KÉRAMICA revista da indústria cerâmica portuguesa
RECURSOS ESTRATÉGICOS
Publicação Bimestral €8.00
nº371
Edição Julho/Agosto . 2021
E N E R G I A • M AT É R I A S-P R I M A S • R E C U R S O S H U M A N O S
cevisama@feriavalencia.com
www.cevisama.com
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València – Spain
Index
Editorial . 03
Energia . 22 22 A Nova Economia do Hidrogénio Verde – Enquadramento e Algumas Notas Relativas ao Setor da Cerâmica 25 O Preço da Energia e os Mercados a Prazo
Destaque . 04
Prémio . 28
A Economia Circular e a Emergência Climática
Entrevista à Vencedora da Última Edição do Prémio Faria Frasco, Engª Inês Rodrigues
Matérias-Primas . 07
Secção Jurídica . 30
Decreto-Lei Nº 30/2021 – A Nova Regulamentação das Atividades de Revelação e Aproveitamento de Depósitos Minerais
Procura-se: Consórcios de Inovação Empresarial
Recursos Humanos . 09
Economia . 32
09 Gestão Estratégica de Recursos Humanos: Uma Vantagem Competitiva 13 A OIT e Agenda 2030: Transição para Economias Verdes
Exportações Portuguesas de Produtos Cerâmicos no 1.º Semestre de 2021
Notícias & Informações . 34
Competências e Qualificação . 16 "O Futuro do Trabalho": Que Trabalho para que Futuro?
34 Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas 38 Certif Recupera 9% e Espera Atingir Valores de 2019 até Final do Ano
Reinserção Social . 19
Calendário de Eventos . 40
A Cerâmica ao Serviço do Impacto Social
Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023 Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício C 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt Tiragem 500 exemplares Diretor Marco Mussini Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Marco Mussini, Martim Chichorro e Susana Rodrigues Capa Nuno Ruano
Colaboradores Albertina Sequeira, António Oliveira, António Saraiva, Cristina Lourenço, Duarte Fonseca, Filipe de Vasconcelos Fernandes, Filomena Girão, Inês dos Santos Costa, Maria Inês Basto, Mafalda Troncho, Nelson Lage e Tomás Gaivão Paginação Nuno Ruano Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números) ; Portugal €32,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00 Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da revista Técnica n.º 10 Julho / Agosto 2021 (CTCV)
Índice de Anunciantes Cluster Habitat Sustentável (Verso Capa) • CERTIF (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Contra-Capa) Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem Publicação Bimestral nº 371 . Ano XLVI . Julho . Agosto. 2021
Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php
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Editorial
A preocupação com os recursos estratégicos tem dominado o Mundo e a sua História ao longo dos milénios, seja qual for a natureza desses recursos e dessas preocupações, sendo certo que por serem classificados de estratégicos assumem uma dimensão especial e um significado próprio, que justificarão o seu trato com muita prudência e normalmente com grande reserva. Justifica-se a prudência por se tratar de recursos, e justifica-se a reserva pelo facto de serem estratégicos. A propósito deste tema, muitos falarão sobre as pessoas, outros falarão sobre a água, outros ainda falarão sobre os recursos geológicos, enfim, uma variedade grande de abordagens, sendo certo que não se tratará propriamente de uma questão de importância ou prioridade entre elas, antes sim o conhecimento científico que cada um detém, para em função disso se debruçar sobre a sua especialidade. Não é esse o meu caso pessoal, ainda que tenha a convicção de que, para além de todos os recursos estratégicos mais ou menos identificados, há um que é fundamental, singular e renovável, sendo tanto mais valioso quanto maior for o consumo que dele se fizer. Refiro-me à VISÃO dos Empresários e à sua capacidade de gestão, para a qual intervêm três ingredientes essenciais: aquilo que se sabe; aquilo que se aprende e a forma como se exercitam os dois anteriores.
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Considero que esse recurso é fundamental porque sem visão não há futuro, não há inovação, não há etapas para vencer nem oportunidades para ganhar; Mas é também singular porque esse recurso é de cada um, não é normalmente transmissível, e é tão pessoal que havendo o mesmo ponto de partida para vários investidores, o ponto de chegada será diferente para cada um deles, eventualmente até muito diferente, tudo dependendo do jeito, do gosto e da ambição com que se pode desenhar e agarrar o futuro. Digo ainda que é renovável porque sempre sujeito a atualizações, mudanças e avanços ou recuos, de modo a que a gestão nunca fique envelhecida com o tempo, nem desgastada pelos constantes desafios. Como todos sabem, estamos a atravessar uma fase muito delicada das empresas sejam elas pequenas, médias ou grandes, para a qual se torna fundamental pensar no futuro com arrojo e determinação, usando e se calhar até abusando dos recursos estratégicos de cada um, deixando que se consumam uns para que outros surjam e se desenvolvam sem atrofios nem deformações. E, se as houver, haja vontade e coragem para as retornar ao bom caminho e ao sucesso. Se tudo deve ser feito com moderação e bom senso, sugiro que sejamos consumidores intensivos dos nossos próprios recursos, sendo certo que também para estes e por princípio, se deva manter a mesma dose de bom senso. Dr. José Luís Sequeira (Presidente da Direção da APICER)
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Destaque
A ECONOMIA CIRCULAR E A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA
p o r Ne l so n La g e , P r e s i d e nt e da A DE NE
Dr. Nelson Lage
“Um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres. O limiar do aquecimento global (de + 1,5 graus centígrados) em comparação com o da era pré-industrial vai ser atingido em 2030, dez anos mais cedo do que foi projetado. Na Europa as temperaturas vão subir ainda mais, podendo atingir um aquecimento de 2ºC ou superior até meados do século. O nível das águas do mar também vai subir nesta região do globo. As inundações na costa europeia serão mais frequentes e mais intensas. No Mediterrâneo, vão aumentar os períodos de seca e vai aumentar o risco de incêndios florestais.
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Estas são descrições que constam do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e que levou o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, a deixar um aviso explícito às nações do mundo: “os países devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos dos combustíveis (fósseis) para a energia renovável. Para muitos, este é o último aviso dos cientistas sobre as consequências irreversíveis para a sustentabilidade do planeta. Se não travarmos já o aquecimento global estaremos a condenar a humanidade a novos desastres sem precedentes. Na reação a este ultimato dos especialistas das Nações Unidas, o Primeiro-Ministro, António Costa, afirmou que o documento confirma as prioridades estratégicas do Governo português: ‘mais eficiência energética e energia renovável; investir na economia circular, no uso eficiente da água e na mobilidade sustentável; reformar a floresta e liderar a agenda dos Oceanos”. Portugal foi o primeiro país do mundo, em 2016, a comprometer-se com a neutralidade carbónica em 2050, e desde então intensificou as políticas de combate às alterações climáticas. Segundo a Comissão Europeia o nosso país é o Estado-membro da União Europeia que está mais próximo de alcançar as metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa até 2030, relativamente aos níveis de 2005. Entre as prioridades nacionais está a economia circular. A razão é simples. Se continuarmos a explorar os recursos
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Destaque
naturais como o fizemos agora, em 2050 necessitaremos dos recursos de três planetas Terra para satisfazer todas as nossas necessidades. Nunca como hoje foi tão evidente que os recursos são finitos e que é urgente passarmos da sociedade do extrair, fabricar e deitar fora, para uma economia neutra em carbono, de prevenção, redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e de energia sustentável. A Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas classifica a economia circular como um tema fundamental da política climática, na medida em que cerca de 67% das emissões de Gases com Efeito de Estufa estão relacionados com a gestão de materiais. Em Portugal, a economia circular representa um desafio para toda a sociedade e deve potenciar a resiliência, a sustentabilidade dos recursos, a inclusão social, a competitividade das empresas, sem deixar de parte a coesão territorial. Ao apostarmos numa economia circular iremos reduzir as emissões de CO2, estimular o crescimento económico e criar novas oportunidades de emprego. A economia circular significa, ainda, desafios como a inclusão, a competitividade e a evolução demográfica da sociedade. O documento-chave da economia circular no nosso país é o PAEC – Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal (2017-2020), que está neste momento a ser revisto, mas também o Roteiro para Neutralidade Carbónica RNC2050 e o PNPOT – Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, são instrumentos relevantes na dinamização desta mudança. A economia circular é também uma prioridade para a ADENE que, em 2017, criou uma parceria com o ISA – Instituto Superior de Agronomia para a concretização do projeto CERTAGRI, que permitiu definir os requisitos necessários para a conceção de um sistema integrado de Rotulagem da eficiência hídrica e energética dos setores produtivos nacionais. Esta abordagem permitiu criar as bases para o desenvolvimento de metodologias de avaliação e classificação de práticas de gestão das empresas orientadas à transição para uma economia circular. O projeto CERTAGRI permitiu, em 2019, estabelecer uma metodologia experimental para a criação de um rótulo para a economia circular, um sistema de rotulagem integrado de eficiência energética, hídrica e do uso de materiais. No final de 2020, a ADENE iniciou o desenvolvimento e operacionalização de um sistema de certificação da economia circular mais abrangente e de aplicação transversal a diversos setores da atividade industrial. Atualmente em fase de conceção e teste, este sistema pretende ir mais longe numa avaliação integrada e baseada numa metodologia de aplicação
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universal, facilmente adaptável às diferentes fileiras. Contamos, em 2022, lançar este novo instrumento de avaliação que dê ainda maior acessibilidade ao conceito de economia circular e contribua para que o mesmo seja cada vez mais adotado no dia-a-dia das empresas e da sociedade em geral. A ADENE está assim alinhada com esta maior consciência política e social sobre a emergência climática e conscientes da pressão que já se faz sentir. A mudança tem que ser feita em duas frentes: as políticas públicas e as exigências dos consumidores. As empresas que passem a integrar nas suas políticas de gestão a economia circular estarão mais preparadas para a descarbonização do setor industrial e empresarial que é uma das fortes apostas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Portugal tem previsto na chamada ‘bazuca europeia’ 715 milhões de euros para usar até 2027, e mais 304 milhões para promover e apoiar financeiramente as iniciativas da indústria nacional no plano ambiental, com destaque para a implementação de processos e tecnologias de baixo carbono na indústria e a incorporação de fontes de energia renovável e armazenamento de energia. Sabemos que o esforço esperado da indústria e das empresas é gigantesco, pois Portugal só conseguirá atingir a neutralidade carbónica até 2050, se reduzir entre 85% e 90% as emissões de gases com efeito de estufa. Se tivermos em conta que as emissões da indústria representaram em 2018 cerca de 22% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa, depressa percebemos que este é, necessariamente, um dos setores de que se espera um importante contributo para cumprir a meta nacional de redução de emissões de 45% a 55% estabelecida no Plano Nacional Energia e Clima (PNEC 2030). Para atingirmos estes objetivos é fundamental apostar nas energias alternativas e renováveis, mas também na eficiência energética, numa estratégia assente na monitorização e redução dos consumos energéticos das instalações, em especial nas consideradas como consumidoras intensivas de energia (CIE). Para isso contribui o Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE) em que a ADENE, enquanto gestor operacional do Sistema, tem um papel fundamental, a par da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), dos operadores que exploram instalações CIE, bem como dos técnicos reconhecidos para a realização de auditorias energéticas. Hoje, tanto as empresas como a indústria estão a desenvolver projetos inovadores e de cooperação que buscam soluções eficientes integradas que abarcam a água, energia e
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Destaque
resíduos, numa abordagem ambiciosa, responsável e sustentável. Os dados recolhidos pela ADENE, no âmbito do SGCIE, indicam que há razões para otimismo. Em 2020, o número de novas instalações registadas no Sistema perfaziam as 1.286, o que significa que, desde 2008, o número de registos por ano ronda as 75 novas instalações. A indústria lidera os novos registos com 85% das novas instalações do SGCIE, sendo que 60% destas instalações estão registadas nos distritos de Braga (16%), Porto (16%), Aveiro (15%) e Lisboa (13%). Para além dos novos registos, até 2020 foram apresentados pelos responsáveis das instalações 1783 auditorias energéticas e respetivos Planos de Racionalização dos Consumos de Energia (PREn), o que representa um consumo agregado de energia primária de 4 493 000 tep, cerca de 20% do consumo de energia primária nacional em 2019. O SGCIE é um Sistema que, desde 2008, está a fazer a diferença e devemos prosseguir este esforço conjunto, potenciando o aproveitamento de oportunidades para a eficiência energética nas empresas, em particular naquelas com consumos intensivos de energia. A adesão crescente ao SGCIE por parte dos novos operadores, conjugada com um uso cada vez mais extensivo da informação e das boas práticas, e a abertura a outras dimensões da economia circular (para além da energia) vai reforçar, ainda mais, o papel e a utilidade do SGCIE como instrumento de política pública. Através do site do SGCIE (www.sgcie.pt), a ADENE disponibiliza a informação e as ferramentas úteis e necessárias para apoiar as empresas no seu caminho para a eficiência energética. De destacar a estatística interativa, que contém informação relativa aos registos de operadores, auditorias energéticas, potencial e tipologia de medidas de eficiência energética. Outra ferramenta disponível no site do SGCIE são os cadernos setoriais que, além de estudos de natureza estatística, permitem igualmente a caracterização de subsetores de atividade económica registados no SGCIE e a comparação dos indicadores de eficiência energética entre as instalações do respetivo subsetor. O cumprimento dos Planos de Racionalização dos Consumos de Energia vai permitir a redução do consumo de energia primária das instalações em 295 000 tep (6.6%) e das emissões de gases com efeito de estufa em 8.5%, evitando-se assim a libertação de 740 000 toneladas de CO2. O investimento nas medidas de melhoria deverá rondar os 434 milhões de euros, em especial nas medidas de eficiência energética. A passagem de uma economia linear para a economia circular é absolutamente necessária, em especial para as empresas, já que permite poupanças significativas e contri-
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bui para uma maior sustentabilidade. A promoção da economia circular e a incorporação de energias renováveis e de biocombustível no processo industrial, vão permitir reduzir drasticamente as emissões de CO2 em mais de 80%. Segundo a Associação de Bioenergia Avançada (ABA), os biocombustíveis de resíduos e outros avançados, ou seja, produzidos a partir de matérias-primas residuais permitem uma redução de emissões de CO2 entre os 83% e os 98%, quando comparados com os tradicionais combustíveis fósseis. A economia circular é, assim, um modelo de sustentabilidade que contribui para a redução dos impactos ambientais e para a redução de custos, ao mesmo tempo que possibilita a criação de novos empregos e a promoção de uma maior justiça social. Se tivermos em conta que Portugal não é autónomo na maioria dos recursos que necessita, a economia circular apresenta-se como a solução mais inteligente, já que permite reduzir a necessidade de recursos, ao mesmo tempo que promove a vida útil de cada produto e a integração de materiais reciclados nos processos produtivos. Os desafios para as empresas e indústria passam também pela busca de novas soluções de financiamento, com novos modelos de negócio, a criação de cadeias de valor, desenvolvimento de novas tecnologias e aposta no ecodesign dos produtos. Acredito que a economia circular poderá ser um forte aliado na expansão da economia portuguesa. As empresas deverão passar a ser avaliadas pela sua diferenciação no mercado com um modelo de negócio assente nos princípios da economia circular. Este não é apenas um desafio nacional, mas antes global. A Agenda 2030 da ONU, com os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) inclui a economia circular. O ODS 12, que visa alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais, não é mais do que um forte incentivo à economia circular. Hoje, todos estamos conscientes do real impacto da escassez de recursos naturais. Governos, empresas e cidadãos sabem que é urgente criar uma economia baseada não apenas na recuperação, reciclagem e reutilização de recursos, mas acima de tudo numa economia que se reinvente para salvar o planeta. Acredito que a indústria já está a viver uma nova revolução industrial ao implementar a suas próprias estratégias de economia circular, com benefícios ambientais e económicos. Estou certo de que todos juntos, unidos pela sustentabilidade do Planeta, vamos mudar o paradigma, mas não podemos esquecer o estado de emergência que estamos a viver, como lembrou recentemente a ministra alemã do Ambiente, Svenja Schulze, ao afirmar que "o tempo para a salvar o planeta está a esgotar-se".
