MARANHAY - Revista Lazeirenta - 65: SETEMBRO 2021

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MARANHAY REVISTA LAZEIRENTA (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536 TOK

ATLETAS PARALIMPICOS MARANHENSES

JADIEL VIEIRA SOARES – FUTEBOL 5 OURO

PAMELA PEREIRA – VOLEI SENTADO BRONZE

RAYANE SOARES DA SILVA – ATLETISMO T13 NÃO SE CLASSIFICOU

NUMERO 65 – SETEMBRO - 2021 MIGANVILLE – MARANHÃO


MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE” TOK

“PRESIDENCIA”

“DIRETORIA”

“SÓCIOS-ATLETA EM CAMPO”


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 365 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sóciocorrespondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


SUMÁRIO 2 3 4 6

Segunda capa EXPEDIENTE SUMÁRIO EDITORIAL

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ESPORTE(S) & EDUCAÇÃO FÍSICA TÓKIO 2021 – PARALIMPIADAS - MARANHENSES

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AS REGATAS EM TUTOIA KENARD KRUEL FAGUNDES MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO ROSE CARVALHO

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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO: GREMIO LÍTERO-RECREATIVO PORTUGUES BALSENSE É MEDALHA DE BRONZE NO VÔLEI NAS PARAOLIMPÍADAS DE TÓQUIO 2021 NINGÚEM SEGURA MARLON ZANOTELLI! GRANDES TALENTOS DOS ESPORTES DE SÃO LUIS NERES PINTO OS “PAULISTAS” ESTÃO CHEGANDO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA "QUANDO UMA LUTA DE TELECATH MONTILLA VIROU UMA LUTA CAMPAL" MHARIO LINCOLN

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NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO ACONTECENDO...

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CASA DA FAMÍLIA RABELO EM VIANA ÁUREO VIEGAS MENDONÇA 50 SABORES E LUGARES DE SÃO LUÍS, UM PASSEIO PELO TEMPO HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO. A RENDIÇÃO DE LA RAVARDIERE NO FORTE SÃO LUÍS EUGES LIMA DUNSHEE DE ABRANCHES, 155 ANOS HOJE EDMILSON SANCHES O LAZER É SAGRADO CERES COSTA FERNANDES RECORDAR O CAÚRA ROBERTO FRANKLIN TESTE VOCACIONAL PARA SER CIDADÃO LUDOVICENSE HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO. A PRAÇA GONÇALVES DIAS E A MAGIA DOS PATINS CERES COSTA FERNANDES

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A NOVA LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE A INFLUÊNCIA DA MACONHA NO FOLCLORE MARANHENSE ERASMO DIAS "TRAVESSIA", A NOVA LÍRICA DO POETA E IMORTAL APB, SECCIONAL MA, ELOY MELÔNIO Mhario Lincoln O ÚLTIMO DOS POETAS DE UMA BOEMIA ESQUECIDA FELIX ALBERTO LIMA "O QUE PODE UM CORPO?" O QUE PODE UM CORPO? (PARTE II)

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JOÃO BATISTA DO LAGO 86

SARAU CORPORALIDADE De JOÃO BATISTA DO LAGO PEQUENA HOMENAGEM À SÃO LUÍS NOS SEUS 402 ANOS DE FUNDAÇÃO E A BANDEIRA TRIBUZI NO SEU 36° ANIVERSÁRIO DE PARTIDA

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FRANCISCO TRIBUZI 92

91FRAN PAXECO: MEMÓRIAS & RECORTES DO BILHETE-POSTAL À “DISCUSSÃ92OZITA”: FRAN PAXECO E PAULINO DE OLIVEIRA ANTÓNIO CUNHA BENTO FRAN PAXECO E A CRÍTICA AO LIVRO “FUNDAÇÃO DO MARANHÃO” EUGES LIMA

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EDITORIAL A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher.

