Infopharma nº5 dic 2021

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A CONTRIBUIR PARA MELHORAR OS CUIDADOS DE SAÚDE SAÚDE

SETOR FARMACÊUTICO

FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS

Projeto Agulhão já recolheu mais de 300 mil seringas usadas que iriam parar ao lixo doméstico

Especialista explica a importância do aconselhamento farmacêutico na amamentação

As farmácias fundadoras da AFP fazem um balanço dos últimos 30 anos e perspetivam o futuro

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AFP-ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL

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Sumário

INFOPHARMA

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Agulhão já recolheu mais de 300 mil seringas usadas

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Tenho dor no ombro: o que fazer?

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Os rastreios oncológicos: e depois do COVID?

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Aconselhamento farmacêutico na amamentação

• Editorial .................................................................................................................. 5 • 30 anos a contribuir para melhorar os cuidados de saúde .................................. 6 • Agulhão já recolheu mais de 300 mil seringas usadas ...................................... 12 • Tenho dor no ombro: o que fazer? ....................................................................... 14 • Acompanhamento de doentes crónicos em tempos de pandemia e “medicamentos inovadores” ............................................................................. 18 • Os rastreios oncológicos: e depois do COVID? . .................................................. 20 • O papel das ONG no contexto da pandemia – Um exemplo ............................... 22 • Aconselhamento farmacêutico na amamentação .............................................. 24 • Qualidade na Farmácia: quo vadis? . ................................................................... 26 • Gestão de compras e vendas em Grupos ou Redes de Farmácias . .................. 30 • Marketing Digital: humanizar é o melhor remédio ............................................ 32 •A s farmácias fundadoras ...................................................................................... 38 • Programa abem: Rede Solidária do Medicamento.............................................. 44

Publicação: AFP-ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL DL: 466964/20

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As farmácias fundadoras

Edição, Impressão e Publicidade:

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Comemorar 30 anos de trabalho com as farmácias comunitárias  Manuela Pacheco, Presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP)

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ste ano a Associação de Farmácias de Portugal comemora o seu 30º aniversário e dedicamos a 5ª edição da Infopharma à celebração das múltiplas conquistas alcançadas ao longo destes trinta anos.

Num percurso que nem sempre foi fácil e que se tem deparado com diversos desafios, é com imenso orgulho que o trabalho realizado pela associação é hoje reconhecido por todos os stakeholders do setor da saúde. De facto, ao longo destes anos, a AFP tem vindo a crescer progressivamente, assumindo-se hoje em dia como um projeto consolidado, independente e interventivo na defesa dos direitos das farmácias associadas. Nesta edição especial 30 anos contamos, assim, com a participação de diferentes personalidades do setor para dar o seu testemunho sobre o contributo da associação para o panorama da Saúde em Portugal. Também as farmácias fundadoras marcam presença nesta edição, partilhando histórias e peripécias sobre o início do projeto, e dando a conhecer as suas ambições para o futuro da AFP.

Esta edição conta ainda com a participação de muitos outros convidados, como por exemplo Sofia Costa Inácio, que faz uma reflexão sobre a importância do aconselhamento farmacêutico durante a amamentação, por forma a garantir que a mãe tem acesso ao tratamento de que necessita através da toma de fármacos compatíveis.

Esta edição, que é para a AFP muito especial, é dedicada a todas as farmácias associadas que, ao longo destes trinta anos, têm confiado no nosso trabalho e partilhado a ambição de fazer ainda mais e melhor pela Saúde em Portugal.

“ Num percurso que nem sempre foi fácil e que se tem deparado com diversos desafios, é com imenso orgulho que o trabalho realizado pela associação é hoje reconhecido por todos os stakeholders do setor da saúde” Camila Mota Neves aborda a temática do impacto da COVID nos rastreios oncológicos, sublinhando que muitos exames ficaram por fazer durante o primeiro ano de pandemia. A saúde oral também marca presença nesta edição, num artigo de opinião da autoria de Rita Sousa Tavares, médica dentista, que fala sobre a importância da respiração, apresentando uma interessante abordagem inovadora.

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A CONTRIBUIR PARA MELHORAR OS CUIDADOS DE SAÚDE

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ESPECIAL 30 ANOS AFP <

Fundada em 1991, a Associação de Farmácias de Portugal tem vindo, desde a sua criação, progressivamente a crescer, assumindo-se hoje como uma voz respeitada na defesa dos interesses das farmácias. Ao longo destes trinta anos de existência, a AFP tem desenvolvido todo o seu trabalho privilegiando o estabelecimento de pontes entre os diversos agentes do setor, com o objetivo de criar respostas conjuntas para os desafios com os quais a Saúde se confronta. Hoje, a AFP participa ativamente na discussão e integra grupos de trabalho, identificando problemas e apre-

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sentando propostas de soluções, contribuindo para melhorar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde de que necessitam. Assim, no ano em que comemora o seu 30º aniversário, a AFP juntou alguns dos principais stakeholders do setor da saúde em Portugal para participarem nesta edição especial. Governantes, reguladores, agentes do setor farmacêutico e entidades parceiras dão assim o seu testemunho sobre o papel desempenhado pela AFP nas últimas três décadas em prol da saúde da comunidade.

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> ESPECIAL 30 ANOS AFP

ANTÓNIO LACERDA SALES

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ANA PAULA MARTINS

RUI IVO

Secretário de Estado Adjunto e da Saúde

Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos

Presidente do Infarmed

“Felicito a Associação de Farmácias de Portugal, bem como todos os seus associados, por mais um aniversário. Parabéns! Todos beneficiamos da forma como a associação se tem dedicado às farmácias e à comunidade nas últimas três décadas. É inegável o forte contributo que a AFP tem dado enquanto parceiro institucional do Ministério da Saúde. Por isso, aproveito esta data para manifestar o meu agradecimento pela forma séria e empenhada com que colabora connosco. Muito obrigado. Por último, faço votos para que a AFP possa prosseguir o seu trabalho de aposta numa atuação próxima dos farmacêuticos e dos utentes, bem como na colaboração atenta e proativa com as várias entidades reguladoras do setor farmacêutico, com vista ao desenvolvimento e à valorização deste grupo profissional e, por conseguinte, do setor da saúde”.

“A Associação das Farmácias de Portugal (AFP) cumpre este ano o seu 30.º aniversário. Em 1991, o país e o mundo davam os primeiros passos numa globalização que derrubou barreiras geográficas, que generalizou o acesso à informação, que democratizou o conhecimento. As farmácias fizeram um percurso de desenvolvimento notável, atuando numa área muito exigente em termos regulamentares, prestando um serviço que cumpre os mais rigorosos critérios de qualidade e segurança, com elevada proximidade, profissionalismo e, acima de tudo, com a confiança das suas comunidades. As farmácias em Portugal são um exemplo, uma referência em termos internacionais. Um setor moderno, com elevada capacidade de organização, de mobilização e colaboração entre os seus profissionais. Muito obrigado à AFP pelos contributos que foi dando neste caminho”.

“É com grande prazer que felicito a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) na comemoração do seu 30.º aniversário. Esta marca representa um caminho que tem valorizado uma abordagem inovadora centrada no papel económico-social desempenhado pela farmácia e pelos farmacêuticos. O impacto da vasta cobertura territorial das farmácias comunitárias por todo o país é inegável: respeita a heterogeneidade e assegura a equidade na prestação de cuidados de saúde, alavancando a confiança e proximidade das populações. A AFP assumiu-se, ao longo dos anos, como um parceiro de relevo na estrutura de decisão nacional, defendendo as suas posições de forma constante, dedicada e decidida no cumprimento da sua missão. Faço votos para que continue o seu caminho por outros 30 anos”.

1991

1992

1992 - 1997

A AFP foi constituída por um pequeno grupo de seis farmácias, num espírito comunitário e de serviço às farmácias

Durante a presidência de Graça Pereira Lopes, são celebrados os protocolos com a ADSE, Ministério da Justiça e PSP

É estabelecido um conjunto alargado de protocolos com entidades públicas e privadas

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ESPECIAL 30 ANOS AFP <

MIGUEL GUIMARÃES

Bastonário da Ordem dos Médicos

“Como dizia António Arnaut, as farmácias são o braço longo do SNS e, por isso, um parceiro indiscutível para a saúde e o bem-estar dos portugueses. Neste 30º aniversário da Associação de Farmácias de Portugal, não posso deixar de vos felicitar pelo trabalho de proximidade que têm desenvolvido em prol dos doentes, mesmo em locais remotos, em que praticamente todos os serviços já fecharam. Neste ano de pandemia, estou certo de que o trabalho da farmácia como espaço de saúde sai reforçado”.

FERNANDO ARAÚJO

JOÃO ALMEIDA LOPES

Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João

Presidente da Direcção da APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica

“As farmácias da comunidade são um dos elementos mais relevantes na cadeia de valor no que concerne à prestação de cuidados de saúde. Pela sua proximidade, pela confiança que os utentes detêm nos farmacêuticos, pela segurança e robustez dos processos, pela inovação do serviço, pela acessibilidade e pelo funcionamento em rede, fazem a diferença. Neste sentido, a Associação de Farmácias de Portugal tem desempenhado ao longo destes 30 anos um papel fundamental, na capacidade de envolvimento, na procura de soluções, na disponibilidade para os utentes. São seguramente 30 anos na defesa dos portugueses”.