Julho . Agosto . 2021
Matérias-Primas
DECRETO-LEI Nº 30/2021 – A NOVA REGULAMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES E REVELAÇÃO E APROVEITAMENTO DE DEPÓSITOS MINERAIS
po r Cr i s t i na L ou r e n ço , Su b d i r e t o ra-G e ra l da D GEG
Cristina Lourenço
Um quadro legal e regulamentar que seja justo, transparente, claro e previsível é um fator determinante para as decisões de investimento e respetivo contributo para o desenvolvimento sustentável nas 4 dimensões (ambiente, território, economia e pilar social), situação com importância acrescida no caso das atividades de revelação e aproveitamento de recursos geológicos. Em todas as alterações de regimes jurídicos surgem, naturalmente, resistências. No caso dos recursos geológicos, pelo facto dos respetivos regulamentos possuírem caraterísticas intrínsecas de estabilidade e longevidade, esta compreensão torna-se ainda mais desafiante!
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Portugal é efetivamente um exemplo de estabilidade no enquadramento jurídico da indústria extrativa. Na verdade, a regulamentação mineira de 1930 (Decreto nº 18713, de 01.08.1930) esteve em vigor 60 anos e a que se lhe seguiu em 1990 (Decreto-Lei nº 88/90, de 16.03) vigorou 31 anos até ao atual Decreto-Lei n.º 30/2021, de 07.05 que veio conferir os princípios do green mining às atividades de revelação e de aproveitamento de depósitos minerais. Nos últimos anos, a prática prosseguida em sede de sustentabilidade ambiental e de responsabilidade social já vinha a contemplar alguns dos aspetos que vieram agora a ser concretizados no Decreto-Lei nº 30/2021, pelo que se considera, pese embora as significativas alterações introduzidas no sistema, que este regime regulamentar vem contribuir para a clarificação e transparência dos procedimentos de atribuição de direitos de revelação e de aproveitamento dos depósitos minerais. O INTERESSE PÚBLICO encontra neste novo diploma uma VISÃO INTEGRADA: • Os depósitos minerais integram o domínio público do Estado – razão pela qual a sua revelação e exploração deve obedecer a uma estrita lógica de prossecução do interesse público. • A atividade mineira desenvolve-se em espaço territorial num contexto de sustentabilidade ambiental e de responsabilidade social; existe aqui, por um lado, uma racionalidade económica partilhada entre os cidadãos e o Estado, no contexto de uma exploração responsável e, por outro lado, não dispensa uma rigorosa e adequada
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Matérias-Primas
• Reforçar a disponibilização de informação e participação pública, e, bem assim, a intervenção dos municípios, contribuindo para uma maior transparência dos procedimentos administrativos; • Repartição justa dos benefícios económicos da exploração entre o Estado, os municípios onde ela se insere e as suas populações. A DGEG e o LNEG, I. P. apresentam no prazo de dois anos após a entrada em vigor do presente decreto-lei, a Estratégia Nacional dos Recursos Geológicos que reveste a natureza de programa setorial. A ENRG é elaborada em estreita articulação com todos os intervenientes no setor extrativo e obedece aos seguintes 7 objetivos fundamentais. (Figura 1) Em suma, o DL 30/2021 vem assegurar que a atividade de revelação e aproveitamento de depósitos minerais apenas pode ser desenvolvida obedecendo aos princípios do «green mining», ou seja, obedecendo a rigorosos princípios de sustentabilidade. Verifica-se que estes princípios se traduzem afinal na própria valorização do setor extrativo pois o aumento e o rigor no cumprimento das exigências ambientais constitui, por si só, um vetor para a obtenção de uma CERTIFICAÇÃO de digamos de “QUALIDADE” ou de uma GARANTIA DE EXTRAÇÃO RESPONSÁVEL ou de um INCREMENTO DO VALOR DO PRODUTO com criação de mais e melhor emprego local e, bem assim, de melhoria da qualidade de vida das populações. Com a previsão de realização de uma ESTRATÉGIA NACIONAL DOS RECURSOS GEOLÓGICOS assegura-se um desenvolvimento efetivo da atividade extrativa.
Figura 1
ponderação e proteção dos valores e bens ambientais em presença, e obriga à valorização dos territórios onde se desenvolve esta atividade. • A Gestão dos RG deve estar assente numa Estratégia Nacional – que assegure que o setor extrativo se desenvolve de modo competitivo, com o maior retorno económico possível para o País, em linha com o planeamento das necessidades de abastecimento de matérias-primas efetuado e, simultaneamente, de forma articulada com outras políticas públicas, designadamente as que promovem a transição energética, e com os instrumentos nacionais estratégicos particularmente relevantes para o desenvolvimento sustentável, como o Plano Nacional de Energia e Clima e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica. A decisão de conceder, ou não, direitos do domínio público assenta, assim, num ponderado e harmonioso equilíbrio destas dimensões, parcialmente conflituantes, do interesse público. O mesmo é dizer que somente a concretização de todos estes vetores nas decisões a adotar permitirá prosseguir o interesse público, aquele que ao Estado incumbe proteger e tutelar. Neste contexto, o DL 30/2021 consagra uma perspetiva agregadora e conciliadora dos vários interesses públicos em presença, potenciando sinergias nos três eixos que estruturam o novo regime e que são: • Assegurar o cumprimento dos mais exigentes padrões de sustentabilidade ambiental na atividade de extração dos recursos do domínio público do Estado e garantir, simultaneamente, a sua máxima valorização económica a benefício do País;
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Recursos Humanos
GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS HUMANOS: UMA VANTAGEM COMPETITIVA
po r Ant óni o S ara i v a , Bus i ne s s D e v e lo pm e nt Man a ge r – I S Q Aca d e my
António Saraiva
A Gestão Estratégica de Recursos Humanos não é uma chavão tão só aplicável a grandes Organizações. É uma necessidade de toda e qualquer Organização, pública ou privada, independentemente da sua dimensão. Nos últimos anos têm-se identificado e analisado algumas megatendências do Mercado: mudanças demográficas, alterações no poder económico mundial, aceleração urbanística, escassez de recursos e modificações climáticas e fortes avanços tecnológicos. A que se acrescenta mais recentemente o impacto de uma pandemia. E como se têm posicionado as Organizações neste contexto? Apresentam-se efetivamente como entidades
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(con)fiáveis e com soluções adequadas ao nível da liderança? Com uma nova estratégia de serviço ao Cliente de forte dinamismo? Com um investimento tecnológico signicativo que potencie a Inovação? E com preocupações multi-laterais (internacionalização) e multi-direcionais (soluções diversificadas e segmentadas)? E como têm preparado os seus profissionais neste novo contexto? Investir nas pessoas é, sem dúvida, o posicionamento estratégico mais adequado. Preparando-os para uma visão global de valor acrescentado, com propostas de rigor e qualidade e níveis relacionais que apostem numa comunicação robusta, transparente e credível. Mesmo com os desafios de uma pandemia ativa, isto tem de ser possível. Pensar estrategicamente a Gestão de Pessoas, envolve um diálogo constante. Diálogo interno às Organizações, mas com a Sociedade, e em particular com o Sistema Educativo. Durante anos teorizou-se e escreveu-se muito sobre Educação ao Longo da Vida. Mais do que nunca, agora, é o momento certo de ela se tornar muito mais operacional. Há setores altamente deficitários de mão de obra qualificada, incluindo setores-chave da Economia. A rápida transformação, as exigências de uma nova realidade, quer ao nível dos padrões de Consumo, como do desenvolvimento tecnológico, obrigam a que a Educação, nomeadamente de via profissionalizante, e a Formação sejam capazes de fornecer novos resultados. Um Sistema Educativo não alinhado com o contexto envolvente, uma Formação tradicionalista e desajustada podem comprometer respostas efetivas às tendências do Mercado, mas mais importante que isso, comprometem a qualificação que garantem empregos e, em complementaridade, uma Sociedade moderna e justa. Mas perante o quadro da Economia atual, mais ainda com o impacto de uma pandemia que continua sem estima-
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Recursos Humanos
tiva de ser definitivamente debelada e sem sabermos se outras podem acontecer, será que basta aguardarmos que as componentes educativas e formativas se alterem? Definitivamente, não! Pensar estrategicamente os Recursos Humanos, a Gestão de Pessoas é muito mais. É encararmos outros desafios. A flexibilidade laboral, novas formas de organização do trabalho, carreiras globais (mesmo que em trabalho remoto) e diversificadas, ajustamento da compensação e dos benefícios sociais, proporcionar-se uma valorização constante são os desafios do momento atual. Traduzindo, a Gestão Estratégica de Recursos Humanos é pensar uma lógica de novas oportunidades para as Pessoas – um foco estratégico, mas operacionalizável, de desenvolvimento, reconhecimento e recompensa, visão inspiradora, networking e de preocupação efetiva pelo equilíbrio profissional-pessoal. Há sempre um problema de timing e outro de investimento. Como há sempre um problema de vontade (muitas vezes, política) e um problema de oportunidade. Hoje tudo acontece à velocidade da luz, até a disseminação da Covid_19. E este é o dramatismo organizacional: tomar decisões condicionadas pelo que é para ontem e pela escassez de recursos, em particular os financeiros. Da mesma forma, encontrarem um quadro legal desajustado e apoios insuficientes ou demasiado burocráticos e mo-
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rosos. Já para não falarmos que as oportunidades surgem num quadro competitivo extremamente dinâmico e, acima de tudo, agressivo. Perante esta problemática, decisões erradas e erráticas, são muitas vezes tomadas. Mesmo Organizações de maior dimensão e que são consideradas sólidas, são muitas vezes afetadas. Numa fase complexa não se pode perder Talento, optando-se, muitas vezes, pela primeira dose de facilitismo – redução não estruturada dos seus efetivos. Da mesma forma que não se podem comprometer os pilares essenciais de uma entidade: os seus Valores organizacionais, responsáveis por uma Cultura que certamente, durante anos, foi agregadora e responsável pelo sucesso. É neste cenário mais adverso, que a Gestão Estratégica de Recursos Humanos se torna ainda mais relevante. Ter uma atitude de consultoria junto da Gestão de Topo da Organização, não identificando basicamente problemas, mas propondo soluções. Mesmo em situações de posicionamento extremo e de racionalização de recursos diversos, há que ter duas preocupações: a defesa do brand organizacional e o respeito pela integridade e conforto das Pessoas. Num justo e objetivo equilíbrio. O contexto dos dias de hoje é difícil, mas essencialmente estranho. Muitas das preocupações e dificuldades até aparentam um caráter cíclico. A questão de fundo
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Recursos Humanos
é que o que se antevia para o futuro surgiu no imediato: o trabalho remoto mais generalizado, a reconversão, ou mesmo o risco de extinção de certas profissões, e o surgimento de outras. Mas também, um impacto inusitado nas famílias – talvez nunca, como agora, a atividade profissional se imiscuiu tanto na vida familiar. Mas vamos mais longe: a ordem do dia situa-se no worklife balance, nas formas de remunerar o trabalho, com foco específico na componente de benefícios e, com grande relevo, a Saúde. E neste particular, como fator de significativa preocupação, a própria Saúde Mental. A Gestão de Pessoas é, pois, estratégica. Em toda e qualquer Organização. O próprio Estado, não como entidade abstracta, mas como entidade máxima de gestão, tem a responsabilidade de a comunicar como tal, pois o impacto na Sociedade de decisões avulsas, erráticas e até descriminatórias poderão condicionar o futuro de gerações. Além disso, as responsabilidades do Estado ao nível do Sistema Educativo, das orientações laborais e formativas, para já não se falar de prioridades de investimento e, até sanitárias, serão determinantes, até pelo nível de exemplo que se exige e aconselha. E as Organizações? Não interessa a dimensão, se têm uma Direção de Recursos Humanos, ou não, o relevante é a Estratégia que definem no âmbito das políticas de Gestão de Pessoas. Assim, como é relevante um con-
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junto de outras entidades que podem apoiar e potenciar o nosso tecido empresarial, nesta temática, nomeadamente as Associações empresariais. Sem dúvida que muito bons exemplos existem e muito boas práticas, seja em empresas, seja por via das Associações. Gerir estrategicamente os Recursos Humanos parte sempre de variáveis determinantes: conhecer o contexto, ter uma Visão, definir uma Missão e captar e reter os melhores talentos para a concretização da mesma, desde que imbuídos dos mesmos Valores. Teoria? Não! É a fórmula de sustentabilidade organizacional. Evidente que a corporização de um conjunto de políticas, apoiadas em processos e procedimentos serão vitais para a respetiva operacionalização e garantia de sucesso. O País tem dado uma resposta cabal sempre que é exigido maior esforço e resiliência. Nota-se, muitas vezes, uma resposta por navegação à vista, em virtude de uma ausência de Estratégia concertada. É ir até à exaustão, embora compensada pela criatividade e superação. Superação essa dos diversos atores, em particular os empresários e os profissionais dedicados das respetivas Organizações. Falamos de um País quase exclusivamente de micro e pequenas empresas, onde o esforço ainda é mais inusitado. Reside no associativismo, as tentativas mais alinhadas, suportando lógicas de resposta menos dolorosas e com capacidade mais globalizante.
