ESPELHO
AMADORA, SIM SENHORA Se os órgãos que analisam a qualidade da educação levassem em conta o trabalho de DENISE AGUIAR ALVAREZ, seguramente o Brasil teria níveis nórdicos e nota azul de avaliação. Completando 30 anos na presidência da Fundação Bradesco, a neta mais velha de Amador Aguiar, fundador da instituição financeira, é responsável por colocar em prática o sonho do avô de criar acesso à educação gratuita e de qualidade para formar crianças, jovens e adultos. Uma revolução pedagógica, criada em 1956, que passa por 40 escolas espalhadas em comunidades carentes por todos os estados e que capacitou quase 2 milhões de alunos. Na zona rural de Formoso do Araguaia, a 320 km de Palmas (TO), está a Fazenda Canuanã, uma escola em regime de internato na qual 900 estudantes, entre 7 e 18 anos, vivem 24h por dia. É a menina dos olhos de fundação. “Foi a terceira escola, toda pensada e desenvolvida pelo meu avô. Ele adorava, tinha um carinho, e mesmo tendo morrido há muito tempo [em 1991] a presença dele por lá é marcante, com fotos nas paredes, homenagens”, conta Denise, que é pedagoga. “Sempre que eu chego os [alunos] pequenos me perguntam se eu sou a Amadora. Digo que sim”, ri. Em março, depois de uma grande reestruturação, a escola recebeu o prêmio de Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo na Building of the Year. O designer Marcelo Rosenbaum foi quem assinou o projeto, mas antes ouviu a opinião dos principais envolvidos para transformar o espaço num “lugar para chamar de seu”.
“Conversamos com os alunos para entender as necessidades. Algumas crianças passam dez anos morando lá, indo para a casa dos pais uma vez por mês ou com menos frequência, mas, mesmo assim, não reconheciam aquilo como sendo a casa deles. Era apenas a escola”, explica o arquiteto. “Foi um processo bem ousado, mas que a diretoria da fundação recebeu com muita coragem, respeito e suporte.” Entre os pedidos dos estudantes alguns consensos foram aplicados: para que os prédios fossem mais frescos, que houvesse uma área de convivência com televisão, abajures individuais ao lado das camas e uma pequena lavanderia no fundo dos quartos “porque os adolescentes preferem lavar as roupas íntimas”, lembra Denise. As acomodações, que antes eram para 40 alunos, agora instalam seis jovens. “As meninas me disseram que com isso se tornaram mais amigas porque hoje podem ‘compartilhar segredos’. Achei tão bonito.” O próximo plano da entidade é reformular o internato da Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. O projeto, também em cocriação com Marcelo Rosenbaum, está em andamento e tem prazo de dois anos para execução. “A educação, se melhor cuidada, resolveria diversos problemas do país e formaria cidadãos críticos. Por isso que precisamos tê-la como foco. Esse é o nosso objetivo”, completa Denise, a Amadora. Ao menos para os 100 mil alunos da Fundação Bradesco, este novo Brasil idealizado por seu avô já está em fase de construção. n
por dado abreu foto paulo freitas