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Destaques
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O auxílio de modelos numéricos na quantificação do movimento de esporos do fungo causador da ferrugem-asiática
Sugadora de seiva
Como realizar o manejo
adequado da cochonilhada-raiz-do-cafeeiro
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@RevistaCultivar
Índice
Viajante do mal
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Eficiência detalhada
As especificidades de ação
Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 249 Fevereiro 2020 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Leandro Marques
www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Cochonilha-da-raiz-do-cafeeiro
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Teste de fungicidas em milho
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Lagarta-do-cartucho em algodoeiro
14
Herbicidas em cana-energia
18
Capa - Mobilidade da ferrugem-asiática
21
Eficiência dos nematicidas
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Ferrugem-asiática na safrinha
28
Herbicidas pré-emergentes no arroz
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Como manejar nematoides
36
Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
e biológicos
Diretor Newton Peter
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Expediente
dos nematicidas químicos
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Diretas
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Diretas Sementes
A Syngenta acaba de relançar a marca de sementes NK. Focada nas culturas de soja e milho, a nova linha de produtos, que passou a ser comercializada no Brasil, na Argentina e no Paraguai em janeiro de 2020, chega ao mercado com cinco novas cultivares de soja, com atributos distintos e desenvolvidos de acordo com as necessidades de cada região. O portfólio NK também incorpora os híbridos de milho já comercializados pela Syngenta. “A decisão do relançamento se confirmou após uma pesquisa realizada com mais de 400 produtores brasileiros, que chancelaram a força e os atributos inovadores da NK”, explica o líder do Negócio de Sementes da Syngenta Brasil e Paraguai, André Franco. No Brasil, a perspectiva é de lançar entre 15 e 20 novas cultivares de soja e dez híbridos de milho nos próximos cinco anos Paulo Alves
Website
A Alta Defensivos Agrícolas acaba de lançar seu website https://www.altadefensivos.com.br. A plataforma passou por mudanças significativas que envolvem desde uma interface gráfica mais atraente até o conteúdo que ganhou mais robustez. Segundo o diretor executivo do grupo Agrilhold, Paulo Alves, a iniciativa teve como objetivo principal deixar mais claro o posicionamento da empresa no mercado de defensivos. “Queremos ser percebidos cada vez mais como uma excelente opção em matéria de defensivos pós-patente. Uma empresa que oferece um portfólio robusto de produtos com preços competitivos", avaliou. “O website traz o perfil corporativo da empresa, uma apresentação mais aprimorada do portfólio de produtos com suas respectivas fichas técnicas e bulas, tudo para facilitar a identificação da solução mais adequada para as necessidades dos nossos clientes. Além disso, também queremos deixar claro qual o nosso papel como empresa de defensivos em um mundo com um problema exponencial de crescimento populacional. Quem acessar nosso website terá uma ótima oportunidade de entender o quanto isso é grave e o quanto será preciso investir em produtividade ao longo das próximas décadas”, explicou o gerente de Marketing e Supply Chain, Ernesto Bellotto.
André Franco
Publicação
O livro “Biological Control in Latin America and the Caribbean: Its Rich History and Bright Future” resume a história do controle biológico na América Latina e Ilhas Caribenhas. A publicação também apresenta uma ampla revisão da situação atual do controle biológico na região. Dividido em 32 capítulos, o conteúdo abrange 522 páginas com textos, tabelas e referências. O material é editado por Joop C. van Lenteren, da Wageningen University, The Netherlands, Vanda H.P. Bueno, da Universidade Federal de Lavras, Brasil, M. Gabriela Luna, da Universidad Nacional de La Plata, Argentina, e Yelitza C. Colmenarez, do Cabi Brasil, Botucatu. A aquisição pode ser realizada através do endereço eletrônico www.cabi.org/bookshop/book/9781789242430/.
Esclarecimento
A realização do trabalho de pesquisa que deu origem ao artigo “Associação Positiva”, publicado nas páginas 10 a 12 da edição 247, de Dezembro/Janeiro de 2020, teve o suporte financeiro da Fundecet.
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Centro biológico
O São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio) foi lançado em fevereiro, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), em Piracicaba, São Paulo. Trata-se de um centro avançado de pesquisa, inédito no País, para estabelecer um novo modelo de manejo para o controle de pragas e doenças para regiões tropicais. Dirigido pelo professor José Roberto Postali Parra, o SPARCBio foi concebido por meio de parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e a Koppert Biological Systems.
Sinara Ferreira
Lideranças
A FMC anunciou novas lideranças no Cerrado e Brasil Central. Com a reestruturação, a região passou a ser dividida entre Cerrado Oeste e Cerrado Leste. A divisão Cerrado Oeste, que integra os estados do Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul, será comandada pela atual diretora comercial da FMC, Sinara Ferreira. Já a divisão Cerrado Leste, composta pelos estados da região Norte, Goiás e oeste baiano, será liderada pelo atual diretor comercial, Adelino Thomazini. A nova estrutura de negócios está em vigor desde de dezembro de 2019.
Novos rumos
Sergi Vizoso é o novo vice-presidente sênior, responsável pela Divisão de Soluções para Agricultura da Basf na América Latina. O executivo nasceu em Barcelona, na Espanha, e tem mais de 20 anos de atuação na empresa. Vizoso assume o cargo ocupado nos últimos dez anos por Eduardo Leduc, que se aposenta depois da trajetória de 35 anos na Basf. Com formação na área de Química e Administração de Empresas, Vizoso atuava desde 2016 como vice-presidente da Basf na Europa Central.
Sergi Vizoso
José Roberto Postali Parra
Grupo
A unidade da ChemChina Syngenta anunciou que, juntamente com a Sinochem, está consolidando os negócios em sementes e defensivos agrícolas em uma nova holding, a Syngenta Group. O tual presidente da Adama, Chen Lichtenstein, será nomeado vice-presidente financeiro do grupo, que terá sede em Basileia, na Suíça. Em 2017, a ChemChina comprou o grupo suíço por cerca de 43 bilhões de dólares. Em comunicado, Lichtenstein afirmou que a Adama nunca esteve tão forte.
Chen Lichtenstein www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2020
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Café Estevam Reis
Sugadora D de seiva Com poder para reduzir a produtividade em até 14 sacos de café beneficiado/ha de quaro mil plantas, cochonilhas nas raízes são um desafio que precisa ser enfrentado de modo racional e equilibrado. O uso de inseticidas neonicotinoides desponta como principal estratégia de controle 06
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iversas espécies de cochonilhas podem atacar as raízes dos cafeeiros, mas só a Dysmicoccus texensis (Tinsley, 1900) (Hemiptera: Pseudococcidae) recebe o nome comum de cochonilha-da-raiz-do-cafeeiro. Pertence ao chamado grupo das cochonilhas-farinhentas, já foi relatada anteriormente na literatura como sendo Planococcus cryptus (Hempel, 1918), Dysmicoccus cryptus (Hempel, 1918) e Dysmicoccus bispinosus Beardsley, 1965. É um inseto sugador de seiva e que vive em colônias nas raízes do cafeeiro arábica (Coffea arabica L.),
embora ocorra também em altas infestações nas raízes do cafeeiro Robusta (Coffea canephora Pierre ex A. Froehner). Em cafeeiro Conillon (C. canephora), no estado do Espírito Santo, também podem ocorrem duas espécies de cochonilhas atacando as raízes, uma delas ainda sem determinação específica, a Dysmicoccus sp. (semelhante a D. texensis), e a outra é a Planococcus minor (Maskell, 1897) (Pseudococcidae), conhecida também como cochonilha-das-rosetas, por atacar também as rosetas nos ramos dos cafeeiros. Outras cochonilhas-farinhentas podem ser encontradas nas raízes dos cafeeiros, como a Geococcus coffeae Green, 1933; a Nipaecoccus coffeae (Hempel, 1919); a Pseudococcus cryptus Hempel, 1918; a Rhizococcus coffeae Laing, 1924 e a Dysmicoccus brevipes (Cockerell, 1893) (Pseudococcidae), porém nenhuma delas ainda foi considerada praga de importância econômica para a cultura, assim como é a cochonilha-das-raízes D. texensis.
de até 20cm, envolvendo a base do caule.
DANOS DA COCHONILHA-DA-RAIZ
Sob condições favoráveis ao desenvolvimento do inseto e havendo déficit hídrico no solo, as cochonilhas do gênero Dysmicoccus podem causar danos à produção da ordem de 14 sacos de café beneficiado/ha de quatro mil plantas. Os danos e prejuízos causados pela cochonilha-da-raiz se devem ao fato do inseto se alimentar da seiva, ato que enfraquece a planta, podendo até ocasionar a morte de cafeeiros. A infestação pela cochonilha-da-raiz, D. texensis, inicialmente pode ser constatada na raiz principal do cafeeiro, logo abaixo do colo da planta (Figura 1). Nessa fase, ainda não causa danos irreversíveis, tampouco a planta manifesta sintomas na parte aérea. Com o passar do tempo e com o ataque já consolidado na lavoura, em alta população de espécimes na colônia, o excesso de líquido açucarado, honeydew, excretado pelas cochonilhas escorre pelas raízes, propiciando substrato para o desenvolvimento de um fungo do gênero Bornetina. Esse fungo de revestimento vai envolvendo as raízes
Paulo Rebelles Reis
ASPECTOS BIOECOLÓGICOS
Figura 2 - Raiz de cafeeiro Arábica exibindo criptas em função do ataque da cochonilha-da-raiz
Valdir Scardua
Paulo Rebelles Reis
Figura 1 - Cochonilha-da-raiz, Dysmicoccus texensis, no colo da planta do cafeeiro e ainda sem a formação da cripta Paulo Rebelles Reis
A colônia da cochonilha-da-raiz do cafeeiro, D. texensis, é formada por ninfas e fêmeas adultas revestidas por uma camada de secreção cerosa branca que lhes confere o aspecto de terem sido envolvidas em farinha, daí a denominação também de cochonilha-farinhenta. Apresentam o tegumento mole, com formato oval, possuindo a cabeça e o tórax fundidos. Medem aproximadamente 3mm de comprimento e apresentam 34 apêndices laterais simples, sendo 17 de cada lado do corpo, e dois posteriores mais longos (Figura 1). As ninfas têm o mesmo aspecto das fêmeas adultas, porém são menores, já os machos são alados e dificilmente são vistos. Essa espécie de cochonilha apresenta reprodução partenogenética. O ciclo de ovo a adulto dessa cochonilha é de aproximadamente 100 dias, ocorrendo gerações sobrepostas, ou seja, em uma mesma colônia podem existir ninfas e fêmeas adultas. Apresenta um grande potencial de reprodução, e em um ano podem ocorrer até cinco gerações. Nas raízes, as ninfas e fêmeas adultas sugam continuamente a seiva no xilema e floema por meio do seu aparelho bucal tipo sugador labial tetraqueta (quatro estiletes: duas mandíbulas e duas maxilas), e o excesso sugado, um líquido açucarado, é eliminado pelo ânus em forma de gotículas (fezes líquidas). Esse líquido adocicado, conhecido por honeydew, atrai formigas doceiras que vivem em simbiose com as cochonilhas, dando-lhes proteção e transportando-as para outros cafeeiros, e em troca se alimentam do líquido adocicado. Essas formigas são consideradas como o principal meio para a dispersão da cochonilha entre as plantas. Uma dessas formigas doceiras é a conhecida lava-pés, do gênero Solenopsis (Hymenoptera: Formicidae). Os ninhos dessa formiga, em lavouras muito infestadas, podem ser observados ao lado e acima do colo dos cafeeiros, em uma altura
Figura 3 - Detalhes de criptas abertas mostrando as cochonilhas no interior
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Fotos Carlos Becker
Figura 4 - Detalhe da aplicação drench com aplicador costal manual (esquerda) e tratorizado em linha contínua no colo das plantas (direita)
com o seu micélio, em um envoltório coriáceo a princípio amarelado e depois pardo-escuro. O envoltório forma uma cripta ou pipoca sobre a colônia. A sucessão de criptas ou pipocas se apresenta com aspecto de nodosidades nas raízes, sintoma também chamado popularmente de “mandioquinha”, pelo aspecto que as raízes adquirem. As nodosidades ou criptas alojam o inseto em seu interior (Figura 2). Assim, dentro das nodosidades podem ser observadas as ninfas e as fêmeas adultas da cochonilha. Quando o ataque é intenso, a capa torna-se mais espessa e, por meio do rompimento do envoltório, verifica-se que em seu interior a coloração é amarelada ou esbranquiçada (Figura 3). Outra cochonilha, conhecida como cochonilha-pulverulenta-do-abacaxi, D. brevipes, também pode ser encontrada nas raízes de cafeeiros, e ao sugar a seiva pode enfraquecer as plantas. Porém, seu ataque não resulta na formação de criptas ou pipocas. Não é considerada, até agora, uma praga de importância econômica para o cafeeiro. Existem locais, como muitas regiões cafeeiras do estado de São Paulo e de Minas Gerais, e também em algumas dos estados da Bahia, do Espírito Santo e do Paraná, onde a cochonilha-da-raiz D. texensis
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ocorre endemicamente e causa prejuízos. Nesses locais, o ataque, logo abaixo do colo da planta, deve ser constatado no início da infestação, sem que ainda nenhum prejuízo tenha sido causado, ocasião em que devem ser tomadas medidas de controle, sendo o químico o mais utilizado e eficaz para reduzir as populações dessa praga. A cochonilha-da-raiz pode ocorrer em lavouras novas, ainda em formação, e também em lavouras adultas. Cafeeiros adultos suportam mais o ataque, são mais resistentes, e a cochonilha não causa prejuízos aparentes, pois seu sistema radicular não é destruído pelo ataque do inseto. Porém, ali pode sobreviver até encontrar cafeeiros novos para atacar. A infestação da cochonilha-da-raiz em cafeeiros adultos limita-se à região abaixo do colo, infestação que pode se expandir para lavouras novas, adjacentes, em plantios convencionais ou em plantios “com dobra”, ou seja, plantio de uma nova linha de cafeeiros no meio de duas linhas de cafeeiros adultos. Nos plantios “com dobra”, a infestação é muito mais fácil de ocorrer, sendo explicada pela possível presença do inseto nos cafeeiros adultos da lavoura a ser “dobrada” e sua posterior dispersão pelas formigas doceiras para os cafeeiros novos. Ainda, sem a adoção de um controle químico eficiente, essa cochonilha é
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um grande problema nessa modalidade de plantio, e em substituição de lavouras. Não são conhecidos relatos de lavouras atacadas a partir de mudas de café vindas já infestadas do viveiro. Apesar de que a cochonilha-da-raiz também possa ser observada nas raízes de algumas espécies de plantas daninhas que crescem espontaneamente nas entre linhas dos cafeeiros, não são consideradas como hospedeiras preferidas da cochonilha.
