estreitaram, conheci sua família e ela, por sua vez, a minha, diversos encontros em eventos de lançamentos de livros no Shopping Pátio Iporanga, na sede do Clube do Choro de Santos e em outros locais também. Até na cerimônia ritualística do “Dia do Samba” que acontece todos os anos no dia 2 de dezembro no recinto onde se localizam as ruínas do Quilombo do Pai Filpe, na Vila Mathias, ele, o primeiro Rei batuqueiro da cidade de Santos, Thais foi condecorada com o diploma de “Honra ao Mérito” pelo Marechal do Samba santista, jornalista e escritor José Muniz Junior. O evento é comandado por ele há mais de meio século com a ajuda do filho, Jadir Muniz, passista, Cidadão e Cabo Mor do Samba. Ela se desenvolveu de tal forma que, tempos depois, surgiu a Editora Matarazzo, fruto de um trabalho sério, consistente e fundamentalmente honesto. Todavia, passou por alguns perrengues, é claro e, até certo ponto, uma coisa

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falando do mestre Zé Amaral, autor da “bíblia” do Choro paulistano, Chorando na Garoa, memórias musicais de São Paulo, a quem fui apresentado pelo Serginho, sobrinho do Miguel. Aliás, foram alguns anos frequentando a loja onde conheci muita gente bacana, além dos já mencionados, incluo nesse rol, o cantor, compositor e violonista alagoano Ibys Maceioh - quem nos apresentou foi o velho Fasanelli as cantoras Silvilí Sakovic e Rose Calixto, a clarinetista Keli Aragão, o compositor Marcus Marmello, enfim, uma pá de gente muito boa da música. É bem verdade que alguns daqueles frequentadores eu já conhecia, por exemplo, Izaías Bueno de Almeida, Corina, Lia e Elisa, as meninas do grupo Choro das Três, o inesquecível e muito querido amigo João Macacão, a produtora e modelo Cris Caner, Charles da flauta, Arnaldinho... etc... etc. Pois bem, prosseguindo, Thais e eu nos pegamos num bate-papo super gostoso e informal quando ela me disse que estava fazendo uma pesquisa musical e eu aproveitei a deixa pra contar o que fazia junto com meus companheiros no Clube do Choro de Santos. Foi a conta. Trocamos telefones, e-mails - na época - nem pensar em Facebook,

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Marcello Laranja e Miguel Fasanelli no Bar Amarelinho na Rua General Osório

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Ibys Maceioh, Corina, Lia, Elisa (Choro das Três) e Marcello Laranja

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bem natural, afinal, nada é perfeito nessa vida. E eu, em algumas ocasiões, também, pois, estávamos envolvidos em projetos juntos. Mas isso também não importa, hoje damos risada disso tudo. Se eu fosse “abrir o rosário”, não iria prestar, acreditem. É uma grande parceira até hoje, tanto é que, mais uma vez, amavelmente convidou-me para rabiscar algumas linhas para esse projeto, MEMÓRIAS PAULISTANAS, que é muito legal. E aqui es-

tou eu novamente, como ela mesmo diz “aquele que não é Jesse James, mas é rápido no gatilho, com ele é pá, pum”... kkkkkk... isso é muito engraçado. Bondade extrema da nobre jornalista e querida amiga que sempre demonstrou muito apreço por mim e eu também por ela. E estamos juntos. Vâmo que vâmo, cumadi, pra frente que atrás vem gente. Beijos, saúde, paz e, mais uma vez, muito obrigado pelo amável convite.

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► Panorama da Sala Musical “Evandro do Bandolim” na Loja Contemporânea

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conquista pela simpatia

Atilio de Souza Ciraudo

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Distraidamente como se nada em sua volta estivesse acontecendo além do seu pensamento, algo te faz retornar a realidade com um simpático e convidativo sorriso, quase um apelo, um olha pra mim. Às vezes somos pegos de surpresa e a sensação que fica é tão gostosa que se te disserem vem, você não vai, se lança. A energia anda tão estagnada que cliques espontâneos te fazem crer e acreditar que ela tem que rodar, circular e isso é o grande impulso que nos torna felizes. Um olhar na vitrine já foi sinal para que o vendedor viesse solícito e na tentativa de fisgar um cliente não economiza um único gesto de simpatia. Você desarmado se entrega e recebe o que vier como se fosse o mais puro ar entrando em seus pulmões, o alimento

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“Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo!” Johann Goethe

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“A gentileza é uma criança que existe dentro de nós, basta deixá-la existir”. Profeta Gentileza

Atilio de Souza Ciraudo Carioca, , aquariano

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reconhecimento de sintonia. Alheio a tudo, entregue e imerso em seus pensamentos um gato de rua aparece, se faz presente, te rouba um afago, não satisfeito pede mais e você se entrega e se dedica a esse precioso tempo dando o que se pede, mas como todo bom felino seu limite vai até o momento de seus desejos satisfeitos. Seu basta é uma leve mordida e se afasta te ignorando com seu ar superior quase falando que você deu porque quis. E assim se dá e assim se recebe. A troca é feita mediante aquilo que você traz e dispõe a retribuir. Estar atento e deixar fluir o melhor de você só se confirmam que gentileza só tende a gerar gentileza.

