Soja
Solo adentro
Como o manejo da estrutura do solo e os cuidados amplos, da superfície para baixo, nem sempre observados com a devida atenção, são vitais para a construção de altas produtividades na cultura da soja
I
mpulsionados pela elevação no valor da saca no mercado internacional, os produtores brasileiros estão apostando alto na cultura da soja na safra 2020-2021. As primeiras estimativas do setor apontam para um crescimento em área variando de 1,5% a 3%, algo próximo de 38,4 milhões de hectares, o que projetaria, no melhor dos cenários climáticos, uma produção de cerca de 132 milhões de toneladas. Para quem está de “passageiro” nesta viagem é só sucesso e alegria, especialmente para aproximadamente 85% dos brasileiros (população que reside nas cidades de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio -
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Pnad). O cenário é o que parte da mídia televisionada apresenta: “se produz em média 58 sc/ha e com preço atual na casa de R$ 140,00/sc, há um saldo de R$ 8.120,00/ha”. Assim, um produtor que cultiva em média 250 hectares de área, tem a bagatela de pouco mais de R$ 2 milhões de faturamento em seis meses. Que sonho! É preciso acordar o “passageiro” e trazê-lo à realidade. Para se produzir qualquer bem há custos, e no caso do campo esses custos são ainda mais desafiadores, uma vez que há uma “indústria” a céu aberto, sendo submetida a riscos e incertezas. Os riscos são mensuráveis, já as incertezas não. Estimativas preliminares de diferentes órgãos de pesquisa e extensão
Fevereiro 2021 • www.revistacultivar.com.br
e de levantamentos junto a produtores que têm do campo sua profissão, vivendo no campo e do campo, apontam que o custo de se produzir soja neste cenário “maravilhoso” vai variar de R$ 3.700,00/ ha a R$ 4.170,00/ha nesta safra. E na realidade o custo é esse mesmo. Assim, dos R$ 8.120,00 de saldo é preciso descontar um montante de 51%. Há, mas restam 49%. Este cenário é o sonho de todo produtor. Na prática, a teoria é outra. A maior parte da produção já foi comercializada em contratos futuros a valores de R$ 85,00/sc a 110,00/sc (e não a R$ 140,00/sc) ou negociada em insumos que podem ou não ter composto o custo de produção supracitado. Assim, a renda bruta sai dos R$ 8.120,00/ha para, na melhor das hipóteses, R$ 6.380,00/ha, o que gera uma possibilidade de renda líquida variável entre R$ 760,00/ha e 2.200,00/ha. Entretanto, a expectativa de produtividade e de preço pode mudar dramaticamente em menos de um mês, para baixo ou para cima. Como isso é possível? Parte desta oscilação depende de um complexo de fatores inter-relacionados ligados ao mercado internacional (problemas climáticos interferindo no plantio norte-americano e na política interna de países que estão no ranking dos maiores produtores mundiais do grão – caso da vizinha Argentina; do maior mercado consumidor de soja in natura, leia-se aqui a China; elevação no consumo de proteína vegetal para produção de proteína animal, entre outros pontos) e a oferta de água durante o desenvolvimento da cultura. É neste ponto que queremos chegar. Internamente, sob o ponto de vista da produtividade, basta não chover (ou se ter chuvas muito abaixo da média esperada no mês) no período vegetativo e/ ou reprodutivo que a realidade vira uma mera expectativa, e a incerteza passa a atuar. Por outro lado, chuva em excesso (especialmente no período de maturação e colheita) tem o mesmo efeito. Estudos desenvolvidos por centros de pesquisa como Embrapa e universidades apontam que, para uma lavoura ter plenas condições de desenvolvimento sem comprometer seu potencial produtivo, são necessários entre 450mm e 800mm de chuva regularmente distribuídos durante seu ciclo (semeadura até matura-