11. Teatro, metamorfose e mutação: um exercício de devaneio
Artaud refere-se frequentemente à necessidade de uma recriação, empregando alternadamente a imagem da metamorfose e a da transmutação, como quando explora a ideia alquímica do teatro: “onde as formas, os sentimentos, as palavras, compõem a imagem de uma espécie de turbilhão vivo e sintético, no meio do qual o espetáculo toma o aspecto de uma verdadeira transmutação.” (Artaud, 1995, p. 83). As metáforas de transformação possuem possibilidades de sentido diferentes. Gostaria de tomar dois fenômenos biológicos para refletir sobre as propostas artaudianas: a metamorfose e a mutação. Para isto, assumo, neste capítulo, uma liberdade maior na escrita, experimentando extrair, à inspiração de Artaud, uma intensidade maior das palavras e das imagens. Tomar elementos naturais para pensar sobre fenômenos culturais pode ser um pouco arriscado se os tomamos como modelos absolutos ou como justificativa de determinismos. Mas ao devaneio, nas imagens e pensamentos que vagam, podem ser inspirações que ajudam a vislumbrar diferentes aspectos. O termo metamorfose, do grego metamórphosis, significa mudança de forma, transformação. Na zoologia corresponde à mudança de forma ou estrutura que sobrevém durante a vida de certos animais, principalmente dos insetos e dos batráquios, em fases que o adaptam a certas funções. A metamorfose é um processo controlado, esperado, inerente ao ser, próprio de determinadas
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