“Os enormes desafios resultantes da pandemia de Covid-19 permitem evocar a importância primordial da Saúde e da comunidade. Neste contexto, a celebração do 30º aniversário da AFP – Associação de Farmácias de Portugal, hoje com mais de 150 associados, é um símbolo maior da perseverança e sobretudo um modelo do indispensável espírito comunitário e de serviço às populações. Pela vitalidade e futuro dos seus associados, mas também pelas populações que têm nas farmácias uma resposta de proximidade e uma importante porta de acesso à Saúde, desejamos longa vida à AFP. Muitos parabéns e continuação de um excelente trabalho associativo”.* *Autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

1998

1999

2004

2005

Já com 25 associadas, Margarida Coutinho assume a presidência da Direção

A AFP participa pela primeira vez na Comissão Nacional de Publicidade do Medicamento (CNPM) e aumenta o seu conjunto de protocolos

Alfredo Brito torna-se o terceiro presidente da AFP, que já representa 50 associadas

Graça Pereira Lopes assume a presidência da AFP

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> ESPECIAL 30 ANOS AFP

VICTOR HERDEIRO

Presidente do Conselho Diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, IP

“A conquista de mais um ano na história de uma entidade deve ser sempre motivo de celebração. Pelo caminho percorrido, pelos obstáculos ultrapassados, pelas metas atingidas e pelas lições que nos ajudam a desenhar o futuro. Os 30 anos da Associação de Farmácias de Portugal são o espelho da vontade e da ambição num objetivo comum: o de garantir o reconhecimento dos farmacêuticos comunitários em prol da saúde pública. Que o empenho, esforço e resiliência de todos os que constroem diariamente esta Associação se perpetue. Votos de sucesso à AFP!”

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MONICA CONDINHO E CARLOS SINOGAS

Farmacêuticos comunitários e Professores Universitários

“Registamos com agrado a enorme relevância que a AFP coloca na formação dos seus Associados e que se reflete na parceria que vem sendo desenvolvida entre a AFP e a AcF. O posicionamento da Associação com vista a melhorar o serviço farmacêutico e o aconselhamento prestados pelos seus Associados demonstra a primazia que é dada à pessoa com doença. O profissionalismo e o rigor associados a uma dinâmica muito atenta à realidade e aos desafios que são colocados às farmácias e aos farmacêuticos, são apanágio do trabalho diário da AFP. Os nossos parabéns incluem o desejo de que se possa voltar a dizer o mesmo daqui por mais outros 30 anos”.

NUNO CARDOSO

Presidente da ADIFA – Associação de Distribuidores Farmacêuticos

“É com grande satisfação que congratulamos a AFP - Associação de Farmácias de Portugal pela celebração do seu trigésimo aniversário e por todo o trabalho associativo que tem vindo a desenvolver ao longo da sua história, que marca o setor farmacêutico. Desde a fundação da ADIFA – Associação de Distribuidores Farmacêuticos que a colaboração com a AFP tem sido constante, em prol da saúde pública, visando a construção de pontes, e, neste sentido, reforçamos a nossa manifesta vontade de continuar a reforçar o trabalho conjunto no futuro. Um bem-haja”.

2006

2008

2009

2010

2014

As farmácias aderem ao pagamento direto do Estado e a AFP passa a representar 75 associadas

A AFP passa a representar 100 associadas. É assinado o protocolo de colaboração com a Universidade Lusófona e é lançado o Portal das Farmácias www.portaldasfarmacias.com

É lançada a revista ‘Infopharma’ com distribuição nacional

Maria Helena Castro Machado torna-se a quarta presidente eleita

Manuela Pacheco é a quinta presidente eleita da AFP

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ESPECIAL 30 ANOS AFP<

MARIA DO CARMO NEVES

TIAGO SEGURO

Presidente da Direção da APOGEN

“A APOGEN felicita a AFP no seu 30.º aniversário pelo extraordinário trabalho desenvolvido ao serviço dos farmacêuticos comunitários e do associativismo. Em 30 anos o mundo transformou-se e foram muitos os desafios regulamentares, científicos, financeiros e tecnológicos que a indústria farmacêutica e as farmácias ultrapassaram. Desejamos que a AFP continue a progredir com a mesma determinação e vontade que a pautou até hoje. Pela parte da APOGEN trabalharemos juntos em prol da sustentabilidade da cadeia de valor do medicamento, para fortalecer a confiança nos medicamentos genéricos e biossimilares, e ainda para melhorar o acesso contínuo da população às terapêuticas, gerando valor para o cidadão e para o Estado”.

ISABEL CAJADA

Ex-presidente da Divisão Farmacêutica da GROQUIFAR (2017/2021)

Presidente da Divisão Farmacêutica da GROQUIFAR

“A AFP ao longo dos seus 30 anos de existência tem tido um papel fundamental na afirmação das farmácias como elemento crítico no Sistema Nacional de Saúde e tem sido o “fio condutor” da sua independência e pluralidade. As farmácias têm agora necessidades completamente diferentes de há 30 anos, e os próximos anos serão de ainda maior mudança. A AFP é historicamente um parceiro estratégico da Groquifar, e tem tido um papel crítico na articulação entre os pré-grossistas, grossistas e farmácias. É a prova de que a cooperação saudável funciona! Parabenizamos a AFP pelos seus 30 anos e manifestamos vontade inequívoca em continuar a colaborar com as farmácias e a promover o seu desenvolvimento saudável através dos nossos mecanismos de cooperação”.

“As três décadas de existência da AFP pautaram-se pelo espírito de colaboração em prol do utente e da comunidade, sendo uma voz presente e ativa no setor farmacêutico. A Groquifar mantém-se inteiramente disponível para continuar esta relação profícua e duradoura”.

2016

2018

2019

É criada a plataforma AFPConnect - um serviço integrado de troca de informação automático entre as Farmácias, os Subsistemas de Saúde e/ou Entidades Públicas

Já com mais de 150 farmácias, Manuela Pacheco é reeleita como presidente da AFP

A AFP lança o projeto-piloto “Seringas só no Agulhão”, com o objetivo de dar resposta à falta de soluções para a recolha de resíduos produzidos pelos que necessitam de medicamentos injetáveis

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Pharmacist

2021 A AFP conta já com mais de 160 associadas

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> SAÚDE

Agulhão já recolheu mais de 300 mil seringas usadas Autor: Associação de Farmácias de Portugal

O

projeto inovador “Seringas Só no Agulhão”, criado pela Associação de Farmácias de Portugal (AFP) já recolheu mais de 300 mil seringas e agulhas usadas pelos utentes. Lançado de forma piloto no final de 2019, o projeto tem como objetivo dar resposta à falta de soluções para a recolha de resíduos produzidos pelos doentes diabéticos e por todos aqueles que necessitam de medicamentos injetáveis. No âmbito do projeto, as farmácias disponibilizam um contentor, designado por “Agulhão”, onde os cidadãos podem depositar gratuitamente os resíduos utilizados. O projeto é desenvolvido em parceria com a empresa especializada na gestão de resíduos hospitalares, Stericycle, que faz a recolha dos contentores e o tratamento dos resíduos (incineração), respondendo assim à falta de soluções seguras e ecológicas para recolha de seringas usadas.

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Não podendo ser entregues nas farmácias, hospitais ou centros de saúde, estes resíduos acabam no lixo doméstico, pondo em causa a Saúde Pública e o Ambiente Torres Vedras vai ser o primeiro município com cobertura a 100 % da sua rede de farmácias a recolherem gratuitamente seringas/agulhas usadas pelos doentes. Isto porque o projeto Agulhão foi um dos mais votados pelos munícipes no Orçamento Participativo. As 23 farmácias do município juntam-se assim às farmácias aderentes dos concelhos de Lisboa, Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Gondomar, Braga e Vila Verde. “Tivemos conhecimento das preocupações de alguns doentes diabéticos que se deparam com a inexistência de um sistema de recolha de seringas usadas. Sabemos que estes doentes têm muitas vezes de colocar as seringas dentro de garrafas de plástico que depois depositam no lixo comum. Este não é de todo o destino mais adequado para este tipo de resíduos”, explica a Presidente da AFP,

Manuela Pacheco. “Neste sentido, a AFP considera ser absolutamente fundamental a criação de soluções nas farmácias que permitam aos utilizadores de medicamentos injetáveis entregarem as suas seringas usadas”, adiantou a responsável. Do ponto de vista legal, os resíduos produzidos por doentes automedicados, nos seus domicílios, não se enquadram na definição de resíduos hospitalares, perfilando-se como resíduos urbanos, cabendo aos utilizadores gerirem-nos como tal. Não podendo ser entregues nas farmácias, hospitais ou centros de saúde, estes resíduos acabam no lixo doméstico, pondo em causa a Saúde Pública e o Ambiente. Recorde-se que até agora as farmácias faziam a recolha das seringas apenas no âmbito do PTS (Programa de Troca de Seringas) – um programa especialmente dirigido às Pessoas que Utilizam Drogas Injetáveis (PUDI). No caso do PTS, as farmácias recolhem as seringas usadas (que depois são destruídas) e, em troca, devolvem aos cidadãos material esterilizado.

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SAÚDE <

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> SAÚDE

Tenho dor no ombro: o que fazer? A PREVALÊNCIA AUTORRELATADA DE DOR NO OMBRO É ESTIMADA ENTRE 16 % E 26 %, É A TERCEIRA CAUSA MAIS COMUM DE CONSULTA MUSCULOESQUELÉTICA NOS CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE E APROXIMADAMENTE 1 % DOS ADULTOS CONSULTAM UM MÉDICO COM NOVAS QUEIXAS DE DOR NO OMBRO (OMALGIA), ANUALMENTE. Autor:Ricardo Gonçalves, Assistente Hospitalar de Ortopedia do Hospital Dr. Francisco Zagalo - Ovar

A

mobilidade comprometida do ombro, devido a dor, rigidez ou fraqueza muscular pode causar incapacidade substancial e afetar a realização de atividades diárias comuns (comer, vestir-se, higiene pessoal) ou ter implicações diretas na atividade laboral. Fatores físicos, como o levantamento de cargas pesadas, movimentos repetitivos em posições inadequadas, ou vibrações, influenciam a gravidade dos sintomas e a incapacidade associada (fatores psicossociais também poderão ser importantes).

Patologias comuns do ombro exibem características clínicas semelhantes e a falta de consenso sobre os critérios diagnósticos e concordância na avaliação clínica complicam as escolhas de tratamento. O QUE É A COIFA DOS ROTADORES? A coifa dos rotadores é um grupo de tendões que inserem os quatro músculos do ombro (supra espinhoso, infra espinhoso, subescapular e redondo menor) no osso do membro superior, o úmero. A força da coifa permite que esses músculos, através de uma manobra de alavanca, elevem ou façam a rotação do úmero.

