Dedicamos o lançamento deste livro a: We dedicate this book launch to: NGO SALVAR VALE https://www.salvarvale.org.br/ On behalf of our Port 202 students,we kindly ask you to help them assist children in need. Book website: https://sites.google.com/view/oquedeixaram
O Que Deixaram Para Nós: O Poder Duradouro de Histórias de Geração em Geração
Assembly made from student collages and children’s illustrations, inspired by traditional patchwork quilts.
Montagem feita a partir de colagens dos estudantes e ilustrações das crianças, inspirada nas colchas de retalhos tradicionais.
O Que Deixaram Para Nós:
O Poder Duradouro de Histórias de Geração em Geração
Por estudantes de português do curso Port. 202 – Portuguese Reading and Writing Fall 2021
Northwestern University
Organização Ana Clotilde Thomé Williams Produção Editorial Victoria Thomé Produção Gráfica Jorge Buzzo Araujo Foto de Capa Maria Elza Bezerra Cirne elzabezerra.com.br
NORTHWESTERN UNIVERSITY Department of Spanish and Portuguese Portuguese Language Program 1860, Campus Drive, 3-107, Crowe Hall Evanston, IL, 60208-2161 spanish-portuguese@northwestern.edu | Telephone: +1 847.491.8249 https://spanish-portuguese.northwestern.edu/ Printed in the USA 2022
Sumário Agradecimentos – Acknowledgements . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Prefácio – Foreword. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Benoni Belli, Cônsul-Geral do Brasil em Chicago
Introdução – Introduction. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Ana Clotilde Thomé Williams
o que deixaram para nós A Lynn. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Anika Lynn Velasco
O Relógio Avariado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Santiago De La Torre
Grata ao Japão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Regan Andringa-Seed
Raízes na Música . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Héctor Leal
Instruções para Pegar um Dinossauro. . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Jesse Rothbard
Beau e o Chapéu da Vó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Jacob Katz
As Íris da Minha Tia-Bisavó e suas Coroas. . . . . . . . . . . . . 57 Corbin William Treadwell
Posfácio – Afterword. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Vera Teixeira Muller-Bergh
Sobre os Autores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Acknowledgements
We thank all who have contributed to the accomplishment of this project: The adult participants who dedicated their time to reading and interpreting these stories to their children; The children who heard, read, or imagined these stories and transformed them into beautiful drawings: you have moved and inspired us all; The General Consulate of Brazil in Chicago; The Council on Language Instruction of Northwestern University, whose backing made the publication of this book possible; The Department of Spanish and Portuguese of Northwestern University; The external editors of this book; And we especially thank those who left us stories to be told from generation to generation.
Agradecimentos
Agradecemos a todos os que contribuíram para a realização deste projeto: Aos adultos que dedicaram seu tempo para ler e interpretar as histórias às suas crianças; Às crianças que ouviram, leram, imaginaram as histórias e transformaram-nas em belos desenhos: vocês nos emocionam e nos inspiram; Ao Consulado Geral do Brasil em Chicago; Ao Council on Language Instruction da Northwestern University, pelo suporte que possibilitou a publicação deste livro; Ao Departamento de Espanhol e Português da Northwestern University; Aos editores externos deste livro; E, em especial, agradecemos àqueles que nos deixaram histórias para serem contadas de geração a geração.
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Foreword Benoni Belli, General Consul of Brazil in Chicago
The seven stories presented in this book provide the reader with a rich and exciting perspective on Portuguese as a foreign language. Based on childhood memories, the literary proposal of students of Portuguese at Northwestern University is to bring together what has been most meaningful to them in learning a language: the importance of the emotional memory passed down from generation to generation. The stories connect emotional memory to language learning. After all, language acquisition is mobilized by the experiences lived within the family. The tales take place in Mexico, the United States and even Japan. They are narratives that relate to us by our origins, games, and music, accompanied by inspiring drawings that will surely capture the reader with their sensibility. The illustrations provided by children from many different corners of the world add even more affective connections to the substantial learning of our language. They bring to light shared affinities and interpretations with the greater purpose of encouraging the study of the Portuguese language and generating long-lasting bonds with the Portuguese language of heritage. I hope that this work can be an inspiration for others not only in pursuing their own journey of learning Portuguese, but also to strengthen the cultural identity of speakers. A deeper and richer legacy of parents, grandparents, and great-grand parents will surely captivate everyone. Happy reading!
Prefácio Benoni Belli, Cônsul-Geral do Brasil em Chicago
Os sete contos apresentados a seguir trazem ao leitor uma rica e emocionante abordagem do português como língua estrangeira. Baseado em memórias da infância, a proposta literária elaborada por alunos de português da Northwestern University reúne o que há de mais significativo no aprendizado linguístico: a importância da memória afetiva passada de geração em geração. As estórias conectam a memória afetiva ao aprendizado da língua. Afinal, a formação linguistica é mobilizada pelas experiências vividas no seio familiar. Os contos se passam no México, nos Estados Unidos e mesmo no Japão. São conteúdos que se relacionam a nós pelas nossas origens, brincadeiras e músicas, acompanhados de desenhos inspiradores, que nos encantam com sua sensibilidade. As ilustrações sugeridas por crianças representantes de vários cantos do mundo adicionam ainda mais conexões afetivas para o aprendizado substancial da nossa língua. Trazem à tona afinidades e interpretações compartilhadas com o propósito maior de incentivar o estudo da língua portuguesa e gerar vínculos duradouros com o português de herança. Espero que esta obra seja inspiração para o aprendizado não só da língua portuguesa, mas também para o fortalecimento da identidade cultural de seus falantes. Um profundo e rico legado de pais, avós e bisavós vão certamente cativar a todos. Boa leitura! 11
Introduction Ana Clotilde Thomé Williams*
Every year, students enrolled in the course Port 202: Portuguese Reading and Writing take part in projects to further their writing skills. Frequently, they keep a blog with original creative writing texts from a variety of genres. Furthermore, they write letters to native speakers of Portuguese, compose a newsletter, etc. Every project has a story to tell. For the first time, the idea of making a book kept evolving and taking shape. Now, with the motivation of Portuguese language students at Northwestern University and the participation of young native speakers across the world, this book is becoming a reality. One of the themes that we studied during the trimester was the significance of cultural identity and ancestry. This topic stimulated an extended discussion regarding the stories that we have heard from our parents and grandparents, as well as those that we have experienced in our lives because of our roots. The sound of voices that tell stories gain contours of adventure and excitement. Stories link our present to our past and future. And, in the case of this book, they connect students of the Portuguese language to native as well as heritage speakers of Portuguese. After the final edits of the stories, we asked that family household figures like parents, grandparents as well as uncles *
Professor of Portuguese Instruction, Department of Spanish and Portuguese, Northwestern University.
Introdução Ana Clotilde Thomé Williams*
A cada ano, estudantes do curso Port 202: Portuguese Reading and Writing participam de projetos para desenvolverem suas habilidades na língua escrita. Frequentemente, eles mantêm blogs com textos originais nos mais diversos gêneros. Além disso, escrevem cartas a nativos da língua portuguesa, elaboram um jornalzinho etc. Todo projeto tem uma história para contar. Pela primeira vez, a ideia de fazer um livro brotou do papel foi crescendo e tomando forma. Agora, com a motivação de estudantes de língua portuguesa da Northwestern University e a participação de crianças falantes da língua pelo mundo, este livro está se transformando em realidade. Um dos temas que estudamos no trimestre foi a importância da identidade cultural e a ancestralidade. Esse tema originou uma profunda discussão sobre as histórias que ouvimos dos nossos pais e avós, e as que vivenciamos por causa das nossas raízes. O som das vozes que contam histórias ganha contornos de aventura e emoção. As histórias ligam nosso presente, ao nosso passado e futuro. E, no caso deste livro, ligam estudantes de língua portuguesa a falantes nativos ou de herança pelo mundo. Depois das histórias prontas, pedimos que pessoas da casa como pais, avós, tios ou irmãos mais velhos as lessem para seus *
Professor of Portuguese Instruction, Department of Spanish and Portuguese, Northwestern University.
