4. A alma arraigada no universo simbólico
A imagem simbólica permeava e envolvia Artaud em todos os níveis de sua vida de maneira intensa, nas mais variadas formas: na arte, na religião, no sonho, no delírio. A imaginação simbólica possui uma função fundamental para Gilbert Durand, que é a de equilibrar o ser humano. Ele afirma que o pensamento simbólico se manifesta fundamentalmente em quatro setores: o vital, o psicossocial, o antropológico e o cósmico (Garagalza, 1990). Para Durand, o ser humano, diante da inevitabilidade da morte, usa eufemismos para ela, não com um sentido negativo de fuga, mas como um poder de melhorar o mundo, de renová-lo, transformando a realidade da morte, exorcizando-a, adquirindo uma dose de esperança. A morte, em Artaud, de certa forma era constante, cravada em sua carne, especialmente presente nas dores de cabeça que sentia, nas reações de dependência e abstinência das drogas, mas também pairando sobre sua lucidez e na obtenção de seus objetivos, muitas vezes frustrados devido aos eletrochoques que o faziam perder totalmente a consciência, neutralizando seu corpo e mente. A presença do mal o cercava: “O mal, o mal, a dor e o mal. O ‘Mal poderia não ter existido. Existiu’3. E Artaud está envolvido por ele. Um mal não menos vago – por isso, absoluto – do que a dor.” (Teixeira Coelho, 1982, p. 41). Nessa presença constante da morte, tudo se confronta com ela: o corpo e o pensamento. Por meio de um jogo de inclusões e exclusões, de acréscimos e perdas de vida, Artaud cunha suas opiniões, estabelece seu pensamento. Ele questiona valores estabelecidos em prol dos menos favorecidos, dos “menos vivos”, dos ameaçados de
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