KÉRAMICA revista da indústria cerâmica portuguesa
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Publicação Bimestral €8.00
nº370
Edição Maio/Junho . 2021
ECONOMIA CIRCULAR
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Index
Editorial . 03
Economia . 31 Exportações de Cristalaria em 2020, no Mundo, União Europeia e Portugal
Destaque . 04 4 Uma Agenda Circular para o Centro de Portugal 7 O Desenvolvimento Sustentável é uma Responsabilidade de todos nós
Construção Sustentável . 10 10 Construção Sustentável 14 Construção Sustentável, o papel do Cluster AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção 28 O Paradigma da Circularidade no Setor da Construção: Desafios e Contributos do CECOLAB
Economia Circular . 12 12 A Economia Circular no Sector da Construção 17 As Empresas Cerâmicas e a Transição para uma Economia+Circular
Design Circular . 33 CIRCO Hub Portugal – Criação de Negócios através do Design Circular
Arquitetura . 36 36 Soluções Globais com Saberes Locais 43 Clinica Maida Smiles – A beleza do trabalho com as mãos num mundo digital
Investigação . 39 Circularidade de Resíduos industriais na Construção Sustentável – As Coberturas Verdes
Formação . 20
Associativismo . 42
Economia Circular na Indústria da Cerâmica: Formação para Alavancar a Mudança!
Faleceu Manuel Domingues Antunes Cepas da antiga Associação Portuguesa de Cerâmica
Sustentabilidade . 23
Notícias & Informações . 46
O Compromisso da Saint-Gobain com a Sustentabilidade
Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas
Secção Jurídica . 26
Calendario de Eventos . 52
Sustentabilidade: Lucro e Propósito – A Importância das Empresas na Construção de um Mundo Melhor
Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023 Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício C 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt Tiragem 500 exemplares Diretor Marco Mussini Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Marco Mussini, Martim Chichorro e Susana Rodrigues Capa Nuno Ruano
Colaboradores Ana Carvalho, Ana Lourenço, Ana Pires, Albertina Sequeira, Alexandra Rodrigues, Amanda Dinis Barros, António Oliveira, Cristina Sousa Rocha, David Camocho, Filipa Figueiredo, Filomena Girão, Joana Carvalho, João Nunes, Jorge A. Pinto Paiva, Jorge Alexandre, José de Matos, Maria Inês Basto, Mariana Fonseca, Marta Brazão, Pedro Ressano Garcia, Rita Moura, Rui Valente, Sílvia Machado, Teresa Ponce de Leão e Teresa Jorge. Paginação Nuno Ruano Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números) ; Portugal €32,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00 Versão On line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da revista Técnica n.º 9 Maio / Junho 2021 (CTCV)
Índice de Anunciantes Bongioanni Macchine (Contra-Capa) • CERTIF (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Página 45) • Cluster Habitat Sustentável (Verso Capa) • SEW Eurodrive (Página 1) Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem Publicação Bimestral nº 370 . Ano XLVI . Maio . Junho . 2021
Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php
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Editorial
Há vaticínios que vale a pena fazer, mesmo que sejam meros exercícios mais ou menos especulativos, feitos a propósito e com base naquilo que nos parece. Mas vale a pena fazê-los porque ninguém vai estar cá para os comprovar, nem deles vai rezar a História daqui por 400 ou 500 anos. Pode ser um exercício puramente lúdico, mas se nos der prazer e for inócuo, valeu a pena porque deu prazer! É o que vai acontecer com a afirmação que aqui faço de que, lá para os séculos XXX, a História deverá tratar-nos como Idade do Verde, tal como a Pré-história classificou as Idades da Pedra, do Bronze ou do Ferro, consoante o tipo de materiais e ferramentas com que se iam catalogando as mudanças e as inovações. É que na nossa era tudo tem que ser verde ou parecer verde, para que se torne são e aprazível; tudo tem que ser verde ou parecer verde para que se torne bem acolhido ou bem feito; e tudo tem que ser verde ou parecer verde para poder ser apontado como símbolo de modernidade, com garantia de futuro. Nada tenho naturalmente contra esta cor, e muito menos ainda tenho contra o sentido da mudança, mais virado para as preocupações climáticas, com as quais procuramos, e bem, preservar o futuro do nosso ambiente e o nosso ecossistema. Porém e quando atentamos nestas preocupações, não podemos esquecer que as soluções verdes não são
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aquelas que nos tocam à vista desarmada ou numa primeira vista de olhos, mas sim aquelas que nos permitem responder por mais tempo e com mais eficácia, às necessidades e aos objetivos com que foram executadas. Por outras palavras, o ciclo de vida dos produtos e das soluções construtivas, podem não só tornar mais verdes essas soluções, como permitem que a mesma cor se mantenha por muito mais tempo, e cumpra com mais eficácia os compromissos ambientais que teremos de preservar, para bem do nosso conforto e da nossa saúde. Vem isto a propósito de um comentário que vi e ouvi aqui há dias do Professor Raimundo Mendes da Silva (ver o Telha Talks https://www.youtube.com/watch?v=1DEjoQ2nLhQ) que, com a competência, conhecimento e autoridade que se lhe reconhece em matéria de construção e dos materiais para construção, chamava a atenção para os riscos das coberturas planas dos edifícios, tendo em atenção sobretudo os efeitos que podem ser provocados nas construções em zonas sísmicas, e fora destas, nos edifícios que possam estar mais expostos a oscilações frequentes provocadas por agentes externos. Em boa verdade e nas coberturas planas, os riscos de fissuras provocadas por esses agentes ou abalos, obrigam a reparações caras e morosas, muitas das vezes mal sucedidas, e sempre com caráter temporal muito limitado. É aqui que as soluções verdes perdem a cor, e se tornam amarelas ou mesmo pretas, quando não recuperadas de imediato. Parabéns ao Professor Raimundo Mendes da Silva pelo desenho e pelas cores com que pintou o futuro da construção!
Dr. José Luís Sequeira (Presidente da Direção da APICER)
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Destaque
UMA AGENDA CIRCULAR PARA O CENTRO DE PORTUGAL
p o r Al e x a n d r a Ro d r i g u e s, Di re tora de Se r vi ços d e D e s e nv o lv i m e nt o Re g i o nal da Comi ssão de Co o rd e na çã o e D e s e nv o lv i me n to Re g i on al do Ce nt r o (C C DRC ) , An a P i r e s , té cn i ca sup e r i or d a C C DRC e Te r e sa Jo r g e , C h e f e de Di vi são de Co o p e ra çã o e P r o m o çã o d a CCDRC
A economia circular é um conceito amplo e transversal que parte de uma visão sistémica dos processos produtivos, na qual se evita o uso excessivo dos recursos ao reintegrar os produtos em final de vida num novo ciclo produtivo, usando fontes de energia renováveis e encarando os resíduos como potencial matéria-prima. Enquanto alternativa à Economia Linear, a Economia Circular aposta no prolongamento, pelo máximo tempo possível, do tempo de vida do produto e na recirculação dos materiais. A concretização eficaz deste modelo pressupõe um conjunto de estratégias que integram novos comportamentos e práticas, não só dos produtores, mas também dos consumidores. As políticas atuais mostram que a economia circular é um tema prioritário, estando em curso uma abordagem multinível com planos europeus, nacionais, regionais e locais. No plano europeu, destaca-se o lançamento do Pacto Ecológico Europeu em 2019 e de todo um conjunto de programas e pacotes financeiros alinhados com os mesmos objetivos para uma maior sustentabilidade ambiental. Em Portugal, o Plano Nacional para a Economia Circular (PAEC), promovido pelo então Ministério do Ambiente e aprovado em dezembro de 2017, é paradigmático desta profunda necessidade de mudança para alcançar um modelo económico sustentável. É de realçar que o PAEC previu, desde o início, uma abordagem territorial, abrindo espaço para cada região trabalhar uma agenda regional (de economia circular) – de forma articulada com o plano nacional – considerando as suas próprias especificidades, num processo de governação participada, assente em análise regional e identificando os setores de transição prioritários para cada território.
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Governação Do ponto de vista da Região Centro, este trabalho foi compreendido considerando como central a ideia de sustentabilidade no seu sentido mais amplo, na qual a economia circular é um eixo fundamental, a par do crescimento verde – concorrendo para uma economia verde –, e em articulação com o desenvolvimento humano e territorial. Desta forma, a Agenda Regional de Economia Circular do Centro (Agenda Regional) é um referencial estratégico desenhado de forma participada e coletiva (adotando o modelo de governação existente da Estratégia Regional de Especialização Inteligente – RIS3) e pensado para os desafios da região Centro. No âmbito da RIS3, que identifica a transição para a economia circular como um desafio central para a região, a Agenda Regional é a agenda transformadora da base produtiva da região. Análise Regional Tendo em conta as especificidades da região Centro, procedeu-se à análise do metabolismo económico regional – um trabalho complexo – mas que permite uma compreensão dos fluxos, consumos de materiais e resíduos que a “máquina produtiva” da re-
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Destaque
gião origina. O trabalho, feito em colaboração com a Universidade de Chalmers (Suécia), recorre a dados de 2013 e permite uma perspetiva “fotográfica” dos fluxos de materiais deste ano. Nesta análise destacam-se os minerais não metálicos no consumo, nas exportações, nas importações e na própria extração doméstica – sinalizando a importância que esta fileira tem para a região. Adicionalmente, quando identificamos os setores mais produtivos e os setores mais consumidores na região encontramos o fabrico de materiais de construção e as atividades especializadas de construção, respetivamente. Relativamente aos setores geradores de resíduos na região, o fabrico de minerais não-metálicos surge nesta lista em terceiro lugar. No seguimento deste trabalho e continuando a colaboração com a Universidade de Chalmers, avançou-se para um estudo do potencial de simbiose industrial considerando a relevância deste tipo de análises para o desenho de políticas sustentadas e de instrumentos adequados às necessidades do território. Apesar do estudo incidir sobre esquemas potenciais de simbioses industriais na área dos resíduos de madeira, fileira importante para a região, o objetivo da análise assenta também na testagem da sua metodologia para que se possa replicar noutros setores, nomeadamente a da indústria da cerâmica e da construção, pela relevância que este setor tem na região Centro. Setores de transição A cerâmica é um dos setores relevantes para a região – a análise regional demonstra-o claramente. Neste contexto, e tendo como base reuniões promovidas no âmbito de um projeto europeu apoiado pelo Horizonte 2020 (SCREEN), o setor da cerâmica apresenta um conjunto relevante de informações respeitantes às barreiras e soluções potenciadoras de circularidade. Segundo dados do CTCV (2018), os estudos efetuados e a prática existente no setor mostram a capacidade da indústria cerâmica para inovar no processo de fabrico e valorizar resíduos/subprodutos da própria e de outras indústrias, promovendo estratégias de economia circular e simbioses industriais. Há também vários exemplos de soluções de circularidade em estudo ou em prática pelas empresas portuguesas do setor, nomeadamente nas estratégias de ecodesign, simbioses industriais, prolongamento da extensão do ciclo de vida, ecoeficiência e valorização de resíduos e subprodutos.
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Por outro lado, e de acordo com o relatório produzido pelo CTCV, a indústria cerâmica é um consumidor intensivo de energia, especialmente na fase de produção, devido ao recurso a máquinas térmicas, tendo nesta fase o gás natural como principal fonte de energia primária. Também os resíduos produzidos constituem um aspeto ambiental relevante na indústria cerâmica. Importa, por isso, continuar a trabalhar e a investir de forma contínua com vista ao alcance de uma tecnologia mais sustentável e com menor impacto ambiental que se traduza na redução, não só do consumo energético do setor, como no uso intensivo do gás natural, assim como na diminuição e/ou (re)circulação dos resíduos produzidos, entre outras medidas. Perante todos estes desafios patentes ao longo da cadeia de valor da cerâmica, mas comuns, também, a muitos dos setores industriais que encontramos na região Centro, a transição da região para uma economia mais circular implica um esforço considerável por parte dos agentes políticos em colaboração estreita com o tecido empresarial e todos os demais atores que poderão contribuir para um crescente desenvolvimento económico sustentável dos territórios. Um compromisso regional A agenda regional para a economia circular surge, precisamente, para nortear este caminho incontornável, a percorrer coletivamente e de forma colaborativa, com vista ao alcance de uma transição circular, fomentando projetos e iniciativas inovadores e inclusivos com efeitos criativos e regenerativos. Embora esta seja uma corrida de fundo, compreendemos que é igualmente importante ter resultados de curto prazo, com elevado poder de demonstração, aquilo a que chamámos quick wins. Entre estes, destaca-se o Pacto Institucional para a Valorização da Economia Circular da Região Centro (Pacto), que surge em dezembro de 2019 como desafio lançado aos agentes regionais para assumirem o compromisso de desenvolverem ações que visam a promoção de práticas circulares. Por seu lado, a CCDRC assumiu como compromisso, proporcionar as melhores condições possíveis de divulgação e de comunicação do que de mais original e inovador se faz na região em termos de economia circular e, nesta perspetiva, efetuou uma parceria com a TSF para visibilizar as ações propostas pelos subscritores do Pacto.
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Destaque
De destacar que o Pacto foi assinado por 86 entidades de diversas tipologias (municípios, comunidades intermunicipais, associações empresariais e setoriais – incluindo o CTCV –, entidades do ensino superior, entre outras), propondo mais de 240 ações assentes em estratégias variadas como o combate ao desperdício e consumo responsável, a valorização dos circuitos curtos, as compras circulares, os novos modelos de negócio e desmaterialização, o ecodesign e eco-conceção, a produção de conhecimento, a reutilização, reparação e remanufactura, a valorização dos subprodutos e resíduos, as simbioses industriais ou as ações de capacitação, sensibilização e de disseminação, só para citar alguns exemplos. São diversas as ações que focam o tema da construção sustentável, entre as quais se destacam a criação de um laboratório de Ecodesign, Sustentabilidade e Inovação, a sensibilização e capacitação de empresas na gestão dos RCD, estudos de metabolismo, fomento da valorização energética e/ou recuperação de recursos naturais a partir de lamas na produção de novos materiais, sensibilização setorial para as avaliações de ciclos de vida de produto e ferramentas de eco-inovação e eco-design ou a promoção da utilização de materiais recicláveis nas empreitadas e outras intervenções de construção. Para além do Pacto, a Agenda Regional contempla ainda outros projetos que estão em curso e que têm um efeito demonstrador enquanto casos de
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sucesso, assumindo uma clara via de promoção para uma transição mais circular. Em jeito de conclusão, importa sublinhar que a crise pandémica que vivemos atualmente realçou a urgência para a necessidade de uma maior sustentabilidade e colocou em questão os nossos modos de vida, a forma como viajamos, como consumimos – o que consumimos. A economia circular oferece oportunidades valiosas para mitigar e reverter a pressão crescente sobre os recursos cada vez mais finitos do nosso planeta. Neste sentido, e para que a transição circular seja uma realidade cada vez mais tangível, é fundamental contar com a atuação e atividade dos diversos agentes, promovendo lógicas colaborativas que são absolutamente centrais neste processo. Nota: as informações e detalhes sobre os projetos referidos e outras iniciativas desenvolvidas no âmbito da Agenda Regional de Economia Circular do Centro podem ser consultadas em http://agendacircular.ccdrc.pt/
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Destaque
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL É UMA RESPONSABILIDADE DE TODOS NÓS
por Te re s a Ponc e d e Le ã o , P r e s i d e nt e LN E G (L a b o ra t ó r io Na c i o na l d e Ene r g i a e G e o lo g i a)
Teresa Ponce de Leão - Presidente LNEG, Agência de comunicação – ESTENDAL
O crescimento sustentável constitui um dos principais objectivos da União Europeia (UE) e das Nações Unidas. Perante a escassez global de recursos naturais, reduzir a pressão sobre os recursos tornou-se prioritário. A definição da Agenda 2030, um marco histórico de 2015, comporta 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) segundo as dimensões, sociedade, economia e ambiente, promovendo a paz, a justiça e instituições eficazes e responsáveis. Os ODS representam uma visão comum para a Humanidade, um contrato entre os líderes mundiais e os povos. Outro marco a referir é o Acordo de Paris com o objectivo da descarbonização das economias mundiais, estabelecendo, no longo prazo, o limite do aumento da temperatura média global abaixo dos 2 graus centígrados, acima dos níveis pré-industriais conforme o Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (2019).
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Estes dois marcos conjugados com uma nova comissão europeia e o efeito COVID-19, assim como alterações de peso na política mundial, vieram trazer às políticas europeias e do mundo uma nova clarividência no que à necessidade de descarbonização diz respeito. O Pacto Ecológico Europeu, alicerçado no Plano de Acção para a Economia Circular, é o roteiro europeu para o crescimento sustentável. Esta iniciativa legislativa e as iniciativas complementares, de caráter obrigatório ou facultativo, serão concretizadas por forma a reforçar a coerência com os atuais instrumentos de regulamentação dos produtos nas diferentes fases do ciclo de vida. A Comissão pretende que os princípios da sustentabilidade dos produtos venham a orientar a evolução das políticas e das iniciativas legislativas em geral estando em estudo a introdução de requisitos obrigatórios para aumentar a sustentabilidade, não só dos produtos como também dos serviços e a introdução de requisitos relacionados com aspetos ambientais e sociais ao longo das cadeias de valor, incluindo no âmbito das regras da Organização Mundial do Comércio. A título de exemplo, o facto de garantir a acessibilidade de determinados produtos e serviços não só contribui para a inclusão social como pode também ter a vantagem de aumentar a durabilidade e a reutilização dos produtos.