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Recursos Humanos
E porque não essa Estratégia mais concertada em matéria de Recursos Humanos? Verificam-se preocupações e suporte em matéria de legislação laboral, em termos até de segurança e alguma ao nível da contratação e, ainda, formativa. E nas questões mais técnicas de Gestão de Pessoas que se posicionem para níveis mais elevados do desenvolvimento das pessoas, do reconhecimento e valorização, ou mesmo em termos de Bem-Estar dos profissionais, que passe por desenho de benefícios ajustados à realidade, novas fórmulas de organização do trabalho, gestão modernizada? E, porque não suporte em termos de possíveis soluções ao nível da Saúde, física e mental
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das pessoas, por via do estabelecimento de protocolos ou utilização de plataformas específicas? A Gestão Estratégica de Recursos Humanos é uma realidade inquestionável atualmente, encarada como Vantagem Competitiva decisiva. É um suporte objetivo e ancorável para qualquer gestor, mas também funcionando como fator de equilíbrio dentro de toda e qualquer Organização. O seu desenho e implementação favorece a competitividade, mas também a motivação e satisfação dos profissionais. Tem um impacto efetivo, e mensurável, quer na produtividade, mas também em cada microestrutura social e no coletivo da Sociedade.
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Recursos Humanos
A OIT E AGENDA 2030: TRANSIÇÃO PARA ECONOMIAS VERDES
po r Mafalda Tro n ch o , d i r e t o ra d o E s cr i t ó r i o da OI T p a ra Po rt u gal (OI T-Li s b o a)
Ao adotar a Agenda 2030, a comunidade internacional reconhecia a Agenda do Trabalho Digno como central ao desenvolvimento sustentável. Como referiria o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, «um maior número de pessoas com empregos dignos significa um crescimento económico mais forte e inclusivo. O aumento do crescimento gera mais recursos para criar empregos dignos». Apesar de parecer uma equação simples, Guy Ryder sublinhava igualmente que esta vinha sendo negligenciada pelas políticas internacionais, pelo que esta agenda representa «uma oportunidade, no período de uma geração, de fazer a diferença e de melhorar a vida de milhões de pessoas».
Trabalho Digno O conceito de trabalho digno foi apresentado pelo Diretor-Geral da OIT, na Conferência Internacional do Trabalho em 1999. Este conceito resume as aspirações de homens e mulheres no domínio profissional e abrange vários elementos: oportunidades para realizar um trabalho produtivo com uma remuneração justa; segurança no local de trabalho e proteção social para as famílias; melhores perspetivas de desenvolvimento pessoal e integração social; liberdade para expressar as suas preocupações; organização e participação nas decisões que afetam as suas vidas; e igualdade de oportunidades e de tratamento. Dito de uma forma mais resumida, o principal objetivo da OIT consiste em promover oportunidades para que mulheres e homens possam ter acesso a um trabalho digno e produtivo, em condições de liberdade, igualdade e dignidade.
Mafalda Troncho
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o ODS8 A adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável resultou da determinação da comunidade internacional em acabar com a pobreza e a fome em todo o mundo, combater as desigualdades dentro e entre países, construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas, proteger os direitos humanos, promover a igualdade de género e assegurar a proteção duradoura do planeta e dos seus recursos naturais. Para tal, a criação de condições para um crescimento económico sustentável, inclusivo e gerador de pleno emprego, de trabalho digno e produtivo para todas as pessoas, foi entendida como necessária. Nasce assim o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8 (ODS8), num total 17 ODS.
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Recursos Humanos
A Agenda do Trabalho Digno da OIT assenta em quatro objetivos estratégicos: a promoção de emprego, e das empresas, a prossecução dos direitos no trabalho, a extensão da proteção social e a promoção do diálogo social, sendo a igualdade de género um tema transversal. Garantir trabalho digno para todos e todas reduz a desigualdade entre povos e países e fomenta a paz social, traduzindo-se num instrumento crucial à prossecução de um desenvolvimento sustentável. E, dada a natureza tripartida da OIT, esta acaba por desempenhar um papel muito importante na implementação da Agenda 2030. De facto, o mundo do trabalho é central a essa implementação uma vez que governos, organizações de empregadores e organizações de trabalhadores são agentes de mudança fundamentais. Desde logo, uma transição justa e inclusiva para economias mais protetoras do ambiente e dos seus recursos naturais, como almejado pela Agenda 2030, só será possível se baseada num forte diálogo social. A dimensão das mudanças que esta transformação estrutural acarreta exige um envolvimento ativo dos parceiros sociais e sociedade civil. Além disso, quando as políticas e os programas resultam de consensos alargados são mais facilmente apropriados e implementados. Este é um dos princípios orientadores estabelecidos pela OIT como essenciais a uma transição justa, adotados na Conferência Internacional do Trabalho em 2013 e reforçados pela recente Declaração do Centenário sobre o Futuro do Trabalho (2019).
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Vivemos tempos de mudança transformativa, mas, apesar dos avanços tecnológicos, a taxa de crescimento do consumo de matérias de base e de produtos finais, continua a crescer mais rapidamente que o crescimento populacional, com os impactos sociais e ambientais conhecidos. Não apenas este modelo linear é insustentável, como também os impactos económicos da COVID-19 mostraram quão vulneráveis somos aos choques económicos resultantes de qualquer disrupção das cadeias de valor. Por outro lado, as alterações climáticas e a degradação ambiental reduzem a produtividade e destroem empregos, com os seus efeitos a fazerem-se sentir de forma mais acentuada nas populações e grupos mais vulneráveis. A OIT estima que os efeitos das alterações climáticas podem levar à perda de 80 milhões de empregos até 2030, sendo os países em desenvolvimento os mais atingidos. Paralelamente, a tendência de crescente automação e digitalização da produção ameaçam postos de trabalho nalguns setores exigindo a criação de novas oportunidades de trabalho digno em setores emergentes e sustentáveis como a economia verde ou o setor dos cuidados. Por tudo isto, economias mais sustentáveis dependerão do impulso dado a um novo modelo de desenvolvimento sustentável e no sucesso de uma transição justa para economias mais verdes. Com base nas nossas estimativas, é possível encararmos este futuro com alguma esperança. Existe, de facto, um potencial muito significativo de criação de postos de trabalho. Só no setor energético estimamos, nos próximos anos, a criação de 18 milhões de empregos. E 6 milhões de empregos podem ainda ser criados através da transição para uma "economia circular" que inclua atividades como reciclagem, atividades de reparação e manutenção, aluguer e “remanufatura” substituindo o modelo económico tradicional de "extrair, produzir, usar e descartar". Por outro lado, a economia circular permite maximizar tanto o ciclo de vida dos produtos como o valor dos recursos, pela promoção das sua reutilização e reciclagem das suas componentes, com vantagens para empresas e para consumidores. A economia circular insere-se, no entanto, numa abordagem mais ampla de prioridade à criação de “empregos verdes” empregos dignos que melhoram a eficiência no uso de energia e matérias-primas, limitam as emissões de gases de efeito estufa (GEE), minimizam desperdícios e poluição, protegem e restauram ecossistemas e apoiam a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Estes podem ser encontrados em setores tradicionais, como a agricultura ou a
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Recursos Humanos
construção, ou em novos setores verdes emergentes, como o setor das energias renováveis e da eficiência energética. A concretização de uma transição verde e, acrescente-se, digital, deve ser apoiada por decisões e políticas que promovam uma transição justa e inclusiva. Isso implica fazer avançar os quatro objetivos estratégicos em que assenta a Agenda para o Trabalho Digno. Por essa razão, esta reflexão não se pode reduzir ao número de empregos gerados ou destruídos com esta transição. Por exemplo, as perdas de postos de trabalho nos setores da extração e processamento de combustíveis fósseis não serão automaticamente compensadas pela criação de postos de trabalho esperados com a eletrificação dos meios de transporte, mesmo que o saldo seja positivo. Desde logo pelo fator geografia... em cada país ou região, o setor em declínio poderá ter uma localização distante dos setores emergentes. Depois porque a mão-de-obra pode não possuir as qualificações necessárias para aproveitar as oportunidades, nem estar em condições de se deslocalizar. As alterações climáticas e transição carbónica e os setores e profissões a eles associados não estão apenas a criar novos empregos verdes, têm também impactos nos postos de trabalho existentes, onde é necessário requalificar ou melhorar e desenvolver novas competências. Neste quadro, uma sólida aposta no desenvolvimento de competências ao longo da vida e das transições pelo mercado de trabalho, constitui uma área crítica de apoio a esta mudança estrutural. A antecipação e identificação efetiva das necessidades em matéria de desenvolvimento de competências, com foco num equilíbrio entre a procura e a oferta nos mercados de trabalho constitui uma base fundamental para mitigar os efeitos de interrupções transitórias e desafios emergentes no decurso da transição para uma economia de baixas emissões de carbono. Esta transição exige investimentos significativos na reconversão e requalificação, de forma a capacitarmos os trabalhadores para as necessárias competências técnicas, e não técnicas, como são exemplo das competências básicas digitais e para os empregos verdes, propostas pela OIT, no seu mais recente Quadro Global de Competências essenciais para viver e trabalhar no século XXI. Para além disso, as ações de capacitação, reconversão e requalificação deverão ser adotadas numa abordagem sistemática e de longo prazo, que promovam o desenvolvimento de competências relativas a atividades e contextos de trabalho numa economia mais verde. E devem ser acompanhadas de um conjunto abrangente de políticas articuladas entre si, nomeadamente políticas ativas de emprego, de educação e formação, inicia-
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tivas de orientação vocacional e o reforço do aconselhamento para a empregabilidade, programas formativos inclusivos e específicos, proteção social para perdas de emprego e deslocalizações. Outro desafio importante identificado pela OIT diz respeito aos riscos ocupacionais de formas de produção amigas do ambiente e, de uma forma geral, associadas aos empregos verdes. Desde riscos tradicionais associados, por exemplo, à exposição ao amianto, durante a renovação de edifícios antigos, a riscos decorrentes de processos de fabrico modernos que recorrem às nanotecnologias, às biotecnologias e à manipulação biológica e química, passando por riscos músculo-esqueléticos e psicossociais associados a novas tecnologias e formas de trabalhar como o teletrabalho, estamos perante um conjunto de riscos cuja antecipação e avaliação são fundamentais para a sua prevenção e gestão eficaz. Existe também a necessidade crescente de integrar a segurança e a saúde no trabalho nos sistemas de educação e de aprendizagem ao longo da vida, como elemento importante na integração no mundo do trabalho e de adaptação à mudança. E, como a segurança e saúde no trabalho, não se limitam ao local de trabalho – uma vez que também influenciam a saúde das pessoas e o bem-estar das sociedades – deve ser dada mais atenção à relação entre segurança e saúde no trabalho e saúde pública. A transição para um futuro mais verde já está a acontecer, mas requer uma abordagem política coordenada, integrada e abrangente, um diálogo social forte, em articulação com a comunidade científica, e as entidades formadoras e as próprias empresas. Não existe uma fórmula mágica. As políticas e programas por detrás de uma transição justa e inclusiva devem considerar a especificidade do país, o seu estádio de desenvolvimento, os seus setores económicos e o tipo de atividade e tamanho das empresas. Mas este é um caminho que tem de ser trilhado se queremos garantir um crescimento económico sustentável e sustentado e sociedades mais justas. Como referiu Guy Ryder recentemente, os empregos de hoje e de amanhã dependem da preservação dos ecossistemas e da biodiversidade. Sem um planeta saudável, não pode haver economias produtivas nem trabalho digno.