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que vai gerar as energias para o próximo salto ou sangue que irá bombear toda a adrenalina que irá circular em todo o seu, no momento, frágil ser. Receber tudo isso, processar e não deixar escapar um único instante daquilo que está vindo e devolvê-lo com o mínimo gesto de gratidão que seja são dose de satisfação diária que todos precisamos. O sorriso receptivo da indígena da tribo Kariri, cujo nome remete a uma pequena semente, Tingui e no tupi-guarani significa Nariz Afilado é motivo para despertar perguntas curiosas sobre a tribo, modo de vida e cair na consciência de que houve invasão e não um descobrimento de um novo país quando cá chegaram os portugueses. Acabouse formando elos de simpatia e acabamos ficando preenchidos de coisas boas. Quando menos se espera, uma criança espontaneamente solta uma expressão e num cumprimento breve, num leve sorriso, lança: — Oi, rapaz!!! E segue seu caminho com um tchau, é pra te deixar boquiaberto e feliz pelo

ascendente virgem e em sua primeira publicação.

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Flávio Guarnieri na peça Romão e Julinha, 1986.

brandão e flávio guarnieri

Converso muito, por telefone, com a minha amiga Ana Jalloul. Papo vai, papo vem, e vira e mexe recordamos episódios das nossas infâncias ocorridas entre as décadas de 1980 e 90. Rememoramos livros, amigos, passeios, viagens, cinema, circo, programas de televisão e desenhos, brincadeiras de rua, brincadeiras na escola, e muitos outros causos. São bate-papos tão agradáveis e divertidos, curto tanto que em uma tarde dessas decidi registrar algumas reminiscências em formato de crônicas para a revista Escritores Bra-

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uma homenagem a chiquinho

sileiros Contemporâneos. Inauguro hoje essa série. Para começar resolvi fazer um tributo a dois artistas brasileiros que já não estão entre nós, e dos quais guardo momentos de encantamento e carinhosa recordação como expectadora: os atores Chiquinho Brandão (1952-1991) e Flávio Guarnieri (1959- 2016). Justamente na semana em que comecei a redigir o primeiro relato, deu-se algo interessante: entrou em contato comigo, por e-mail, Dacio Azevedo Rodrigues. Na mensagem, ele explicava que era autor de algumas das fotografias publicadas no bate-papo com a atriz e apresentadora Silvana Teixeira, edição nº. 18, de dezembro passado.

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lembranças , teatro e fotografias :

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Foto: Dacio Azevedo Rodrigues / reprodução

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lalão’ tais como o incrível Professor Parapopó e o galanteador Bambaleão. Naquela época, eu era um seguidor destes artistas e procurava não perder todas peças de teatro e eventos que houvesse a participação de algum deles. Assisti três vezes à peça ‘Ubu Rei’ montada pelo Grupo Teatral Ornitorrinco, com a brilhante participação do Chiquinho. As fotos do programa ‘Bambalalão’ foram feitas no Teatro Franco Zampari, cuja entrada era franca e as crianças eram acompanhadas pelos pais.” Quando menina, eu era apaixonadíssima pelo Bambaleão, o leãozinho era animado pelo Chiquinho Brandão, também adorava o Teatro de Bonecos. Não perdia o Bambalalão por nada neste mundo, só para ver o quadro em que ele contracenava com a Silvana. Mais tarde, a dupla ganhou um programa curtinho que era exibido à noite, antes do Jornal da Cultura, uma graça! O Bambaleão paquerador, sempre cortejava sua amada, mas quando ele tinha uma atitude machista ou desagradável, levava “um toco” (como se diz atualmente) da Silvana. Então, ele contornava a situação de maneira muito engraçada. Certa vez cismei que queria um Bambaleão de pelúcia. Quase deixei minha mãe maluca. Ela pesquisou em várias lojas de brinquedo e nada encontrou. Nem poderia achar, não