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Estes tendões percorrem um trajeto por baixo do acrómio (parte da omoplata) onde são vulneráveis a eventuais lesões: o espaço subacromial. Isto pode condicionar roturas, que por seu lado resultarão num ombro doloroso e fraco. As roturas podem ser consequência de eventos traumáticos únicos ou surgir gradualmente, com a normal atividade do dia a dia (trabalho habitual, desporto ou esforços físicos repetidos). Quando os tendões da coifa dos rotadores rompem, o doente torna-se incapaz de elevar ou rodar o seu braço com a mesma amplitude prévia e/ou apresenta dor associada ao movimento. A dor noturna é muito comum, por vezes irradiada ao braço. Com o envelhecimento, é normal que os tendões da coifa dos rotadores se desgastem e degradem (lesões degenerativas), tornando-se fracos e propensos a roturas. Assim, uma queda ou lesão por torção/estiramento podem causar a sua rotura completa, com consequente omalgia e impotência funcional. Assim, as roturas atraumáticas degenerativas, identificadas em exames de rotina (ecografia articular do ombro ou ressonância magnética) são comuns e, genericamente, não necessitam de reparação cirúrgica. Contudo, um trauma de uma coifa intacta pode conduzir a roturas traumáticas, que,

por seu lado, requerem tratamento cirúrgico. Nesses casos, quanto mais precocemente a reparação for realizada, melhor será o resultado funcional obtido pelo doente. Por conseguinte, a identificação precoce destas lesões é fundamental. Nesse sentido, algumas características deverão alertar os clínicos para este tipo de problemas: I dade>=40 anos, com história de queda ou lesão por torção/estiramento do membro superior. D or e fraqueza, sem melhoria num período de 3 semanas. R otura confirmada em ecografia articular ou ressonância magnética. DIAGNÓSTICO: Após recolha da história clínica e realização de exame físico, as roturas da coifa são melhor diagnosticadas com exames complementares de diagnóstico de imagem. O tipo de exame dependerá dos recursos locais disponíveis: Ecografia articular – exame dinâmico, preciso e custo-eficiente.

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SAÚDE < Ressonância magnética nuclear – exame mais dispendioso e menos acessível, mas que permite obter mais informação sobre a qualidade muscular e estruturas intra-articulares do ombro. PREVENÇÃO: Evicção de atividades “over head”, isto é, que exijam esforços permanentes com os membros superiores elevados ou “acima da cabeça”. Reforço da musculatura do ombro (natação, hidroginástica, treino funcional), evitando manter, de forma reiterada, gestos que causem queixas articulares. TRATAMENTO: Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides. Fisioterapia. Corticoterapia (sendo aconselhável evitar as infiltrações repetidas, na presença de roturas da coifa, pois poderão contribuir para uma diminuição acentuada da qualidade/resistência dos tendões, com

consequente agravamento das mesmas). Reparação cirúrgica: - Nas roturas traumáticas. - Quando a dor e fraqueza não melhoram com fisioterapia ou outros tratamentos médicos não invasivos. Uma rotura completa da coifa não se cicatriza/resolve de forma natural, requerendo cirurgia, se o objetivo final do doente for regressar à função ótima do seu ombro. A reparação cirúrgica implica a reinserção (com recurso a âncoras) ou sutura (com recurso a fitas ou fios) do tendão, no seu local original, no úmero. O objetivo da cirurgia é o alívio sintomático da dor e melhoria da força do ombro (o que poderá implicar um longo período de reabilitação física, pós-cirúrgica), podendo ser realizada por via artroscópica (com recurso a videocirurgia e instrumentação específi-

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Figura 1: À esquerda, rotura da coifa, à direita, rotura da coifa reparada. From www.shoulderdoc.co.uk

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> SAÚDE nho e mão, no sentido de evitar rigidez articular destas articulações (2 a 3 vezes por dia), evitando sempre a mobilização excessiva do ombro operado (apenas movimento passivos, pendulares, do braço).

Vestir a roupa: será mais simples o uso de roupas de abertura frontal (como camisas), devendo vestir primeiro o braço operado. Para tal, o doente deverá sentar-se na extremidade de uma cadeira, ou ficar de pé, com o braço “pendurado” ao lado do corpo. Primeiro, deverá introduzir o braço operado na roupa, usando o braço não operado, não sendo necessário auxiliar o braço operado, deixando-o apenas solto, a favor da gravidade. Assim que este braço estiver totalmente na manga, o doente deverá colocar a peça de roupa ao redor das suas costas, introduzindo posteriormente o braço contralateral. Todos os fechos/botões deverão ser apertados apenas com o braço não operado. Depois de vestir a parte superior do corpo, será necessário recolocar o membro no suporte braquial. Ao fim de 6 semanas pós-operatórias, poderá voltar a vestir-se “normalmente”.

Dormir: durante as primeiras 4 a 6 semanas, o suporte também deverá ser usado durante a noite; numa fase inicial poderá ser mais confortável dormir em decúbito dorsal, com uma almofada debaixo do braço operado, ou semissentado.

Figura 4: Como dormir. From www. shoulderdoc.co.uk

Alimentação: nas primeiras 2 a 3 semanas pós-operatórias, deverá alimentar-se com o braço não operado, período após o qual poderá alimentar-se “normalmente”, com recurso a ambos os braços.

Figura 2: Suporte de braço simples, respirável, com banda torácica, tipo velpeau

Higiene pessoal: nas primeiras 2 semanas, poderá ser necessário a ajuda de terceiros para a higiene do braço não operado, uma vez que o doente não poderá usar o membro operado para essa tarefa. É fundamental manter as feridas cirúrgicas secas e protegidas, durante o banho. Pensos impermeáveis poderão ser uma opção para este efeito, mas nunca deverá ser aplicada água diretamente sobre os mesmos. Para a secagem corporal, poderá ser mais simples recorrer a um roupão de banho, em alternativa às habituais toalhas.

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Figura 3: Como vestir o braço operado. From www.shoulderdoc.co.uk

Figura 5: Como se alimentar. From www. shoulderdoc.co.uk

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SAÚDE < Transferências: as “transferências” dizem respeito ao movimento de levantar e sentar em cadeiras ou sanitários, deitar ou sair da cama, etc., sendo que durante as primeiras 4 a 6 semanas só deverá ser efetuado apoio com o braço não operado, para tais mobilizações. Ultrapassado esse período, consoante a tolerância individual e se as queixas álgicas assim o permitirem, poderão ser usados ambos os membros superiores. Atividades de vida diária/domicílio: durante as primeiras 4 a 6 semanas pós-operatórias só deverá ser usado o membro não operado. Após essa fase, poderá retornar o uso de ambos os membros superiores, devendo ser evitado o transporte/levantamento de cargas pesadas até aos 3 meses pós-operatório

(permitidas pequenas cargas, a partir das 6 semanas). Concluindo, nos últimos 25 anos, avanços significativos foram feitos na compreensão da biomecânica do ombro e no tratamento das suas patologias. As técnicas e instrumentações artroscópicas têm permitido que muitas patologias sejam tratadas com baixa morbilidade para o doente. Os avanços nas tecnologias de trauma significam que os pacientes podem esperar um retorno à função quase normal, após lesões complexas e, assim sendo, os atletas com problemas no ombro, compreensivelmente, têm maiores expectativas de retornar aos desportos de alto desempenho e os indivíduos mais idosos, com comorbilidades

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médicas complexas, exigem alívio efetivo da dor e autonomia nas suas atividades de vida diária. Mas ainda existem muitos desafios para o cirurgião de ombro moderno. Isso inclui consolidar e compreender a vasta quantidade de conhecimento disponível, prever os resultados a longo prazo de novas tecnologias e lidar com novas possíveis complicações.

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> SAÚDE

Acompanhamento de doentes crónicos em tempos de pandemia e “medicamentos inovadores” TENDO POR BASE A MINHA EXPERIÊNCIA CLÍNICA NO ACOMPANHAMENTO DE DOENTES CRÓNICOS, NEUROLÓGICOS E OUTROS, VENHO FALAR DE UMA ABORDAGEM INOVADORA. NÃO É UM TRATAMENTO, PORÉM, POR VEZES, APARENTA. TUDO COMEÇOU POR ESTA SUGESTÃO: ANTIGAMENTE NÃO EXISTIAM DENTES TORTOS? Autor: Rita Sousa Tavares, Médica Dentista – prática clinica em Oclusão e Respiração

S

Sou médica dentista, formada em ortodontia e odontopediatria, em Ortopedia Funcional dos Maxilares e Oclusão, e posteriormente fiz uma formação holística pelo Centro de Respiração Buteyko. Tudo na saúde é controverso e muito se tem falado da eficácia do método Buteyko. Porém, a respiração nasal seria óbvia e muitas vezes não acontece. A fisiologia é complexa e a sociedade em que estamos inseridos também. Os estímulos funcionais que devemos ensinar e manter são importantes em todas as idades. Diversos estudos são imperativos na relação entre a mastigação e os índices cognitivos. Há estudos realizados com crianças, adolescentes (que aumentam 30 % da nota de matemática se mastigarem bem) e com pacientes neurologicamente comprometidos. Também existem estudos das doenças respiratórias e procu-

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rando bem nos artigos científicos percebemos que ninguém estuda a saúde. Os artigos científicos estudam as doenças. E, por isso, a relação entre a respiração nasal e a saúde não está “cientificamente“ provada. Todos temos um nariz, mas o que terá acontecido para que este não cumpra a sua função eficazmente? Observar a cascata de fármacos que levam ao aumento do consumo de outros fármacos é notório. É um facto que os fármacos são fundamentais no controlo de doenças. Ainda assim, penso que, se soubermos o que comemos e como respiramos, mais fácil será atingir a saúde e afastarmo-nos de doenças. As situações mais comuns são, nas crianças, os pacientes pós-cirurgia que mantém a roncopatia, e nos adultos, os que novamente em semanas sentem a obstrução nasal, quadros de sinusite e alterações do sono. Estes pacientes devem ser acompanhados de forma integral e integrativa.