CONTROLE DA COCHONILHA-DA-RAIZ
Diferentemente das cochonilhas-farinhentas da parte aérea, ou das rosetas, não se conhece outra forma de controle para a cochonilha-da-raiz que não seja o químico, embora nematoides entomopatogênicos (NEPs) do gênero Heterorhabditis (Rhabditida: Heterorhabditidae) sejam considerados promissores para uso no controle biológico.
CONTROLE QUÍMICO
O controle químico da cochonilha-da-raiz, pelo menos até o ano de 2000, era realizado por meio da aplicação via solo de inseticidas fosforados ou carbamatos sistêmicos, nas formulações granuladas ou líquidas, durante o período chuvoso do ano, resultando em controle apenas parcial, com posterior reinfestação da praga. Apesar
Tabela 1 - Doses de imidacloprid 700WG ou thiamethoxam 250WG, recomendadas para o controle da cochonilha-da-raiz do cafeeiro em aplicação via drench, de acordo com a idade da lavoura. Piraju, SP Idade da lavoura (anos) <1 1a2 2a3 >3
Dose em gramas (g) g/cafeeiro (A) g/ha (B)(1) 0,080 280 0,080 - 0,13 280 - 455 0,13 - 0,18 455 - 630 0,23 805
Volume de calda em mL por cafeeiro(2) 40 40 60 80
B = A x 3.500 plantas/ha (estande tomado como exemplo). (2) Aplicar o volume recomendado em dois lados do colo da planta, metade de cada lado. Fonte: Souza e Ribeiro, 2003 (1)
da aplicação sistemática desses inseticidas nas lavouras de café, onde a cochonilha-da-raiz ocorria endemicamente, o problema persistia trazendo uma grande preocupação aos cafeicultores, que buscavam eliminá-la de suas lavouras. A partir de 2001, com a alta eficiência apresentada pelos inseticidas neonicotinoides na formulação de grãos dispersíveis em água (WG), como o imidacloprid e thiamethoxam, inseticidas sistêmicos e de baixa toxicidade, o controle da cochonilha-da-raiz mudou por completo, agora com 100% de eficiência, independentemente do grau de ataque do inseto na lavoura. Em novos plantios, inclusive no sistema de “dobra”, recomenda-se, a partir de três meses de idade das plantas no campo, o monitoramento periódico da cochonilha, buscando constatar sua presença na raiz principal dos cafeeiros, logo abaixo do colo das plantas. Constatada a praga, dá-se início ao seu controle químico. Uma vez aplicado, em esguicho (drench) ou em linha contínua no colo das plantas (Figura 4), o inseticida será absorvido pelo floema e levado pela seiva elaborada a todas as raízes, matando as ninfas e os adultos da cochonilha que ingerirem a seiva tóxica. No sistema de plantio “dobrado”, é dispensável a aplicação na linha dos cafeeiros adultos, porém eles servirão de foco da cochonilha para as plantas novas. Em lavouras de café em formação, com um a quatro anos de idade, onde o ataque da cochonilha passou despercebido pelo cafeicultor e já apresenta plantas em definhamento, inclusive com algumas já mortas pela infestação do inseto, o controle químico ainda é totalmente viável e eficiente. Nessas lavouras, recomenda-se fazer um levantamento da ocorrência da cochonilha, que geralmente se dá em reboleiras, e aplicar o inseticida nas plantas infestadas e também naquelas próximas, ao redor das atacadas. O ideal será aplicar o inseticida em todas as plantas do talhão. Quanto às doses dos inseticidas neonicotinoides para o controle da cochonilha-da-raiz, podem ser reduzidas em relação àquelas comumente utilizadas pelos cafeicultores para outras pragas, como bicho-mineiro e cigarras (Tabela 1). Comparativamente aos insetos mastigadores, como
Reis e Souza abordam desafios e alternativas no manejo da cochonilha-da-raiz
o bicho-mineiro, e na mesma modalidade de aplicação, os insetos sugadores, como as cochonilhas, por sugarem e ingerirem diretamente a seiva contendo o inseticida aplicado, requerem menores doses para se intoxicar e morrer. Quanto à época de controle, com o uso de inseticidas neonicotinoides, pode-se afirmar que se estende de novembro a abril, baseando-se na alta eficiência apresentada pelos inseticidas nos experimentos realizados nesse período. De modo geral, o controle químico da cochonilha-da-raiz, na aplicação em drench no colo dos cafeeiros, deve ser feito no período chuvoso da região. O importante é controlar a cochonilha desde o início da infestação, em plantas com um ano ou menos, para prevenir a morte de plantas e a necessidade de posterior replantio, evitando deixar a lavoura com falhas. Finalmente, não há necessidade de controlar as formigas doceiras que vivem em simbiose com as cochonilhas, já que com a morte das cochonilhas nas raízes dos cafeeiros não haverá mais a excreção de honeydew e as formigas desaparecerão naturalmente.
CONTROLE BIOLÓGICO
Resultados de pesquisa indicam que o nematoide entomopatogênico do gênero Heterorhabditis, isolado JPM3 do Banco de Entomopatógenos do Laboratório de Patologia de Insetos da Ufla, aplicado em suspensão aquosa no solo, teve uma eficiência similar ao do inseticida neonicotinoide usado como padrão de controle, indicando-o como um agente de controle biológico promissor no controle da cochonilha-da-raiz-do-cafeeiro. Já é conhecido que os nematoides entomopatogênicos (NEPs) podem se movimentar no solo, reproduzir-se por partenogênese e são inócuos às plantas e a outros animais, inclusive ao homem, além de apresentarem maior resistência a produtos fitossanitários que outros entomopatógenos, possibilitando sua utilização em proC gramas de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig Sul
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Milho Fotos Adriano Custódio e Lucas Simas
Teste de fungicidas Ensaios cooperativos avaliam desempenho de fungicidas no controle de doenças como a manchabranca em milho segunda safra no Paraná. Objetivo da iniciativa é fornecer informações científicas para produtores, técnicos e pesquisadores sobre o impacto produtivo e o uso racional dos produtos
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A
produção de milho vem crescendo no Brasil e no mundo nas últimas décadas. Nesse contexto, no Brasil, o milho segunda safra ou safrinha teve a área triplicada desde 2000, passando a ser responsável na última safra 2019 por aproximadamente 73% da produção total de milho brasileira. Esses números tendem a crescer ainda mais, visto os investimentos em tecnologia e pesquisas para o milho safrinha nos últimos anos. No mesmo sentido da produção, a ocorrência de doenças de foliares no Brasil também vem crescendo. Tanto é que, recentemente, pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em parceira com CPA-Copacol, identificaram uma nova doença bacteriana em lavouras comerciais (Leite et al, 2018). Entre as doenças foliares de maior importância em milho, a mancha-branca é a que mais ocorre no Paraná. O uso de fungicidas em milho tem sido cada vez maior. No entanto, a eficiência de controle de alguns produtos é questionável. Nesse contexto, pesquisadores do programa milho do Iapar, em parceria com Coamo Cooperativa Agroindustrial (Coamo), iniciaram em 2016 e 2017 um projeto-piloto para conhecer a influência de fungicidas para controlar a mancha-branca do milho. Este trabalho resultou em 2018 e 2019 no estabelecimento da rede de ensaios cooperativos de fungicidas em milho segunda safra, envolvendo uma parceria público-privada de várias Instituições formada por Iapar, Embrapa, universidades, cooperativas, empresas de experimentação e multinacionais fabricantes de agroquímicos. O objetivo desta rede será estudar programas de manejo de doenças do milho segunda safra, fornecendo informações científicas para produtores, técnicos e pesquisadores da eficiência de controle, impacto produtivo e uso racional de fungicidas.
CONDUÇÃO DOS ENSAIOS
Os ensaios do projeto-piloto foram
Tabela 1 - Programas de controle de mancha-branca do milho com aplicação de fungicidas ID Test 7 5 6 9 10 8 11 2 4 3 12
Houve redução de produtividade na área sem aplicação de fungicidas
conduzidos nos anos de 2016 e 2017 em Londrina e Campo Mourão, semeados em duas épocas em cada localidade. Parcelas experimentais de 3,6 x 6 metros, com espaçamento entre linhas de 0,9m e população variando de acordo com a recomendação do fabricante. O híbrido utilizado foi “Fórmula VIP3”. Os tratos culturais do campo experimental foram realizados conforme recomendações técnicas para a cultura. A adubação de cobertura ocorreu aos 15 dias e 30 dias após a emergência, com aplicação de 125kg/ha de ureia. Os fungicidas testados no controle de mancha-branca do milho foram compostos por moléculas isoladas e misturas duplas ou triplas (Tabela 1). Para conhecer a eficiência de controle, três aplicações foram realizadas nos estádios fenológicos de oito folhas (V8), pré-pendoamento e pós-pendoamento (R2), com pulverizador costal pressurizado e volume de calda de 200 litros/ ha. A severidade da doença foi aferida no estádio de grão pastoso (R4), avaliando-se a folha abaixo da espiga. Produtividade e severidade foram submetidas a análise conjunta.
Abreviação Ingrediente ativo Testemunha Tebuconazol Tebuconazol Piraclostrobina Piraclostrobina Tebuc+Triflox Tebuconazol + Trifloxistrobina Picox+Cipro Picoxistrobina + Ciproconazol Azox+Cipro Azoxistrobina + Ciproconazol Triflox+Proti Trifloxistrobina + Protioconazol Azox+Benz Azoxistrobina + Benzovindiflupir Pira+Fluxa Piraclostrobina + Fluxapiroxade Pira+Epox Piraclostrobina + Epoxiconazol Pira+Epox+Fluxa Piraclostrobina + Epoxiconazol + Fluxapiroxade Mancozebe Mancozebe
g.i.a. ha-1 200 250 200+100 200+80 200+80 150+175 300+150 333+167 260+160 81+50+50 750
Figura 1 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
Figura 2 - Produtividade (kg/ha) de milho em programas de controle de mancha-branca. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
RESULTADOS
Nos ensaios conduzidos em Campo Mourão, a severidade média de mancha-branca em R4 do tratamento sem aplicação de fungicidas foi 28%. A aplicação de fungicidas reduziu a severidade da doença em relação ao tratamento testemunha, sem fungicida (Figura 1). Nas condições testadas, o controle da doença pela aplicação de fungicidas impactou na produtividade final da cultura. No tratamento testemunha, sem aplicação de fungicidas, a produtividade foi inferior aos tratamentos com fungicidas (Figura 3). Os ensaios conduzidos em Londrina, em geral, apresentaram severidade média na testemunha avaliada em R4 de 15%. A severidade foi superior nos ensaios conduzidos na segunda época de semeadura (Figura 4). O uso de fungicidas reduziu a severidade de mancha-branca em relação à
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Figura 3 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Londrina-PR – Iapar. Segunda safra 2016 e 2017
testemunha sem aplicação. Os tratamentos compostos por misturas duplas e triplas apresentaram maior eficiência de controle quando comparadas a moléculas isolados. Da mesma forma, a resposta em produtividade média foi observada para essas composições na safra 2017 (Figura 4). Em função da ocorrência de “fortes ventos”, a produtividade da safra 2016 não foi avaliada porque o ensaio foi perdido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 4 - Produtividade (kg ha-1) de milho em programas de controle de mancha-branca. Londrina-PR - Iapar. Segunda safra 2016
O posicionamento adequado de fungicidas com eficiência superior apresenta alta probabilidade de garantir maiores produtividades. Novas moléculas de fungicidas sítio-específicos ou multissítios com diferentes modos de ação ou novas combinações de formulações poderão ser oferecidas ao setor produtivo nos próximos anos. Por meio desta rede de ensaios cooperativos envolvendo várias instituições nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, será possível ofertar informações científicas ao setor produtivo sobre a eficiência, o impacto produtivo e o uso racional de fungicidas foliares para controlar doenças. C
Fotos Adriano Custódio e Lucas Simas
Lucas Henrique Fantin e Karla Braga, UEL Lucas Simas de Oliveira Moreira, Coamo Marcelo Giovanetti Canteri, UEL Adriano Augusto de Paiva Custódio, Iapar
O posicionamento adequado de fungicidas tende a garantir melhores produtividades
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Folha de milho com a presença de sintomas da mancha-branca
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Algodão
Alternativa A de proteção Com clara preferência pela fase reprodutiva do algodoeiro, a presença da lagarta-do-cartucho se mostra mais crítica no período que vai da formação dos botões florais até o aparecimento dos primeiros capulhos. O uso de inseticida biológico à base de baculovírus é uma estratégia promissora para auxiliar no manejo da praga Fotos Divulgação
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lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) é conhecida como praga do milho e de outras gramíneas. Sua importância tem crescido no algodão, principalmente no Cerrado. O aumento dessa lagarta no algodoeiro está relacionado à agricultura tropical intensiva, que se caracteriza por alta temperatura e baixa umidade, uso inadequado de inseticidas químicos e oferta de “pontes verdes” (plantas hospedeiras como milho, sorgo e soja em sucessão ao algodão) durante praticamente todo o ano. O ataque da lagarta-do-cartucho no algodoeiro ocorre principalmente da parte mediana da planta até ao ponteiro. A fase mais crítica vai da formação dos botões florais até ao aparecimento dos primeiros capulhos, reduzindo a produção de fibras. As lagartas eclodem três a quatro dias após a postura e, à medida que se desenvolvem, “procuram” as estruturas reprodutivas das plantas, perfurando folhas, brácteas, flores e maçãs. A Figura 1 mostra o resultado de um experimento de preferência alimentar, claramente evidenciando a natural preferência desta praga pelas estruturas reprodutivas (especialmente flores). Este é um fato preocupante, pois os danos causados por esta praga causam impacto direto à produtividade do algodoeiro. O problema é especialmente sério em plantas transgênicas, cujas estruturas reprodutivas expressam menor teor da(s) toxina(s) de Bacillus thuringiensis (Bt). Atualmente, as recomendações rotineiras para o manejo da S. frugiperda no algodoeiro se baseiam principalmente na utilização de inseticidas químicos e transgenia. Vão desde o tratamento de sementes no pré-plantio ou em sulco de semeadura, à utilização de cultivares transgênicas que expressam toxinas inseticidas de forma constitutiva (durante todo o ciclo fenológico), e aplicações foliares durante toda a fase vegetativa e reprodutiva da cultura. Estas práticas são usadas não só no algodoeiro, como também nas subsequentes culturas hospedeiras, em um contexto de agricultura altamente intensiva que acelera a evolução
de populações resistentes aos produtos químicos e às tecnologias Bt. Este processo tem levado à destruição destas tecnologias como ferramentas eficientes de manejo, desta agressiva e importante praga agrícola. No ano de 2018 foram conduzidos bioensaios no Laboratório de Resistência de Artrópodes do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP, com o objetivo de avaliar a potência inseticida e suscetibilidade básica de uma nova ferramenta para o manejo da lagarta-do-cartucho, o inseticida biológico à base de baculovírus (SfMNPV)*. Foram avaliadas diversas populações de S. frugiperda, incluindo uma população suscetível de laboratório, várias populações de campo, e ainda populações de laboratório altamente resistentes a inseticidas químicos e às proteínas Bt expressas em plantas geneticamente modificadas. Este inseticida biológico tem um novo modo de ação, sendo eficiente e seletivo para o controle de S. frugiperda. Os resultados da pesquisa demostraram ser esta uma valiosa ferramenta que deve ser incorporada em programas de manejo da resistência da lagarta-do-cartucho. *Referência: Journal of Econom. Entomology, 112(1), 2018, 1-8
Figura 1 - Resultados de experimentos demonstram a forte preferência alimentar de Spodoptera frugiperda pelas estruturas reprodutivas do algodoeiro. Fonte: AgBiTech
Figura 2 - Fotos à esquerda, mostrando o equipamento e a forma de medição do pH das estruturas do algodoeiro. Gráfico à direita, mostrando os resultados. Fonte: AgBiTech
COMO AGEM OS BACULOVÍRUS
Baculovírus formam o maior grupo de vírus de insetos e, normalmente, são bastante específicos para uma ou poucas espécies relacionadas. Os vírions responsáveis pela infecção inicial são revestidos por uma matriz proteica, formando um corpo de oclusão ou poliedro. O produto formulado é seguro, econômico e de fácil aplicação, sendo compatível com a maioria dos produtos normalmente usados para a proteção de cultivos em aplicações foliares. Após a aplicação foliar do baculovírus, as lagartas ingerem os poliedros depositados sobre as plantas, o que dá início à primeira fase de infecção. Estes poliedros se dissolvem pelo pH alcalino no intestino médio das lagartas, liberando as partículas virais que penetram no núcleo das células epiteliais do intestino das lagartas, onde se replicam. Com a replicação, novas partículas virais, os vírions extracelu-
lares (BV-budded vírus), são produzidos e se dispersam pela hemolinfa e traqueia, invadindo todos os tecidos da lagarta. Dado o seu modo de ação singular, os baculovírus foram classificados pelo Irac Internacional (Insecticide Resistance Action Committee) como uma nova categoria, o Grupo 31- disruptores virais da membrana peritrófica do intestino médio de lagartas. O processo desde o início da infecção até a morte pode durar de dois dias a sete dias, dependendo do tamanho da lagarta e das condições ambientais. Lagartas bem pequenas (primeiro e segundo instares) em condições de alta temperatura, morrem mais rapidamente (2-5 dias). Lagartas maiores (terceiro instar) em condições de ambiente mais
fresco demoram mais tempo para morrer (4-7 dias). Lagartas infectadas assumem um comportamento anormal, deslocando-se para a parte superior das plantas, onde permanecem com pouca mobilidade até morrerem, geralmente agarradas às folhas das plantas, penduradas pelas pernas abdominais. Ao morrer, as lagartas apresentam corpo bastante flácido que escurece rapidamente e se rompe com facilidade, liberando uma grande quantidade de poliedros no ambiente. Os poliedros produzidos nesta infecção inicial representam uma eficiente fonte de inóculo para contaminação de outras lagartas em ciclos de infecção subsequentes. Múltiplos ciclos de infecção permitem que, em condições propícias, os baculovírus persistam na lavoura por longos períodos de tempo, continuando a
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Figura 3 - Porcentagem de retenção de estruturas reprodutivas na primeira e segunda posições de frutificação do algodoeiro – Manejo com inserção do baculovírus comparado com o manejo do produtor somente com inseticidas químicos. Fonte: AgBiTech (Dados da Bahia auditados pela SGS do Brasil)
Figura 4 - Média de incremento do número de estruturas reprodutivas do algodoeiro por metro linear dos talhões com inserção de baculovírus em relação aos talhões sem inserção do baculovírus = manejo do produtor). Fonte: AgBiTech (dados auditados pela SGS do Brasil)
matar lagartas por várias semanas, regulando a população da praga e mantendo-a em níveis sempre inferiores em relação a áreas não “viralizadas”. Em condições chuvosas, os baculovírus são ainda mais virulentos e se espalham mais eficientemente na lavoura. Os ciclos de infeção e a alta capacidade de dispersão destes vírus não só por chuva,
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vento e poeira, mas também por inúmeros artrópodes (incluindo moscas, percevejos, aranhas e outros), podem levar a uma redução expressiva da população da praga ao longo do período de cultivo e tornar mais efetivas aplicações subsequentes de inseticidas químicos, dentro de programas de manejo integrado de pragas.