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Dacio também explicou que era um amante de fotografias e fã da Silvana e do Chiquinho Brandão, “um ‘seguidor’ nos tempos em que nem se imaginava ainda uma Internet”. Perguntei se ele tinha amizade com o elenco do Bambalalão, infantil exibido pela TV Cultura de 1977 a 1990, e ele afirmou que nunca pertenceu ao meio artístico e nem tinha amizade com os artistas. Fez vários cliques desses momentos, depois presentou a Silvana com cópias das fotos, e foram justamente essas imagens que a atriz nos enviou para ilustrar o bate-papo. Incrível! Trocamos alguns e-mails e o Dacio revelou que possuí guardados os negativos de 35 mm. Informei que estava escrevendo uma crônica sobre o Chiquinho Brandão e o Flávio Guarnieri, gentilmente ele digitalizou alguns fotogramas e nos enviou para as páginas da revista. O leitor pode indagar: foi uma coincidência? Total! A colaboração das fotos chegou na hora certa, fiquei tão contente, e agora divido com todos vocês. Imediatamente, alterei o arquivo da revista n. 18 e inseri os créditos do fotógrafo. Sobre o Chiquinho Brandão, Dacio narrou. “Passei também a admirar o Chiquinho Brandão cujo talento me conquistou ao assistir os seus divertidos personagens no ‘Bamba-

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Silvana, Bambaleão e Chiquinho Brandão

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desembrulhar o pacote, eis que... tcham: era um ge-né-ri-co! Quanta decepção. Não deu outra: joguei a pelúcia de lado e dei uma das minhas respostas malcriadas (era minha especialidade). Indignada, então, mamãe me presentou com uns tapas! Quando os artistas do Bambalalão realizavam espetáculos, sempre anunciavam no programa. Eu tinha entre 5 e 6 anos quando escutei a Silvana falando que, junto com outros colegas do elenco, estaria se apresentando no Teatro de Cultura Artística. Fiquei maluca e pedi ao papai que queria assistir o espetáculo de qualquer jeito. Nós fomos e fiquei absolutamente encantada! Os protagonistas eram a Silvana e o Flávio Guarnieri, havia outros atores, música, bailarinos. Produção caprichada.

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era um brinquedo comercializado. Eu chorei, esperneei, dei cambalhotas, infernizei. Não me conformava. Para acabar com aquela birra, mamãe foi até a primeira loja que encontrou e comprou um leãozinho qualquer. Chegou em casa sorridente e com um embrulho nas mãos. “— É o Bambaleão?” — indaguei. Ela balançou a cabeça de forma positiva. Ao arrancar o laçarote e

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Bambalalão, agosto/1986: Professor Parapopó (Chiquinho Brandão), Bamboneca (Helen Helene), e Pedrinho Pó-Pará (Álvaro Petersen). Foto: Dacio Azevedo Rodrigues / reprodução

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Na escola existe um grande teatro, estilo antigo e com assentos de madeira. Alguns professores passavam todos os anos de sala em sala para saber quais alunos gostariam de participar do grupo de amadores. Todo final de ano o grupo apresentava uma peça, geralmente baseada em algum livro clássico da literatura brasileira, sendo um incentivo devido à época de vestibulares, coisa e tal. Vez ou outra a Secretaria Municipal de Cultura levava espetáculos para os alunos, assisti várias peças excelentes. Diga-se de passagem, éramos “obrigados” a comparecer ao teatro, depois tínhamos que produzir uma redação que valia nota nas aulas de português. Para mim não era nenhum “sacrifício”, como diziam alguns colegas, sempre apreciei um bom espetáculo! Regressando à visita do Flávio Guarnieri, o artista foi até à nossa sala. Foi um momento inesquecível,

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A peça baseada no livro homônimo de Oscar Von Pfuhl é um infanto-juvenil de Romeu e Julieta, de Shakespeare, “transportado” para o mundo dos gatos. No reino de Gatopólis existe uma rivalidade entre os gatos brancos e amarelos. Os brancos são nobres, parentes do rei, e não pescam peixes, os brancos são plebeus, trabalham e pescam peixes. A situação vai ficando insustentável até que o rei declara a expulsão da cidade os amarelos. Passado algum tempo, a nobreza tem a sua reserva de peixes extinta. É declarada uma guerra, mas tudo é evitado devido à intervenção de Romão, gato amarelo, e Julinha, princesa e gata branca, que se apaixonam e trazem paz a Gatopólis. Na minha memória afetiva foram guardados muitos flashs do espetáculo. Mas depois de ver as fotografias que a Silvana nos enviou para ilustrar o bate-papo, a recordação foi ficando nítida e me lembrei de diversos momentos da peça teatral. E quem fez as fotos? O Dacio! Essa foi, então, a primeira feliz impressão que tive do Flávio Guarnieri. Dez anos depois, mais ou menos, em 1996/97, quando cursava o Ensino Médio, no colégio “Zuleika de Barros”, na Pompeia, o ator fez uma visita aos alunos.

