REVISTA PODER | EDIÇÃO 156

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TROPA DE CHOQUE

A estratégia de ANDRÉ JANONES, o deputado que bateu de frente com a artilharia digital de Jair Bolsonaro

CHEIRO DO SUCESSO

Como resgatar uma marca centenária e ainda levá-la para Europa e Estados Unidos?

SISSI FREEMAN, da Granado, tem a fórmula

PEQUENO MANUAL

ANA COUTO, BEATRIZ MILHAZES, MARCIO KOGAN e outras personalidades contam o que fazem para ser mais felizes

PENTHOUSE

CAROL BURG e a revolução no mercado imobiliário de luxo em São Paulo com uma receita simples: alugar apartamentos de alto padrão para quem quer morar de aluguelpor um tempo ou de vez

E MAIS

Os destaques de 2022; TATIANA WESTON-WEBB quer mesmo é ser ouro no surfe; um roteiro de sonho por Portugal; os superveleiros; hi-tech para aproveitar o melhor do verão e a tapeçaria divina de GENARO DE CARVALHO

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DEZEMBRO 2022 | JANEIRO 2023

6 COLUNA DA JOYCE

10 FURACÃO CAROLINA

Como a JFL Realty de Carolina Burg está revolucionando o mercado imobiliário de luxo em São Paulo

22 AGENTES DA MUDANÇA

Quem deixou sua marca em prol dos novos rumos que precisamos depois de um ano desafiador

28 O CÓDIGO JANONES

O deputado federal mineiro André Janones e a estratégia para combater a artilharia digital de Bolsonaro

33 FÁBRICA DE SONHOS

Edson Busin, diretor de marketing da Dell Anno, mudou a percepção dos clientes sobre a empresa

36 FIEL À ESSÊNCIA

Sissi Freeman reinventou a Granado sem mexer na identidade da marca, que é centenária

42 OPINIÃO

Gabriela Baumgart explica por que ESG é a sigla da vez

44 MANUAL PRÁTICO DA FELICIDADE

Beatriz Milhazes, Sidarta Ribeiro e Maria Homem e o que fazem para deixar sua vida mais leve

AGENDA PODER

CALVIN KLEIN + calvinklein.com.br

CHRISTIAN LOUBOUTIN + christianlouboutin.com

EMPRESS BRASIL + empressbrasil.com.br

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LUZIA FAZZOLLI + luziafazzolli.com.br

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PASSADO COMPOSTO SÉCULO XX + passadocomposto.com.br

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-FOTOS
PEDRO DIMITROW; ELISA ELSIE/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
CAROL BURG POR IGOR KALINOUSKI
SUMÁRIO
50 DO RIO PARA O MUNDO O sucesso da FARM, que conquistou o mercado carioca e se tornou internacional 51 OBJETO DE DESEJO Um tapete de sonho tecido pelas mãos de Genaro de Carvalho 52 RESPIRO 54 GRINGA VERDE E AMARELA Tatiana Weston-Webb quer ser ouro no surfe 60 ESPAÇO DE CURA Jochen Volz e as novidades da Pinacoteca de São Paulo 62 SOB MEDIDA 64 MOTOR 68 HIGH-TECH 70 NO CAMINHO CERTO As boas surpresas de Portugal 76 CULTURA 79 VERSALHES CARIOCA Com um acervo de obras de arte do Brasil real e imperial, a Casa Geyer abre as portas para o público em 2024 80 ÚLTIMA PÁGINA 54 51

Segundo o jornalista Zuenir Ventura, 1968 foi o ano que não terminou. Pois este 2022 pode ser chamado de o ano que quase não terminou. A campanha presidencial disputadíssima deu lugar a um governo de transição que precisou negociar sem descanso com o Congresso Nacional. Enquanto isso, o mercado reagia intensamente aos nomes dos novos ministros, revelados a conta-gotas pelo presidente eleito Lula. Tudo isso em meio à Copa, que, enquanto escrevo esta carta, ainda não tem vencedor conhecido. Foi preciso ter muita habilidade, serenidade, disciplina – e empatia – para atravessar este 2022. Mais do que isso, foi preciso ser multitarefa. Aliás, essa é uma característica que costuma ser associada às mulheres. As que estão nesta edição são daquelas que fazem tudo ao mesmo tempo agora. A começar por nossa capa, Carolina Burg, sócia-fundadora da JFL Realty, empresa que está revolucionando o mercado imobiliário de luxo na capital paulista. Ela se juntou a Jorge Felipe Lemann, filho do megainvestidor Jorge Paulo Lemann, para criar uma empresa que oferece apartamentos de alto padrão para quem quer morar muito bem, mas não tem a menor intenção de comprar o imóvel. Sinal dos tempos... Foi também por apostar no que é novo que Sissi Freeman virou o jogo na Granado e conseguiu a proeza de aumentar o faturamento e internacionalizar a empresa sem fazer a marca, que é centenária, perder a identidade. Esta edição tem também a surfista Tatiana Weston-Webb, uma gaúcha criada no Havaí que está entre as cinco melhores no ranking mundial. E como a PODER não é exclusivista, o deputado federal mineiro André Janones, que neutralizou a artilharia digital de Jair Bolsonaro e se tornou um dos responsáveis pela vitória eleitoral de Lula, está aqui. E tem quem se destacou em 2022 e a receita de felicidade de gente elegante, fina e sincera como Ana Couto, Beatriz Milhazes, Sidarta Ribeiro e Marcio Kogan. E para sonhar, que sonhar é preciso, um Portugal, com o perdão da redundância, de sonho; e uma seleção top de veleiros para fugir da terra firme. Tem mais gente, tem mais coisa. Sempre tem mais em PODER. Sempre tem diferente. Um 2023 de respeito para nós.

PODER EDITORIAL REVISTAPODER.COM.BR

“UMA OUSADA OFER T A DO MA I S N OVO RES I DE N C I AL DE LU X O À VE N DA ”

Amenidades de Luxo

2 e 3 dormitórios

48 res i dê n c i as para ve n d a , i mpecavelme nt e proje t adas , local iz adas n a base da p i s t a de esqu i em um empree n d i me nt o comple t ame nt e n ovo d e Aspe n S n o w mass . A t ão aguardada co ntin uação do prem i ado V i cero y S n o w mass . Aqu i, o s propr i e t ár i os e n co nt ram pessoa s com int eresses comu n s , fam í l i as de v i aja nt es es t ra n ge i ros e x per i e nt es em u m ce n ár i o v i bra nt e para desfru t ar de t udo o que Aspe n S n o w mass t em a oferecer .

— The Explorer
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TERERÉ

Se quiserem progredir na vida política, as senadoras do Mato Grosso do Sul SIMONE TEBET e SORAYA THRONICKE terão provavelmente de mudar de domicílio eleitoral. Como os demais estados do Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul segue como bastião bolsonarista e pode não dar novos mandatos às senadoras. Durante a campanha, um restaurante em Campo Grande de parentes da “Bolsonara”, como Soraya foi chamada por Simone em ato falho durante um dos debates presidenciais, chegou a ser atacado.

EU EXISTO

O prefeito de São Paulo, RICARDO NUNES , está todo prosa desde que a ideia da tarifa zero de ônibus na capital paulista ganhou envergadura. Outrora sisudo e sempre em desacordo com as ideias de seu marqueteiro, Felipe Soutello, ele agora até já fala em minirreforma do secretariado. Nunes sabe que suas chances de reeleição aumentam exponencialmente se conseguir a gratuidade, algo que a ex-prefeita Luiza Erundina tentou mas ficou a ver navios quando prefeita no fim dos anos 1980.

TRAÇO DE UNIÃO

A Covid, veja só, uniu XI JINPING e JAIR BOLSONARO. Na China, os lockdowns foram tão severos desde a eclosão da pandemia que a população decidiu sair às ruas contra as medidas. E, assim como Jair Bolsonaro ao terceirizar sua inação para o STF e para os governadores, o líder chinês chegou a falar que a culpa pelas restrições de circulação não era dele, mas dos chefes locais.

6 PODER

HONRA AO MÉRITO

A expressão “perdeu, mané”, dita por Luís Roberto Barroso a manifestantes em Nova York, em evento do Lide em que o juiz participou com colegas do STF, se popularizou e volta e meia aparece no Twitter. O senador RANDOLFE RODRIGUES foi um dos que a adotou. Junto ao “chama o VAR”, é uma das candidatas a figurar em nove de dez bloquinhos de Carnaval deste ano.

BALACLAVA

Presidente do conselho da Porto Seguro, BRUNO GARFINKEL, neto do fundador da seguradora, terminou 2022 em clima de fortes emoções –esportivas: antes mesmo da Copa ele acertou patrocínio da Porto Seguro para a equipe de F-1 Aston Martin. O time tem agora como piloto o brasileiro Felipe Drugovich, campeão mundial de F-2 de 2022. Desde 2020 não havia brasileiros na principal categoria do automobilismo mundial.

DONO DA BOLA

Foi mais fácil do que se esperava. A adesão dos partidos que dão sustentação a LULA e Geraldo Alckmin, PT e PSB, à reeeleição de ARTHUR LIRA à presidência da Câmara veio ainda em novembro, cerca de 45 dias antes da eleição da casa. Lula, pragmático, viu que não seria possível medir forças com o deputado alagoano, que se fortaleceu com as emendas impositivas do chamado orçamento secreto. O inimigo de Lira passou a ser o STF, que levou o tema a votação dias antes do recesso de verão.

HUB

Com a visibilidade da viagem de Lula à COP27, no Egito, de “carona” no jatinho de José Serapieri Filho, o tema ganhou a opinião pública no fim de 2022. Mas nem todos sabem que esses jatinhos privados, quando registrados no exterior, não têm direito a fazer voos domésticos pelo Brasil. A questão é contornada pelos felizes proprietários de uma maneira engenhosa. Numa viagem

PODER 7
GETTY
POZZEBOM/AGÊNCIA
FOTOS
IMAGENS; DIVULGAÇÃO; MARCELO CAMARGO; ROVENA ROSA; VALTER CAMPANATO; FÁBIO RODRIGUES
BRASIL

Nós temos de falar em nome daqueles que não podem falar por eles mesmos

3 PERGUNTAS PARA...

FABIO ALPEROWITCH

Fundador da corretora Fama Investimentos, pioneira no mercado financeiro brasileiro na construção de portfólios de empresas com preocupação socioambiental

DE MEADOS DE 2021, QUANDO HOUVE UM BOOM DE PRODUTOS ESG SENDO LANÇADOS, PARA CÁ, O QUE ACONTECEU NO MERCADO?

Aquela onda de 2020/2021 era muito mais de lançamento de produtos do que de demanda. O Brasil, diferentemente do mercado europeu, está muito atrasado nessa visão de responsabilidade socioambiental. E desde então algumas coisas atrapalharam o cenário, a guerra na Ucrânia [que estimulou novamente o uso sem cerimônia de combustível fóssil], o mercado internacional ruim, a bagunça política do Brasil. Aqueles lançamentos [ESG] acabaram encontrando menos apetite do investidor daqui. Não vejo o brasileiro indo por esse caminho, ele vem mais dos chamados “assets

owners”, os detentores de ativos, como os fundos de pensão.

ESSE CENÁRIO DE POUCA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL SE REFLETE ENTRE AS EMPRESAS? PORQUE VEMOS MUITAS COMUNICANDO ESFORÇOS DE BUSCA DE NEUTRALIDADE DE EMISSÕES DE CARBONO, POR EXEMPLO. Acho que há várias empresas que tratam essa agenda de forma séria, não dá para generalizar. O Brasil é um pais de 210 milhões de habitantes, há companhias de vários tamanhos. Essa agenda começa com empresas líderes, mas vejo que a temática perdeu um pouco do ímpeto.

A PERSPECTIVA DO GOVERNO LULA E SEU DISCURSO NA COP27 DÃO NOVO ALENTO À AGENDA SOCIOAMBIENTAL?

Acho que o Brasil se reinseriu como protagonista de um assunto que andava completamente marginalizado e com isso vieram as expectativas, que já estão bastante elevadas. Acredita-se numa mudança grande com esse novo governo na questão ambiental, no combate ao desmatamento, no tratamento dos povos originários. Se [Lula] não entregar, vai haver frustração. O tema não veio numa crescente, Lula matou no peito, disse que a questão ambiental será foco.

SALDÃO

Mesmo com as demissões numerosas e à granel entre as principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos, notadamente Amazon, Meta e Twitter, a média das demissões no país seguiu baixa, em torno de 1% por mês em 2022. É um número inferior ao do início da pandemia. A percepção de que a economia – ou a nova economia – dos Estados Unidos está na maré baixa por conta da taxa alta de inflação e da recessão iminente é exacerbada pelo fato desses cortes brutais terem sido feito nas companhias mais sexies dos últimos tempos.

X”

TUDO É DIVINO

Uma viagem à Itália tendo como inspiração os passos de Dante Alighieri e de sua obra maxima A Divina Comédia: é isso o que propõe o historiador e professor da Unifesp DANTE GALLIAN, que cria esse tipo de experiência para alunos-viajantes ao longo do itinerário com laboratórios noturnos de leitura. Seria difícil Gallian achar lugares mais inspirados para suas jornadas: Siena, Bolonha, Pisa, Ravenna, Florença – com um pequeno mergulho na Galeria Uffizi – e hospedagens rurais em meio a vinhedos premiados. A viagem ocorre em maio e a procura já está grande.

ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

CURTIR IN LOCO o jazz cubano no Jazz Plaza Festival, em Havana, e também em Santiago de Cuba. A détente com os Estados Unidos e a lenta modernização do regime vão adicionando mais features de padrão internacional a Cuba. O festival acontece de 22 a 29 de janeiro

DELICIAR-SE com a visão dos artistas das missões estrangeiras que retrataram o Rio de Janeiro ao longo do século 19. No Rio, a linda Chácara do Céu, em Santa Teresa, tem visões de Taunay, Dampier e Facchinetti, que se misturam às famosas gravuras de Debret e Rugendas. Em São Paulo, a Fundação Maria Luísa e Oscar Americano também expõe vistas do Rio. Os dois museus ainda contam com jardins magníficos. No Rio, o “plus” é a vista panorâmica da cidade; em São Paulo, a reserva particular de Mata Atlântica

CONHECER um dos “hot spots” mundiais da vida outside, o parque de Torres del Paine, na Patagônia, no Chile. A expedição à base dos picos gêmeos pode se dar num único dia, mas há quem prefira circundar toda a região, em tours que podem durar até uma

semana. O verão é a melhor época para caminhar e cavalgar na região. O Tierra Patagonia Hotel, com visão espetacular dos picos, é o lugar a ficar

REVER os quadros da fase negra de Goya, destaque máximo da venerável coleção do Museo del Prado, em Madri. Como o Prado tem escala humana, para alegria dos mais flanêurs, não é necessário fazer planejamento de visita

CONHECER o Ayya Jardins, novo empreendimento da Construtora SKR. Assinado pelo escritório de arquitetura Andrade Morettin, o projeto resgata a sofisticação dos Jardins e a natureza em seu estado absoluto

ASSISTIR a uma roda de samba no Bip-Bip, em Copacabana, um dos “venues” clássicos do gênero no Brasil. As mesas são exclusivas dos músicos, mas os habitués não se importam absolutamente com isso. Também não há garçons, o que significa que a cerveja é o freguês que pega na geladeira

REDUZIR a própria pegada de carbono trocando as viagens diárias de car-

ro por um ou dois dias por semana de jornadas a pé, transporte público ou, melhor ainda, de bicicleta elétrica

TRANSFORMAR em realidade o sempre adiado projeto de passar os fins de semana – todos ou a maior parte deles – fora de casa. As férias de verão são só o começo

ASSINAR a temporada 2023 da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, cuja sala de concertos, a Sala São Paulo, na antiga estação ferroviária Júlio Prestes, é um dos mais vibrantes projetos arquitetônicos das últimas décadas da capital paulistana. Sob regência e direção musical de Thierry Fischer, a orquestra levará no ano a Terceira, de Mahler, e a Danação de Fausto, de Berlioz, entre tantos outros concertos

ESCOLHER um dos livros da lista dos dez melhores do ano do New York Times para começar bem o ano. Um deles é o de Ed Yong, An Immense World: How

Animal Senses Reveal the Hidden Realms Around Us, que revela quão longe vai a sensibilidade dos animais, e Trust, de Hernan Diaz, autor em que os resenhistas veem ecos de Henry James e Jorge Luis Borges, estão entre eles

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FOTOS DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; UNSPLASH; MUSEO DEL PRADO; THEREZA PEREIRA
HOMBERG/DIVULGAÇÃO; COM REPORTAGEM DE PAULO VIEIRA
GALLIAN; ALANA

FURACÃO CAROLINA

Com uma energia inesgotável, conhecimento de mercado e ousadia, Carol Burg está revolucionando o segmento imobiliário de luxo em São Paulo com a JFL Realty.