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Destaque
Produtos sustentáveis Considera-se que a fase da conceção dos produtos é determinate e responsável por um impacto ambiental de cerca de 80 %. Faltam regras e incentivos que induzam a aposta na circularidade dos produtos, para que se altere o padrão próprio da economia linear: «extrair, fabricar, utilizar e deitar fora». A energia, sector incontornável para a descarbonização, deu forma a uma abordagem sistémica e integrada o que implica o funcionamento e planeamento do sistema energético como um todo, através da articulação dos múltiplos vectores energéticos como a eletricidade, o gás e o calor, de múltiplas infraestruturas, e diversos sectores de consumo, principalmente indústria, edifícios e transportes, respeitando as regras para a descarbonização. Do ponto de vista do sistema, é importante otimizar a utilização de recursos e materiais para as tecnologias de energias renováveis. Devem ser concebidos para a durabilidade, reutilização e refabricação, em vez de os comprometerem a encontrar vias de gestão e de recuperação de resíduos sub-óptimas. Trata-se de uma gestão eficaz dos seis pilares que presidem à gestão integrada de sistemas onde os princípios consagrados na Directiva da Concepção Ecológica estão presentes no pilar, Economia Circular que tem vindo a ganhar destaque na descarbonização e na gestão inteligente dos sistemas. É uma ferramenta que contribui com novas soluções para os desafios
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globais do desenvolvimento sustentável. Ao abordar as causas fundamentais do desperdício e da poluição, a economia circular tem como objetivo primordial manter os produtos e materiais em uso e regenerar os sistemas naturais. É definido como um sistema regenerativo no qual a entrada de recursos e resíduos, as emissões e as fugas de energia são minimizados pela gestão optimizada dos ciclos de material e energia. Isto pode ser conseguido através de design dos processos e dos materiais garantindo a durabilidade, a manutenção, a reparação, a reutilização, a refabricação, a remodelação e a reciclagem. As tecnologias de energia renovável, como as turbinas eólicas, os painéis solares e as baterias eléctricas, são fundamentais para combater as alterações climáticas e contribuir para o futuro da energia com baixo teor de carbono. No entanto, a circularidade da transição energética limpa deve ser parte do processo no abastecimento de materiais para infraestruturas de energias renováveis, na circularidade nos processos de fabrico e na sua durabilidade e eventual eliminação ou reutilização no final da vida útil. Capacitação de consumidores e adquirentes públicos No tema da capacitação, uma das acções centrais prende-se com garantir que a informação seja clara e simples. A participação será incentivada defendendo o consumidor através um conjunto de indicadores acessíveis no momento da aquisição de qualquer produto, em particular: A vida útil; a disponibilidade de serviços de reparação; a disponibilidade de peças sobressalentes; a disponibilidade de manuais de reparação. Será igualmente importante proteger os consumidores contra o branqueamento ecológico e a obsolescência prematura, estabelecendo requisitos mínimos para os rótulos/logótipos de sustentabilidade e os instrumentos de informação. Os Estados, conscientes que o poder de compra das autoridades públicas representa 14 % do PIB da UE, aperceberam-se que actuar pelo exemplo seria essencial e impulsionador da procura de produtos sustentáveis. Para tirar partido deste potencial, a vão ser definidos critérios e metas mínimas obrigatórias em matéria de contratação pública ecológica na legislação setorial e introduzidos requisitos de comunicação obrigatória e de monitorização.
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Destaque
Processos produtivos e circularidade A circularidade nos processos produtivos constitui um aspeto essencial da transformação da indústria em direção à neutralidade climática e à competitividade a longo prazo, podendo gerar reduções substanciais de custos ao longo das cadeias de valor e dos processos produtivos, criar valor acrescentado e abrir oportunidades económicas. Em sinergia com os objetivos estabelecidos na estratégia industrial, são necessárias medidas de incentivo com vista a uma maior circularidade na indústria através de: • Inclusão de práticas de economia circular nos próximos documentos de referência sobre as melhores técnicas disponíveis; • Promoção da simbiose industrial através de um sistema de certificação e de comunicação de informações liderado pela indústria; • Apoio do setor de base biológica através da execução do plano de ação para a bioeconomia; • Promoção da utilização de tecnologias digitais para a gestão de informação e mapeamento de recursos; • Adopção um sistema europeu de verificação como uma marca de certificação da UE. A nova estratégia para as PME promove a colaboração industrial circular entre as PME, através de atividades de formação, da consultoria da Enterprise Europe Network sobre a colaboração entre grupos de empresas e da transferência de conhecimentos do Centro Europeu de Conhecimento em Eficiência de Recursos. A circularidade no LNEG O LNEG desde os anos 2000 que se tem vindo a capacitar e a investir em projectos com vista à economia circular. Mais recentemente criámos uma Unidade de Economia de Recursos que visa avaliar de forma rigorosa e sistemática o adequado uso dos nossos recursos numa perspectiva económica, ambiental e de circularidade. Para ilustrar, referimos: • Projeto (Des)Construir – gestão dos resíduos da demolição e construção • Definição de guias de auditoria de pré-demolição, desenvolvimento de um modelo de passaporte de materiais e modelação matemática da otimização de transporte e gestão de resíduos de construção • Projeto KATCH-e – Desenvolvimento de ma-
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teriais e ferramentas para formação de designers, orientado para o setor da construção e mobiliário • Sinndesign (concluído) – Desenvolvimento de materiais e ferramentas de formação para a sustentabilidade para três setores relacionados com o "cluster Habitat"- Mobiliário, têxteis e materiais de construção. • Projeto LCIP (concluído) – auxiliou as PME a reduzir os impactes ambientais dos seus produtos e serviços ao longo de todo o seu ciclo de vida, em três setores de atividade: construção, gestão de resíduos e equipamentos para energias renováveis. O LNEG é associado do Cluster Habitat Sustentável e do Laboratório Colaborativo de Economia Circular (que tem como um dos setores de intervenção o setor da construção). Coordenamos o projecto CIRCO Hub Portugal que se desenvolve no âmbito de um Protocolo de Colaboração Técnica e Financeira entre o Fundo Ambiental, o LNEG, o IAPMEI e a APA e consiste na implementação em Portugal do programa holandês CIRCO.NL (Creating Business through Circular Design). Aqui contribuiremos para a reutilização dos materiais garantindo o seu valor. Ao nível dos recursos minerais, desenvolvemos conhecimento com vista à salvaguarda e gestão sustentada destes recursos e disponibilizamos um instrumento para os industriais do setor e para o Ordenamento do Território. O LNEG sempre esteve e estará ao lado do sector empresarial fornecendo ferramentas de gestão eficiente da Economia Circular. O DS é uma responsabilidade de todos nós.
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Construção Sustentável
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
p o r Ru i Va l e n t e , d i r e t o r d o CICCOPN (Ce nt r o d e Fo r m a çã o P r o f i ssi on al da In dústr i a d a Co ns t r uçã o Ci v i l e Ob ra s Púb li cas do Norte)
Na última década, tem-se verificado um notável crescimento nas emissões de carbono provenientes de determinados setores, como a produção de eletricidade, os transportes, a indústria e, principalmente, a indústria da Construção. Sabemos que a Construção é uma das atividades mais representativas na emissão de gases com efeito de estufa e, se queremos reduzir o nosso impacto ambiental, precisamos todos – investidores, associações do setor, comunicação social, promotores, investigadores, privados e indústria – de caminhar para níveis cada vez mais racionais de consumo e de produção. Um destes passos fundamentais é a implantação de edifícios cada vez mais verdes e mais sustentáveis, começando o processo de sensibilização para esta temática logo na formação, seja ela académica ou profissional. Também no CICCOPN (Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte) sentimos essa fatia de responsabilidade. O Global Status Report de 2017 demonstra que a utilização dos edifícios, em conjunto com o setor da Construção, é responsável por 39% de todas as emissões de carbono mundiais, sendo a fase de utilização dos edifícios responsável por 28% dessas emissões, sobretudo ligadas à energia consumida para climatização. Se atendermos unicamente ao contexto europeu, essa percentagem sobe para 40%. Hoje em dia, mais de 50% da população mundial vive nas cidades, havendo a perspetiva de que este indicador atinja os 70% até 2050. Nunca foi tão importante o setor estar na vanguarda da ação climática, principalmente nos grandes centros urbanos. Nesta linha, a implementação de medidas de sustentabilidade na construção pode ter um impacto muito positivo, estimando-se reduções que podem atingir entre 25% e 50% no consumo de
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energia, 40% no gasto de água e 70% na produção de resíduos. Com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), antevê-se um investimento de mais de 600 milhões de euros, apenas na eficiência energética do parque edificado português, ao longo de cinco anos. Espero e acredito que este seja um passo extremamente importante, que vai contribuir para uma transição justa, democrática e coesa, a nível nacional, assim como um marco de elevada importância, gerador de novas oportunidades de emprego. A renovação de edifícios, utilizando materiais mais sustentáveis e reciclados, de forma a tornar o seu uso mais eficiente a nível energético e melhorar o seu desempenho ambiental, é uma etapa determinante na disseminação das práticas de construção sustentável, até porque Portugal está comprometido com uma redução em 50% das emissões de gases com efeito de estufa, face aos níveis de 1990. O PRR, estando alinhado no combate à pobreza energética, vai certamente estimular a renovação dos edifícios para se tornarem mais eficientes. No entanto, mais uma vez, não se pode falar só na sustentabilidade durante a utilização, mas também na construção, até porque os materiais utilizados em obra consomem muita energia e podem, muitas vezes, ser substituídos por outros reciclados ou mais sustentáveis.
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Construção Sustentável
O papel do CICCOPN, enquanto entidade que assegura a qualificação dos atuais e futuros profissionais do setor da Construção Civil, numa realidade em constante evolução, é fundamental neste processo de mudança rumo à sustentabilidade. Num horizonte mais alargado, o CICCOPN prepara a transição para a Construção 4.0, a era digital da indústria, que, para além de todos os processos associados à desmaterialização, é sobretudo uma era de interação. Neste desafio, estamos prontos para responder transversalmente às necessidades do Setor, desde a construção sustentável aos edifícios inteligentes, passando pela eficiência energética e o combate às alterações climáticas. É, pois, sem qualquer surpresa, que a oferta formativa do Centro se adapta e responde a estas necessidades, sendo, aliás, uma preocupação já com alguns anos. O CICCOPN existe desde 24 de julho de 1981, fruto de um protocolo entre o Fundo de Desenvolvimento da Mão de Obra, atual Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P., e a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), apoiando desde então os empresários, trabalhadores e todos os candidatos às profissões que se enquadram no setor. O Centro disponibiliza formação para jovens e adultos, independentemente do seu nível de formação. Do nosso universo fazem parte mais de duas mil pessoas, incluindo formandos, formadores e colaboradores. O CICCOPN está localizado no concelho da Maia, distrito do Porto, mas acolhe formandos um
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pouco de todo o país e também do estrangeiro, graças à flexibilidade conferida pela formação a distância – uma realidade já com vários anos na nossa instituição, mas que é sempre um desafio. Curiosamente, em 1985 surgiu pela primeira vez a “formação a distância” no CICCOPN, num projeto pioneiro em que se desenvolveu um modelo de formação, naturalmente não suportado na eletrónica e na internet, mas que permitiu levar a formação profissional a todo o país. Este conhecimento foi, aliás, relevante para uma transição sem grandes percalços após o início da pandemia. A formação retomou prontamente, quase toda a distância no formato e-learning. Acreditamos que cada vez mais o futuro se encaminha para sistemas híbridos, com formações presenciais, formações a distância e uma combinação dos dois tipos, permitindo alargar a oferta formativa e abranger mais pessoas. No CICCOPN, este tipo de formação tem sido recebido com um feedback muito positivo, tanto por parte dos formandos e das empresas, como das equipas pedagógicas e dos formadores. É com orgulho no passado, pleno de reconhecimento, que o CICCOPN celebra em 2021 os seus 40 anos, de olhos postos no futuro de um setor em crescimento e modernização, com cada vez mais preocupações ambientais e de sustentabilidade. É com o maior otimismo que enfrentamos o desafio para os próximos anos, quer ao nível do setor da Construção Civil, quer da proteção ambiental.
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Economia Circular
A ECONOMIA CIRCULAR NO SECTOR DA CONSTRUÇÃO
p o r Jo sé d e Ma t o s, S e cr e t á r i o G e ral da A PCMC ( A s s o ci a çã o Po r t u g ue s a d o s Come rci an te s de Ma t e r i a i s d e Co ns t r uçã o)
José de Matos
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Secretário Geral da APCMC
O tema da Economia Circular tem vindo a assumir uma importância crescente no desenho das políticas comunitárias e nacionais, começando, paulatinamente, a moldar os programas na área ambiental e as medidas dirigidas, quer aos estados, quer às empresas. Se é verdade que nenhum sector está excluído, há alguns, que, pela natureza e volume dos recursos naturais que utilizam, estão na linha da frente das preocupações e constituem uma prioridade de intervenção. À cabeça, encontramos a construção e os edifícios, quer pelo impacto na paisagem, quer pelo volume de materiais envolvidos e pela energia consumida nos processos industriais a montante e também na sua manutenção e na própria utilização ao longo da sua vida útil, para não falar do problema da demolição e dos resíduos gerados nas diversas fases.
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Isto significa que, para além da adaptação que todas as atividades e empresas já estão a ter que fazer em obediência ao novo paradigma da transição de uma economia linear para uma economia circular, aqueles que estão nas várias fileiras ligadas à construção vão ter que fazer um esforço ainda maior nas vertentes da eficiência de recursos, eficiência energética, durabilidade, reutilização de produtos e materiais, ou na sua reciclagem. Este é um caminho que só pode ser perseguido de forma solidária entre todos os agentes económicos do sector, quer sejam industriais, projetistas, distribuidores ou construtores. E não nos enganemos. Não há como passar despercebido. Quem não colaborar ou pensar que não lhe toca, sentirá rapidamente as consequências, seja em termos regulamentares (proibições), ou fiscais (fiscalidade verde), ou mesmo, mas não menos importante, de reputação, a qual constitui já hoje um valor reconhecido pelo mercado, seja pelo lado das preferências dos consumidores, seja, como consequência, pelo lado do rating financeiro ou de investimento pelos acionistas, que se afastam das empresas que consideram ter uma estratégia perdedora, não alinhada com os valores da sociedade. Todos os dias surgem mais instituições financeiras a incluir os critérios ambientais no conceito de crédito… As formas como os princípios da circularidade irão ser aplicados podem ser e serão, naturalmente, muito diversas, variando de produtos para produto e, mesmo aí, haverá certamente diferentes soluções e estratégias. Todavia, todas elas irão implicar uma análise exaustiva e rigorosa de ciclo de vida, promovendo em cada fase uma maior eficiência energética e de uso de recursos materiais, a maior durabilidade e a reutilização, ou no limite, a reciclagem e a redução ao limite dos resíduos gerados. Estes princípios aplicar-se-ão a cada produto per si, mas também às obras e, em particular, aos edifícios e suas componentes, o que irá implicar o recurso a soluções e siste-
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Economia Circular
mas construtivos de base industrial, com mais pré-fabricação e montagem de partes de edifícios em ambiente do tipo fabril, com recurso a maquinaria, em ambiente controlado. Estas alterações requerem substanciais inovações ao nível do design de produtos e a criação de soluções que facilitem não só o processo industrial e o transporte das partes de edifícios para a obra e montagem no local, mas também a sua manutenção, renovação e substituição durante a respetiva vida útil e a posterior desconstrução e reutilização. Por exemplo, no caso da cerâmica plana, poderíamos, hipoteticamente, criar soluções de colagem que pudessem ser revertidas sem danificar as peças, ou montagem das peças em painéis, sem cola, através de sistemas de encaixe ou em caixilho que permitissem a sua desmontagem, ou mesmo soluções mistas. Ou, para facilitar o transporte de partes de edifício, da fábrica para a obra, usar soluções mais ligeiras, assentes em produtos de menor espessura e leves. Há certamente muitas outras formas de abordar o problema e, agora na perspetiva dos distribuidores, elas irão determinar alterações importantes, seja no domínio do mix de produtos e de serviços, quer da logística e da venda, mas também da relação com o cliente (novos tipos de clientes, diferentes exigências de serviço) e até a criação de novas áreas de negócio como, por exemplo, a compra de produtos resultantes da desconstrução, substituição ou desmontagem. Estamos perante importantes desafios tecnológicos e de processos, mas também ao nível das competências dos profissionais envolvidos, incluindo os projetistas, mas sobretudo daqueles que deverão substituir as tarefas tradicionalmente realizadas em obra. Há uma nova economia que espreita a oportunidade e novos tipos de empresas que deverão emergir para preencher os requisitos de uma atividade assente em funções substancialmente diferentes das atuais. Pergunta-se frequentemente se esta transição não acarretará mais custos, eventualmente insuportáveis, para o setor industrial e para o próprio produto da construção. A resposta é obviamente afirmativa. Não há mudanças desta natureza sem custos associados, especialmente os que resultam de obrigar a “deitar fora” uma boa parte dos ativos em capital fixo que ainda poderiam continuar a sustentar a criação de valor por alguns anos, mas também porque vai ser preciso fazer investimentos avultados e desenvolver novas metodologias e processos, bem como uma nova logística, que levarão tempo a atingir os níveis de eficiência pretendidos. Mas também há benefícios óbvios que podem rapidamente suplantar os custos referidos, que vão muito para além dos de caráter ambiental. Desde logo, podemos esperar uma efetiva redução de custos com energia e com recursos mate-
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riais, para além dos custos com mão de obra, cada vez mais escassa, que continuam a subir mais do que quaisquer outros. Será naturalmente mais fácil recrutar pessoas com mais qualificações (e diferentes), para trabalhar num meio mais protegido e confortável, em processos que asseguram uma produtividade muito superior do trabalho e que por isso mesmo poderão ser melhor remuneradas. Ao mesmo tempo os custos e os desperdícios de recursos materiais serão drasticamente reduzidos (menos 30%), ao mesmo tempo que as obras alcançarão melhores níveis de desempenho energético, durabilidade e conforto. Tudo contabilizado, é bem possível que, uma vez amortizados os investimentos iniciais, ou no caso de haver escala suficiente, o produto final da construção, possa ficar mesmo mais barato, mesmo sem contar com o potencial de valorização dos produtos por reutilização após a sua desconstrução. O tema da escala é, em nossa opinião, decisivo para justificar que todos os agentes da fileira possam enveredar rapidamente por soluções do tipo referido. A “bazuca” poderia ser uma boa oportunidade para lançar obras com estes requisitos e para apoiar os investimentos a realizar pelas empresas dos setores industriais e da construção. Uma nota final para salientar a importância da cooperação entre os diversos agentes da fileira, em especial entre fabricantes, distribuidores e construtores/aplicadores, para a realização dos objetivos da economia circular na construção e para o papel essencial da informação técnica e da formação dos profissionais. Na verdade, estamos perante o tipo de mudança em que a evolução tecnológica assumirá a breve prazo um caráter tipicamente industrial, com um crescendo de exigência em toda a cadeia de fornecimento, incluindo a aceleração da digitalização dos vários processos e da informação relativa aos produtos envolvidos. Construir este novo ecossistema será tanto mais fácil e benéfico quanto maior for o nível de confiança entre os diferentes parceiros e a sua capacidade para estabelecer plataformas comuns, ou, no mínimo, compatíveis e convergentes, respeitando o papel de cada um e favorecendo a criação de valor.