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Romão e Julinha. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues

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► Silvana Teixeira e Chiquinho Brandão do programa Bambalalão na Premiação APETESP, em São Paulo, set./1986. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues

Thais Matarazzo

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dedicação às artes cênicas. Nunca me esqueço quando ele narrou de forma espirituosa o fato de ter nascido na Capital portuguesa, como sendo um “acidente geográfico”, pois iria estrear em Lisboa a peça Gimba, o Presidente dos Valentes, de Gianfrancesco. Ele nasceu uma semana depois, e a notícia foi publicada em vários jornais, “não sei até hoje como minha mãe conseguiu embarcar no navio já estando grávida de nove meses. O meu nascimento foi noticiado nos jornais da cidade, já nasci tendo meu nome em cartaz”, brincou na época. Essas são as minhas memórias que desejava partilhar com vocês para esta primeira crônica, que ficou um tantinho extensa, por isso, peço desculpas ao paciente leitor. Agradeço ao Dacio Azevedo Rodrigues pelo envio das fotografias. Valeu!

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ele era amigo da família da Bianca, uma colega nossa e que fazia parte do grupo teatral do colégio. Logicamente que a nossa professora já estava prevenida e nós o recebemos com todo o entusiasmo. Guarnieri muito simpático e acessível respondeu às nossas perguntas e curiosidades, contou histórias, falou sobre seu amor à família, aos seus pais, Gianfrancesco Guarnieri e a jornalista Cecília Thompson, e seu irmão Paulo, também artista, e a paixão e

thaismatarazzoescritora.com.br

@matarazzo.thais @thaismatarazzosp

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R eflexo M arcinha C osta

Do espelho em que me vejo o reflexo é um corpo despido destemido descolonizado Corpo preto traços bonitos

Marcinha Costa Baiana de Feira de Santana. Caçula de quatro irmãs. Atriz, professora da Rede pública, mestra em Estudos literários com ênfase em Literatura preta africana / moçambicana (UEFS). Publica poemas em coletâneas. Mulher preta em constante transformação. marcianeide@gmail.com Instagram: @marcinha1407

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Mas é no presente que meus sonhos existem meu espírito se expande refletindo o eu reluzente potente escrevivente

O que vejo no espelho é o reflexo da mulher amada empoderada que estilhaça a vidraça do sistema opressor e não se cala

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Diante do espelho recordo o passado: vidros quebrados alegrias ausentes

curvas acentuadas a caminho da liberdade na contramão de regras padrões imposições

Escritores brasileiros contemporâneos

Do espelho em que me vejo a imagem embaçada não me cabe rosto ofuscado não me pertence minhas feridas se perderam cicatrizadas no reflexo do tempo

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C omboio C onto

das

de

21:37 h *

R egina B rito

“NÃO POSSO FICAR NEM MAIS UM MINUTO COM VOCÊ/ SINTO MUITO AMOR, MAS NÃO PODE SER/ MORO EM JAÇANÃ/ SE EU PERDER ESSE TREM/ QUE SAI AGORA ÀS ONZE HORAS/ SÓ AMANHà DE MANHÔ.

* Homenagem ao compositor Adoniran Barbosa, autor de Trem das Onze.

Regina Brito Professora de Literatura, contista, escritora, poeta e atriz. Nascida na cidade do Rio de Janeiro.

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outra viagem namorou uma paulista e se tornaram amigos próximos. Voltemos ao namorico dos velhos tempos. Aprendi que o MANJERICO, o nosso manjericão, era ofertado às meninas como forma de presente no dia dos namorados. E foi em um dia, desses que nunca esquecemos, que ele quase perdeu o comboio. Ela o agarrava tanto em um total apego e aperto que ele cantou:

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Este meu amigo contou-me algo interessante de sua adolescência. Morava ele em Aveiros (Portugal) e namorava uma menina na cidade do Porto. Era um romance às escondidas, ora pois. Antes eram amiguinhos de bancos escolares, mas a pequena cresceu, os seios desabrochavam tal uma papoula. Ah, que encanto! Tudo era muito discreto, somente beijinhos, beijinhos e bilhetinhos apaixonados. Que paixão! Havia um grande probleminha: a volta para casa, pois sua mãe não dormia enquanto ele não chegava. O tal era filho único. A viagem demorava em média 55 minutos... Mesmo morando em terras portuguesas, ele conhecia a música brasileira como poucos brasileiros... Outro facto de suma importância para a nossa história, aqui narrada, é que tinha parentes em Santos. Vez em quando vinha ao Brasil e o conheceu de norte a sul. Dizia-me ele um dia, faz pouco tempo que se casou com uma nordestina e levou-a para sua terra. Em

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C oletivo C ultural B orboletas V oadoras

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B otafogo / C oca -C ola

Newton Nazareth É escritor carioca. Em Janeiro deste ano de 2021 estará lançando o livro CONFINADOS (Ed. Matarazzo). Ele não toma refrigerante.

