9. A dialética do mutirão e da autogestão na experiência COPROMO
Historicamente – a partir da Revolução Industrial e da emergência do movimento operário –, a prática da autogestão se inspira e se vincula às correntes de pensamento e aos movimentos identificados com as ideias anarquistas e marxistas. Em comum, ambas as tradições elegeram como seu principal alvo o confronto com o Estado, mas precisamente o “Estado burguês”. Contemporaneamente, novas formas de experimentações sociais se associam a redutos de resistência aos modelos capitalistas convencionais, por meio de “grupos informais, associações e empresas de trabalhadores, organizadas em bases associativas e de autogestão” (GAIGER, 2003, apud LOCKS; VERONESE, 2012, p.268), além da formação de estruturas cooperativas. Na América Latina, destacam-se as experiências cooperativas uruguaias, que influenciaram e inspiraram a organização de experimentações cooperativas em São Paulo. O conceito de autogestão se mantém reconhecidamente polêmico, e permanece até os dias atuais no cerne do debate de diversos pensadores. Entre os teóricos que trataram desse tema, destacam-se Yvon Bourdet e Alain Guillerm, principais “propositores da corrente teórica autogestionária do final da década de 1970” (LOCKS; VERONESE, 2012, p.269). Ademais, a expressão “autogestão” aparece na linguagem acadêmica do ocidente a partir da década de 1950, mas em termos de experiência histórica se mostra bastante anterior (LOCKS; VERSONESE, op.cit.).
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Com base nesse quadro de referências, segundo Locks e Veronese (2012), a definição de autogestão aparece rapidamente conceituada no Dicionário do Pensamento Marxista vinculada à perspectiva econômica do termo, ou seja, no sentido de um modo de organização do sistema produtivo: A autogestão refere-se à participação direta dos trabalhadores na tomada de decisões básicas da empresa. Os meios de produção são socializados. Em sentido mais geral, a autogestão é uma forma democrática de organização de toda a economia, constituída de vários níveis de conselho e assembleias (MARKOVIC, 2001, p. 22 apud LOCKS; VERONESE, 2012, p.272).
Já a definição de Bourdet e Guillerm se afasta da perspectiva marxista: ao “justificar uma autogestão radical, Bourdet e Guillerm negam toda e qualquer tentativa de transformação a partir das instituições do próprio sistema” (LOCKS; VERONESE, 2012, p. 277). Assim, a definição do conceito de autogestão para Bourdet e Guillerm se mostra como uma “organização nacional que suprime o capitalismo e o estatismo em benefício de um conjunto autogestionário de cooperativas, igualitariamente associadas segundo um plano elaborado pela soma de necessidades e desejos” (GUILLERM; BOURDET, 1976, p. 30 apud LOCKS; VERONESE, 2012, p. 278).