Como? Alugando apartamentos de alto padrão para quem quer morar muito bempelo tempo que for

10 PODER NON-STOP
POR MÁRCIA ROCHA FOTOS IGOR KALINOUSKI

Compramos

o primeiro edifício em construção e fizemos algumas adaptações na planta para que os apartamentos tivessem a cara que a gente queria. Foi meio que um laboratório

12 PODER

Para entender um pouco como funciona a cabeça de Carolina Burg Terpins, a Carol, vale pensar nela como uma típica representante da Geração Y ou millennial, que nasceu do início da década de 1980 até meados de 1990 e sacudiu o mercado de trabalho assim que pisou nele. Aos 43 anos, essa paulistana da gema tem características típicas de sua geração: é inquieta; impaciente quando as coisas não saem como planejadas; e superfocada no trabalho, desde que ele esteja alinhado com o que pensa para sua vida e sua carreira. Não que as gerações anteriores não tenham esses traços – o caso é que eles são mais evidentes nos profissionais da Geração Y. Os 50+, por exemplo, eram capazes de passar anos trabalhando na mesma empresa, mesmo quando suas funções não estivessem mais fazendo sentido para eles. Isso porque a estabilidade profissional era parte importante de uma carreira de sucesso.

No caso de Carol, foram justamente a inquietação e a coragem para executar os próprios planos que a levaram a deixar um cargo de executiva no Banco Brasil Plural e fundar a gestora de ativos imobiliários JFL Realty com Jorge Felipe Lemann, filho do megainvestidor Jorge Paulo Lemann. O nome da empresa, aliás, é formado pelas letras iniciais do nome e sobrenome do sócio-investidor. A JFL Realty atua no mercado profissional de imóveis residenciais para renda – no caso, estamos falando de imóveis de alto padrão. “Nessa área, a empresa é dona do empreendimento imobiliário residencial e o disponibiliza apenas para locação. A JFL faz parte desse mercado no Brasil e foi uma das primeiras a entender e a desbravar esse setor”, explica Robinson Silva, sócio-diretor do Global Real Estate Institute (GRI), clube de networking fundado no fim dos anos 1990, em Londres, que reúnde altos executivos dos setores imobiliário e de infraestrutura no mundo, e está no Brasil desde 2010.

Os apartamentos da JFL, todos de alto padrão, são locados por pessoas que, por motivos profissionais ou pessoais, precisam morar determinado tempo na cidade (no caso, São Paulo), mas não querem se sentir como hóspedes, de um hotel ou mesmo de um flat. A empresa, que aposta no conceito long stay, oferecendo um período mínimo de locação de um mês, tem vários inquilinos que decidiram morar no imóvel de vez. “A maioria dos nossos contratos, aliás, é desse tipo. Gente que gosta tanto da experiência que resolve ficar no apartamento”, explica Carol.

De 2015, ano em que a empresa foi fundada, para cá, já são 11 empreendimentos – entre prédios que já têm moradores, edifícios em construção e terrenos. Todos localizados em pontos estratégicos da capital paulista

– bairros como Jardins, Itaim, Vila Olímpia e Pinheiros, que são próximos de grandes centros financeiros. Paralelamente à fundação da JFL Realty, veio também a questão de como seria feita a gestão dos prédios. “Nossa ideia era não só oferecer imóveis de alto padrão, mas também uma experiência diferenciada de morar e, para isso, não fazia sentido deixar a gestão nas mãos de outra empresa”, diz Carol. Foi assim que nasceu a JFL Living, que gere o dia a dia dos prédios e acabou se tornando o principal negócio da empresa. Atualmente, são 612 apartamentos de 36 m2 a 431 m2 de área, totalmente decorados e equipados com eletrodomésticos, louças, talheres e artigos de cama, mesa e banho, além de facilidades como serviço de café da manhã, lavanderia, piscina e academia. Ou seja: basta abrir a porta para se sentir em casa.

Carol desconversa sobre números e prefere usar outra métrica para mostrar o crescimento da JFL Living: a quantidade de empreendimentos até hoje. São 11, ou seja, mais de um por ano desde a fundação da empresa. Os aluguéis variam de R$ 8 mil a R$ 100 mil, valor que o locatário da cobertura de um dos prédios desembolsa todo mês.

Os negócios vão muito bem, obrigado, mas ainda há muito chão pela frente e os passos têm sido largos e rápidos. Um exemplo recente é que pouco antes da última conversa com a PODER (foram duas entrevistas realizadas entre novembro e dezembro), Carol estava em reunião com um grande banco brasileiro para fechar um crédito de R$ 1 bilhão – que conseguiu. “No início, a gente tinha muito mais dificuldade porque o mercado não conhecia a empresa e, menos ainda, nosso tipo de negócio”, pontua.

O sucesso da JFL Living também é impulsionado por uma mudança de comportamento, já que, para as gerações atuais, comprar um imóvel se tornou menos relevante do que há duas ou três décadas. “Os empreendimentos imo-

PODER 13

ONE OF THE GUYS

Carol foi forjada em um mercado eminentemente masculino: o financeiro. “Na área em que eu trabalhava, todos os meus chefes e colegas eram homens”, lembra. Até ser aceita, conta que foi testada de todos os jeitos, não só profissionalmente, mas também com piadinhas e comentários machistas, que ouvia o tempo todo. “Na happy hour, por exemplo, era como se eu não estivesse presente.” Ela também se recorda de uma vez, durante a revelação do amigo secreto na empresa, em que foi definida desta forma: “Ela é o único homem de seu setor”. E, como tantas outras mulheres, Carol sofreu assédio sexual no ambiente de trabalho. “Foi de um colega que tinha acabado de ser promovido. Acabei pedindo demissão.”

No seu tempo de mercado financeiro, ia trabalhar de óculos para parecer mais velha e não usava saia para não destoar do dress code. “Para mim, isso era natural, já que não conhecia outros ambientes e vivia para o trabalho.” Influenciada pela misoginia reinante, confessa que tinha preconceito profissional em relação às mulheres. Nada a ver com a Carol de hoje, que tem várias funcionárias em sua equipe e diz que as mulheres prestam mais atenção aos detalhes, algo fundamental em uma empresa como a JFL Living. “Claro que não contrato pensando nisso, mas, na maioria das entrevistas que fizemos, as candidatas eram mais competentes.”

biliários para locação são uma tendência e os investidores e incorporadores passaram a enxergá-los como um filão promissor”, diz Robinson, do GRI.

UMA IDEIA NA CABEÇA

Em 2012, três anos antes de fundar a JFL Realty, Carol trabalhava no Banco Brasil Plural à frente da área de mercado imobiliário – ou de real estate, para usar o jargão do setor financeiro. Foi lá que ela conheceu Jorge Felipe Lemann, o Pipo. “Na época, a corretora dele, a Flow, havia se fundido com o banco e o Pipo se tornou um dos maiores acionistas, além de CEO da corretora dentro do Brasil Plural. Por conta do trabalho, acabamos nos tornando amigos.”

Na ocasião, Carol tinha grandes empresas do mercado imobiliário em sua carteira de clientes – caso da Cyrela, da Brookfield e da Vitacon, entre outros. Para comandar uma área como a dela, são escolhidos profissionais com profundo conhecimento do mercado financeiro, experiência que Carol adquiriu nas empresas em que trabalhou antes, como Citibank, Braskem e Alcoa. Cabia a ela pensar, a

14 PODER

partir de uma análise criteriosa do cenário econômico, em soluções rentáveis para os clientes – o que podia ser desde sugestões para adquirir ou construir imóveis ou fazer um IPO, por exemplo. Seu setor era focado em fee business, área de assessoria financeira em que o banco presta serviço para o cliente, normalmente sem alocação de capital próprio, e ganha de acordo com o sucesso da transação. Em uma dessas vezes, uma das construtoras que Carol atendia precisava captar dinheiro e a construção de um prédio estava entre as soluções propostas por ela e sua equipe. “A ideia era vender o edifício inteiro de uma só vez, não comercializar apartamento por apartamento”, conta. Isso aconteceu entre 2012 e 2013, mesma época em que Carol começou a viajar com frequência para os Estados Unidos a fim de estudar o mercado imobiliário. Uma de suas primeiras constatações durante essas viagens foi a alta segmentação. O Equity International, por exemplo, que é um dos maiores fundos de investimentos do mundo para empresas de construção, incorporação e gestão imobiliária, tem áreas separadas para atender os mercados corporativo e residencial. “Para se ter uma ideia, existem nichos específicos para estudantes, aposentados e até para motorhomes, em que o dono do veículo compra o terreno em que vai estacioná-lo.”

DE FUNCIONÁRIA A EMPRESÁRIA

Em 2013, o mercado imobiliário mundial e nacional ainda sofria os efeitos da crise econômica de 2008. “O Pipo havia saído do banco para tirar um ano sabático e eu já tinha percebido que o fee business não era um negócio rentável naquele momento.” Ela, então, sugeriu um trabalho mais direcionado para o private equity, ou seja, que o banco investisse nas empresas. “O Pipo e outros membros do board me apoiaram, mas o Brasil Plural era focado no fee business.”

Como a situação não se resolvia, Carol se desligou da empresa no fim de 2014 e abriu a JFL Realty no ano seguinte. “A princípio, nossa ideia era fazer tudo no banco, pois estávamos enxergando uma demanda no mercado e, ao mesmo tempo, uma falta de players. Internamente não voou. Então, decidimos fazer fora”, lembra Jorge Felipe Lemann, sócio-investidor da JFL Realty.

No início, eram apenas ela e Jorge Felipe e os dois ocupavam uma sala no escritório de um advogado amigo de Carol. O tempo passou e, atualmente, a JFL conta com cerca de 200 funcionários. A primeira aquisição, um terreno na avenida Rebouças comprado em 2015 e onde foi construído o JFL 125, que será inaugurado em janeiro e que também vai abrigar o novo escritório da empresa.

O primeiro edifício JFL Living a entrar em operação foi o V House, que fica na avenida Eusébio Matoso. “Compramos o prédio em construção e fizemos algumas adaptações na planta para que os apartamentos tivessem a cara que a gente queria. Foi meio que um laboratório para nós”, conta Carol.

Não há dúvida que o estilo mão na massa da empresária é uma característica de sua personalidade, mas ela diz que, no início, ser assim era premissa para fazer a empresa crescer – e que todo mundo precisava agir dessa forma. Até hoje, Carol mantém esse comportamento, mesmo que isso não seja mais tão necessário. Assim, ela presta atenção em absolutamente tudo, da movimentação financeira aos pisos e objetos de decoração que serão colocados em cada apartamento. Também acompanha de perto as pesquisas feitas entre os moradores para saber o que eles valorizam. “Em uma dessas vezes, tivemos uma surpresa ao descobrir que as máquinas de café faziam menos sucesso do que a gente imaginava”, revela.

O setor em que a JFL Living atua ainda é novo no Brasil, mas os concorrentes estão chegando e já foram anunciadas joint ventures entre investidores e incorpo-

PODER 15
A Carol tem duas grandes qualidades: capacidade de execução singular e habilidade de iniciar negócios”
Jorge Felipe Lemann , sócio-investidor JFL Realty
FOTOS DIVULGAÇÃO
16 PODER

radoras interessados nesse nicho: caso da Cyrela com os fundos Great Star e CPP Investments; dos fundos Hines e Ivanhoe Cambridge, que vão investir cerca de R$ 750 milhões em alguns projetos em São Paulo; e do fundo canadense Brookfield, que assinou um contrato bilionário com a Luggo, empresa da construtora MRV. “De cinco anos para cá, grandes investidores começaram a olhar o segmento com mais interesse”, conta Robinson.

Carol diz que a JFL Living ainda não tem concorrentes “porque outras empresas não fazem o que nós fazemos”, mas tem concorrência. Um exemplo disso, segundo ela, é um cliente alugar um apartamento da Housi, que é um braço da Vitacon, em vez de ficar em um dos prédios da JFL Living. “Eles trabalham no esquema short stay, mas, como nossos aluguéis são mais altos, pode acontecer de alguém optar por morar nos apartamentos da Housi durante mais tempo”, explica. Seguindo o mesmo raciocínio, o Airbnb também pode fazer concorrência para a JFL Living em determinadas situações. Como Carol não perde tempo, claro que os próximos passos já estão planejados e incluem um IPO, além de empreendimentos em outras praças. Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília e Porto Alegre estão no mapa de expansão da empresa.

BOA DE PAPO E DE NÚMEROS

Carol tem um irmão mais novo – e outros quatro da nova família que seu pai constituiu depois que se separou de sua mãe. Pouco antes de prestar o vestibular, já tinha em mente cursar Direito e economia – áreas complementares, na sua

MERCADO EM EXPANSÃO

O segmento profissional de residencial para renda é um dos maiores do mercado imobiliário americano –e muito antigo também. “No Brasil, esse setor começou a nascer informalmente depois da lei do inquilinato, em 1991”, conta Robinson, do GRI. Segundo ele, o Brasil tem uma peculiaridade: a grande maioria dos imóveis residenciais para locação ainda é de propriedade de pessoas físicas e de pequenos investidores que compram um, dois ou mais imóveis e os colocam para locação. Robinson diz que o mercado profissional de residencial para renda tem cerca de cinco anos. Nesse segmento, um investidor ou um incorporador compra um terreno, desenvolve o projeto do zero, e não vende o empreendimento. A receita vem da locação do imóvel. “No futuro, claro, a valorização do empreendimento também entra na equação e pode virar uma oportunidade de negócio. Mas o grande impulsionador desse tipo de investimento é o aluguel residencial”, explica.

SOPA DE LETRINHAS

Atualmente, a JFL Living tem 652 apartamentos para locação distribuídos em cinco prédios da empresa em São Paulo. Ano que vem, outros três edifícios vão entrar em operação, fazendo o total de apartamentos subir para 912 unidades.

- VHouse

- VO699

- JML747

- GO850

- JFL125

visão. Ela se formou em economia pela Faap, em São Paulo, e chegou a se matricular no curso de Direito da PUC. “Para segurar a vaga porque queria mesmo era entrar na São Francisco”, lembra. No fim, não fez nem PUC nem USP, pois começou a trabalhar e, além da falta de tempo, achava que aprendia muito mais como estagiária do Citibank.

Aliás, em se tratando de aprendizado, considera a Braskem uma de suas grandes escolas, já que a empresa lhe descortinou um mundo de possibilidades. “Eu trabalhava na área de risco e tinha muita autonomia.” Aproveitou o espaço para abrir frentes e interagir com colegas de outros setores – desenvoltura que, algum tempo depois, se revelou muito útil para seu próximo passo na carreira: a área de relações institucionais. “Me tornei uma megavendedora e muito competente na área. Sabe por quê? Porque eu tinha uma base técnica muito sólida e descobri que também era boa de relacionamento”, afirma.

Como na vida dela é tudo na base do tudo ao mesmo tempo agora, não foi diferente na hora de construir sua própria família. Thomas, seu único filho, nasceu em 2017, ou seja, quando Carol estava se virando em mil para fazer a JFL Living decolar. “O Ricardo sempre me apoiou, me dando cobertura quando eu precisava ficar ausente por conta do trabalho”, diz, falando sobre o marido, Ricardo Terpins, dono da BLTT Seguros, que é voltada para o público AAA.