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and aunts along with older brothers and sisters read them for their siblings, children, and grandchildren. Having the adults of each family read the stories out loud was key to this project. It brought to the fore, through the reader’s voice tone and rhythm, the story lived by another person. In reading together, this story becomes yours as well! The imagination of children from across the Portuguese speaking world transformed these written stories into colorful drawings for this book. Seven college students narrate stories that are part of their individual identities and pathways. And seventeen children, from a diverse selection of countries, with their drawings, gave new meaning to the written words. This book exudes intercultural encounters through the Portuguese language, bringing memories and love from the past into the present. Anika Lynn Velasco writes about the unexpected origins of her middle name “Lynn”, inspired by the name of her grandmother. Her narrative was read and illustrated by children in São Paulo and Hawaii. Santiago De La Torre tells us about the broken watch of his grandfather and the consequences of not paying attention to the passage of time; children living in Illinois and Ohio, in the United States, provided the illustrations for his story. Regan Andringa-Seed explores her intercultural experiences as a young girl when she visited her grandparents who were working in Japan; children from North Carolina in the United States, as well as in Guarapari in Brazil, and in Mozambique, provided the drawings for Regan’s narrative. Héctor Leal writes about his discovery of a common passion for music shared with his great-grandfather! Children in Virginia, Illinois, and Ohio drew the illustrations for this story. 14
o que deixaram para nós
irmãos, filhos, sobrinhos e netos. A leitura em voz alta pelo adulto da família foi importante para este projeto. Trouxe à tona, pelo tom e pelo ritmo da voz, uma história vivida por outra pessoa. Na leitura compartilhada, essa história torna-se também sua! A imaginação das crianças, em diferentes países onde se fala o português, transformou as narrações lidas em desenhos coloridos para este livro. Sete estudantes universitários contam histórias que fazem parte da sua identidade e do seu caminho. E dezessete crianças, dos mais diversos países, com seus desenhos, deram às palavras escritas um novo sentido. Este livro transpira interculturalidade pela língua portuguesa, resgatando memórias e amor. Anika Lynn Velasco escreveu sobre a interessante origem do seu nome do meio: “Lynn”, inspirado no nome de sua avó. Sua história foi lida e desenhada por crianças em São Paulo, e no Havaí; Santiago De La Torre contou-nos sobre o relógio avariado de seu avô e as consequências de não dar atenção às horas; crianças de Illinois e de Ohio, nos eua, ilustraram seu conto. Regan Andringa-Seed falou sobre sua experiência intercultural quando era criança e foi visitar seu avô que trabalhava no Japão; crianças da Carolina do Norte, de Guarapari, no Espírito Santo, e de Moçambique interpretaram a história com seus desenhos. Héctor Leal contou-nos sobre como descobriu sua conexão com seu bisavô pela música! Crianças na Virgínia, em Illinois e em Ohio ilustraram essa trama. Os animais comumente estão presentes em nossas memórias de infância. Jesse Rothbard conta como caçar um dinossauro na Flórida. Como é possível isso? Crianças de Cabo Verde e do estado brasileiro do Maranhão fizeram desenhos para explicar. introdução
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For many of us, animals are always present in our childhood memories. In his narrative, Jesse Rothbard tells us of how to capture a dinosaur in Florida. But how could that be possible? Children from Cabo Verde and the state of Maranhão in Brazil prepared drawings for the story. Jacob Katz brings us back in time to the day in which his great-grandmother, a Polish-Jewish immigrant to the United States visited his family and the family’s puppy Beau caught her by surprise and tore her hat! Children from Brasília and from Canada made drawings for the story. Finally, Corbin Treadwell describes the beautiful flowering irises, gifted from his caring great-grandmother. He shared how instrumental she was in helping her family set down their roots. Just like the symbolic way his own flowering irises flourish and continue to thrive under the tender care of each other from generation to generation. Similarly, stories help us revisit our roots and remind us about the care we have for each other. Writing is an act of courage, and it requires rigorous dedication. Together we were able to construct something as rich and complex as this book that captures the many levels of interaction between the authors, their readers, and the Portuguese speaking children across the world. Congratulations to the student-writers of the class! As well as the children-artists and the adult readers. May we continue to read our world and transform it in a creative and long-lasting way… from generation to generation!
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o que deixaram para nós
Jacob Katz nos leva ao tempo em que um dia sua bisavó, imigrante judia polonesa visitava sua família em Nova York e o cachorrinho Beau a surpreendeu rasgando seu chapéu! Crianças de Brasília e do Canadá ilustraram a história. Finalmente, Corbin Treadwell conta-nos sobre as belas flores íris da sua bisavó que, ao receberem cuidados, umas das outras, ajudavam a família a fincar raízes. Essas raízes passam a crescer e a gerar belas flores, e continuam cuidando umas das outras, de geração em geração. Assim são as histórias que perpetuam nossas raízes e nossos cuidados. Escrever é um ato de coragem, e demanda intensa dedicação. Juntos, conseguimos edificar algo tão rico como este livro, que abarca a interação com leitores e crianças lusofalantes pelo mundo. Vocês, estudantes-escritores, estão de parabéns! Bem como as crianças-desenhistas e os adultos-leitores. Que continuemos a ler o nosso mundo e a transformá-lo de forma criativa e duradoura… de geração em geração!