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Construção Sustentável
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, O PAPEL DO CLUSTER AEC – ARQUITETURA, ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO
p o r Ri t a Mo u r a , P r e s i d e nt e PTPC / Cluste r A E C / Bui lt CoL
Como preâmbulo e, apesar da Construção Sustentável se aplicar à indústria da construção civil em geral, dado o âmbito da publicação, irei contextualizar o artigo no que se refere à indústria da construção leve, associada à construção de edifícios e empreendimentos imobiliários. Não abordarei o tema da indústria da construção pesada, associada à construção de infraestruturas. O Setor da Construção tem uma importância fundamental na mitigação das alterações climáticas e aqui sublinharia os seguintes aspetos:
Presidente PTPC / Cluster AEC / Built CoL
• A Construção é o principal consumidor de recursos naturais e energéticos; • Cerca de 40 % dos resíduos provêm da construção; • É responsável, direta ou indiretamente, por cerca de 40% de emissão de gases com efeitos de estufa;
• Os cidadãos passam, em média, 90% do seu tempo dentro de edifícios. Por esta razão, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) é muito focado na necessidade de renovar edifícios, promovendo a eficiência energética, e na redução do consumo de recursos naturais, que são empregues de forma tão intensiva pela indústria da construção e na utilização de materiais e tecnologias sustentáveis. Conforme definido no Pacto Setorial do Setor AEC (assinado com o Ministério da Economia), o Cluster AEC tem como missão “melhorar as condições para o investimento nacional, de modo a garantir a captação de projetos estruturantes para Portugal”. No Plano de Resiliência e Recuperação apresentado para Portugal, cerca de 40% dos investimentos são em construção. As soluções que estão a ser desenvolvidas pela indústria da construção no domínio da sustentabilidade podem agrupar-se nas seguintes áreas:
Rita Moura
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• Circularidade e Reciclagem – Pensando a médio-longo prazo, o mais importante é a prevenção na geração de Resíduos da Construção e
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Construção Sustentável
Demolição. Na fase de projeto, as construções deverão ser concebidas de forma modular, com os elementos de construção devidamente classificados em modelos BIM (Building Information Modeling), de modo a poderem ser rastreados, durante o ciclo de vida da obra, e reaproveitados depois da desconstrução. Aquilo que hoje é modular, amanhã será circular. A curto-médio prazo, reciclar materiais de construções existentes (em fim de vida) e reutilizar em novas construções. • Soluções Baseadas na Natureza – Coberturas verdes com múltiplas-funções de isolamento, estéticas, produção de alimentos, melhoria da qualidade do ar, aproveitamento de águas pluviais, preservação da biodiversidade. Utilização de materiais naturais pouco processados na construção. • Manufatura Aditiva – Otimização na utilização de recursos materiais, sem desperdícios e permitindo a incorporação de materiais reciclados. Para além da grande vantagem, em termos da flexibilidade criativa do projeto e na escolha das formas arquitetónicas e estruturais, que permitem a otimização na utilização dos recursos materiais, uma vez que possibilita a colocação do material nas zonas estritamente necessárias. • Indústria Digital – A construção tem um gap de produtividade em relação às outras indústrias, sendo 1,7 vezes menos eficiente, fruto de algum conservadorismo e de o produto da construção ser um objeto único executado “in situ” e não em fábrica. O BIM é um ponto de viragem, reconhecido como o maior driver de mudança que ocorreu no Setor AEC. A adoção da metodologia BIM (Building Information Modeling) promove o aumento de produtividade, sendo de esperar uma redução do custo da construção de cerca de 30%. O BIM é a base, na qual se processa a transformação industrial do Setor, com adoção da tecnologia da Indústria 4.0. O BIM é também a base para a implementação da Circularidade na Construção, com a identificação e a rastreabilidade de todos os componentes da construção. O futuro do BIM é a sua massificação, o seu uso generalizado, não só pelo Setor AEC, mas também
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por outros intervenientes, uma vez que o ambiente construído tem um enorme potencial de captação de dados que interessam a todas as áreas económicas e sociais. De todas estas áreas, a Economia Circular aplicada à indústria da construção (Construção Circular) é o tema mais difícil que se coloca ao Setor da Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC). Em relação à eficiência energética e conforto térmico e às tecnologias que existem, o custo da energia é muito elevado, justificando este tipo de intervenções. Há apenas que encontrar modelos de negócio que respondam às necessidades do mercado e implementar essas soluções. O mesmo se pode dizer em relação às soluções baseadas na Natureza, acrescendo aqui os aspetos de conforto visual, estético e a apetência do mercado por este tipo de soluções. Na transformação digital e industrial, há um caminho das pedras a percorrer, mas a indústria consegue vislumbrar ganhos diretos em produtividade, dos quais as entidades públicas e privadas também irão beneficiar, por isso vai acontecer. A Economia Circular aplicada à indústria da construção (Construção Circular) é um tema difícil, pela sua dimensão, e as metas estabelecidas neste domínio são muito exigentes e, nas circunstâncias atuais, a equação de viabilidade económica está por resolver. Este é também um grande desafio, que se coloca à sociedade em geral e, em particular, às entidades públicas e aos investidores responsáveis, e, estou certa, terão que colocar o custo do impacto ambiental nas suas escolhas. Existem iniciativas conjuntas que, a meu ver, haveria o maior interesse em explorar, conjuntamente com as Indústrias de Cerâmica e Cristalaria e o Setor AEC, não só nas áreas que mencionei, mas também na vertente do Prestígio e da Marca Portugal. Os produtos cerâmicos Portugueses têm uma qualidade e reconhecimento de excelência internacional e muito contribuído para acrescentar valor ao Setor da Arquitetura, Engenharia e Construção Portuguesas. A PTPC / Cluster AEC tem neste momento a decorrer um processo de candidaturas do Projeto PRESTIGE AEC (ver site https://www.ptpc.pt), ao qual também poderão concorrer e seria muito interessante contarmos com o prestígio dos produtos cerâmicos Portugueses nesta iniciativa.
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Construção Sustentável
A PTPC / Cluster AEC tem um portfólio significativo de iniciativas e projetos na área da construção sustentável, dos quais destaco alguns que se encontram atualmente em curso. O Laboratório Colaborativo Built CoLAB, que dispõe neste momento de uma equipa de excelência de cerca de 20 quadros altamente qualificados, 100% dedicados ao estudo e desenvolvimento do Ambiente Construído do Futuro, em que uma das áreas de atuação é a análise de ciclo de vida dos empreendimentos (LCA) e construção circular. O projeto Future of Construction, que irá desenvolver a Estratégia de Qualificação Setorial 2030, sendo uma dos vetores estratégicos é o de Promover a neutralidade carbónica e a economia circular, nomeadamente o lançamento da Agenda Setorial para a Neutralidade Carbónica e o desenvolvimento do guia metodológico (AEC Carbon Handprint). O Projeto PAQ Green que visa melhorar a competitividade das PME´s através da qualificação do setor para o desenvolvimento de eco-inovações que permitam novos modelos, produtos e serviços que antecipem e respondam às exigências futuras, privadas e públicas, relacionadas com uma gestão holística e sustentável
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das atividades económicas, nomeadamente a visão do Pacto Ecológico Europeu (Green Deal). O Projeto Europeu Towards Green Transition Facility, que irá habilitar o Cluster AEC, para apoiar os seus associados na transição verde e a adaptação dos seus processos e atividades no âmbito dos requisitos do Plano Nacional de Energia e Clima 2021 – 2030 e do European Green Deal, aumentando a sua eficiência e competitividade, a nível nacional e internacional. A PTPC faz também parte do consórcio internacional que está a desenvolver o Projeto METABUILDING, um Projeto Europeu de apoio e financiamento às PMEs do Setor AEC, ao abrigo do Programa Horizonte 2020. O projeto METABUILDING visa impulsionar precisamente a Inovação das PMEs, incentivando a colaboração Intersectorial e também Transfronteiriça.
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Economia Circular
AS EMPRESAS CERÂMICAS E A TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA+CIRCULAR
por Sí lvi a Mac h a d o , A s s e s s o ra S e ni o r Am b ie n t e & Cl im a , C I P-Co nfe d e ra çã o Emp re sa r ia l de Por t ug a l
Sílvia Machado
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Assessora Senior Ambiente&Clima
A Cerâmica é naturalmente um dos setores em foco no projeto ECONOMIA + CIRCULAR, um projeto da CIP – Confederação Empresarial de Portugal dedicado à promoção da circularidade através da adoção de métricas para melhor identificação das oportunidades de melhoria. Sendo a Cerâmica um setor consumidor intensivo de energia, a sua maior contribuição para a descarbonização da economia, na fase de produção, será, sobretudo, através da implementação de medidas de eficiência material, além de eficiência energética, da adoção de estratégias de conceção sustentável de produtos e conversão de processos ou modelos de negócio, onde for possível. As simbioses e as partilhas estão na base das medidas potencialmente mais eficazes. São exemplo disso a
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utilização de subprodutos ou resíduos de outros setores, em substituição de matérias-primas virgens, assim como a recondução dos desperdícios do processo cerâmico para incorporação em outros processos/setores como a produção de outros produtos de construção. Relativamente a partilhas, a contribuição para uma ECONOMIA + CIRCULAR pode decorrer da simples partilha de espaço, equipamentos ou serviços (ex. manutenção), mas pode também funcionar no aprovisionamento ou na logística e distribuição. A proximidade é obviamente um plus em termos de partilhas e também simbioses, e, como tal, a agilização e melhoria do funcionamento das áreas industriais ou empresariais poderia ser um fator potenciador. Fundamental também é o apoio da administração nos procedimentos e enquadramento legal favoráveis a soluções que, embora não tradicionais, comprovem ser mais sustentáveis. Foi precisamente na procura de conhecimento sobre o que já se faz, e a discussão e resolução do que são os entraves encontrados pelas empresas no avanço em termos de circularidade, que nasceu o projeto ECONOMIA + CIRCULAR (E+C), promovido pela CIP com toda a sua rede associativa e com o apoio da consultora EY-Parthenon. Uma iniciativa que pretende apoiar as empresas na integração de indicadores de circularidade nos seus sistemas de gestão e, consequentemente, promover uma maior sensibilização e implementação de boas práticas, assim como estimular o desenvolvimento de novas medidas e ações. O E+C, lançado em fevereiro de 2021, por ocasião da Conferência “Por uma Europa Verde: o contributo das Empresas Portuguesas”, permitirá a caracterização do nível de circularidade atual nas empresas nacionais em termos qualitativos e quantitativos. Em termos qualitativos, o projeto prevê o levantamento das medidas já implementadas e
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Economia Circular
das ações adotadas com vista à circularidade, assim como a identificação dos entraves sentidos pelas empresas de forma a identificar os caminhos a seguir, nomeadamente em termos regulatórios, e a elaboração das respetivas recomendações. Já em termos quantitativos, a CIP pretende demonstrar, por via de uma amostra nacional representativa, as vantagens na utilização de uma ferramenta para medir de forma robusta o progresso de uma organização ou empresa em direção a uma forma mais circular de fazer negócios, tendo sempre em vista os progressos em termos de resultados nacionais no cumprimento das metas do Pacto Ecológico da UE. A eficiência, material e energética, ocupa os primeiros lugares nos objetivos de qualquer empresa industrial que queira reforçar a sua posição no mercado, ser mais sustentável e competitiva. A adoção de métricas pelas organizações com vista à identificação do seu nível atual de circularidade e dos processos que podem ser melhorados, conduzirá ao desenvolvimento de melhores práticas e, consequentemente, a maiores níveis de circularidade. Ao promovermos essa integração ao nível de uma amostra de empresas de uma forma escalável para os diferentes setores ou clusters de atividade, estaremos a promover a economia circular a um nível mais alargado. O facto de a rede associativa da CIP incluir diversos setores de atividade é promissor em termos de uma abordagem integrada que permita a identificação de novas simbioses ou que conduza à operacionalização de outras que, embora já identificadas, enfrentem algum obstáculo. Para levantamento do estado da arte, o projeto incluiu um inquérito nacional online divulgado por toda a rede associativa da CIP e ainda por todos os membros do Steering Committee E+C, composto por representantes de autoridades do ambiente e economia, de entidades do sistema científico e técnico com maior experiência na temática, representantes dos consumidores e de organizações não governamentais ambientais. Além desta fonte de dados, foram igualmente recolhidas informações sobre boas práticas e exemplos do que melhor se faz em Portugal em diversos setores, com a realização de um ciclo de webinars promovidos por alguns dos membros do Management Committee do projeto, associações e empresas que integram um leque alargado de setores considerados prioritários quer pelo Plano Europeu para a Economia Circular, quer pelo Plano de Ação para a Economia Circular nacional. Os sete eventos que constituíram este ciclo, incluíram, além do show case de boas práticas e exemplos
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de medidas de economia circular em diversos setores de atividade, sete debates em torno das barreiras ou entraves ao avanço de mais medidas e ações entre quem desenvolve conhecimento, quem o implementa e quem regula. Inês dos Santos Costa, Secretária de Estado do Ambiente, abriu o primeiro evento do ciclo de webinars Empresas+Circulares, e começou por destacar o desafio da regulação e legislação europeia no sentido de equilibrar as condições competitivas e de sustentabilidade das empresas europeias face às empresas de países terceiros. “As empresas europeias enfrentam maiores exigências em termos ambientais e de sustentabilidade, que se refletem na capacidade de competir em preço com esses países”. O diretor geral do CITEVE, no mesmo evento, reafirmou a mesma preocupação e explicou que essa distorção, que acaba por se revelar no preço final dos produtos, dá uma ideia errada de que os produtos sustentáveis são mais caros, quando na verdade, os produtos fabricados com matérias-primas virgens geralmente não incorporam os custos sociais e ambientais que lhes estão associados. No evento deste ciclo promovido pela APICER, as empresas cerâmicas apontaram a legislação e o enquadramento regulamentar como um dos principais entraves à circularidade. Declararam sentir que a administração não confia nas empresas, que se veem assoberbadas com legislação normalmente extensa, difícil de interpretar, com processos extremamente burocráticos e com custos associados à sua análise e à emissão de licenças. De acordo com Ana Cristina Carrola, vogal do Conselho de Administração da APA, e participante ativa em vários dos debates havidos neste ciclo de eventos E+C, “mesmo que a reciclagem pós-consumo e de desperdícios de indústria estivesse a funcionar no seu máximo potencial, teríamos uma diminuição das matérias-primas primárias de aproximadamente 30%”. Para a responsável, “temos de ir mais além: estes 70% têm de ser também conseguidos e isso passa pelo ecodesign, pela diminuição do impacto de fim de vida do produto, potenciando a sua reutilização. O tempo de vida do produto na economia tem de ser a aposta a fazer hoje em dia”, afirmou. Ainda com vista a uma discussão aberta e multistakeholder sobre o que mais se pode fazer para acelerar a Economia Circular em Portugal, a dinamização do referido Steering Committee permitirá validar um conjunto de recomendações com vista ao aumento do nível de circularidade nacional, tendo em vista os objetivos de descarbonização e preservação da biodiversidade.
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Economia Circular
A FERRAMENTA CIRCULYTICS A ferramenta selecionada para o diagnóstico de circularidade no E+C foi o Circulytics, uma metodologia desenvolvida pela Fundação Ellen MacArthur. A escolha resultou de uma avaliação de vários instrumentos disponíveis à data, e da conclusão da adequabilidade do Circulytics por estar alicerçado numa metodologia que avalia as várias vertentes da circularidade. O Circulytics apoia a transição de uma empresa para a economia circular, independentemente do setor, complexidade e tamanho. Indo além da avaliação de produtos e fluxos de materiais, esta ferramenta de medição ao nível de uma organização revela até que ponto uma empresa atingiu a circularidade em todas as suas operações. Faz isso usando o mais amplo conjunto de indicadores atualmente disponível entre duas categorias: os fatores que impulsionam a adoção de uma estratégia de Economia Circular e os respetivos resultados. Na primeira categoria, incluem-se os fatores que permitem às empresas promover a circularidade ao longo da sua cadeia produtiva, como, por exemplo, a prioridade estratégica atribuída à Economia Circular e os programas de formação interna relacionados com este tema. Já na categoria dos resultados, inserem-se os esquemas atuais de avaliação dos fluxos de materiais, aferindo o grau de circularidade corrente das organizações. Esta categoria está relacionada essencialmente com a circularidade dos inputs e outputs e o processamento de materiais.