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Competências e Qualificação
“O FUTURO DO TRABALHO”: QUE TRABALHO PARA QUE FUTURO?
p o r In ê s d o s S a n t o s Co st a , Se cre tár i a d e E s t a d o d o Am b i e nt e
Inês dos Santos Costa
Unir com ouro. Assim se traduz a palavra kintsugi, a arte japonesa de reparar cerâmica partida unindo os vários pedaços com “costuras” de verniz e metais preciosos. Esta arte reflete princípios da economia circular que são tipicamente preteridos face à reciclagem ou à eficiência, apesar de mais transformadores e impactantes na descarbonização. O kintsugi adiciona valor ao objeto através da reparação, tornando-a explicita. O facto de o objeto se ter partido e o ato de ser reparado e reutilizado, traduz o valor imaterial (o uso) em valor material (o metal precioso). Por isso, ao invés de reparar para “tão bom como novo”, a reparação torna-o “melhor que novo”. Este conceito como resposta a um desperdício ou um resíduo continua a não encaixar no modelo atual de produção/ /consumo ou de custo-benefício. A massificação e escoamento de produtos continua a ser o motor económico, intrinseca-
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mente linear, e qualquer tentativa de o transformar para além da reciclagem (cujo desempenho não tem vindo a melhorar), é acolhida como ameaça. É possível essa ser a razão da resistência em internalizar custos ambientais e sociais ligados a este sistema, por estes poderem já superar CAPEX/OPEX e benefícios diretos (p.ex. emprego). Veja-se a continuidade da extração de petróleo e a sua conversão (ex. combustíveis, plásticos) que contrasta com os custos humanos e materiais associados aos efeitos da poluição e emissões. Mas as leis biológicas e da termodinâmica tornam esta mudança inevitável. Resta saber se queremos que ela ocorra de maneira firme e minimamente controlada, ou se deixamo-la correr ao ritmo da volatilidade das crises económicas, ambientais e de saúde pública. O último aviso do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) é claro: já não basta esperar pela tecnologia que ainda não existe ou que não é viável, do Carbon Capture & Storage à reciclagem química. O foco na energia, edifícios, mobilidade e sistema alimentar é essencial, mas não suficientes, se a arquitetura económica e social não mudar; em outras palavras, se não valorizarmos o que parte para transformar em melhor que novo. Se assim não for, podemos ter uma economia descarbonizada e em que o PIB cresce, mas que continua tão ou mais exigente no consumo de recursos, e insustentável do ponto de vista ambiental e social. Mas está o tecido público e empresarial preparado? O desempenho no digital e na descarbonização colocam Portugal em boa posição. E isso nota-se: no ambiente de desenvolvimento de soluções, nos apoios que têm vindo a ser disponibilizados (p.ex. Portugal Ventures, Fundo Ambiental, SIFIDE, Vales
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Competências e Qualificação
Inovação) e também no European Innovation Scoreboard (EIS) de 2020, onde Portugal integrou, pela primeira vez, o grupo de Fortes Inovadores, com a maior melhoria de desempenho na UE, com um aumento de 21,5%. Mas em 2021 o EIS alterou a sua metodologia. As alterações incluíram indicadores que completam o perfil de desempenho na transição climática, alinhados com o Pacto Ecológico Europeu. Estes relacionam-se com impactos da atividade humana, que o Fórum Económico Mundial chegou a indicar entre os maiores riscos em termos de impacto a nível global. O EIS passou assim a incluir: i) produtividade dos recursos; ii) emissão para o ar de partículas finas da indústria (PM2.5); iii) desenvolvimento de tecnologias ambientais no total das tecnologias. O desempenho nacional nestes indicadores, quando comparado com a média europeia, penaliza a sua posição no EIS e contribuiu para o retrocesso aos países “medianamente inovadores”. Apesar do indiscutível esforço do país em matéria ambiental nos últimos 30 anos, sobretudo nos serviços essenciais de ambiente, o facto é que as metas e obrigações ambientais relacionadas com o sistema de produção e consumo, sendo cada vez mais exigentes, são ainda encaradas como ameaças ou custos que têm de ser minimizados. E assim surgem os incumprimentos, ou as pressões para travar ou adiar a escalada de exigência. A realidade é que essa evolução é inevitável e está em curso: nas políticas (p.ex. Plano Zero Poluição, Diretiva de Crimes Ambientais), nos mecanismos financeiros (p.ex. “Do No Significant Harm”), nas contribuições para o Orçamento Europeu (p.ex. taxa plástico não reciclável) ou nas condições de acesso a fundos comunitários. É urgente que o país tenha a capacidade e as competências para ir além da inovação de produto, do digital e da energia, e avance para a inovação de processo e organizacional necessária para que permaneça competitivo.
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Esta responsabilidade não pode continuar a ser empurrada para fora ou a ser justificada por hábitos dos cidadãos, apenas para salvaguardar um modelo linear de produção e consumo insustentável. As metas e objetivos nacionais em matéria de circularidade também são dependentes das empresas que, ao contrário dos municípios e dos sistemas de gestão de resíduos, ainda têm poucos incentivos ou obrigações de contribuir para esse desempenho. Por isso importa a inovação organizacional e de processo, que passa por evoluções nas competências, nas tipologias de emprego e na valorização de determinadas funções. O trabalho é também um recurso renovável: criativo, versátil e adaptável, pode ser reconvertido, adaptado, formado, mas perde-se se não for utilizado. E há espaço para combinações virtuosas entre um ecossistema de emprego que conjuntamente permite à economia e à sociedade progredir nessa direção. O caso da CP é exemplo nacional da filosofia kintsugi: com um investimento de 7 M de euros, e com know-how nacional da Faculdade de Engenharia do Porto, do Instituto Superior Técnico, das Infraestruturas de Portugal, do Metro do Porto, da Mota-Engil, da Efacec, da Salvador Caetano, da Mind for Metal, da Siemens, da Amorim entre outras, do usado fez-se melhor que novo, com impactos positivos na economia, e também na sociedade e ambiente (por medir). E não foi só a diferença para os 80 M de euros que o mesmo número de carruagens novas nos teria exigido: é que o conhecimento e prática gerada alimenta a ambição de desenvolver uma carruagem 100% nacional. E na cerâmica, o ponto de partida da arte japonesa que aqui se refere, certamente existe vontade de trabalhar esta abordagem para lá da inovação de produto e a tornar parte do seu modelo de negócio e do ADN dos seus líderes e dos trabalhadores.
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Competências e Qualificação
Desenvolver este ecossistema requer políticas públicas fortes, e um exercício de gestão com algum talento. Primeiro, é preciso compreender a tipologia de competências que contribui de modo direto, ou indireto para estes objetivos. Exemplo de empregos diretos estão os serviços essenciais de ambiente, as energias renováveis, a reparação ou a gestão de materiais. Os empregos indiretos dão o suporte à aceleração dos primeiros: engenheiros, gestores de informação e compras, logística ou educação. Também é preciso medir, não só em número, mas também o impacte destas atividades nos indicadores económicos, de bem-estar social e salvaguarda ambiental. E também é preciso aceitar que há empregos e atividades que irão acabar por se extinguir ou terão de ser transformados, com novo conhecimento. E para evitar convulsões sociais é importante planear essa transformação. O programa do Governo inclui medidas para avaliar as competências existentes para uma economia neutra em carbono e circular, com vista a desenvolver uma agenda de novas competências, diferenciadas consoante o nível de formação, desde a alta especialização (remanufatura, tecnologias renováveis), média especialização (reparação) até à baixa especialização (recolha). São desafios que a indústria da cerâmica e do vidro enfrentam, e que determinará um perfil de qualificações necessárias: • Desafio 1 – Pensar de forma circular e sistémica na indústria do vidro e da cerâmica; • Desafio 2 – Inovar o processo de fabrico e valorizar resíduos/subprodutos;
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• Desafio 3 – Promover estratégias circulares de negócio e simbioses industriais. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática desafiou a Secretaria Geral do Ambiente a promover o estudo “O Futuro do Trabalho: Análise do emprego e evolução das competências para responder à transição para uma Economia Circular em Portugal”, que irá ao encontro da Agenda de Competências e do Pacto para as Competências lançado em 2020, que assenta na transição digital e ecológica. A Secretaria Geral prepara-se para lançar workshops em setembro para melhor aprofundar a disseminação da consulta e o entendimento sobre a tipologia de funções associadas. A procura por este tipo de qualificações e conhecimento está aí, espelhada nos critérios exigidos no âmbito dos apoios PRR aos objetivos da Declaração do Porto. E já se verifica no terreno a dificuldade da resposta nacional: nos concursos que ficam vazios, na falta de conhecimento sobre a aplicação destes princípios à organização e processo, na carência de formação técnica referida por várias associações de setores especializados. Como se vê, o desafio da descarbonização é muito, muito mais do que um desafio tecnológico. É também um desafio social, comportamental, de valores pessoais, que exige políticas, a substituição e/ou novos conteúdos curriculares, (re)formação adulta regular, entre outras soluções. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática, através dos programas de formação financiados pelo Fundo Ambiental (p.ex. ProResíduos, ProÁguas) tem contribuído para esta transformação. O que esperamos é que as empresas, universidades e politécnicos acompanhem esta necessária evolução, que também se lhes exige.
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Reinserção Social
A CERÂMICA AO SERVIÇO DO IMPACTO SOCIAL
por Du ar t e Fons eca , D i r e t o r Exe cu t i v o da APAC Po rt u ga l
Quando a Reshape Ceramics foi criada tínhamos 3 grandes objetivos em mente, para além de criarmos postos de trabalho e caminhos de reinserção concretos para a população reclusa. Contudo, é importante dar algum contexto de como surgiu este negócio social. A APAC Portugal, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, que trabalha com as pessoas que estão ou estiveram presas e as suas famílias. O sistema prisional tem neste momento cerca de 11.000 pessoas presas e estima-se a nível internacional que 7 em cada 10 pessoas voltem a cometer crimes depois de libertados, a chamada reincidência criminal (este dado infelizmente não é publicado em Portugal). Imaginemos o que seria 7 em cada 10 crianças que vão à escola não aprenderem a ler e escrever, ou 7 em cada 10 pessoas que vão a um hospital não verem
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os seus problemas resolvidos. Penso que enquanto sociedade exigiríamos melhores resultados. Isso é o que nós APAC fazemos. Trabalhamos para melhorar o sistema e as ferramentas de reinserção social existentes no nosso país. Outro fator muito importante a ter em conta que se sabe, é que existe uma correlação forte e direta entre a taxa de desemprego de pessoas que estiveram presas e a taxa de reincidência. Assim, a empregabilidade tem sido um foco grande da associação e foi nesse contexto que se começou a pensar que tipo de negócio social poderíamos lançar que trabalhasse vários objetivos em paralelo e melhorasse a reinserção social de pessoas que estão ou estiveram presas. Em primeiro lugar queríamos criar um negócio social que fosse b2c, ou seja que lidasse diretamente com o cliente final. Isto porque para nós era muito importante que a sociedade em geral começasse a ficar cada vez mais sensibilizada para esta temática e conhecesse os desafios que a reinserção social de quem está preso tem. A reinserção social nunca poderá ser responsabilidade última de nenhum governo, tem sim que ser uma responsabilidade de todos nós, das comunidades locais. Assim, um produto de cerâmica utilitária ou decorativa seria uma boa forma de entrarmos com o “sistema prisional” para dentro da casa das pessoas. Cada peça feita transporta uma história de vida. Cada peça a ser utilizada em casa dos portugueses é uma peça que conta não só esta história como despoleta conversas sobre o sistema prisional. Nada melhor que uma peça de cerâmica, uma peça tradicional portuguesa,
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Reinserção Social
para transportar histórias e desafios concretos. Queremos fazer de cada uma das famílias portuguesas, uma família embaixadora da causa e sensível a este público também. Em segundo lugar queríamos que fosse um negócio. Ou seja, queríamos demonstrar a outras empresas (não só do setor da cerâmica) que era possível fazer negócio com o enorme talento que está a ser desperdiçado nas nossas prisões. Para além disso, existem imensas
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infraestruturas e potencialidades que podem e devem ser exploradas em meio prisional. Assim, estaríamos a utilizar dois recursos que por norma são desperdiçados, recursos humanos (que estão presos, mas cheios de talento) e recursos de infraestrutura vazios e sem utilidade no presente. Foi nesse sentido que, por exemplo, encontramos no Estabelecimento Prisional de Caxias uma antiga olaria desativada que com um investimento mínimo ficou de novo operacional. Este objetivo é mais ambicioso, mas aquilo que queremos é que todas as empresas em Portugal deixem de olhar para o registo criminal e passem a olhar para a pessoa, para as suas potencialidades e os seus talentos. Um dos grandes lemas da Associação é que todo o Homem é maior que o seu erro. E quem de nós nunca cometeu erros? Será que devemos ser julgados e perseguidos toda a vida por um erro cometido no passado? Muitas vezes quando tínhamos 20 ou 30 anos? Acreditamos verdadeiramente que todas as indústrias com falta de mão de obra especializada deveriam olhar para esta oportunidade que está à mão de semear de todos nós. Por último, mas não menos importante, queríamos que fosse um processo produtivo, que o resultado não fosse imediato e que no final tivéssemos um produto físico. A cerâmica tem imensos processos morosos e complexos, como sabem, e no final, devido a uma série de fatores externos muitas coisas podem correr mal. Este tipo de processos de tentativa-erro, de repetição até à perfeição, de algumas coisas correrem mal, mesmo tendo feito (em teoria) tudo bem, são do mais pedagógico que existe, e trazem imensas analogias para a nossa vida. Quantas vezes não fizemos tudo bem na nossa vida e mesmo assim parece que tudo corre mal, ou que não temos sorte. Aprender a integrar as derrotas e os momentos difíceis por que todos passamos é essencial para uma reinserção social de sucesso e de volta à sociedade. Assim, a cerâmica pela transformação da matéria-prima, que demora tempo e mesmo assim pode não sair bem, traz-nos mensagens de vida em si muito poderosas para quem trabalha o barro. A cerâmica tem o poder de transformar vidas e de tornar as nossas comunidades e os nossos bairros mais seguros. Contudo, não basta colocar as pessoas que estão ou estiveram presas a produzir peças de cerâmica utilitária e decorativa para que consigamos garantir uma reinserção de sucesso. É por isso que desenvolvemos uma metodologia própria, a que demos o nome de metodologia reshape que é um processo holístico e que trabalha as várias dimensões da vida de cada beneficiário. Primeiro, começamos sempre com uma
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Reinserção Social
formação de desenvolvimento de competências sociais. Todos precisamos de trabalhar competências de gestão emocional, de comunicação, entreajuda e espírito de equipa (não só quem está preso). Depois segue-se uma fase de emprego transitório (que começa dentro do estabelecimento prisional e continua cá fora) na própria reshape ceramics. Temos dois locais de produção para permitir que este emprego na cerâmica seja também uma forma de transição mais suave para a liberdade. E por fim, através do gabinete de integração socio-laboral da associação, trabalhamos com dezenas de empresas disponíveis a integrar estas pessoas, pois sabem que são comprometidas, trabalhadoras e que estão desejosas de agarrar uma oportunidade. Não sabemos ainda qual o impacto social que a Reshape Ceramics terá a médio/longo prazo, mas sabemos que a mensagem que está a passar e o processo que está a criar está a ter um eco enorme na nossa sociedade. Acreditamos no poder dos negócios para criar valor social e acreditamos que a indústria da cerâmica tem uma responsabilidade acrescida e é por isso que recentemente foi celebrado um protocolo de colaboração entre a APICER e a APAC Portugal no qual depositamos muita confiança, para crescermos o nosso impacto com e para todos os in-
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Energia
A NOVA ECONOMIA DO HIDROGÉNIO VERDE: ENQUADRAMENTO E ALGUMAS NOTAS RELATIVAS AO SETOR DA CERÂMICA
p o r Fi l i p e d e Va sco n ce l o s Fer n a n des ¹
F i l i p e d e Va s c o n c e l o s Fe r n a n d e s
§ 1. A inevitabilidade da Economia de Baixo Carbono e a ascensão da Economia do Hidrogénio Nos termos do Acordo de Paris, o objetivo principal dos Estados que ao mesmo se vincularam versa sobre a limitação ao aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e em encetar esforços para limitar o referido aumento a 1,5ºC³. Esta meta deverá ser alcançada através da implementação de medidas que limitem ou reduzam a emissão global de Gases com Efeito de Estufa (GEE), destacando-se o Dióxido de Carbono (CO2), o Metano (CH4), o Óxido Nitroso (N2O) ou ainda os Perfluorcarbonetos (PFC’s).