introdução
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o que deixaram para nós
Mālie Hernandez, 5
A Lynn Anika Lynn Velasco
Quando eu fui para a universidade pela primeira vez, minha avó me deu três coisas para levar comigo para a minha vida fora de casa. A primeira era um pão de banana com lascas de chocolate que ela tinha feito especialmente para mim para quando tivesse fome. A segunda era uma planta, verde e frondosa, para iluminar meu novo quarto. A terceira, ela já tinha me dado quando eu nasci: meu nome do meio, Lynn, para que sempre estivesse consciente de minha ligação com ela. Eu não gostava do meu nome do meio quando era criança. Você tinha ouvido o nome Lynn antes? Eu preferiria um nome de origem espanhola ou grega e definitivamente com muito mais sílabas, como Glória ou Maria, ou até Calliope. Mas não foi o que me deram. Meu nome do meio era Lynn. Um dia, minha avó ouviu sobre minha desilusão com meu nome e me convidou à sua casa. Quando cheguei, sentei-me com ela no sofá de sua sala de estar e perguntei-lhe: “Por que me chamo Lynn?” Minha avó respirou fundo e começou, “Quando eu era criança, odiava o nome que meu pai tinha me dado: Marilyn”. Ela começou a tremer com essa lembrança em sua mente. “Se seu nome é Marilyn, por que me chamo Lynn?” “Ouça, menina. Anos antes de meu pai conhecer minha mãe, ele era um homem solteiro que sempre frequentava um bar com seus amigos. Toda sexta-feira à noite, eles jogavam um jogo de cartas chamado pôquer e meu pai amava pegar o dinheiro de seus 21
amigos. Por uma razão ou outra, nesta noite particular, um amigo lá começou a falar sobre nomes para suas futuras filhas. ‘Eu gosto de Deborah!’ disse um homem. ‘E o nome Carol? Não gostam?’ perguntou outro com curiosidade. ‘E Marilyn? Quem não gosta do nome Marilyn?’ alguém (e ninguém lembra quem) perguntou. Uma onda de silêncio invadiu a sala. Ninguém pôde discordar dele. E então, por uma razão ou outra, os seis homens prometeram nomear suas futuras filhas Marilyn. Minha mãe nem teve opção. Meu pai tinha prometido a seus amigos, e quando o dia veio, anos depois daquela noite de pôquer, quando nasci, ele me deu o nome de Marilyn.” “Estou confusa, como você se chama Lynn?” “Deixa-me contar minha história! Eu sempre pensava, ‘Marilyn! Que nome tão feio!’ Agora posso achar que o nome de Marilyn não é tão mau como eu percebia, mas ainda estou certa de que Marilyn não era e ainda não é o nome para mim. O nome de Marilyn significa ‘mar de amargura’ e eu não queria ser inibida pelo destino que meu nome me impôs. O nome era muito intenso para mim, e não combinava com minha personalidade ou idade. Descreve uma senhora adequada e sofisticada, não a menina cheia de energia que eu era. Então, aos seis anos, decidi mudar meu nome de Marilyn para Lynn. Nesse dia em particular, escrevi l-y-n-n no topo da minha página na escola e o entreguei à minha professora. ‘Quem é Lynn?’ perguntou, com raiva, a professora. Eu levantei minha mão. Com uma voz tímida, murmurei: ‘É. Queria saber se seria possível se pudessem chamar-me Lynn em vez de Marilyn?’ 22
o que deixaram para nós
‘O quê? Como chamar você de Lynn? Não! Seu nome é Marilyn! Não é Lynn e você não pode usar um nome inventado em minha aula.’ Ela ainda não era a única que não aprovava o meu novo nome. Depois dessa interação, regressei a minha casa com lágrimas nos olhos. Ao encontrar-me com meus pais, imediatamente relatei tudo o que tinha passado e de meu novo nome. Meu pai se enfureceu tanto com a ideia de eu mudar meu nome que não lembro o que disse, mas sim lembro-me da cor de sua cara: vermelha. “Então, segui com o nome”, ela disse relutantemente com tristeza em seus olhos. “E Marilyn continuou a existir por muitos anos depois”. “O que você fez para chamar-se Lynn?” “Finalmente, num dia quando tinha onze anos, tudo mudou. E não sei o que mudou, mas estava na minha aula de matemática
Rachel Campos Lotti, 7 a lynn
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e decidi que já não ia responder a Marilyn. Queria ser Lynn e não tinha que pedir permissão aos demais. Eu própria o mudaria. Caminhei para minha casa para o almoço, onde me encontrei a sós com minha mãe. Antes que ela pudesse falar sequer uma palavra, eu anunciei: ‘Mãe, tenho que mudar meu nome.’ Não sei se foi pela entonação ou a intenção de minha voz ou pelo fato que minha mãe não tinha nem escolhido o nome de Marilyn, mas sem demora ela disse: ‘Sim. Entendido’. Durante o resto do almoço, nós discutimos meu novo nome. Ao final, concluímos que seria Lynn e seria escrito sem um e ao final e com dois n. Sabia que meu pai não ia gostar e nunca consegui convencê-lo de não me chamar Marilyn. Então para mim, a prova grande era a escola. Você lembra como minha professora de anos atrás tinha reagido? Cheguei a minha aula da escola depois do almoço e caminhei para o meu professor. Antes que pudesse arrepender-me, olhei para ele e anunciei, ‘Oi, quero ser conhecida como Lynn a partir de agora’. Houve uma pausa longa, onde o professor levantou suas sobrancelhas e contorceu sua boca. Preparei-me para ser repreendida por ele, mas isso não aconteceu. Em vez disso, o professor assentiu e exclamou, ‘Ótimo, Lynn!’ com um sorriso brilhante. E assim fiquei com o nome Lynn! Meus professores, meus amigos, minha mãe, todos sempre me chamaram de Lynn. Todos, menos meu pai, mas embora soubesse que nunca ia ganhar essa batalha com ele, não me deteria. Aceitei o nome Lynn como meu próprio nome.” “Você me chamou de Lynn?” “Sim, mas só foi escolhido para ser seu nome do meio por conveniência. Se você quiser, pode mudar seu nome do meio. 24
o que deixaram para nós
Keahi Hernandez, 9
Não tem um significado grande na família, só é o nome que eu escolhi quando senti que não tinha muita opção para determinar minha vida nem meu futuro”. Suas palavras ecoaram dentro de mim. Houve uma pausa enquanto tudo se assentou em mim. “Sabe, melhor mudá-lo se não gosta…” “Não. Por isso me chamo Lynn.” Minha avó me deu um pão de banana com lascas de chocolate e o comi quase todo em três dias. Minha avó me deu uma planta que morreu depois de cinco meses. Mas minha avó também me deu um nome, e nada poderá mudar meu nome do meio: Lynn. Este nome, o qual é menos um nome e mais uma lembrança da fortaleza da minha avó, sempre o terei. a lynn
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Marina Bonadio Neves, 7
O Relógio Avariado Santiago De La Torre
Meu bisavô Mariano era um homem que nunca foi amarrado ao tempo. Tive o prazer de conhecê-lo quando eu era uma criança e ia no verão para sua cidade natal de Guadalajara. Ele era um homem muito alto, calmo e de fala mansa. Ele sempre parecia ter tempo para conversar com quem cruzasse seu caminho. Lembro-me de muitos detalhes sobre esse grande homem, particularmente, o amor pelo saxofone que ele costumava tocar para mim, seu cheiro distinto de colônia e seus óculos grandes que sempre usava. No entanto, havia um detalhe específico sobre ele que sempre me marcou quando criança: seu relógio de ouro avariado. Durante a escola primária, fui instruído a tentar ler relógios para poder praticar a contagem das horas. Ainda assim, nas poucas vezes que pedia para ler o seu, sempre mostrava doze horas em ponto independentemente da hora do dia. Nunca se preocupava em consertá-lo. Quando eu ingenuamente dizia que seu relógio estava quebrado, ele respondia que era assim porque não gostava de ser pressionado pelo tempo. Naquela idade, não entendia o que ele queria dizer com isso e eu aceitava como era. Conforme eu crescia, e me contavam mais histórias sobre a vida dele, entenderia como essa frase era a essência definidora do meu bisavô. Ele trabalhava no gabinete do governador para a subdivisão de Zapopan em Guadalajara, era encarregado de arrecadar e alocar fundos para campanhas políticas. Dizia-se que, embora vivesse uma vida agitada com um trabalho 27
Ana Luiza Thomé-Hamilton, 7