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Formação
ECONOMIA CIRCULAR NA INDÚSTRIA DA CERÂMICA: FORMAÇÃO PARA ALAVANCAR A MUDANÇA!
p o r An a Ca r v a l h o , CEG-IST¹ e Ma r t a Br a z ã o, Circular Economy Portugal, Lisboa, Portugal
Marta Brazão e Ana Carvalho
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas estabeleceram metas a alcançar até 2030, que direcionam qualquer tipo de organização a posicionar-se no sentido de desenvolver e implementar ações mais sustentáveis, para se manterem competitivas, para darem resposta à procura dos seus clientes e cumprirem com a nova legislação europeia. Desta forma, o conceito de economia circular aparece como um fator chave no alcance dessas metas, permitindo ter uma visão sistémica dos problemas e encontrar soluções sustentáveis que permitem a diminuição da extração e utilização de materiais e a recuperação dos materiais em fim de vida, valorizando os desperdícios e criando novos modelos de negócio. A aplicação do conceito de economia circular e o seu impacto positivo não é exceção na indústria da cerâmica. É importante mencionar que a indústria cerâmica tem uma enorme relevância para a economia europeia (€ 28 mil milhões de valor da produção; 200.000 empregos diretos; € 4,6 mil milhões de saldo comercial positivo; 80% das PME), sendo um setor tecnológico líder (Koch, 2020). Em Portugal a indústria de cerâmica é um setor de elevada tradição, satisfazendo as necessidades do setor da construção enquanto produtora de tijolos, telhas, soluções de pavimentação, revestimentos,
louça sanitária e utensílios cerâmicos (PWC, 2016). Contudo tal como em toda a Europa, a cadeia de valor da Indústria Cerâmica, ao longo do ciclo de vida do produto acarreta desperdícios. Durante a produção de cerâmica cerca de 30% do material é descartado como indiferenciado, não tendo uma valorização (Zimbili et.al., 2014). Este facto atesta a necessidade de explorar novas metodologias que permitam a o diagnóstico das atividades ao longo do ciclo de vida do produto e formas inovadoras de valorização de resíduos cerâmicos. O Instituto Superior Técnico, através do TÉCNICO+ (escola de formação avançada pós-graduada e profissional), apresenta o curso: Economia Circular – Metodologias para a Transição nas Empresas. Este curso visa dotar os seus formandos de conhecimentos sobre o conceito de economia circular numa ótica de análise de ciclo de vida (ACV). O curso abrange conceitos introdutórios de Economia Circular, capacitando os seus formandos no diagnóstico de sistemas, criação de soluções, avaliação da circularidade e comunicação de ações de economia circular inseridas no contexto dos ODS. O modelo de Economia Circular pretende desencadear uma mudança sistemática para a construção de um sistema mais resiliente a longo prazo, abrindo novas oportunidades de negócio e providenciando benefícios ambientais e sociais (Ellen MacArthur Foundation, 2015). Baseia-se em três princípios (Ellen MacArthur Foundation, 2015): i) acabar com o desperdício e com a poluição; ii) manter produtos e materiais em uso e iii) regenerar os sistemas naturais. Para
1 Centre for Management Studies, Instituto Superior Técnico, University of Lisbon, Portugal
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Investigação
os impactes ambientais dos produtos são analisados ao longo do seu ciclo de vida (desde a extração à sua utilização). Com a aplicação de software de ACV os formandos serão capazes de analisar problemas complexos e sistémicos, identificando oportunidades de melhoria, de modo a propor soluções práticas de economia circular adequadas ao contexto das suas organizações e minimizando os seus impactos ao longo de todo o ciclo de vida. A Cerame-Unie, representante da indústria cerâmica na Europa, enfatiza que a eficiência de recursos requer uma abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que tenha em consideração todas as fases do produto, incluindo sua durabilidade, tempo de vida útil e redução do consumo de recursos durante a fase de uso (Cerame-Unie, 2014), conteúdos esses que serão abordado no curso do TÉCNICO+. Verifica-se que a indústria da cerâmica enfrenta três grandes desafios: i) pensar e integrar os princípios da economia circular, sobretudo o ecodesign; ii) aplicar processos inovadores no processo produtivo e conseguir valorizar os
Figura 1
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Diagrama da Borboleta (BeeCircular (2020))
tal, estabelece a divisão dos processos, ou ciclos, em dois: o biológico e o técnico. No primeiro caso, os “nutrientes” biológicos consistem num produto que é desenhado para retornar ao ciclo biológico. Por sua vez, o ciclo técnico (mais aplicado à indústria cerâmica) refere-se aos processos que recuperam e restauram produtos e materiais, através de estratégias como a reutilização, reparação, remanufatura e (por último) a reciclagem (Braungart e McDonough, 2009). O diagrama sistémico – mais conhecido como diagrama da borboleta (Figura 1) – expõe graficamente, e de forma simplificada, os dois ciclos referidos e os processos que compõem cada um deles. Da aplicação, confluência e gestão de todos estes processos, a economia circular permite alcançar um equilíbrio entre as necessidades e atividades humanas e os recursos (finitos) disponíveis, mas que são constantemente regenerados e reintroduzidos no sistema. A Economia Circular está intimamente ligada à Análise de Ciclo de Vida (ACV), onde
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Formação . Kéramica . p.21
Formação
Novas abordagens, metodologias e modelos de negócio serão abordados neste curso. Estes e outros exemplos serão apresentados, mostrando a aplicação do conceito de economia circular na indústria da cerâmica. Saiba mais sobre este curso que pode transformar o seu negócio, num negócio sustentável e de vanguarda! Contamos consigo! Mais informação: https://tecnicomais.pt/cursos/economia-circular-metodologias-para-a-transicao-nas-empresas/
resíduos/subprodutos; iii) implementar estratégias de economia circular, nomeadamente simbiose industrial. No entanto, existem empresas que demonstram que é possível utilizar a economia circular e transformar os desafios em novas oportunidades e modelos de negócio (Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, 2019). A Revigrés apresenta um vasto leque de boas práticas promotoras da economia circular: valorização de 98% dos resíduos do processo produtivo, incorporados novamente como matéria-prima; privilegiar o EcoDesign diminuindo os impactes ambientais; total reutilização das águas residuais industriais; utilização de matérias-primas inertes para que haja uma diminuição da produção de resíduos perigosos. Estas ações foram incorporadas, por exemplo, na coleção Revicomfort (Figura 2) que consiste num pavimento em grés porcelânico que é amovível e reutilizável pois não requer a utilização de cimento cola ou de betume; assim, quando for necessário, pode ser substituído sem ser danificado e assim, prolonga-se o tempo de vida útil do produto (Revigrés, 2021). Outro exemplo relevante nesta área consiste no caso da Águas do Douro e Paiva. Na produção de água para consumo humano, são gerados resíduos como as lamas de clarificação depositadas em aterro. Essas lamas podem ser incorporadas como matéria-prima no fabrico de telhas cerâmicas, alcançando um sistema de simbiose industrial (o resíduo de uma indústria é um recurso para outra). Apesar das dificuldades ao nível da operacionalização e da logística, esta já possibilitou a valorização da totalidade destes resíduos (provenientes da ETA de Lever) em novos produtos cerâmicos e permitiu uma diminuição de custos na gestão de resíduos em mais de 500.000€ (BCSD Portugal, 2020). A empresa de cerâmica STEINZEUG-KERAMO encontra-se neste momento a produzir tubos de argila que são 100% recicláveis e que são produzidos com 40% de matérias-primas recicladas (próprios desperdícios, mosaicos para chão, pó de pedra) tendo um tempo de vida de mais de 100 anos (Koch, 2020).
p.22 . Kéramica . Formação
Referências BCSD Portugal. (2020). Caso de Estudo Economia Circular: De resíduo a matéria-prima: a incorporação de lamas de tratamento de água no fabrico de telhas cerâmicas. Disponível em: https://bcsdportugal.org/ wp-content/uploads/2020/12/Caso-de-Estudo-Economia-Circular-Aguas-de-Portugal-20200918-2.pdf Cerame-Unie – The European Ceramic Industry Association (2014). Cerame-Unie’s Views on Resource Efficiency & the Circular Economy Package. Brussels. BeeCircular. Diagrama de Borboleta: No caminho de Circularidade. (2020). Disponível em: https:// www.beecircular.org/post/borboleta Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro. (2019). Economia Circular no Setor do Vidro e da Cerâmica. Disponível em: https://www.ctcv.pt/pdf/ RELATORIO_EUROACELERA_CTCV_Aveiro.pdf Ellen MacArthur Foundation. (2015). Towards a Circular Economy: Economic and business rationale for an accelerated transition. Disponível em: https:// www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/publications/Ellen-MacArthur-Foundation-Towards-the-Circular-Economy-vol.1.pdf Koch, G. (2020) Circular Economy- The contribution of the ceramic industry, Cerame-Unie McDonough, W. & Braungart, M. (2009). Cradle to Cradle: Re-making the way we make things (1a edição). Londres: Vintage Books. PWC (2016) Capacitação da indústria da Cerâmica Portuguesa Um cluster, uma estratégia, mercados prioritários Revigrés. (2021) Ambiente - A nossa cerâmica é verde. Disponível em: https://revigres.pt/ambiente Zimbili O., Salim, W. Ndambuki M. (2014) A review on the usage of ceramic wastes in concrete production, Int. J. Civ. Arch. Struct. Constr. Eng. 8:91–95
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Sustentabilidade
O COMPROMISSO DA S A I N T-G O B A I N C O M A SUSTENTABILIDADE
por Ana L ou re nço , Re s p o ns á v e l pe la Su st e n t a b il id a d e d a S a i nt -G o b a i n Po r t u g a l
Ana Lourenço
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Saint-Gobain Portugal
O sector da construção tem um papel fundamental a desempenhar para melhorar a saúde humana, o seu bem-estar e redução dos seus impactos no ambiente. Considerando o sector da construção, este representa cerca de 39% das emissões de CO2 em todo o mundo¹, sendo que três quartos dessas emissões correspondem à fase de utilização (aquecimento, arrefecimento…) e um quarto resulta dos materiais de construção. O ambiente construído é responsável por 40% do consumo mundial de matérias-primas². Além disso, estes recursos naturais não são utilizados eficazmente. Até 40% dos resíduos sólidos urbanos são resíduos de construção e demolição³. E não
menos importante, os edifícios têm um enorme impacto na saúde das pessoas, uma vez que passamos cerca de 90%⁴ do nosso tempo dentro deles. Agora, mais do que nunca, há uma consciência clara dos enormes impactos que a construção tem sobre o clima, recursos naturais e saúde humana. Portanto, o ambiente construído tem um papel vital a desempenhar para responder à emergência climática, promover a economia circular e para melhorar a saúde e o bem-estar. O Grupo Saint-Gobain definiu como objetivo atingir a Neutralidade Carbónica até 2050. Foi a 23 de setembro de 2019 em Nova Iorque, que assinou o compromisso ‘Business Ambition for 1.5°C’ do Pacto Global da ONU. Para além de atingir a neutralidade carbónica, a Saint-Gobain tem como missão fomentar a redução das emissões de carbono nos mercados em que opera, apoiar a transição energética, reduzir o impacto da utilização de materiais, tanto sob a forma de emissões de gases com efeito de estufa bem como sob a forma de intensidade de recursos. ‘Para a Saint-Gobain, o objetivo da neutralidade de carbono é maior do que os nossos esforços como uma única empresa. Significa participar na neutralidade de carbono dos nossos mercados.’ Atualmente a Saint-Gobain procura uma série de métodos para reduzir as emissões diretas nos centros de produção, as emissões indiretas que estão na maioria liga-
1 2019 Global Status Report for Buildings and Construction (based on IEA data) 2 The Circularity Gap report 2019 3 World Bank, What a waste: a global review of solid waste management (2012) 4 World Health Organization (WHO)
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Sustentabilidade
das à utilização de eletricidade e nas emissões a montante e a jusante da cadeia de valor. Estes métodos incluem design de produto e novas composições para os materiais, tornar os processos industriais mais eficientes energeticamente, recorrer a fontes de baixo carbono e renováveis, trabalhar com parceiros que fornecem as matérias-primas e com aqueles que transportam os nossos produtos para reduzir as suas emissões, etc. Para a Saint-Gobain os quatro eixos principais de ação são: • Otimização e redução da utilização de energia • Transição para uma energia sem carbono • Mobilização de fornecedores e novas iniciativas em matéria de transportes • Inovação nos seus processos, tanto industriais como de conceção de produtos. Neste eixo destaca-se a conceção de produto, o que implica procura por produtos mais leves, utilização de matérias-primas de baixo teor de carbono e/ou com elevado conteúdo reciclado.
em fachadas, coberturas, paredes interiores e também em pavimentos. Caracterizam-se pela incorporação de material reciclado, na maioria dos produtos superior a 50% e por ser um material 100% reciclável. Destaca-se ainda a tecnologia ULTIMATE, a mais recente inovação da ISOVER, que apresenta um perfil de altas prestações único. A lã mineral ULTIMATE combina as vantagens da lã de vidro (excelente isolamento térmico e acústico, facilidade de manuseamento e vantagens ambientais) com propriedades de resistência ao fogo excecionais. No que diz respeito às condutas de climatização, as soluções proporcionam ganho na eficiência energética, no comportamento acústico e térmico. As placas apresentam na sua constituição material reciclado em mais 50% e 100% reciclável. As soluções para revestimento de tetos, paredes e fachadas à base de gesso são produtos da marca Placo®, que se distingue pelas soluções de construção para edifícios novos ou em reabilitação. Pode-se encontrar no seu portfólio produtos com tecnologia ACTIV’AIR® (patenteada Saint-Gobain) que atua na purificação do ar, em que os compostos contaminantes da atmosfera interior são transformados em compostos não prejudiciais à saúde. Podem-se encontrar também placas de gesso 100% recicláveis e caracterizadas com pontos cada vez mais requeridos pelas certificações LEED e BREEAM. Como produtor de argamassas industriais, a Weber destaca-se pela incorporação matérias primas em fim de ciclo, que são revalorizadas no produto, em vez de serem desperdiçadas. Um exemplo é o produto webercol flex lev, um adesivo multiusos para colagem de cerâmica,
A Saint-Gobain Portugal S.A., da qual fazem parte as marcas ISOVER, Placo® e Weber, produz e distribui diversos materiais para a construção. A marca ISOVER é uma referência no mercado pelos produtos de isolamento térmico, acústico e proteção contra o fogo e de climatização, através de condutas de ar. Destacam-se as soluções de isolamento em placas de lã mineral – lã de rocha ou lã de vidro – que podem ser aplicadas
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Sustentabilidade
pedra natural e mosaico hidráulico, em interior e exterior, baseado em ligantes hidráulicos, cargas leves revalorizadas e aditivos específicos. Desenvolvido no centro de competências da Saint-Gobain Weber Portugal, resulta da investigação dedicada a produtos de colagem de cerâmica, com foco nas necessidades inerentes à evolução do mercado e do sector dos materiais de construção. A sustentabilidade, a facilidade de aplicação, transporte e a pluralidade do seu uso foram o foco principal do seu desenvolvimento Incorpora na sua formulação mais de 30% de matérias-primas recicladas, entre eles, borracha granulada proveniente da indústria de pneus e escória de alto-forno, subproduto procedente da indústria metalúrgica. Para além das propriedades que melhoram o seu desempenho e aderência, do ponto de vista de manuseamento, uma embalagem de webercol flex lev é mais fácil de manusear e exige menor esforço que o habitual, o que se torna uma opção vantajosa para todo o processo em armazém, em loja ou em obra, promovendo a saúde e bem-estar dos operadores. Um saco de webercol flex lev tem densidade reduzida, o que possibilita que com 12,5 kg seja possível executar a mesma área de aplicação que o conseguido com um produto convencional em embalagens de 25 kg. Pelas mesmas razões, os custos de transporte e emissões de CO2 associadas a todo o processo de transporte de materiais são consideravelmente reduzidos. Este produto reitera a importância dada à sustentabilidade para a Saint-Gobain Weber Portugal e por este empenho foi distinguida com uma Menção Honrosa no Pré-
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mio Nacional de Sustentabilidade com o produto webercol flex lev, na categoria Descarbonização. Foi ainda vencedor do Prémio Cinco Estrelas 2021 na categoria “Obras e Remodelações”. O reconhecimento mostra a satisfação dos consumidores e a diferenciação dos nossos produtos, mas mostra também que o caminho a trilhar é este, que é necessário e valorizado. Em suma, trabalhamos todos os dias para o propósito definido pelo grupo Saint-Gobain: “MAKING THE WORLD A BETTER HOME”. Um propósito que define o caminho para o nosso futuro, através de soluções que tem impacto positivo, que equilibra bem-estar, qualidade de vida e performance ao mesmo tempo que cuidamos do planeta. O propósito que define quem somos, enfrentando os principais desafios da humanidade, mudanças climáticas, proteção de recursos e a luta contra a desigualdade. O propósito que é um incentivo à ação, que nos estimula a inovar abertamente, com ambição sempre renovada de unir a humanidade e a natureza para o bem comum. O propósito que é sustentado por valores que nos orientam, respeitando os nossos princípios de comportamento e atuação e os valores Humanistas presentes na nossa cultura corporativa. A escuta, o diálogo, a bondade, a solidariedade, a confiança e o respeito pela diferença são pontos centrais do nosso Compromisso. Tudo se resume ao propósito que nos faz AGIR, todos os dias, para tornar o mundo um lugar mais bonito e sustentável para se viver.