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VARIAÇÕES DE PH
O pH alcalino pode inibir a atividade do baculovírus: pH superior a 8 pode aumentar a taxa de dissolução da matriz proteica protetora dos poliedros, resultando na inativação das partículas virais por radiação UV e, consequentemente, redução da persistência dos baculovírus no ambiente. Entretanto, inúmeros ensaios de eficácia a campo, nas últimas quatro safras, demonstram que o baculovírus SfMNPV tem excelente eficácia sobre lagartas pequenas de S. frugiperda, resultando em consistente redução de danos nas estruturas reprodutivas. Para melhor entender a dinâmica de ação do baculovírus SfMNPV no manejo de S. frugiperda no algodão, conduziram-se experimentos para mensurar o pH das várias partes da planta do algodoeiro. Verificou-se que o pH das folhas e das brácteas do algodoeiro é alcalino (> 8) e, portanto, detrimental ao baculovírus. Por outro lado, as flores e as maçãs têm pH < 8, portanto, não detrimental ao baculovírus (Figura 2). Os resultados deste trabalho per-
mitiram melhor compreender e explicar a eficiência do vírus de SfMNPV sobre S. frugiperda como protetor das estruturas reprodutivas. Nas flores e maçãs, o SfMNPV encontra as condições ideais para a sua persistência – ambiente mais protegido da luz solar e com pH mais próximo da neutralidade. Nestas condições, as partículas virais ficam protegidas nas flores, que depois se fecham e caem ao solo, onde o ambiente é ainda mais sombreado e protegido. Como foi o caso, em um dos ensaios realizados na região de Primavera do Leste, Mato Grosso. Na área onde se inseriu o baculovírus no programa de aplicações, houve melhor controle de S. frugiperda que na área tratada somente com inseticidas químicos, o que se refletiu em maior proteção das maçãs do algodoeiro. A alta eficiência do baculovírus SfMNPV sobre S. frugiperda deve-se ao comportamento da praga nesta cultura, com forte preferência pelas flores. A localização destas estruturas propicia condições favoráveis para a replicação e persistência de SfMNPV no ambiente.
cificidade do modo de ação e a eficiência no manejo da resistência a inseticidas químicos, oferecendo melhor proteção das estruturas reprodutivas da planta e, consequentemente, melhor rendimento. Observou-se, tanto nos trabalhos de laboratório como nos de campo, que o baculovírus SfMNPV funciona ainda como uma valiosa ferramenta de “proteção” dos inseticidas químicos, à semelhança dos fungicidas multissítios. Observou-se a regulação da população da S. frugiperda que se manteve consistentemente em níveis menos elevados nos talhões tratados com baculovírus, tornando mais eficientes as posteriores aplicações foliares de inseticidas químicos. A associação do baculovírus em programas de manejo integrado de pragas (MIP) contribui significativamente para manter a população de S. frugiperda abaixo do nível de dano econômico C durante todo o ciclo produtivo do algodoeiro. Geraldo Papa, Unesp - Ilha Solteira (SP) Germison V. Tomquelski, Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (MS) Janayne M. Resende, AgBiTech Brasil Lucia M. Vivian, Fundação MT Marco A. Tamai, Uneb - Barreiras (BA) Marcelo F. Lima, Agbitech
Na safra de 2018/2019 foram conduzidos 34 ensaios de eficácia a campo em grandes talhões (≥ 100ha) para avaliar a performance de SfMNPV no controle de S. frugiperda em comparação com o manejo do produtor (manejo só com inseticidas químicos). Estes experimentos foram conduzidos em propriedades de produção comercial de algodão nos estados da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Os resultados deste trabalho de cunho prático em grande escala e em condições reais de aplicação, confirmaram que SfMNPV efetivamente protege as estruturas reprodutivas do algodoeiro. Nos talhões com baculovírus inserido no manejo, obteve-se maior retenção das estruturas reprodutivas de primeira e de segunda posição, em relação aos talhões onde não se utilizou baculovírus, mas somente o controle químico convencional (Figura 3). A inclusão de baculovírus no programa de manejo resultou em incremento médio de 13,3 estruturas reprodutivas por metro linear em relação ao manejo do produtor (Figura 4).
Fotos Divulgação
BACULOVÍRUS COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA
ANÁLISE DO CUSTO/BENEFÍCIO
Neste trabalho conduzido em 34 propriedades nos estados da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, a inserção do baculovírus SfMNPV resultou em um investimento adicional de 21,7 dólares/ha em relação ao custo do manejo químico do produtor. No entanto, os talhões manejados com a inserção do baculovírus tiveram um incremento de produtividade estimado em 25,74 arrobas/ha em comparação à produtividade dos talhões onde foi feito somente o manejo químico convencional. Este resultado foi estimado levando em consideração a avaliação de mapeamento realizada na pré-colheita. Tomando por base de cálculo a cotação de novembro de 2019 (dólar a R$ 4,18 e arroba da pluma de algodão no Mato Grosso a 19,14 dólares), estima-se uma receita adicional de 196,7 dólares/ha. Descontado o investimento de 21,7 dólares/ha, estima-se um acréscimo potencial de 175 dólares/ha na receita do produtor – quando se inseriu o baculovírus no programa de manejo de S. frugiperda. A inserção do baculovírus SfMNPV em programas de manejo da S. frugiperda no algodoeiro apresenta como vantagens a espe-
Fase mais crítica do ataque vai da formação dos botões florais até ao aparecimento dos primeiros capulhos
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Cana
Comportamento diferenciado A importância de determinar como a cana-energia, cultivada para a produção de etanol de segunda geração (2G), reage à aplicação de herbicidas em relação a aspectos como fitotoxidade, altura e estande das plantas Fotos Venilton Bispo de Oliveira
A
cana-energia é o resultado de cruzamentos de híbridos comerciais de cana-de-açúcar com a espécie Saccharum spontaneum, dando origem a cultivares com maior perfilhamento e rusticidade, colmos mais finos, baixos teores de açúcares, elevados teores de fibras e potencial produtivo. Comercialmente, constitui a matéria-prima para fabricação de etanol de segunda geração (2G) ou cogeração de energia elétrica. O produto final (etanol ou energia elétrica) é fonte de energia renovável que contribui com a matriz energética nacional. Nesse sentido, os cultivos da cana-de-açúcar e da cana-energia no Brasil minimizam os problemas ambientais causados pelas fontes de energia não renováveis, geralmente oriundas do petróleo. Diante deste cenário, a cana-energia é uma das principais alternativas para o setor sucroenergético na geração de energia limpa com o uso da biomassa, por reduzir as emissões de CO2 durante seu ciclo de vida. A produção de cana-energia tem contribuído de forma crescente como mais uma opção de matéria-prima à geração de energia elétrica e à produção de etanol. No mercado, há poucas opções de cultivares de cana-energia, sendo a Vertix Tipo 1 e a Vertix Tipo 2 os primeiros materiais disponíveis. Segundo a Granbio (2018), esses materiais apresentam produtividade de 1,5 a 2 vezes maior que a cana-de-açúcar. Com isso, enquanto um canavial cultivado com cana-de-açúcar tem potencial de produtividade de 100t/ha, a cana-energia tem potencial entre 150t/ha e 200t/ha. Além da produtividade, há outras características a serem consideradas, como maior produção de fibras nos colmos. Os materiais de cana-energia produzem até 25% do peso dos colmos em fibra contra 15% da cana-de-açúcar. Ainda apresentam maior resistência a doenças, maior longevidade de soqueiras (oito anos a dez anos) e se adaptam em ambientes de produção menos favoráveis aos cultivos (ambientes restritivos). Mesmo sendo cultivadas em ambientes edafoclimáticos restritos à produção agrícola (denominados D e E, segundo Prado, 2018) os materiais de cana-energia
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Ana Rosália Calixto da Silva Chaves
Planta de cana-energia. Pesquisa em desenvolvimento no Centro de Cana IAC, Ribeirão Preto, SP
recebem os mesmos manejos aplicados em cana-de-açúcar convencional. No que tange ao controle de plantas daninhas, a diversidade da flora é diversificada porque ambientes desfavoráveis (restritivos) não receberam manejos que pudessem minimizar o banco de sementes no solo ao longo dos anos. Com isso, a convivência, cultura e plantas daninhas é intensa e ao se aplicar manejo químico com herbicidas, as moléculas podem ter sua dinâmica dificultada no solo (por ser desfavorável à agricultura), resultando em inadequada seletividade à cultura e controle deficitário. Reforça-se que a convivência entre plantas daninhas e cana-de-açúcar pode resultar em redução de produtividade de até 85% (Graciano & Ramalho, 1985). No Brasil, observações em campo (visual) constataram que as cultivares de cana-energia são sensíveis aos herbicidas, quando aplicados da mesma forma que em cana-de-açúcar convencional, mas são necessários estudos técnico-científicos para comprovar tal informação. A seletividade é um pré-requisito para o uso de herbicidas, ou seja, é fundamental para o sucesso do controle químico de plantas daninhas. Seletividade pode ser definida como a capacidade de um herbicida em controlar plantas daninhas sem afetar as plantas de interesse, ou seja, sem reduzir a produtividade da cultura, neste caso a cana-energia. As cultivares podem ser consideradas suscetíveis ou tolerantes a uma mesma molécula herbicida, sendo as suscetíveis propensas a serem intoxicadas pelos herbicidas e as tolerantes aquelas menos
prejudicadas pelos produtos. No entanto, também é possível que os herbicidas impactem negativamente a produtividade da cultura sem que, necessariamente, apresentem sintomas visualmente detectáveis (“fito oculta”), da mesma forma que outros produtos podem provocar severas injúrias sem que ocorra impacto significativo na produtividade. Por isso, em experimentos com seletividade de herbicidas recomenda-se avaliar tanto os parâmetros fitotécnicos quanto alterações fisiológicas da planta. Assim, como na cana-de-açúcar convencional, a cana-energia necessita de estudos que comprovem a sensibilidade ou não dessas plantas aos herbicidas. Na questão da seletividade, em ensaios realizados nos últimos anos, no Centro de Cana IAC, em Ribeirão Preto, São Paulo, a cultivar Vertix 2 e um clone de cana-energia apresentaram sintomas de intoxicação leves quando comparados à testemunha. Os valores atribuídos foram muito próximos a zero porque os sintomas eram pouco visíveis. Aos sintomas, atribuíram-se notas no máximo de 11%, numa escala que tem valor máximo de 100% (morte da planta), conforme observa-se na Figura 2. No campo, os sintomas são pouco pronunciados e praticamente imperceptíveis, particularmente em plantas com 60 dias após a aplicação (DAA). Certamente, os produtores denominariam de “fito zero” (Figura 2). Coincidentemente, os poucos sintomas constatados eram de branqueamento do limbo foliar, típico do mecanismo de ação do isoxaflutole (inibidor de carotenoides) que facilmente é confundido com os sin-
tomas da escaldadura das folhas (Figura 1). Na maioria das vezes, os sintomas visuais evoluem no máximo até 90 DAA e sem comprometer outras variáveis fitotécnicas, a exemplo da altura e do estande das plantas (Figura 2). Mas, se a cultivar de cana-de-açúcar ou cana-energia for suscetível aos herbicidas, certamente serão constatados também prejuízos fitotécnicos. A cultivar e o clone tratados com imazapic + isoxaflutole tiveram a altura reduzida em relação à testemunha (Figura 2), embora os sintomas visuais de intoxicação tenham sido leves (nota de 11%). Também se observou que o clone foi mais suscetível que a cultivar Vertix 2 porque a diferença entre a altura das plantas no tratamento herbicida e a testemunha foi maior para o clone (Figura 2). Outro prejuízo causado pelos herbicidas foi sobre o estande de plantas (Figura 2), mesmo com os sintomas de intoxicação sendo quase imperceptíveis visualmente (Figura 1). A cana-energia apresenta elevado perfilhamento e em pesquisas de campo normalmente observa-se aproximadamente 100 perfilhos para cada metro de sulco, contra 15 a 18 para cana-de-açúcar convencional. O tratamento herbicida reduziu o estande de colmos (entre dez e 20) em comparação à testemunha, aos 120 DAA (Figura 2). Como a cultivar e o clone de cana-energia tiveram a altura e o estande de plantas reduzidos pelo tratamento herbicida, mesmo com sintomas de intoxicação leve (não superiores a 11%), pode-se estimar que ambos os materiais são suscetíveis aos herbicidas. Entretanto, essa afirmação somente poderá ser confirmada assim que a pesquisa for finalizada e a produtivi-
Figura 1 - Planta de cana-energia, cultivar Vertix 2. Pesquisa em desenvolvimento no Centro de Cana IAC, Ribeirão Preto, SP
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Figura 2 - Sintomas de intoxicação (60 DAA), altura de plantas (60 DAA) e estande de plantas (120 DAA) de cana-energia. Pesquisa em desenvolvimento no Centro de Cana IAC, Ribeirão Preto, SP
dade obtida. Mas, até o momento a observação de campo de que a cana-energia é suscetível aos herbicidas parece ser verdadeira, ao observar os dados de altura e estande obtidos na terça parte do ciclo da cultura (primeiros quatro meses) (Figura 2). No campo, haverá a presença das plantas daninhas, diferentemente do experimento que foi mantido por capinas, pois almejava-se avaliar apenas o efeito do herbicida sobre a cultura. No cultivo comercial, possivelmente em áreas de pouca afinidade agrícola, os herbicidas terão a dinâmica no solo desfavorecida. Muitas moléculas poderão com maior facilidade se ionizar e/ ou movimentar-se na camada arável do solo. Com isso, haverá baixa eficácia no controle das plantas daninhas, o que induzirá o produtor a mais aplicações de herbicidas. Por consequência, os materiais que já apresentam suscetibilidade aos herbicidas, poderão se intoxicar ainda mais. É importante que o produtor, ao cultivar a cana-energia, seja cauteloso no uso de herbicidas, preferencialmente aplicando-os 20