Ao estudar reabilitação Neuro-Oclusal, variadas questões foram surgindo e convergindo. E de forma eficaz iniciámos a recuperação de centenas de pacientes até à alta. A equipa multidisciplinar avalia e trata sempre que necessário. Os sinais e sintomas mais comuns na consulta de saúde oral são: P igmentos dentários exógenos e endógenos  Xerostomia  Queilite angular  Arcadas dentárias atrésicas  Oclusão dentária alterada D esgaste no colo dos dentes junto da gengiva com recessão  Gengivite/ Periodontite  Hiperventilação  Alterações da fala e voz  Alterações na deglutição  Alterações na mastigação H ipotonicidade muscular intra e extra-oral

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SAÚDE < Quando tudo começa? Num inverno, numa primavera ou basta nascer? Quase todos os bebés nascem com a capacidade de respirar pelo nariz. O que fará esse bloqueio? No desenvolvimento, a disfagia, por exemplo, é comum no paciente com ventilação predominantemente oral. Na roncopatia estão associadas, além da respiração oral, enurese noturna, agitação, sonolência diária e alterações cardiovasculares. Os pacientes acompanhados e tratados pela ortopedia funcional dos maxilares com foco na normalização de respiração são colaborantes. A principal causa dessa colaboração é o conforto que sentem e a melhoria da qualidade de vida. A ortopedia funcional dos maxilares promove a reabilitação neuro-oclusal. A remodelação das arcadas dentárias, a posição adequada da língua e o selamento labial são três premissas que mudam a vida dos pacientes. As adaptações farmacológicas do paciente são feitas pelo médico assistente. O nariz foi feito para respirar. É uma obra prima da perfeição. Quando não o sabemos usar, começam os problemas. O respirador oral inicia um ciclo de excesso de respiração que irá condicionar a resposta do anel de Waldeyer, o ritmo cardíaco, a posição da cabeça na coluna, membros inferiores e pescoço. A rotação da cabeça para melhorar a

Diversos estudos são imperativos na relação entre a mastigação e os índices cognitivos

frica deve ser adequada sendo importante não conter lauril sulfato de sódio, nem álcool, nem glúten e ter sempre flúor.

capacidade respiratória quando a boca está aberta tem implicações severas intraorais. A língua assume uma posição baixa e o desenvolvimento das arcadas acontece ou não. Quando os lábios não estão selados, a contração dos bucinadores é maior e o sorriso fica automaticamente mais estreito. Quando os dentes não têm os contactos corretos com os antagonistas, a mastigação torna-se lenta ou mais ainda extremamente rápida ou por esmagamento lingual. A cascata de acontecimentos acontece e vai acontecendo de tal forma discreta e silenciosa que a perceção das alterações já é considerada normal.

A higiene nasal é mais fácil quando a solução não está fria, mas morna ou tépida. Já existem, para o efeito, dispositivos no mercado que facilitam este trabalho, tornando os pacientes bem mais colaborantes.

Para o controlo eficaz da respiração devemos saber que a Valeriana é excecional. A desobstrução nasal deve ser feita sempre antes da aplicação de corticoides tópicos. E como dentista afirmo que a lavagem nasal deve ser diária como a escovagem dos dentes. Os hábitos de higiene dependem da frequência e qualidade dos produtos. Nos dentes, a ação mecânica é fundamental devendo a escova ser simples e de cabeça pequena. A pasta dentí-

Quanto aos fármacos, sabemos que devem ser de longa duração principalmente o anti-histamínico e os corticoides de aplicação tópica. E para o equilíbrio geral, o paciente deveria ser avaliado na consulta de medicina funcional dado o padrão respiratório. São pacientes com carências vitamínicas e minerais e as compensações metabólicas parecem idiopáticas. A saúde começa em casa, com pequenos hábitos diários. Podemos passar dias sem comer, mas não passamos uma hora sem respirar. Tal como acontece com o hábito do exercício físico, para respirar melhor devemos ter força de vontade, visualizar o objetivo e compreender a necessidade de mudança. Para ensinarmos a respirar, temos de respirar bem. Fica aqui um exercício: respire lenta e suavemente apenas pelo nariz. Com a boca fechada: inspira 5 segundos pelo nariz, expira 5 segundos pelo nariz, suspende 5 segundos a respiração. Retoma o ciclo suavemente e sempre de forma confortável. Foi fácil ou exigiu esforço?

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> SAÚDE

Os rastreios oncológicos: e depois do COVID? AS DOENÇAS ONCOLÓGICAS CONSTITUEM A SEGUNDA CAUSA DE MORTE EM PORTUGAL E NA UNIÃO EUROPEIA, DEPOIS DAS DOENÇAS DO APARELHO CARDIOVASCULAR. PARA ALÉM DISSO, SÃO CAUSA DE MORBILIDADE E TÊM UM PESO SIGNIFICATIVO NA NOSSA SOCIEDADE, REPRESENTANDO UM DESAFIO DIÁRIO PARA OS SISTEMAS DE SAÚDE. Autor: Camila Mota Neves, Medicina Geral e Familiar

O

rastreio é um processo de diagnóstico, em pessoas assintomáticas, e aparentemente saudáveis, ou seja, a generalidade da população. Os programas de rastreio de doenças oncológicas de base populacional, para além de promoverem a saúde através da literacia e controlo de fatores de risco, permitem a identificação de lesões precursoras de situações malignas ou estádios iniciais da doença, através do diagnóstico precoce. Os rastreios oncológicos têm assim como objetivo aumentar o sucesso da abordagem da doença oncológica, diminuindo a sua morbilidade e mortalidade. Em Portugal, existe um programa consensual de rastreio oncológico para o cancro de mama, do colo do útero e do cólon e reto, em concordância com o recomendado pelo Plano Europeu da Luta Contra o Cancro. Estes rastreios têm demonstrado a redução de mortalidade aproximadamente nos 30 % no cancro da mama, 20 % no canco do cólon e reto e 80 % no colo do útero (de acordo com o relatório de 2014 do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas).

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Rastreios têm demonstrado a redução de mortalidade aproximadamente nos 30 % no cancro da mama, 20 % no canco do cólon e reto e 80 % no colo do útero O programa de rastreio do cancro da mama destina-se à população do sexo feminino, com idade igual ou superior a 50 anos e igual ou inferior a 69 anos. O teste primário é a mamografia com dupla leitura, a realizar de dois em dois anos, se resultado prévio negativo. O programa de rastreio do cancro do colo do útero destina-se à população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos. O teste primário é a pesquisa de ácidos nucleicos, dos serotipos oncogénicos, do vírus do papiloma humano (HPV), em citologia vaginal, a realizar de 5 em 5 anos, se resultado prévio negativo. O programa de rastreio do cancro do cólon e reto destina-se à população de ambos os sexos com idade igual ou superior a 50 anos e igual ou inferior a 74 anos. O teste primá-

rio é a pesquisa de sangue oculto nas fezes, pelo método imunoquímico, a realizar de 2 em 2 anos. Aos casos positivos deve ser proposta a realização de colonoscopia total. Outros países como o Canadá e os Estados Unidos apresentam recomendações semelhantes ao nosso país para os rastreios acima referidos, à exceção dos Estados Unidos que recomenda início de rastreio do cólon e reto aos 45 anos. Estes países recomendam ainda o rastreio do cancro do pulmão com tomografia de baixa dose anual, em fumadores ou ex-fumadores (Canadá: entre os 55 e os 74 anos, com pelo menos o equivalente a 30 unidades maço/ano, fumadores ou ex-fumadores que tenham parado de fumar nos últimos 15 anos; Estados Unidos (US Preventive Task Force): entre os 50 e os 80 anos, com pelo menos o equivalente a 20 unidades maço/ano fumadores ou ex-fumadores que tenham parado de fumar nos últimos 15 anos).

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SAÚDE <

Perto de 450 mil rastreios do cancro da mama, do colo do útero e cólon e reto ficaram por realizar no primeiro ano de pandemia O rastreio do cancro da próstata com base populacional não está recomendado com o doseamento do PSA, nem em Portugal, nem no Plano Europeu da Luta Contra o Cancro, nem nos países da América do Norte. A Comissão Europeia apresentará até 2022 uma proposta de atualização da Recomendação do Conselho sobre o Rastreio do Cancro, de modo a refletir os mais recentes dados científicos disponíveis. Está a ser considerada a possibilidade de alargar o rastreio a outros cancros, além dos rastreios já existentes, nomeadamente aos cancros da próstata, do pulmão e gástrico. Em toda a Europa, a diminuição dos rastreios oncológicos foi apontada como uma das mais relevantes consequências da pandemia no acesso a serviços de saúde. Perto de 450 mil rastreios do cancro da mama, do colo do útero e cólon e reto ficaram por realizar no primeiro ano de pandemia, segundo resultados do estudo “O impacto da pandemia COVID-19 na prestação dos cuidados de saúde em Portugal”. A nível europeu, a organização European Cancer, estimou que tenham ficado por fazer 100 milhões de rastreios, com menos 1,5 milhões de doentes oncológicos referenciados e um milhão de casos de cancro por diagnosticar. É desta forma urgente retomar e recuperar todas as atividades preventivas nesta área tão relevante.