E, enquanto a pandemia bagunçou a vida e os negócios de muita gente, para Carol o isolamento ajudou. “Como trabalhava em casa, pude ficar mais perto do Thomas”, comenta. E, segundo ela, a JFL Living foi de vento em popa durante o período. “A gente cresceu e lançou alguns empreendimentos. Afinal, fazer as pessoas se sentirem bem no lugar onde moram é exatamente a razão de ser da empresa”, finaliza. n

PODER 17

SHOPPINGS INVESTEM EM EXPERIÊNCIAS PARA CRESCER DEPOIS DA PANDEMIA

Muito mais do que oferecer produtos variados e de alto padrão para clientes que querem fazer compras, esses estabelecimentos estão se tornando verdadeiros centros de entretenimento

Os shoppings centers estão diversificando sua oferta de produtos, serviços e experiências para continuar crescendo depois da pandemia. Eventos, exposições de arte, alta gastronomia e o compromisso com grandes grifes fazem parte das estratégias do setor, que está ressurgindo com força.

O faturamento global, descontada a inflação, subiu 18% em relação a 2021, em um total de R$ 202 bilhões. Já a abertura de novas lojas cresceu 23% no segundo semestre de 2022. Os dados são da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Segundo a entidade, a recuperação das vendas

que estava prevista para ocorrer entre cinco e seis anos, deve acontecer em apenas dois. Pesam nesses números a disposição em oferecer experiências únicas para os clientes, principalmente no que já é especialidade das unidades, como moda, gastronomia, entretenimento, lazer – e agora também eventos, arte e cultura.

ALÉM DE COMPRAR

Um dos expoentes do setor e um dos maiores shoppings do Brasil, o JK Iguatemi é um bom exemplo desse momento de expansão. Desde que foi aberto, há dez anos, tornou-se referên-

cia de centro de compras e de experiências na cidade de São Paulo. Parte do apelo, especialmente na fase pós-pandemia, foi oferecer aos clientes mais que oportunidades de compra. Como apontam analistas do mercado, o e-commerce avançou tanto que hoje é preciso preferir ir até a loja física. E isso se faz tanto investindo em opções cada vez mais exclusivas quanto criando novas razões para que o cliente se desloque até o shopping.

No JK há três áreas dedicadas para eventos de diversos tipos. O Espaço JK fica no interior do shopping, assim como o Lounge One, com acesso a li-

vros, revistas, estações de trabalho e salas de reunião para clientes VIP. Já no terraço, o Cubo JK é um espaço cercado por jardins que pode ser modificado para receber palestras, conferências, festas e jantares. Também no rooftop fica o Apartamento JK, área de 360 m² criada para abrigar eventos.

A transformação dos espaços de consumo em lugares também de experiências, outra estratégia atual dos shoppings, é parte do apelo do JK Iguatemi desde o início. Parceiro da Pinacoteca de São Paulo há oito anos, o JK Iguatemi também se destaca como espaço artsy. Há, ainda, o projeto Art Program que seleciona, a partir de curadoria interna e de especialistas em arte, obras para o seu acervo. Nos Pisos 1 e 2 são expostos, em temporadas, trabalhos de artistas contemporâneos. Já foram mais de 30 artistas.

CINEMA, JANTAR E COMPRAS

Já os filmes na telona, atração mais associada aos shoppings, são exibidos na Cinépolis, complexo com oito salas, eleito por cinco vezes o melhor cinema do Brasil pela Folha de S.Paulo. O complexo conta com uma sala IMAX, uma 4DX (com direito a cheiros, rajadas de vento e poltronas que se movimentam de acordo com o filme) e seis salas VIP onde é possível pedir lanches, petiscos e bebidas.

A gastronomia é outro atrativo dos shoppings. O JK Iguatemi tem diversos restaurantes em espaços próprios: Ráscal, Almanara, Forneria San Paolo, Varanda, Ici Brasserie, Spot, Kitchin e Fahrenheit. As opções de cafés e de doces, que incluem Bacio Di Latte, Boulangerie Carioca, Café Habitual, Confeitaria DAMA, Dengo, Freddo, Le Pain Quotidien, Talchá, Pati Piva e Starbucks, agora contam com a casa francesa Isabela Akkari, de doces artesanais. Em 2022, o JK Iguatemi recebeu também o La Serena, sofisticado restaurante que traz o clima da Riviera italiana para seus clientes.

E, mesmo com o investimento em

outros atrativos, não é possível negligenciar o core business dos espaços: as lojas. “Lembro que a inauguração do JK Iguatemi foi um marco para o setor. Mais de 50 marcas internacionais chegaram ao país por conta do empreendimento e, desde então, nos tornamos uma das principais vitrines de moda do Brasil e uma referência como porta de entrada para essas grifes”, conta Cristina Betts, CEO da Iguatemi. Hoje, a unidade conta com 194 lojas. Grifes internacionais como Balenciaga, Golden Goose, Maison Burgues e Moncler foram trazidas exclusivamente para o shopping, onde dividem espaço com BVLGARI, Van Cleef & Arpels, Bottega Veneta, Hugo Boss,

Diversão high tech

Uma das salas VIP da Cinépolis é a primeira com uma tela LED do Brasil e a terceira da América Latina. Produzida pela Samsung, a Onyx tem 455 polegadas, resolução 4K e luminosidade dez vezes maior que a das projeções normais. Em outra sala do complexo, um projetor laser fabricado pela empresa belga Barco melhora a qualidade da imagem em relação aos equipamentos convencionais emitindo mais luz em direção à tela. No mesmo espaço, poltronas lounge reclinam para simular a sensação de um confortável sofá de casa.

Lacoste, L’Occitane, Miu Miu, Chanel, Carolina Herrera, Dolce & Gabbana, Gucci, M.A.C, Missoni, Prada, Swarovski e Salvatore Ferragamo, entre outras marcas estrangeiras. Foi no JK que a rede francesa Sephora abriu sua primeira loja no Brasil. Os corredores do shopping também abrigam prestigiadas marcas nacionais como Água de Coco, Animale, H. Stern, John John Denim e Loungerie. Somente no segmento de calçados, roupas e acessórios, são 72 estabelecimentos. “Pensamos em cada detalhe para criar um espaço capaz de promover uma experiência única. Assim, os clientes aproveitam e resolvem a vida, ao mesmo tempo em que cruzam com arte e design em nossos corredores”, afirma Cristina.

PODER INDICA FOTOS DIVULGAÇÃO

AGENTES DA MUDANÇA

O Brasil enfrentou mais um ano difícil e desafiador, mas gente que acredita na força do país se manteve aguerrida, deixando sua marca.

Da política ao meio ambiente, da economia à educação, a favor do planeta e por mais diversidade e inclusão, veja como lutou e quem foi inspiração neste ano que passou

Paula Lavigne

A empresária, produtora e ativista política teve um papel importante na vitória de Lula à Presidência. Ela uniu a classe artística em um movimento pró-Lula por meio de eventos, reuniões e ações nas redes sociais.

Tarcísio de Freitas

Governador eleito de São Paulo (Republicanos)

Engenheiro de formação militar, o ex-ministro da Infraestrutura venceu no segundo turno a disputa pelo governo de São Paulo. Além da atuação no governo Bolsonaro, ele atuou na Controladoria-Geral da União (CGU) e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Além disso, foi secretário da Coordenação de Projetos da Secretaria Especial do Programa de Parcerias e Investimentos (SPPI), responsável pelo programa de privatizações, concessões e desestatizações, no governo Temer.

Simone Tebet

Senadora por Mato Grosso do Sul (MDB)

Uma das grandes revelações das eleições presidenciais deste ano, Simone amealhou 4,9 milhões de votos na corrida pelo Planalto. No segundo turno, tornou-se o principal cabo eleitoral de Lula e figura feminina de maior destaque da campanha.

22 PODER
CAROLINE MARINO
POR
POLÍTICA
POLÍTICA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA IMPACTO SOCIAL EDUCAÇÃO CULTURA ESG
DESTAQUES

Margareth Menezes

Cantora e compositora premiada, já foi considerada pelo jornal Los Angeles Times a “Aretha Franklin brasileira” e, a partir de 2023, assume o Ministério da Cultura no governo Lula, com a responsabilidade de reconstruir uma área que sofreu um desmonte na gestão Bolsonaro.

Raquel, que será a primeira governadora de Pernambuco, tem raízes na política. É filha de João Lyra Neto, ex-prefeito de Caruaru e ex-governador de Pernambuco; neta de João Lyra Filho, ex-prefeito de Caruaru; e sobrinha de Fernando Lyra, ex-ministro da Justiça. Num caminho natural, entrou oficialmente no meio em 2010 com a candidatura à deputada estadual e a conquista da maior votação entre as mulheres do estado pernambucano.

Erika Hilton

Deputada federal eleita (Psol)

Primeira mulher trans eleita pelo Estado de São Paulo para a Câmara dos Deputados. Ativista, tem como bandeiras a luta por equidade para a população negra, o combate à discriminação contra a comunidade LGBTQIA+ e a valorização das iniciativas culturais jovens e periféricas. Com 256.903 votos, ela pretende aumentar os debates sobre esses temas e combater o racismo e a homofobia no Congresso Nacional.

João Abreu

Cofundador e diretor executivo da Impulso Gov Economista formado pela Universidade de São Paulo e mestre em administração pública e desenvolvimento internacional pela Kennedy School of Government, de Harvard, João é cofundador e diretor-executivo da Impulso Gov, que não tem fins lucrativos e trabalha para impulsionar o uso inteligente de dados e tecnologia no SUS. A ideia é ajudar os profissionais da rede a ter acesso às informações e ferramentas necessárias para agir de maneira preventiva e resolutiva. João acredita que o maior desafio não é inovar e ter ideias, mas conseguir ressignificá-las na direção certa, para melhorar a vida das pessoas.

Geraldo Alckmin

Médico e ex-governador do Estado de São Paulo foi de rival a aliado de Lula, sendo considerado um “trunfo” na busca pelo voto do centro. O vice-presidente eleito em 2022 foi o responsável pela transição entre os governos.

PODER 23 FOTOS WILSON
DIAS/AGÊNCIA BRASIL; STF; TF10 CAMPANHA; ARQUIVO GLAMURAMA; DIVULGAÇÃO; FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL
POLÍTICA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

Juliane Sempionatto

Pesquisadora do Instituto de Tecnologia da Califórnia

O sensor portátil criado por Juliane registra a pressão arterial e outras informações sobre a circulação para melhorar a qualidade de vida e prevenir doenças cardíacas a baixo custo. Julianne está no Innovators Under 35 Latam 2022, do MIT.

Gilson Rodrigues

Presidente G10 Favelas

O G10 é um bloco que reúne líderes e empreendedores de impacto social para atuar nas dez maiores favelas do país. Com a aceleradora de negócios G10 Hub, a ideia é mostrar a potência das favelas e de seus moradores para a economia do país.

Rodrigo Salvador

Fundador do Passei Direto

A edtech de Rodrigo é a maior rede de estudos e compartilhamento de conteúdo do Brasil. São mais de 23 milhões de usuários e cerca de 10 milhões de materiais em mais de 20 mil disciplinas diferentes. Foi vendida em 2021 para o UOL. Ele também faz parte do Innovators Under 35 Latam 2022 do MIT.

Eduardo Lyra

Fundador

Gerando Falcões

Bem relacionado e com parceiros de peso no mundo empresarial, Edu criou a Gerando Falcões para acabar com a pobreza nas favelas brasileiras.

Renato Meirelles

Fundador Instituto

Locomotiva e Data Favela

Aos 16 anos, trocou a escola particular pela pública e morava em bairros pobres e favelas para conhecer outras realidades. Começou, então, a pesquisar os hábitos de quem vive em comunidades e criou o Instituto Locomotiva e o Data Favela para entender as pessoas por trás dos números.

Padre Júlio Lancellotti

Considerado a referência do catolicismo, a coragem de Padre Júlio para ajudar os menos favorecidos não tem limites. Em 2022, foi eleito o intelectual brasileiro do ano, Prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores.

INOVAÇÃO E TECNOLOGIA IMPACTO SOCIAL
FOTOS ARQUIVO PESSOAL; DIVULGAÇÃO; MIKAEL SCHUMACHER; MÁRIO BOCK/DIVULGAÇÃO; MARCOS SANTOS/FMUSP; ROBERTO SETTON

Liliane Rocha

CEO Gestão Kairós, consultoria de Sustentabilidade e Diversidade, e conselheira Ambev

Seu foco é tornar a inclusão uma pauta estratégica para os negócios, Liliane foi eleita uma das 50 Mulheres de Impacto da América Latina pela Bloomberg em 2022. E, durante três anos consecutivos, ocupou a lista 101 Lideranças Globais de Diversidade e Inclusão do World HRD Congress.

Fernanda Stefani

Cofundadora e CEO 100% Amazônia

Economista e especialista no desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, trabalha desde 2006 na região amazônica, desenvolvendo projetos de sustentabilidade e conservação da floresta com geração de renda para a comunidade e lucro para o setor privado.

Tainara da Costa Cruz

Ativista ambiental indígena

Do povo kambeba, de Manaus, Tainara foi uma dos jovens escolhidos pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para representar a adolescência e a juventude na COP27.

Mais conhecida no meio por Eloisa Bonfá, a médica reumatologista assumiu em novembro a diretoria da escola de medicina mais prestigiada do país. Ela é primeira mulher a ocupar esse cargo.

Fundador

Capa da PODER de novembro, Danilo fundou a startup que investe em 200 escolas da rede privada de 17 estados e um dos profissionais mais inovadores da América

Latina no ranking Innovators Under 35 Latam, do MIT deste ano. Em troca de uma pequena taxa, o Educbank ajuda a driblar a inadimplência, garantindo que as escolas recebam 100% das mensalidades.

PODER 25 ESG EDUCAÇÃO
Danilo Costa da Educbank Eloisa Silva Dutra Diretora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)

Emicida Com um Grammy Latino, Emicida já se apresentou em eventos internacionais como os festivais Coachella, nos Estados Unidos, e Back2Black, em Londres. Fundador do Laboratório Fantasma, hub de entretenimento que transforma os lugares por meio da música, Emicida tem grande influência entre os jovens e não deixa de expor suas opiniões sobre o cenário político.

Mano Brown

Referência no mundo do rap, Brown está à frente do Mano a Mano, podcast do Spotify que está na terceira temporada. Djavan, Padre Júlio Lancellotti e Angela Davis, entre outros, já foram entrevistados por ele. Em 2022, o documentário sobre a carreira do Racionais, que é liderado por Brown, chegou ao primeiro lugar da lista de filmes mais vistos na Netflix.

Paulo Vieira

Ator e humorista

Foi impossível não se deparar com Paulo Vieira no Brasil de 2022. Ele percorreu o país garimpando boas histórias com seu Avisa Lá que Eu Vou, apresentou reality de culinária, lançou livro infantil e continuou causando nas redes sociais. Também virou o rosto de uma dezena de marcas – o que mostra que o humor “meio ácido, meio ombudsman” da Globo, como ele brinca, conquistou seu espaço.

A escritora mineira tem colecionado conquistas. Há dois anos, seu livro de estreia, Tudo É Rio, está na lista dos mais vendidos em ficção brasileira, chegando a mais de 147 mil exemplares. O sucesso chamou a atenção das produtoras e a história vai ganhar as telas da TV. A adaptação será feita pela produtora Boutique Filmes, a mesma de Rota 66 , de Caco Barcellos, em série no Globoplay.

Diretor artístico do Masp

À frente de um dos principais museus do mundo desde 2014, Adriano é conhecido pela competência e originalidade na idealização das exposições que acontecem no Masp. Também sob sua gestão foi remontada a coleção permanente com versões atualizadas dos famosos cavaletes de vidro concebidos por Lina Bo Bardi. Em 2024, Adriano vai estrear como curador da próxima edição da Bienal de Veneza - o primeiro latinoamericano a ser convidado para a função.

26 PODER CULTURA
Adriano Pedrosa Carla Madeira Escritora FOTOS PEDRO DIMITROW; MAURICIO NAHAS; MÁRCIA CHARNIZON/DIVULGAÇÃO; DANIEL CABREL/MASP

INVERNO EM GRANDE ESTILO

Hotspot de Aspen, no Colorado, o Viceroy Snowmass Hotel & Resort é parada obrigatória para quem quer aproveitar o inverno americano com direito a muito luxo e às melhores pistas de esqui do mundo. Este ano promete, já que a temporada de neve ficará ainda mais exclusiva. A Viceroy está lançando um novo empreendimento em Snowmass: o CIRQUE VICEROY , que vai tornar a experiência de quem viaja para Aspen ainda melhor. O nome do novo empreendimento da Viceroy é uma referência à Cirque Headwall, a mais alta e mais concorrida pista de esqui do Snowmass. Agora, além de acesso direto às pistas de esqui e a todos os atrativos de um hotel moderno e luxuoso, o complexo conta com um edifício de alto padrão com apartamentos exclusivos para venda. O Cirque Viceroy é para quem quer se sentir em casa – literalmente. São 48 apartamentos com dois ou três quartos, feitos sob medida para um público AAA, pessoas que querem morar em Aspen; aproveitar a temporada de inverno ou mesmo investir em um ativo sólido e com alto potencial de valorização.

