Considerações finais
Meu objetivo ao ler Artaud é de tentar compreender algumas de suas propostas para o teatro. A diversidade de referências com as quais trabalhou em sua vida e na elaboração de seus escritos, visando a uma cena renovada, ofereceu, e oferece, significativas provocações e contribuições ao teatro ainda hoje. Porém, ler os escritos de Artaud exige entender questões que estão por trás de alguns termos que, muitas vezes, são imprecisos, ambíguos, dotados de sentidos diferentes e, às vezes, opostos em seus usos. Acredito que parte da imprecisão se dá pelo uso de uma linguagem mais figurada e, por isso mesmo, mais aberta. Artaud, pensando o teatro e a sociedade, caminhou um tanto solitário, a meu ver, buscando construir definições que colaborassem para expressar sua maneira de compreender a vida e a arte. Ao observarmos os conceitos elaborados pelos estudiosos do Círculo de Eranos e os correlacionar às propostas teatrais de Artaud, podemos reconhecer uma afinidade conceitual, sendo de grande eficiência adotar esse agrupamento epistemológico como instrumental para análise e compreensão do teatro sagrado. A Hermenêutica Simbólica e os estudos sobre o imaginário se apresentam como um excelente recurso auxiliar à leitura de um entendimento da vida, que inevitavelmente também se reflete no teatro de Artaud. Alguns teóricos pertencentes ao Círculo de Eranos, tais como Gilbert Durand, Mircea Eliade e Joseph Campbell, são eventualmente utilizados em estudos teatrais, mas acredito que o uso dessa epistemologia pode ser aplicado de maneira mais extensiva. Tomando-se o agrupamento desses teóricos, podemos, além de garantir uma coerência conceitual aos estudos, perceber uma complementação. O fato de o Círculo de Eranos ter sido um
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