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Faltam três paradas e o cansaço psicológico se impõe. Adormecendo novamente, Paulino revisita o passado: no primeiro dia de 2021 ele festejara com os colegas, inocentemente, o nome “Botafogo / Coca-Cola” escrito em todas as placas daquela estação. O tempo voara e o chefe ressurgira: “Quem quer uma marca com nome de estação de metrô?” Paulino pensa: “Se eu pudesse voltar atrás”... O sistema de som o acorda. “Próxima estação: Botafogo. Desembarque pelo lado direito. Next stop: Botafogo”... Ele grita: — Ainda há uma chance! Correndo pela plataforma, quase atropelando os passantes, o jovem cruza a bateria de catracas e ruma ao escritório. Ao chegar, revoga todos os contratos. A mudança de nome da estação Botafogo estava cancelada. Ele abre a geladeira do corredor, pega uma lata e toma um gole do seu refrigerante preferido. Tudo está em seus devidos lugares. O publicitário arremata: — É isso aí!

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Rio de Janeiro, primeiro dia útil de 2031. Paulino Neves, jovem executivo bem sucedido, pega o metrô no Jardim Oceânico com destino à estação Botafogo / Coca-Cola. Como diretor de marketing da empresa líder do mercado de refrigerantes ele enfrentara na última semana de 2030 uma maratona de reuniões. As medidas da nova estratégia de vendas teriam início a partir daquela quinta feira. Exausto, Paulino adormece no vagão assim que a primeira estação fica pra trás. Subitamente, o seu telefone celular sinaliza a entrada de uma mensagem. O jovem acorda e vê o ícone do seu chefe. Ao ler o texto, empalidece: as vendas da empresa continuam a despencar e já se igualam às do concorrente. A ansiedade aumenta quando ele lembra que o Coca-Cola F.C. fora rebaixado para a segunda divisão. O jogo começou a virar há cinco anos quando os papéis foram invertidos com a mudança do nome do clube. O patrocínio era coisa do passado e a empresa lutava para manter seu nome em alta. Mais uma estação se vai. O messenger toca novamente. O diretor administrativo enviara uma péssima notícia: O Coca-Cola Praia Shopping não abrirá as portas já que os lojistas não aceitaram as condições propostas. O que fazer com a garrafa gigante na calçada? “Tira logo esse traste daí!”, digitou o diretor.

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N ewton N azareth

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P oemas L uiz N egrão

Com estes versos A uma existência contemplativa Buscam-se um mundo absterso E promissora perspectiva.

Com Enfermidade Dor, desconforto e sintomas Diminuem a luz Entregar-se seduz Desafiador, viver vale o risco que se doma

C entro H istórico

No Viaduto do Chá a largada Os corredores dão voltas. Uns alegres, outros tristes, nas passadas Praças, casas, prédios, pessoas e ideias soltas Em um pé a Maria Paula lotada No outro, a insólita revolta Diante das frias calçadas Punge a alma pela cidade envolta. Pessoas vivas e as encarnadas Nas esquinas e ruas, sem escolta No cinza do concreto das Arcadas A fauna e a flora deixam as cores desenvoltas.

Janeiro/2021

Ideias construtivas Se somam. Não tergiverso Com a criação positiva Nem jogo para o universo Esta preciosa missiva. Ao mundo disperso Com pessoas receptivas Soluções para o controverso Que emoções reaviva.

no

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As cores vivas, Aromas diversos, Muitos universos São ambiente que cativa.

C ircuito

Luiz Negrão

Especialista em Direito Público pela Escola Paulista de Direito (EPD), publicou os textos históricos: “125 do Café Jardim”, “Homenagem do Dia do Patrono do Fórum de Artur Nogueira e “A atuação do Ministério Público no Caso Emeric Levai”.