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Secção Jurídica
S U S T E N TA B I L I DA D E : L U C R O E P R O P Ó S I T O - A I M P O R TÂ N C I A DAS EMPRESAS NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR
p o r Fi l o m e n a Gi r ã o e Ma r i a In ês B a s t o, FA F A d v o g a d o s
Filomena Girão e Maria Inês Basto
Para Milton Friedman, a única responsabilidade social de uma empresa era a maximização do seu lucro e, por conseguinte, a maximização do retorno do investimento dos seus accionistas. À luz da doutrina daquele Nobel das Ciências Económicas – que se tornou dominante durante o século XX – o papel das empresas estaria confinado à prossecução dos seus interesses financeiros, deixando-se para o Estado a função (ou, melhor, o propósito) de implementar políticas sociais, de interesse público, que salvaguardassem o bem-estar geral das pessoas. Hoje, todavia, não é esse o comportamento que se espera das empresas, quer sejam públicas ou privadas, de pequena, média ou de grande dimensão. Actualmente, e, desde logo, por pressão da própria sociedade-cliente-consumidor, exige-se que as empresas, de uma forma ética, consciente e sustentável, sirvam um propósito bastante mais abrangente, capaz de criar valor, não só para os seus accionistas, mas também para a comunidade em que se inserem. Exige-se-lhes um propósito social, integrado numa estratégia empresarial que vá muito além da maximização do lucro a curto prazo, que se enquadre nos factores de sustentabilidade ESG (da sigla em inglês,
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Environmental, Social e Governance) - factores que, por sua vez, deverão estar alinhados com os Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas. Sendo aqueles factores ESG indicadores do impacto social da actividade empresarial: i) ao nível da sustentabilidade ambiental, espera-se que a empresa tome medidas de redução da sua pegada ambiental, assim promovendo a protecção e qualidade do meio ambiente; ii) ao nível da sustentabilidade ou responsabilidade social, exige-se que a empresa promova, respeite e proteja os Direitos Humanos, a começar pelos direitos dos seus trabalhadores, colaboradores, parceiros, e até fornecedores, promovendo, ainda, a saúde e segurança no local de trabalho e a inclusão de grupos vulneráveis ou minoritários; e, iii) ao nível de governance, ou boa governação, pretende-se que a empresa implemente mecanismos e procedimentos éticos e transparentes e que incorpore medidas anticorrupção. Em suma, exige-se das empresas a integração nos seus modelos de negócio de estratégias compatíveis com um desenvolvimento sustentável, plenamente considerado, equivalendo isto a dizer um “desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades,
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Secção Jurídica
garantindo o equilíbrio entre o crescimento económico, o cuidado com o ambiente e o bem-estar social” (Relatório Brundtland, 1987). Apesar do conceito de factores de sustentabilidade ESG ter surgido inicialmente no sector financeiro, e sendo este até ao momento o sector mais regulamentado nesta matéria, o reconhecimento da sua importância não é hoje um fenómeno exclusivo daquele sector, das grandes empresas ou das empresas cotadas em bolsa. Na verdade, existe hoje uma visão da sustentabilidade empresarial mais abrangente e mais comprometida com a sociedade, que tem despoletado uma reflexão e uma regulamentação crescentes em quase todos os sectores de actividade, envolvendo cada vez mais empresas, independentemente do seu objecto e da sua dimensão. Sinal disso mesmo é a mais recente Proposta de Directiva relativa à Comunicação de Informações sobre Sustentabilidade pelas Empresas, apresentada pela Comissão Europeia no passado dia 21 de Abril de 2021, que propõe alterar as Directivas 2013/34/UE, 2004/109/CE e 2006/43/CE e, ainda, o Regulamento (UE) n.º 537/2014, melhorando o reporte de sustentabilidade, “a fim de explorar melhor o potencial do mercado único europeu para contribuir para a transição para um sistema económico e financeiro plenamente sustentável e inclusivo, em conformidade com o
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Pacto Ecológico Europeu e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”. E, mais, embora o âmbito de aplicação desta Proposta de Directiva continue a visar essencialmente as grandes empresas, nela se prevê igualmente a sua aplicação às PME’s cotadas em mercado regulamentado pela União Europeia dentro de três anos, recomendando-se, mesmo, a aplicação voluntária a todas as PME’s. Em jeito de conclusão, tal não quer dizer que responsabilidade social e lucro sejam conceitos antagónicos, ou sequer que a prossecução deste tenha sido substituída por aquela. Bem pelo contrário! Pela nossa experiência na área laboral e de compliance, é nossa convicção que as empresas que entendem a sua sustentabilidade de forma plena e abrangente (visando o lucro, promovendo políticas de protecção ambiental e assumindo uma vocação social com a sua comunidade envolvente) tornam-se mais sólidas e prósperas, e encontram-se mais preparadas para enfrentar crises sociais e económicas. Num mundo cada vez mais global, e especialmente num contexto de pós-pandemia, a preocupação das empresas com a sua sustentabilidade – representando esta a soma de lucro e propósito - determinará o seu comprometimento com as pessoas e este, por seu turno, será definidor do nosso futuro.
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Construção Sustentável
O PARADIGMA DA CIRCULARIDADE NO SETOR DA CONSTRUÇÃO: DESAFIOS E CONTRIBUTOS DO CECOLAB
po r Jo ã o Nu n e s¹ , Am a n d a Din iz B a r r os , Ma r i a n a Fo n se ca , Fi l i p a Figueir edo, Jor ge A. P i n t o Pa i v a , A s s o ci a çã o C ECOL A B²
João Nunes
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Presidente CECOLAB
O CECOLAB é um laboratório colaborativo dedicado ao tema da Economia Circular, denominado por Associação CECOLAB – “Collaborative Laboratory Towards Circular Economy e com sede em Oliveira do Hospital, na região interior Centro de Portugal. Iniciou as suas atividades em fevereiro de 2020 e tem como missão: i) apoiar a transição para uma economia responsável para com os recursos e as pessoas, mais eficiente no seu ciclo de vida, desenvolvendo e transferindo conhecimento e tecnologia para o mercado; ii) criar emprego científico altamente qualificado; e iii) assumir a liderança e o posicionar Portugal a nível internacional na área da Economia Circular. O CECOLAB desenvolve soluções sustentáveis de mercado no âmbito da Economia Circular para Cadeias de Valor Estratégicas (Floresta, Agroindústria, Resíduos Urbanos, Água, Indústria de Manufatura e Construção e a
Servitização), apoiadas em três plataformas tecnológicas: Biotecnologia Industrial; Processos de Separação Sustentáveis e Química Verde; e Ecodesign. O CECOLAB oferece serviços de consultoria em gestão de inovação de alta qualidade, suporte ao desenvolvimento de escala tecnológicas do nível TRL4 para TRL9, assessoria e transferência de conhecimento para o mercado, agregando valor e possibilitando o crescimento económico em todos os níveis. O CECOLAB integra na sua estrutura mais de 25 recursos humanos multidisciplinares altamente qualificados e em permanência, com formação desde a Biotecnologia, Química, Engenharia Civil, Mecânica e de Materiais, Informática e Eletrónica, Meio Ambiente, Economia e Ciências Sociais ao Direito. A Associação reúne entidades de excelência, tendo como associados universidades (U.Minho, U.Porto, U.Aveiro, U.Coimbra, U.NOVA de Lisboa e U.Católica Portuguesa), empresas (BLC3 Evolution, Aquitex, Lipor, Mota Engil, TMG, RAIZ: Grupo Navigator) e entidades de interface (ISQ e LNEG). O CECOLAB é reconhecido como infraestrutura de investigação e ciência com interesse nacional estratégico na área da Economia Circular (Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Interesse Estratégico Nacional despacho nº 4157/2019). O setor da construção requer iniciativas inovadoras pela sua importância económica, abrangência territorial e dependência de extração de materiais, e geração de grandes volumes de resíduos de construção e demolição.
1 Autor correspondente: president@cecolab.pt 2 Associação CECOLAB – Collaborative Laboratory towards Circular Economy
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Construção Sustentável
Este setor foi considerado prioritário no Pacto Ecológico Europeu e no novo Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal (PAEC - Resolução do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017 – D.R. n.º 236/2017), devido à elevada quantidade de recursos que emprega nas várias atividades e à extensa cadeia de valor. Foi estabelecido que o sector da construção deverá transitar para um modelo de Economia Circular, construindo e renovando o parque edificado de forma eficiente em termos de utilização de energia e recursos e de redução e valorização dos resíduos gerados, indo ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) definidos na Agenda 2030, sendo estes: ODS7 “Garantir o acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis, e modernas para todos”, ODS11 “Tornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis” e ODS12 “Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis”. Contudo, muitas das intervenções necessárias a efetuar neste setor estão logo na fase de projeto. A fase de projeto é uma fase chave do ciclo de vida da construção para uma transição para a Economia Circular, e que necessita igualmente de desenvolvimentos de novos conhecimentos, abordagens e tecnologias. O CECOLAB posiciona-se como uma entidade determinante na transição para a circularidade do setor da construção. Nas diversas áreas de atuação do setor da construção pode-se destacar a contribuição do CECOLAB em atividades de investigação e inovação direcionadas para a Economia Circular, nomeadamente: • Projeto circular: O projeto circular surge como área de investigação para ser aplicado ao projeto de edifícios, no processo de conceção e montagem e na
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articulação de eventuais desmontagens no fim de vida do edificado. O ecodesign e a avaliação do ciclo de vida, na perspetiva do “berço ao berço”, assumem um papel fundamental logo na fase de projeto para o aumento da circularidade do setor da construção, e na consideração do edificado como um banco de materiais. Desta forma, cada parte ou etapa de uma construção é considerada pelo seu valor próprio e como parte de um ciclo que deve ser (re)integrado. Cada um dos bancos de materiais tem duração diferente e o projeto baseado na visão circular deve ter este aspeto em consideração. Destaca-se, neste caso, a necessidade de estudos relativos aos “passaportes de materiais” visando permitir às empresas a total rastreabilidade dos materiais durante o ciclo de vida completo das obras, no qual a digitalização assume um papel relevante, assim como, as tecnologias de “Building Information Modeling” (BIM) e “Radio-Frequency IDentification” (RFID). Por outro lado, a integração dos conceitos de Ecodesign (eficiência nos fluxos de massa) e da arquitetura bioclimática com o uso inteligente de energia (eficiência nos fluxos de energia), desde o processo de projeto, potenciará a aplicação com elevado impacte circular no setor da construção: desde a vertente do ato da construção à utilização do espaço, terminando com a fase de demolição ou nova utilização do espaço (por exemplo, passar de um espaço residencial para de serviços); • Descarbonização do setor da construção: Para se assegurar uma descarbonização do setor da construção a curto prazo e com viabilidade para uma estratégia a médio e longo prazo, a composição (armazenamento de carbono) e origem de materiais a usar, as técnicas de construção e as medidas de compensação carbónica, são três áreas de elevado foco de atividade do CECOLAB para contribuir para a neutralidade carbónica no setor da construção; • Eficiência de recursos (mássicos e energéticos) no uso do ambiente construído: Na ótica do uso eficiente de recursos no setor da construção é importante uma abordagem sistémica, desde a vertente da construção de um edifício ou estrutura, até à sua utilização. Podemos conceber um edifício em que a construção represente um uso eficiente de recursos mássicos e energéticos, contudo, não significa que depois o seu uso – e numa perspetiva holística de Ciclo de Vida completo – represente um aumento da
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Construção Sustentável
quantidade de RCD foi de 136 kg/per capita em Portugal em 2018, valor relativamente reduzido quando comparado com a média da EU27, de 1870 kg/per capita. Em 2018, em Portugal, a taxa de resíduos minerais não perigosos provenientes de RCD que foi recuperada através de reciclagem foi de 31.91 % (79.4% na UE27), sendo maioritariamente valorizada através de atividades de preenchimento. O desenvolvimento de soluções circulares para a valorização mássica e económica de RCD é um desafio global atual e urgente. Um dos objetivos de investigação & inovação do CECOLAB é o desenvolvimento de soluções alternativas de reuso, reciclagem e valorização deste tipo de resíduos, reinserindo-o no ciclo produtivo da construção e numa lógica de hierarquização de uso dos resíduos. Este tipo de solução permitirá reduzir o impacte deste setor na natureza e na utilização de matéria-prima virgem, aumentando o consumo de matérias primas secundárias provenientes de RCD.
eficiência de recursos. Neste contexto, o CECOLAB, e sabendo da importância que representa o uso do ambiente construído para o cumprimento das metas e objetivos da Economia Circular, apresenta uma visão e abordagem integrada: a Construção e o Uso do Ambiente Construído. Na vertente do uso do ambiente construído inclui-se a dimensão (i) mássica, ao longo da vida do ambiente construído, pela composição, o tempo de vida útil e a capacidade e impacte circular em novas utilizações no final de vida dos materiais e produtos usados; e a (ii) energética, pela capacidade de por unidade útil de ambiente construído – e para os padrões de base de conforto térmico e de digitalização – termos um uso mais inteligente da energia (mais eficiente e acessível), permitindo depois um menor impacte a montante no uso de recursos na geração dessa energia; • Resíduos de Construção e Demolição (RCD): Em 2018, ao setor da construção destinaram-se 28.7 % do total de matérias-primas e 54.3 % do total de minerais não metálicos nos 27 países da União Europeia. O setor da construção e o setor extrativo das minas e pedreiras totalizam 62.5 % do total de resíduos. A
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O CECOLAB ambiciona para o setor da construção, e para os demais, garantir a cooperação internacional para o aumento da capacidade de escala/resposta a curto prazo. De referir que o CECOLAB é um dos promotores e signatário da Carta de Cooperação Mútua (21 de abril de 2021) assinada entre a CECOLAB, o CBIEC - Centro Brasileiro de Inovação em Economia Circular e a Rede de Economia Circular Africana (ACEN) com o objetivo de estabelecer programas de colaboração técnico-científica para a implementação de soluções de Economia Circular que facilitem a interação e troca de conhecimento entre a Europa, América Latina e África. Esta mudança de paradigma é visível através da aposta na criação e na dinamização de redes pré-existentes e do diálogo interinstitucional, no âmbito da Economia Circular, desde os CoLAbs às entidades governamentais, academia, empresas e entidades internacionais.
Agradecimentos: O CECOLAB agradece o apoio financeiro no âmbito do projeto “Contratação de Recursos Humanos altamente qualificados”, CENTRO-04-3559-FSE-000095 do Programa Operacional Regional do Centro (Centro2020), através do FEDER, no âmbito do acordo de parceria Portugal2020 e à Fundação para a Ciência e Tecnologia.
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Economia
EXPORTAÇÕES DE CRISTALARIA EM 2020 NO MUNDO, UNIÃO EUROPEIA E PORTUGAL
po r Ant óni o Oli v e i r a , E co no m i s t a d a A PIC E R
Figura 1 - Exportações Mundiais de Cristalaria em 2020 por Áreas de Exportação Fonte: ITC – International Trade Centre
Exportações Mundiais Os objetos de vidro para serviço de mesa, cozinha, toucador, escritório, ornamentação de interiores ou usos semelhantes (cristalaria), correspondem, em termos de comércio internacional, à nomenclatura combinada (NC) 7013. No ano de 2020 as exportações mundiais de cristalaria atingiram os 6.741 milhões de euros, o que traduz uma variação de -14,1% relativamente ao ano de 2019. O ranking dos exportadores mundiais em 2020 era liderado pela China (42,5% do valor das exportações mundiais), se-
guida da França (8,4%), Alemanha (5,9%), República Checa (4,0%) e Itália (3,8%). Portugal ocupava o 15.º lugar do ranking mundial, com 1,2%. A contribuição da União Europeia (UE-27) para as exportações mundiais de cristalaria em 2020 representou 41,0% do valor total mundial (figura 1). União Europeia (UE-27) Em 2020 as exportações de cristalaria com origem na UE-27 ascenderam a 2.763 milhões de euros, o que traduz uma variação de -16,8% face ao ano anterior. Em termos de quantidades, as exportações da UE-27 corresponderam a 961.453 toneladas. No âmbito da UE-27, os principais exportadores (figura 2) foram a França (20,2% do valor total), Alemanha (14,3%), República Checa (9,7%), Itália (9,1%) e Polónia (8,2%). Portugal foi 0 11.º exportador no ranking, com 2,9%. Portugal No ano de 2020 as exportações portuguesas de cristalaria alcançaram os 79,4 milhões de euros (dados preliminares divulgados pelo INE em 11/06/2021), valor que traduz uma varia-
Exportações Mundiais de Cristalaria em 2020, por Áreas de Exportação (em % do valor total) 5%
Exportações de Cristalaria na UE-27 em 2020 (em % do valor total) 10%
2%
20%
3%
8%
3%
União Europeia 27 Outros Europa 41%
4% 4%
China Outros Ásia
14%
7%
América África e Oceania
42% 2%
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8% 10%
8%
França Alemanha Rep. Checa Itália Polónia Países Baixos Áustria Espanha Bulgária Bélgica Portugal Outros
9%
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Figura 2 - Exportações de Cristalaria na UE-27 em 2020, por países Fonte: Eurostat – International Trade
O ano de 2020 ficou marcado pela doença Covid-19, que a Organização Mundial de Saúde qualificou, em 11 de março de 2020, como uma pandemia internacional, constituindo uma calamidade pública. Esta situação motivou a adoção de medidas de forte restrição à atividade económica e social, com impacto profundo na economia mundial e, nomeadamente, nas transações internacionais. Em 2020 as exportações totais mundiais de produtos diminuíram 9,4% em relação ao ano de 2019. No caso da cristalaria, o impacto da pandemia fez-se sentir de forma ainda mais intensa.