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exigente, ele nunca tinha uma rotina. Alguns dias ele acordava cedo, mas chegava tarde para o trabalho e era o último a sair. Outros dias, ele ia apenas para cumprimentar os colegas e depois saía do escritório e desaparecia durante horas do dia. Ele era conhecido como um homem muito espontâneo e ninguém conseguia decifrá-lo. Sua esposa e chefe ficavam bravos porque ele tirava vários dias de folga do trabalho e da vida doméstica para passar o dia todo na escola de música do bairro e tocar saxofone. Mesmo assim, ele compensava as ausências frequentes com sua família planejando viagens aleatoriamente à praia ou levando os filhos ao parque em vez de deixá-los na escola. Ironicamente, mesmo sendo político, as pessoas diziam que ele tinha uma vida muito indisciplinada. Mas, conforme argumentava, “viver uma vida arregimentada matava a alma e só levava você mais perto do caixão”. É por isso que ele nunca se importava em olhar para o relógio. Isso seria verdade pela maior parte de sua vida, e parecia ser uma filosofia de sucesso para uma vida longa, considerando que aos 99 anos ele continuava a fazer as coisas tão extensivamente ou tão rapidamente conforme precisasse até se sentir satisfeito com pouca consideração pela obrigação. Ele não tinha muito respeito por tempo ou autoridade; fazia o que queria. No entanto, é evidente que na vida nem tudo pode ser vivido em extremos; sempre chegará a hora em que as consequências do seu estilo de vida baterão à sua porta. Para meu avô, todas essas consequências se acumulariam em um momento, a noite chegaria onde a pressão do tempo seria necessária. Semanas antes de seu centésimo aniversário, no início da noite, ele se levantou da cama e começou a dizer ao seu cuidador e à filha que sentia fortes dores por todo o corpo; um fato muito o relógio avariado
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atípico para um homem que foi muito saudável durante toda a sua vida, sem grandes complicações de saúde. Parecia que ele viveria para sempre. Entretanto, nesse instante era óbvio que sua ideologia de ser relaxado com o tempo se espalhou também para aqueles ao seu redor. Eles o ignoraram e disseram a ele para voltar para sua cama. Afirmaram que iriam ao médico pela manhã. Ele não recuou muito, mas insistiu em sua dor. Ele continuava acordando com dor, mas, sem saber quanto tempo havia passado a cada vez, ele aceitava seus pedidos e continuava tentando dormir. Quando a manhã chegou, chamaram por ele, mas não obtiveram resposta. Eles abruptamente abriram a porta do seu quarto e o encontraram esparramado na cama, mal respirando. Eles não podiam acreditar, a onda de culpa e percepção de que ele não tinha exagerado na noite anterior os atingiu imediatamente. Neste ponto, a única coisa que eles podiam fazer era chamar os paramédicos. Ele estava em estado crítico e o levaram ao hospital de ambulância. Tarde demais, seu coração já havia infartado. Essa foi uma notícia horrível para a família e deixou muitos com pesar. Um fim de vida evitável e trágico que impactou a história de nossa família e ficará em nossos corações como um lembrete de que, enquanto não se deve sucumbir a ser um escravo do tempo, o tempo ainda tem que ser respeitado. Embora ele tenha vivido a maior parte da sua longa vida sem se importar com o tempo, foi a falta de urgência que o tempo proporciona que encurtou sua vida, quase com cem anos completos. Por causa disso, agora sempre vivo com duas imagens em minha mente: a de seu relógio avariado e a de sua morte trágica. O relógio quebrado me motiva a viver 30
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muitos momentos da minha vida com tranquilidade e sem pressa; gostando das coisas que quero fazer e gastando o tempo que preciso para ter certeza de que estou vivendo minha vida ao máximo, independentemente de minhas obrigações. A tragédia me adverte para agir quando for devido e assumir a responsabilidade por minha vida. Algumas coisas requerem grande atenção e foco e devem ser tratadas como tais.
o relógio avariado
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Juliana Pascual, 14
Grata ao Japão Regan Andringa-Seed
No Dia de Ação de Graças de 2007, tudo que se podia ver de mim era uma pequenina cabeça de cachos loiros saltitando ao redor do quarto e espalhando folhas de cartolina no chão. Estava no Japão com meus pais, visitando meus avós. Eles não são japoneses, mas moraram numa base militar americana na cidade de Hiroshima por dois anos, devido ao trabalho do meu avô. Ele era um biólogo de radiação e estava estudando os efeitos da bomba atômica que os americanos lançaram em Hiroshima ao fim da Segunda Guerra Mundial. Eu só tinha seis anos de idade, mas estava muito animada com nossa viagem. Foi uma aventura de muitas estreias. Nunca tinha viajado a outro país antes. Nunca tinha me imergido numa cultura completamente diferente. E nunca tinha experimentado as mudanças culturais de meus avós, que agora moravam num país tão distante. Foi a primeira vez que eu me indaguei sobre como é se envolver em uma nova cultura ao máximo, ao ponto de mudar a sua própria identidade. Se eu morasse no Japão, seria uma japonesa? Minha semana no Japão foi cheia de atividades, como o passeio a uma ilha com veados domesticados; a visita a templos e palácios; o casamento de uns amigos de meus avós… mas o ponto culminante da viagem foi o Dia de Ação de Graças na base, com os colegas do meu avô, tanto americanos quanto japoneses. Os japoneses não celebram esse feriado, mas a loja da base militar americana tinha todos os ingredientes necessá33
rios: peru, oxicoco (que é o cranberry, uma frutinha vermelha da qual se faz um molho muito gostoso), batatas, e afins. As pessoas na base não viam muitas crianças, então todos eram tolerantes com minha energia e desejo de pular corda no corredor. A alegria da infância viaja pelo mundo. Os colegas japoneses vieram com suas famílias também. Suas filhas adolescentes queriam falar comigo em inglês enquanto meus avós praticavam seu japonês com seus colegas. Eu, entusiasticamente, inseria minhas cinco palavras de japonês a cada oportunidade, ao falar com as estudantes sobre o piano, a escola nos Estados Unidos, meus gatos, e a abundância de Hello Kitty que eu tinha visto no Japão. Conversamos sobre o feriado do Dia de Ação de Graças e as tradições da minha família. Eu expliquei que sempre discutíamos por quais coisas éramos gratos naquele ano e celebrávamos as coisas boas na nossa vida, antes de comermos um jantar delicioso.
Alessandro Dorigatti, 11
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o que deixaram para nós
As meninas pareciam conhecer bem os conceitos de gratidão e reflexão. Depois que eu terminei minha explicação, elas começaram a me ensinar a dobrar um grou [tsuru] de origami. O grou é um pássaro, considerado um dos símbolos mais tradicionais do Japão, um tesouro nacional. Nós dobramos algumas dúzias de grous até que eu aprendi como fazer. Eu admirava a elegância do longo pescoço do pássaro, feito de papel com padrão floral. Trabalhávamos em silêncio, concentradas na tarefa com uma delicada precisão e a paciência de que nós precisávamos. Finalmente, o jantar estava pronto, e todos se sentaram para comer. Como a tradição dita, começamos o banquete com uma discussão sobre a gratidão, cercados por grous de papel, que já tínhamos colado às paredes antes. Comemos o peru, as batatas, mas também miojos japoneses e sobremesas como mochi e biscoitos de chá verde. Foi uma noite feliz e cheia de amor e conexão. Apesar das diferenças das culturas, nossa gratidão se harmonizou perfeitamente. No dia seguinte, minha família foi ao Monumento pela Paz das Crianças e ao jardim de dobraduras de grous no Parque Memorial da Paz. Foi ali que eu aprendi que o grou é, tradicionalmente, um símbolo de paz, no Japão. No entanto, depois da Segunda Guerra Mundial, por causa de uma criança que foi exposta à radiação em Hiroshima, e dobrava os grous de papel na esperança de se recuperar da leucemia, os grous passaram a ter um novo significado. O monumento comemora essa criança, chamada Sadako Sasaki, como também todas as outras crianças que foram vítimas da bomba atômica. Com seis anos, eu não conseguia entender o significado de criar os grous de papel numa base militar americana na cidade de Hiroshima. grata ao japão
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Malaika de Lourdes Mboana, 10
Kiwanga dos Anjos António Maligo, 13
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o que deixaram para nós
Agora, quando eu reflito sobre a viagem, eu acho que a minha experiência intercultural foi um exemplo profundo de graça e perdão por parte dos japoneses. Não falamos sobre os componentes básicos do Dia de Ação de Graças como os peregrinos ou os nativos americanos, mas pude perceber o que realmente significa gratidão. Eu sou grata ao Japão por sua hospitalidade, e por me fazer entender o que é ter compaixão pelo ser humano.