A ideia do Cirque Viceroy é oferecer a experiência de estar em casa com a vantagem de contar com todos os serviços de um hotel cinco estrelas – isso em um dos complexos de esqui mais sofisticados do planeta.

PODER INDICA
DIVULGAÇÃO
FOTOS

JANONES

DEPUTADO FEDERAL MINEIRO QUE CONSIDERA AS MÍDIAS SOCIAIS O NOVO “CHÃO DE FÁBRICA”

FOI DECISIVO NA

CAMPANHA ELEITORAL DE LULA POR USAR AS REDES COM A MESMA

HABILIDADE QUE O NÚCLEO DE BOLSONARO ERIGIU SEU MITO

TROMBONE
POR PAULO VIEIRA ILUSTRAÇÃO DAVID NEFUSSI

Odia 12 de agosto foi simbólico da campanha presidencial que, dois meses e meio depois, culminou com a vitória eleitoral de Lula sobre Jair Bolsonaro, o primeiro incumbente na redemocratização a não se reeleger. Naquele dia, o deputado federal mineiro André Janones (Avante), que havia retirado sua própria candidatura presidencial para apoiar o petista, acordou com a macaca. Dono de uma popularidade digital que o coloca no pódio dos parlamentares em número de seguidores e engajamento nas redes sociais – tem 8 milhões de fãs no Facebook, sua rede mais potente –, ele estrilou contra os novos companheiros de centro-esquerda, repetindo, a seu modo, o papo reto de Mano Brown no comício carioca de Fernando Haddad em 2018, quando o rapper disse para um público de fervorosos petistas que o partido havia perdido sua conexão com a periferia. Escreveu Janones, no Twitter: “Essas eleições serão decididas nas cidades interioranas, de 2, 3, 20 mil habitantes, totalmente fora do radar da esquerda, mas onde o bolsonarismo tem livre acesso. Por lá, o Face e o WhatsApp não são uma rede, mas um ‘jornal’. O que sai por lá vira verdade absoluta, instantaneamente. E o bolsonarismo sabe bem disso. Esses que estão ali, esquecidos pela arrogância da nossa elite intelectual, por alguns setores da esquerda e pelos tuiteiros adoradores de Chico e Caetano”. O novo “chão de fábrica”, como Janones chamou as redes sociais – em especial o Facebook –, era tido como fortaleza inexpugnável de Bolsonaro, e mesmo o coordenador de comunicação da campanha de Lula, o prefeito petista de Araraquara (SP), Edinho Silva, achava que a batalha ali já estava perdida: restava a Janones, que aderiu à campanha digital de Lula, apenas lutar para reduzir danos. Pois Janones foi muito além, disse a Edinho que faria Lula “atropelar” e, “usando as armas do inimigo”, como o deputado gosta de dizer, emparedou nas redes sociais a campanha bolsonarista. Janones dominou por muitos dias a pauta e tornou temas como canibalismo, maçonaria, pedofilia e perda de poder aquisitivo do salário mínimo dores de cabeça constantes para Bolsonaro, que teve de atuar na defensiva, tentando se livrar de acusações e suposições incômodas, sem poder repetir o que fez na campanha vitoriosa de 2018: jogar sem marcação, a espalhar desinformação e a destruir reputações, obrigando o adversário a passar dias e dias tentando se livrar de acusações infundadas. O kit gay e a mamadeira de piroca, que tantos estragos fizeram na campanha de Haddad, chegaram mesmo a reaparecer em 2022, mas as ligações de Lula com o PCC e as igrejas que ele supostamente iria fechar caso o petista ganhasse as eleições, para ficar em apenas duas “armas” bolsonaristas, tiveram seu efeito anulado pelas pancadas vindas de Janones. “Jano-

nes foi um ator fundamental na estratégia de defesa de Lula. Seu papel foi dar trabalho para o adversário, deixá-lo acuado e temeroso. Deu tão certo que até o ministro das Comunicações, Fábio Faria, tentou trazê-lo para sua órbita, desviando-o de Bolsonaro. Janones foi para Lula, de certa forma, o que Carlos Bolsonaro é para o pai, o comandante da tropa digital. Ocupou um vácuo, já que Lula não tinha essa figura. Ele intimidou o adversário e animou a tropa lulista”, disse a PODER o cientista político Felipe Nunes, fundador do instituto de pesquisa Quaest.

Não é possível mensurar, como profissionais de marketing gostam de dizer que fazem, o valor de um vídeo de Janones durante a campanha de segundo turno. Mas dá para afirmar que alguns deles ajudaram a carrear uma quantidade industrial de votos para Lula – ou para retirá-los de Bolsonaro, o que no segundo turno dava na mesma. O deputado, usando com facilidade a linguagem das redes, se filmava, por exemplo, na frente de uma conhecida igreja evangélica de São Paulo, o Templo de Salomão, para falar de uma possível visita de Bolsonaro a uma sede maçom, algo proscrito por boa parte dos evangélicos; ou se postava na frente do prédio do Ministério da Economia e, alegando ter notícia urgente, recém-apurada, informava, sem usar o termo “desindexação” falado pelo ministro Paulo Guedes, que as aposentadorias e o salário mínimo deveriam perder valor a partir de 2023, já que não teriam mais seus reajustes atrelados à inflação. “A habilidade de Janones foi entender a linguagem das redes sociais e despertar curiosidade com assuntos que ele envelopava em formato de conspiração. Ele pegou a metodologia bolsonarista de

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RICARDO STUCKERT/PT; CAIO CÉSAR/CMRJ
‘‘Janones foi para Lula o que Carlos Bolsonaro é para o pai, o comandante da tropa digital. Ocupou um vácuo, já que Lula não tinha essa figura”
Felipe Nunes, Quaest

Acima, raro momento “off-line” do deputado André Janones, entre Fernando Haddad e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman; e com Lula, em foto emblemática do segundo turno

produção de informação, de saber conferir uma urgência aos assuntos, e soube replicá-la. Essa foi uma das grandes novidades de 2022”, disse a PODER Alexandre Pacheco, coordenador do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Faculdade de Direito da FGV/SP.

Numa entrevista recente à newsletter Meio (assoberbado com os compromissos do governo de transição, Janones recusou-se a dar entrevista a PODER, apesar dos insistentes pedidos feitos a seu gabinete), o deputado de 38 anos explicou que sua habilidade com as redes sociais “não tem nada de genial” e é comum a pessoas de sua geração. “Não lembro do mundo antes das redes sociais”, disse. Ele também usou várias vezes a expressão “nojinho” para se referir ao sentimento de extratos da esquerda quando, por exemplo, replica memes. E defendeu que é essa a linguagem que o camelô (que chamou de “vende-

dor de bugigangas”) entende e com a qual pode “formar mais opinião do que um artista”. “Nossa turma [o campo progressista] acha engraçado, pensa que é troll, mas meme é realidade, não tem como negar a existência disso.”

Mineiro de Ituitaba, uma cidade de 100 mil habitantes do bolsonarista Triângulo Mineiro, Janones, como Bolsonaro, se projetou nacionalmente com a paralisação dos caminhoneiros de 2018, mas disse ter-se afastado do movimento quando este descambou para a ruptura institucional. Eleito naquele ano para seu primeiro mandato com 178 mil votos – o terceiro federal mais votado de Minas –, em 2022 somou mais 60 mil sufrágios, ficando atrás no estado apenas do exvereador de Belo Horizonte e bolsonarista à Carla Zambelli Nikolas Ferreira. Cobrador de ônibus e escrevente antes de se tornar advogado, Janones é também evangélico, o que lhe deu um lugar de fala fundamental na campanha de Lula, que

PODER 31

FORA DE CONTEXTO

André Janones costuma dizer que não espalha fake news, mas várias de suas postagens retiradas do ar pelo TSE a pedido da equipe de Jair Bolsonaro tangenciam o que a lei considera “fato gravemente descontextualizado”. Alexandre Pacheco, da FGV, usa como exemplo a alusão ao canibalismo do presidente a partir de uma fala de Bolsonaro de que, se tivesse de visitar um povo indígena, e este praticasse canibalismo, também experimentaria a prática. “Não dá para dizer, com aquele depoimento, que Bolsonaro adota prática canibal. O que Janones viu ali era o presidente jogando conversa fora, como sempre faz, mas o deputado foi muito inteligente para construir um discurso fácil de ser entendido e replicado”, diz o acadêmico. Pacheco diz que um dos grandes trunfos de Janones na campanha foi justamente chamar atenção para conteúdos que ele, por decisão do TSE, não poderia publicar. Nessas horas, o deputado fazia uma mise-en-scène em vídeo criando ainda mais curiosidade para o tema. Mas o comunicador não é total unanimidade. Lula Guimarães, marqueteiro de Soraya Thronicke em 2022 e de Geraldo Alckmin em 2018, considera que o parlamentar ultrapassa muitas vezes os limites éticos e nem sempre acerta. “No fim da campanha ele tentou fazer um suspense com o conteúdo do celular do [exministro Gustavo] Bebianno, e não havia nada ali.”

viu Bolsonaro abrir grande frente nesse público. Em 2021, ele tentou medir forças contra Arthur Lira e Baleia Rossi na disputa pela presidência da Câmara, casa que disse estar “de costas para o povo brasileiro”. Em seu discurso, comprometeu-se a pautar matérias para a prorrogação do auxílio emergencial, aprovado no começo da pandemia, em 2020, e que Bolsonaro quis interromper no ano seguinte. Não sensibilizou os colegas: teve apenas três votos – ficou à frente apenas de Kim Kataguiri e General Peternelli. Um dos projetos de lei que apresentou na Câmara proibia o aumento de preço dos produtos da cesta básica durante a pandemia.

Janones é considerado por Otávio Antunes, marqueteiro do futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad, como a “maior autoridade do campo progressista no Facebook”, opinião compartilhada por Alexandre Pacheco, da FGV, que acha que é essencial que o Legislativo comece a discutir uma regulação para a desinformação, e que, para isso, Janones teria poderosa contribuição. Antunes disse a PODER que os números de engajamento do deputado durante a campanha de segundo turno eram impressionantes – mil compartilhamentos por minuto, por exemplo, de uma postagem sobre a manutenção do auxílio emergencial. Otávio não acha que o “chão de fábrica” será substituído pelas redes, mas que, de fato, os partidos progressistas “esqueceram-se um pouquinho” de se conectar com as pessoas mais pobres. Além de achar o deputado um “gigante” nas redes sociais, Antunes elogia a figura “muito gentil, carinhosa e afetiva” de Janones, mesmo tendo convivido com ele em jornadas intensas e insanas, como é comum em campanhas. “É um baita sujeito, de sorriso largo. Pelo que faz, até achei que fosse fisicamente maior.” n

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FOTOS REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
Selfies de dois vídeos explosivos de Janones no segundo turno: na frente do Templo de Salomão, da igreja Universal, em São Paulo, no “affaire” maçonaria; e no Ministério da Economia, colocando pressão em Carlos Bolsonaro e no pai, Jair

FÁBRICA DE SONHOS

POR MÁRCIA ROCHA

AUnicasa, fabricante gaúcho de móveis com 37 anos de mercado, é dona das marcas Casa Brasileira, New e Dell Anno, que é premium no setor de móveis personalizados. Personalizados, sim. “Conseguimos chegar em um nível de entrega para nossos clientes que é muito mais preciso dizer ‘móveis personalizados’ que ‘móveis planejados’”, diz Edson Busin, diretor de marketing da Unicasa. Com 14 anos de empresa, ele assumiu seu cargo em 2009 em um período de transição no comando e recebeu carta branca para reposicionar a Dell Anno no mercado.

Missão dada, missão cumprida. Uma das primeiras providências de Edson e de sua equipe foi aproximar a Dell Anno do universo da moda. “Eu acho que as duas coisas se conversam. Para isso, pensamos em como trazer os conceitos da moda para os nossos móveis”, conta ele. Assim, foram feitas algumas parcerias com alguns dos mais renomados estilistas brasileiros: Gloria Coelho, Reinaldo Lourenço, Pedro Lourenço e Isabela Capeto. “No caso de Pedro Lourenço, por exemplo, usamos referências da coleção dele na época, que tinha um ar futurista, para criar a linha Moon com a mesma inspiração”,

lembra. Segundo Edson, em paralelo, foram implementadas soluções tecnológicas na fábrica que, claro, elevaram a produção dos móveis para outro patamar. “Borda a laser, cortes especiais, novas tecnologias para a pintura dos móveis – temos um centro de pesquisas supermoderno na fábrica”, conta. A estilista Isabela Capeto, por sua vez, trouxe uma paleta de cores pautada nas diversas regiões do Brasil. “Essas iniciativas mudaram a percepção que nossos clientes tinham da Dell Anno.”

LABORATÓRIO

A Unicasa produz mais de 2,2 milhões de módulos por ano e a primeira loja Dell Anno foi aberta em 1990. Hoje, a marca tem 70 espalhadas pelo Brasil e cerca de dez em países como Estados Unidos e Canadá. E, até o

fim do primeiro semestre de 2023, está prevista a inauguração de uma flagship em Nova York – estreia da Dell Anno naquela cidade.

Uma loja da capital paulista, localizada na avenida República do Líbano, tem como sócio Thiago Breseghello. A loja, que se chama Dell Anno Atelier, é a única com esse nome. “Ela é uma espécie de laboratório porque testamos designs, materiais, cores etc”, diz Edson. É na Dell Anno Atelier que estão sendo pesquisadas texturas e materiais exclusivos importados da Itália. A proximidade com a moda, de acordo com Edson, vai continuar em tramas que fazem alusão às peças da marca italiana Bottega Veneta e ao tweed que eternizou a Chanel, para citar duas referênciasn

FOTO LEANDRO ARAÚJO/DIVULGAÇÃO
Mais do que móveis planejados, a Dell Anno entrega mobiliários personalizados. Quem garante é o diretor de marketing Edson Busin
ESPELHO
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OMUNDODEOLHO NOPLANETA

ACOP27, que aconteceu mês pas sado em Sharm el-Sheikh, no Egito, definiu pontos importantes para a melhoria das questões ambientais que afetam o planeta. Representantes de governos de mais de 190 países e 45 mil participantes – entre povos indígenas, comunidades locais e sociedade civil – contribuíram para as discussões.

Na ocasião, foi reforçado o compromisso das nações de manter a meta de limitar o aumento da temperatura global até 1,5ºC, se comparado à média pré-industrial. Esse é um dos principais itens do Acordo de Paris, primeiro tratado universal de combate às mudanças climáticas, assinado em 2015 durante a conferência realizada na capital francesa. A COP27 destacou ainda outros temas importantes:

* fundo de perdas e danos – criação de um fundo global em que países ricos vão contribuir para uma reserva financeira de auxílio em casos de desastres naturais relacionados às mudanças climáticas. * economia de baixo carbono – segundo o plano de implementação discutido no evento, a transformação global para uma economia de baixo carbono deve exigir investimentos anuais de US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões. Para que esse objetivo seja alcançado, o documento destaca a importância da atuação conjunta de governos, bancos centrais e comerciais, investidores institucionais e outros atores financeiros.

* tecnologia climática – um novo programa de trabalho de cinco

COMBATE À FOME

A insegurança alimentar também foi abordada na COP27 no painel Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas. Líderes empresariais destacaram o que é possível fazer para que os sistemas alimentares se tornem mais inclusivos, saudáveis e sustentáveis. Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, participou do painel e reforçou a importância de enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumentar a produção global de alimentos. O executivo considera que 2023 será essencial para potencializar ainda mais a agenda sustentável junto aos produtores. “Será um ano de ação para irmos mais longe no desenvolvimento de incentivos e suporte técnico para produtores, que são a chave para acabar com o desmatamento.”