> SAÚDE

O papel das ONG no contexto da pandemia – Um exemplo ESTE TEXTO PROCURA ILUSTRAR, A PARTIR DA ACÇÃO DA DELEGAÇÃO PORTUGUESA DA MÉDICOS DO MUNDO (MDM), QUAL O PAPEL DAS ONG NO CONTEXTO DA PANDEMIA. Autor: Fernando Vasco Marques, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Médicos do Mundo

A

MdM está em Portugal há 22 anos. O nosso lema é “Lutamos contra todas as doenças, até mesmo a injustiça”. Defendemos que o direito à saúde é universal, pelo que procuramos garantir esse direito às populações vulneráveis para e com quem trabalhamos. A nossa missão é bem clara: “Promover o acesso gratuito à saúde das populações vulneráveis e combater a sua discriminação, através da prestação de cuidados de saúde, acções de consciencialização, formação e capacitação de pessoas e instituições.” A nossa acção norteia-se por

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um conjunto de valores, em que o activismo se destaca. A nossa declaração identitária fundacional, “Ir onde os outros não vão, testemunhar o intolerável e trabalhar benevolamente”, e a nossa missão caracterizam bem a especificidade da nossa Organização. Actuamos em Lisboa, Porto, Barcelos, Castanheira de Pera, Guarda, Faro e Moçambique. Contamos com 66 colaboradores, 265 voluntários activos numa carteira de 2600, mais de 5000 doadores e com dezenas de parceiros de diversos sectores da sociedade. A magnitude da pandemia (COVID-19) tem mostrado a vulnerabili-

dade dos sistemas de saúde em situações similares, pelo que a MdM assumiu que não poderia parar a sua acção, antes a reorientou, no sentido de cooperar e complementar a acção do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mal a pandemia se instalou em Portugal, reorganizámo-nos em função do momento. Donde: E laborámos um Plano de Contingência que definiu um modelo organizacional ad hoc. Assim, criámos um Grupo de Crise (Direcção, especialista clínico e Equipa Operacional), uma Equipa Operacional em disponibilidade permanente (Director Executivo, especialista em Saúde Pública e Director de Recursos Humanos/ Psicólogo especialista em trauma) e quatro Grupos de Apoio com voluntários (Comunicação, Logística, Angariação de Fundos e Financeiro). O Grupo de Crise garantiu a unidade de comando-acção, tão necessária em momentos complexos. Conforme o plano, avaliámos o risco individual de profissionais e voluntá-

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SAÚDE < rios, que determinou se ficavam em i) teletrabalho, ii) a meio tempo em teletrabalho e meio tempo no terreno ou iii) no terreno. R eforçámos a protecção dos profissionais da linha da frente (luvas, fatos, máscaras e álcool-gel) e promovemos a distribuição destes recursos, quando doados, por indivíduos e parceiros no terreno. S uspendemos algumas actividades (rastreios, serviço de apoio domiciliário, envio de expatriados para Moçambique), que já retomámos. P ublicámos um boletim epidemiológico mensal para informação da organização. D ivulgámos, nas redes sociais e nos websites da MdM e do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), o “Guia de Prevenção COVID-19”, em 24 línguas, com apoio de voluntários, embaixadas e ACM. O rientámos a prestação de cuidados de saúde para i) as pessoas em situação de sem-abrigo, confinadas nos locais destinados pelas câmaras municipais (4 em Lisboa e 2 no Porto) e ii) migrantes e refugiados em colaboração com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o Serviço dos Jesuítas para os Refugiados. M antivemos o Programa de Consumo Vigiado em Lisboa. A poiámos o processo de vacinação do Agrupamento de Centros de Saúde Arco Ribeirinho, junto da população de Pegões e Canha. D esenvolvemos uma parceria com o projecto Open Air na construção de um ventilador de baixo custo em open source (protótipo em aprovação).

R eforçámos o apoio psicológico aos profissionais da organização, através da nossa equipa de psicólogos voluntários. M antivemos o acompanhamento semanal às equipas de terreno em Moçambique via Internet. Durante a pandemia, adaptámo-nos à nova situação, contribuindo para o esforço do país na procura do controlo da epidemia, em colaboração com os parceiros no terreno.

ma profissional, não perdendo a sua identidade e colaborando com outros actores no terreno, para assim contribuir para a concretização de uma agenda nacional.

*Autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

Identificámos alguns desafios: N o âmbito da saúde mental foi necessário atender à instabilidade emocional de alguns profissionais criada i) pelo isolamento e pelo teletrabalho, nomeadamente dos que tinham filhos pequenos e idosos em casa, ii) nos que contraíram a infecção e iii) nas situações de luto. A MdM perdeu um colaborador muito querido por acção do vírus; e O s profissionais de saúde (voluntários e contratados) foram obrigados a esforço suplementar. Nomeadamente os enfermeiros dos projectos, que viram a sua vida muito alterada, pois foram chamados para trabalhar no SNS. Muitos contratos a tempo completo tiveram que ser substituídos por contratos à hora. Concluindo: i) As organizações não-governamentais, em situações de emergência, assumem um importante papel que deve ser reconhecido, ii) A acção das ONG deve ser integrada em planos de emergência locais, regionais e nacionais; iii) é necessário que as ONG sejam capazes de se organizar de for-

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> SETOR FARMACÊUTICO

Aconselhamento farmacêutico na amamentação QUANDO UMA MULHER AMAMENTA E PRECISA DE TOMAR MEDICAÇÃO, O QUE PODE TOMAR? SERÁ QUE O MEDICAMENTO QUE ELA PRECISA VAI PASSAR PARA O LEITE? SERÁ QUE VAI PASSAR EM QUANTIDADE SUFICIENTE PARA TER ALGUM EFEITO NO BEBÉ? PODERÁ A MÃE ESPERAR ATÉ DEIXAR DE AMAMENTAR? O QUE PODE LEVAR ANOS. E NUMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA? TODAS ESTAS QUESTÕES SURGEM, ASSIM QUE UMA MULHER QUE AMAMENTA PRECISA DE TOMAR ALGUMA MEDICAÇÃO. E COM ESTAS QUESTÕES VEM UM MEDO QUASE IRRACIONAL E A IDEIA DE QUE UMA MULHER QUE AMAMENTA NÃO PODE TOMAR QUASE NADA, QUANDO ISSO NÃO É VERDADE! Autor:Sofia Costa Inácio, Farmacêutica, IBCLC (International Board Certified Lactation Consultant)

A

mamentar é a forma normal e expectável de alimentar um bebé. É através do leite humano que o ser humano pode atingir o seu potencial máximo de saúde. Os riscos de um bebé não ser amamentado estão bem fundamentados. Entre eles pode-se referir que bebés amamentados têm 72 % menos risco de diarreias graves e menos 77 % de risco de hospitaliza-

ção e mortalidade devido a infeções respiratórias. Têm também menos risco de otites agudas, dermatite atópica, asma, diabetes tipo 1 e 2 e obesidade, leucemia infantil, maloclusão, enterecolite necrozante e risco da morte súbita do lactente. O leite humano é o único alimento específico para aquele bebé em específico. Contém hormonas, fatores de crescimento, agentes imunoló-

gicos, enzimas, etc. específicos da nossa espécie. E a alternativa ao leite humano é desprovida de tudo isto! Assim, não podemos de ânimo leve dizer a uma mãe que deixe de oferecer a maior garantia de saúde para o seu bebé. Não podemos reduzir a amamentação a um alimento. Amamentar é uma relação, é vínculo, é regulação emocional, que deve ser respeitada. Infelizmente ainda é bastante frequente uma mulher que tem de tomar medicamentos enquanto ama-

Não existe motivo para tantos profissionais de saúde ainda recomendarem um desmame para que a mãe se possa tratar ou a ponham na posição de ter que optar entre si e o seu filho, quando, na maioria das vezes, é possível tomar medicação compatível com a amamentação 24

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SETOR FARMACÊUTICO < menta se ver no dilema de ter de escolher entre a sua saúde e a saúde do seu bebé. Esse dilema, na grande maioria das vezes, é injustificado e surge pelo desconhecimento. Sabendo dos riscos de não amamentar e de não ser amamentado, é nossa obrigação fazer de tudo para que uma mãe consiga amamentar ao mesmo tempo que se trata. É preciso analisar o risco/benefício de a mãe amamentar e o bebé poder ingerir uma baixa quantidade de fármaco, a mãe não se tratar naquele momento ou a mãe tratar-se e desmamar o bebé. Um desmame forçado e repentino pode trazer vários problemas físicos e emocionais, pelo que só deve ser feito quando não há alternativa e a saúde da mãe está em risco. Como sabemos se um fármaco é compatível com a amamentação? Através de estudos de farmacocinética, das características do medicamento como a quantificação do peso molecular, da concentração plasmática do fármaco, da ligação às proteínas plasmáticas, do grau de ionização, etc., conseguimos prever qual a concentração de fármaco no leite materno. Um fármaco tomado pela mãe irá ser absorvido, distribuído, metabolizado e excretado por várias vias incluindo pela glândula mamária que excreta o leite materno. Esse leite que poderá conter alguma quantidade de fármaco será agora ingerido pelo bebé e terá de chegar à sua corrente sanguínea para ter efeito. Mesmo quando chega, a quantidade normalmente é muito menor do que a dose terapêutica. Fármacos que não possam ser administrados por via entérica por serem destruídos no trato gastrointestinal serão seguros, pois mesmo que cheguem ao leite

materno, ao atingirem o estômago do bebé, serão destruídos e não chegarão à corrente sanguínea. Como exemplo temos a insulina, heparina e os anticorpos monoclonais que, para além de não terem biodisponibilidade oral, têm um elevado peso molecular. Como exceção temos os antineoplásicos pela sua toxicidade. Saber a idade do bebé, também é um fator muito importante. 80 % dos efeitos adversos em bebés por fármacos ingeridos pela mãe ocorrem em bebés com menos de 2 meses pela sua imaturidade, por isso se estivermos perante um bebé mais velho o risco é bem menor.

a mãe se possa tratar ou a ponham na posição de ter que optar entre si e o seu filho, quando, na maioria das vezes, é possível tomar medicação compatível com a amamentação. Muitos estudos comprovam os riscos do aleitamento artificial que é a única alternativa ao leite humano. Por isso, como especialistas do medicamento e como promotores da saúde, quando uma mulher que amamenta precisa de tomar um fármaco é fundamental aconselharmos segundo a evidência científica, apoiando e protegendo a saúde da mãe e do bebé.