grata ao japão
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Marina Bonadio Neves, 7
Raízes na Música Héctor Leal
A música sempre foi algo importante para minha família. Tenho tias que cantam, primos que cantam, e um avô que toca vários instrumentos. Desde criança eu via o meu avô tocar o violão e cantar as músicas dos Beatles, Eagles, Creedence Clearwater Revival, e outros grandes artistas da sua época. O meu avô cresceu num rancho no estado de Sonora no México. Ele deixou a escola muito jovem para trabalhar e ajudar a sua mãe, mas ele sempre foi apaixonado pela música. Especificamente, ele amava o rock em inglês; tanto que ele aprendeu sozinho o inglês só por escutar e cantar as músicas. Mais tarde o meu avô se mudou para uma cidade maior, perto do seu rancho: Navojóa, Sonora. Logo depois, aos vinte anos, o meu avô tornou-se um dos poucos que cantavam canções em inglês. Então, ele começou sua carreira musical em Navojóa e cantou em várias bandas, fazendo concertos e gravações. Hoje em dia, eu ainda vejo o meu avô afinando o seu violão e tocando suas canções favoritas da sua época. Mas o que eu não sabia era o grau de profundidade em que a música se manifesta na minha família. Durante o feriado de Natal de 2020, eu fui para Sonora, até o rancho onde a minha bisavó deu à luz ao meu avô e a seus irmãos. O rancho se chama El Chinal e fica bem escondidinho na serra de Sonora. Para se chegar até lá, é necessário pegar ruas de terra, o que torna o percurso muito mais lento do que se fosse em estradas pavimentadas. Porém, a paisagem 39
Anna Clara Neto, 12
é muito bonita. Há muitas montanhas que refletem uma bela mistura de vermelho e laranja durante o pôr-do-sol, o que nos permitiu apreciar a paisagem ao longo do caminho. Quando chegamos, nós visitamos a casa onde nasceram meu avô e seus irmãos. Foi uma experiência muito especial porque ali começaram as minhas raízes. Ao estar nesse rancho, vieram-me muitas perguntas sobre o que aconteceu ali: a história da infância do meu avô e também a história da minha bisavó. Quando voltamos do rancho, fui ao encontro da minha bisavó. Eu acreditava que, por ser muito idosa, ela não gostaria de falar muito. Mas eu estava tão errado! Quando fiz a minha primeira pergunta, “Vovó, você lembra do seu tempo no Chinal?” Ela falou de tudo. A coisa mais interessante para mim foi quando falou sobre o meu bisavô porque eu não sabia 40
o que deixaram para nós
Ana Luiza Thomé-Hamilton, 7
muito sobre ele. Ela me disse que era um homem alto e magro com cabelo preto, pele marrom, e olhos verdes. Ele morreu num acidente de carro quando meu avô era menino. Depois da sua morte, a vida da minha bisavó e do meu avô ficou muito difícil. Sem o apoio do meu bisavô, meu avô lutou muito na pobreza e teve que começar a trabalhar ainda menino. E, por isso, ele não gostava de falar sobre sua infância. Ao final da minha conversa com a minha bisavó, eu aprendi que o meu bisavô era cantor. Ele cantava muito e tinha uma voz muito aguda. Minha bisavó me disse que ele cantava para ela, então eu perguntei “Bisavó, você se lembra das canções que ele cantava?” Ela me disse que sim; e cantou uma das músicas por inteiro! Isso foi muito comovente para mim. Talvez ela não se lembrasse de muitas coisas do seu passado, mas ela raízes na música
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se lembrou do seu amor antigo pelo canto. E assim, fiz outra descoberta: o meu avô, talvez sem saber, continuou a tradição da música que se originou com seu pai e chegou até mim. Eu gosto de cantar também. Sempre quando nossa família se reúne, cantamos juntos enquanto o meu avô toca violão. Eu pensava em todas estas coisas quando minha bisavó falava sobre o meu bisavô. Assim, fiz uma grande descoberta que a música em nossa família vem do meu bisavô! Foi um detalhe que se eu não perguntasse para minha bisavó, nunca saberia. Hoje em dia, eu vejo a música e o canto na nossa família como uma maneira de honrar as minhas raízes e, especialmente, o meu bisavô.
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o que deixaram para nós
Lucas Luz Andrade, 9
Instruções para Pegar um Dinossauro Jesse Rothbard
Você verdadeiramente quer pegar um dinossauro, hein? Não vai ser fácil, mas percebo a determinação nos seus olhos então vou contando. O primeiro passo para pegar uma criatura assim, como bem sabe todo pescador ou caçador, é o seguinte:
1. encontrar a isca adequada No meu caso, foi durante uma pequena jornada de pesca em que o conheci e lembro, nesse momento, a sensação de terra fria nas pontas dos meus dedos. Cavava com as mãos, enquanto meu pai usava a pá para abrir uma série de buracos perto de um galpão no terreno do meu tio. Para um moleque como eu, imaginava que se eu fosse um animal submarino, uma grande minhoca gorda seria, para mim, uma comida recheada ideal. Mas, na verdade, não tínhamos muito tempo. Devido à intensificação da umidade ao final da tarde, quase todos os dias havia uma tempestade com trovoadas durante a qual não era seguro ficar fora, nem muito menos ficar perto da água. Então, havia certa urgência nos meus movimentos, mas pouco a pouco uma pilha de minhocas rosadas contorcia-se numa lata enferrujada que servia como um recipiente para nós. Na minha infância, íamos à casa do meu tio nos arredores de Orlando para passarmos algumas semanas lá e celebrarmos meu aniversário. Mas a verdadeira aventura se encontrava nos 45
pequenos lagos e lagoas que salpicavam a paisagem floridense. Nesses lagos, moravam centenas de espécies de jacarés, tartarugas, insetos aquáticos, e claro, muitos peixes que talvez o mundo nunca tenha conhecido antes, quem sabe. Caminhando com o cachorro do meu tio à noite, às vezes, vislumbrava o reflexo de olhos acima da água contemplando-nos e temia que algo nos pegasse. De toda a forma, uma faísca da luz desses olhos nas trevas havia permanecido dentro de mim. Quando partimos, o caminho era familiar para mim. Árvores massivas cobriam a estrada e suas formas revelavam o impacto de furações passados, com troncos estilhaçados e tufos de musgo espanhol agarrando-se aos galhos. Desta vez, não caminhava de noite, apenas de manhã na direção do clube de tênis. No mesmo bairro, havia uma pequena enseada cercada por um manguezal cujas raízes serviam de quebra-ondas para uma doca ali. O cais não era grande, apenas uma pequena plataforma para várias pessoas desembarcarem de um ou dois barcos. Diminutos peixes, muitos só do tamanho de um polegar, davam a volta rapidamente e recuavam para a água mais profunda ao perceberem nossa aproximação. Agora era o momento para o segundo passo, ou melhor, neste caso, um conselho:
2. se algo pode dar errado, dará Para pegar um peixe que lhe dê merecidas vanglórias por uns meses, ou inclusive anos, é preciso preparar bem os apetrechos, especialmente se o peixe for grande ou suficientemente ágil para enredar-se na alga e rompê-la. E saber no que consiste a diferença entre “pegar” e “pescar” é fundamental. 46
o que deixaram para nós
Dou-lhe um exemplo para ilustrar. Eu passava (e ainda passo) muito tempo “pescando” e só às vezes “pegando”. Quer dizer, que me encontro com poucos peixes quando estou pescando e passo muitas horas muitas vezes só em silêncio, ouvindo os coaxos das rãs ou o rumor de motores do outro lado da lagoa. Mas, nesse momento, eu estava determinado. Não sairia do lago sem algo, ainda se pegasse uma bota ou um jacaré que, com certeza, me devoraria. O meu pai e eu desempacotávamos a caixa contendo os apetrechos e começávamos a armar a vara. Cada vez que íamos à Flórida, usávamos a mesma vareta, enfaixada no meio, como as mãos de um boxeador veterano. Um grou-americano descia do céu e chegava a posar entre as mangueiras enquanto o meu pai me passava os apetrechos preparados. Então o que aconteceu foi um longo período de espera. É nisto que consiste o terceiro passo para pegar um dinossauro:
3. é preciso ter paciência, e montes dela No cais, escutavam-se os gritos de tenistas vitoriosos, misturados com o berro ocasional de um jacaré ecoando à distância. Eu tentava colocar a isca em diferentes lugares, deixando-a num lugar por uns minutos, ou também enrolando-a para imitar um peixe pequeno nadando. Trocava a minha posição. Às vezes, ficava com as pernas cruzadas, ou com uma em cima da outra. Às vezes, ficava de pé, ou sentava-me na doca, deixando os pés roçarem a água até que eu notasse uma mudança. A ponta da vara tremulava, dobrando-se com o peso de algo debaixo da água antes de voltar outra vez à sua posição vertical. Esse movimento se repetiu várias vezes até o momeninstruções para pegar um dinossauro
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Salomão José França Ribeiro, 11
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to em que o meu pai bateu a vara para cima para ressubmergir o anzol, e me passou a vara. A linha retalhou a água com violência, mas logo sua superfície ficou completamente calma, refletindo o azul do céu, com um só círculo emanando do ponto onde a água e a linha se encontravam. Com um golpe seco, o carretel começou a gritar num berro mecânico que anunciava que o peixe havia decidido correr com a isca. A água fervia com um furor inédito. Eu mantinha a vara angulada para que o peixe pudesse seguir puxando a linha sem muita resistência do molinete, mas com uma tensão constante para perceber o momento quando a velocidade diminuiria, ainda que fosse por um segundo. Esse seria o instante perfeito para começar a retrair o meu oponente. Tecendo no ar um movimento suave, eu puxava a linha gradualmente, com a intenção deliberada de não resistir ao peixe quando quisesse correr outra vez. Assim, insistimos numa permuta, numa corrente que unia a água e o ar. Com delicadeza, passei a retirar da água a linha já coberta com algas para colocar o peixe nas tábuas de madeira molhada do cais. Uma cara magra e afilada me contemplava do fundo da lagoa antes de romper a superfície. Um lúcio, dizia meu pai, ao vê-lo na ponta da linha. A criatura tentava escapar para baixo num acesso final de velocidade, mas já era tarde. O lúcio, vestido com uma cascada de escamas polidas e uma mandíbula lotada de dentes como agulhas, fervilhava com energia no cais. Conhecidos como um Chain Pickerel em inglês, os lúcios são predadores que evoluíram na mesma época do Tiranossauro Rex, um verdadeiro fóssil suspendido no tempo e nas correntezas debaixo das ondas. Um dinossauro encalhado no presente. Fitava-o e observava seus olhos injetainstruções para pegar um dinossauro
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Davi Andrade, 13
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o que deixaram para nós
dos e sua forma ofegante. Sua mandíbula tremia de um jeito quase que imperceptível. Eu me lembro da sensação de tristeza que me invadia ao ver sua silhueta sobre a madeira da doca. Pode imaginar uma solidão assim? Uma solidão de milênios. Uma solidão pré-histórica nas profundezas da água? Enrolamos o lúcio numa toalha ensopada para mantê-lo molhado e para impedir que nos mordesse enquanto tirávamos o anzol da sua boca. Agora, o quarto e último passo talvez seja o mais importante:
4. soltar A beleza de pescar, para mim, não consiste em um troféu ou no fato de vencer a natureza, mas representa um momento para aprofundar a conexão com ela e as pessoas ao redor. Os peixes, depois de um período fora da água, precisam de um certo tempo para deixarem o oxigênio que extraem de seu ambiente circular nos pulmões e para começarem a se mover outra vez. Se são soltos diretamente na água morrerão, pois não podem simultaneamente nadar e recuperar a sua força depois da luta com o pescador. Com a ajuda do meu pai, transferi o lúcio, ainda ofegante, à água do lago, sem que o soltasse. Lentamente, retirei-o da toalha enquanto segurava sua barriga com as mãos. A boca dele abria e fechava com as ondas que escorriam atrás de nós e batiam na areia. Sentindo tremular suas guelras e nadadeiras, passei a aliviar o meu aperto no seu corpo. De repente, com um estalo de sua cauda, desapareceu, como se nada tivesse ocorrido. Mas você acredita em mim quando digo que um dia conheci um dinossauro? instruções para pegar um dinossauro
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Lua Vida Silva Cassell, 10
Beau e o Chapéu da Vó Jacob Katz
Esta história, ouvi de meu pai. Ele nunca falou muito sobre sua infância, mas às vezes, em alguns momentos, cheio de uma mistura de tristeza e nostalgia, parava e pensava na sua avó. Ela se chamava Sara, mas meu pai a conhecia como “Hup”. Ela, uma judia polonesa, imigrou da Alemanha para os Estados Unidos nos anos 1930, antes da guerra, fugindo dos nazistas. Seria a única de quinze irmãos a sobreviver à guerra. Ela não tinha muito dinheiro em seu novo país, e vivia uma vida simples e religiosa. A cada duas semanas, ela pegava dois ônibus e um trem para chegar à casa da sua filha, na periferia da cidade de Nova York. De seus três netos, Hup sempre preferiu meu pai, o mais novo, com apenas oito anos de idade, na época dessa história. A família tinha um cachorro, um poodle standard preto chamado “Beau”. Como qualquer animal, ele queria atenção, e faria qualquer coisa para consegui-la. Mas a família do meu pai não sabia como criar um cachorro, não lhe davam reforços positivos, e o cão respondia com muita agressão e causava encrencas. (Um dia, por exemplo, ele estragou uma grande televisão inteira!) Ainda assim, meu pai se lembra do cachorro com carinho, porque Beau sempre o protegia. Certa vez, Hup chegou para o jantar, usando um enorme chapéu de pele preta, mas falsa. E nesse chapéu, dentro de uma toalha de papel, havia escondido seu dinheiro. Ela mencionou o chapéu muitas vezes naquela noite porque era novo 53
Henrique Soares de Oliveira, 5
e, mesmo que fosse de pelúcia, tinha muito orgulho dele. Talvez fosse um símbolo da vida depois da guerra. Ela permaneceu com o chapéu na cabeça o tempo todo. Só o tirou na hora do jantar. Mas, no momento exato em que ela tirou o chapéu, Beau o roubou rapidamente. O cachorro começou a correr pela casa, seguido pela minha avó (a mãe do meu pai) que gritava, gritava. Ela obviamente não conseguiu capturá-lo, e Beau destruiu completamente o chapéu com os dentes. Enquanto minha avó perseguia o cachorro, Hup estava em silêncio. Inquieta, mas em silêncio, talvez preocupada e, por isso, imóvel na cozinha. No fim, Beau arruinou o chapéu inteiro e a toalha de papel que estava dentro, mas o dinheiro, este ficou inalterado. Talvez Beau soubesse o quanto ela precisava dele. Toda a família olhou para Hup, mas ela continuou imóvel e silenciosa. Depois de vários minutos, ela finalmente falou: “Bem, o chapéu tinha suas partes coladas quando o comprei, então agora eu posso repará-lo com agulha e linha e ficará 54
o que deixaram para nós
bem melhor”. Nas semanas seguintes, ela passou longo tempo costurando, e no fim, consertou o chapéu. Essa história meu pai contava e alguns ensinamentos aprendeu e me ensinou. O primeiro é que devemos apenas nos preocupar com as coisas que podemos mudar. E a segunda lição foi sobre o cachorro que protegeu o dinheiro. Os animais, como os humanos, precisam de atenção positiva e carinho. Há que amar as coisas boas e ignorar as más.