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A COP27 destacou a importância de impulsionar a economia de baixo carbono. Durante o encontro, foi divulgado um plano das maiores indústrias alimentícias para deter o desmatamento, além de um projeto de combate à insegurança alimentar

POR UMA INDÚSTRIA MENOS POLUENTE

Em evento paralelo à COP27, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu o painel Clima e Comércio Internacional, em que foram discutidos o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira e regras de comércio contra o desmatamento. A CNI tem trabalhado para mobilizar o setor industrial na implementação de soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Segundo o órgão, a indústria brasileira é uma das menos poluentes do mundo e existe um esforço junto ao Congresso Nacional para modernizar e aprimorar a legislação ambiental e defender um mercado regulado de carbono, como em outros países. Liège Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi, que participou da discussão, destacou que já estão em prática no Brasil diversas ações para garantir a produção sustentável de alimentos. Ela deu como exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta. “Essa solução permite que, em uma mesma área, o produtor aumente sua produção em até 40% e, ao mesmo tempo, capture gases de efeito estufa da atmosfera, em vez de emiti-los.”

anos focado em promover soluções de tecnologia climática nos países em desenvolvimento. * perda e degradação florestal – a Forest and Climate Leaders’ Partnership fez avanços importantes nessa área, reforçando como a união de governos, empresas e líderes comunitários pode contribuir para deter a perda florestal até 2030.

EMPRESAS EM AÇÃO

A COP27 trouxe outra contribuição importante: a divulgação do Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C. O documento, assinado por 14 das maiores empresas de alimentos do mundo, define como elas vão atuar para reduzir as emissões provocadas pela mudança do uso da terra em suas operações. A JBS, maior empresa de alimentos do mundo, é uma das signatárias.

O plano, que é bem amplo, inclui medidas para lidar com a perda de florestas nas cadeias de suprimentos e para acelerar o cumprimento dos objetivos estabelecidos, com ênfase nas áreas que sofrem os maiores impactos.

O roteiro também descreve como as empresas signatárias vão colaborar com outros atores relevantes, caso de governos, integrantes da cadeia de suprimentos e instituições financeiras. O trabalho reforça a importância da regulamentação, assim como o incentivo para que agricultores e pecuaristas protejam os recursos naturais.

BIOMA AMAZÔNICO E CONHECIMENTO ANCESTRAL

O projeto InovAmazônia: Ingredientes para o Mercado de Alimentos Vegetais, do The Good Food Institute Brasil, foi um dos destaques da COP27. O objetivo do programa, que tem apoio técnico e financeiro do Fundo JBS pela Amazônia, é desenvolver soluções para a indústria de proteínas alternativas vegetais, conhecidas como plant-based, a partir de espécies nativas do bioma amazônico. O açaí, o cacau, o cupuaçu e o guaraná são algumas das espécies que serão alvo da ampla pesquisa, que irá envolver seis parcerias com universidades locais, além de um investimento de R$ 2,7 milhões. Segundo Gustavo Guadagnini, presidente do The Good Food Institute Brasil, o InovAmazônia conta com um investimento em ciência e tecnologia que deve transformar o sistema alimentar brasileiro e gerar incentivos para manter a floresta de pé.

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“Será um ano de ação para irmos mais longe no desenvolvimento de incentivos e suporte técnico para produtores, que são a chave para acabar com o desmatamento.”
Gilberto Tomazoni , CEO global da JBS

FIEL À ESSÊNCIA

Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado, é um bom exemplo do perfil do líder dos novos tempos. Ela faz questão de ouvir o time, é empática, está sempre de olho nas tendências e acredita que o sucesso está intimamente ligado à sustentabilidade e à colaboração. Tudo isso somado à paixão que tem pelo que faz e por olhar o trabalho com leveza para que todos atuem com mais satisfação. “Claro que há prazos, compromissos e metas, mas tento levar as coisas de forma mais tranquila e positiva”, diz. Conhecida por ter um papel determinante na modernização e no aumento do faturamento da empresa, que em 2021 alcançou R$ 804 milhões e deve fechar o ano com R$ 961 milhões, ela faz questão de dizer que o mérito não é só dela. “Acabo ganhando muito o mérito, mas foi um processo. Quando meu pai comprou a companhia, em 1994, investiu muito em automação e logística, lançou novas linhas e articulou parcerias. Sem esse trabalho, não teríamos capacidade de sustentar a demanda atual”, conta.

Filha do empresário inglês Christopher Freeman e de uma brasileira, Sissi nasceu nos Estados Unidos e veio para o Brasil aos 8 anos. Apesar de gostar de cosméticos e, de certa forma, se envolver com a empresa dando palpites e testando produtos, o início de sua carreira foi longe do negócio familiar. Até porque seu pai sempre fez questão de separar muito bem as coisas. Sissi se formou em ciências políticas na Georgetown University, nos Estados Unidos, trabalhou em bancos de investimento e depois seguiu na área de marketing e vendas em startups de maquiagem e cosméticos em Nova York. Mas, em 2004, a proposta de seu pai para um projeto de seis meses na Granado, mudou toda

a sua rota profissional. “Ele tinha acabado de comprar a Phebo e a diretora de marketing estava saindo. O convite foi para tocar a transição por seis meses. Dezoito anos depois, estou aqui”, diz.

Com a gestão de Sissi, a Granado alcançou outro patamar. A empresa, que abriu as portas em 1870 como uma botica de manipulação de produtos com extratos de ervas, de plantas e de flores brasileiras, é atualmente uma das maiores companhias de beleza e higiene pessoal do Brasil. São 88 lojas espalhadas pelo país e 1.895 colaboradores. A marca também tem presença internacional: há espaços na Liberty London, na Inglaterra; e na Inno, que fica na Bélgica; além de pop-up stores no SoHo e nos Hamptons nos Estados Unidos. E em maio deste ano, a empresa ganhou o Prêmio Prata na 12ª edição do Brasil Design Award, promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Design pelo pop-up desenvolvido especialmente para a Galeries Lafayette Champs-Élysées, em Paris. Sete meses depois, em dezembro de 2022, mais um salto com a inauguração de uma loja no Chiado, um dos bairros mais famosos de Lisboa.

SEM PERDER A ESSÊNCIA JAMAIS

A atuação de Sissi para fazer a Granado crescer começou com um rebranding. “A ideia foi entender a fundo o diferencial da marca”, diz. Com isso em mãos, a empresária iniciou um trabalho de mudança ou adaptação em cada produto e embalagem. “O objetivo foi inovar sem perder a essência, o que torna a marca única: sua história. Temos itens que são centenários e a fórmula continua a mesma como o polvilho; e outras que foram se atualizando. O segredo foi achar es-

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Com gestão colaborativa e as parcerias certas, Sissi Freeman modernizou e aumentou o faturamento da Granado – sem perder a tradição da marca, que foi construída ao longo de 150 anos
PATRIMÔNIO
POR CAROLINE MARINO
FOTO BRUNO RYFER/DIVULGAÇÃO
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se equilíbrio”, conta. Um ponto alto da gestão de Sissi foi a entrada no mercado de perfumes e, consequentemente, a abertura dos espaços de venda.

Foi uma tacada de mestre. Atualmente, as lojas representam 25% das vendas e são um bom exemplo de como a empresa se modernizou, mas sem perder as raízes. Basta entrar em um dos estabelecimentos para entender como isso foi feito. O piso é de ladrilho hidráulico e o mobiliário foi todo pensado para levar tradição, mas com um toque de modernidade. A iluminação é indireta com lâmpadas amareladas e há peças vintage, como as balanças usadas na época em que a Granado foi fundada. Para o desenvolvimento das fragrâncias, o investimento do Puig, grupo espanhol que atua com moda e perfumes e é dono de marcas como Carolina Herrera e Paco Rabanne, foi crucial. “Eles nos ajudaram com perfumistas internacionais e a linha despontou, sendo a que mais cresce, entre 25% e 30%”, afirma Sissi.

ESG NO RADAR

Parte do sucesso do negócio está atrelado à sustentabilidade, como ressalta Sissi. “É o DNA da marca. O fundador tinha um sítio em Teresópolis onde cultivava ervas e plantas e estudava seus benefícios. A farmacopeia brasileira foi feita na Granado”, revela. O tema segue firme na companhia que, em 1998, foi a primeira empresa brasileira a banir o uso de parabenos (produtos químicos muito utilizados em cosméticos que são prejudiciais à saúde) na composição dos produtos; em 2006 adotou a política de não realizar testes em animais e, desde 2021, está trocando todas as bisnagas plásticas por similares de resina. Segundo Sissi, todos os pilares da empresa levam o ESG em conta. Do desenvolvimento de produtos e gestão interna ao cuidado com as comunidades e o meio ambiente.

Em 2021, a empresa desenvolveu, em parceria com a SOS Mata Atlântica, uma linha de produtos chamada Folha Imperial em que 5% do total das vendas é destinado à ONG

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“Todos os pilares da empresa levam o ESG em conta. Do desenvolvimento dos produtos e gestão interna ao cuidado com as comunidades e o meio ambiente”
BRUNO RYFER; JORGE NASCIMENTO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

DE PAI PARA FILHA

“No começo, era mais difícil convencer meu pai de alguma mudança. Eu tinha 24 anos e muitas ideias, mas não sua ampla bagagem profissional. Ele era mais receoso em criar produtos diferentes, por exemplo”, conta Sissi. Porém, com os anos e os projetos dando certo, a dupla estabeleceu uma relação de confiança e parceria. “Hoje, ele brinca que só sabe de um produto novo quando lançamos ou está na linha de produção ou em um relatório. Antes qualquer coisa que fossemos lançar tinha que ter o seu aval. Agora temos liberdade e autonomia”, afirma. Sissi reforça também a importância da complementaridade de perfis para o sucesso da empresa. “Meu pai é mais voltado para a contabilidade, a parte financeira; eu tenho um lado mais criativo e vendedor”, exemplifica.

que reflorestou uma área em Itu, no interior paulista. Outro exemplo? Durante a pandemia a empresa doou em torno de 150 mil produtos de higiene pessoal a comunidades, hospitais e asilos, ultrapassando R$ 200 mil, além de R$ 201 mil revertidos em 2.421 cestas básicas em parceria com o Instituto Ekloos e Instituto Phi. “Não existe sucesso sem responsabilidade social”, completa Sissi. A diversidade está sempre em pauta. A maioria das gerências, por exemplo, é tocada por mulheres. Falando nelas, Sissi consegue equilibrar bem carreira e maternidade. Mãe de Helena, de 8 anos, de Luíza, que tem 7, e de Laura, que está com 1 ano, ela faz questão de ser um exemplo para as filhas. “Quando lançamos o perfume de caju, minha filha do meio adorou e logo disse: ‘Você podia fazer um de manga, que é minha fruta favorita’”, conta. O produto passou um ano em desenvolvimento, com Sissi levando as amostras para as filhas palpitarem, e será lançado em breve. “Vira e mexe, elas vão à empresa comigo, compartilham do meu trabalho”, conta. Mas ela ressalta que a rede de apoio que possui é essencial. “Tenho uma babá que é mais do que meu braço direito, e meu marido ajuda muito também. Não temos que ter vergonha de pedir ajuda. Esse suporte nos permite realizar tudo com mais tranquilidade.” n

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A primeira filial foi inaugurada em 1917, na Tijuca, Rio de Janeiro; ao lado, a linha de perfumes Granado Vintage

ALTO PADRÃO E EXCLUSIVIDADE

de Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain. Para esse público, conforto e sofisticação têm falado mais alto na hora de escolher o que comprar e onde.

As incorporadoras responderam bem à crescente demanda, de acordo com a consultoria Brain. O número de novos empreendimentos do segmento imobiliário na cidade passou de 962 para 1.325 em um ano. Já o faturamento de 2022 superou, até a metade do ano, os de 2020 e de 2021, sinal de aquecimento e de interesse das classes de maior poder aquisitivo.

Prova disso é o aumento de 145,3% no número de unidades de alto luxo vendidas no Brasil nos primeiros cinco meses de 2022 em comparação ao ano anterior. O levantamento é da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

O padrão dos imóveis também mudou. Ainda segundo a Abrainc, as incorporadoras têm inovado em produtos para atender a demandas de um público cada vez mais exigente. Inclusive buscando inspiração no exterior.

PLANTAS SOB MEDIDA

O número de empreendimentos de luxo lançados em São Paulo cresceu 37,7% no segundo semestre de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021. Os dados são de uma pesquisa da consultoria Brain, que é especializada no mercado imobiliário brasileiro, e refletem o bom momento do setor e a resiliência do nicho de

luxo, além das mudanças no comportamento dos consumidores.

Se o desejo de proteger o capital da inflação com um ativo menos volátil ainda é objetivo de muitos compradores e investidores, é a ressignificação da ideia de moradia após anos de reclusão pandêmica que aquece o mercado. Essa é a constatação

Diversas incorporadoras de São Paulo seguiram essa estratégia à risca. É o caso da SKR , que apostou na ideia de exclusividade e customização no seu lançamento, o AYYA, que vai ocupar o número 1.557 da alameda Franca, no sofisticado bairro dos Jardins.

O edifício vai ter apenas 19 apartamentos, um por andar, além de uma cobertura dúplex. E a exclusividade não para por aí, já que o empreendimento tem 48 opções de planta,

SIMBOLOGIA ASHANTI

AYYA faz referência a Aya, um dos adinkras, ideogramas milenares usados pelo povo ashanti, atualmente espalhado por países como Gana, Burkina Faso e Togo, na África Ocidental. O desenho da folha de uma samambaia simboliza independência, força, perseverança e imponência. Segundo a SKR, esse ícone simboliza a essência do morador dos Jardins. Diversos outros adinkras fazem parte da nossa cultura, como o akoma, a representação mais clássica e reconhecível da ideia de coração. Significa amor, paciência, fidelidade, carinho e resistência. Outro, o sankofa, é a imagem estilizada de um pássaro olhando para trás e faz referência à necessidade de aprender com o passado para construir o presente e o futuro.

permitindo muitas possibilidades de customização. A incorporadora disponibiliza arquitetos sob demanda para auxiliar os futuros compradores na escolha da configuração mais adequada para suas necessidades, o que pode ser feito no espaço de visitação do projeto. As futuras unidades terão de 288 m² e 295 m² de área, quatro suítes e quatro vagas na garagem. Já a cobertura dúplex contará com 484 m², quatro suítes e lugar para cinco carros na garagem. Entre as áreas de uso comum do AYYA, a SKR incluiu um espaço wellness elevado com piscina e um deque para

tomar sol. Também farão parte do projeto uma academia, playground e um salão e lounge para eventos. A localização é outro fator determinante para a expansão atual do mercado imobililário de luxo. E nesse quesito o AYYA também não fica devendo. Ocupa um dos bairros mais nobres da capital paulista, em um local cercado por grandes nomes da moda e da alta gastronomia. Para reforçar a identidade luxuosa do projeto, em vez do tradicional stand de vendas, o Espaço AYYA abriga um bistrô comandado pelo chef Dalton Rangel

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Abaixo, academia com equipamentos de última geração e pisicina com deck solarium

POR QUE TEMOS FALADO

TANTO DE ESG?

Nunca se falou tanto sobre ESG, sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança. Na verdade, o tema não é novo, uma vez que as questões socioambientais já estão na pauta de muitas empresas. Parte desse debate se relaciona à mudança na forma como se faz negócios. Hoje, não é apenas o retorno econômico-financeiro que preocupa as empresas. Elas precisam ir além, pois são agentes de um processo de transformação social que se tornou mais complexo e agregou mudanças disruptivas.

Outra parte da discussão está atrelada à necessidade de integrar critérios ambientais, sociais e de governança a empresas que ainda não conseguiram combiná-los à sua estratégia. Não é uma tarefa fácil, pois exige uma mudança de cultura nas organizações que, além praticar novas ações, precisam informar adequadamente sobre o impacto que causam ou como tratam as comunidades afetadas por sua atuação.

Uma boa maneira de acelerar essa integração está na governança corporativa, o G do ESG. Não por acaso, por meio de princípios como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – que constam no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, produzido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) –, é possível encontrar caminhos mais sustentáveis, conscientes e responsáveis. Tudo isso contribui para que as

organizações enxerguem seu compromisso com todas as partes que orbitam seu negócio. Integrar o ESG à estratégia empresarial fortalece o ramo de atuação de uma empresa, incentiva outras a fazer o mesmo e garante longevidade, além de trazer valor econômico ao negócio.

