JornalCana 338 (Junho 2022)

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MERCADO

Junho 2022

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Usinas buscam alternativas para driblar preços dos insumos industriais O ácido sulfúrico é um dos insumos que tem elevado o custo do processo de fermentação

A elevação do preço dos insumos provocada pela crise de abastecimen− to acende o sinal amarelo do setor bioenergético, que busca alternativas para minimizar o impacto nos índices de produtividade. Segundo estudo apresentado por Paulo Ramalho, di− retor administrativo e de suprimentos da Usina Caeté, diante do risco de in− disponibilidade, a escalada de preços do ácido sulfúrico, utilizado para o controle de bactérias, variou de R$ 0,70 a R$ 30,00 o quilo, entre março de 2020 e junho de 2021. O que fazer para enfrentar essa si− tuação foi a abordagem do primeiro Webinar Sinatub de 2022. Com o te− ma “Alternativas para a Crise no Abastecimento e Preços de Insumos Industriais”, o painel virtual realizado na quarta−feira, dia 4 de maio, além de Paulo Ramalho também contou com a participação de José Luiz de Moura, engenheiro químico na Usina Trapi− che S/A e do professor Dr. Octavio A. Valsechi (Vico) da UFSCar/Bioener− gy Hub. Sob a condução do jornalis− ta Alessandro Reis, o webinar contou com patrocínio das empresas AxiAgro e S−PAA Soteica. De acordo com Ramalho, a crise no abastecimento do ácido sulfúrico remonta a março de 2020, quando iniciou a pandemia, considerando que o ácido sulfúrico tem como base principal o enxofre e seu maior pro− dutor é a China.

“A baixa oferta de enxofre gerou automaticamente escassez no forneci− mento do ácido sulfúrico ou pela pa− rada de algumas plantas que são os principais fabricantes. O risco da in− disponibilidade no mercado gerou uma variação entre março de 2020 a junho de 2021 de R$70 centavos a R$30,00. Uma variação significativa que penalizou os caixas das empresas, tornando esse insumo num grande furo nos orçamentos”, disse. Segundo Ramalho, com a parada das usinas em novembro/dezembro de 2021, naturalmente a demanda redu− ziu e os preços voltaram a cair, mas não aos preços iniciais lá de março de 2020.“Em fevereiro deste ano, os pre− ços voltaram a subir de forma signifi− cativa, devendo permanecer assim até o meio do ano. O que o mercado en− xerga em relação ao sulfúrico é que ele ainda mantém a tendência de redução de disponibilidade e isso consequen− temente, gera o aumento nos preços do insumo”. Paulo afirma que a melhor estra−

tégia, é avaliar o melhor tempo de compra, geralmente na entressafra, e assim garantir o estoque necessário para evitar indisponibilidade e conse− quente prejuízo operacional. Ele também sugere um aumento na capa− cidade de armazenamento, avaliando o investimento em relação ao agrava− mento da crise de abastecimento. Na Usina Trapiche, com sede em Pernambuco, a solução encontrada foi a substituição do ácido sulfúrico por antissépticos (biocidas e bactericidas) no controle das bactérias, explicou o engenheiro químico da usina, José Luiz de Moura. “Inicialmente a fermentação era batelada alimentada. Em 1992 foi in− troduzida a fermentação contínua flo− culenta sem centrífuga. Em 2018 vol− tamos a utilizar centrífugas na fermen− tação contínua, com a finalidade de aumentar a capacidade fermentativa das dornas e possibilitar a secagem do excedente de fermento. O mosto atual que utilizamos é o melaço da fábrica de açúcar e a eficiência de fermenta−

Dr. Octavio A. Valsechi

José Luiz De Moura

Paulo Ramalho

ção é de 90 a 92%” explicou Moura. Moura apresentou uma simulação de custo com dois tipos de tratamen− to na fermentação. Um sem a aplica− ção do ácido sulfúrico (A) e outro com sua utilização (B), para uma pro− dução de 27.500 m3 de etanol. No tratamento A o custo ficou em R$ 641.444,23. No tratamento B, com o preço do ácido sulfúrico estimado em R$ 8,00, o custo passou a ser de R$1.855.700,00. De acordo com Moura, para empatar os custos dos tratamentos, o preço do ácido sulfú− rico teria de ser de R$ 2,48. Para o professor da UFSCar Oc− tavio A. Valsechi (Vico), o importante é focar nos fatores que afetam a pro− dução de açúcar e etanol. “A qualida− de de matéria−prima é de fundamen− tal importância, por ser a principal entrada de contaminantes da indús− tria”, ressaltou. Segundo o professor, as atenções devem estar voltadas ao conhecimento da ação dos microorganismos, motivo pelo qual a existência de um laborató− rio é fundamental para direcionar os procedimentos a serem adotados. “Está se fazendo análise da bacté− ria? faz análise da levedura? O labora− tório é uma ferramenta essencial na produção, para que se tenha resultados que me mostrem prontamente, o que está acontecendo no meu processo. Temos hoje, ferramentas que dão res− postas extremamente rápidas para on− de e como atuar, para que eu não te− nha prejuízos maiores e também para evitar o uso indiscriminado desses in− sumos”, afirmou. Valsechi ressalta que, para um bom gerenciamento é necessário ter infor− mações confiáveis, geradas no labora− tório que tem a condição de gerar in− formações confiáveis. “É necessário um sistema adequado de amostragem, métodos analíticos, equipamentos adequados e principalmente pessoal capacitado e treinado para fazer essas análises”, destaca. “Identificar possíveis causas dos problemas, atuação rápida e eficiente sobre as causas dos problemas identi− ficados, sempre usando os dados do laboratório e sempre buscando uma ação preventiva, com assepsia e veri− ficando a qualidade de matéria−pri− ma. Treinamento, conscientização e valorização da equipe de trabalho. A gente sempre bate nessa tecla. Vamos capacitar o indivíduo que é a peça fundamental em qualquer processo”, finaliza o professor.


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