Existem várias fontes fiáveis que nos dizem se um medicamento é seguro ou não na amamentação. Temos o e-lactancia.org, o lactmed do pubmed, o Hale’s medications & mothers’milk, ou a lista de medicamentos seguros da OMS, entre outros. São dadas até alternativas de fármacos, quando não são de risco muito baixo. A DGS recomenda o e-lactancia, no seu Programa Nacional para a Vigilância da gravidez de baixo risco. Quase todas as classes terapêuticas possuem fármacos compatíveis com a amamentação e, por isso, é uma questão de pesquisar qual será o mais indicado e seguro para a situação em concreto. Fármacos usados em pediatria quando administrados à mãe chegarão ao bebé numa dose menor do que a dose terapêutica pediátrica e, por isso, serão seguros na amamentação. Com todo este conhecimento e com estas ferramentas de acesso rápido e fácil, não existe motivo para tantos profissionais de saúde ainda recomendarem um desmame para que

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> SETOR FARMACÊUTICO

Qualidade na Farmácia:

quo vadis?

O RECONHECIMENTO DE COMPETÊNCIA E QUALIDADE É UM DOS OBJETIVOS DAS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS. UMA FORMA PRÁTICA E VANTAJOSA DE O CONSEGUIR É A INCLUSÃO DA FARMÁCIA NA INFRAESTRUTURA DA QUALIDADE CUJA ABRANGÊNCIA É INTERNACIONAL. A INCLUSÃO DE UMA FARMÁCIA NESTA INFRAESTRUTURA IMPLICA O CUMPRIMENTO DE NORMAS INTERNACIONAIS ABRINDO CAMINHO AO RECONHECIMENTO DE QUALIDADE DESSA FARMÁCIA EM QUALQUER PARTE DO MUNDO.

A

Autor:Anabela Martins, GESQAF Consultoria, Auditoria e Formação

criação do sistema que compõe a Infraestrutura Internacional da Qualidade teve como objetivo conquistar a confiança dos consumidores, organizações e governos no trabalho de cada um.

Esta cobre aspetos essenciais tais como políticas e procedimentos, objetivos de elevado nível, instituições de supervisão, mecanismos garantes de independência e imparcialidade, e o uso de valor acrescentado de normas internacionais.

VANTAGENS SGQ Pessoas

gerindo competências, funções e formação

Equipamentos Serviço

prestado ao cliente

Produtos

desenvolvidos para o cliente

Plano estratégico/objetivos

Satisfação do cliente

Monitorização Resolução de problemas

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As normas são um mecanismo-chave de difusão de tecnologia, métodos e conhecimento, com elevado impacto macroeconómico. Promovem o aumento da produtividade e avanço económico, e impulsionam a inovação ao estabelecerem uma base de conhecimento e experiência acumulados, a partir da qual novos métodos e tecnologias emergem. Ao aumentarem a competitividade, promovem também a inovação. Adotar os métodos preconizados por normas tem muitas vantagens para as farmácias, tais como aumentar a eficiência de métodos de trabalho, assegurar a qualidade de produtos e serviços, salvaguardando a segurança do utente/consumidor, e ajudar as farmácias a cumprir a legislação. Na ausência de uma norma internacional específica para as farmácias, a mais adequada é a norma ISO 9001. Podendo ser aplicada a qualquer tipo de organização, esta norma orienta na implementação de um sistema de gestão da qualidade (SGQ). 

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SAÚDE <

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> SETOR FARMACÊUTICO O QUE É UM SGQ E QUE VANTAGENS TEM? Um SGQ pode ser descrito, de forma simples, como um conjunto de métodos que garantem a eficácia das operações de uma organização em nove diferentes áreas: Pessoas, gerindo competências, funções e formação; I nfrastrutura, garantindo eficácia na sua manutenção; Equipamentos, garantindo o seu controlo (calibração e controlo metrológico sempre que necessário); Serviço prestado ao cliente, procurando exceder as expectativas do utente/cliente; Produtos desenvolvidos para o cliente (ex: medicamentos manipulados), garantindo a sua qualidade e segurança; Plano estratégico/objetivos, definindo o alvo e como o atingir; Satisfação do cliente, dando ouvidos à sua “voz”; M onitorização do desempenho, através de indicadores (alguns focados no desempenho global e outros nos diferentes processos operacionais - tais como a dispensa de medicamentos, a execução de testes e a produção de manipulados – e de suporte - tais como recursos humanos, infraestrutura, marketing e controlo de equipamentos); R esolução de problemas reais ou potenciais, corrigindo-os e às suas consequências, e eliminando as suas causas, de forma a evitar que estes voltem a ocorrer.

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COMO SE FAZ A INCLUSÃO DE UMA FARMÁCIA NA INFRASTRUTURA DA QUALIDADE? Uma farmácia pode passar a estar incluída na Infraestrutura Internacional da Qualidade através do reconhecimento de que cumpre as disposições da norma ISO 9001, isto é, que gere as nove áreas acima descritas de forma eficaz, conforme preconizado pela norma. Este reconhecimento é evidenciado através da certificação da farmácia, após realização de uma auditoria por parte de um organismo de certificação acreditado pelo IPAC. A duração da auditoria depende da dimensão da farmácia e em geral tem duração entre um dia a um dia e meio.

NOTA FINAL As farmácias prestam um serviço inestimável dentro do sistema de saúde, nem sempre devidamente reconhecido. Uma forma de a farmácia evoluir e demonstrar a sua capacidade dentro do sistema de saúde pode passar pela sua adesão à certificação, processo há muito abraçado por muitos dos restantes intervenientes tais como laboratórios, consultórios médicos e hospitais. Acima de tudo, com um bom SGQ, a farmácia ficará mais capacitada na gestão dos seus processos, mais resiliente, preparada para eventuais mudanças e apta a assegurar o cumprimento das disposições legais.

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> SETOR FARMACÊUTICO

Gestão de compras e vendas em Grupos ou Redes de Farmácias OS GRUPOS OU REDES DE FARMÁCIAS SURGIRAM EM PORTUGAL COMO UMA SOLUÇÃO AGREGADORA DE PARTILHA DE RECURSOS PARA DAR RESPOSTA À CRISE ECONÓMICA QUE SE FAZIA SENTIR NO SETOR, PERMITINDO OTIMIZAR CUSTOS E REFORÇAR A VALORIZAÇÃO DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS. Autor:Lúcia Neves, Winphar

O

início do milénio foi uma época marcada pela estagnação do crescimento económico na Europa. Portugal não foi exceção e, desde então, o sistema financeiro nacional foi fortemente abalado. Com a globalização dos mercados e a crescente preocupação com o crescimento dos gastos públicos em saúde, o Estado interveio no setor farmacêutico de forma significativa. A liberalização da propriedade a não farmacêuticos, o aumento da quota de medicamentos genéricos com PVP muito reduzido, a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias e a diminuição das margens comerciais, foram alguns fatores que transformaram profundamente a situação económica e a rentabilidade das farmácias de oficina. Uma vez que a grande maioria das farmácias se assume como uma micro ou pequena empresa, surgiu a necessidade de ampliar a sua escala, o que levou ao fenómeno da constituição de grupos de farmácias, ou agregação de farmácias sob a mesma entidade. Isto permite que haja uma otimização de custos, visando simultaneamente valorizar as farmácias e reforçar o seu valor junto da comunidade. Os grupos ou redes

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de farmácias começaram a surgir em Portugal com o objetivo de dar uma resposta ao mercado, apresentando-se como uma solução agregadora de partilha de recursos e ferramentas de Gestão, perante a crise económica sentida no setor. Nos dias de hoje, a intervenção dos grupos ou redes de farmácias evoluiu e vai muito além das compras/ negociação de produtos. As farmácias são independentes, mas beneficiam de uma estrutura que partilha ideais comuns, oferecendo uma ampla seleção de serviços, merchandising e gestão de categorias, marcas próprias, formação técnica, comunicação nas redes sociais e outros canais online, bem como a potenciação do negócio através de ferramentas de gestão e marketing. O aumento da rentabilidade decorrente da associação das farmácias em grupo deve-se sobretudo ao aumento do poder negocial peran-

É inegável que ao balcão o foco do farmacêutico deve ser o seu utente: ouvir as suas necessidades e transmitir assertivamente a informação técnica relativa ao aconselhamento farmacoterapêutico

te os laboratórios e armazenistas, melhorando as suas condições comerciais na compra. Assim, o alinhamento e eficiência na venda, conseguido através de objetivos bem definidos, assumem um papel fulcral para que a farmácia obtenha proveitos desta parceria, ao permitir ao grupo ver cumpridos os compromissos assumidos com os parceiros. Para integrar esta parceria em pleno, é importante que os colaboradores da farmácia tenham bem presente, aquando da venda ao balcão, tanto o portfólio da farmácia, como o portfólio do grupo. Esta tarefa é particularmente árdua, uma vez que os portfólios contêm milhares de produtos e parcerias com diferentes laboratórios, os quais apresentam diferentes valores de rentabilidade de molécula para molécula. No limite, poderíamos pensar que escolher sempre do CNP mais rentável por CNPEM será o mais acertado, no entanto, estas premissas nem sempre são verdadeiras. A farmácia tem frequentemente objetivos de valor ou de quo-

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Nos dias de hoje, a intervenção dos grupos ou redes de farmácias evoluiu e vai muito além das compras/negociação de produtos. As farmácias são independentes, mas beneficiam de uma estrutura que partilha ideais comuns, oferecendo uma ampla seleção de serviços ta a cumprir por laboratório, o que permite ao grupo negociar a melhor rentabilidade global e oferecer as melhores condições à farmácia: por vezes é necessário limitar o lucro numa venda para maximizar o lucro noutras. É inegável que ao balcão, o foco do farmacêutico deve ser o seu utente: ouvir as suas necessidades e transmitir assertivamente a informação técnica relativa ao aconselhamento

farmacoterapêutico. Portanto, torna-se imperativo que o software interaja de forma integrada e intuitiva no fluxo de atendimento, fornecendo a informação supracitada acerca de margens e objetivos associados ao portfólio da farmácia, disponibilidade do produto, reservas em curso, interações, histórico do utente, sem necessidade de consulta de fontes externas. Tal como o atendimento ao balcão, a receção de encomendas é um processo crítico de interação entre o farmacêutico e o software, no qual deve ser possível verificar rapidamente se os produtos encomendados estão a ser adquiridos ao preço negociado pelo grupo. Também é essencial conseguir saber, no momento da encomenda, se o produto está disponível no armazenista ao preço negociado pelo grupo, de forma e evitar despender tempo em processos de devolução.