Segundo relatório da consultoria PwC, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa serão concentrados nos aderentes à governança ambiental, social e corporativa, mesmo diante dos desafios socioeconômicos. O mesmo levantamento mostra também que 77% dos investidores institucionais planejam, em curto prazo, parar de comprar produtos não ESG. Quando se considera, por exemplo, a prática de greenwashing, a urgência pela integração e interdependência dos critérios ESG ao propósito empresarial só aumenta. O termo em inglês define um discurso sobre iniciativas ambientais descolado da prática. Associado aos princípios da governança, um bom letramento em ESG prepara os líderes para darem respostas transparentes, francas e plausíveis a todas as partes interessadas. E, paralelamente, aumentam a resiliência para lidar com as demandas regulatórias ou dos investidores.

Manter a escuta ativa também é outra forma de promover a integração de temas ambientais,

sociais e de governança. Nesse sentido, algo que pode ajudar as empresas é instituir um comitê de assessoramento aos tomadores de decisão, representados em algumas organizações pelos conselhos de administração. Todo esse trabalho precisa ser orgânico e há muito a ser feito. O processo já começou e contamos no Brasil com ferramentas de governança corporativa, órgãos reguladores e entidades para que as letras ESG constituam um sólido tripé de nosso desenvolvimento. n

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OPINIÃO
Gabriela Baumgart é presidente do conselho de administração do IBGC. FOTOS GETTY IMAGES; PAULO FREITAS

RECADO (BEM) DADO

Um estúdio de design que faz a ponte entre os mundos físico e digital e, assim, traduz conceitos em imagens que passam a mensagem dos clientes na mídia mais adequada. Esse é o core do RADIOGRÁFICO, estúdio carioca fundado em 2005 pelos designers Olívia Ferreira e Pedro Garavaglia.

Nos primeiros dez anos, o Radiográfico se destacou nos meios cultural e de entretenimento, criando projetos para renomados diretores teatrais do Rio de Janeiro. Também foram desenvolvidos vários projetos para a televisão. Dois exemplos? O cenário da última temporada do Esquenta e os videocenários para o Conversa com Bial, programas de prestígio da TV Globo. Além disso, são do Radiográfico a concepção e a direção de cena das aberturas dos programas Saia Justa e Papo de Segunda, ambos da GNT.

Em 2016, mais um passo importante, quando a diretora de arte e cineasta Daniela Thomas convidou a equipe do Radiográfico para reforçar o time responsável pela concepção da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O Radiográfico elaborou o visual design do evento, criando imagens muito

brasileiras, mantendo distância dos clichês. “Cumprimos essa tarefa integralmente”, afirmou, na época, o cineasta Fernando Meirelles, que dividiu a direção do espetáculo com Daniela e Andrucha Waddington.

NOVAS FRENTES

Um ano depois das Olimpíadas, em 2017, o Radiográfico marcou outro ponto e abriu um escritório em São Paulo, numa charmosa vila em

políticas climáticas Talanoa.

Higienópolis, tendo como vizinhas duas galerias de arte, A Gentil Carioca e Projeto Vênus.

Na capital paulista, chegaram mais clientes: iFood, Amazon, HBOMax, Itaú, Fundação Roberto Marinho, entre outros. Merecem destaque alguns trabalhos recentes: conceituação e rebrand dos On Airs dos canais Futura e Multishow; e a criação das marcas da editora de audiolivros Supersônica e da ONG de

A partir de janeiro, mais novidades: os cenários/instalações criados pelo Radiográfico para o Sesc Avenida Paulista e o Sesc Pompeia, um trabalho que faz parte do projeto institucional Sesc Verão 2023. No caso da avenida Paulista, o ponto de partida foi o conceito entrelinha, definido pelo próprio Sesc. No Sesc Pompeia, por sua vez, o Radiográfico criou o cenário da Vila Brincante usando como inspiração os blocos de madeira infantis – um convite para que as crianças e seus pais explorem a instalação. Também será em janeiro que o público vai conhecer o resultado do rebrand de todo o material didático e do site do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), do Grupo Salta (o antigo Grupo Eleva).

Dois meses depois, em março, quem for assistir ao musical do Los Hermanos irá conferir a identidade visual criada pelo Radiográfico. Michel Melamed, autor e diretor do musical, é um parceiro do estúdio desde os primeiros anos. Como se vê, não importa o cliente, competência e criatividade não faltam para o time do Radiográfico.

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O estúdio carioca de design Radiográfico conta para o mercado tudo o que seus clientes querem dizer – com mensagens inusitadas e, principalmente, muito criativas
Pedro Garavaglia e Olívia Ferreira: dupla de designers que fundou o Radiográfico

MANUAL PRÁTICO DA FELICIDADE

Fazer longas caminhadas na praia, terminar um projeto ou ver tudo com um olhar mais piadista. Oito entrevistados com vida pessoal e trabalho completamente diferentes revelam o que fazem para deixar seu dia a dia mais leve

Odesejo de encontrar algo que nos faça felizes faz parte de reflexões filosóficas desde a Grécia Antiga – o que, sem dúvida, pode ter contribuído para gerar ainda mais perguntas do que respostas.

Se antes eram os grandes pensadores que produziam ideias e conceitos, conclamados até hoje, agora é nos livros de autoajuda, nos podcasts e nas palestras de TEDx, além dos milhares de perfis de redes sociais, que surgem teorias para encontrar “essa tal felicidade”.

A palavra “felicidade”, aliás, bateu recorde de buscas on-line nos últimos anos. Quem afirma isso é o World Happiness Report 2022, famoso ranking anual que mede o quanto um país é feliz por meio de pesquisas que envolvem a satisfação pessoal, a saúde física e mental, a renda e o emprego da população.

No relatório de 2022, o Brasil subiu algumas posições, e passou do 41° para o 38° lugar. Já esteve em 14°, em 2014, mas vinha em declínio nos últimos tempos. O motivo da melhora parece estar na coletividade. “A recente pandemia teve um forte impacto nas concepções sobre o que é mais importante para uma vida boa e, de fato, sobre como a sociedade pode promover melhorias coletivas para o bem-estar”, diz um dos capítulos do documento.

Os dados, que mostraram que o estresse, a preocupação e a tristeza tiveram um aumento, também apresentaram um crescimento no sentimento de benevolência, com mais pessoas trabalhando como voluntárias, fazendo doações e se preocupando com o meio ambiente.

Para além da subjetividade e das pesquisas, PODER foi atrás de pessoas com diferentes olhares e experiências para falar sobre a felicidade como um estado, o “estar feliz”, e o resultado mostra que o sentimento mora mesmo é nas relações afetivas, em pequenos prazeres e no constante processo de autoconhecimento.

BEM-ESTAR
POR THAYANA NUNES

Para ser feliz faço amor sempre que o amor sorri e jogo com meus filhos todos os dias. Também

faço ioga com minha companheira ao despertar, muita ciência e política durante o dia, e capoeira no início da noite, três vezes por semana”

FOTOS GETTY IMAGES; ELISA ELSIE/DIVULGAÇÃO
Sidarta Ribeiro,

O exercício físico com meu treinador, acompanhado de longas caminhadas pela praia, ou pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ou em qualquer outra cidade, são fundamentais para manter minha saúde física e mental. Essas caminhadas têm também uma função meditativa, já que possibilitam um encontro reflexivo comigo mesma, na busca da felicidade, do equilíbrio necessário para a minha vida, enfim, para os meus fazeres, os meus afetos e tudo o que me circunda”

Beatriz Milhazes,

Eu encontro a felicidade em pequenos momentos do meu dia a dia. No barro que eu moldo para transformá-lo em cerâmica, nas linhas do crochê, mas principalmente no sorriso da minha neta Eliza”

Denise Aguiar Alvarez ,

Trabalho

num

lugar legal, com pessoas legais e, durante a pandemia, contratamos uma cozinheira que faz um almoço muito, muito bom. Nem percebo a vida passar”

Marcio Kogan, Ser feliz é um

conceito abstrato que resolvi refazer do ‘ser feliz…’ para ‘estou feliz…’. Estou feliz quando estou em família, estou feliz quando estou com filhos, estou feliz quando estou com amigos, estou feliz quando conheço lugares novos, estou feliz quando malho, estou feliz quando estou no mar ou no rio, estou feliz quando entregamos algo de supervalor para clientes, quando as pessoas se inspiram…Muitas desses momentos elevam a gente para a felicidade”

Ana Couto,

Felicidade para mim só é possível quando a busca é por aprimoramento das nossas relações e expansão da consciência. Assim consigo viver sem frustrações e com mais generosidade comigo e com quem me cerca. Liberdade é pilar da nossa felicidade. Também procuro estar com pessoas que seguem esse mesmo estilo de vida, mais desprendido e realista, menos ganancioso e mesquinho. Pessoas que realmente se preocupam com a qualidade das energias que emanam são um bálsamo que potencializam nossa felicidade”

FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO; PAULO FREITAS Joice Berth,

PLAYLIST ALTO ASTRAL

Felicidade – Seu Jorge

Feliz, Alegre e Forte – Marisa Monte

A Felicidade – João Gilberto

Happy – Pharrell Williams

Felicidade – Marcelo Jeneci

Gente Feliz – Vanessa da Mata

Tocando em Frente – Almir Sater

Parodiando

Contardo

Calligaris: ‘Não quero uma vida feliz, quero uma vida interessante’. E para isso escuto a vida. A que pulsa e não cessa de brotar dos mais inesperados lugares.

Sobretudo aqueles que podem me surpreender, os que escapam da minha rotina. Viver com o olho delicadamente aberto pode nos trazer momentos de descoberta e, assim, de prazer inédito”

Maria

,

É bem simples: ter tempo de qualidade com gente que amo. Esposa, família e melhores amigos. Uma vez por mês, no mínimo, ir para o meio da natureza para recarregar as energias (e, nesse critério, nada bate Angra dos Reis). E levar o dia a dia um pouco piadista, com humor, para deixar todas as obrigações e correrias mais leves”

Romero Rodrigues,

DO RIO PARA O MUNDO

Um dos nomes por trás da FARM, que consagrou a moda carioca com suas estampas ultra coloridas, Marcello Bastos se prepara para ganhar o mundo. Fundada há 25 anos com a amiga de adolescência Kátia Barros, a marca, que nasceu despretensiosa, projeta um audacioso plano de expansão internacional. A meta é inaugurar de 35 a 55 lojas nos Estados Unidos e na Europa nos próximos anos.

A fórmula do sucesso foi investir na estamparia e na construção de branding, quando ainda não se falava nisso. Certa vez, Kátia contratou um vitrinista para criar uma ambientação tropical em um estande na descolada Babilônia Feira Hype, no Rio – onde tudo começou. Apesar de a dupla estar descapitalizada, Marcello confiou no olhar da sócia. A partir da criação da nova identidade, a marca, que já tinha se tornado líder de vendas com seus bodies cheios de bossa, passou a vender duas vezes mais. “Todas as lojas da feira reformularam suas fachadas. Aprendi que conceituar a marca é fundamental”, conta Marcello. Atualmente, a FARM tem cerca de 90 lojas no país.

Para Marcello, a marca ultrapassa a esfera da moda, e vende, acima de tudo, estilo de vida: “O nosso DNA foi pensado para deixar as pessoas mais felizes. É como se elas entrassem no modo férias”, compara ele, que é o atual presidente do Grupo Soma, holding criada com a fusão da FARM e Animale, que já engloba mais de dez marcas e está entre as 100 maiores marcas de luxo do mundo. É justamente a brasilidade e esse clima de balneário que encantou celebridades internacionais como Lupita Nyong’o, Taylor Swift e Sarah Jessica Parker, que já apareceram usando

looks da marca, após a inauguração do e-commerce, em 2019, e da primeira loja fora do Brasil, no SoHo, em Nova York. Não à toa, “Dress in happiness”, ou “Vista-se de felicidade”, é o slogan da FARM global.

Hoje, o grupo tem três lojas nos Estados Unidos e duas na Europa. “Somos a primeira marca de vestuário brasileira a se posicionar internacionalmente. A projeção é que em três anos a FARM global supere a FARM Brasil em vendas”, comemora Marcello. Só em 2021, a FARM vendeu R$ 269 milhões fora do Brasil e R$ 900 milhões por aqui. “Meu sonho é que a FARM seja uma das dez melhores marcas de moda do mundo”, profetiza Marcello. Pai de Mel, de 6 anos, Bento, de 8, e Rafaela, de 24, e designer da marca, ele tem ainda duas grandes paixões: o futebol – estava se preparando para viajar ao Catar para as quartas de finais da Copa – e o Rio de Janeiro: “Fiz até uma cláusula no contrato que impede que a FARM seja transferida para outra cidade”, entrega, rindo. n

FOTO PEDRO CARDOSO/DIVULGAÇÃO
POR DENISE MEIRA DO AMARAL ESPELHO
Como Marcello Bastos e Kátia Barros conquistaram o mercado internacional com os looks brasileiríssimos da FARM
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OBJETO DE DESEJO

CRIAÇÃO ABSTRATA | GENARO DE CARVALHO

As tapeçarias planas bordadas de Genaro de Carvalho tiveram seu auge nas décadas de 1960 e 1970, mas continuam atuais e mais valorizadas do que nunca. Aqui, uma obra rara do artista plástico baiano: Criação Abstrata. Em relevo, tecida no tear e bordada com fios soltos, a peça foi exposta, em 1966, na Bienal Nacional de Artes Plásticas do MAM-BA, e fica até março na mostra Genaro e a Luz da Bahia, na Passado Composto Século XX, em São Paulo. A curadoria é de Nair de Carvalho, viúva de Genaro, e Graça Bueno, diretora da galeria.

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O MESTRE DO FLAMENCO

“Todos têm direito de dançar: gordos, altos, baixos, velhos... A dança é patrimônio de todos, não só dos que têm corpos maravilhosos”, disse o espanhol Antonio Gades em uma entrevista à Folha de S.Paulo, em 1995. Considerado um dos grandes artistas espanhóis de sua geração, ele sabia do que estava falando. Contava que se tornou bailarino por acaso. Nascido na província de Alicante, começou a trabalhar aos 11 anos como garoto de recados num estúdio de fotografia. Queria ser toureiro, mas também ciclista, boxeador e jogador de futebol. Para fugir à sina do pai operário, começou a dançar em cabarés, onde foi descoberto e recomendado a Pilar López, mestra do flamenco que o convidou para sua companhia. Aos 20, Antonio já liderava seu próprio grupo de dança, com o qual revolucionou o flamenco, dança de origem cigana que transformou em uma arte enérgica e requintada, magnetizando plateias no mundo todo. Dizia que era preciso humanizar a dança, “um estado anímico do ser humano”. Suas coreografias tornaram-se clássicas ao serem levadas às telas pelo cineasta Carlos Saura. Diretor e bailarino criaram a trilogia formada por Bodas de Sangue (1981), Carmen (1983), indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, e O Amor Bruxo (1986). Morreu em Madri, aos 67 anos, em 2004, vítima de câncer. Suas cinzas foram para um mausoléu dedicado aos heróis, em Cuba, onde costumava passar temporadas a convite do amigo Fidel Castro. Ele dizia que Cuba era o porto de sua vida.

RESPIRO

GRINGA VERDE E AMARELA

Nascida em Porto Alegre e criada no Havaí, Tatiana Weston-Webb se tornou uma das melhores surfistas do mundo e forte candidata a trazer a medalha de ouro para o Brasil na Olimpíada de 2024

Os incontáveis voos entre Kauai, no Havaí, e a Praia do Tombo, no Guarujá, onde vive Tatiana Weston-Webb, desmontam a teoria de que escritório de surfista é na praia. Estar entre as melhores da modalidade no mundo, dá a essa gaúcha de 26 anos muito trabalho e responsabilidade. “Agora que sou a única representante brasileira no circuito mundial, sinto mais a pressão. Os moleques estão arrebentando no lado masculino e eu quero arrebentar no lado feminino”, diz a vice-campeã do WSL (World Surf League) que está entre as cinco melhores do ranking mundial. “Quero ser inspiração para as mulheres brasileiras”, acrescenta Tatiana, que acredita em um futuro com cada vez mais garotas competindo ao seu lado.