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Quando Olhamos os L írios do C ampo

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P oemas F ernanda L uiza

Poema de Fernanda Luiza

Pequena Auta, menina O brilho das estrelas te encanta? Deixa cisma e indagações? Cisma é amor flamejante De alguém que busca respostas Estrelas são reações nucleares De átomos em movimento Não são almas de pequenas crianças Nem sonhos, desilusões ou desalento No choque de átomos vibrantes Que brincam no espaço adentro Ora onda, ora partícula Mas sempre em movimento Ondas eletromagnéticas Com diferentes espectros Atravessa galáxia inóspita Para brincar com você Sim querida Auta de Souza esse espectro invisível, chamamos luz por acaso carrega fótons, travessos Que no nosso olhar matreiro Transforma-se em cores vibrantes Essas estrelas celestes, Que muito lhe chama atenção no cintilar do seu brilho Te levou e guardou no coração É no coração estelar Produzido todos os elementos Que transmutados em pessoas Chamamos Auta, Marias, rebentos.

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À noite, olhando as estrelas, Como quem sonda um abismo: Meu Deus! O que serão elas? Almas gentis de crianças, Voando as plagas serenas, Como um bando de esperanças. Cheias de amor e de encantos, Hóstias formosas, nevadas, Eucaristia dos santos, Desilusões de poetas, Raios de luz desprendidos, Das asas das borboletas. Para uma encantada horta, Sorrisos tristes, magoados, De uns lábios de noiva morta, Formados da luz serena, Que aureolava os cabelos, Tão loiros de Magdalena. Uma alma branca de rosa, Que os anjos levam da terra Para a Santa mais formosa, O manto azul de Maria, E cada estrela um diamante Que neste manto irradia. De um’asa nívea de arcanjo... Pupilas em luz imersas Dos olhos castos de um anjo... No Azul imenso e sem véu... Ninhos de ouro pequeninos Dos beija-flores do Céu... Os astros, brancos arminhos: Nós somos berços que escondem, As almas dos passarinhos.

Conversa com Auta de Souza - Estrelas

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Poema de Auta de Souza

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O QUE SÃO ESTRELAS

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L endo

e

A prendendo

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rugados como papel crepom, mas tão brilhantes, onde nem o tempo conseguiu ofuscar o brilho. Querida por todos no bairro onde morava a tanto tempo, fazendo de sua vida solitária tomar outro rumo, cercada pelas crianças que tratava como “fios”, em sua humilde linguagem. Talvez dentro dela escondesse o sonho de realmente ter tido muitos filhos, pois adorava os pequenos, mas dentro de sua solteirice não conseguira formar família. Como era seu verdadeiro nome nunca contava, ria com a boca desdentada, dizendo em tom forte e solene: “Sou a vó dos contos, vó dos medos, vó das histórias, vó dos mistérios”. E assim prosseguia sua vida, com um grande segredo dentro de si: conseguir ler as histórias dos livros, que outras pessoas escreviam, mas que as páginas desses, com seus símbolos gráficos, ela não sabia decifrar. Assim ia, levando e criando

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Aquela senhora de rosto enrugado, velhinha e corcunda, sentada à porta de sua casa pequenina e tão humilde quanto ela, escondia dentro de si um universo de contos e histórias que atraiam a garotada do vilarejo. Vó conta uma história? E lá ia ela, atendendo ao pedido da garotada da rua, viajando em seu universo criativo e cheio de suspense, onde bruxas, fantasmas, lobisomens e seres encantados criavam vida dentro do mundo de fantasias de sua mente quase centenária, deixando a garotada de olhos arregalados e mente fértil para soltar a imaginação através de suas histórias e criar a imagem do personagem narrado. Certamente, que a noite não dormiam sossegados, pois a contadora de histórias tinha uma maneira especial de transmitir sua arte, fazendo a mente infantil mergulhar por inteiro no mundo mágico vindo da boca desdentada e daqueles olhos miúdos en-

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N azareth F errari

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Nazareth Ferrari Natural de Taubaté, SP. É pintora, escultora, escritora, professora, Pós-Graduada em História da Arte, Engenheira Civil e Membro Titular da Academia Valeparaibana de Letras e Artes. Conquistou inúmeros prêmios em literatura e artes visuais, possuindo obras na Alemanha e na França.

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poderiam ajudar-se e trocar conhecimentos. E assim, a professorinha das histórias do livro, ensinou a vó das histórias aprender a ler e a escrever, e a vó se encantou com as histórias que se escondiam no mundo das letras. Por sua vez, ela ensinou a jovem professora a desbloquear o mundo de imaginação que se escondia dentro dela, atrofiada pelo medo de se expor, e que escondia dentro de si um baú de sonhos e fantasias que só precisava ser desbloqueado, para que as palavras formassem histórias. Assim, lendo e aprendendo, a vó dos contos começou a escrever um fantástico e maravilhoso livro, “o seu livro de histórias”!