Vinha publicando, a cada número, um ano da vida de Fran Paxeco em São Luis-Maranhão, e sua contribuição para a cultura ludovicense/maranhense; a partir deste número, deixo de faze-lo... o ‘livro’ de memórias já conta com mais de 2.500 páginas, e paramos no primeiro semestre de 1921. Explico: ficou difícil a consulta aos arquivos da Biblioteca Nacional devido à ação de hakers, e ainda não voltou ao normal. Ficou muito lenta, demandnado muito tempo para recuperar as informações... mas já dá para ter uma idéia da grandiosidade que foi sua permanência entre nós... Breve, retornaremos... Continuamos com os registros da memória do esporte no Maranhão; os Jogos Olímpicos estão em sua segunda fase – as Paralimpíadas, e nelas temos maranhenses presentes... assim como alguns registros de atividades físicas e esportivas acontecidas pelo interior maranhense: Tutóia e suas regatas... Devem ter notado a alteração na capa: inclui os emblemas do CEV – Centro Esportivo Virtual -, que está a completar 25 anos de efetivos serviços às Ciências dos Esportes brasileira – embora ainda prefira o termo “Educação Física & Esporte” -; Laércio Elias Pereira – seu idealizador – desde sempre faz parte da Presidencia desta Revista que ora publico; A Academia Poética Brasileira – presidida pelo Mhário Lincoln – também passa à cumplice; e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, assim como a Academia Ludovicense de Letras – IHGM, ALL -, entidades às quais pertenço... Dou-me ao luxo de te-los ao meu lado, como intregrantes da Redação...

Jorge Olímpio Bento – lá de Portugal/Trás-os-Montes/Porto1 – dispensa apresentação... sócio-correspondente da ALL, o mais brasileiro dos portugueses...

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UP: Jorge Olímpio Bento distinguido no Brasil - JPN


Ceres Costa Fernandes igualmente dispensa apresentação, também da ALL e da AML; assim como Fernando Braga – AML e ALL (correspondente), o Faraó Ramssés, e o Antonio Aílton – ALL:

Os colaboradores de cada edição são nossos sócios-atleta... além dos titulares acima, a cada número contamos com um numero expressivo de contribuições acerca da educação física, dos esportes, da recreação, do lazer... e, claro, a segunda parte, referente à cultura maranhense, em especial a ludovicense... Temos, pois, em algumas edições duas capas: sendo que a segunda é um ‘sumario’ dos sócios-atletas que estão na edição em referencia... Também mudei o local de publicação: de São Luís para Miganville!!! Pois é daqui, desta vila francesa ‘fundada’ em 1594 por Jacques Riffault, Charles DesVaux e Davi Migan quando se estabeleceram mais junto à Aldeia de Uçaguaba, onde vivo no hoje Vinhais Velho... Sim!, embora se considere a fundação de São Luis como de 1612, Miganville já existia!!! Como feitoria, onde mais de 400 europeus – não só franceses! Viviam: holandeses, ingleses, portugueses... além dos índios Tupinambá, nessa aldeia com mais de 3.000 anos de existência, confirmada a ocupação humana... Povos dos Sambaquis, Tupis (primeira leva...), Tapuias, a segunda leva Tupi, com os Tupinambá... com a chegada dos Jesuitas, após a expulsão dos franceses pelos portugueses/pernambucanos, recebeu o nome de Aldeia da Doutrina: daqui, dessa experiencia ‘piloto’ que saiu o modelo de catequização por toda a região – o Estado Colonial do Maranhão e Grão-Pará (1621): Ceará (do Mucuripe para ‘cima’), Piauí, o atual Maranhão, Grão-Pará, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondonia, Acre, parte do Goiás (hoje, Tocantins), e parte do Mato Grosso... A Aldeia da Doutrina transformada em Vila