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antes do plantio da cultura para minimizar o banco de sementes. Por consequência, a intensidade de infestação por plantas daninhas após o plantio será menor. Possivelmente, ao usar essa técnica, uma única aplicação de herbicida em cada ciclo da cana-energia (que pode ter entre oito e dez anos de longevidade) poderá ser suficiente para conter as plantas invasoras. Maior sucesso no controle das plantas daninhas poderá ser obtido se o produtor aplicar os herbicidas considerando a flora daninha observada, respeitar a físico-química das moléculas herbicidas de acordo com a época da aplicação (estação das chuvas ou seca) e a dose recomendada pelo fabricante de acordo com o tipo de solo. O que deve ser evitado é aplicar herbicidas de média e alta solubilidade em água em período muito chuvoso e herbicidas com capacidade de serem fotodegradados e volatilizados em períodos de estiagem. Moléculas com tais características, expostas às condições de luz e temperatura, se dissiparão pelo ambiente antes mesmo de terem a dinâmica no solo iniciada. Em outras pesquisas também desenvolvidas pela equipe de matologia do Centro de Cana IAC foi observado que a cana-energia expressou o estresse aos herbicidas de forma diferente da cana-de-açúcar. Em ambas as culturas foram observados sintomas de intoxicação, redução de altura e estande, mas a cana-energia estressada por herbicidas floresceu mais rápido. Em dois experimentos, em condição de cana-planta, a cana-energia de todos os tratamentos herbicidas floresceu primeiro que a cana-energia do tratamento testemunha. As plantas dos tratamentos emitiram a panícula até 30 dias mais cedo que as plantas da testemunha. Esse não é um comportamento típico de ocorrer em cana-de-açúcar. O florescimento na cana-de-açúcar é negativo em sistemas de produção porque “drena” a sacarose para a formação e emissão da panícula, o que deixa os colmos com maior teor de fibra. Certamente, o consumo da sacarose e o aumento no teor de fibra também sejam similares na cana-energia, mas essas características no colmo da cana-energia possam ser menos prejudiciais que na cana-de-açúcar. A cana-energia é matéria-prima para a produção do etanol 2G, que é obtido a partir de enzimas específicas, que ao utilizar-se da celulose dos colmos como substrato, produz etanol. Se os colmos apresentarem mais fibras, talvez o prejuízo industrial não seja muito expressivo. Há muito o que se conhecer sobre a fisiologia da cana-energia, particularmente sobre os efeitos dos herbicidas no seu desenvolvimento. Em breve as pesquisas realizadas no Centro de Cana IAC serão finalizadas e outros resultados serão compartilhados. C
Venilton Bispo de Oliveira, João Eduardo Brandão Boneti, Lucas Carvalho Cirilo, Ana Rosália Calixto da Silva Chaves, Andrea de Pádua Mathias Azania, Samira Domingues Carlin e Carlos Alberto Mathias Azania, Centro Avançado de Pesquisa de Cana/IAC
Soja
Viajante do mal Como modelos numéricos podem auxiliar a quantificar a movimentação de esporos do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem-asiática, entre as regiões produtoras de soja. Resultados possibilitam estabelecer o início de epidemias e explicar a mobilidade de populações resistentes a fungicidas
Marcelo Madalosso/ Phytus Club
O
fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem-asiática da soja, é protagonista nas lavouras de soja do Brasil há alguns anos. A cada nova safra, produtores e pesquisadores não medem esforços para “lutar” contra esse visitante indesejado. Mas afinal, qual o peso das variá-
veis agrometeorológicas na epidemia? Qual o peso do inóculo vindo da soja voluntária? Qual o peso do inóculo vindo de regiões vizinhas? A resposta pode estar em modelos matemáticos. Os modelos são um conjunto de expressões que tem como objetivo representar a realidade em números. Previsão do
tempo, aterrissagem e decolagem de aviões, entre outros, são modelos matemáticos que traduzem a realidade. É de conhecimento público que os esporos são principalmente disseminados pelo vento e podem percorrer longas distâncias (Isard et al, 2005) e a dispersão é o fator-chave
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Figura 1 - Direção e velocidade do vento em frente fria no dia 25 de outubro de 2018
Phytus Group
Esporos do fungo se disseminam pelo vento e podem percorrer longas distâncias A determinação do potencial produtivo da soja depende de diversos fatores
sistentes aos fungicidas.
DESENVOLVIMENTO DOS MODELOS DE SIMULAÇÃO
Para simular o transporte de urediniósporos de P. pachyrhizi foram adotados modelos de dinâmica de fluidos. Parâmetros como tamanho e formato dos esporos, direção e velocidade dos ventos, entre outros, foram utilizados nos modelos. Como exemplo, geralmente a direção do vento no estado do Paraná ocorre de Leste para Oeste. Contudo, quando há a ocorrência de frente fria, a direção
Juliana Leite
para o desenvolvimento da doença ao nível epidêmico. Da mesma forma, os esporos podem também ser transportados por longas distâncias dentro da América do Sul, não por furacões, mas por frentes frias. Nesse contexto, o objetivo do estudo foi desenvolver modelos numéricos que quantificam a movimentação de esporos de P. pachyrhizi entre regiões produtoras de soja. Fator importante para estabelecer o início de epidemias e também para explicar a mobilidade de populações de P. pachyrhizi re-
predominante dos ventos ocorre de Oeste para Leste (Figura 1). Essa mudança na direção, somada ao aumento da velocidade, que pode ultrapassar 100km/h, permite que esporos de fungos sejam disseminados a longas distâncias. A direção e a velocidade do vento na América do Sul foram exploradas no período entre outubro de 2018 e novembro de 2019. As informações estão disponíveis em http:// tempo.cptec.inpe.br/boletimtecnico/pt, fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dados sobre o patógeno foram consultadas na literatura. A validação, isto é, a confirmação de que o modelo matemático condiz com a realidade, foi realizada através do levantamento do número de casos de ocorrência de ferrugem-asiática no estado do Paraná informados pelo portal do Consórcio Antiferrugem (disponível em http:// www.consorcioantiferrugem.net/).
RESULTADOS
Fungo Phakopsora pachyrhizi é um velho conhecido nas lavouras de soja
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A presença de áreas de soja com semeadura antecipada, neste caso em países vizinhos, foi considerada como fonte de inóculo inicial (Figura 2A). O inóculo foi representado como frequência, variando de 0% a 100%. No período de outubro a
Figura 2 - Disseminação de urediniósporos de Phakopsora pachyrhizi no estado do Paraná em função de frentes frias ocorridas em 25 e 27 de outubro (B e C), e 1° e 11 de novembro (D e E) de 2018
dezembro de 2018, quatro frentes frias incidiram no estado do Paraná. As frentes frias ocorreram em 25 e 27 de outubro (Figuras 2B e 2C), 1° e 11 de novembro (Figuras 2D e 2E). A direção e a velocidade do vento em cada frente fria variaram. A primeira frente fria (25 de outubro) transportou esporos nas regiões de Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Medianeira e Toledo (Figura 2B). Dois dias após, a segunda frente fria avançou a dispersão para a região de Cascavel. Cerca de nove dias após a segunda frente fria, o primeiro caso de ferrugem-asiática da soja foi observado na cidade de Ubiratã. Na sequência, casos da doença foram observados na região de disseminação do patógeno aos dez dias e 12 dias após a segunda frente fria. Braga et al (2020) observaram período latente, tempo entre a deposição dos esporos nas folhas e início da reprodução através da produção de esporos para populações coletadas entre Foz do Iguaçu e Campo Mourão na safra 2017/18, entre nove e 13 dias. As demais frentes frias foram responsáveis pela disseminação do fungo para a região central do Paraná, nas regiões de Maringá e Londrina. Os resultados apresentados pelos modelos matemáticos sugerem que os fungos podem ser transportados para o Paraná de regiões vizinhas, com soja semeada antecipadamente, via frentes frias, e que esses esporos transportados ainda permanecem viáveis para infecção. Os modelos podem ser úteis para prever transporte de esporos de outras regiões por meio de frentes frias. Comprovando-se sua eficácia, podem evoluir para um sistema de previsão da chegada de esporos. Estes modelos matemáticos também podem ser usados em estudos para entender como se dá a disseminação de esporos resistentes aos fungicidas. Normalmente a resistência aos fungicidas é selecionada em uma determinada região. Os modelos numéricos têm a capacidade de auxiliar a entender em qual velocidade e tempo estes mutantes C podem chegar em outras regiões. Lucas Henrique Fantin, Eduardo Oliveira Belinelli, Karla Braga, Paulo Laerte Natti e Marcelo Giovanetti Canteri, Universidade Estadual de Londrina
Fantin, Belinelli, Karla, Natti e Canteri destacam a importância de quantificar a movimentação dos esporos
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Soja Phytus Group
Eficiência detalhada Nematicidas químicos e biológicos integram as principais estratégias de manejo contra fitonematoides na cultura da soja. Ambos possuem especificidades de ação e seu uso precisa considerar fatores como a correta identificação e a quantificação da espécie presente na área
A
utilização de nematicidas químicos ou biológicos na cultura da soja é uma das principais estratégias empregadas pelos produtores no manejo frente aos fitonematoides. Nematicidas, de maneira geral, têm o papel de proteger o desenvolvimento do sistema radicular em suas fases iniciais, para garantir sua boa formação, e ainda interferir no ciclo biológico desses micro-organismos, regulando sua densidade populacional no ambiente. Embora sejam crescentes os relatos de áreas afetadas por
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fitonematoides em diversos cultivos e regiões, tecnologias têm sido desenvolvidas nos últimos anos buscando auxiliar a convivência com esses micro-organismos, devido à impossibilidade de erradicação. No tocante a isso, o manejo acaba se tornando uma tarefa um pouco complexa, devido às inúmeras espécies já identificadas, capazes de interferir diretamente no funcionamento fisiológico da planta, refletindo diretamente em perdas de produtividade. Nos últimos anos, os fitonematoides têm sido um dos
Gráfico 1 - Incrementos médios de produtividade, comparando parcelas com o uso de nematicidas químicos, versus testemunha sem o uso de nematicidas em diferentes anos agrícolas (Dados internos Instituto Phytus)
principais grupos capazes de limitar a produção de alimentos, conduzindo o ritmo de cultivo em algumas regiões produtoras do Brasil. As principais espécies associadas na diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis). Além dessas espécies, tem aumentado a ocorrência de nematoides emergentes, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus, Tubixaba tuxaua e Aphelenchoides besseyi. Isso em parte se dá ao modelo de sistema de produção altamente intensivo, bem como produtivo, ligado às condições propícias para o aumento desses micro-organismos de solo. Tecnologias para o manejo têm sido desenvolvidas anualmente, como é o caso de nematicidas. Tecnologias de fácil uso têm permitido o cultivo em áreas infestadas, com o objetivo de reduzir as perdas de produtividade, com incrementos produtivos, que podem variar na média de dois sacos por hectare a cinco sacos por hectare (Gráficos 1 e 2). Atualmente, as principais formas de aplicação são via tratamento de sementes e sulco de semeadura. São tecnologias similares com o mesmo
Gráfico 2 - Valores médios de produtividade, comparando parcelas com o uso de nematicidas biológicos, versus testemunha sem o uso de nematicidas em diferentes anos agrícolas (Dados internos Instituto Phytus)
objetivo comum, proteger as plântulas contra os fitonematoides. O tratamento de sementes com produtos químicos e/ou biológicos tem por objetivo carregar substâncias capazes de inibir e/ou reduzir o ataque desses micro-organismos de solo, principalmente em seus primeiros estádios de desenvolvimento (estádio preferencial para
infecção dos fitonematoides e de maior vulnerabilidade das plântulas ao ataque, ou seja, fase onde o dano é sempre maior e irreversível), reduzindo os danos e garantindo a formação de uma plântula capaz de se desenvolver e produzir (Figura 1). A outra forma de utilização dos nematicidas é através da aplicação direta no sulco de semeadura. Essa modalidade de apli-
Figura 1 - Raiz de uma planta de soja, infectada por fitonematoide em pleno desenvolvimento vegetativo
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Figura 2 - Sistema radicular de uma planta de soja em desenvolvimento
cação é capaz de direcionar os produtos próximos às sementes, para criar uma zona protetora para o desenvolvimento inicial das plântulas. Os nematicidas químicos apresentam diversos mecanismos de ação, podendo atuar diretamente no sistema nervoso, na síntese de proteínas e em processos ligados à respiração dos fitonematoides. Em suma, tais eventos interferem diretamente nos processos de infecção, reprodução e sobrevivência desses micro-organismos. Ao entrarem em contato com os fitonematoides em suas fases infectivas, essas substâncias irão interferir diretamente nos processos mencionados anteriormente, com maior ênfase no processo de infecção das raízes, promovendo uma proteção em seu estádio de maior vulnerabilidade para as plântulas. Outro ponto importante dessa tecnologia é o retardo, e até a inibição da eclosão dos ovos dos fitonematoides, que ficam presentes no solo de uma safra para outra. No Brasil, atualmente existem aproximadamente dez produtos registrados para o manejo desses micro-organismos, 26