Mas, em um esporte ainda dominado por homens, a surfista já enfrentou muito olhar torto em seu início. “O surfe era muito machista. Os caras não estavam acostumados a ver uma mulher pegando tubo, fazendo aéreo e essas coisas que eles fazem há anos”, relembra Tatiana. “Hoje vejo mais igualdade e respeito com as mulheres no surfe. Fico orgulhosa porque é uma luta de anos. Estou falando de uma geração de mulheres antes de mim que também lutou muito para que tivéssemos nosso espaço.”

Competindo pelo Brasil desde 2018, Tatiana antes disputava pelo Havaí. Isso porque, ainda bebê, aos 2 meses,

ENSAIO
Vestido Unity Seven, joias Simone Ddib

seus pais haviam se mudado para lá e foi no arquipélago americano que ela descobriu sua vocação para o surfe, aos 8 anos. Só aos 22 passou a competir pelo Brasil, graças à dupla nacionalidade – ela nasceu em Porto Alegre. Não sem antes enfrentar certo estranhamento. “No começo foi um pouquinho de choque, mas todo mundo sabe que sou brasileira também. É um fato. Então, ninguém ficou assustado”, explica. “Foi uma escolha que tive que fazer. E, quando os moleques nos campeonatos descobriram, me apoiaram muito ao saber que eu estava representando o Brasil.”

Também foi no Brasil que “a mezzo gringa” encontrou o amor. Tatiana é noiva do também surfista Jessé Mendes. Hoje, ela disputa o CT (Championship Tour), enquanto ele participa do QS (Qualifying Series). “Somos atletas profissionais e há espírito competitivo na gente. Isso é bom porque um está sempre dando toques para o outro em questões profissionais”, revela ela que, para se comunicar melhor com o noivo – e a família dele – precisou aprender português.

“Os pais do Jessé não falavam nada de inglês, então, pensei: ‘Bom, chegou a hora de aprender português para eu poder conversar com eles”. Só que eu não estudei oficialmente, só treinei de ouvido e quem me ajudou bastante com as palavras foram os amigos do Jessé.”

NO BERÇO DO SURFE

Uma das lembranças de infância de Tatiana é a de seu pai, o surfista inglês Doug Weston-Webb, a empurrando em uma prancha pelas ondas do Havaí. Foram nessas mesmas ondas, no berço do surfe, que aprendeu técnicas diferenciadas para enfrentar os tantos mares pelo mundo e se destacar.

“Crescer no Havaí foi muito importante para o meu estilo de surfe. Lá tem tantos tipos de ondas que dão esse caminho aos surfistas profissionais. Tanto que alguns dos mais conhecidos do mundo, como Andy Irons, Malia Manuel e Bethany Hamilton, vieram de lá”, diz a vice-campeã mundial, que afirma que se adaptar em diferentes mares é uma de suas maiores qualidades no esporte. “Às vezes você não tem a prancha certa ou não está muito confiante no dia. Por isso, acho muito importante os surfistas treinarem em várias ondas diferentes para conseguir se adaptar e não ter problemas na hora de competir”, aconselha ela, que treina cerca de quatro horas por dia dentro da água após fazer a preparação física com o comitê olímpico brasileiro.

Camisa Calvin Klein, hot pants Hope, brinco Marisa Clermann. Na pág. anterior, blazer Ricardo Almeida Feminino, calça Luzia Fazzolli, brinco Marisa Clermann

“Hoje vejo mais igualdade e respeito com as mulheres no surfe. Fico orgulhosa porque essa é uma luta de anos”

DE OLHO NO OURO

Forte candidata a conquistar medalha de ouro na Olimpíada de 2024, em Paris, a esportista acabou retornando de mãos vazias da Olimpíada de Tóquio, em 2020. Porém, a derrota aumentou ainda mais a sede em buscar o ouro para o Brasil.

“Não deve ter nada melhor do que ganhar uma medalha de ouro na Olimpíada. Esse é o meu maior sonho e acho que tenho grandes chances de ganhar na próxima. Conquistar o título mundial também é um dos meus objetivos”, afirma Tatiana em tom otimista e agradecida por seu momento estar acontecendo. “É claro que temos derrotas e obstáculos na vida, mas eu não mudaria nada na minha”, finaliza. n

Na pág. anterior, body Souq, calça Luzia Fazzolli, brinco Marisa Clermann, pulseiras Simone Ddib escarpim Christian Louboutin, suspensório acervo

Beleza: Jayme Vasconcellos (Capa MGT)

Direção de arte: David Nefussi

Edição de moda e produção executiva: Ana Elisa Meyer

Assistente de produção de moda: Marina Araújo

Assistente de fotografia: Dennison Sabino

Manicure: Rose Luna

Tratamento de imagem: RG Imagem

ESPAÇO DE CURA

Com uma ampla janela de tramelas douradas emoldurando a Estação da Luz, o relógio inspirado no Big Ben e os trilhos da estação de trem mais charmosa de São Paulo, o escritório do diretor-geral da Pinacoteca, Jochen Volz, 51 anos, no prédio da Pina Estação, é quase um cartão-postal. A

vista, que o faz lembrar diariamente seu país natal e sua enorme malha ferroviária, e os passageiros de todos os tipos que passam por ali, são uma espécie de reflexo do que a Pinacoteca tem ambicionado ao longo dos últimos anos: se tornar um museu diverso, de múltiplos olhares e saberes.

Responsável por exposições bem-sucedidas como OSGEMEOS: Segredos, Grada Kilomba: Desobediências Poéticas, Véxoa: Nós Sabemos e Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985, Jochen trouxe para o centro da cena artistas ainda marginalizados, como de rua, mulheres, afrodescendentes e indígenas. “É muito importante questionar qual história não nos foi contada. Para além de uma reparação histórica, olhar para essa diversidade é também uma forma de trazer outras contribuições filosóficas fundamentais, como de uma Grada Kilomba ou de um Ailton Krenak”, acredita o historiador de arte.

Em sua mesa de trabalho, inúmeros catálogos das exposições da Pinacoteca dividem espaço com uma

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POR DENISE MEIRA DO AMARAL FOTOS PAULO FREITAS Acima, Jochen Volz em seu escritório no Largo General Osório as cadeiras são Mies van der Rohe; ao lado, maquete do novo prédio da Pina Contemporânea

gravura de onça do artista Denilson Baniwa e cartões-postais. Em um deles, uma colagem em cima de uma foto do artista plástico Christo revela um pedido inusitado de um curador alemão que pediu para que Jochen entrasse em contato para tratar de um assunto muito importante. “Ele podia me enviar um e-mail, mas me mandou um postal, que levou semanas para chegar”, conta o diretor, rindo. Já o assunto ele nunca soube, pois o curador não respondeu o e-mail de Jochen até hoje.

Uma maquete do projeto inicial do novo prédio Pinacoteca Contemporânea, previsto para ser inaugurado no próximo aniversário da cidade de São Paulo, em meio a uma praça pública, em frente ao prédio da Estação da Luz, fica disposta na mesa lateral de sua sala. A ideia é que o conjunto dos três edifícios: a Pina Contemporânea; a Pina Luz, a primeira sede da Pinacoteca e a mais visitada, fundada em 1905; e a Pina Estação, no Largo General Osório, inaugurado em 2004 e antigo escritório da Estrada de Ferro Sorocabana, seja um grande museu internacional de arte brasileira.

Já percorrendo o prédio mais famoso do museu, na Praça da Luz, o diretor escolhe a tela Um Espaço para a Cura, do coletivo de artistas Makhu, para a equipe de PODER fotografar. Para ele, a arte feita por indígenas traz outras narrativas, apresenta uma cosmovisão muito rica e relevante para a sociedade, além de denunciar questões ambientais fundamentais para a nossa sobrevivência. “O museu é um lugar de memória e de exercício de um espaço democrático. Ele nos permite pensar que somos diversos, temos múltiplas vozes, mas a vontade de construir um futuro juntos é a mesma”, finaliza, em frente à icônica parede de tijolinhos do museu de arte mais antigo da cidade. n

PODER 61
Em sentido horário, cantinho do escritório com vista para a Estação da Luz; tela Um Espaço para a Cura, do coletivo de artistas Huni Kuin: Jochen no prédio mais famoso do museu, o Pina Luz; os postais recebidos e os catálogos de exposições ficam em sua mesa de trabalho

POR DENISE MEIRA DO AMARAL

RENATA MEI HSU GUIMARÃES

De ascendência italiana e libanesa, pelo lado materno, e chinesa e russa, pelo paterno, a advogada Renata Mei Hsu Guimarães não só optou pelo direito de família, como adora reunir as histórias da sua. As lembranças do que o pai contava devem virar um livro de memórias, um resgate para seus três filhos, Felipe, Thiago e Camila. Formada em Direito pela PUC-SP, Renata tinha 17 anos quando começou como estagiária no escritório Machado Meyer e, com o tempo, tornou-se sócia. Abriu seu próprio escritório, o Guimarães Bastos Advogados, em 2006, e hoje ela é um dos maiores nomes ligados ao direito de família e sucessões. Se no passado a procura por profissionais do Direito se dava somente após falecimentos, problemas de saúde ou divórcios, atualmente houve um aumento significativo na demanda, principalmente por conta de questões sucessórias. A pandemia contribuiu para intensificar esse movimento. Hoje, de 60% a 70% dos casos de seu escritório são consultivos e o restante litígios nessa área. Para Renata, lidar com o planejamento familiar antes de situações de crise é fundamental para o bom andamento das empresas, já que dessa forma o patriarca ou matriarca estará mais apto a analisar a vocação de cada herdeiro para saber se precisa construir uma linha sucessória entre as gerações ou se terá que construir essa linha fora, com a contratação de executivos. “A geração dos netos tem transformado as empresas, que passaram a utilizar cada vez mais instrumentos como conselhos de família e mecanismos de governança.” Renata é apaixonada por plantas, charutos e obras de arte, além da escrita, o principal motivo que a levou a escolher a faculdade de Direito. “Nunca cogitei fazer outra coisa na vida”, revela a advogada, autora de dois livros de poesia, publicados aos 12 e aos 15 anos – e com prefácio do poeta e escritor Menotti Del Picchia.

LEMBRANÇA DE INFÂNCIA:

O cheiro do fogão a lenha da fazenda dos meus pais, em Amparo

DIREITO É: Lastro que orienta a minha vida

FAMÍLIA É: A melhor parte

UM JURISTA QUE ADMIRA:

Walter Ceneviva, meu exprofessor, por quem tenho profunda admiração

O QUE MAIS ME DEIXA FELIZ: O convívio com meus filhos

O QUE ME IRRITA: Mentira

DA CASA: Meu escritório

NÃO VIVE SEM: Escrever

UM ENSINAMENTO PÓS-

PANDEMIA: Tolerância

UMA MANIA: De organização. É quase TOC. Sou a rainha das listas de pendências. Tenho até as pendências de sábado

FAZ TERAPIA OU ANÁLISE: Fiz por oito anos e parei antes da pandemia

UMA MÚSICA: “Feeling

Good”, de Nina Simone

TATUAGENS: Tenho quatro. Alguns clientes estranham

PASSEIO PREFERIDO EM SP: Exposições de arte, parque Alfredo Volpi [no Morumbi] e caminhada no centro de São Paulo

MUSEU: Pinacoteca

OBJETO MAIS PRECIOSO

HERDADO DOS PAIS: Um baú grande de madeira de sândalo, que meu pai trouxe quando deixou a China e,

após décadas, continua exalando um cheiro delicioso; e as alianças de minha mãe, que usei e que agora vou deixar para minha filha, que vai se casar

MAIOR MEDO: Ter Alzheimer. Minha mãe teve por 17 anos. É uma morte em vida

SONHO: Que meus filhos permaneçam juntos e amigos quando eu não estiver mais aqui

62 PODER
SOB MEDIDA
FOTOS PAULO FREITAS; GETTY IMAGES; FREEPIK; UNSPLASH; DIVULGAÇÃO

voltar a nadar

QUANDO ACORDA

Tomo café e leio os jornais: Estadão, Folha de S. Paulo e Valor, todos em papel

PRATO PREDILETO Pode ser doce? Mil-folhas com um cafezinho

ANTES DE DORMIR

Fumo um charuto na sala lendo um livro. É o meu momento

VIAGEM QUE AINDA

VAI FAZER Indochina, acompanhando o rio Mekong

LIVRO ATUAL Escute as Feras, de Nastassja Martin

HÁBITO SAUDÁVEL

Tomo sopa e como salada em noites alternadas

RESTAURANTE PREFERIDO Maní

VIAGEM INESQUECÍVEL

Patagônia chilena com minha filha Camila

SE NÃO FOSSE ADVOGADA Seria arquiteta ou escritora

CANTORA Nina Simone

PODER 63
FILME PREFERIDO DA VIDA Out of Africa

BRISA SÓ NA

Uma seleção de veleiros para fazer bonito em alto-mar. Bem-vindo a bordo e aproveite a viagem, que o vento cuida do resto

SARAIVA MOTOR
POR ROBERTO
DIVULGAÇÃO
FOTOS

885 SII, OYSTER Com cara de superiate com espaço para um lounge na proa, torneira com água gaseificada no bar interno e geladeira sob os bancos do deque. A popa vem equipada com chuveiro e uma plataforma controlada por um aplicativo. Na parte de baixo, quatro quartos com persianas automáticas e controle de luminosidade e de som, além de outros dois para acomodar a tripulação.

+OYSTERYACHTS.COM

OCEANIS YACTH 54, BENETEAU

Um veleiro com design moderno e 17 metros de comprimento e equipado com um bote inflável de 2,4 m de comprimento. A navegação é auxiliada por um sistema de controle de todos os dados do barco, um regulador automático de velas e um assistente de manobras em forma de joystick. As opções de customização permitem até três cabines e três banheiros. Para dar uma ideia, uma cama queen size cabe com folga na suíte principal.

+BENETEAU.COM

66 PODER
FOTOS DIVULGAÇÃO

500 DS, NORDSHIP

Não por acaso, esse veleiro foi indicado ao European Yacth of the Year. Com até quatro cabines duplas sob seus 14 metros de comprimento, tem espaço para oito pessoas no cockpit e ampla área de lazer na proa. Escritório, cozinha ampliada e sala de estar são algumas das opções de customização. Os compradores, aliás, são convidados a visitar o estaleiro em Lunderskov, na Dinamarca, para discutir o que gostariam de ter em seu barco.

+NORDSHIP.DK

SWAN 78, NAUTOR SWAN

Com shape de barco de corrida, o Swan 78 tem quatro suítes e mais um quarto para duas pessoas da tripulação. São 25 metros de comprimento e uma dupla de lemes que se ajusta ao movimento da água, garantindo agilidade e conforto. O deque tem duas mesas e dois grandes sofás em forma de C e o salão interno comporta janelas panorâmicas e um teto solar que funciona como área para se bronzear quando as velas estão içadas.

+NAUTORSWAN.COM

PODER 67

VAI DAR PRAIA

Prancha motorizada, tanque de oxigênio e até um minissubmarino. O mar está para você!

VINTE MIL LÉGUAS

O Nemo 2, da U-Boat Worx, é um minissubmarino inteiramente customizável e com capacidade para até duas pessoas. Capaz de mergulhar a até 100 metros de profundidade, foi desenvolvido para ser pilotado por qualquer um, depois de um curto período de treino.

A PARTIR DE R$ 3 MILHÕES

+NEMO-SUBMARINE.COM

FÔLEGO

Um minitanque de oxigênio de 1 litro que pode ser acoplado a uma máscara para mergulhar sem necessidade de certificação. Você mesmo enche o S400PRO e pode passar até 20 minutos submerso. Um controle de pressão ajuda a controlar a profundidade dentro da água.

R$ 1.836

+SMACOSPORTS.COM

SEM ESFORÇO

Se você ainda está se acostumando à ideia das quilhas foil, que flutuam sobre a água, espere para conhecer as motorizadas da eFoil. A Fliteboard desliza sem fazer barulho e vem com um controle manual com 20 velocidades. A prancha também pode ser customizada com diferentes “asas” na parte inferior, mudando sua maneira de manobrar no mar.

R$ 67.981 + GLOBAL.FLITEBOARD.COM

68 PODER HIGH-TECH
POR ROBERTO SARAIVA

SOM NA CAIXA

Além de ser resistente à água, a BOOM 3, da Ultimate Ears, flutua. E tem mais: é revestida com material semelhante ao usado nas jaquetas dos motociclistas, tem alcance de cerca de 50 metros e toca as playlists diretamente no aparelho, sem necessidade de usar o celular.