Nesse contexto, a designada Economia do Hidrogénio representa uma proposta integrada e a nível sistémico de utilização do Hidrogénio como fonte de energia de Baixo Carbono, a que acresce um conjunto de outras importantes utilizações, como vetor de armazenamento ou valorização energética renovável, mormente como complemento ao Gás Natural, como combustível ou ainda, noutro espetro, em relação a aplicações associadas às pilhas de combustível estacionárias ou móveis. Compreende-se, nessa medida, que a Economia do Hidrogénio e os respetivos alicerces estejam sobremaneira relacionados com as necessidades de descarbonização de cada Estado e os seus objetivos no domínio da neutralidade carbónica. Nos termos do Roteiro para a Neutralidade Carbónica (“RNC2050”), aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 107/2019, de 1 de julho, alcançar a neutralidade carbónica em 2050 implica uma redução significativa das emissões de GEE, que se traduz numa trajetória de redução de, em termos respetivos: 1. -45% a -55% até final de 2030; 2. -65% a -75% até final de 2040; 3. -85% a -90% até final de 2050, tendo por referência os níveis de 2005. Cumprir com esta exigente trajetória de descarbonização suscita um conjunto de desafios de larga expressão, com particular relevo para os padrões de produção e de consumo e, bem assim, os pressupostos subjacentes aos atuais processos de produção dessa mesma energia. Neste contexto, os gases de origem renovável, de que continua a servir como paradigma o Hidrogénio verde, têm como principais vantagens, entre outras, o facto de: 1. Em primeiro lugar, apresentarem uma forte complementaridade face à estratégia de eletrificação, permitindo assim reduzir os custos da descarbonização;
1 Assistente Convidado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Mestre e Doutorando em Direito Fiscal. Consultor Sénior na Vieira de Almeida & Associados (VdA). Fundador do H2Tax – O Primeiro “Think Tank” em Portugal exclusivamente dedicado à Fiscalidade do Hidrogénio – Contacto académico: filipefernandes@fd.ulisboa.pt • Contacto profissional: fvf@vda.pt 2 O Primeiro “Think Tank” em Portugal exclusivamente dedicado à Fiscalidade do Hidrogénio. 3 Artigo 2.º, n.º1, alínea a) do Acordo de Paris. Adicionalmente, nos termos do artigo 2.º, n.º1, alíneas b) e c) do mesmo Acordo, são ainda apresentados como objetivo do referido Acordo “[a]umentar a capacidade de adaptação aos efeitos adversos das alterações climáticas, promover a resiliência a essas alterações e um desenvolvimento com baixas emissões de gases com efeito de estufa, de forma a não pôr em risco a produção alimentar” e “[t]ornar os fluxos financeiros coerentes com um percurso conducente a um desenvolvimento com baixas emissões de gases com efeito de estufa e resiliente às alterações climáticas”.
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Energia
2. Em segundo lugar, apresentarem um reforço substancial da segurança de abastecimento num contexto de descarbonização, sendo certo que se trata de um domínio onde existem ainda amplos desafios de um ponto de vista tecnológico; 3. Em terceiro lugar, contribuírem para uma indução à utilização de fontes endógenas (eólica e solar), contribuindo para a redução na dependência energética nacional; 4. Em quarto lugar, terem um papel prioritário na redução as emissões de GEE em vários setores da economia, de que é exemplo o setor da cerâmica; e 5. Em quinto e último lugar, a sua íntima conexão à eficiência na produção e no consumo de energia ao permitir soluções em escala variável à medida das necessidades, próximas do local de consumo e com capacidade de distribuição pelo território nacional. Com o objetivo de introduzir um elemento de incentivo e estabilidade para o setor energético, promovendo a introdução gradual do Hidrogénio enquanto pilar sustentável e integrado numa estratégia mais abrangente de transição para uma economia descarbonizada, Portugal preparou e apresentou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (ENH2), tendo esta última concretização legislativa na Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2020, de 14 de agosto, que aprovou o designado Plano Nacional do Hidrogénio. A referida EN-H2 assume as seguintes metas para o horizonte 2030: 1. Em primeiro lugar, 5% de Hidrogénio Verde no consumo final de energia, no transporte rodoviário e na indústria; 2. Em segundo lugar, 15% de Hidrogénio Verde injetados nas Redes de Gás Natural (transporte e distribuição); 3. Em terceiro lugar, 50 a 100 estações de abastecimento para Hidrogénio; e ainda 4. Em quarto e último lugar, entre 2 a 2,5 GW de capacidade eletrolítica. Seguem-se algumas considerações de índole técnica justamente sobre os pressupostos e contexto de produção do designado Hidrogénio Verde. § 2. Da Reformação à Eletrólise (Aquosa) O Hidrogénio é o elemento químico mais abundante no Universo, correspondendo a aproximadamente 75% da respetiva massa elementar. Porém, o Hidrogénio não existe na natureza no seu estado puro, pelo que tem de ser obtido através de processos que consomem energia, para que, posteriormente, possa ser utilizado das mais diferentes formas.
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§2.1 A Reformação Há várias décadas, a reformação é uma tecnologia mais utilizada pela indústria, sendo a maioria do Hidrogénio obtido por intermédio do processamento do vapor de Gás Natural (Metano) nos seguintes termos: CH4(g) + H2O(g)→CO(g)+3H2(g) Em momento subsequente, é convertido o Monóxido de Carbono com Vapor de Água para produzir Hidrogénio e Dióxido de Carbono (adicional), momento em que é obtido o ponto maximizante da obtenção de Hidrogénio no processo, nos termos que se seguem: CO(g) +H2O(g)→CO2(g)+H2(g) Pese embora a contínua relevância deste processo, não deixa de estar em causa a libertação de Dióxido de Carbono, razão pela qual o Hidrogénio obtido é recorrentemente apelidado de Hidrogénio Cinzento. §2.2 A Eletrólise (Aquosa) Por oposição ao processo anterior, se a eletricidade é obtida por intermédio de fontes endógenas renováveis, como a eólica, solar ou hídrica, o Hidrogénio é efetivamente “Verde”, podendo acrescentar-se que as emissões de Carbono residuais são apenas as incorporadas nas infraestruturas de geração (incluindo as imanentes aos materiais compósitos). É neste contexto que se alude à eletrólise aquosa, processo que se baseia no recurso à energia elétrica (corrente elétrica contínua), para separar os componentes que integram a molécula de Água (Hidrogénio e Oxigénio), obtendo, assim: 2 H2O + Eletricidade → 2 H 2 + O2 Diferentemente do que sucede no caso anterior, e desconsiderando resquícios de Carbono incorporados nas infraestruturas de apoio à produção, o Hidrogénio obtido não implica a libertação de GEE. §3. A estruturação da Economia do Hidrogénio O Hidrogénio Verde é um vetor energético cujo mercado se caracteriza, embora não exclusivamente, por uma “supplier-induced demand”, partindo geralmente dos produtores as ações que induzirão os consumidores a realizar movimentos de substituição entre bens ou produtos
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que, direta ou indiretamente, estão associados a emissões de Carbono. Naturalmente que, partindo da oferta, este processo de substituição ao nível da procura tem uma relevância estrutural para o desenvolvimento do mercado do Hidrogénio, compreendendo-se o enfoque do decisor público no desenho de instrumentos que permitam induzir a procura em movimentos de substituição nos quais o Hidrogénio Verde passe a ser progressivamente encarado como bem (ou fator) sucedâneo – consoante esteja em causa o mercado dos fatores ou o mercado dos produtos. Esta circunstância não retira importância ao lado da procura. Pelo contrário, se os efeitos indutores ao surgimento de movimentos de substituição não surtirem os efeitos pretendidos – em especial, pela forte inelasticidade-preço da procura em relação a consumos ricos em Carbono (notória nos combustíveis fósseis) – de nada terá valido o financiamento/subsidiação à produção, qualquer que venha a ser o seu formato. Nesse sentido, do lado da procura, a tarefa a cargo do decisor público passará necessariamente por introduzir medidas que induzam a movimentos de substituição entre consumos libertadores de Carbono e outros que possam ser total ou predominantemente descarbonizados. Segundo antevemos, tal passará por um agravamento da tributação do Carbono, que inclusive já vem sucedendo há várias décadas em praticamente todos os Estados – sendo importante denotar que as respetivas receitas reverterão, preferencialmente, para o financiamento de políticas públicas ligadas à transição energética, inclusive o Hidrogénio Verde.
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§4. Os próximos passos – em especial o relevo para o setor da cerâmica Conforme resulta do que se referiu, o setor da cerâmica não é, de modo algum, alheio a este conjunto de circunstâncias e, bem assim, às exigências decorrentes do atual contexto de descarbonização da atividade económica e consequente advento da transição energética. Um dos exemplos paradigmáticos é o subsetor da designada cerâmica estrutural (que inclui a produção de telhas, tijolos) onde se assiste a uma especial concorrência oriunda da introdução e consequente recurso a outros materiais no setor da construção, tais como madeira ou cortiça. Sem prejuízo do recurso à biomassa, entendemos que a descarbonização no setor da cerâmica pressuporá um incremento da respetiva eletrificação, razão pela qual o Hidrogénio (Verde) poderá ter um papel absolutamente crucial. Tal permite, inclusive, o estabelecimento de uma importante conexão à Economia Circular, em particular no que diz respeito à valorização dos subprodutos inerentes à eletrólise e cuja relevância para o setor da cerâmica é inequívoca: pense-se no caso do Oxigénio obtido pela separação do Hidrogénio da Água e a respetiva utilização na cerâmica vitrificada. Outros exemplos existirão que permitem comprovar, segundo antecipamos, a nossa intuição a este respeito: também o setor da cerâmica terá um justo protagonismo na estruturação da Economia do Hidrogénio Verde e, consequentemente, no contributo para a estratégia de descarbonização da economia nacional.