sendo a base dessa tecnologia composta de produtos não fumigantes, pertencentes aos grupos químicos organofosforado, metilcarbamato, avermectina, fluoroalquenil sulfona heterocíclica, benzimidazol + fenilpiridinilamina, benzamida piramida. Estes nematicidas possuem uma persistência reduzida no ambiente, como moléculas tóxicas, quando comparados aos primeiros nematicidas lançados para o manejo de fitonematoides, onde a base era composta de produtos fumigantes de alta toxicidade para o ambiente. Os nematicidas à base de micro-organismos (nematicidas biológicos - AGB) têm crescido exponencialmente nos últimos anos. Essa tecnologia tem por objetivo a utilização de micro-organismos benéficos (inimigos naturais) para regular as atividades e populações dos fitonematoides. Os principais grupos de inimigos naturais com formulações de nematicidas para o uso no manejo dos fitonema-
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toides são compostos em sua maioria por fungos e bactérias. Atualmente, existem mais de 20 nematicidas biológicos registrados para o manejo dos fitonematoides. Esses produtos podem ser aplicados via tratamento de sementes ou sulco de semeadura. Entretanto, os mecanismos de ação entre bactérias e fungos são distintos. Os de origem fúngica, sobre condições favoráveis do ambiente, atuam parasitando ou predando ovos, juvenis e adultos presentes no solo. As bactérias atuam colonizando todo o sistema radicular (criando um biofilme protetor) alimentando-se dos exsudatos radiculares (Substâncias utilizadas pelos fitonematoides, para descobrir a localização das raízes), confundindo os nematoides sobre a localização real da raiz, contribuindo para o gasto energético, exaurindo assim todas suas reservas. Outro mecanismo envolvido em ambos os agentes de biocontrole (bactérias e fungos) é o de antibiose (Liberação de substâncias, capazes de interferir diretamente na infecção, desenvolvimento e reprodução dos fitonematoides). As principais toxinas/enzimas excretadas são proteases, quitinases e lipases. Essas toxinas podem atuar em diferentes fases do ciclo biológico dos fitonematoides, desde o ovo até a fase de interação nematoides-planta. Esses agentes antagonistas ainda possuem potencial de compor a fração biótica do solo, aumentando assim a competição no solo, podendo tornar o ambien-
Santos aborda o papel de nematicidas químicos e biológicos
Figuras 3 e 4 - Lavoura de soja infestada por M. javanica safra 2014/15, cultivar TEC 6029 IPRO (esquerda), e ano seguinte cultivar SYN VTOP RR associada a nematicidas, safra 2015/16 (Dados internos Instituto Phytus)
te mais supressivo e equilibrado. Além dessas características, os nematicidas podem ainda auxiliar no desenvolvimento do sistema radicular, acelerando o seu crescimento, deixando o sistema radicular por menos tempo exposto à câmara de maior infestação dos fitonematoides (Figura 2). Cabe salientar que áreas que possuem problemas com fitonematoides não podem apresentar qualquer impedimento para o crescimento livre das raízes, sejam de ordem física ou química, caso contrário, as raízes ficarão confinadas à zona de maior concentração dos fitonematoides. O cuidado para com esses produtos químicos e biológicos é a sua utilização de maneira isolada. O ajuste dessas ferramentas com uma variedade de soja resistente/tolerante, atrelado a um sistema de rotação, é praticamente vital para o sucesso de um programa de manejo de médio a longo prazo. Um exemplo prático disso é quando o produtor faz o diagnóstico da espécie de nematoide presente na sua lavoura, em função dos sintomas observados (geralmente reboleiras), o simples fato de não repetir a mesma variedade em que observou o problema já é um passo importante, pois essa troca de variedade trará à população de fitonematoides um novo cenário quanto à demanda por alimento, principalmente se a cultivar escolhida apresentar características de resistência/tolerância à espécie envolvida (Figuras 3 e 4). Portanto, é importante salientar que essas ferramentas de manejo possuem mecanismos de ação diferentes, com o objetivo principal de evitar a alimentação e a reprodução dos fitonematoides, quebrando desse modo o seu ciclo de vida. Essas ações irão dificultar ou impedir o crescimento populacional no solo, de forma a permitir o cultivo econômico nessas áreas. Apesar dos inúmeros benefícios atrelados a essas tecnologias, nenhuma delas, quando usadas isoladamente, trará uma resposta maior de controle que as utilizadas de maneira conjunta. Cabe ainda ressaltar que os produtores precisam realizar o trabalho de base, que começa pela identificação e quantificação correta das espécies presentes na área, pois os nematicidas, tanto quí-
micos quanto biológicos, apresentam certa especificidade e seu uso deve estar atrelado à identificação da espécie C presente na área. Paulo Santos, Phytus Group
Figura 7 - Teores de clorofila (mg.kg-1) nas amostras de grãos de soja das diferentes microrregiões dos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
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Soja
André Shimohiro
Desafio agravado Maior potencial de inóculo na área por conta de doença remanescente da safra e curva de progresso mais acentuada estão entre os fatores que ajudam a explicar o aumento da ameaça da ferrugemasiática na safrinha. A maior dificuldade de controle da enfermidade deve ser contornada com medidas integradas que ajudem a potencializar o manejo e proteger os ingredientes ativos de novas evoluções de resistência
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Figura 1 - Escala diagramática para a avaliação de severidade da ferrugem-asiática da soja (Godoy et al, 2006)
Figura 2 - Severidade (%) de ferrugem-asiática da soja em seis avaliações na Testemunha do experimento conduzido na safra 2018/19 (semeadura em 21/11/2018) e na safrinha 2019 (semeadura em 2/2/2019). Maracaju, MS, 2019
A
ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd., é uma das doenças mais severas que incide na cultura da soja, com danos variando de 10% a 90% nas diversas regiões geográficas onde foi relatada (Sinclair e Hartman, 1999; Yorinori et al, 2005). As primeiras epidemias severas de ferrugem-asiática na América do Sul foram relatadas no Paraguai, na safra 2000/01, e no Brasil, na safra 2001/02, nas regiões Sul do estado de Goiás, no Mato Grosso, Norte do Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul. (Yorinori et al, 2005). As condições climáticas exercem fundamental importância nas epidemias da doença. O molhamento foliar contínuo, promovido por orvalho ou pela chuva, sob condições ótimas de temperatura (18°C - 26,5°C) favorece o rápido desenvolvimento da doença (Melching et al, 1989; Alves et al, 2006), sendo a precipitação o fator mais importante no progresso da doença nas condições de campo (Tschanz, 1984; Del Ponte et al, 2006). Diante da grande importância do patógeno em todas as regiões sojícolas do Brasil, é fundamental conhecer as principais ferramentas de controle da doença. Na safra 2018/19 e na safrinha 2019 foram conduzidos trabalhos similares com o objetivo de elucidar o desenvolvimento da ferrugem-asiática nas plantas de soja, bem como o nível de controle conferido por diferentes fungicidas sítio-específicos nas duas situações. O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Fundação MS, em Maracaju, Mato Grosso do Sul, com delineamento em blocos casualizados, com 24 tratamentos e cinco repetições. Cada parcela foi constituída de sete linhas de dez metros de comprimento (35m2). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e a média dos tratamentos comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. As informações de coordenada geográfica, cultivar utilizada, época de semeadura de cada experimento, cultura anterior, espaçamento entre linhas e data de colheita podem ser observadas na Tabela 1. As informações dos fungicidas utilizados, dosagem dos produtos e ingrediente ativo podem ser conferidas na Tabela 2. Os produtos foram aplicados quando a soja atingiu o estádio fenológico R1, R1+15, R1+30 e R1+45, perfazendo um total de quatro aplicações. Os tratamentos foram aplicados através de um pulverizador de pressão constante a base de CO2, com uma barra com seis bicos espaçados de 0,5m entre cada bico. Foram utilizados bico tipo leque duplo TJ 06 11002 e volume de calda de 160L/ha. As informações de
Tabela 1 - Informações da área experimental de dois experimentos, um conduzido na safra 2018/19 e outro na safrinha 2019. Maracaju, MS, 2019 Informação Município Coordenada Geográfica Cultivar Época de Semeadura (dd/mm/aaaa) Cultura Anterior Espaçamento Entre Linhas Data de Colheita (dd/mm/aaaa)
Safra 2018/19 Maracaju, MS 21°38’23.28’’S; 55°06’19.39’’O M-6410 IPRO 21/11/2018 Aveia 50 cm 23/03/2019
Safrinha 2019 Maracaju, MS 21°38’23.28’’S; 55°06’19.39’’O M-6410 IPRO 02/02/2019* Soja 50 cm 12/05/2019
*O Estado de Mato Grosso do Sul segue o calendário de semeadura da cultura da soja de 16/9 a 31/12, de acordo com a Lei Estadual nº 5.025/2017. Para a execução deste ensaio, a Fundação MS obteve autorização da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), através do Ofício n. 170/DDSV/GAB/Iagro.
Tabela 2 - Tratamento e dosagem (ml/ha) dos produtos utilizados nos experimentos. Maracaju, MS, 2019 N. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
TRATAMENTO Testemunha Picoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe Picoxistrobina + Tebuconazol Piraclostrobina + Epoxiconazol + Fuxapiroxade Piraclostrobina + Fluxapiroxade Trifloxistrobina + Protioconazol Trifloxistrobina + Protioconazol + Bixafem Trifloxistrobina + Ciproconazol Picoxistrobina + Ciproconazol Picoxistrobina + Benzovindiflupir Cresoxim-Metílico + Tebuconazol + Carbendazim Metaminostrobina + Tebuconazol Difenoconazol + Ciproconazol Azoxistrobina + Benzovindiflupir Azoxistrobina + Mancozebe Azoxistrobina + Ciproconazol + Mancozebe Azoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe Tebuconazole + Clorotalonil
Dosagem (mL p.c. ha) --2250 500 800 300 400 500 200 300 600 1000 580 300 200 2000 2000 2000 2500
*Os tratamentos 2 e 3 foram associados ao adjuvante Rumba nas dosagens de 250ml e 500ml por hectare, respectivamente. Os tratamentos 4 e 5 foram associados ao adjuvante Assist na dosagem de 500ml/ha. Os tratamentos 6, 7 e 8 foram associados ao adjuvante Aureo na dosagem de 200ml/ha, enquanto os tratamentos 15, 16 e 17 foram associados ao mesmo adjuvante, mas na dosagem de 0,25% v/v. Os tratamentos 9, 11, 12, 13 e 14 foram associados ao adjuvante Nimbus na dosagem de 600ml/ha. O tratamento 18 foi associado ao adjuvante Agril Super na dosagem de 50ml/ha.
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Tabela 3 - Data, estádio fenológico das plantas, horário e condições meteorológicas no momento das aplicações nos dois ensaios realizados. Maracaju, MS, 2019 Data
Estádio
Hora
03/01/2019 18/01/2019 04/02/2019 22/02/2019
R1 R3 R5.2 R5.4
08h27min 09h23min 07h40min 06h57min
13/03/2019 28/03/2019 12/04/2019 27/04/2019
R1 R4 R5.4 R6
08h27min 09h38min 09h45min 08h53min
Temperatura (°C) Umidade Relativa do Ar (%) Ensaio Conduzido na Safra 2018/19 29,4 61,4 27,5 63,3 28,0 68,4 26,8 70,3 Ensaio Conduzido na Safrinha 2019 27,3 71,3 28,1 67,5 26,9 69,2 28,5 70,5
Velocidade do Vento (m s ) -1
0,9 1,5 1,1 1,4 1,3 2,0 1,8 1,9
Tabela 4 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), eficiência de controle (%) e rendimento de grãos (RG) (sc/ha) e massa de 100 grãos (g) de plantas de soja tratadas com diferentes fungicidas para controle de ferrugem-asiática. Maracaju, MS, 2019 N. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 -
Tratamento Testemunha Picoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe Picoxistrobina + Tebuconazol Piraclostrobina + Epoxiconazol + Fuxapiroxade Piraclostrobina + Fluxapiroxade Trifloxistrobina + Protioconazol Trifloxistrobina + Protioconazol + Bixafem Trifloxistrobina + Ciproconazol Picoxistrobina + Ciproconazol Picoxistrobina + Benzovindiflupir Cresoxim-Metílico + Tebuconazol + Carbendazim Metaminostrobina + Tebuconazol Difenoconazol + Ciproconazol Azoxistrobina + Benzovindiflupir Azoxistrobina + Mancozebe Azoxistrobina + Ciproconazol + Mancozebe Azoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe Tebuconazole + Clorotalonil Teste F CV (%)
Safra 2018/19 AACPD RG (sc ha-1) M100G (g) 49,9 A 15,1 A 2259,8 A 56,4 A 15,4 B 863,2 E 53,3 A 15,1 B 1143,4 D 52,0 A 16,6 A 756,2 E 55,1 A 16,1 A 883,6 E 50,5 A 15,3 B 1474,5 C 53,4 A 16,4 A 1187,3 D 49,2 A 15,2 B 1359,7 C 53,3 A 15,0 B 1233,7 C 52,7 A 15,0 B 816,6 E 51,9 A 15,3 B 1901,1 B 51,5 A 15,8 A 1169,8 D 46,4 A 15,8 A 1584,8 C 52,1 A 15,8 A 982,9 D 50,4 A 15,6 B 1254,3 C 52,6 A 16,6 A 1006,2 D 57,2 A 16,5 A 950,4 D 52,0 A 16,4 A 1088,8 D 1,73ns 4,83** 113,91** 8,33 3,97 8,49
Safra 2019 AACPD RG (sc ha-1) M100G (g) 15,1 D 10,1 A 4115,3 A 34,9 A 10,7 A 2699,7 D 33,8 A 10,6 A 2799,7 D 37,1 A 10,9 A 2502,0 D 29,2 B 10,5 A 3014,3 C 20,3 C 10,2 A 3290,6 C 35,3 A 10,7 A 2715,2 D 25,7 C 10,4 A 3097,5 C 32,0 B 10,5 A 2942,4 C 30,6 B 10,6 A 2999,8 C 15,7 D 10,3 A 3603,0 B 31,7 B 10,6 A 2886,0 D 21,2 C 10,3 A 3279,3 C 28,5 B 10,5 A 3022,2 C 23,3 C 10,1 A 3125,8 C 30,1 B 10,5 A 3007,5 C 32,5 B 10,6 A 2889,2 D 31,4 B 10,6 A 2927,7 C 2,98ns 166,91** 56,91** 13,85 11,09 17,39
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. nsnão significativo; * e ** significativo a 5% e 1%, respectivamente.