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As parcerias estabelecidas por um grupo são dinâmicas. Evoluem em função da disponibilidade e necessidades dos laboratórios, das tendências do mercado e das necessidades das farmácias. É, pois, necessário que a farmácia vá adaptando o seu stock à evolução das parcerias, para evitar ficar com monos. Embora seja possível gerir um portfólio evolutivo com recurso à definição de pontos de encomenda (stock mínimo e máximo) este é um processo complexo e moroso, o qual é vantajoso ser gerido pelo software automaticamente. O papel do software de gestão de farmácia é fundamental neste processo, ao criar a ponte entre a farmácia e o grupo a que pertence, promovendo um maior alinhamento das mesmas, que se traduz em vantagens para ambos, e garantindo a eficiência na operação da farmácia.

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> SETOR FARMACÊUTICO

Marketing Digital: humanizar é o melhor remédio A CORRETA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO MARKETING HUMANIZADO É DETERMINANTE NA EFICÁCIA DA COMUNICAÇÃO DAS FARMÁCIAS NAS PLATAFORMAS DIGITAIS. Autor:2PLAY, Agência de Comunicação

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Marketing vive de e para as pessoas. As redes só são sociais se a elas estiverem ligadas. Tal como em qualquer farmácia, o mundo digital é um lugar de encontros e de criação de relações coesas que devem ser alicerçadas em “suplementos” de transparência, autenticidade, criatividade e humanidade, que sustentam uma jornada que culmina num objetivo que todas as marcas ambicionam atingir: a fidelização do cliente. As farmácias têm, cada vez mais, a necessidade de comunicar com os seus clientes para além do seu espaço físico, sem perder a proximidade que caracteriza o seu serviço, que, ao contrário de outras atividades, já possui um atendimento presencial e, inerentemente, humanizado. Transpor esta prática para o universo digital, nomeadamente para as redes sociais, é um salto complexo, mas exequível. Para tal, é necessário assegurar o cumprimento de três pilares que definem o Marketing Humanizado: ética como premissa base para A fundamentar relações de confiança com os potenciais clientes. Mais do que em outra qualquer área, a credibilidade é crucial

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para promover a fidelização dos que procuram os serviços farmacêuticos. Frequentemente, os clientes escolhem uma farmácia pela sua proximidade geográfica. Nas redes sociais, essa condicionante não existe, pois todas elas estão equidistantes, à distância de um simples clique. A diferenciação é, portanto, determinante na transmissão dos valores da marca. empatia é o pilar fundamental A para a concretização de relações sólidas com os futuros clientes. Mas como veiculá-la em plataformas digitais, onde o contacto humano direto, olhos nos olhos, não existe? Saber quais as necessidades dos clientes é o primeiro passo para oferecer um serviço correspondente a esse posicionamento. , finalmente, a componente emoE cional, pois não basta informar, é imperioso sensibilizar os clientes, atuais e potenciais. A adequação de conteúdos de qualidade é, por essa razão, central em qualquer estratégia adotada pelas farmácias. Não existe uma única forma de definir e implantar estratégias de Marketing Humanizado. Estas dependem de vários fatores, todos eles relacionados com o serviço ao cliente, elemento central de todas

As farmácias têm, cada vez mais, a necessidade de comunicar com os seus clientes para além do seu espaço físico, sem perder a proximidade que caracteriza o seu serviço as preocupações e o princípio e a finalidade de qualquer estratégia. Consequentemente, é necessário que a organização se conheça bem. O que somos, o que queremos ser e que caminho devemos tomar. Nesta vertente, a liderança e a sua equipa devem fazer um esforço de profunda introspeção. Qualquer estratégia só será eficaz se as orientações emanadas pelos líderes forem corretamente interiorizadas por toda a equipa, cujos contributos deverão ser sempre incorporados. Como ninguém sabe tudo, as parcerias são fundamentais, especialmente no caso de vertentes técnicas que nada têm a ver com a atividade principal das farmácias, que estas conhecem como ninguém. Por isso, os parceiros ideais são os que compreendem a identidade da marca. São eles que estão preparados para realizar a ponte

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> SETOR FARMACÊUTICO que é necessário estabelecer entre o atendimento presencial e a presença digital. Quando se consegue criar laços de confiança, empáticos e emocionais, com os clientes, estes regressam, uma e outra vez, à farmácia. O papel dos parceiros de comunicação é semelhante: ajudar, com o seu know-how, a transmitir credibilidade, afinidade e emocionalidade, recorrendo a diversos meios digitais ao dispor, de acordo com a tipologia de seguidores identificados.

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Nunca foi tão fundamental o setor criar relações de confiança com os cidadãos, receosos e inseguros, que procuram respostas para a sua ansiedade em entidades credíveis, como são vistas as farmácias comunitárias A recente crise pandémica confirmou a importância crescente do universo online e dos referidos pilares nos quais deve assentar qualquer estratégia de Marketing

promovida pelas farmácias. Nunca tanto se pesquisou sobre saúde. Nunca foi tão fundamental o setor criar relações de confiança com os cidadãos, receosos e inseguros, que procuram respostas para a sua ansiedade em entidades credíveis, como são vistas as farmácias comunitárias. A humanização das marcas através dos conteúdos digitais, principalmente nas redes sociais, revelou-se o grande segredo para a

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SETOR FARMACÊUTICO < identificação e escolha dos consumidores. No caso de algumas farmácias, assistiu-se a um esforço para transpor os princípios das relações interpessoais para toda a comunicação digital, de uma forma autêntica, objetiva e valorizadora. Neste período, as farmácias, que investiram em Marketing Digital para estarem ainda mais próximas dos seus clientes, sentiram também a necessidade de reforçar as suas plataformas digitais. Criaram-nas ou ajustaram-nas aos seus clientes e à atual crise sanitária, agilizando funcionalidades como o aviamento online de receitas, os pagamentos rápidos e seguros, e em muitos casos, as entregas ao domicílio. As farmácias estão, mais do que nunca, conectadas, próximas e comprometidas com clientes ativos e potenciais, pois compreenderam a necessidade de consolidarem relações duradouras com a comunidade, tornando-se digitalmente humanas.

DADOS RELATIVOS A PORTUGAL EM 2021

8,58 M

7,80 M

15,80 M

Número de utilizadores de internet

Número de utilizadores das redes sociais

Número de acessos mobile em Portugal

* Entre 2020 e 2021, houve um aumento de 11 % de utilizadores de redes sociais

93 MIN/DIA

84,2 %

Média de tempo que os portugueses passam nas redes sociais

Percentagem de penetração da internet

82 %

DE TRÁFEGO ONLINE CAUSADO PELO VÍDEO * Realça a importância de incluir este tipo de conteúdos na estratégia digital das Farmácias

CANAIS SOCIAIS MAIS UTILIZADOS EM PORTUGAL

92 %

83 %

88 %

YOUTUBE

WHATSAPP

FACEBOOK

Em conclusão, a correta aplicação dos princípios do Marketing Humanizado é determinante na eficácia da comunicação das farmácias nas plataformas digitais.

79 %

FACEBOOK MESSENGER

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75 %

INSTAGRAM

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> FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS

As farmácias fundadoras CRIADA EM 1991, A ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL NASCEU DA VONTADE DE SEIS FARMÁCIAS DE PERTENCEREM A UM PROJETO INDEPENDENTE E SUSTENTÁVEL. AO LONGO DO PERCURSO, UMA DAS FUNDADORAS SAIU DO PROJETO, MAS A FARMÁCIA ALMEIDA, A FARMÁCIA BIRRA, A FARMÁCIA DA PRELADA, A FARMÁCIA POPULAR E A FARMÁCIA SÁ CONTINUARAM A TRABALHAR NUM ESPÍRITO COMUNITÁRIO, NA DEFESA DOS INTERESSES DAS ASSOCIADAS E DE SERVIÇO À POPULAÇÃO. TRINTA ANOS VOLVIDOS, E APÓS MÚLTIPLOS DESAFIOS E ENORME CRESCIMENTO, A AFP CONTA ATUALMENTE COM MAIS DE 160 FARMÁCIAS ASSOCIADAS.

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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS <

FARMÁCIA ALMEIDA Margarida Coutinho Presidente da AFP entre 1998 e 2003 “Trinta anos!! A coragem, determinação e muito trabalho permitiu que a partir do mote ‘Não é obrigada a ser sócia’ surgisse a AFP. Um grão de areia que assentava na convicção de que nem sempre a maioria tem razão, mas há que prová-lo. É gratificante atingir este momento e verificar que o empenho, dedicação e trabalho de tantos colegas, ao longo deste período, não esmoreceu, bem pelo contrário. O objectivo de apoiar a farmácia comunitária nas mais diversas vertentes, reforçando a capacidade técnica e humana na sua intervenção diária em cuidados primários da saúde continua a ser o ‘voluntariado associativo’ colocado ao serviço dos associados da AFP. E, transmitir a dife-

rentes entidades (Ministério da Saúde, Infarmed, partidos políticos) as necessidades, dificuldades e sugestões para um melhor desempenho comunitário tem sido transversal a todas as equipas dirigentes da AFP, principalmente nos períodos de maior instabilidade, remando, muitas vezes, contra a maré sem perderem o Norte. O reconhecimento oficial de que a farmácia é um bem imprescindível de utilidade pública e não um negócio tem sido o desafio permanente desta associação.

