MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO

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A GERAÇÃO DE JULHO DE 1978 memórias, lutas e sonhos

da manifestação grupos organizados de mulheres e de homossexuais e organizações de trabalhadores. Após a concentração, os manifestantes saíram em passeata pelas ruas do centro, portando faixas e fazendo coro de palavras de ordem contra o racismo, o subemprego, o desemprego, a repressão policial e a ditadura. A passeata dirigiu-se para a escadaria do Teatro Municipal, onde foi realizada nova concentração. Vejamos o que, dez anos depois, Hamilton escreveria a respeito desse dia: Foi uma data memorável, o dia 13 de maio de 1978. O presidente do Clube 28 de Setembro, Frederico Penteado, começou a suar quando faixas e cartazes, questionando a abolição da escravatura em São Paulo e denunciando a brutalidade policial, foram erguidas no Largo do Paiçandu diante da estátua da Mãe Preta. A solenidade com autoridades visava comemorar o dia 13 de maio. O inusitado da situação tornou autoridades e policiais incompetentes para impedir a leitura da primeira carta aberta à população, fazendo um balanço dos mortos pela Rota e denunciando a violência policial. O governo da época era de Paulo Maluf.

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Estava aberto um campo comum de atuação para as forças que se uniriam na construção do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial. O impulso para a mobilização de 13 de maio de 1978 veio em grande parte dos acontecimentos envolvendo Robson Silveira da Luz, primo de Rafael Pinto, torturado e assassinado no início daquele mês nas dependências da 14ª Delegacia de Polícia da Capital. Em seguida, a discriminação sofrida por quatro garotos negros, expulsos do time juvenil de basquete do Clube de Regatas Tietê, desencadeou novas e fortes reações no interior da população negra. Os dois episódios causaram grande indignação. Em 18 de junho de 1978, grupos e entidades se reúnem na sede do Cecan para deliberar sobre as ações a serem implementadas. Nessa reunião, foi fundado o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (Mucdr), que seria lançado no dia 7 de julho em um Ato Público Contra o Racismo. Celso Prudente41, que costumava participar sempre junto com seu irmão Wilson das 41. Celso Luiz Prudente foi um dos fundadores do MNU e colaborador do Afro-Latino-América. É antropólogo, cineasta e escritor, com doutorado em educação e cultura pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp).

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