data, estádio fenológico das plantas, bem como as condições ambientais no momento das aplicações podem ser observadas na Tabela 3. É importante ressaltar que não é recomendada a aplicação sequencial do mesmo fungicida no controle do patógeno estudado. Este trabalho tem por objetivo única e exclusivamente elucidar a eficiência de controle de cada fungicida para o alvo, em diferentes épocas de semeadura. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e adequando os programas às épocas de semeadura. Aplicações sequenciais, e de forma curativa, devem ser evitadas para diminuir a pressão de seleção de resistência dos fungos aos fungicidas. 30
Foram realizadas seis avaliações de severidade de doença, antes de cada aplicação, e aos dez dias e 21 dias após a quarta aplicação dos tratamentos. As avaliações foram baseadas nas escalas diagramáticas propostas por Godoy et al (2006) para ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) (Figura 1). Foram avaliadas dez plantas por parcela. Em cada planta foram retirados dois folíolos e a média da parcela foi considerada a média dos 20 folíolos avaliados. A severidade da doença resulta do tamanho e número de lesões, sendo que estes dois componentes podem atuar de formas independentes durante o progresso da doença (Kranz 1988; Boff et al, 1991). Além disso, a melhor
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representação de uma epidemia é a curva de progresso da doença, geralmente expressa plotando-se a proporção de doença em função do tempo (Paula e Oliveira 2003). Desta forma, os dados de severidade foram utilizados para o cálculo da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) baseado no modelo proposto por Campbell e Madden (1990). Com base nos dados obtidos da severidade de doença na área experimental, foi calculada a eficiência de controle de cada tratamento segundo método proposto por Abbott (1925). As avaliações de produtividade foram realizadas com a colheita das três linhas centrais de cada parcela de dez metros de comprimento, com o auxílio de uma colhedora de parcelas. A umidade dos grãos foi corrigida para 13% pela fórmula: Rendimento =
10 x (100 - US) x PP (100 - 13) x AC
O Rendimento é expresso em toneladas por hectare, US é a umidade da semente em %, PP é o peso colhido na parcela em quilos, e AC é a área colhida da parcela em m2. No momento da quantificação do rendimento de grãos, avaliou-se a massa de 100 grãos de cada. O primeiro resultado importante e que fornece base para algumas inferências é a evolução da severidade da doença na Testemunha sem tratamento (Figura 2). Os dados obtidos indicam claramente que a cultura da soja semeada na safrinha apresenta os primeiros sinais de ferrugem-asiática de forma antecipada. Nos trabalhos executados, a primeira aplicação de fungicidas ocorreu em R1. No ensaio conduzido na safra 2018/19, a aplicação se deu de forma preventiva, conforme a recomendação de uso destes fungicidas, e os primeiros sinais do patógeno foram observados em R5.4. No ensaio conduzido na safrinha 2019, já em R1 foram observados os primeiros sinais do patógeno na área experimental, de forma que a primeira aplicação ocorreu com a presença da doença. Esse panorama indica que em cultivos de soja tardios e de safrinha, a estratégia de controle da doença deve considerar
a antecipação da primeira aplicação, o que poderá levar ao aumento do número de pulverizações de fungicidas. Outro aspecto facilmente observado é a quantidade de doença, que foi superior nas plantas de soja semeada na safrinha 2019 em relação à semeadura da safra 2018/19 (Figura 2). Os resultados obtidos de AACPD na safra 2018/19 indicaram diferenças significativas entre os fungicidas, de forma que picoxistrobina + tebuconazol + mancozebe, piraclostrobina + epoxiconazol + fuxapiroxade, piraclostrobina + fluxapiroxade e picoxistrobina + benzovindiflupir apresentaram os menores valores (Tabela 4). Com relação à eficiência de controle destes tratamentos, os valores observados ficaram em torno de 60% de controle da doença. Já na safrinha 2019, os valores de AACPD indicaram que os fungicidas com os menores valores foram picoxistrobina + tebuconazol + mancozebe, picoxistrobina + tebuconazol, piraclostrobina + epoxiconazol + fuxapiroxade, trifloxistrobina + protioconazol + bixafem, metaminostrobina + tebuconazol e azoxistrobina + tebuconazol + mancozebe. Entretanto, a eficiência de controle destes fungicidas ficou entre 30% e 40% de controle da doença (Figura 3). A perda drástica de eficiência de controle observada na safrinha em relação à safra pode ser bastante prejudicial para o manejo da doença, bem como os prejuízos causados pela severidade do patógeno nas plantas de soja. De posse dos resultados de eficiência de controle observados pelos diferentes fungicidas, ficou evidente que, dentro dos mesmos parâmetros de número e intervalo de aplicações, o controle de ferrugem-asiática é aquém do ideal na soja semeada na safrinha, e os prejuízos causados pela doença podem ser muito grandes. Além disso, pode-se inferir que a soja semeada na safrinha demanda aplicações antecipadas, menor intervalo de aplicação para conter as infecções mais severas e maior dependência de produtos auxiliares, como a associação de fungicidas multissítios. Este contexto ocorre principalmente pelo maior potencial de inóculo na área quando a soja é semeada na safrinha, uma vez que há doença remanescente
Figura 3 - Eficiência de controle (%) de ferrugem-asiática em plantas de soja com diferentes fungicidas. Maracaju, MS, 2019
da safra e que gera inóculo para a soja recém-semeada. Além disso, a curva de progresso da doença é mais acentuada, requerendo ações auxiliares de manejo da doença. É preciso considerar que atualmente o controle de ferrugem-asiática em soja é pautado em aplicações de fungicidas, e que existem apenas quatro grupos químicos de fungicidas sítio-específicos utilizados (triazol, triazolitiona, estrobilurina e carboxamida). Além disso, existem eventos de resistência aos quatro grupos químicos citados anteriormente, de forma que o risco de perder as ferramentas disponíveis no mercado é uma possibilidade real e que os prejuízos econômicos a toda a cadeia produtiva da soja são muito grandes. Por isso a associação de métodos de controle é fundamental. Nesse contexto é importante ter claro que o uso de fungicidas em soja é apenas uma das estratégias de controle de ferrugem-asiática. Entretanto, outras ações devem ser adotadas, como a semeadura antecipada, o uso de cultivares precoces, o vazio sanitário e a calendarização da época de semeadura. Tais medidas associadas podem potencializar o manejo da doença, bem como proteger os ingredientes
ativos de novas evoluções de resistência. Neste ponto, vale a pena ressaltar que novos ingredientes ativos e/ou novos modos de ação estão cada vez mais difíceis de serem encontrados e cada vez com custos mais elevados em pesquisa e desenvolvimento. Isso impacta diretamente no custo de produção e na margem de lucro C dos produtores rurais. José Fernando Jurca Grigolli e Mirian Maristela Kubota Grigolli, Fundação MS
Grigolli e Mirian debatem os desafios da ferrugem-asiática na safrinha
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Arroz A. da R. Ulguim
Ferramenta reposicionada Como aplicar herbicidas pré-emergentes em ponto de agulha e em sistema de semeadura direta de arroz irrigado sem perder a eficiência no controle de capim-arroz
C
om o aumento no número de casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas, cada vez mais deve-se preconizar a diversificação das ferramentas no manejo das culturas. Dentre elas, os herbicidas pré-emergentes tornam-se alternativa viável para o controle de plantas daninhas resistentes ou de difícil controle, além de serem opção para a rotação de mecanismos de ação. Contando, para o manejo de capim-arroz (Echinochloa spp.), uma das principais plantas daninhas na orizicultura, deve-se saber qual herbicida pré-emergente é o mais
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adequado para obter controle satisfatório e reduzir a perda de produtividade. O capim-arroz apresenta grande distribuição e competitividade nos diversos sistemas de cultivo do arroz no mundo, estimando-se que nas condições de cultivo da região Sul do Brasil cada planta de capim-arroz por metro quadrado pode causar perda na produtividade de grãos entre 8,4% e 11,3% (Agostinetto et al, 2007). No Brasil, existem casos de resistência de capim-arroz aos herbicidas mimetizadores de auxinas, inibidores de ALS e
ACCase (Heap, 2019), mecanismos que compreendem os principais herbicidas para uso em pós-emergência no arroz. Diante disso, deve-se preconizar outros mecanismos de ação para evitar mais casos de resistência.
T.F.S. de Freitas e D. Grohs; Fonte: SOSBAI, 2018
A FERRAMENTA E A OCASIÃO
Existem diferentes manejos e momentos de aplicação dos herbicidas pré-emergentes para controle de plantas daninhas na cultura do arroz. 1) Uso de herbicidas em pré-emergência e ponto de agulha A aplicação de herbicidas pré-emergentes pode reduzir a infestação inicial, reduzindo a competição na fase de emergência da cultura e podendo facilitar o controle em pós-emergência, havendo relatos de aumento do controle em 25% com relação à utilização somente de herbicidas pós-emergentes (Chauan, 2012). Outra maneira do uso de pré-emergentes, particularmente no arroz, é no subperíodo da semeadura-emergência, e tendo-se como limite a data em que se inicia o estádio fenológico S3, que corresponde à emissão do coleóptilo da planta de arroz, popularmente chamado de “ponto de agulha” (Crusciol et al, 2002) (Figura 1). Este estádio é considerado quando o prófilo (estrutura de proteção dos novos colmos) das plântulas de espécies poaceas, ainda se encontra protegido do atrito e pressão do solo pelo coleóptilo. Após emergir no solo, as células dessa bainha senescem em função do estresse oxidativo causado pela luz (Carpita et al, 2001 e Inada et al, 2002). Para que esta estratégia seja eficiente, há a necessidade de aplicação em conjunto de herbicida de ação total, normalmente glifosato. Assim, eliminam-se da lavoura as plantas daninhas até então emergidas. O manejo com dessecação em ponto de agulha ampliou o controle de diversos herbicidas seletivos ao arroz, aplicados em pré ou pós-emergência (Theisen et al, 2013). Diante disso, tem-se realizado diversos estudos para a utilização de herbicidas não só no sistema
Figura 1 - Estádios de plântulas de arroz e o momento de “ponto de agulha”
Figura 2 - Fitotoxicidade à cultura do arroz 15 (a) e 21 (b) dias após a emergência em função de manejos de aplicação de herbicidas pré-emergentes. Capão do Leão/RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara épocas de aplicação pelo teste t (p≤0,05)
Figura 3 - Controle de capim-arroz (a) e produtividade de grãos de arroz (b) em função de manejos de aplicação de herbicidas pré-emergentes. Capão do Leão/RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara épocas de aplicação pelo teste t (p≤0,05)
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Figura 4 - Controle de capim-arroz 15 (a) e 21 (b) dias após a emergência, e produtividade de grãos de arroz (e) em função de sistemas de cultivo e herbicidas pré-emergentes. Cachoeirinha /RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara sistemas de cultivo pelo teste t (p≤0,05)
plante-aplique como também em ponto de agulha. Observou-se que a época de aplicação dos herbicidas implica diferenças na resposta, em relação à fitotoxicidade entre aplicações em plante-aplique (logo após a semeadura) e ponto de agulha (Figura 2). Aos 15 dias após a emergência do arroz (DAE), para aplicação em plante-aplique, o tratamento que apresentou maior fitotoxicidade para a cultura do arroz foi o herbicida oxifluorfem, que não diferiu do tratamento com clomazone. Em aplicação em ponto de agulha, também se observou maior fitotoxicidade para o tratamento com oxifluorfem, seguido do clomazone. Os demais tratamentos apresentaram baixa fitotoxicidade à cultura, com valores inferiores a 6%. Na comparação dos métodos de manejo para cada herbicida, a aplicação de clomazone, imazapir + imazapique, oxadiazona e oxifluorfem, em ponto de agulha, proporcionou maior fitotoxicidade à cultura (Figura 2). Aos 21 DAE, para plante-aplique e ponto de agulha, observou-se que o tratamento que causou maior fitotoxicidade para cultura do arroz foi clomazone e oxifluorfem, confirmando os dados anteriores. Destaca-se, todavia, que aos 15 DAE, no manejo de aplicação plante-aplique, os tratamentos com clomazone, imazapir + imazapique e quincloraque proporcionaram maior controle de capim-arroz (Figura 3). Entretanto, os valores de controle ficaram abaixo de 80% para esses tratamentos, sendo que para a aplicação realizada em ponto de agulha esses herbicidas evidenciaram controle superior, justificando a importância dessa ferramenta para o controle adequado da planta daninha. É relevante destacar que, historicamente, os herbicidas pré-emergentes foram utilizados na modalidade “plante-aplique” no arroz, cuja possibilidade de uso em “ponto de agulha” e com maior eficiência é preponderante para o adequado manejo da resistência de capim-arroz na cultura. No âmbito geral, aplicações em ponto de agulha proporcionam maior fitotoxicidade à cultura quando comparadas às aplicações mais tradicionais de plante-aplique, contudo proporcionaram também maior controle de capim-arroz. 2) Uso de pré-emergentes em diferentes sistemas de cultivo A cultura do arroz irrigado passou por inúmeras mudanças nos últimos anos, no que diz respeito à adoção de sistemas de cultivo, onde se verifica mais intensamente a adoção de sistemas mais conservacionistas de solo, como o cultivo mínimo e a semeadura direta. Todavia, por terem como o alvo o solo, os herbicidas pré-emergentes sofrem influência nesses tipos de sistema, podendo ficar retidos na palhada, não expressando seu potencial de controle, principalmente. Nesse sentido, é necessário compreender a dinâmica do seu uso nessa realidade. No sistema convencional, o tratamento com quincloraque proporcionou maior controle de capim-arroz, não diferindo dos tratamentos com clomazona e oxifluorfem aos 15 DAE (Figura 4). No sistema de cultivo plantio direto, também se verificou que quincloraque foi o mais eficiente no controle de capim-arroz, sendo similar ao tratamento com oxadiazona. Ao comparar os sistemas de cultivo, observou-se que pendimetalina, quando utilizado em plantio direto, proporcionou melhor controle de capim-arroz em relação ao sistema convencional. Na avaliação realizada aos 21 DAE, no sistema convencional e
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Figura 5 - Comparação do controle de capim-arroz em função da aplicação ou não de herbicida pré-emergente em dois sistemas de cultivo de arroz irrigado
plantio direto o melhor tratamento foi verificado com quincloraque, sendo verificado controle superior a 90% (Figura 4). Os herbicidas clomazona, oxadiazona e oxifluorfem em plantio direto obtiveram controle superior a 80%. Assim, a palhada presente no solo pode apresentar efeito supressor de plantas daninhas, justificando o melhor controle para alguns casos. Nesse sentido, constatou-se que oxadiazona, quando utilizado em plantio direto, proporcionou melhor controle de capim-arroz em relação ao sistema convencional. O melhor controle de capim-arroz reflete em maior produtividade de grãos de arroz, porém não houve diferença entre o arroz cultivado no sistema plantio direto e convencional, observando-se somente efeito de tratamento de herbicidas (Figura 4), sendo estes resultados atribuídos à pequena diferença em controle observado entre tratamentos nos dois sistemas. Os tratamentos com os herbicidas quincloraque, clomazona e oxadiazon proporcionaram maiores produtividades, diferindo estatisticamente apenas da testemunha sem controle, confirmando o potencial de uso em sistemas de semeadura direta em arroz irrigado com a presença de palha na superfície do solo (Figura 5).