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Energia
O PREÇO DA ENERGIA E OS MERCADOS A PRAZO
por To más G ai vã o , Eng e nh e i r o e s p e ci a li s t a em Me rc a d o s d e Ene r g i a
Tomás Gaivãos
Na mudança para o século XXI ocorreu a liberalização dos mercados de energia, e passámos de um modelo em que o estado, através de empresas públicas verticalmente integradas, estabelecia o preço de venda da eletricidade e gás para um regime de livre concorrência, caracterizado pela eficiência na formação dos preços. De sistemas baseados em centrais térmicas e hídricas de carga base e em contratos de aquisição de energia de longo prazo, que asseguravam alguma previsibilidade nos preços, evoluímos para um modelo de mercado em que muitas tecnologias de perfil diferente competem entre si e em que diariamente apenas são chamadas a produzir
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as centrais mais eficientes. Será que este novo modelo de mercado de energia, cada vez mais baseado em tecnologias renováveis de custo marginal muito baixo, nos garante energia barata no futuro, ou por outro lado, sendo as renováveis intermitentes e em certa medida imprevisíveis, teremos cada vez mais incerteza e volatilidade nos preços da energia? Estamos no verão de 2021 e o preço da energia está em máximos nos mercados grossistas internacionais. Na Península Ibérica, no passado mês de julho, registaram-se valores record nos preços da eletricidade e do gás natural que foram, entretanto, já ultrapassados em agosto, e os analistas indicam que a tendência de preços altos se deverá manter, pelo menos, até aos primeiros meses de 2022. Se nos recordarmos que o ano de 2020, marcado pelo início da pandemia de COVID-19 e consequente diminuição da atividade económica, registou mínimos históricos no preço da eletricidade e do gás natural, temos assim um registo bem recente que demonstra a volatilidade dos mercados de energia e, em certa medida, a sua imprevisibilidade. O preço da energia impacta toda a sociedade, mas é particularmente relevante no caso das empresas e grandes consumidores. Numa empresa em que a compra de energia representa uma proporção importante da sua estrutura de custos, e que se vê limitada na possibilidade de passar totalmente esses custos para o consumidor, os seus resultados económicos são altamente penalizados em cenários de elevada volatilidade e de preços elevados. Com a liberalização dos mercados de energia foi criado um instrumento importante na gestão do risco representado pela imprevisibilidade do preço da energia: os mercados a prazo, por vezes também referidos como mercados de futuros. Neles, os diferentes agentes do setor – produtores, comercializadores, grandes consu-
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Energia
midores, instituições financeiras – podem transacionar contratos (derivados) que lhes permitem gerir o risco de preço. Existem vários tipos de derivados, sendo os mais habituais os futuros e as opções. Os futuros permitem fixar, hoje, o preço a que se vai comprar ou vender energia no futuro, num horizonte que pode ir para além dos 10 anos seguintes. As opções são contratos mais versáteis que permitem a proteção em cenários extremos, como se fosse um seguro. Com uma opção um agente pode exercer o direito de comprar energia a um preço pré-determinado em cenários de preços altos. Se o preço no mercado for baixo o agente não executa a opção e beneficia da energia barata. Vejamos alguns exemplos que ilustram a utilidade dos mercados a prazo. Uma comercializadora de eletricidade acorda com um cliente, hoje, um preço fixo ao qual lhe vai vender cada kWh consumido nos próximos 12 meses. A comercializadora baseia o valor do kWh que cobra ao cliente em projeções suas sobre o preço a que comprará eletricidade nos mercados grossistas nos próximos meses, mas é surpreendida por uma subida inesperada e sustentada dos preços, como aquela a que assistimos neste verão. Se não tiver feito uma adequada gestão de risco de preço, por exemplo através da compra de futuros, poderá estar a vender energia ao cliente a um preço inferior ao que compra e, portanto, estar a perder dinheiro. Noutro exemplo, consideremos uma companhia de aviação, em que o custo do jetfuel representa a parcela maior dos seus custos. Se a cotação do combustível nos mercados internacionais disparar e a empresa não tiver salvaguardado esse cenário, por exemplo através da compra de opções que garantam um preço de compra mais baixo, a sua capacidade de oferecer tarifas competitivas fica comprometida. De notar que ao utilizar opções a empresa de aviação consegue beneficiar dos cenários em que o combustível está barato, ao contrário do que aconteceria se tivesse comprado futuros e fixado um preço. Quando uma empresa recorre aos mercados a prazo para passar a outrem (à contraparte no contrato de futuros ou opções) uma determinada exposição ao preço de um ativo, diz-se que está a fazer uma cobertura. Todos os dias, nos mercados a prazo globais, negoceiam-se contratos entre contrapartes que lhes permitem fazer uma gestão ativa de vários tipos de riscos. Existem derivados para mitigar o risco de subida ou descida das taxas de juro, de movimentos nas diferentes taxas de câmbio, e no caso das matérias-primas existem bolsas onde se negoceiam derivados sobre o preço do açúcar, do café, da
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soja, do leite, de pellets de madeira, apenas para dar alguns exemplos. Na Península Ibérica, no setor da energia, existem há vários anos mercados a prazo que têm como subjacente o preço da eletricidade e do gás natural. Mas como funciona na prática a operação nos mercados a prazo de energia, e que estratégias de cobertura as empresas podem adotar? Tipicamente, apenas as grandes empresas de energia, as comercializadoras ou os grandes consumidores participam diretamente nos mercados a prazo, através de equipas de traders que monitorizam em permanência o mercado e atuam quando surge uma oportunidade. As empresas que não têm a dimensão ou nível de sofisticação suficiente para atuar diretamente podem ainda assim fazer coberturas através de intermediários que fornecem esses serviços. Em todo o caso, a operação nos mercados a prazo é bastante simples, e assemelha-se a uma operação de compra e venda de ações num serviço de homebanking. Existe um livro de ordens central onde são colocadas todas as ofertas de compra e venda dos agentes nos vários contratos listados, com os respetivos preços, e se um agente quiser fechar um negócio basta introduzir uma ordem que case com alguma das existentes. Em relação à estratégia a adotar, existem diferentes opções, em função do nível de risco que se está disposto a correr, mas uma estratégia habitual é ter níveis de cobertura superiores para os horizontes mais curtos e níveis progressivamente inferiores nas maturidades mais distantes. Vejamos como uma empresa consumidora intensiva de gás natural, que consome em média 10 MWh de gás natural por dia, podia aplicar este tipo de estratégia. Consideremos que um contrato de futuro corresponde à entrega de 1 MWh de gás por dia, durante o período de entrega e que a empresa estabeleceu o seguinte objetivo: ter o consumo de gás dos próximos 3 meses com um nível de cobertura de 80%, os 3 meses seguintes com nível de cobertura de 60%, os 6 meses seguintes com nível de cobertura de 40%, e os próximos 12 a 24 meses com cobertura de 20%. Para aplicar esta estratégia a empresa pode comprar, em dezembro do ano Y, 2 contratos de futuros para os anos Y+1 e Y+2, comprar 6 contratos de futuros para o 1º trimestre do ano Y+1, comprar 4 contratos de futuros para o 2º trimestre do ano Y+1 e comprar 2 contratos de futuros para o segundo semestre do ano Y+1. Esta estratégia obriga a que todos os meses sejam comprados novos contratos num processo de renovação cíclico, até que as condições de mercado, ou uma mudança de estratégia, ditem outra abordagem. Os volumes
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Energia
de energia não cobertos podem ser utilizados para, a qualquer momento, aproveitar eventuais oportunidades de preços baixos no mercado. Ao fixar uma percentagem importante dos seus custos com a compra de gás natural num horizonte alargado a empresa fica bastante menos exposta ao preço spot diário, bastante volátil, o que lhe permite fazer previsões realistas de custos de produção no futuro. Fazer uma cobertura de risco de preço não é mais do que reduzir a incerteza, transformando uma variável desconhecida num valor conhecido. Não se trata de tentar bater o mercado, mas sim de fazer uma gestão prudente de risco que reduza a exposição a fatores que não
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estão sob o nosso controlo. Uma empresa cujos custos ou proveitos dependam do preço da energia, e que não faça coberturas, está a especular, ou seja, está a apostar que o preço da energia no futuro vai ser menor do que no presente. Na Península Ibérica, contudo, os mercados a prazo de energia registam níveis de participação muito inferiores quando comparados com os do centro e norte da Europa. Ter mercados de energia a prazo líquidos, onde os agentes atuam de forma ativa na gestão da sua estratégia de risco, é não só um sinal de maturidade das economias, mas é principalmente um fator de alavancagem para a competitividade das empresas.
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Prémio
ENTREVISTA – COM INÊS RODRIGUES VENCEDORA DA QUARTA EDIÇÃO DO PRÉMIO FARIA FRASCO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE CERÂMICA E VIDRO
Inês Rodrigues
Kéramica – Começando pelo início, quando e como foi o seu primeiro contacto com o mundo da cerâmica? O mundo da cerâmica já está presente no meu dia-a-dia há cerca de sete anos. Tudo começou com a entrada na Universidade de Aveiro, mais especificamente no curso de Engenharia de Materiais. Apesar do curso ser bastante abrangente, tive bastantes Unidades Curriculares relacionadas com cerâmica que me impulsionaram para um maior interesse nesta área. Kéramica – A sua escolha no curso Mestrado Integrado em Engenharia de Materiais da Universidade de
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Aveiro foi devido a alguma ligação familiar com o sector ou teve outros motivos? Pode contar-nos o que influenciou esta opção? Desde cedo que ponderei ir para a Universidade e tirar um curso ligado às engenharias. Não tinha nenhum familiar ligado a este setor e muito menos à cerâmica. Foi algo que surgiu naturalmente com o percurso que fui desenvolvendo ao longo dos últimos anos. Inicialmente desconhecia completamente o curso. “Engenharia de Materiais? O que é isso?” Ainda era um curso recente na altura e descobri-o através de colegas que, por sorte, já tinham ouvido falar. Pesquisei, informei-me e interessou-me! A partir daí foi uma descoberta do mundo dos materiais e da cerâmica. Kéramica – Qual a sua atividade profissional no momento? A frequência e conclusão deste curso, irá ter impacto na sua atividade profissional? Neste momento, trabalho num grupo empresarial multinacional em Aveiro que se dedica a fornecer produtos, serviços, soluções e tendências de futuro no setor da cerâmica, do vidro e do plástico. Atualmente, as minhas funções estão relacionadas com o desenvolvimento de vidrados para revestimento e pavimento, assistência ao cliente e marketing. Sinto que o curso foi essencial para me impulsionar para o mercado de trabalho de uma forma natural e rápida, uma vez que me encontro a trabalhar no mundo da cerâmica e sinto que as Unidades Curriculares lecionadas foram uma excelente base de conhecimento para iniciar a minha vida profissional. Kéramica – Fale-nos da importância do seu trabalho 'Decoração digital e processamento de radiação laser de loiça em grés' que mereceu a atribuição do Prémio Faria Frasco.Sente que este prémio também a ajudou no seu percurso profissional?
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Este trabalho teve como objetivo principal o desenvolvimento de uma tinta para aplicação por impressão digital e posterior tratamento térmico com radiação laser. Pretendia-se utilizar esta tinta para marcar a identificação do produtor na superfície vidrada de peças cozidas em grés, em substituição da tinta polimérica aplicada atualmente com carimbo. Apesar de serem necessários testes e estudos adicionais, a tinta desenvolvida tinha também o potencial de poder ser utilizada na decoração personalizada de peças. Na realidade, a implementação de um sistema de impressão digital, combinado com tratamento com radiação laser permitiria à empresa receber, por meios digitais, o motivo pretendido pelo cliente, enviá-lo imediatamente para a linha de decoração, onde seria aplicado de uma forma automática e muito expedita em peças já prontas e armazenadas. Esta alteração contribuiria para aumentar a competitividade da empresa no contexto atual da Indústria 4.0. Concorri ao Prémio Faria Frasco numa altura em que já tinha entrado no mercado de trabalho, mas certamente que me impulsionará para novos desafios na área. Kéramica – Pretende continuar a desenvolver investigação neste setor? Após terminar a Universidade planeava trabalhar no mundo da indústria, perceber como funcionava e poder fazer a comparação com a realidade da Universidade e da Investigação. Era algo que nunca tinha feito e que sabia que me ia fazer crescer tanto a nível profissional como pessoal. Assim, hoje em dia, quero continuar neste registo, mas sim, gostaria de voltar à investigação num futuro próximo. Kéramica – A Indústria 4.0 é um desígnio que a indústria deve atingir. Será uma mudança fácil? Qual a sua perspetiva? Ao longo das últimas décadas, a indústria sofreu uma transformação tecnológica brutal em vários setores. A cerâmica foi um deles e continua a crescer a olhos vistos. Não tenho dúvidas de que chegaremos ao desígnio da Indústria 4.0, não será uma mudança fácil mas acredito que, com o tempo, irá acabar por se tornar uma realidade. Kéramica – Sente que os jovens que estudam no ensino superior são incentivados a desenvolver investigação neste sector? Há cada vez mais jovens interessados na investigação e considero que as Universidades têm um papel fundamental nesse aspeto. O ensino tem vindo a ser progressivamente acompanhado por atividades de investigação que levam os jovens a desenvolver curiosidade e interesse por esta vertente.
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Inês Rodrigues
Prémio
Kéramica – Como é vista a indústria cerâmica pelos jovens hoje em dia? Tem argumentos de atratividade para escolherem este sector para a sua vida profissional? A cerâmica é das tecnologias mais antigas produzidas pelo homem e, por isso, para quem não conhece a área pode ser interpretada como algo que ficou parado no tempo. O que é um pensamento totalmente errado! Mesmo tendo a cerâmica muitos anos, é um setor que continua em constante evolução. Pessoas que estudaram cerâmica e que se encontram a trabalhar na área acabaram por perceber que a cerâmica é caracterizada por duas palavras: inovação e tecnologia. Kéramica – Como acha que o sector é visto a nível nacional e a nível internacional? Neste momento, não tenho uma opinião devidamente formada, uma vez que me encontro há pouco tempo no mercado de trabalho e não tenho uma visão geral de todos os mercados que a cerâmica engloba. Kéramica – Por fim, vê-se daqui a 10 anos a trabalhar neste sector? Engenharia de Materiais é um curso bastante abrangente e deu-me a oportunidade de descobrir diversas áreas, mas sem dúvida que a cerâmica me surpreendeu pela positiva quando comecei a trabalhar neste setor. Por isso, sim! Vejo-me a trabalhar na área por vários anos.