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sonhos, mas escondendo seu próprio sonho: saber ler, pois se achava muito velha para conseguir se alfabetizar, e as letras continuavam sendo, para ela, um grande mistério. Mas como dizia a vó dos contos, “que tudo tem seu dia certo”, um dia chegou ao pequeno vilarejo uma nova professora vinda da cidade grande. Mocinha simples, olhos grandes e azuis, tão brilhantes quanto os da nossa vó, meiga e sempre sorridente. Era um anjo em forma de gente. As crianças ficaram encantadas com a nova professora, mas ela não sabia contar as histórias da vó dos contos. No pequeno lugar, logo a professorinha de sorriso de anjo conheceu a vó das histórias e passou a escutá-las também. Como ela queria aprender a contar estórias tão fascinantes quanto aquela velha senhora contava e esta por sua vez queria tanto aprender a ler, como aquela encantadora professorinha lia os livros de histórias de outras pessoas famosas. Tornaram-se amigas e em suas confidencias, uma pela sabedoria do tempo, a outra pela cultura dos livros, elas perceberam que

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S ão P aulo E lisabete G onçalves (B el G onçalves )

Um verde mínimo sem colorido Finge amenizar... Mas o ar continua Seco e a agonizar. Tudo passa por Ti Cosmopolita na Alma Para qualquer lugar que se vá Seu aroma nos faz refletir... Sacomã, São Bernardo e Rudge Ramos Solidificaram a primeira infância, E ainda muito pequena sem entender O novo rumo que surgia.

Dos sonhos de infância Tão distantes agora. Caminhos percorridos e amadurecidos em Cotia Sem volta para o passado, esqueci. Ainda és minha São Paulo querida, Na essência e nos meus erres, Incorporados ao meu Português de berço, Grata por ser Paulista, mas preocupada pelo seu rumo. Desde menina tem adoração pelos desenhos/pinturas/esculturas, e, em especial pelas palavras em forma de poesias, sempre dedilhadas no decorrer da vida. Participou de várias publicações, como: a) Crônica – Revista de Negócios; b) Conto – Infantil; e, c) Poesias – Antologias (várias).

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Crescimento? O conhecimento e desenvolvimento Em meio às várias Culturas Tudo faz parte de sua engrenagem.

Pelo conhecimento embriagante Em outras paradas também cresci. Guarulhos na profissão amadureci, E entre tantos sonhos me iludi.

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Floresces em concreto, E seu verde já acinzentado Aos poucos vai desaparecendo Na menção de ficares moderna.

Do Belenzinho à Formosa Entre sotaques cresci, Timidamente ansiando E em busca de novos horizontes saí.

Escritores brasileiros contemporâneos

Minha São Paulo querida, Da garoa já esquecida Embrião da minha vida, O Mundo se expande aqui.

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P oema

Josiane Feliciano Steck Caitano (Ane Cfick): nasceu na cidade de Rosário, Paraná onde morou até os três anos, atualmente mora na cidade de Campo Limpo Paulista São Paulo.Aos doze anos escreveu sua primeira poesia com o nome de saudades a pedido de sua professora.Participou de várias Antologias e saraus escreve no site Recanto das Letras. Funcionária pública cursou Pedagogia e Artes Visuais. Casada é mãe de três filhos, e escreve a vida os sentimentos profundos da alma.

nº.20 Escritores brasileiros contemporâneos

O alto do Caaguaçu Aristocratas Cheiro de café Projetos urbanos chegando Famílias imigrando A vida começando Abolição da escravidão A periferia crescendo E assim tudo acontecia… Campos Elísios, Higienópolis e Cerqueira César.. Aristocracia e burguesia Famílias se instalando O plátano embeleza A magnólia destaca os jardins Paisagem europeia Deslumbrando todo o tempo… A linda Avenida Paulista nascendo Em estilo e glamour! Casas e Casarões Embelezam a Avenida… Eugênio projetou, a semente foi lançada Quanta história nela existe! A avenida Paulista, é mesmo uma riqueza...

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J osiane F eliciano S teck C aitano (A ne C fick )

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S ão P aulo ’ s

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São da Itália das festas bonitas Nossa Senhora Achiropita São das ideias que se renovam São Cristóvão São das riquezas e todos os bens Nossa Senhora do Belém São das crenças e seus ritos Santo Expedito São das serenatas amanhecidas Nossa Senhora Aparecida São de todas as nações Nossa Senhora dos Perdões São de todos os orixás. Mãe Iemanjá São da força que nunca para Santa Clara São de todos os Santos São Paulo dos meus encantos! Jesus Cristo te cubra com o seu manto!!