Economia
Figura 4 - Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2020, por produtos (em % do valor total) • Fonte: INE - Estatísticas do Comércio Internacional de Bens
Figura 3 - Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2020, por mercados (em % do valor total) •Fonte: INE – Estatísticas do Comércio Internacional de Bens
ção de -13,3% em relação ao ano de 2019, e repartiram-se por 128 mercados. Espanha, França, Países Baixos, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, constituíram os principais mercados de destino das nossas vendas nos mercados internacionais (figura 3). Em termos de quantidades, as exportações portuguesas traduziram-se em 28.085 toneladas, o que representou 2,9% do total das exportações da UE-27. A cristalaria contribuiu positivamente para a balança comercial portuguesa, com um saldo de 21,2 milhões de euros, em resultado de uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 136,4% (a taxa de cobertura média para o conjunto de bens foi de 79,3%). O transporte rodoviário foi o mais utilizado nas nossas exportações de cristalaria em 2020 (76,9% do valor total), seguido do transporte marítim0 (21,6%), transporte aéreo (0,5%) e outros (1,0%). Os copos de vidro, com e sem pé, foram o produto de cristalaria mais exportado por Portugal em 2020 (figura 4), representando 52,0% do valor total das nossas vendas de cristalaria nos mercados internacionais. Seguiram-se os objetos de vidro para serviço de mesa ou de cozinha (31,5%), os objetos de vidro para toucador, escritório ou ornamentação (8,5%), os objetos de cristal
Cristalaria - Mercados de Exportação de Portugal em 2020 12% 18%
2% 3% 33% 3% 7%
16%
7%
Espanha França Países Baixos Estados Unidos Alemanha Reino Unido Rep. Checa Bélgica Suíça Itália Outros
15%
14%
Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2020 Por Produtos (em % do valor total) 7%
1% Copos de vidro, com pé e sem pé
9%
Objetos de vidro para serviço de mesa ou de cozinha
52% Objetos de vidro para toucador, escritório ou ornamentação
31%
Objetos de cristal de chumbo para toucador, escritório ou ornamentação Outros
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de chumbo para toucador, escritório ou ornamentação (7,1%) e outros (0,9%). A Espanha, 1.º mercado de destino das exportações portuguesas de cristalaria em 2020, foi o 10.º mercado no ranking dos importadores mundiais, com 157,0 milhões de euros. Portugal foi o 6.º fornecedor internacional do mercado espanhol em 2020 (6,2% do valor das importações de Espanha), atrás da França, China, Itália, Alemanha e Turquia. As importações de Espanha registaram uma variação de -19,7% entre os anos de 2019 e 2020. Na França, 2.º mercado de destino das exportações portuguesas e 3.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2020 com 249,4 milhões de euros, Portugal foi o 8.º fornecedor internacional (4,5% do valor das importações francesas), atrás da China, Itália, Alemanha, República Checa, Países Baixos, Turquia e Espanha. As importações da França registaram um crescimento de 0,4% entre os anos de 2019 e 2020. Nos Países Baixos, 3.º mercado de destino das exportações portuguesas e 5.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2020 com 227,3 milhões de euros, Portugal foi o 5.º fornecedor internacional (6,7% do valor das importações dos Países Baixos), a seguir à China, Alemanha, Polónia e Bélgica. Entre os anos de 2019 e 2020 as importações dos Países Baixos diminuíram 5,0%. Os Estados Unidos, 4.º mercado de destino das exportações portuguesas em 2020, constituem o 1.º mercado importador mundial, registando o valor de 925,6 milhões de euros em 2020. Os principais fornecedores internacionais do mercado norte-americano foram a China, México, Alemanha, Itália e França. Portugal foi apenas 0 19.º fornecedor do mercado norte-americano (0,7% do valor das importações dos Estados Unidos). As importações dos Estados Unidos registaram uma diminuição de 10,5% entre os anos de 2019 e 2020. Na Alemanha, 5.º mercado de destino das exportações portuguesas e 2.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2020 com 442,4 milhões de euros, Portugal foi o 14.º fornecedor internacional (1,1% do valor das importações alemãs). Os principais fornecedores internacionais do mercado alemão foram a China, França, Polónia, República Checa e Itália. As importações da Alemanha contraíram 10,4% entre os anos de 2019 e 2020. O Reino Unido, 6.º mercado de destino das exportações portuguesas de cristalaria em 2020, foi o 4.º mercado no ranking dos importadores mundiais, com 245,4 milhões de euros. Portugal foi o 9.º fornecedor internacional do mercado do Reino Unido em 2020 (2,5% do valor das importações do Reino Unido), num ranking liderado pela China, França, Alemanha, Turquia e Itália. As importações do Reino Unido diminuíram 21,9% entre os anos de 2019 e 2020.
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Design Circular
CIRCO HUB PORTUGAL – CRIAÇÃO DE NEGÓCIOS ATRAVÉS DO DESIGN CIRCULAR
por Cr i s t i na S o u sa Ro ch a , D a v i d Ca m o ch o e Jorg e Ale xandre , Uni d a d e d e E co no m i a de Re c u rso s do L a b o ra t ó r i o Na ci o na l d e En e rgia e Ge o l o gi a
Lançamento do projeto em Portugal visa a formação de 100 empresas e 60 designers 1. Introdução A economia circular tem como principal objetivo eliminar a produção de resíduos e minimizar o consumo de recursos não renováveis através da manutenção dos produtos, componentes e materiais no seu máximo valor e durante o máximo tempo possível na economia. O design tem um papel fundamental nesta mudança de paradigma, de uma sociedade essencialmente linear (“extrair, fabricar, utilizar, descartar”) para uma sociedade circular, em que tendencialmente se dissocie a atividade económica da depleção de recursos e da poluição, criando condições para prosperarmos dentro das fronteiras planetárias. Nas palavras de Michael Braungart e William McDonough (Iniciativa Cradle2Cradle), “não temos um problema de resíduos, temos um problema de design”. É na fase de design que se determina o perfil de sustentabilidade dos produtos ao longo do seu ciclo de vida, pois é nessa fase que se definem a função, o modo de utilização, a durabilidade, os materiais, a embalagem, a reciclabilidade e outras características dos produtos que estão diretamente relacionadas com os seus impactes no ciclo de vida. Além disso, o design thinking aplica-se a áreas que extravasam o objeto físico, e incluem serviços, modelos de negócio e sistemas. A implementação de combinações adequadas de estratégias de fecho, abrandamento, redução e regeneração de fluxos de recursos (Koniezto, Bocken e Hultink, 2020) a produtos, serviços e modelos de negócio potenciam o desenvolvimento de soluções mais circulares e sustentáveis. O design desempenha assim um papel crucial na economia circular, não apenas centrado na reciclagem, mas também na manutenção, reparação, partilha, reutilização, remodelação e remanufatura dos produtos presentes na economia.
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O design tem o poder de promover ou dificultar estas funcionalidades, determina o potencial de circularidade de produtos, serviços e sistemas. 2. O programa CIRCO internacional O programa CIRCO (Creating Business through Circular Design) surgiu nos Países Baixos em 2015 e baseia-se precisamente na aplicação do design e design thinking ao desenvolvimento de produtos, serviços e modelos de negócio circulares. É um programa que ativa e facilita a implementação de negócios circulares por empresas industriais e designers. Foi desenvolvido pela empresa holandesa CLICKNL e tem o apoio do Ministério das Infraestruturas e Gestão da Água do governo holandês. Com um método exclusivo e comprovado, o programa CIRCO oferece a cada empresa uma perspetiva para poder iniciar atividades e soluções circulares, em cooperação com a sua cadeia de valor. Desde que surgiu, este programa apoiou mais de um milhar de empresas na criação de negócios circulares e formou centenas de designers, que atuam como agentes de mudança para a circularidade. Uma vez que a formação das empresas culmina na elaboração de um plano de ação, tem-se verificado que 66% dos participantes implementaram as suas novas propostas circulares. A metodologia original CIRCO foi baseada na publicação de referência “Products that last” (Bakker et al., 2014) e
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vai agora ser replicada em Portugal. Aborda o design circular através de seis estratégias de design de produto e de cinco arquétipos de modelos de negócio, trabalhados em sessões criativas e colaborativas. Os representantes das empresas são assim desafiados a participar num track de design de negócios circulares CIRCO, que se traduz num conjunto de três workshops distribuídos ao longo de um mês. Por sua vez, aos designers o desafio proposto é participarem numa sessão de design circular com a duração de um dia, onde irão compreender como aplicar a metodologia CIRCO na sua atividade profissional, orientada para a sustentabilidade e circularidade. Pretende-se que os participantes, empresas, identifiquem novas oportunidades de negócio e usem estratégias de design e de modelos de negócio circulares para redesenhar as suas próprias propostas de produtos e serviços. No final de cada track, os participantes terão desenvolvido um plano de ação concreto para aplicar a um produto, serviço e/ou modelo de negócio circular, o que torna esses tracks mais eficazes do ponto de vista da implementação. Uma economia circular próspera exige um esforço global coletivo. O CIRCO desenvolveu um programa de formação de formadores, que permite, numa base não comercial, transferir para parceiros internacionais a sua metodologia de design circular. Deste modo, desde 2019 e com o apoio do governo dos Países Baixos, o programa CIRCO estabeleceu Hubs internacionais no Brasil, Sri Lanka, Turquia, Alemanha, Polónia e Portugal, entre outros. A metodologia de design, o conhecimento e o proces-
so de formação de formadores estão disponíveis e podem ser utilizados para incentivar a transição circular à escala internacional e desencadear uma ampla colaboração.
Caixa – Empresa holandesa Bedzzzy: um exemplo de sucesso de colaboração na cadeia de valor, no âmbito do programa CIRCO A participação da Bedzzzy no programa CIRCO e o desenvolvimento de um trabalho inovador e colaborativo com um objetivo de circularidade permitiu colocar no mercado a primeira marca 100% circular na indústria de colchões. O novo produto é 100% reciclável, através de um design modular que permite uma separação dos materiais em fim de vida útil e a sua reutilização para a produção de novos colchões Bedzzzy. Esta separação é ainda possibilitada pela utilização de uma nova cola solúvel, desenvolvida pela empresa DSM, que também participou num track e com a qual foi criada uma parceria para este desenvolvimento. Para além dos materiais utilizados, este produto conta ainda com uma nova abordagem ao modelo de negócio, que dá ao consumidor a opção de compra ou de aluguer, o que permite que, após 5 anos, o produto volte à fabrica e seja totalmente remanufaturado. Reutilizando os materiais e dando uma nova vida ao produto, eliminam-se resíduos, minimizam-se consumos energéticos e a necessidade de matérias-primas virgens. Fonte: https://circohubportugal.pt
Figura 1 - Estrutura de um track – três workshops dedicados a iniciação, ideação e implementação
3. O projeto CIRCO Hub Portugal O CIRCO Hub Portugal desenvolve-se no âmbito de um Protocolo de Colaboração Técnica e Financeira entre o Fundo Ambiental, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), a Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). O LNEG, na qualidade de coordenador do CIRCO Hub Portugal, assinou ainda um acordo de cooperação com a entidade holandesa CLICKNL/CIRCO, cujo objetivo é maximizar o impacto da economia circular através da aplicação de metodologia de design circular CIRCO em Portugal. Tendo como evidência que a transição para uma economia circular não acontece espontaneamente, é necessária a atuação concertada de todos os atores da sociedade, envolvendo múltiplas áreas de saber e de especialização. A circularidade é uma forma de dar substância aos objetivos de sustentabilidade das empresas e que faz sentido do ponto de vista do negócio. A implementação em Portugal do programa
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Perfis dos participantes Tracks para empresas
Sessões para designers
Cada empresa é representada por dois colaboradores na formação, representando duas das seguintes áreas:
Profissionais de design ou recém-licenciados, das seguintes áreas:
• Design/desenvolvimento (obrigatório) • Marketing/vendas • Inovação/estratégia • Gestão de topo ou direção/ gestão intermédia
CIRCO, através do CIRCO Hub Portugal, permitirá que as empresas e os designers trabalhem em conjunto para desenvolverem produtos, serviços e modelos de negócio circulares, segundo a metodologia CIRCO. Os participantes neste projeto terão acesso a conhecimentos concretos utilizáveis e ferramentas de design que são partilhadas internamente e podem depois ser utilizadas para outros projetos circulares. As empresas ainda irão desenvolver um roteiro de implementação de um negócio circular a curto prazo, bem como equacionar possíveis alterações mais sistémicas dos seus produtos e negócios de médio/longo prazo. O CIRCO proporciona também o desenvolvimento de negócios e produtos circulares que seriam difíceis para uma empresa ou designer trabalhar isoladamente. Isto é possível através da abordagem de design em modo colaborativo. A participação neste projeto oferece também um conjunto de oportunidades, entre as quais a de integrar uma comunidade crescente de pessoas e entidades interessadas na economia circular. As metas do projeto CIRCO Hub Portugal são ambiciosas: capacitar 100 empresas e formar 60 designers até ao final do projeto, em dezembro de 2022.
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• Design de equipamento ou industrial • Design de embalagem • Gestão do design • Outras áreas relacionadas com desenvolvimento de produtos e estratégia
4. O desafio para as empresas e os designers Os tracks destinam-se a empresas de qualquer dimensão (com prioridade a PME), responsáveis pelafabricação de produtos (com design próprio ou externo) e que tenham interesse em aplicar estratégias e práticas para desenvolver o seu negócio, rumo à sustentabilidade e economia circular. Como já referido, em cada track participarão 10 empresas e cada empresa é representada por dois colaboradores na formação. O primeiro track será realizado em setembro de 2021, marca o arranque da formação em Portugal e terá como formadores os responsáveis pelo programa CIRCO Internacional dos Países Baixos. Por esse motivo, e excecionalmente, decorrerá em inglês. Por sua vez, as sessões de design circular CIRCO destinam-se a profissionais de design ou recém-licenciados. A primeira sessão de design circular CIRCO para designers está prevista para outubro de 2021, online e em data a anunciar. Todas estas informações e os formulários de pré-inscrição podem ser encontradas no website do projeto (https:// circohubportugal.lneg.pt) ou através do email (circohubportugal@lneg.pt). Referências: • C.A. Bakker, M.C. den Hollander, E. van Hinte, Y. Zijlstra (2014). Products That Last - Product design for circular business models. TU Delft Library/Marcel den Hollander IDRC. • Konietzko, J.; Bocken, N.; Hultink, E.J. (2020). A Tool to Analyze, Ideate and Develop Circular Innovation Ecosystems. Sustainability 2020, 12, 417. https://doi.org/10.3390/ su12010417.
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Arquitetura
SOLUÇÕES GLOBAIS COM SABERES LOCAIS
po r Pe d r o Re ssa n o G a r ci a , arqui te cto
A marca Architecture made in Portugal tem força, está saudável e recomenda-se. No nosso atelier, em Portugal, estamos interessados no futuro e em conhecer como pensam as futuras gerações. Privilegiamos uma abordagem contemporânea e ecológica, alinhada pela perspectiva da biofilia. Atualmente, as cidades enfrentam enormes custos para fazer face às alterações climáticas. Segundo os dados disponíveis, os três principais efeitos (o efeito de ilha de calor urbano, as inundações e as cheias) podem ser combatidos com a mesma estratégia: o efeito esponja. As autarquias, investidores público-privados e os particulares melhorarão a sua resiliência e terão menos custos (mitigação) ao implementar soluções de adaptação a novos padrões climáticos, ao mesmo tempo que apoiam e mobilizam a sociedade civil para comportamentos mais sustentáveis, pessoais ou em redes comunitárias. A concretização do conceito da cidade esponja permitirá absorver inundações e marés, estabilizar a temperatura, para combater o efeito de ilha de calor urbano, e garantir menores consumos energéticos. O investimento na vegetação, em espaços públicos permeáveis, e a sua aplicação nas fachadas e coberturas dos edifícios, combinado com a aplicação do isolamento térmico com cortiça (sendo Portugal o 1º produtor mundial desta matéria-prima), a utilização de águas cinzentas para rega a custo zero, e a micro-produção de energia, permitirão ao país promover estratégias de Construção Sustentável/ Economia Circular. Atualmente há legislação desatualizada e, por conseguinte, serviços municipais que travam esta oportunidade. O governo é responsável por atualizar procedimentos de maneira a viabilizar a convergência entre o conceito e a sua implementação. Portugal tem ótimas condições para implementar, otimizar e exportar conhecimento sobre as melhores
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práticas de adaptação, resiliência e descarbonização. A liderança a nível europeu permitirá angariar fundos comunitários suplementares e vender a outros países este know-how. Desde o início de 2019 que tenho feito a coordenação de um projeto de investigação H2020 (sos climate waterfront 823901), na Universidade Lusófona, que desenvolve soluções para as cidades ribeirinhas face às alterações climáticas, centrado em cinco casos de estudo: Estocolmo, Roma, Gdansk, Tessalónica e Lisboa. A subida do nível do mar, marés altas, tempestades e inundações aumentam a vulnerabilidade dos territórios ribeirinhos urbanos. As transformações necessárias enfrentam anos de discussões e/ou ações judiciais envolvendo perdas e custos significativos, antes que as cidades adaptem efetivamente as frentes ribeirinhas às mudanças climáticas. A resiliência é transformadora e, em cada transformação, tenta criar uma cidade mais forte e melhorada. O efeito das mudanças climáticas está a aumentar a um ritmo sem precedentes que exige adaptação e transformação de territórios vulneráveis. Esses problemas afetam não apenas o meio ambiente e a economia local, mas também todos os cidadãos ou mesmo os turistas. Soluções duradouras, estratégias eficientes e imaginativas criam cidades mais resilientes, apoiam uma orla urbana sustentável e melhoram comunidades saudáveis, – esses fatores são essenciais para sustentar a vida na frente ribeirinha. A costa portuguesa, se seguir a tendência de outros países, tenderá para aquilo que o Eric Van Hooydonk escreveu no seu livro Soft Values of Seaports e que reúne um consenso junto de outros autores sobre a valorização de soft edges, as linhas de costa que não procuram controlar a natureza mas dialogar e negociar com as suas forças. A solução soft edge dá prova de ser mais eficaz, mais resiliente e menos dispendiosa. O diálogo e a
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O principal objetivo é expandir o campo de possibilidades para que o ambiente urbano possa adaptar-se, transformar-se, e criar oportunidades na promoção da economia circular. Entre os nossos parceiros europeus partilhamos informação sobre experiências urbanas que desenvolvem o quarteirão ideal, uma solução que conjuga sustentabilidade ambiental e social. Registamos um conflito entre a geração dos mais velhos e dos mais novos. A modernidade valorizou a capacidade da civilização dominar a natureza, a tecnologia garantiu a sua aparente eficácia e contagiou a cultura dominante. Há uma grande percentagem de decisores que acredita na modernidade e na consequente capacidade de controlar a natureza. No século XXI há uma crescente tendência para questionar esse controle, há cada vez mais personalidades que duvidam da sua eficácia e despertam os mais jovens para a fragilidade desse domínio. A perceção de que o homem não domina a natureza tem crescido exponencialmente entre os jovens adultos que começam a desconfiar dos mais velhos, pela maneira como devoram os recursos naturais, o ritmo a que se perde biodiversidade e o estado em que lhes entregam o planeta.
Fig.1 - Edifício em ferro e cortiça, sala de pequeno almoço, Companhia das Culturas, 2017, Castro Marim, Ressano Garcia Arquitectos
negociação implicam um conhecimento dos parâmetros climáticos e uma previsão das suas alterações. O S.O.S .Climate Waterfront visa melhorar estruturas sustentáveis que favoreçam a descoberta de novas soluções e estratégias que possam combater a vulnerabilidade da frente ribeirinha urbana. O projeto beneficia de condições especiais porque é financiado diretamente pela Agência Europeia de Investigação, ou seja, tem autonomia financeira relativemente ao poder local. Um dos maiores problemas tem sido a falta de autonomia do pensamento inovador face às opções do poder local. Para promover uma visão abrangente ouvimos especialistas locais, representantes municipais, agentes económicos e académicos internacionais que trabalham juntos na procura das melhores soluções. O conceito de desenvolvimento humano mais amplo é transversal a todas as ações de pesquisa do nosso projeto de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. S.O.S. Climate Waterfront vai além da dimensão económica, passando a refletir sobre características culturais, políticas, ambientais e sociais que influenciam a qualidade de vida humana no contexto da transformação climática.