EM CONCLUSÃO
É possível perceber que diante dos sérios problemas de resistência de capim-
Lagartas podem gerar grandes prejuízos na cultura da soja, sendo que até a safra 2014/2015 eram consideradas pragas de maior importância
-arroz a herbicidas, o uso de pré-emergentes é uma ferramenta importante para evitar as perdas de produtividade causadas pela planta daninha. Ainda, por apresentarem mecanismos de ação distintos, são relevantes para a rotação de herbicidas nos sistemas de produção. Mesmo que pouca informação esteja disponível acerca do uso desses herbicidas nas lavouras de arroz irrigado, mediante a disposição das tecnologias atuais, os resultados apontam que os pré-emergentes podem ser utilizados em ponto
de agulha e em sistema de semeadura direta com manutenção da sua eficiência C para o controle de capim-arroz. Dirceu Agostinetto, Universidade Federal de Pelotas André da Rosa Ulguim e Roberto Ávila Neto, Universidade Federal de Santa Maria Edna Almeida de Souza, Universidade Federal de Pelotas André Andres, Embrapa Clima Temperado
Nematoides
Agentes invisíveis Considerados inimigos ocultos por possuírem medidas microscópicas, hábito subterrâneo e apresentar difícil identificação a campo, nematoides são responsáveis por prejuízos estimados em R$ 16,2 bilhões na cultura da soja. Conhecer corretamente o inimigo é indispensável para a tomada de decisão sobre o tipo de manejo a ser adotado contra esses parasitas Fotos Tatiane Cheila Zambiasi
O
Brasil é o maior exportador de soja e o segundo maior produtor mundial do grão, sendo que a produção estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 2018/19 foi de 14,843 milhões de toneladas com área plantada de 35,822 milhões de hectares e produtividade média de 3.206kg/ha. A forte expansão das áreas cultivadas com essa commoditie, associada a práticas agrícolas de rotação de culturas inadequadas ou inexistentes, proporciona o aumento na incidência de nematoides. São considerados inimigos ocultos, pois possuem medidas microscópicas, hábito subterrâneo e difícil identificação a campo. Assim, esses agentes invisíveis vêm aumentando e ganhando espaço no cenário brasileiro como um dos principais problemas fitossanitários da cultura da soja, sendo que em casos extremos podem inviabilizar áreas de cultivo. Na cultura da soja, os principais nematoides são o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica), o nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines). Os sintomas na parte aérea das plantas, na maioria das vezes, são facilmente confundidos com outras causas, como deficiência nutricional, ataque de pragas e doenças, estiagem e compactação de solo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia, as perdas ocasionadas pelos nematoides ao agronegócio chegam a patamares de R$ 35 bilhões por ano, sendo que na cultura da soja a estimativa é de R$ 16,2 bilhões.
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NEMATOIDE-DAS-LESÕES (PRATYLENCHUS BRACHYURUS)
Habitante natural das regiões de cerrado, o Pratylenchus brachyurus vem tornando-se uma preocupação para os produtores de soja, pois suas populações vêm aumentando nos últimos anos. O principal dano ocasionado pelo parasita é a redução do sistema radicular, ocasionando o escurecimento das raízes e diminuição de porte das plantas. Sua patogenicidade pode ser influenciada pela interação com fungos dos gêneros Fusarium e Verticillium. A duração do ciclo de vida varia de acordo com a temperatura e a umidade, sendo de sete a dez semanas.
NEMATOIDE-DAS-GALHAS (MELOIDOGYNE INCOGNITA E MELOIDOGYNE JAVANICA)
Sintomas de escurecimento e necrose provocados pelo nematoide-das-lesões em raízes de soja
As espécies Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica apresentam ampla distribuição geográfica e são as maiores causadoras de danos na cultura da soja no Brasil. Em lavouras atacadas, observam-se reboleiras com plantas amarelecidas, redução de porte, engrossamento das raízes (galhas), abortamento de vagens e amadurecimento prematuro. De modo geral, o ciclo biológico dessas espécies dura em torno de seis a sete semanas, com temperaturas na faixa de 25°C a 30°C.
NEMATOIDE DE CISTO (HETERODERA GLYCINES)
O nematoide de cisto (Heterodera glycines) apresenta particularidades em relação aos demais nematoides em soja, pois apresenta diversas raças e sua sobrevivência ocorre através de cistos que podem ficar viáveis por mais de dez anos. No Mato Grosso, há relatos de 16 raças (raças 1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 14+). A sintomatologia principal são pontuações branco/amarelada com formato de limão (fêmeas na fase adulta aderidas nas raízes). Seu ciclo biológico dura em torno de 25 a 30 dias, com temperaturas variando entre 23ºC e 28°C.
COLETA E IDENTIFICAÇÃO DE NEMATOIDES
Os sistemas de produção utilizados no Mato Grosso são baseados em monocultura ou sucessão contínua de culturas hospedeiras, o que vem acarretando aumento das populações dos fitonematoides e contribuindo para a queda de rendimento da planta e perdas de produção. Sendo assim, é inevitável traçar manejos estratégicos para a redução dos danos causados pelos parasitas. A fim de aumentar as chances de sucesso nas escolhas de manejo, é necessário realizar a identificação da espécie do nematoide que ocorre na área de cultivo e quantificar sua população. Isso por que a diagnose visual de sintomas no campo é limitada pelo fato de o profissional conseguir identificar apenas o gênero e não a espécie, como por exemplo diferenciar Meloidogyne javanica de Meloidogyne incognita. E nem identificar raça, no caso de cisto, tornando restritas suas opções de manejos. Para isso, torna-se indispensável que as coletas de solo e raiz sejam realizadas corretamente e encaminhadas para um laboratório
Presença de galhas radiculares em raízes de soja
de nematologia.
ESTRATÉGIAS DE MANEJO DE NEMATOIDES
Atualmente o maior desafio para os profissionais é elaborar estratégias de manejo para reduzir as populações de nematoides, sendo que uma vez instalado, nunca mais poderá ser erradicado. Para isso, existem diversas medidas para reduzir o nível populacional, como a utilização de produtos químicos ou biológicos no
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Fotos Tatiane Cheila Zambiasi
tratamento de semente ou via sulco, cultivares resistentes ou tolerantes, culturas alternativas, controle físico e manejo adequado de plantas daninhas hospedeiras. Todavia, é imprescindível a identificação e quantificação do nível populacional, pois isso vai afetar a tomada de decisão do manejo a ser adotado, sendo que altas populações necessitaram de manejos integrados. A primeira alternativa de manejo é o cuidado com a disseminação dos parasitas para locais onde não se tem a incidência. A disseminação ocorre por partículas de solo, desse modo, é preciso ter cuidado com erosão de solo, máquinas e implementos agrícolas. Sendo assim, se faz extremamente importante fazer o levantamento das áreas infestadas para traçar estratégias de semeadura e limpeza das máquinas, evitando sua disseminação.
Fêmeas do nematoide de cisto da soja em raízes da cultura
Equipamentos para coleta de solo e raiz para análise de solo
Passos para obter sucesso no manejo de nematoides 1° Identificação das espécies de fitonematoides ocorrentes na área de cultivo, bem como seu nível populacional. 2° Realizar boas práticas agrícolas relacionadas à higienização/ limpeza de máquinas e implementos utilizados em áreas com presença de nematoides. 3° Adotar táticas de manejo integrado, como por exemplo, controle biológico, químico, rotação de culturas não hospedeiras e variedades resistentes. 4° Monitorar suas áreas anualmente para verificar a eficiência dos manejos utilizados e dinâmica populacional dos nematoides.
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USO DA TECNOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE MANCHAS
A utilização da tecnologia no meio agrícola é antiga, tendo como destaque principal, a utilização do GPS (Global Positioning System) que possibilitou a otimização nos processos agrícolas através de máquinas guiadas por computadores. A partir daí, houve uma grande expansão de softwares e aplicativos que vieram para auxiliar na coleta de dados e informações. Uma ferramenta tecnológica que tem auxiliado no levantamento e na investigação de locais com incidência de nematoides é o EOS – Land Viewer, que utiliza satélites para predizer manchas que podem ser possíveis focos dos parasitas. As principais bandas utilizadas para a investigação são o NDVI e infravermelho. O NDVI é um índice de vegetação que permite gerar uma imagem demonstrando a biomassa relativa, sendo que colorações de verde-escuro demonstram vegetações densas, já tonalidades de verde-claro indicam vegetação menos densa. Assim como o NDVI, o infravermelho é um índice de vegetação, porém mensura a vegetação através de cores vermelhas, sendo vermelho-escuro vegetação densa e vermelho-claro vegetação rala. Com auxílio dessa ferramenta é possível maximizar a operacionalidade das coletas, pois as áreas são extensas, o que onera e dificulta o processo. Após mapeadas, essas amostras são encaminhadas ao laboratório onde é feito o processamento, e com os resultados em mãos, é possível montar mapas para população dos nematoides para auxiliar na tomada de decisão a respeito do manejo mais adequado.
RESISTÊNCIA GENÉTICA
O uso da resistência genética de plantas para redução dos níveis populacionais de nematoides é uma das alternativas mais eficientes e econômicas. A maioria das cultivares apresenta resistência a cisto e, posteriormente para galha, já para o nematoide-das-lesões não há cultivares resistentes no mercado, e sim materiais que apresentam fatores de reprodução diferentes. É importante salientar que o sucesso do uso dessa tecnologia passará pela identificação da espécie predominante na área e, às vezes, deverão ser adotadas medidas complementares.
CONTROLE BIOLÓGICO
A utilização de produtos biológicos para controle de nematoi-
de vem aumentando gradativamente nos últimos anos por sua eficácia indiscutível e menor agressão ao ambiente. Os ingredientes ativos dos nematicidas são à base de fungos (Purpureocillium lilacinus e Pochonia chlamydosporia) e bactérias (Bacillus spp. e Pasteuria nishizawae). Um dos desafios, assim como o armazenamento e operacional, para a utilização desses micro-organismos é de ordem técnica, visto que se posicionados de maneira incorreta vão aumentar o custo da lavoura sem trazer benefícios.
CONTROLE QUÍMICO
O controle químico é amplamente utilizado e difundido no Brasil. São produtos de ação mais rápida em relação aos biológicos e utilizados via tratamento de sementes (abamectina, fluensulfona, tiofanato-metílico) ou via sulco (cadusafós). Segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), será liberado o registro de produtos à base do ingrediente ativo fluopiram para controle de nematoide nas culturas de batata, café, cana e soja. Esse alternativa de manejo é uma excelente opção, porém muitas vezes deverá ser associada a outras técnicas.
CULTURAS ALTERNATIVAS
O controle de nematoide com culturas de cobertura consiste na utilização de espécies hospedeiras (aumentam a população) e não hospedeiras (reduzem a população). Com isso, espécies como crotalária, milheto, mamona, sorgo e milho estão em crescente aumento de área. Porém, o posicionamento de culturas de cobertura deve ser bem estudado e planejado, pois algumas espécies são não hospedeiras para cisto e galha, mas são hospedeiras para Pratylenchus. No momento, o nematoide de cisto possui mais opções de manejo de coberturas em relação aos nematoides de galhas e das lesões.