Escritores brasileiros contemporâneos

São Paulos e Pedros correndo São Pedro São ditos benditos São Benedito São cheios de fé São José São da esquina da ilusão São João São das mulheres aflitas Santa Rita São das muitas ladainhas Santa Terezinha São do verdadeiro manicômio Santo Antônio São do jesuíta que a engrandeceu São Judas Tadeu São dos índios , na primeira missa, com toda família. Santa Cecília

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C ristina C osta

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Muito se fala sobre esses dois Crimes, principalmente na mídia, mas confundindo-os completamente. Cada um deles protege bens jurídicos distintos. Então vamos esclarecer: O Racismo é a ação de discriminar todo um grupo social, por causa de sua raça, etnia, cor, religião ou origem. O Crime de Racismo está previsto na Lei n. 7.716/1989, implicando essa “conduta” discrimina-

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Dra. Gisele Luccas

tória direcionada à determinado grupo. Ações como impedir o acesso de grupos minoritários à determinados estabelecimentos e negar empregos são considerados como racismo. Este crime é inafiançável e imprescritível, e sua pena é de 01 a 03 anos de prisão, mais multa, além da pena correspondente a violência, se ocorrer. É considerado Injúria Racial a «ofensa» feita a uma determinada pessoa, com referência à sua raça, etnia, cor, religião, deficiência ou origem. O Crime de Injúria Racial está definido pelo artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que

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Qual a diferença entre “racismo e injúria racial”?

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As culturas de segregação racial nos Estados Unidos praticadas pelos seguidores da Ku Klux Klan, fundada após a Guerra Civil Americana, em meados de 1865. Recentemente o mundo presenciou 2 casos de Racismo, que causaram perplexidade e indignação sem precedentes, gerando inúmeros protestos face ao emprego exacerbado e injustificado de tamanha violência. No Estado de Minessota (EUA), um policial branco, matou por meio de asfixia um homem negro, de 46 anos chamado George Floyd. As cenas foram chocantes, pois Floyd clamou desesperadamente por sua vida, totalmente em vão. Na cidade de Porto Alegre, 2 seguranças de um supermercado da rede Carrefour, espancaram até a morte João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, sem que esse pudesse esboçar qualquer possibilidade de resistência. Em ambos os casos, ABSOLUTAMENTE NADA, justifica tamanha barbárie. O Jornal LE MONDE publicou matéria de capa com os seguintes dizeres:

Escritores brasileiros contemporâneos

estabelece a pena de 01 a 03 anos de prisão e multa. Além da ação penal, a injúria racial pode suscitar um processo cível e cabe indenização. Diferentemente do crime de racismo, que é imprescritível, a injúria racial prescreve em 8 anos. O Racismo necessita ser mais aprofundado visando uma compreensão exata de seu contexto no mundo. A etmologia da palavra é recente, surgindo pela 1º vez em um artigo Francês, publicado na revista Revue Blanche, em 1902. Posteriormente o termo popularizou-se em quase todas as línguas Européias, sempre denotando a concepção de superioridade e inferioridade racial, a partir do século XIX. Destaca-se ao longo da história 3 grandes exemplos de Racismo: A Política Antissemita de perseguição ao povo Judeu, na Alemanha Nazista, culminando no Holocausto; O “Apartheid” (Vidas Separadas), na Àfrica do Sul, tendo como líder revolucionário Nelson Mandela;

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“Menos intolerância e mais respeito”!!!

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É Advogada, Especialista em Direito Médico, Pós Graduada em Perícia Criminal e Ciências Forenses, com Capacitação em Psicopatologia Forense, Mediadora Judicial e Privada cadastrada no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Palestrante, Colunista, Mestramda em Psicologia Criminal - Especialização em Psicologia Forense (Universidad Europeia Del Atlântico- Espanha).

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Dra. Gisele Luccas

Escritores brasileiros contemporâneos

“O Brasil tem agora o seu George Floyd”. Vivemos tempos onde a intolerância em geral vem alcançando proporções desmedidas. Essa intolerância não é dirigida somente aos Afro-Descendentes, mas também com desrespeito a Comunidade Judaíca, propagando-se a apologia ao Nazismo, além de infinitos casos de violência física/morte em face dos Homossexuais. As pessoas estão perdendo o bom senso e destilando muito ódio contra seu próximo, esquecendo-se que são SERES HUMANOS providos dos mesmos direitos e obrigações, independente da cor da pele ou de sua crença religiosa.

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