beau e o chapéu da vó
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Victor Veríssimo Soares de Oliveira, 9
As Íris da Minha Tia-Bisavó e suas Coroas Corbin William Treadwell
Eu sou alta e elegante. Tenho um longo pescoço verde que sustenta minha cabeça de pétalas de flores, como uma bela coroa roxa e amarela. Eu danço com meus irmãos no campo ao lado de casa. O vento de Oklahoma é o nosso parceiro de dança. Ele flutua entre nós e carrega nossa doce aura pelo rancho até chegar à casa da senhora. A senhora é agora chamada de tia-bisavó pela família, mas na verdade, para nós, flores, ela é nossa mãe. Ela nos deu à luz. Ela nos deu vida. Eu nasci a partir de um bulbo que ela colocou na terra. Embora eu tenha agora minha linda coroa de pétalas, quando eu era bebê, eu era suja e feia. Mas a tia-bisavó cuidou de mim e eu cresci e me tornei a íris alta e elegante que eu sou hoje. Ela não apenas sabia como cuidar de nós, mas também conhecia a ciência de meu corpo e como os corpos de meus irmãos funcionavam. Ela retirou os bulbos da terra, cortou-os e combinou-os com outros para misturar as cores de nossas coroas. Eu devo minhas pétalas roxas e amarelas a ela. Um dia que eu nunca esquecerei é o dia em que nos despedimos da tia-bisavó. Ela saiu de casa e caminhou até o nosso campo e sentou-se conosco. Era como se ela fosse uma de nós. Nós tínhamos feito isso muitas vezes, então não era estranho. Por anos, ela se sentava conosco todos os dias. Mas hoje foi diferente. Os velhos olhos dela estavam cheios de água. Ela estava sorrindo, mas os olhos estavam cheios de água. Ela nos regou naquele dia com suas lágrimas. Ela nos abraçou e se despediu e nunca mais a vimos. 57
Ana Luiza Thomé-Hamilton, 7
Taís Freitas da Boa Morte, 7
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o que deixaram para nós
Depois disso, a sobrinha da senhora passou a cuidar de nós. A família da casa a chama agora de vó. Ela também era velha, mas ela tinha mais vida para nos dar. E ela nos amava também. Ela não se sentava conosco como a tia-bisavó. Em vez disso, ela ficava conosco, assistindo ao pôr-do-sol e orando. Às vezes ela chorava enquanto orava, o que eu e meus irmãos sempre tememos que poderia significar que ela estava indo embora. Ela nunca foi embora, mas alguns de nós, sim. A filha da vó, que a família chama agora de mãe, cortou algumas de nossas coroas de pétalas e retirou nossos bulbos da terra. Ela colocou-nos em uma bolsa e dirigiu para sua casa na cidade. Lá, ela nos plantou ao lado de sua casa e ficamos altas e elegantes. Mas não por tanto tempo como fizemos com a vó e a tia-bisavó. Nós nos mudamos frequentemente com a mãe, de um lugar para outro. Em alguns dos lugares onde ela e sua família moravam, não havia espaço para nós. Então nós ficamos como bulbos na bolsa. Esperamos na escuridão. Em tempos de dificuldade. Na pobreza. Na doença. Mas quando chegou a hora, ela nos replantou e nós voltamos a crescer e a ter nossas coroas. Nós apreciamos o ar fresco. Esticamos nossos corpos. Assistimos ao mesmo pôr-do-sol que víamos antigamente com a vó. Neste presente momento, nós estamos esperando, embora nós sejamos os mesmos bulbos, as mesmas íris. Nós temos fé de que seremos replantadas. Nós sabemos. Haverá um dia em que seremos altas e elegantes novamente, preenchendo o ar com a mesma doce aura que demos à tia-bisavó. Simplesmente esperamos que a próxima geração, que a família agora chama de filho, tenha fé em nós. as íris da minha tia-bisavó e suas coroas
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Afterword Reading and Writing Vera Teixeira Muller-Bergh*
Among all creatures, large and small, who inhabit Planet Earth for millennia, only one being has the brain capable of recognizing symbols or letters and assembling them together forming words, as well as registering them by means of graphic characters, that is, to read and to write. These are aptitudes inherent to the animal species who possesses the highest degree of neurological complexity in the evolutionary scale: the human being. However, to read and to write require practical apprenticeship and autodiscipline, processes different from instinctive functions such as to breathe, for instance, communal to all living beings. Furthermore, to think and to remember are aspects of what constitutes memory, the admirable ability to retain and recall information, which is present in the human brain and that of some other animals. Reading and writing are abilities that may generate pleasurable sensations, self-confidence, feelings of security, progress or empowerment. As such, since times immemorial, their teaching was manipulated as a right for some, and limited to others, creating societies divided between the literate, those destined to succeed, and the illiterate, those condemned to obey and to serve. In more recent times, modern societies *
Distinguished Senior Lecturer Emerita, Department of Spanish and Portuguese, Northwestern University.
Posfácio Ler e Escrever Vera Teixeira Muller-Bergh*
Entre todas as criaturas, grandes e pequenas, que habitam o planeta Terra há milênios, só um ser possui o cérebro capacitado para reconhecer símbolos ou letras e juntá-los formando palavras, bem como registrá-los por meio de caracteres gráficos, ou seja, ler e escrever. Estas são aptidões inerentes à espécie animal que apresenta o maior grau de complexidade neurológica na escala evolutiva: o ser humano. Entretanto, ler e escrever requerem aprendizagem prática e autodisciplina, processos diferentes de funções instintivas tais como respirar, por exemplo, comuns a todos os seres vivos. Ou ainda, pensar e lembrar, aspectos do que constitui a memória, a admirável habilidade de guardar e recuperar informação, que é presente no cérebro humano e de outros animais. Ler e escrever são habilidades que podem gerar sensação de prazer, autoconfiança, segurança, progresso ou poder. Como tal, desde épocas imemoráveis, o ensino delas foi manipulado como direito de alguns e limitado para outros, criando sociedades divididas entre alfabetizados, destinados a progredir, e analfabetos, condenados a obedecer e a servir. Na nossa época, sociedades modernas parecem finalmente estar começando a reconhecer e buscar soluções para este grave problema social. *
Distinguished Senior Lecturer Emerita, Department of Spanish and Portuguese, Northwestern University.