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Arquitetura
F i g . 2 - M e n ç ã o H o n r o s a n o c o n c u r s o i n t e r n a c i o n a l d a C e n t r a l E l é t r i c a E c o l ó g i c a e m Ta i w a n , 2 0 1 8 , R e s s ano Garcia Arquitectos
A valorização de bens comuns, tal como a qualidade do ar, começa a estar na agenda da comunidade. Registamos melhorias ao nível do ambiente construído, dos materiais, do comportamento térmico dos edifícios e da mobilidade urbana sempre que adoptam uma filosofia actual de redução da pegada ecológica e diminuição do consumo energético. As manifestações de jovens europeus (Fridays for future) têm tido um crescente impacto. Na minha opinião, é surpreendente ainda não ter havido uma manifestação específica contra a implementação do aeroporto no Montijo, com massivas emissões de CO2 sobre um estuário que voltou a ter golfinhos e algas integrados num sistema ecológico que regenera o ar que respirado na Área Metropolitana de Lisboa. A continuada usurpação dos recursos naturais e a tomada de decisões que negligenciam as futuras gerações assumem expressões diferenciadas sem valorizar os bens comuns da comunidade. Actualmente, temos tecnologia para proceder a grandes transformações no território ribeirinho, construir
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em altura e subterrâneos, reconduzir águas, controlar o nível freático, as tempestades e as marés extremas. Porém, os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e o aumento exponencial do ritmo de catástrofes demonstram que as previsões de cenários futuras são tímidas. Alguns projectos colocam as comunidades numa situação precária. O ambiente edificado é danificado, e não resiste porque não está adaptado. Tem pouca resiliência. Partilhamos ainda que, no nosso projeto de investigação, estamos a recolher dados relacionados com registos históricos e geográficos de frentes ribeirinhas específicas que são utilizados para construir padrões de desenvolvimento, alimentar algoritmos e integrar o suporte de inteligência artificial para projetar possíveis cenários futuros. As soluções para as mudanças climáticas só podem ter sucesso em garantir uma cidade resiliente se também envolverem os cidadãos interessados nos desafios e soluções das mudanças climáticas e promovendo possíveis mudanças nos estilos de vida. No atelier, procuramos dar resposta à construção sustentável / economia circular desenhando projetos de pegada leve. A leveza influencia a escolha dos materiais, a geometria e a orientação solar dos projetos. Nos nossos edifícios optamos por utilizar estratégias passivas e de baixo consumo para alcançar conforto térmico. É inaceitável as emissões de CO2 que alguns edifícios produzem ao depender exclusivamente de meios mecânicos para controlar a temperatura ambiente. No século XX o gosto dominante valorizou grandes envidraçados, muita luz e espaços rasgados pela transparência com o exterior. No século XXI emergem soluções inteligentes de baixo consumo energético, equilíbrio térmico passivo e materiais ecológicos. As coberturas verdes, terraços ajardinados, fachadas verdes e o revestimento integral de edifícios com isolamento térmico são algumas soluções que deverão ser integradas nos futuros planos municipais e que neste momento enfrentam um bloqueio por parte das instituições responsáveis regidas por legislação desatualizada. A contemporaneidade assiste a uma nova estética, uma nova sensibilidade para a arquitectura, onde surgem estruturas não lineares, geradoras de sensações de equilíbrio precário, complexo, aleatório, valorizando geometrias sobrepostas e ambientes de mutação flexível como no projecto para a Central Eléctrica Ecológica, de Ressano Garcia Arquitectos que recebeu a Menção Honrosa no Concurso Internacional em Taiwan.
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Investigação
CIRCULARIDADE DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – AS COBERTURAS VERDES
por Joan a Car val h o , (PhD) – Coordenadora do Departamento de IDT do CVR – Centro para a Valorização de Resíduos
Joana Carvalho
-
Coordenadora do Departamento de IDT do CVR
As práticas de construção sustentável estão em constante evolução, de forma a poderem abranger abordagens e prioridades variadas. Definições comummente disseminadas, referem a construção sustentável como a prática de criar estruturas e utilizar processos ambientalmente responsáveis e eficientes em termos de recursos, ao longo do ciclo de vida de um edifício, visando reduzir os impactos negativos para a saúde e meio ambiente causados, quer pelo processo construtivo ou pelas edificações, quer pelo ambiente edificado. A sustentabilidade no âmbito da construção inclui conceitos-chave como a escolha de materiais não tóxicos, a redução e reutilização de recursos, e mais
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recentemente, a minimização de resíduos e sua possível reutilização e incorporação em novos materiais. Seguindo os pressupostos da sua missão e visão, de ser a interface dedicada ao desenvolvimento e implementação de opções inovadoras e ambientalmente corretas de gestão integrada de resíduos, escoradas nos princípios de economia circular, o CVR participa no consórcio EGR – EcoGreenRoof, cujo objetivo é o desenvolvimento de substratos ecológicos, através da seleção e utilização de resíduos industriais de base orgânica e inorgânica, para aplicação em coberturas verdes. Trata-se de um projeto cofinanciado pela União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, enquadrado no Programa Operacional da Competitividade e Internacionalização do Portugal 2020. Uma cobertura verde também conhecida como cobertura viva, com vegetação ou ecológica é um telhado de edifício parcial ou totalmente coberto com vegetação plantada num meio de cultivo (substrato) sobre uma membrana à prova de água. O conceito foi projetado e desenvolvido para promover o crescimento de várias formas de plantas no topo de edifícios e, assim, promover benefícios estéticos, ambientais e económicos. No século XIX, os engenheiros escandinavos começaram a usar casca de bétula e grama nos telhados para garantir o isolamento térmico em climas húmidos e frios. As atuais coberturas verdes ainda podem ser
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construídas de acordo com o conceito da técnica ancestral, mas os avanços tecnológicos tornam-nas muito mais eficientes, práticas e benéficas do que as suas homólogas ancestrais. A crescente preocupação com o meio ambiente que começou na década de 1970, especialmente nas áreas urbanas da Alemanha, introduziu oportunidades para o pensamento, política e tecnologias ambientais progressistas que levaram à adoção pela Alemanha, em 1982, das primeiras regras profissionais de coberturas verdes. A necessidade de uma maior diversidade funcional conduziu à definição de diferentes tipologias de coberturas verdes, classificadas como intensivas, semiextensivas e extensivas, tendo em conta critérios como profundidade, tipo de substrato para a camada de crescimento (e, portanto, carga adicional), tipo de plantas e requisitos para a sua manutenção. De forma breve, as coberturas verdes intensivas são semelhantes aos antigos jardins de cobertura, onde as plantas são mantidas de forma individual, como se estivessem instaladas num jardim na base do edifício. A profundidade do perfil de solo é de, pelo menos, 15 cm, utilizando-se, atualmente substratos mais leves, de modo a minimizar a carga sobre a estrutura do edifício. São coberturas preparadas para ter acesso, mas, usualmente executadas como paisagem para serem observadas do interior do edifício. As coberturas ajardinadas extensivas não são executadas para uso humano regular, e muitas vezes nem sequer estão visíveis. As plantas são tratadas em massa, sendo as operações de manutenção executadas por toda a área. Em qualquer caso, este tipo de cobertura é usado para reduzir a manutenção ao mínimo. A profundidade do
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perfil de solo varia entre 2 e 15 cm reduzindo de forma considerável o acréscimo de carga que este tipo de cobertura implica no edifício. Finalmente, no conceito de coberturas verdes semiextensivas, respeita-se o princípio de menor input ecológico, são utilizados perfis de substrato leves entre 10 a 20 cm que permitem uma vasta escolha de espécies e demonstra-se que as coberturas extensivas podem ser visitáveis e utilizáveis, desde que projetadas para tal. As coberturas verdes multicamadas comuns incluem cinco camadas: uma membrana impermeável e resistente às raízes, uma camada de drenagem, uma filtrante, um substrato de crescimento (médio) e vegetação no topo. Estudos prévios relataram que as propriedades dos substratos das coberturas verdes têm uma grande influência na capacidade de retenção de água, bem como na sua purificação. Os substratos das coberturas verdes devem ser leves para atender às restrições de peso das estruturas dos edifícios, fornecer boa drenagem para canalizar o excesso de água do telhado, ter baixo conteúdo orgânico para evitar a decomposição e colapso da camada de crescimento e devem ser capazes de garantir um crescimento eficiente das plantas. Normalmente, os substratos das coberturas verdes compreendem uma única camada composta por uma mistura de matéria orgânica (por exemplo, húmus amadurecido e estabilizado, turfa, entre outros) e matéria inorgânica (por exemplo, perlite, tijolos triturados, rochas vulcânicas e argila expandida). Geralmente, o substrato tem que desempenhar o papel de solo para o crescimento das plantas fornecendo humidade, nutrientes e suporte físico. Apesar de várias pesquisas terem sido conduzidas sobre novos materiais de substrato, as suas propriedades biológicas e influência no crescimento da vegetação, os efeitos dos componentes individuais do substrato (por exemplo, o seu conteúdo mineral, tipo de matéria orgânica, de aditivos artificiais, ou proporções de mistura) sobre o crescimento e desempenho fisiológico da vegetação são pouco conhecidos. Os componentes orgânicos e inorgânicos dos substratos podem ser substituídos por materiais reciclados, por exemplo, composto, lamas de ETAR, resíduos de tijolos e telhas, resíduos de papel, material calcário e também resíduos industriais como areias de fundição, escórias, refratários de fundição e lamas. No entanto, estudos anteriores focaram nos efeitos no crescimento das plantas, mas não na qualidade da
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água drenada. Os substratos mostraram influenciar a qualidade da água que os atravessa e, portanto, a utilização de materiais reciclados deve considerar não apenas os seus efeitos nas plantas, mas também na qualidade do lixiviado. Assim, idealmente, é expectável que um substrato beneficie o crescimento da planta e, simultaneamente, produza poucos contaminantes. O objetivo do projeto EGR foi produzir substratos para coberturas verdes, utilizando resíduos industriais em substituição de componentes orgânicos e inorgânicos e avaliar os seus efeitos no crescimento das plantas e na qualidade do lixiviado. Simultaneamente, foi observada a biocenose eucariótica da rizosfera, tendo sido identificados e quantificados os organismos eucarióticos nos substratos, bem como avaliada a sua relação com o crescimento das plantas e a qualidade da água. Os substratos utilizados foram produzidos com quantidades definidas de resíduos industriais, em substituição dos componentes normalmente utilizados, como rocha vulcânica ou argila expandida e turfa. Os resíduos industriais foram identificados e posteriormente selecionados em diversos tipos de indústrias, como o setor cerâmico e as fundições. Os substratos orgânicos habituais foram substituídos por um composto proveniente de resíduos sólidos urbanos. O sistema desenvolvido assenta num processo de transformação e valorização dos resíduos de diferentes setores económicos e sua reutilização como recursos de forma transversal, resultando na obtenção
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de produtos de valor acrescentado e eco-eficientes. A utilização destas matérias-primas alternativas permitirá reduzir substancialmente o custo dos substratos, o que conduzirá à diminuição do custo final das coberturas verdes. As melhorias ambientais, associadas à diminuição dos custos de produção e instalação, poderão tornar a utilização de coberturas verdes num processo generalizado, no contexto das infraestruturas verdes das cidades, promovendo uma melhor qualidade ambiental dos espaços urbanos. Até ao momento, embora preliminares, os resultados são promissores, abrindo caminho para uma nova via na construção sustentável em alinhamento com os conceitos de economia circular e os princípios de hierarquia de gestão de resíduos.
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Associativismo
FALECEU MANUEL DOMINGUES ANTUNES CEPAS, DA ANTIGA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CERÂMICA
Com 92 anos, faleceu no dia 9 de Maio de 2021 o Senhor Manuel Domingues Antunes Cepas, que foi residente em Mem Martins. Sendo natural de Castanheira de Pera, exerceu a sua atividade profissional em Lisboa, dedicada ao setor cerâmico, inicialmente no antigo Grémio da Indústria de Cerâmica.
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Após a extinção daquele organismo, esteve na Direção Geral das Atividades Económicas até a ser chamado, em 1977, para assumir o cargo de Secretário-geral da extinta APC - Associação Portuguesa de Cerâmica (Barro Branco). Durante quase 20 anos cumpriu com competência, dignidade e elevado sentido de responsabilidade as funções que lhe foram confiadas pela Associação Portuguesa de Cerâmica (APC), até à passagem para a situação de reforma em Novembro de 1993. Ainda assim, já pensionista, voltaria a colaborar com a APC até à constituição da APICER como única associação representativa da indústria de cerâmica em Portugal, que foi acompanhada pela extinção sucessiva das três associações do setor então existentes: ANIBAVE, APICC e APC. O Senhor Manuel Cepas prestigiou a cerâmica portuguesa com a capacidade de trabalho e experiência profissional que sempre colocou ao serviço das empresas associadas, ajudando-as a superar dificuldades, tendo igualmente contribuído para a dinâmica do associativismo e para o fortalecimento da cooperação interempresarial e intersetorial. A forma exemplar como desempenhou o seu trabalho, aliada à sua enorme simpatia e à sua afabilidade, tornaram-no merecedor de grande admiração e respeito por parte de todos com quem se relacionou, designadamente os industriais do setor e as entidades públicas e privadas. Os empresários que lidaram com ele, os colegas com quem partilhou objetivos e os seus amigos irão recordá-lo para sempre, com saudade.
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Arquitetura
CLINICA MAIDA SMILES – A BELEZA DO TRABALHO COM AS MÃOS NUM MUNDO DIGITAL
por Pe dra Si lva Ar q u i t e ct o s
créditos Loop Audiovisual
Localizada no noroeste de Londres, no bairro city of Westminster, a clínica Maida Smiles Dental Clinic oferece aos seus clientes serviços de cosmética dentária e estética facial de classe mundial. A importância da sua localização, por se encontrar numa zona comercial dinâmica e atrativa, e as características próprias dos serviços a prestar, exigiram uma abordagem ao projeto que originou uma forte imagem corporativa e um conceito arquitetónico único e memorável. O projeto necessitava assim de ser visualmente atrativo e ao mesmo tempo ser “a cara” de uma clínica de personalidade progressista, em linha com os serviços de cosmética inovadores que se desenvolvem no seu interior. A criação de um ambiente sofisticado, como um espelho da envolvente urbana caracterizada por edifícios do estilo Regency, e que é apelidado de “Pequena Veneza”, era um requisito quase obrigatório para a equipa de projeto da Pedra Silva Arquitetos. O espaço da clínica foi elaborado a partir da pré-existência de uma loja de rua, sendo o espaço reestruturado com uma nova organização clara e objetiva, na qual todos os es-
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paços são canalizados a partir da receção, a qual ocupa na totalidade a fachada principal. Um único corredor conecta todos espaços de apoio – incluindo as áreas restritas a colaboradores e zona de esterilização, além de instalações sanitárias, instalações técnicas e de armazenamento e sala de raio-x. As três salas de cirurgia encontram-se localizadas ao longo da fachada traseira, proporcionando a estes espaços clínicos uma maximização da luz natural. A inspiração principal para o conceito da clínica surgiu da interpretação dos implantes dentários, os quais são comumente utilizados em odontologia restauradora. Esta ideia origina a produção de mais de 500 discos de cerâmica artesanais cobrindo as paredes como um conjunto tipo favo-de-abelha, e que caracteriza o espaço proporcionando aos visitantes um ambiente clínico único, elegante e contemporâneo. Esta parede de cerâmica envolvente trouxe desafios à equipa, foi necessário a realização de diversos protótipos experimentando e testando diferentes tipos de formas para criar o efeito de agrupamento em favo de mel, tendo sido testada a peça com o formato hexagonal. Por outro lado, foi também necessário ter em consideração os aspetos práticos, tais como anexar os componentes cerâmicos individualmente. Optou-se pela forma circular por ser mais atraente esteticamente, mas também do ponto de vista estrutural. Anatomicamente, tal como um implante dentário real, as dimensões circulares facilitam o aparafusamento numa superfície – uma consideração importante para a
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Arquitetura
instalação de múltiplas peças, uma solução que equilibra o design criativo, custo e eficiência. Cada disco cerâmico foi trabalhado individualmente, passando por um processo de fabrico manual e complexo que permitiu obter um efeito de reflexos na superfície de cada peça. Embora, o material seja fácil de moldar, exigiu algum tempo de experimentação, criatividade e atenção ao detalhe até se conseguir chegar ao resultado pretendido. Este processo implicou o desenvolvimento de inúmeros protótipos, todos eles feitos á mão por talentosos artesãos portugueses. A Clínica Dentária Maida Smiles ilustra a paixão de Pedra Silva Arquitectos pelas práticas artesanais. Caracterizada pelo seu espírito colaborativo com relacionamentos de trabalho abertos, honestos e transparentes com os clientes. A equipa trabalha o processo criativo de modo a impulsionar a inovação e desenvolver conceitos de design intemporais. Embora a arquitetura seja uma solução a um conjunto de problemas, a equipa PSA garante que cada projeto que desenvolve recebe uma marca de assinatura exclusiva construída em torno da integridade artística que cada espaço permite. Do ponto de vista da sustentabilidade, um dos aspetos mais relevantes deste projeto passa pela preservação e apoio às competências do artesão, nomeadamente o artesanato em cerâmico feito à mão. A PSA dá grande importância à preservação da tradição humana e cultural, incluindo profissões que frequentemente têm conexões profundas com pessoas e lugares. A cerâmica é um dos materiais mais antigos usados na sociedade, desde as primeiras civilizações. Como material, é extremamente versátil, não só fornecendo proteção robusta, mas também maleável para muitos usos, ajudando a criar um design duradouro e sustentável. A PSA é altamente motivada pela perspetiva de reinterpretar as práticas tradicionais e adaptá-las à era moderna, garantindo conceitos de de arquitetura originais, personalizados e autênticos em cada projeto.