R$ 1.199

+ULTIMATEEARS.COM

ALPINISMO

Já pensou ter uma parede de escalada inflável na lateral do barco? A FunAir

Climbing Wall, da Zephyr Yacthing, tem design totalmente customizável e opções de cores e de logo personalizados – sem falar nos 10 metros de altura.

PREÇO SOB CONSULTA +ZEPHYR-YACTHING.COM

A JATO

O JF 300, da Jetlev-flyer, bombeia água por uma mangueira até a mochila e jatos pressurizados lançam o usuário a uma altura de até 10 metros e a uma velocidade de até 75 km/h.

R$ 560.630 + JETLEV-FLYER.COM

FAZ TUDO

O Descent MK 2S, da Garmin, é para quem gosta de mergulhar. O relógio resiste a mergulhos de até 100 metros de profundidade, tem GPS e diversos programas de avaliação de performance. Também pode ser usado sobre a água ou em terra firme. Tudo o que se espera de um smartwatch de última geração também está aqui, como o acesso a apps, inclusive de pagamento, e monitoramento dos sinais vitais, da respiração, do sono e até do ciclo menstrual.

R$ 5.400 + GARMIN.COM

PODER 69 * PREÇOS PESQUISADOS EM DEZEMBRO DE 2022, SUJEITOS A ALTERAÇÕES;

Programas imperdiíveis: provar os famosos pastéis da Cruz Alta; e passar algumas horas na loja A Vida Portuguesa, no Chiado, que tem tudo o que se pode imaginar – e mais um pouco

VIAGEM
FOTOS JOYCE PASCOWITCH; DIVULGAÇÃO

NO

CAMINHO CERTO

Com belas cidades e muita história, Portugal nunca decepciona – Lisboa, Sintra e a região do Algarve que o digam. Vá por aí se quiser começar sua viagem com o pé direito

FOTOS E TEXTO PAULO FREITAS*

Em sentido horário: Morgado do Quintão, no Algarve; portal em Sintra; e vista de uma das suítes do Tivoli Carvoeiro Algarve Resort

72 PODER

Em sentido horário: Livraria Bertrand, em Lisboa, a mais antiga do mundo; Hotel Tivoli Palácio de Seteais, em Sintra; e o histórico Largo de São Carlos, na capital portuguesa

PODER 73
*O jornalista viajou a convite de Tivoli Hotels & Resorts FOTOS JOYCE PASCOWITCH; DIVULGAÇÃO

ENDEREÇO EXCLUSIVO

PODER e Joyce Pascowitch, em parceira com a SKR, pilotaram jantar especial com menu assinado pelo chef Dalton Rangel. O encontro celebrou o AYYA, novo empreendimento da construtora no coração dos Jardins, em São Paulo.

JOYCE PASCOWITCH ENTRE VINICIUS ANDRADE E GREG BOUSQUET DALTON RANGEL
FERVE
ADRIANA GROSMAN E SILVIO KOZUCHOWICZ THAYA MARCONDES ROSELLE SOGLIO E ALEX REILELR
FOTOS
PAULO FREITAS
FABÍOLA MEIRA E THIAGO BRESEGHELLO MARIA CRISTINA E ANGELICA POTOMATI ANNA LUCIA AZEVEDO E MOISE POLITI ALICE COUTINHO CAROLINA BURG TERPINS E RICARDO TERPINS ODETE E DÉBORA MANOR

Fora do RADAR

Com dez anos de mercado, a Âyiné, editora que começou como revista de temática islâmica, garimpa autores e obras esquecidas pelas grandes casas editoriais

Tudo começou com uma revista chamada Âyiné – que quer dizer espelho, na língua persa. Voltada a estudos islâmicos, a revista se transformaria em editora em 2017, com diversidade de obras e de autores, de clássicos a contemporâneos, e de temas que vão de ensaios filosóficos do século 15 a romances atuais. Aos dez anos, a Âyiné – que tem sede no Brasil, mas foi fundada na Itália por brasileiros e italianos – é dirigida pelo especialista em literatura persa Pedro Fonseca. Ele afirma que a editora pretende expandir sua área de atuação. “Temos ideias para novas coleções, queremos olhar para a produção literária brasileira um pouco mais de perto – e só será possível fazer isso agora com a editora um pouco mais estruturada, com funcionários e colaboradores mais presentes”, diz Fonseca.

76 PODER CULTURA INC. POR LUÍS
COSTA

O diretor editorial lembra que a Âyiné surgiu em um momento de grande transformação no mercado editorial, quando as grandes redes de livrarias estavam perdendo o fôlego. “A editora não precisou se adaptar, mas, sim, atuar em um mercado em crise, que estava em intensa transformação. Desde o início, procuramos livrarias independentes, de bairro, que apostam em uma boa seleção de títulos”, conta ele.

O primeiro foi Memó rias de um Editor, de Kurt Wolff, volume que reúne as memórias desse que foi o editor de grandes nomes da literatura do século 20, como Franz Kafka, Karl Kraus, Robert Walser e Gustav Meyrink. De lá para cá, a Âyiné já publicou autores consagrados como Natalia Ginzburg, Abbas Kiarostami e Isaiah Berlin, ao lado de nomes em ascendência como o poeta Ocean Vuong, um já premiado vietnamita-americano de 34 anos, e a romancista franco-coreana Elisa Shua Dusapin, de 30 anos. “Nossa ideia é publicar sobretudo o que está, de certa maneira, fora do radar das grandes editoras brasileiras”, afirma Pedro Fonseca.

A Âyiné tem sede no Brasil, ainda que seus fundadores, como o próprio Fonseca, estejam na Itália. “Acho que a conexão entre os dois países acaba se traduzindo no catálogo – o fato de termos um pé na Itália nos aproxima do que é publicado lá e na Europa como um todo. De fato, publicamos mais autores italianos, sobretudo a produção filosófica, mas isso não é um mérito. Publicar, por exemplo, Massimo Cacciari é apenas a correção de um erro do mercado editorial brasileiro”, diz. O filósofo

italiano, aliás, tem oito títulos no catálogo da editora – incluindo Paraíso e Naufrágio, de 2022.

A mais recente aposta da Âyiné é a coleção Versalete, pensada para publicar en-

PODER É

PRIMEIRA CLARICE

A Rocco lançou uma edição especial de Perto do Coração Selvagem, livro de estreia de Clarice Lispector, publicado em 1943, quando a escritora tinha 23 anos.

saios digressivos, textos que podem suscitar discussões a partir da leitura, e não preocupados em trazer uma afirmação universal. Em 2022, foram lançados cinco títulos bastante diversos entre eles, como o relato sobre a cidade de São Petersburgo, do escritor holandês Jan Brokken, um ensaio sobre as estruturas sociais, do sociólogo francês Didier Eribon, e um trabalho da crítica literária Clara Schulmann sobre as vozes das mulheres.

O volume, com capa dura e sobrecapa de papel vegetal, traz imagens de datiloscritos originais e quatro novos textos sobre a obra, assinados por Evando Nascimento, Faustino Teixeira, Marília Librandi e Maria Clara Bingemer. O romance passeia por diferentes tempos da vida da questionadora Joana. “A personagem, como outras de Clarice, é alguém que está sempre rompendo limites. Alguém cuja essência não pode ser fixada ou enquadrada, mas vem definida por um permanente ‘tornar-se’. O estado em que vive é de perplexidade”, ressalta Faustino Teixeira.

A arquitetura, a precariedade do trabalho e da moradia e outros aspectos da capital paulista estão na exposição fotográfica Modernas! São Paulo Vista por Elas Sete fotógrafas assinam os trabalhos Alice Brill, Claudia Andujar, Gertrudes Altschul, Hildegard Rosenthal, Lily Sverner, Madalena Schwartz e Stefania Bril. Até 5 de março no Museu Judaico.

PODER 77
SP EM FOTO
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EXPOSIÇÃO

Museus de GRANDES novidades

Recursos tecnológicos, novos temas, mostras itinerantes ... Renata Vieira da Motta, que dirige o Museu do Futebol e no Museu da Língua Portuguesa, revela o que vem por aí

A arquiteta Renata

Vieira da Motta é o nome à frente de dois dos mais populares museus públicos de São Paulo – o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol. Diretora-executiva do IDBrasil, organização que administra as duas instituições, ela antecipa novidades para o próximo ano. Entre elas, está a reformulação da mostra principal do Museu do Futebol, que vai completar 15 anos. “Não vamos dar spoilers, mas podemos dizer que o Museu do Futebol terá novos recursos tecnológicos e vai se aprofundar em temas importantes”, diz Renata. Um deles vai ser o futebol feminino.

PODER É

O Museu da Língua Portuguesa, por sua vez, já tem nova temática definida. “Na segunda metade do próximo ano, trabalharemos em torno de um tema muito bonito e afetivo, que anuncio em primeira mão: Língua e Canção”, revela. “É um tema central a partir do qual vão derivar exposições, programação cultural e atividades educativas. A canção é uma forma muito brasileira de expressão, um traço de nossa cultura muito ancorada em nossa pluralidade, poesia e inventividade”, diz.

Os dois museus também se preparam para atividades extramuros. Logo no início de 2023, Araraquara receberá a exposição Contra-Ataque! As Mulheres do Futebol, versão itinerante de mostra realizada na sede, em 2019, que conta a história do futebol feminino no Brasil. A ideia é que a mostra percorra várias cidades do interior paulista. Já o Museu da Língua Portuguesa vai continuar o trabalho de relacionamento com as populações – inclusive pessoas em situação de rua – e instituições de seu entorno.

Com a agenda sempre cheia, Renata é organizada e metódica. “Como não tenho rotina, planejamento é central na minha vida. Gosto de ir dormir com o dia seguinte planejado e de acordar cedo, atenta ao que importa”, diz ela, que tem 51 anos e é doutora em arquitetura e urbanismo pela USP.

TINTAS PARA MACHADO

Ela divide o dia entre o trabalho e a casa ao lado de um companheiro de muitos anos e de um filho adolescente. Diz que é uma típica profissional do mundo contemporâneo, sempre buscando equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. “E a cada dia acordo consciente do privilégio de dirigir esses dois museus públicos extraordinários, ao lado de uma equipe incrível”, diz. Juntos, os dois museus receberam mais de 500 mil pessoas em 2022. “O impacto da Covid-19 e de um país que se dividiu profundamente me faz ter ainda mais pressa no que quero realizar e no que acredito que coletivamente podemos transformar a partir da cultura.”

Pinturas inéditas da artista visual carioca Márcia Falcão ilustram a nova edição de Pai Contra Mãe, conto clássico de Machado de Assis, escrito em 1906 e relançado pela editora Cobogó. Foi um ano movimentado para a artista: em 2022, ela apresentou sua primeira exposição individual em São Paulo, na Fortes D’Aloia & Gabriel, um desdobramento da mostra realizada na Carpintaria, braço da galeria paulistana no Rio de Janeiro. Márcia também assinou obras na exposição coletiva Parábola do Progresso, no Sesc Pompeia, em São Paulo, e no MAR + Enciclopédia Negra, na Casa Cirell, entre outros projetos.

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Renata Vieira da Motta

uando criança, o empresário Frank Geyer gostava de brincar de caça ao tesouro – literalmente. Neto do casal Paulo e Cecília Geyer, ele cresceu em um dos endereços mais icônicos do Rio de Janeiro: o casarão da família no bairro do Cosme Velho, que guarda um acervo de arte e história inestimável.

Pois esse tesouro da arte no Brasil está perto de ser descoberto. A vultosa coleção que o casal deixou como doação ao Museu Imperial vai ser aberta ao público pela primeira vez, em um projeto de casa-museu, com expectativa de inauguração em 2024. As 4.255 obras que se espalham pelo casarão do finzinho do século 18 fazem parte de quatro décadas de uma coleção que perpassa a história do Brasil real ao imperial. O catálogo reúne livros, álbuns, pinturas, gravuras, litografias, desenhos, mapas e outros objetos. Telas de Debret, Rugendas e Thomas Ender – que são parte da infância de Frank – estão entre os itens guardados na casa.

Hoje vivendo na Suíça, Frank Geyer é o principal financiador do novo museu. Sócio controlador da Unipar, uma das maiores produtoras de cloro e soda na América do Sul, ele já injetou R$ 8 milhões no projeto. Frank estima que, em até dois anos, o museu já estará pronto para abrir as portas. O projeto de adaptação do espaço para a abertura ao público, contudo, está sob responsabilidade do Museu Imperial, que, segundo Frank, estima precisar de algo em torno de R$ 20 milhões para concluir o museu.

Paulo Geyer morreu em 2004, e Maria Cecília em 2014. Segundo Frank, seus avós deixaram claro o desejo de que o acervo e a casa não fossem esquecidos. “Meus avós pediram, até para exigir ao estado que desse um fim de me-

VERSALHES CARIOCA

mória e arte ao acervo, que a casa não se tornasse mais um museu nos porões, com infraestrutura apenas para o privilégio e acesso de poucos”, afirma Frank. O conceito da casa sonhado pelos avós, ele conta, era o The Frick Collection, de Nova York.

Maria Geyer, tia de Frank e filha do casal Paulo e Cecília, conta do desejo do pai de deixar um legado ao país. “Era a paixão da vida dele. A vida inteira colecionando, pensando no Brasil, no Rio de Janeiro, pensando em deixar algo de relevante. Foi um grande brasileiro. Sempre me disse que queria fazer alguma coisa por esse país”, diz ela.

Ao pé do Morro do Corcovado, atravessado pelo rio Carioca e vizinho da casa de Roberto Marinho, o terreno de 14 mil m² é circundado por um jardim planejado. No interior do casarão, os visitantes terão acesso a imagens do Rio de Janeiro real e imperial, seus logradouros, sua gente e natureza. São 1.120 itens iconográficos e 2.590 livros que enfatizam registros de viajantes e cronistas em terras brasileiras durante o século 19. Itens de arte decorativa chegam a 466, entre os quais 200 pinhas de cristal e vidro, móveis de madeira, em miniatura, trabalhados em marfim e a lanterna de prata que adornava a carruagem cerimonial de dom Pedro 2º.

Frank herdou dos avós o gosto pelo colecionismo de arte. Bibliófilo, mantém um acervo com várias primeiras edições de viajantes do império ultramarino português e de iconografia brasileira. Em 2021, fundou, ao lado da mulher, Flávia, o Instituto Flávia Abubakir – que já abriu ao público, em exposições físicas e virtuais, parte desse material. n

PODER 79
Com acervo raro que remonta ao Brasil real e imperial, Casa Geyer deve abrir as portas em 2024 no Rio de Janeiro
POR LUIS COSTA
ACERVO
FOTOS DIVULGAÇÃO CASA GEYER/MUSEU IMPERIAL/IBRAM

Se os ingleses inventaram o futebol em 1863, foi Edson Arantes do Nascimento, o PELÉ, quem criou o futebol arte. Não à toa, Nelson Rodrigues, que também escrevia crônicas esportivas, o chamou de Rei pela primeira vez. Isso foi em fevereiro de 1958, mesmo ano em que o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo na Suécia. No texto, o escritor e jornalista comentou as jogadas espetaculares de Pelé em uma partida em que o Santosmarcou 5 x 3 contra o América do Rio de Janeiro. Detalhe: quatro gols saíram das chuteiras de Pelé. Na época, ao comentar a performance do jogador, Rodrigues escreveu: “Sozinho, liquidou a partida, monopolizou o placar”.

Sabe os dribles desconcertantes de Johan Cruijff, Cristiano Ronaldo, Andrés Iniesta, David Beckham e Ronaldo “fenômeno”? Pelé já fez. Assim como os chapéus de Romário, Bebeto, Maradona e Ronaldinho Gaúcho, e os chutes a gol de Lionel Messi, Zidane e Roberto Carlos. Pelé foi, em seus tempos de bola no pé, o álbum completo de figurinhas da Copa. Iniciou sua carreira aos 15 anos no Santos Futebol Clube e, aos 16 estreou na seleção brasileira. Jogou três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970) e é um dos maiores – se não o maior – jogador que a seleção já viu.

O REI DOS REIS
FOTO ACERVO CBF
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