CONTROLE FÍSICO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS
O controle físico é uma técnica que está baseada na diminuição das populações dos nematoides por exposição à luz,
Pontos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
Coordenadas Indíce de clorofila 13.42556°S 45.98918°W 0.759 13.42024°S 45.98416°W 0.560 13.41834°S 45.98853°W 0.557 13.41851°S 45.97813°W 0.465 13.41736°S 45.97240°W 0.481 13.41421°S 45.96982°W 0.563 13.41463°S 45.97478°W 0.438 13.41723°S 45.99145°W 0.796 13.41172°S 45.99098°W 0.745 13.40778°S 45.97229°W 0.555 13.40379°S 45.97628°W 0.867 13.39935°S 45.98383°W 0.951 13.40031°S 45.98697°W 0.952 13.39778°S 45.99122°W 0.899 13.39029°S 45.99173°W 0.832 13.39110°S 45.98877°W 0.844 13.38964°S 45.98564°W 0.773 13.39432°S 45.98072°W 0.867 13.39116°S 45.97832°W 0.588 13.38565°S 45.97615°W 0.690 13.38864°S 45.97508°W 0.508 13.38916°S 45.96757°W 0.539 13.38983°S 45.96527°W 0.832 13.38069°S 45.96948°W 0.810 13.39743°S 45.96349°W 0.635 13.39805°S 45.95993°W 0.669 13.40039°S 45.96027°W 0.677 13.40605°S 45.95360°W 0.544 13.40256°S 45.95587°W 0.593 13.40047°S 45.94939°W 0.586 13.39693°S 45.95113°W 0.841 13.39183°S 45.95806°W 0.913 13.37979°S 45.95611°W 0.938 13.36822°S 45.96808°W 0.746 13.36887°S 45.97169°W 0.801 13.37666°S 45.98079°W 0.762 13.37492°S 45.98358°W 0.785 13.38240°S 45.98446°W 0.706 13.38018°S 45.99019°W 0.653 13.38167°S 45.99418°W 0.644 13.38916°S 45.99160°W 0.763 13.38870°S 45.99454°W 0.658 13.38538°S 45.99667°W 0.509 13.37384°S 45.99782°W 0.519 13.37417°S 45.99283°W 0.759 13.37071°S 45.99443°W 0.785 13.37294°S 45.99235°W 0.796 13.37292°S 45.98802°W 0.762 13.37173°S 45.98510°W 0.897 13.36808°S 45.98143°W 0.882 13.36993°S 45.97830°W 0.884 13.36762°S 45.97274°W 0.877 13.36584°S 45.96888°W 0.887 13.36267°S 45.96128°W 0.865
contudo, ainda é um tema muito discutido, pois seus benefícios não são bem explícitos, além do mais, pode se tornar uma prática de disseminação. O controle adequado de plantas daninhas é extremamente importante para manter as populações baixas, sendo que diversas espécies são hospedeiras e se
Utilização da banda NDVI para identificação de manchas
Utilização da banda infravermelho para identificação de manchas
mal manejadas podem anular as demais C práticas de manejo. Tatiane Cheila Zambiasi, AgroLab Willian Pies, Universidade Federal Fronteira Sul AgroLab
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Coluna Agronegócios
Oceanos mais quentes e seu impacto na agricultura
A
agricultura é fortemente influenciada pelo clima. Chama a atenção o fato de que, desde 1990, praticamente todos os anos a quantidade de energia (calor) retida nos oceanos é maior que no ano anterior. Os oceanos do mundo foram mais quentes em 2019 do que em qualquer outro momento da história humana registrada. O estudo foi conduzido por uma equipe internacional (link.springer.com/article/10.1007%2Fs00376-020-9283-7). A temperatura dos oceanos não está apenas aumentando, mas também acelerando o aumento. Em 2019, para aumentar 0,075°C acima da média de 19812010, os oceanos absorveram 228 sextilhões de joules de calor (228ZJ). A absorção dos últimos 25 anos equivaleu a 3,6 bilhões de bombas atômicas similares à lançada sobre Hiroshima! Ou o equivalente a 500 mil anos do consumo global de energia verificado em 2018. Lijing Cheng, o cientista líder do estudo, afirma que o aquecimento dos oceanos é mais uma prova das mudanças climáticas, pois, além das emissões humanas de gases de efeito estufa, não há alternativas razoáveis para explicá-lo. O acúmulo de calor nos oceanos é a métrica mais precisa para medir as mudanças climáticas globais, pois os oceanos retêm 96% da radiação que chega à Terra. A Figura 1 mostra a variação do calor retido nos oceanos (medidos em zeta joules- ZJ), em relação à média do período 1958-2018 (159.226.119.60/cheng/images_files/OHC2000m_monthly_timeseries.txt); e a variação da temperatura da Terra (em °C) em relação à média do período 1981-2010 (skepticalscience.com/print. php?n=4366). A Figura 2 mostra a concentração (ppm) do CO2 na atmosfera (esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/global.html). É patente a relação de causa e efeito entre o aumento da concentração de gás carbônico e o aumento da temperatura da Terra e dos oceanos.
EL NIÑO E LA NIÑA
A alteração da quantidade de calor dos oceanos afetará esses fenômenos. Em um ano “normal”, os ventos alísios do Pacífico sopram no sentido Leste-Oeste, elevando a superfície do oceano em meio metro na costa Leste da Ásia e Austrália. Isto provoca a ressurgência de águas profundas, mais frias. Quando ocorre El Niño, Figura 1 - Variações na quantidade de calor dos oceanos e na temperatura da Terra
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os ventos sobre o Pacífico sopram com menos força ou invertem a direção, diminuindo a ressurgência de águas e aumentando sua temperatura na costa da América do Sul. O oceano mais quente gera massas de ar quente e úmido, provocando chuvas excepcionais na América do Sul e secas na Indonésia e na Austrália. La Niña é o fenômeno inverso, com temperaturas frias na região equatorial do Pacífico. No Brasil, o efeito do El Niño no volume de chuvas, na duração do período chuvoso e nas temperaturas, depende de cada região e da intensidade do fenômeno: 1) Norte e Nordeste: diminuição de chuvas causando secas no Sertão nordestino e incêndios florestais na Amazônia; 2) Sudeste e Centro-Oeste: aumento da temperatura média e instabilidade no regime pluviométrico; 3) Sul: aumento da temperatura média e da precipitação, principalmente na primavera e no período entre maio e julho.
O TEMPO SE ESGOTA
Para restringir o aquecimento da Terra entre 2°C e 2,4°C até 2100, em relação ao período pré-industrial, a concentração de CO2 na atmosfera não poderia ultrapassar 400ppm, de acordo com o último relatório dos peritos da ONU sobre o clima (IPCC). Já ultrapassamos este valor em 2015! Quanto mais reduzirmos as emissões dos gases de efeito estufa, menos o oceano se aquecerá. Reduzir, reutilizar e reciclar, além de não desmatar, não queimar florestas e usar energia limpa são as atitudes a tomar. Alternativamente, pode-se esconder a cabeça no chão, feito avestruz, criticar e ironizar a cruzada de Greta Thunberg e outros ativistas, que alertam para o futuro sombrio decorrente das mudanças climáticas. Essa última atitude não resolve o problema, mas cria a ilusão de que algum ente superior poderia resolvê-lo por nós. Entrementes, nossos netos não nos perdoarão se assim C agirmos, legando-lhes uma herança maldita e irreversível. Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, membro do Conselho Científico Agrossustentável Figura 2 - Concentração de gás carbônico na atmosfera
Coluna Mercado Agrícola
MILHO
A safra de verão se encontra em colheita, que vai se concentrar a partir da metade de fevereiro. Mesmo assim, os indicativos do começo do ano foram de alta, com posições firmes, porque houve perdas devido à seca de dezembro e começo de janeiro que pegaram uma boa fatia das lavouras do Sul do País e onde apontasse perdas de três milhões de toneladas a quatro milhões de toneladas. Dessa forma, do potencial de 27 milhões de toneladas agora se estima menos de 24 milhões de toneladas. Como há uma parte deste milho já negociada antecipada na exportação, vai sobrar menos para o consumo interno. Isso serve de apelo positivo frente às grandes quedas de cotações no período de colheita. O fator de formação das cotações continuará sendo os níveis da exportação que têm girado entre 10,00 dólares e 10,50 dólares por saca nos portos. Deve ser o balizador dos negócios junto às indústrias internas, com pouco espaço para operar abaixo. Estima-se um bom ano para o milho novamente.
SOJA
O mercado da soja segue em período de colheita e entrega de contratos. Há poucos fechamentos novos. Já são mais de 55 milhões de toneladas da safra negociada e os produtores dão sinais de que
irão segurar parte do produto à espera de momentos melhores e de definições sobre a realidade dos negócios com a China, voltando à negociação interna. Os vendedores estão apontando que para negociar a soja, os níveis de base seriam acima de R$ 90,00 a saca nos portos, o que poderia trazer valores mais atrativos no interior. Boa parte do setor segue capitalizada e só deve vender quando os níveis forem mais atrativos. As exportações seguem em bom ritmo, com potencial de superar 2019. Tende a ser um bom ano para a soja, sem registro de disparada de cotações, mas novamente com bons ganhos.
FEIJÃO
O feijão continua a trazer ganhos aos produtores, começando 2020 com indicativos entre R$ 150,00 e R$ 200, 00 a saca, seguidos de leve queda nos patamares médios com a oferta da primeira safra. O apelo é de manutenção dos indicativos em bons níveis neste ano, porque as carnes, mesmo um pouco mais baratas que em dezembro passado, ainda estão com valores muito acima da media de 2019, reforçando a demanda por alimentos básicos. Deve ocorrer nova onda de pressão positiva assim que acabar a colheita da região central do país, principalmente de Goiás e Minas Gerais. Haverá mais uma fase de vazio de ofertas e indicativos
pressionados para cima. A boa demanda esperada para o ano deve manter boas cotações aos produtores de feijão.
ARROZ
O mercado do arroz começou 2020 com pressão positiva nas cotações, com pouca oferta, estoques baixíssimos e indicativos em alta. Os patamares no mercado gaúcho giraram entre R$ 50,00 e R$ 56,00 a saca, nos maiores níveis desde 2017. Há folego positivo para trabalhar o ano em cotações bem maiores que as de 2019. Com o setor todo apostando em alta, aguarda-se uma onda corretiva para compensar as perdas. Será um bom ano para o setor arrozeiro, que pega carona na alta das carnes para ter boa demanda e também no crescimento econômico do País, estimado em 2,5% neste ano frente C a 1% do ano passado. Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo começa a mostrar pressão positiva nas cotações, com boas expectativas de demanda para 2020 e safra menor que o consumo. O dólar em alta deixa o trigo importado caro para os níveis nacionais, que devem puxar as posições internas também. Caminha para valorização e superar os R$ 900,00 a tonelada nos bons momentos do ano. O grão importado chegará ao Brasil acima destes valores. EUA - O acordo comercial entre os EUA e a China não animou o mercado, porque deixou tudo em aberto. Apenas apontou que os chineses se comprometem a comprar 32 bilhões de dólares em produtos agrícolas americanos até o final de 2021. Não indica quanto de produto e quando irão adquirir. Isso não animou os operadores e não serviu de apelo para Chicago. Desta forma, o mercado deve começar a fluir melhor quando os chineses comprarem bons volumes de soja nos EUA, o que deve ocorrer cedo ou tarde, porque o Brasil não terá todo o produto que os asiáticos necessitarão. A nova safra começará a ser definida para o
plantio neste final de fevereiro. Previsões de clima apontam que os norte-americanos podem novamente enfrentar inverno alongado. CHINA - A China enfrenta novamente um problema sanitário, com um novo vírus que atinge a população. Isso atrapalha até mesmo a economia neste começo do ano. O país está entrando no Ano-novo Lunar, que começou no último dia 25 de janeiro, sendo o Ano do Rato, visto pelos chineses como um período de crescimento econômico e prosperidade. O governo chinês sinaliza que seguirá comprando grandes volumes de grãos nos países que lhes forem mais atrativos e isso beneficia os exportadores da América do Sul. ARGENTINA - A safra dos argentinos está nos campos e os novos impostos sobre as exportações também. Com isso, o país caminha para uma nova fase de descapitalização do setor produtivo e tende a entrar em “quebradeira” nestes próximos anos. No final do plantio, muitos desistiram de parte das áreas, principalmente arrendadas.
www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2020
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Coluna ANPII
Bom negócio O investimento de recursos públicos em pesquisa e desenvolvimento na área agrícola traz um retorno altamente compensador para a sociedade
A
cirra-se em todo o Brasil uma discussão sobre os rumos evoluídos, a decisão política de tornar o Brasil não só autosda ciência, dos investimentos em pesquisa e desenvolvi- suficiente, mas também exportador de alimentos, permitiram mento, seja nas universidades, nas entidades federais e que vastas áreas do Cerrado brasileiro fossem incorporadas estaduais. Algumas destas instituições de pesquisa foram fechadas, ao sistema produtivo e que as áreas tradicionais de agricultuoutras tiveram suas verbas drasticamente reduzidas, pessoal se ra experimentassem um inédito aumento de produtividade. aposentando e vagas não sendo repostas na mesma velocidade... No objeto de trabalho da Associação Nacional dos ProdutoSem entrar aqui na discussão política, pois a governança de um res e Importadores de Inoculantes (ANPII), a Fixação Biológica país é algo complexo, que envolve um sem-número de variáveis, do Nitrogênio (FBN), a participação das áreas de pesquisa tem cabe-nos apenas reiterar, com ênfase, o papel das atividades de sido de inestimável valor. A primeira fábrica de inoculantes do P&D no sucesso do agronegócio brasileiro. Brasil foi fundada com a orientação técnica Também é desnecessário desfiarmos os núdo pesquisador J.R. Jardim Freire, da Secremeros que colocam a atividade agropecuária taria de Agricultura do Rio Grande do Sul como a locomotiva da economia brasileira, e da Universidade Federal do Rio Grande sendo o único setor que, mesmo em tempos do Sul (UFRGS). As bases para o desenvolMais recentemente, de crise e recessão, manteve um crescimenvimento do inoculante para gramíneas foto consistente. ram montadas pela pesquisadora Johanna a prática da A evolução da agricultura brasileira. A Dobereiner, da Embrapa. coinoculação, partir da segunda metade do século 20 E dois dos importantes pilares da bemdesenvolvida até o momento, deu-se muito mais pelo -sucedida indústria de inoculantes do Brasil, avanço tecnológico que pela incorporação líder mundial no setor, foram erguidos tampela pesquisa, de novas áreas de cultivo. O incremento da bém pela pesquisa: a seleção de estirpes de foi um novo produtividade em diversas culturas e criaalta eficiência na fixação do nitrogênio e a ções de animais provou ser o caminho para formação de pessoal capacitado a trabalhar avanço na FBN, que o mundo possa vir a alimentar de fornas indústrias. A seleção de estirpes proporproporcionando ma eficaz a população mundial, superando cionou que os inoculantes viessem a suprir significativo o fantasma da volta da fome crônica que se toda a necessidade de nitrogênio, mesmo alastrava nos anos 50-60 do século passapara as mais elevadas produtividade da soja. aumento de do e que foi, parcialmente, superado pela E atualmente há também material genético produtividade da “Revolução Verde”. A partir dali foi traçado com excelente desempenho no feijoeiro. o caminho, mostrando que o investimento Mais recentemente, a prática da coinosoja e do feijoeiro, em genética vegetal e animal, em melhor culação, desenvolvida pela pesquisa, foi um da ordem de 16% nutrição, em melhoramento contínuo do novo avanço na FBN, proporcionando signisolo, em controle de pragas e doenças e ficativo aumento de produtividade da soja e em todas as boas práticas agrícolas, trazia do feijoeiro, da ordem de 16%. sensíveis aumentos de produtividade e de No campo da preparação de pessoal, a rentabilidade para o agricultor, o que proformação de profissionais capacitados, com porcionou mais alimentos a preços menores, ao mesmo tempo sólidos conhecimentos de microbiologia e de condução de pesem que melhorava a renda no campo. quisa, conhecimentos estes ampliados por cursos de mestrado O Brasil, como nenhum outro país, soube aproveitar este e doutorado, proporcionou a criação de departamentos de P&D momento e se engajar fortemente na moderna agricultura, seja nas empresas, o que tem levado à oferta de excelentes inoculanna grande, na média e na pequena propriedade. A criação da tes ao agricultor brasileiro. Embrapa, aliada à mudança de mentalidade de algumas uniO investimento de recursos públicos em P&D, em geral, mas versidades que saíram da “Catedral do Saber” para ir a campo, de forma especial na área agrícola, traz um retorno altamente dialogar com os agricultores, ver a realidade do agro, fizeram compensador para a sociedade, que se vê contemplada com a união entre a ciência e o saber empírico, prático, tornando bons níveis de segurança alimentar, condição básica para a vida C o agronegócio brasileiro a atividade pujante que apresenta humana. atualmente. O investimento em P&D, com preparação de pessoal cienSolon Araujo, tífico e técnico de elevados conhecimentos, o intercâmbio de Consultor da ANPII profissionais entre o Brasil e outros países cientificamente mais 42
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