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O grande objetivo para a receção desta clínica foi estabelecer uma comunicação franca com a rua e com o espaço público. O desenho da parede cerâmica com cantos curvos e de caráter “envolvente” permite estabelecer essa relação e continuidade com o espaço urbano e a comunidade. A passagem entre o espaço de receção e a zona clínica é feito através de uma porta geometricamente customizada, de modo a que permaneça oculta aquando fechada, permitindo assim uma leitura da parede sem interrupções. O balcão da receção é revestido a microcimento, tal como o pavimento, o tecto e as paredes por detrás dos elementos cerâmicos, criando assim uma continuidade e ligação entre todas as superfícies. O objectivo foi limitar o uso de materiais de modo a destacar os elementos cerâmicos. A escolha de mobiliário seguiu a mesma linha de pensamento, onde se procurou as geometrias simples, depuradas e elegantes. O corredor adjacente apresenta o mesmo material da receção, o microcimento, tornando a transição entre zonas menos dissonante à medida que os clientes viajam pela clínica. O projeto foi desenvolvido em estreita colaboração com consultores e fornecedores, garantindo desse modo a compatibilidade com todos os equipamentos e práticas de trabalho do cliente. Do ponto de vista estético, foram aplicados materiais claros, de fácil limpeza e alta resistência na área de tratamento clinico. O resultado é um design minimalista e de fluxo livre, e que maximiza o uso do espaço. A parede de cerâmica feita à medida e os móveis de design icónicos trabalham em conjunto para criar uma dinâmica interessante que influencia superfícies, luz e reflexão. Neste projeto a equipa multidisciplinar de Pedra Silva Arquitectos teve uma intervenção abrangente, a qual envolveu igualmente a criação da marca da clínica, o que incluiu o desenvolvimento da sua identidade gráfica de modo a garantir que esta promovesse o caráter e o espírito da clínica, e que fosse também um complemento à arquitetura. O projeto Maida Smiles recentemente premiado na categoria de Public Buildinding Interior nos Surface Design Awards marca um dos mais recentes projetos de uma série de projetos de clínicas odontológicas e saúde concluídos pela Pedra Silva Arquitectos na Europa, África e Austrália. Arquitetura: Pedra Silva Arquitectos Cliente: Dr.Pedro Gutierres Local: Londres, Reino Unido Área de construção: 92 m2 Fotografia e Vídeo: LoopAudiovisual
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Notícias & Informações
NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS
p o r Al be r t i n a S e q u e i r a , Diretora-Geral da Apicer
Aleluia
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Oslo Vanilla Engrave
ALELUIA Aleluia Cerâmicas revela novas coleções para 2021 Englobado no mote “New Ideas for your 2021” (Novas ideias para o teu 2021), a Aleluia Cerâmicas revelou mais 5 coleções para o mercado do pavimento e revestimento cerâmico. Seguindo as principais tendências e estilos decorativos, estas novidades são marcadas pela inspiração nos materiais naturais e pelo elevado nível de realismo da gráfica que permitem a criação de espaços cada vez mais autênticos. A pintura manual marca também presença nestas novidades, exprimindo toda a mestria dos nossos artistas em duas coleções que irão conferir aos espaços um aspeto personalizado e requintado. OSLO | Espaços acolhedores com um toque escandinavo Inspirada na sóbria elegância do estilo escandinavo, Oslo é uma madeira de visual mais limpo e harmonioso que apela a espaços serenos e relaxantes. Igualmente dotado de um elevado realismo, possui também um relevo superficial que replica todos os veios e grãos da madeira de uma forma perfeitamente sincronizada com o seu desenho. Com 3 tons suaves e envolventes - Vanilla, Almond e Ash – está disponível com acabamento natural ou antiderrapante e dispõe igualmente do complemento de degrau espessurado e Mosaic Rubic.
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Aleluia
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Muse White
MUSE | O espírito minimalista dos mármores mais puros e sofisticados Inspirado no espírito minimalista dos mármores mais puros e sofisticados, a coleção Muse é ideal para a criação de espaços distintos com um toque de sofisticação. Com uma textura muito suave e acetinada, relembra o
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desgaste natural da superfície provocado pelo tempo, o que lhe confere um toque muito agradável. Através da tecnologia Real Surface Texture, apresenta um ligeiro contraste nos veios, aliado a um relevo sincronizado com o desenho, o que oferece uma sensação de elevado realismo ideal para os gostos mais requintados. Com 4 cores distintas – White, Ivory, Grey e Coal, está disponível nas opções revestimento e porcelanato com 2 acabamentos: acetinado e natural.
Como complemento, dispõe de uma ampla gama de decorações para criação de áreas de destaque, assim como a opção de régua, perfil e degrau espessurado. X-TREME | Elevada polivalência e durabilidade Com uma inspiração na matéria do microcimento, X-Treme possui uma estética altamente polivalente de linhas suaves e discretas. Realizado com um corpo toda a massa, em porcelanato extrudido não vidrado, possui características técnicas de elevada durabilidade e resistência, sendo adequado para áreas de alto tráfego como espaços públicos ou comerciais onde os requisitos técnicos são os mais exigentes. A coleção X-Treme está disponível em 3 cores – Ivory, Grey e Carbon – com acabamento natural SERENA | Espaços serenos e elegantes A coleção Serena recria a subtileza orgânica da pedra e adota tons suaves, de forma a permitir a criação de espaços intemporais e elegantes. Disponível em 2 cores – Beige e Grey – apresenta um único formato de 30x90 de acabamento mate e complementos Prisma e Mosaic Herring para zonas de destaque.
Aleluia
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Aleluia
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Serena Prisma Grey
Signature Turquoise + White
Aleluia
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X-Tr e m e G r e y
SIGNATURE | Espaços modernos e singulares A modernidade do azulejo artesanal num estilo que marca pela sua singularidade. Composto por um conjunto de 20 peças de arte cuidadosamente pintadas à mão que se articulam com as respetivas peças base lisas, a coleção Signature permite a criação de espaços personalizados, atrevidos e distintos.
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Aleluia
BACKSTAGE | O fascínio do microcimento envelhecido em ambientes elegantes e sofisticados Backstage explora o mundo de inspiração industrial do microcimento envelhecido e riscado com o passar do tempo, captando toda a emoção de experiências e talentos de uma vida inteira. Com um acabamento superficial com leve contraste entre tons mate e acetinados, permite reinterpretar os efeitos de desgaste natural e apresentar um nível elevado de realismo. Com 3 cores base – White, Grey, Dark Grey – complementadas por 2 tons contemporâneos – Green e Blue – e acabamento natural e antiderrante, é a solução ideal para espaços públicos ou residenciais de elevada modernidade.
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Aleluia
As formas geométricas sucedem-se e intercalam-se, formando contrastes e padrões que configuram um jogo criativo único, rico na sua textura e nos tons gerados. A nova coleção Noble invoca os mais ecléticos e contemporâneos tipos de madeira de carvalho para a criação de espaços envolventes e acolhedores, cheios de conforto e naturalidade. Através da tecnologia Real Surface Texture, apresenta uma superfície que replica no relevo todos os nós, veios e detalhes visuais, conseguindo alcançar um nível de realismo impar muito difícil de distinguir da madeira verdadeira. Está disponível numa palete de 4 cores inspiradas em tons naturais – Raffia, Camel, Brume e Tortora – e apresenta duas opções de acabamento: natural e antiderrapente. Como complemento, dispõe de uma decoração Mosaic Rubic e de um degrau espessurado para um aspeto uniforme em escadas.
Raw Carbon
Aleluia
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Noble Raffia
Backstage Grey
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RAW | A genuinidade matéria RAW regressa às raízes e oferece a matéria cerâmica no seu estado mais puro, trabalhada por um processo de recriação artesanal. Rico em suaves texturas e padrões, segue uma linguagem despojada de formalidades que permite a criação de espaços genuínos que se inserem numa estética orgânica, distinta e moderna. Produzido em porcelanato extrudido toda a massa, está disponível num único formato de 15x23 e em 4 tons: White, Grey, Blue e Carbon. BLACK CODE | A união do design e da arte na criação de espaços com estilo A junção do preto e branco em padrões criativos que permitem a criação de espaços distintos. A coleção Black Code é produto único feito pela mão dos nossos artistas e pintores especializados, disponível numa gama
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Aleluia
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Costa Nova
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Black Code Patchwork
Brisa-Lifestyle 1
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Costa Nova
COSTA NOVA Campanha Verão 2021 -The Beauty of Life Reencontre a beleza da vida. Pare um momento para apreciar o que significa estar vivo. Aproveite cada momento de sol, da vida lá fora e encontre formas de trazer a diversão até si. Aceitar e abraçar todos os momentos do nosso dia a dia é a chave para encontrar a beleza extraordinária em cada dia. Esta é a estação pela qual tanto aguardamos. Respire e aproveite toda a sua beleza. Nesta estação, a COSTA NOVA destaca a sua coleção BRISA, um verdadeiro hino ao Verão e ao mar. A brisa quente que sopra de leste e que invade a costa algarvia de aromas frutados e os sabores frescos da Ria Formosa inspiraram a criação desta coleção. Os vidrados de tons mesclados brancos e azuis e as suas formas orgânicas transportam-nos para a paisagem intrincada das lagoas, canais, salinas e areais que se estendem por ilhas desertas, santuários idílicos de flora e fauna selvagem num lugar único no mundo. Uma coleção que respira leveza e que transforma qualquer mesa num acontecimento especial. Disponível em www.costanova.com e nas lojas físicas COSTA NOVA em Aveiro (Mercado Manuel Firmino) e Lisboa (Rua Castilho).
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que compreende 5 diferentes padrões de utilização singular ou conjugados entre si, permitindo a criação de infinitas possibilidades de decoração com forte personalidade e carácter.
GRESCO Gresco apresenta novas coleções cerâmicas A Gresco apresenta quatro novas coleções que aliam a estética e funcionalidade, respondendo às exigências técnicas dos espaços públicos ou residenciais. A coleção Freestone é uma pedra serena. Um arenito que possibilita uma leitura contínua do espaço através da uniformização do pavimento desde o interior ao exterior (características antiderrapantes). É uma série completa dado que possui também revestimento que permite uma ligação harmoniosa entre a parede e o chão. A coleção Freestone desmultiplica-se em diversos formatos, numa equilibrada paleta de cores e acabamentos e com diversas peças decoradas que dão vitalidade e elegância aos seus espaços. Vital é um granito para exterior com caraterísticas de anti escorregamento. Nesta coleção somos transportados para atmosferas exteriores, rurais
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Gresco
Gresco
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Play Park Black
Freestone Beige
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Gresco
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Play Home Blue
Gresco
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Lamela Multicolor
Lamela é um pavimento porcelânico que recria a essência da pedra (ardósia), disponível em 30x60 e 33x33 (black e multicolor), utilizado em revestimento/ pavimento, interior e exterior, em áreas públicas ou residenciais. Play é um pavimento porcelânico, disponível no formato 33x33, em 3 padrões e 3 cores. As cores e geometrias desta coleção levam-nos até ao início do século passado, ao auge dos pavimentos e revestimentos hidráulicos. Esta coleção combina diferentes esquemas geométricos, linguagens estéticas, memórias e modernidade.
ou urbanas, vinculadas à intemporalidade do granito. Garantia de elevadas prestações técnicas, é ideal para espaços exteriores (terraços, varandas, piscinas, etc.), pavimento ou revestimento e está disponível em 3 cores (2 cinzas e castanho), possibilitando desenvolver com total liberdade espaços belos e inalteráveis no tempo.
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REVIGRÉS NOVAS COLEÇÕES KIREI-SABI - Elegância Minimalista 10 novas coleções de revestimentos e pavimentos cerâmicos. Novo acabamento SOFT GRIP: superfícies suaves com características antiderrapantes. Em 2020 tudo mudou e a busca por novas formas de equilíbrio tornou-se imperativa. O conceito de bem-estar alterou-se e a casa tornou-se o centro de tudo. Um lugar seguro, onde a imperfeição se transformou em conforto, e a beleza passou a estar na elegância contida, sustentável, significativa e intemporal. O conceito Kirei-Sabi associado às novas coleções Revigrés reflete a essência da aceitação da imperfeição, à qual se acrescenta elegância e delicadeza. A elegância dos revestimentos cerâmicos, Kirei, aliada à beleza da imperfeição de um cimento em grés porcelânico, Sabi. Coleções Kirei Kirei transmite serenidade, através de soluções simples, elegantes e sóbrias. Oito novas coleções de revestimentos nos formatos 40x120cm (Chic, Ethos, Unite
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e Neutral), 30x90cm (Elegance e Bold), 30x60cm (Shape) e 20x60cm (Soft) cuja variedade de texturas e formatos, em tonalidades neutras e matéricas – assim como cores mais vivas – permitem projetar ambientes harmoniosos, em espaços interiores.
Revigrés Revigrés
Revigrés
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Neutral
Rule_Locus
Revigrés
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Chic
Quilt
Coleções Sabi Sabi desdobra-se em duas coleções de revestimentos e pavimentos em grés porcelânico cujo efeito do cimento invoca uma estética industrial moderna. A coleção Rule, com traços aleatórios e naturais, encontra-se disponível em 6 formatos, incluindo o novo formato 60x180cm. A coleção Locus apresenta-se nos formatos quadrados 60x60 e 90x90cm, com um desenho elegante e intemporal. Destaque ainda para as peças Quilt, com o efeito hidráulico, no formato 30x30cm.
Rule e Locus estão disponíveis no acabamento Soft Grip, um acabamento superficial inovador, suave ao toque, mas com propriedades antiderrapantes que resulta em produtos de fácil limpeza e manutenção para múltiplas aplicações: revestimento, pavimento ou fachada, em espaços públicos ou residenciais, numa continuidade perfeita entre interiores e exteriores. A naturalidade das cores, relevos e múltiplos formatos das novas coleções Kirei-Sabi coexistem em harmonia, conjugando-se entre si ou com o efeito de outras coleções da Revigrés, como a madeira, para desenhar projetos com diferentes personalidades: simples ou mais sofisticados, urbanos ou rústicos, mais jovens ou familiares. Mais informação em https://revigres.pt/p/kirei-sabi
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Calendário de eventos
COVERINGS’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Orlando (USA) De 7 a 9 de Julho de 2021 coverings.com/
HOSTMILANO’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Milão (Itália) De 22 a 26 de Outubro de 2021 host.fieramilano.it/en
ISH’2023 (Cerâmica de Louça Sanitária) Bienal - Frankfurt (Alemanha) De 13 a 17 de Março de 2022 https://ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html
INTERNATIONAL BATHROOM EXHIBITION’2021 (Louça Sanitária) Anual – Milão (Itália) De 9 a 10 de Setembro de 2021 https://www.salonemilano.it/en
UNICERA’2021 (Cerâmica para Construção) Anual – Istambul (Turquia) De 02 a 06 de Novembro de 2021 unicera.com.tr
MOSBUILD 2022 (Materiais de Construção Anual – Moscovo (Rússia) De 29 de Março a 01 de Abril de 2022 mosbuild.com
MAISON & OBJET’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual - Paris (França) De 9 a 13 de Setembro de 2021 maison-objet.com
BATIMATEC’2021 (Materiais de Construção) Anual – Argel (Argélia) De 7 a 11 de Novembro de 2021 batimatecexpo.com/
THE HOTEL SHOW’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Dubai (EAU) De 24 a 26 de Maio de 2022 thehotelshow.com/
BIG 5 SHOW´2021 (Materiais de Construção) Anual – Dubai (EAU) De 12 a 15 de Setembro de 2021 www.thebig5.ae/
LONDON BUID ‘2021 (Materiais de Construção) Anual – Londres (UK) De 17 a 18 de Novembro de 2021 www.londonbuildexpo.com
CERAMITEC’2022 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Munique (Alemanha) De 21 a 24 de Junho de 2022 ceramitec.com
100% DESIGN’2021 (Design/Tendências) Anual – Londres (R.U.) De 22 a 25 de Setembro de 2021 100percentdesign.co.uk/
EQUIPOTEL’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – São Paulo (Brasil) De 22 a 25 de Novembro de 2021 equipotel.com.br/
INTERIOR LIFESTYLE CHINA’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Shangai (China) Setembro de 2022 interior-lifestyle-china.hk.messefrankfurt.com
CERSAIE’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Bolonha (Itália) De 27 de Setembro a 1 de Outubro de 2021 cersaie.it
MAISON & OBJET’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual - Paris (França) De 21 a 25 Janeiro de 2022 maison-objet.com
TECNARGILLA’2022 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Rimini (Itália) Setembro de 2022 https://en.tecnargilla.it/
NEOCON’ 2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa/Ladrilhos) Anual – Chicago (USA) De 4 a 6 de Outubro de 2021 neocon.com/
SURFACE DESIGN SHOW’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Londres (R.U.) De 8 a 10 de Fevereiro de 2022 surfacedesignshow.com/
BATIMAT’2022 (Materiais de Construção) Bienal - Paris (França) De 03 a 06 de Outubro de 2022 batimat.com
The New York Tabletop Show´2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – New York (EUA) De 05 a 08 de Outubro de 2021 https://41madison.com/
CEVISAMA’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Valencia (Espanha) De 7 a 11 de Fevereiro de 2022 cevisama.feriavalencia.com
IDEOBAIN’2022 (Louças Sanitárias) Bienal - Paris (França) De 03 a 06 de Outubro de 2022 ideobain.com
IFFT/Interior Lifestyle Living’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Tokyo (Japão) De 18 a 20 de Outubro de 2021 https://ifft-interiorlifestyle-living.jp.messefrankfurt. com/tokyo/en.html
AMBIENTE’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) De 11 a 15 de Fevereiro de 2022 ambiente.messefrankfurt.com
EQUIPHOTEL’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bienal - Paris (França) De 06 a 10 de Novembro de 2022 equiphotel.com
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Maio . Junho . 2021
Parceiro de Confiança no seu Negócio CREDIBILIDADE - IMPARCIALIDADE - RIGOR reconhecidos na certificação de produtos e serviços e de sistemas de gestão Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo Presente em 20 países
Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão
R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – Fax 351.212 586 959 – E-mail: mail@certif.pt – www.certif.pt