O reconhecimento oficial de que a farmácia é um bem imprescindível de utilidade pública e não um negócio tem sido o desafio permanente desta associação

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Num período de consumismo desenfreado, julgo ser imperioso desmistificar que a farmácia ideal não deverá ser a que mais lucro tiver, mas a que maior retorno social der ao público, aos colaboradores e menor desperdício apresentar. A vida é demasiado pequena para esquecer que os nossos actos e escolhas têm consequências naqueles que nos rodeiam. Neste momento, desejo as maiores felicidades a todos os colegas que acreditaram e fizeram crescer esta associação assim como a todas as colaboradoras que asseguram e zelam, diariamente, pelo seu funcionamento”. *Autora escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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> FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS

FARMÁCIA BIRRA Graça Pereira Lopes 1º presidente da AFP “Aquando da fundação da AFP, a principal dificuldade foi o estabelecimento de protocolos com alguns subsistemas, mas com bastante trabalho e insistência lá acabamos por conseguir. A verdade é que ao longo dos anos, a AFP foi crescendo e neste momento já é reconhecida como representante das farmácias pelas diversas entidades da saúde e é hoje convocada para estar presente em todas as iniciativas que dizem respeito ao setor. Espero que no futuro a AFP continue a crescer e a aumentar o número de farmácias associadas, o que lhe permitirá aumentar a sua intervenção para melhor defender os interesses das farmácias. Um agradecimento especial às diferentes direções pelo esforço e trabalho desenvolvidos em prol da associação. Muitos parabéns à AFP pelos seus 30 anos“.

Ao longo dos anos, a AFP foi crescendo e neste momento já é reconhecida como representante das farmácias pelas diversas entidades da saúde 40

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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS <

FARMÁCIA DA PRELADA Francisco Martins Correia “A AFP foi criada numa altura em que as farmácias sentiam grandes dificuldades financeiras e não encontravam respostas. Neste sentido, no início da sua atividade, a associação confrontou-se com diversos desafios, sobretudo no que respeita ao estabelecimento de acordos com entidades externas. Valeu, no entanto, todo o esforço realizado na altura.

Ultrapassadas essas dificuldades, a AFP tem conseguido, ao longo destes 30 anos, servir as suas farmácias, prestando informações, esclarecendo e reunindo com as entidades da saúde na defesa dos direitos das associadas. Todo este trabalho é feito sem sobrecarregar as associadas, o que é

particularmente importante para as farmácias mais pequenas e com menos recursos financeiros. O facto de as associadas pagarem uma quota reduzida é sem dúvida uma grande vantagem para as farmácias. Durante estes trinta anos a AFP tem conseguido fazer ouvir a sua voz. Muitos parabéns!“.

AFP tem conseguido, ao longo destes 30 anos, servir as suas farmácias, prestando informações, esclarecendo e reunindo com as entidades da saúde na defesa dos direitos das associadas

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> FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS FARMÁCIA POPULAR Maria Cecília Duarte “No início da AFP, associação da qual o meu pai foi um dos fundadores, sentimos muitas dificuldades, mas que rapidamente foram ultrapassadas.Aliás, a Dra. Margarida Coutinho desempenhou um papel muito importante e foi muito empreendedora na dinamização da associação. A AFP cresceu muito graças ao seu empenho e dedicação. Ao longo destes 30 anos passamos por grandes peripécias e histórias para relembrar. Um dia por exemplo a direção da AFP foi toda para Lisboa de comboio para solicitar pagamentos à ADMG que estavam em falta. Ninguém nos quis receber, mas lá conseguimos levar o barco a bom porto! E como este, vivemos grandes momentos.

Ao longo destes 30 anos passamos por grandes peripécias e histórias para relembrar Espero que no futuro a nossa associação nos continue a trazer alegrias e a ajudar no dia a dia do trabalho das associadas”.

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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS < FARMÁCIA SÁ Ana Janeiro Diretora Técnica da Farmácia Sá “A AFP está de parabéns pelos seus 30 anos de trabalho e dedicação à atividade farmacêutica. Tenho orgulho pelo meu avô ter sido um dos seus fundadores e o privilégio de contar com o vosso apoio desde o início da minha atividade profissional, esclarecendo todas as dúvidas de forma célere e proporcionando as ferramentas necessárias ao meu crescimento como farmacêutica. A AFP representa para a nossa farmácia credibilidade no que diz respeito ao desenvolvimento profissional contínuo da nossa equipa, permi-

“A AFP representa para a nossa farmácia credibilidade no que diz respeito ao desenvolvimento profissional contínuo da nossa equipa, permitindo-nos acompanhar as inovações no setor farmacêutico”

demia e as suas consequências. A crise de saúde pública que vivemos pôs à prova a capacidade de resiliência de cada profissional da farmácia na hora de prestar o melhor serviço possível não só aos nossos utentes crónicos como a todos os que procuravam o nosso conselho farmacêutico.

tindo-nos acompanhar as inovações no setor farmacêutico e atingir o nível de excelência que pretendemos.

Assim sendo, nos próximos anos teremos que nos defrontar com diversos desafios e simultaneamente garantir a sustentabilidade da gestão da farmácia e equilibrá-la com o avanço tecnológico.

O ano de 2020 foi um ano extremamente exigente para o setor da saúde e nós, profissionais de saúde, vivemos em primeira linha as dificuldades que trouxeram a pan-

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Continuamos a contar com a AFP para nos ajudar nesse caminho!”.

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> ASSOCIAÇÕES

Programa abem: Rede Solidária do Medicamento SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS UNS PELOS OUTROS. Autor: Maria João Toscano, Diretora Executiva da Dignitude

O

abem: Rede Solidária do Medicamento é um Programa que tem como objetivo permitir, com total anonimato e dignidade, o acesso aos medicamentos prescritos a quem não tem capacidade financeira para os adquirir. É promovido pela Associação Dignitude, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, e foi fundado no princípio solidário de que todos somos responsáveis por todos. O abem: tem abrangência nacional. Está presente em todos os distritos e regiões autónomas do país, assente numa rede colaborativa, da qual fazem parte entidades parceiras locais como Autarquias, IPPS, Cáritas e Misericórdias, e que garante às famílias mais carenciadas o acesso à medicação de que necessitam.

A despesa realizada é totalmente coberta pelo Fundo Solidário abem:, 100 % dedicado à co comparticipação de medicamentos dentro do Programa e alimentado por uma recolha permanente de fundos, através do apoio de empresas e cidadãos individuais. Até ao final de setembro de 2021, o Programa tinha já apoiado 24.268 beneficiários, traduzindo um total de 13.682 famílias que, deste modo, conseguem ter acesso à Saúde. Infelizmente, há ainda muitas pessoas carenciadas a necessitar de ajuda e todos os contributos são válidos e importantes. Qualquer pessoa pode fazer parte da rede solidária, efetuando um donativo através de: ransferência bancária para o T IBAN: PT50 0036 0000 9910 5914 8992 7

BALANÇO DA EMERGÊNCIA ABEM: COVID-19 A pandemia de COVID-19 veio expor a fragilidade de muitas pessoas em diversas frentes: fosse por serem consideradas de maior risco em caso de infeção, fosse pela sua vulnerabilidade face às consequências sociais e económicas despoletadas pelas medidas de contenção do SARS-CoV-2. A Emergência abem: COVID-19 nasceu neste contexto pandémico, para dar resposta às dificuldades no acesso a medicamentos, produtos e serviços de saúde de quem mais precisa.

MB WAY: 932 440 068 São estas entidades, bem conhecedoras das suas comunidades, que referenciam os beneficiários ao Programa. Estas pessoas passam a ser titulares do Cartão abem:, cuja apresentação numa farmácia abem: lhes permite adquirir, sem custos, os medicamentos comparticipados que lhes forem prescritos.

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Os valores doados são integralmente usados na compra dos medicamentos dos beneficiários abem:, e a Associação Dignitude emite recibos de donativo no âmbito do Estatuto de Benefícios Fiscais. Para tal, os doadores devem enviar comprovativo de transferência, nome e NIF para geral@dignitude.org.

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ASSOCIAÇÕES < A Emergência abem: COVID-19 começou por ativar a rede de parceiros locais abem: entidades referenciadoras e farmácias, de modo a agilizar a entrega de medicamentos no domicílio dos beneficiários do programa inseridos em grupos de maior risco face ao novo coronavírus. Estiveram envolvidas nesta ação: Numa segunda fase, quase simultânea, a resposta alargou-se ao apoio no acesso a medicamentos, produtos e serviços de saúde a pessoas cujas dificuldades resultavam do grave contexto: pessoas que perderam o emprego ou viram os seus rendimentos diminuídos. Os dados deste apoio são: Na terceira fase, a Emergência abem: COVID-19 ajudou pessoas doentes que careciam de terapêutica de dispensa hospitalar, apoiando a distribuição dos medicamentos até à farmácia mais próxima ou ao domicílio, através da Operação Luz Verde. Daqui resultaram: Por último, e dado que a pandemia COVID-19 não só se manteve como se agravou na época de gripe sazonal, os utentes maiores de 65 anos puderam vacinar-se contra a gripe, gratuitamente, em proximidade, numa farmácia da sua preferência. Esta ação solidária de prevenção em saúde foi possível também devido ao apoio das Câmaras Municipais Parceiras da Emergência abem: COVID-19:

O alívio gradual das medidas de restrição da pandemia COVID-19 não tem sido acompanhado pela amenização das desigualdades

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169

822

Entidades Referenciadoras

Farmácias abem

1.478

47

14.804

2.296

Parcerias

Beneficiários

Entregas de medicamentos hospitalares

108

Municípios parceiros

2.405

Farmácias envolvidas

Cerca de

200.000 Vacinas administradas

Farmácias aderentes

económicas e sociais. As necessidades de apoio no acesso ao medicamento perpetuam-se e precisamos de ser capazes de dar

resposta a quem mais precisa. O apoio de todos conta, porque somos todos responsáveis uns pelos outros.

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