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seem to be finally beginning to recognize and search for solutions to this grave social problem. Happily, the preservation of the monumental intellectual inheritance accumulated over centuries has also been the target of renewed attention to the maintenance of magnificent libraries as well as to the need to establish modern architectural complexes in which to house the marvels produced by the creative genius that distinguish the human being. René Descartes, French philosopher, in The Discourse on the Method, from 1637, affirmed “I think, therefore I am…” Ernest Hemingway, the most widely read, influential and admired American writer of the xxth Century, war correspondent during the Spanish Civil War (1936-1939), received the Nobel Prize in Literature in 1954 for his work as the author of novels, short stories, letters, poems and memoirs published since 1932. However, upon learning that his mental faculties, diminished as a result of serious accidents, would not permit him to return to writing, he decided that a life without writing would not be worth living (*Oak Park, Illinois, 1899, † Ketchum, Idaho, 1961). Now we are in the xxith Century, our time, the time of admirable technological developments such as computers, the internet, email and the cellular phone, as well as the proliferation of e-books, audio-books and emojis, products introduced as tools to adjust communications to the accelerated rhythm of contemporary life. It is incumbent upon us, however, the responsibility to preserve and amplify the emotional impact conceived from the words read and written in the works of Portuguese writers such as Camões, Eça de Queiroz, José Saramago (Nobel Prize in Literature 1998) and Brazilians such 62
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Felizmente, a preservação da monumental herança intelectual acumulada através de séculos também tem sido alvo de renovadas atenções à manutenção de magníficas bibliotecas e ao estabelecimento de modernos conjuntos arquitetônicos onde se guardam as maravilhas produzidas pelo gênio criativo que distingue o ser humano. René Descartes, filósofo francês, em O Discurso do Método, de 1637, afirmou “Penso, logo existo”. Ernest Hemingway, o mais lido, influente e admirado escritor americano do século xx, correspondente na Guerra Civil Espanhola, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1954 por sua obra como autor de romances, contos, cartas, poemas e memórias publicados desde 1932. Porém, ao saber que suas faculdades mentais prejudicadas por vários sérios acidentes não lhe permitiriam voltar a escrever, ele decidiu que uma vida sem escrever não valeria a pena ser vivida (*Oak Park, Illinois, 1899, † Ketchum, Idaho, 1961). Agora estamos no século xxi, a nossa época, o tempo de admiráveis avanços tecnológicos como computadores, a internet, e-mail e telefones celulares, bem como a proliferação de e-books, audiobooks e emojis, produtos introduzidos como ferramentas para ajustar a comunicação ao ritmo acelerado da vida contemporânea. Cabe a nós, entretanto, a responsabilidade de preservar e ampliar o impacto emocional concebido pelas palavras lidas e escritas nas obras de autores portugueses como Camões, Eça de Queiroz, José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura em 1998), e brasileiros como José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Rachel de Queiroz ou Nélida Piñon, entre muitos outros contribuintes à nossa herança cultural em português. posfácio – ler e escrever
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as José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Rachel de Queiroz or Nélida Piñón, among many other contributors to our cultural inheritance in Portuguese. Fortunately, writers have been increasingly applauded in competitions, with prizes and professional promotions. Likewise, we observe the creation of opportunities for improvement in workshops for students like these, already initiated in the pleasure of creating and publishing texts. It is the start of a journey which might lead to international recognition! Congratulations and best wishes to all.
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Felizmente, o ato de escrever tem sido cada vez mais reconhecido por concursos, premiações de grande valia, promoções na vida acadêmica ou profissional. Da mesma forma, observamos a criação de oportunidades para o aperfeiçoamento em workshops para estudantes como estes autores, já iniciados no prazer de criar e publicar textos. É o começo de uma jornada que pode levar ao reconhecimento internacional! Parabéns e felicidades a todos.
posfácio – ler e escrever
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Sobre os Autores
autores
Regan Andringa-Seed é uma estudante do terceiro ano na Northwestern University. Ela cursa Neurociência e Espanhol. Ela nasceu em Ann Arbor, Michigan, e cresceu em Chapel Hill, Carolina do Norte. No seu tempo livre, ela gosta de passar tempo ao ar livre para caminhar, acampar, andar de caiaque e muito mais! Blog: https://reganandringa-seed.wixsite.com/website 67
Santiago De La Torre é um estudante do terceiro ano da Northwestern University em Chicago, que cursa Neurociência para ingressar em Medicina. Ele atualmente mora em Portland, Oregon, mas sua família e ele são de Guadalajara, México. Apaixonado por línguas e medicina, Santiago espera um dia ser capaz de tratar pacientes de diversas origens e culturas em todo o mundo. Gosta de jogar futebol, tênis, comer fora com os amigos e passar bons momentos com a família. Blog: https://santiagodelatorre2.wixsite.com/portugues
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o que deixaram para nós
Héctor Leal é estudante do terceiro ano na Northwestern University. Ele cursa Matemática, com um Minor em Português. Em seu tempo livre, gosta de fazer exercício, ver filmes e viajar. Blog: https://hectorleal2023.wixsite.com/website
sobre os autores
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Jacob Katz é estudante do segundo ano na Northwestern University, cursando Linguística e Ciência de Dados, com um Minor em português. Nasceu na cidade de Nova York e agora mora em Evanston, IL. Gosta muito de esquiar, tocar piano, aprender línguas e viajar! Blog: https://avidanalingua.wordpress.com/
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Jesse Rothbard é um estudante de pós-graduação da Universidade de Northwestern, especializado em Literatura Latino-Americana. Nasceu na cidade de São Francisco e estuda em Chicago, onde reside atualmente. Gosta de ler, cozinhar, e sair com os amigos para dançar. Blog: https://reflexoesdesafinadas.wordpress.com/
sobre os autores
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Corbin william Treadwell é estudante do quarto ano na Northwestern University. Ele cursa Religião e Português. Mora em Chicago, mas é originalmente de Oklahoma. Gosta de escrever poesia, fazer arte, ouvir música e passar o tempo com outras pessoas. Blog: https://williamtreadwell20.wixsite.com/blog
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o que deixaram para nós
Anika Lynn Velasko é uma estudante de segundo ano na Northwestern University. Ela cursa Psicologia com um Minor em Português. Nascida em Lima, Peru, e criada em Evanston, ela se interessa por línguas e por experiências culturais ao redor do mundo. No seu tempo livre, ela pinta, toca ukulele e brinca com seus gatos. Blog: https://anikavelasco2024.wixsite.com/portugues
sobre os autores
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ilustradores
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Alessandro, 10 Guarapari, es, Brasil
Ana Luiza, 7 Ohio, eua
Anna Clara, 12 Virgínia, eua
Davi, 13, e Lucas, 9 Praia, Cabo Verde
o que deixaram para nós
Henrique, 5 Brasília, df, Brasil
Juliana, 14 Carolina do Norte, eua
Keahi, 9 Honolulu, Havaí
Kiwanga, 13 Maputo, Moçambique
sobre os autores
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Lua, 10 Toronto, Canadá
Malaika, 11 Maputo, Moçambique
Mālie, 5 Honolulu, Havaí
Marina, 7 Illinois, eua
o que deixaram para nós
Rachel, 7 São Paulo, sp, Brasil
Salomão, 11 Maranhão, Brasil
Taís, 7 Juiz de Fora, mg, Brasil
Victor, 9 Brasília, df, Brasil
sobre os autores
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