(Nova) de Vinhais, em 1755, permaneceu como ‘municipio’ independente de São Luis até 1835, quando foi “incorporada” como Distrito da capital, numa ação de usurpação das terras indígenas – como aconteceu em quase todo então o Império brasileiro... MARANHAY, na língua da terra, significa ‘águas revoltas que correm contra a corrente”... Zartú Zilgio pede que corrija meu currículo, no que se refere à UEMA: constava como titular desde 1977; esta data é a que entrei na FEI – Faculdade de Educação de Imperatriz, onde fui professor titular dos cursos de licenciatura mantidos por aquela instituição; parecer do MEC para reconhecimento dos Cursos; não precisava, mas mesmo assim fiz o curso de especialização; em 1979, vim para São Luís, transferido de Imperatriz, já como professor da FESM – Federação das Escolas de Ensino Superior do Maranhão -, que já havia incorporado a FEI; minha transferência se deu em função dos pareceres como titular dos cursos de Imperatriz, e aqui eles estavam em processo de reconhecimento dos seus cursos; vim, e quando saiu, era eu o titular dos cursos da FESM; Zartú lembra que, em 1977, eram ele e Lino os professores da FESM, e que José Nilson entrou depois (1978); Zartú era o Chefe do Departamento. Pois bem, a seu pedido, farei a alteração, embora conste, na UEMA, sucessora da FESM, como professor titular de educação física desde 1977... Já modificado a partir deste numero, Zartú... Disse a ele, também, que no Atlas do Esporte no Maranhão, onde está a memória da educação física na UEMA, constam ele, e Lino e mais dois outros professores de educação física: um que era funcionário do Banco do Brasil, e outro, que era administrativo, sem curso de educação física, jogador de futebol, depois de handebol, estavam lá, dando aulas. Quando cheguei à UEMA/FESM em 1979, Zartú e Lino já haviam saído... e haviam nada mais, nada menos, que 11 professores de educação física... eu fui, naquele ano, o 12º a completar o quadro; quando sai, em 1989, haviam 21 professores, muitos oficiais da Policia Militar... eu era o único com 20 horas de trabalho, e seis turmas de aulas... Houve uma tentativa de incorporar a FESM à UFMA, ao tempo do Sarney na Presidencia, mas foi abortada. Lembro de uma Assembléia Departamental na UFMA em que o DEF se manifestou contra a entrada desses 21 professores... eu, inclusive... Mas é assim mesmo... como diz meu vizinho, é vida que segue... Feitas as alterações, pois... mas euzinho fui o primeiro titular de educação física da UEMA... reconhecido pelo MEC... Já publiquei essa memória nesta Revista... Laércio diz que era uma prática comum, de Cláudio Vaz, arranjar empregos para os professores que trazia para cá, não só na FESM, como na então ETFM, e outros colégios... além do emprego no Estado... assim... apenas mais um esclarecimento: não sou da turma dos ‘paulistas’ que vieram para cá. Sou do Paraná, e vim para Imperatriz fazer parte da equipe do projeto Rondon/Campus Avançado da Universidade Federal do Paraná; entrei no Estado por concurso, para a escola de ensino de 2º Grau “Graça Aranha”, em 1978, criada aquele ano em Imperatriz... Já era professor da FEI, e Diretor do Departamento de Educação Física da


Prefeitura Municipal... em 1976, quando lá me estabeleci, que conheci ‘os paulistas’ numa viagem à São Luis... Esclarecido? Aqui vai, também, uma provocação do Laércio, para a cnstrução de um sociograma, buscando esclarecer quem trouxe quem, para o Maranhão, daquele grupo de “paulistas”. Serve para complementar os questionamentos do Zartú e reavivar as lembranças do Laércio...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


ESPORTE(s) & EDUCAÇÃO FÍSICA


PARALIMPIADAS 2021 – MARANHENSES PRESENTES

JARDIEL VIEIRA SOARES2 - Posição: ala ofensivo Nascimento: 26/07/1996, em Pinheiro (MA) Equipe: APACE-PB / Principais conquistas: 2019: Parapan de Lima; Copa América de São Paulo. História: Devido a toxoplasmose Jardiel nasceu cego. Por meio de um evento em São Luís (MA) para deficientes visuais, conheceu o futebol de 5. CBDV - Seleção Brasileira de Futebol de 5

Imbatíveis e classificados! Pela segunda rodada da fase de grupos do futebol de cinco nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, o Brasil superou o Japão por 4 a 0 e se garantiu nas semifinais. Com o resultado conquistado na noite deste domingo (29), a seleção brasileira, que é a única a conquistar a medalha de ouro na história da modalidade, manteve a invencibilidade na história paralímpica.

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Jardiel_Vieira_Soares


Futebol de 5 O Brasil encerrou a sua participação na primeira fase da modalidade com outra goleada: 4 a 0 sobre a França - dois gols de Nonato, que chegou aos cinco gols na competição, e dois de Jardiel. Nos três jogos realizados até aqui, a Seleção já marcou 11 gols e não ainda sofreu nenhum.