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Secção Jurídica
PROCURA-SE: CONSÓRCIOS DE I N O VA Ç Ã O E M P R E S A R I A L
p o r Fi l o m e n a Gi r ã o e Ma r i a In ês B a s t o, FA F A d v o g a d o s
Filomena Girão e Maria Inês Basto
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) consiste num plano de reformas e investimentos que tem como principal objetivo atenuar o impacto económico e social da atual pandemia e tornar as economias e sociedades europeias mais sustentáveis, mais resilientes e mais bem preparadas para os desafios e as oportunidades que as transições ecológica e digital impõem. Com um período de execução orçamental até 2026, o PRR estruturou a alocação das verbas em três dimensões: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital, que são concretizadas através de 20 componentes distintas. Neste contexto, aquela que tem mais peso em todo o PRR, com uma dotação no montante de 3 mil milhões de euros, é a Componente 5 – Capitalização e Inovação Empresarial, integrada na dimensão Resiliência, que, por sua vez, visa aumentar a competitividade e a resiliência da economia com base em I&D, inovação, diversificação e especialização da estrutura produtiva. Desta componente, a maior verba – no valor de cerca de 930 milhões de euros, com possibilidade de futuro reforço em 100 milhões de euros prevê apoiar, sob a forma de incentivo não reembolsável, os designados “consórcios de ino-
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vação empresarial”, por meio das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial e das Agendas Verdes para a Inovação Empresarial (as “Agendas”). Assim, no âmbito da Componente 5 do PRR, foi publicado o Aviso N.º 01/C05-i01/2021 – disponibilizado em https://recuperarportugal.gov.pt/ – que, por via de Convite à Manifestação de Interesse para Desenvolvimento de Projetos no âmbito das Agendas, estabelece “um processo aberto e competitivo de auscultação para identificar as reais oportunidades de investimento e capacidades de execução, bem como os pactos de inovação e os projetos mobilizadores a apoiar”. Pretende-se, assim, proceder à seleção de ideias que serão posteriormente identificadas como iniciativas a apoiar mediante a realização de Convites para apresentação de candidaturas a financiamento, que visem a celebração de contratos-programa com consórcios de inovação empresarial e que irão, por seu turno, realizar as ideias selecionadas. As propostas a apresentar deverão ser, assim, desenvolvidas por Consórcios, que poderão ser compostos por empresas, associações empresariais, entidades do Sistema de Investigação e Inovação, entidades gestoras de Clusters de Competitividade, entidades da administração pública, entre outras. Nos termos do Decreto-Lei n.º 231/81, de 28 de julho, o contrato de consórcio constitui uma forma de
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Secção Jurídica
cooperação entre duas ou mais empresas que se obrigam entre si a realizar as suas atividades económicas de forma concertada com as atividades uns dos outros, com o fim de prosseguir um objetivo comum. Ademais, os consórcios devem obrigatoriamente ser liderados por uma empresa, a chefe do consórcio, competindo-lhe, internamente, o dever de organizar a cooperação entre as partes na realização do objeto de consórcio e, externamente, poderes de representação do consórcio. O Aviso N.º 01/C05-i01/2021 prevê duas tipologias de projetos a apresentar: • Sob a forma de Pactos de Inovação, com um (i) valor de investimento indicativo mínimo de 50 milhões de euros; (ii) levado a cabo por um consórcio que integre, preferencialmente, um mínimo de 10 entidades, dos quais abrangendo obrigatoriamente a participação de empresas e de Entidades não Empresariais do Sistema de I&I, incluindo, regra geral, pelo menos, uma não PME; e (iii) com conclusão e resultados concretizados até 31 de dezembro de 2025; ou • Sob a forma de Projetos Mobilizadores: com um (i) valor de investimento indicativo superior a 20 milhões de euros; que (ii) tenha uma duração máxima de 36 meses; e (iii) com conclusão e resultados concretizados até 31 de dezembro de 2025.
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As propostas apresentadas pelos consórcios de inovação empresarial deverão ainda enquadrar-se em, pelo menos, uma das seguintes áreas: tecnologias transversais e suas aplicações (ramos da energia, tecnologias de informação e comunicação e matérias-primas e materiais); indústrias e tecnologias de produção (ramos das tecnologias de produção e indústrias de produto e tecnologias de produção e indústrias de processo); mobilidade, espaço e logística (ramo automóvel, da aeronáutica e espaço e dos transportes, mobilidade e logística); recursos naturais e ambiente (ramo agroalimentar, da floresta, da economia do mar, da água e do ambiente); e saúde, bem-estar e território (ramo da saúde, turismo, indústrias culturais e criativas e do habitat). O prazo para Manifestação de Interesse para Desenvolvimento de Projetos no âmbito das Agendas encontra-se a decorrer até 30 de setembro de 2021, não estando, contudo, excluída nova fase de apresentação de ideias com a dotação remanescente. Em consórcio, juntando esforços e competências, a inovação é obviamente mais fácil. Exige-se, no entanto, uma ligação forte e esclarecida entre as empresas. Preparemo-nos e não desperdicemos esta oportunidade, vital para o País.
Secção Jurídica . Kéramica . p.31
Economia
EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS DE PRODUTOS CERÂMICOS NO 1.º SEMESTRE DE 2021
po r An t ó n i o Ol i v e i r a , E co n omi sta da A PICE R
Figura 1 - Exportações de Cerâmica no 1.º semestre de 2021, por produtos Fonte: INE - Estatísticas do Comércio Internacional de Bens
De acordo com os dados preliminares divulgados pelo INE em 09/08/2021, o valor das exportações portuguesas de produtos cerâmicos ascendeu a 406.539.909 euros no 1.º semestre de 2021, o que representa uma variação de 36,2% face ao período homólogo anterior.
Exportações Portuguesas de Cerâmica - 2021 (JAN-JUN) Por Produtos (em % do valor total) 4%
2%
Telhas cerâmicas
10%
32%
Pavimentos e revestimentos Aparelhos para usos sanitários Cerâmica mesa e uso doméstico porcelana
28%
Cerâmica mesa e uso doméstico não porcelana Cerâmica ornamental
19%
5%
Figura 2 - Exportações de Cerâmica no 1.º semestre de 2021, por mercados de destino Fonte: INE - Estatísticas do Comércio Internacional de Bens
Produtos Cerâmicos Mercados de Exportação de Portugal em 2021 (JAN-JUN) 19%
França
20%
Espanha Estados Unidos
2% 2%
Alemanha Reino Unido
3%
Países Baixos 15%
4%
Itália Suécia Bélgica
6%
Dinamarca 9%
11% 9%
p.32 . Kéramica . Exconomia
Outros
No mesmo período, o conjunto das exportações nacionais de bens registou uma variação de 24,2% face aos primeiros 6 meses de 2020. Note-se que estas variações homólogas incidem sobre um período de 2020 que inclui meses, nomeadamente abril e maio, em que o impacto da pandemia COVID-19 se fez sentir de forma bastante intensa. Face ao 1.º semestre de 2019 (período pré-pandemia), no 1.º semestre de 2021 as nossas exportações de produtos cerâmicos aumentaram 12,1%, sendo de destacar o acréscimo das exportações de estatuetas e outros objetos de ornamentação e de cerâmica de mesa e uso doméstico não porcelana, com variações de +36,6% e +36,1%, respetivamente. Os pavimentos e revestimentos cerâmicos foram os produtos que mais contribuíram para as nossas exportações de cerâmica no 1.º semestre de 2021 (32,4% do valor total), seguindo-se a cerâmica de mesa e uso doméstico não porcelana (28,1%), a louça sanitária (18,9%), a cerâmica ornamental (9,5%), a cerâmica de mesa e uso doméstico em porcelana (5,1%), as telhas cerâmicas (1,6%) e outros produtos cerâmicos (4,4%), conforme figura 1. Nos primeiros 6 meses de 2021 as nossas exportações de produtos cerâmicos chegaram a 143 mercados internacionais. Em termos de áreas de destino, 65,6% do valor total exportado correspondeu ao mercado intracomunitário e 34,4% ao mercado extracomunitário. As nossas exportações com destino ao mercado da União Europeia cresceram 28,9% e as que tiveram como destino os mercados extracomunitários aumentaram 52,8%. Para o conjunto de produtos cerâmicos, a França foi o nosso principal mercado de destino, seguindo-se a Espanha, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido (figura 2).
Julho . Agosto . 2021
Economia
Julho . Agosto . 2021
exportações totais de bens no mesmo período (1,20% no 1.º semestre de 2019 e 1,19% no 1.º semestre de 2020).
Exportações Portuguesas de Cerâmica em 2021 (JAN-JUN) Por NUTS (em % do valor total) 10%
Norte
11%
Região de Aveiro
11%
Região de Coimbra Região de Leiria Oeste
19% 45%
Outros e não especificados
4%
Exconomia . Kéramica . p.33
Figura 3 - Exportações de Cerâmica no 1.º semestre de 2021, por localização geográfica Fonte: INE - Estatísticas do Comércio Internacional de Bens
As regiões de Portugal onde existe uma maior concentração na produção de cerâmica e que mais contribuíram para as nossas exportações de cerâmica no 1.º semestre de 2021, foram o Centro (83,5%) e o Norte (11,0%). De acordo com a abrangência geográfica correspondente às NUTS-2013, a Região de Aveiro foi responsável por 45,2% do valor das exportações portuguesas de produtos cerâmicos no conjunto dos 6 primeiros meses de 2021, seguindo-se a Região de Leiria (19,2%), Oeste (11,1%), Norte (11,0%), Região de Coimbra (4,2%) e outros (figura 3). O saldo da nossa balança comercial de produtos cerâmicos no 1.º semestre de 2021 alcançou os 303.905.611 euros e a taxa de cobertura das importações pelas exportações ascendeu a 396,1% (a taxa de cobertura média para o conjunto de bens foi de 81,7%). No 1.º semestre de 2021 as exportações portuguesas de produtos cerâmicos representaram 1,30% das
Notícias & Informações
NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS
p o r Al be r t i n a S e q u e i r a , Diretora-Geral da Apicer
Aleluia
Aleluia
Aleluia
ALELUIA CERÂMICAS Backstage – O fascínio do microcimento envelhecido em ambientes elegantes e sofisticados Inspirado num ambiente industrial, Backstage é uma coleção que oferece um Microcimento com efeito envelhecido e riscado, ideal para quem quer a construção de um estilo urbano. Com um aspeto de Microcimento envelhecido e riscado com o passar do tempo, transmite uma sensação de autenticidade que acrescenta um toque de elegância e sofisticação. Dotado de uma gráfica de elevado realismo, apresenta um acabamento superficial com leve contraste entre tons mate e acetinados que reinterpretam os efeitos de desgaste natural e lhe confere um toque de sofisticação. A coleção Backstage está disponível em 3 cores base – White, Grey, Dark Grey – complementadas por 2 tons contemporâneos – Green e Blue – que permitem a criação de zonas de destaque diferenciadoras. Disponível em porcelanato, apresenta opções de acabamento natural e antiderrapante, tornando-se numa solução ideal para espaços de elevada modernidade.
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Julho . Agosto . 2021
Notícias & Informações
O gabinete técnico BMI Expert é formado por arquitectos e engenheiros especialistas em coberturas, dispostos a dar assessoria e a ajudar todas as equipas que intervêm na execução de uma cobertura, desde o arquitecto que a desenha até ao diretor de obra responsável pela execução do projecto, inclusive ao nível dos cálculos da inclinação mínima para determinado tipo de telha, cálculo de transmitância técnica ou de condensação intersticial. Para além do BMI Expert, a BMI Portugal disponibiliza ainda o BMI Academy, um programa de formação e partilha de boas práticas que a empresa introduziu no país para profissionais instaladores de coberturas. COSTA NOVA e CASAFINA Regressam à Maison & Objet Paris A edição de setembro 2021 da Maison & Objet assinala a rentrée das marcas próprias da GRESTEL nas feiras do setor na Europa, após um ano e meio de ausência devido à pandemia de Covid-19. As marcas COSTA NOVA e CASAFINA apresentaram-se na feira com um stand de mais de 140m2, onde deram a conhecer as suas propostas em grés fino e acessórios para a estação outono-inverno. Na COSTA NOVA, as coleções Eco Gres® âmbar, Lagoa e Plano estiveram em destaque, reforçando o posicionamento da marca na vanguarda da inovação na produção de pasta cerâmica feita a partir de materiais
BMI
Costa Nova
BMI BMI Expert com forte crescimento O gabinete técnico BMI Expert, um serviço exclusivo de assessoria a projectos de coberturas da BMI Portugal, assessorou cerca de 400 projectos de construção este ano, devendo este número representar no final de 2021 um crescimento de cerca de 26%, face ao ano passado. Em 2020, o BMI Expert fez o cálculo de mais de 200 000 metros quadrados de coberturas. Em 2021, os números estão em crescimento, tendo sido realizados, só no primeiro semestre, cálculos para 120 000 metros quadrados de coberturas em projectos em curso. “A BMI tem um propósito claro, que é o de apoiar o sector com conhecimento técnico e incentivar as melhores práticas”, explica Ricardo Ramos, BMI Expert. “É por isso que, em Portugal e em todos os países onde estamos presentes, nos diferenciamos por irmos além da comercialização de materiais e sistemas, apostando fortemente na componente de assessoria técnica aos nossos clientes”, adianta o mesmo responsável. No início de um projecto surgem sempre dúvidas técnicas, muitas delas difíceis e complexas de resolver. Com este serviço de aconselhamento, a BMI desenvolve um trabalho conjunto no sentido de encontrar as melhores ideias e soluções técnicas para coberturas planas, inclinadas e ajardinadas, independentemente do seu nível de complexidade. O BMI Expert dá ainda apoio no esclarecimento de dúvidas quanto à conformidade técnica dos projectos.