Agora, a equipe espera o adversário da semifinal, que está marcada para a próxima quinta, 2. Já a final será no sábado, 4, às 5h30 (de Brasília). Todos os resultados do Brasil no Futebol de 5 na 1ª fase Brasil 3 x 0 China Brasil 4 x 0 Japão Brasil 4 x 0 França

QUE VENHAM OS ARGENTINOS


O Brasil segue firme em busca do pentacampeonato paralímpico no futebol de 5. Após um jogo muito truncado, nossos representantes venceram o Marrocos por 1×0 e garantiram a vaga na final. Em sua quinta participação, o país verde e amarelo ainda não perdeu nenhum jogo e não foi vazado em Tóquio.

PROCURA-SE RIVAL NO FUTEBOL DE 5 O Brasil é o dono do futebol de 5. Desde 2004 no programa paralímpico, o futebol de 5 nunca viu o Brasil não ganhar uma partida. E na final de hoje não foi diferente. Repetindo a final de Atenas-2004 contra a Argentina, o Brasil venceu o maior rival por 1 a 0 em um golaço de Nonato chutando de esquerda no canto alto do goleiro. O Brasil conquista o pentacampeonato olímpico e de quebra bate o recorde de medalhas de ouro da delegação brasileira de Londres-2012 chegando a 22 medalhas douradas.


RAYANE SOARES DA SILVA – ATLETISMO T13

20 de janeiro de 1997 - Caxias, Maranhão - Rayane Soares da Silva Atletismo T13 200 m, 100 m, 400 m Rayane Soares da Silva (Caxias, 20 de janeiro de 1997) é uma atleta paralímpica brasileira da classe T13, para atletas com deficiência visual. É a atual campeã mundial dos 400m T13. Representou o Brasil nos Jogos Parapan-Americanos de 2019 em Lima, conquistando uma medalha de prata. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rayane_Soares_da_Silva Classificatória Nos 100m (classe T13), Rayane Soares avançou à final com o sexto tempo melhor da classificatória (12s39). A disputa por medalha está prevista para as 8h10 desta terça, 31.

100 m feminino – final T13 x Resultados – Final – 8º lugar

Rayane Soares da Silva

Não passou das eliminatórias dos 400 m rasos, chegando em 3º lugar em sua bateria, nem se classificou entre os melhores tempos – 59,54s


PÂMELA PEREIRA – VOLEIBOL SENTADO Data de nascimento: 25 de abril de 1988 - Balsas (MA)3 Pâmela sofreu um acidente de moto em 2014 e precisou amputar parte da perna esquerda. Três meses depois, conheceu o vôlei sentado e, no mesmo ano, já ajudou seu time a faturar uma medalha de bronze no Campeonato Brasileiro. Em 2016, foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira e já conquistou o bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro.

Brasil vence Japão e encaminha vaga para a semi no vôlei sentado - Seleção feminina passa por anfitriãs com tranquilidade e chega ao segundo triunfo em Tóquio A equipe de vôlei do Brasil é uma das favoritas ao pódio em Tóquio. Na Rio 2016, o time foi bronze e, no Mundial de 2018, a seleção parou nas quartas de final diante da Rússia, que se sagraria campeã do torneio. No momento, o time está com duas vitórias, enquanto Itália (que venceu o Japão e perdeu para o Canadá) e Canadá(que perdeu para o Brasil e venceu o Japão) estão com uma vitória e uma derrota.

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Seleção Brasileira de Voleibol sentado feminino confirma convocação com uma balsense na equipe - Diário de Balsas (diariodebalsas.com.br)


A maior pontuadora da partida foi Pamela e Filomena, com 10 pontos cada, um a mais que Adria. O ataque brasileiro fez a diferença, marcando 35 pontos, contra apenas 15 das japonesas neste quesito. Nos bloqueios, 9 a 3 para as brasileiras, enquanto no saque 13 a 9. Nos erros dos adversários, 18 pontos para cada.

Seleção feminina chega à semifinal do vôlei sentado em Tóquio

Brasil supera Canadá e repete o bronze da Rio-2016 no vôlei sentado feminino

Com quatro vitórias e apenas uma derrota, Brasil, que venceu o Canadá na disputa do terceiro lugar, conquistou o bronze do vôlei sentado feminino