Julho . Agosto . 2021
Notícias das Empresas . Kéramica . p.35
Roca
Costa Nova
Notícias & Informações
reciclados e 100% ecológica. A par destas propostas, a marca apresentou também propostas de mesa sofisticadas para a próxima estação e época festiva com as coleções Livia e Augusta. Também com enfoque na época festiva, a marca CASAFINA revelou a sua nova coleção “The Nutcracker”, inspirada no Conto de Natal de Hoffmann e no subsequente bailado deTchaikovsky, O Quebra-Nozes, trazendo música, dança e magia para a mesa de Natal. Localizado no Hall 4, o stand das marcas foi visitado por centenas de profissionais, sobretudo do setor do Retalho, superando as expectativas em termos de leads e negócios realizados. Após um ano e meio sem a possibilidade de participação nas feiras do setor na Europa devido à pandemia de Covid-19, este regresso veio confirmar o brand awareness de ambas as marcas e permitir novamente o contacto próximo com os seus públicos. Para 2022, COSTA NOVA e CASAFINA prometem novas presenças nos certames internacionais, com a apresentação de novos portfolios. ROCA As smart toilets da Roca chegaram ao mercado A Roca apostou no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de higiene com água. A sanita da Roca com bidé é um novo rumo em matéria de higiene íntima. São quatro as novidades: a In-Wash que permite personalizar todas as funções de lavagem e secagem, através de um painel de controlo intuitivo; a smart toilet In-Wash com In-Tank, tem o tanque
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integrado na sanita, dispensando assim outro sistema de descarga no espaço de banho; o Multiclean a opção que junta as mesmas caraterísticas num assento e tampa; e o Be Fresh Go, o chuveiro de mão higiénico, disponível em vários acabamentos. Diferentes produtos para uma transformação completa da rotina de cuidados pessoais. Segundo a marca, a In-Wash inclui funções de limpeza e secagem através das quais poderá ajustar a posição da abertura, a pressão e a temperatura da água e do ar. Pelo facto de a sua utilização ser intuitiva, é possível facilmente colocá-la em funcionamento através do controlo remoto ou através de um painel lateral. O sensor de movimento que inclui impedirá a sua activação involuntária. Com um design minimalista, a sanita que cuida da higiene íntima com água adapta-se a qualquer espaço de banho, com os seus três modelos: suspensa, tanque encastrado ou encostada à parede. Só precisa de uma saída de água convencional e uma saída de energia para uma instalação segura, sem quaisquer cabos visíveis. Esta proposta de higiene abrangente vai também ajudar a manter a sanita limpa durante mais tempo, graças ao design Rimless que remove quaisquer possíveis cantos onde a sujidade se possa acumular. Com design inovador e tanque integrado na sanita, o sistema de descarga do In-Wash com In-Tank não necessita de tanque extra. Sem requerer obras profundas ou qualquer tipo de perfuração, o seu processo de instalação e manutenção é muito simples. Pode optar-se pela versão suspensa ou de chão, disfrutando
Julho . Agosto . 2021
Notícias & Informações
Saint-Gobain
dos benefícios de ter uma smart toilet em casa. Há ainda a possibilidade de personalização de funções de lavagem, secagem e descarga da In-Wash, através do prático e intuitivo controlo remoto integrado no suporte de parede. É possível também ativar-se as opções desejadas através dos botões auxiliares que encontrará de ambos os lados do assento e da tampa. Para quem procura os benefícios de um bidé, o assento Multiclean é a solução ideal. Compatível com uma grande variedade de modelos Roca, só o assento antigo terá de ser substituído por esta nova opção disponível em formato Round, Soft e Square. E assim, de forma simples, passa a existir a possibilidade de ter um dispositivo moderno para uma higiene íntima abrangente. O sistema requer apenas uma entrada de água tradicional e uma saída de energia para a sua instalação. Encaixa-se no espaço de banho e permite desfrutar das funções de limpeza e secagem totalmente personalizáveis. Na opção Multiclean Advance, o painel lateral intuitivo é um grande aliado, uma vez que permite escolher a posição da abertura, a temperatura, pressão da água e as preferências de secagem. Por sua vez, o modelo Multiclean Premium inclui um controlo remoto e outras funções, como a opção da escolha da temperatura do assento ou a funcionalidade que elimina todos os maus odores da sanita. Para uma lavagem com água, sem deixar de lado a estética, o Be Fresh Go é uma solução que pode ser facilmente instalada perto da sanita. Prático e sem ocupar muito espaço, este chuveiro higiénico destaca-se no espaço de banho graças à sua grande
Julho . Agosto . 2021
variedade de acabamentos oferecidos pelo revestimento Everlux. Existe a opção sofisticada em Preto Titânio ou em Preto Titânio Escovado, com um design moderno e também um modelo com estilo vintage através do Ouro Rosa. Alta resistência e durabilidade, são características essenciais de uma peça que se tornará fundamental para as rotinas de cuidados pessoais. SAINT-GOBAIN Conclui investimento em novo armazém no Carregado Expansão permitirá aumentar a oferta de produtos da empresa e expedir soluções de três das suas marcas – ISOVER, Placo e Weber A multinacional francesa Saint-Gobain acaba de concluir o investimento de 600 mil euros num novo armazém no Centro Produtivo do Carregado (Nave H), no município de Alenquer. Este investimento permitirá aumentar a oferta de produtos multimarca da empresa, com a possibilidade de expedir soluções de três marcas: a Isover, cuja actividade se centra na oferta de soluções inovadoras para isolamento térmico, acústico e protecção contra o fogo, a Placo, especialista no fabrico e comercialização de gesso e placas de gesso laminado e a Weber, reconhecida pela produção e comercialização de argamassas industriais. O investimento pretende ainda melhorar o serviço prestado ao cliente, na medida em que a empresa está agora apta para responder aos diferentes stakeholders com uma maior oferta, por sua vez mais rápida, possuindo ainda uma maior capacidade de armazenamento. O armazém tem um maior espaço, reorganizado para um atendimento ao cliente mais eficaz. No Centro do Carregado a multinacional dispõe de uma nave de produção industrial, um armazém, uma zona de recolha e carga de empilhadores e uma zona de manutenção. O espaço acolhe ainda a Academia SaintGobain Portugal, o Laboratório Tinting e uma área de escritórios. A construção deste novo armazém foi maioritariamente realizada com materiais Saint-Gobain, tendo como premissa a eficiência energética. O foco na segurança foi também uma prioridade para a Saint-Gobain, pelo que agora a empresa detém um maior espaço para acondicionar produtos de forma segura. O armazém possui, agora, uma maior área coberta, aumentada em 27% para uma maior protecção dos produtos
Notícias das Empresas . Kéramica . p.37
Notícias & Informações
CERTIF RECUPERA 9% E ESPERA ATINGIR VALORES DE 2019 ATÉ FINAL DO ANO
Sectores da construção e elétrico lideram procura A atividade da CERTIF, líder em Portugal na certificação de produtos, com quota superior a 90 por cento, continuou condicionada pelos constrangimentos derivados das medidas relativas à pandemia. Contrariamente à expetativa de um “novo normal” a situação no terreno não se alterou face ao período final do ano anterior. A obrigatoriedade do teletrabalho e a dificuldade em efetuar várias deslocações foram fatores condicionantes, contrabalançados por uma boa resposta por parte da Equipa da CERTIF e que permitiu desenvolver, na sua quase totalidade, o plano de ações de acompanhamento dos vários processos de certificação, suplantando, inclusive o número de ações realizadas no 1º semestre de 2019. Embora não tendo havido lugar à procura por novas normas continuou o alargamento da base de clientes, bem como da extensão a novas gamas de produtos por parte de clientes atuais. A faturação no semestre apresentou uma recuperação de 9% face ao ano anterior, sendo objetivo, até final do ano, alcançar os valores de 2019. A faturação direta no estrangeiro no 1º semestre foi de 43,5%
CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS Para melhor responder às necessidades dos clientes foi dada prioridade às ações visando a emissão de novos certificados, sendo de realçar o primeiro certificado na área elétrica emitido a um fabricante em Taiwan. Nos produtos cerâmicos e elétricos foram emitidas novas extensões para clientes atuais, continuando a salientar-se o objetivo de exportação. O final do semestre ficou, contudo, marcado por vários adiamentos de auditorias devido à dificuldade de algumas empresas na obtenção de matérias-primas, implicando, em alguns casos, a decisão de encerrar mais cedo para férias. A distribuição dos produtos certificados por setor manteve-se a seguinte: Esquemas de certificação
Tipos de produtos certificados
Alimentar
2
4
Elétrico
11
77
Construção
39
181
Outros
4
7
Total
56
269
Setores
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Julho . Agosto . 2021
Notícias & Informações
CERTIFICAÇÃO DE SERVIÇOS Houve lugar à emissão de 75 novos certificados, sendo 3 relativos ao FER – Fim do Estatuto de Resíduo e 72 de gases fluorados, elevando para mais de 1400 os certificados válidos. CERTIFICAÇÃO DE SISTEMAS A CERTIF tem cerca de 150 certificados emitidos sendo, na sua maioria, de empresas que certificam, igualmente, com a CERTIF os seus produtos ou serviços, permitindo uma significativa redução de custos CERTIFICAÇÃO DE PESSOAS Estavam válidas, no final do semestre, 116 certificações nos seguintes domínios: • • • • •
4 Auditores para a norma ISO 9001 16 Auditores para a norma ISO 50001 80 Instaladores de janelas eficientes 2 Projetistas de sistemas solares térmicos 14 Projetistas de térmica de edifícios
MARCAÇÃO CE A CERTIF continua a liderar na marcação CE para produtos de construção, sendo o único organismo notificado para um vasto âmbito de normas, o que lhe permite responder às necessidades de muitas empresas portuguesas que, de outra forma, teriam de recorrer a organismos estrangeiros.
Julho . Agosto . 2021
Os cerca de 50 novos certificados emitidos mostram, igualmente, uma procura por parte de empresas estrangeiras situadas em vários países. De notar, também, o reforço da CERTIF no âmbitos da norma relativa a estruturas metálicas. DAP – Declarações Ambientais De Produto Foi iniciado um novo processo relativo a Painéis compostos à base de madeira. A CERTIF é a única entidade reconhecida pela Plataforma para a Construção Sustentável como organismo de certificação que, com a sua bolsa de verificadores, atua no âmbito do Sistema DAP Habitat.
Outras Notícias . Kéramica . p.39
Calendário de eventos
MAISON & OBJET’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – Paris (França) De 9 a 13 de Setembro de 2021 maison-objet.com
BATIMATEC’2021 (Materiais de Construção) Anual – Argel (Argélia) De 7 a 11 de Novembro de 2021 batimatecexpo.com/
COVERINGS’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Las Vegas (USA) De 05 a 08 de Abril de 2022 coverings.com/
BIG 5 SHOW´2021 (Materiais de Construção) Anual – Dubai (EAU) De 12 a 15 de Setembro de 2021 www.thebig5.ae/
LONDON BUID ‘2021 (Materiais de Construção) Anual – Londres (UK) De 17 a 18 de Novembro de 2021 www.londonbuildexpo.com
THE HOTEL SHOW’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Dubai (EAU) De 24 a 26 de Maio de 2022 thehotelshow.com/
100% DESIGN’2021 (Design/Tendências) Anual – Londres (R.U.) De 22 a 25 de Setembro de 2021 100percentdesign.co.uk/
EQUIPOTEL’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – São Paulo (Brasil) De 22 a 25 de Novembro de 2021 equipotel.com.br/
CERAMITEC’2022 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Munique (Alemanha) De 21 a 24 de Junho de 2022 ceramitec.com
CERSAIE’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Bolonha (Itália) De 27 de Setembro a 1 de Outubro de 2021 cersaie.it
MAISON & OBJET’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – Paris (França) De 21 a 25 Janeiro de 2022 maison-objet.com
INTERIOR LIFESTYLE CHINA’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Shangai (China) Setembro de 2022 interior-lifestyle-china.hk.messefrankfurt.com
NEOCON’ 2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa/Ladrilhos) Anual – Chicago (USA) De 4 a 6 de Outubro de 2021 neocon.com/
SURFACE DESIGN SHOW’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Londres (R.U.) De 8 a 10 de Fevereiro de 2022 surfacedesignshow.com/
TECNARGILLA’2022 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Rimini (Itália) Setembro de 2022 https://en.tecnargilla.it/
The New York Tabletop Show´2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – New York (EUA) De 05 a 08 de Outubro de 2021 41madison.com/
CEVISAMA’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Valência (Espanha) De 7 a 11 de Fevereiro de 2022 cevisama.feriavalencia.com
BATIMAT’2022 (Materiais de Construção) Bienal – Paris (França) De 03 a 06 de Outubro de 2022 batimat.com
IFFT/Interior Lifestyle Living’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Tokyo (Japão) De 18 a 20 de Outubro de 2021 ifft-interiorlifestyle-living.jp.messefrankfurt.com/ tokyo/en.html
AMBIENTE’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) De 11 a 15 de Fevereiro de 2022 ambiente.messefrankfurt.com
IDEOBAIN’2022 (Louças Sanitárias) Bienal – Paris (França) De 03 a 06 de Outubro de 2022 ideobain.com
HOSTMILANO’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Milão (Itália) De 22 a 26 de Outubro de 2021 host.fieramilano.it/en
EXPOREVESTIR’202 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – São Paulo (Brasil) De 08 a 11 de Março de 2022 exporevestir.com.br/
EQUIPHOTEL’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bienal – Paris (França) De 06 a 10 de Novembro de 2022 equiphotel.com
UNICERA’2021 (Cerâmica para Construção) Anual – Istambul (Turquia) De 02 a 06 de Novembro de 2021 unicera.com.tr
MOSBUILD 2022 (Materiais de Construção Anual – Moscovo (Rússia) De 29 de Março a 01 de Abril de 2022 mosbuild.com
ISH’2023 (Cerâmica de Louça Sanitária) Bienal – Frankfurt (Alemanha) De 13 a 17 de Março de 2023 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html
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Julho . Agosto . 2021
Parceiro de Confiança no seu Negócio CREDIBILIDADE - IMPARCIALIDADE - RIGOR reconhecidos na certificação de produtos e serviços e de sistemas de gestão Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo Presente em 20 países
Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão
R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – Fax 351.212 586 959 – E-mail: mail@certif.pt – www.certif.pt