AS REGATAS EM TUTOIA KENARD KRUEL FAGUNDES - Depoimento de Luís Ferreira da Silva - Luís Stauta (foto) As regatas, em Tutóia, começaram por conta da ação da Capitania dos Portos da Parnaíba. Com as regatas de Luiz Correia a Parnaíba, que tinha a participação também de pescadores daqui. Então, com esse incentivo, os pescadores daqui tiveram a ideia de realizar as próprias regatas. O meu sobrinho José de Ribamar Marques da Silva, o Bolinha, foi um dos que saiu daqui para participar das regatas da Parnaíba e foi um dos que deram a ideia de criar as regatas daqui. A ideia teve apoio do capitão dos Portos de Tutória, Orlando Santana. A primeira regata começou, salvo engano, em 1962, com a concorrência de três canoas, a remo. A de papai, que era a Nova Área, representava a Colônia de Pescadores Z-12, a de Manoel de Jesus Silva - Manoel Zuzu, presidente da Estiva, que era a 25 de Março, e representava a Estiva, e a de José, que era a Naza, e representava a Marinha. Nesta primeira regata, eu estava no comando da canoa e fomos os primeiros colocados. Eram sete tripulantes em cada canoa: eu, na popa, o Antônio Félix, irmão de minha esposa Dalva, o José dos Reis, meu irmão conhecido por Canã, o Hilton, meu irmão, o Raimundo, meu sobrinho, conhecido por Mundá, o Antônio Luís, meu amigo e meu pescador, e Elias, meu amigão, companheiro de pesca, de futebol, de tudo. A partida se deu de perto do povoado Comum - no porto do igarapé que vai diretamente para o povoado Comum - que era chegar na rampa do porto de Tutoia. Perto tinha um navio descarregando para três barcas que, atracadas num rebocador, seguiam para Parnaíba, carregadas de babaçu, cera da carnaúba, tucum, castanha do Pará, casca do mangue vermelho etc. Quando passamos por lá, tanto o pessoal do convés do navio quanto o pessoal das barcas, todos vibraram porque estávamos em primeiro lugar. Eles gritaram que não podiam dar outra coisa que não fosse uma salva de palmas. E foi o que eles fizeram. Isso nos entusiasmou mais ainda. Criamos mais força para remar forte e seguir adiante. Antes da corrida, notei que o o tio João Henrique estava preocupado. Perguntei o que era e ele me me disse que, antes de nossa partida, a aposta maior era de que quem ia ganhar a regata era a canoa 25 de Março, que representava a estiva. Eu respondi para ele que estávamos na frente e que assim seria a chegada e que se outra canoa se empareiasse com a nossa, o que não iria dar de acontecer, seria por conta de algum feitiço muito grande, e que esse azar não iríamos levar nunca. Quando eu terminei de dizer isso, avistei papai, abaixo da Capitania dos Portos, gritando feito menino. Isso me deu mais vontade de ganhar e manifestei isso para os demais tripulantes, pedido maior emprenho e confiança na corrida. Não deu outro resultado. Fomos os vencedores. Então, José Tristão, que era marinheiro da Capitania dos Portos, o Espedito, sargento da Capitania, baixo, forte, barbudo, casado com a filha da velha Coló, vieram nos receber com bandeirinhas na mão. Lá no mangue nós tínhamos dado uma derrapada e rasgado a bandeira da canoa. Foi quando o Canã tirou a camisa vermelha que ele estava usando e botou no lugar da bandeira da canoa. As regatas, de ano para ano, foram ficando maiores, mais competitivas. Sempre se realizando no mês de outubro, às vezes antes no mês de setembro, sob responsabilidade da Colônia e dos pescadores. Até quando a Colônia e os pescadores realizavam as regatas, só podiam participar profissionais devidamente documentados. Depois, todos puderam participar.


MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO – GINÁSTICA AERÓBICA ROSE CARVALHO UMA SAUDADE NA VÉSPERA DO DIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA - 1º SETEMBRO LEMBRAR DE QDO TUDO COMEÇOU AQUI EM SÃO LUÍS- MA. CADA “MOVIMENTO” QUE FIZ , FÍSICO OU DE TOMADA DE DECISÃO FORAM IMPORTANTES PARA EU SER QUEM ME TORNEI . ESSA 1ª FOTO É DE JULHO DE 1987- Já fazia mais de um ano que estava nas terras maranhenses ,na ilha de São Luís .Eu Tinha 21 anos . Já Formada em Educação Física em Campina Grande , casada , com um filho, recém chegada da Paraíba cheia de sonhos e muita vontade de viver . E EM TODAS FÉRIAS DE JULHO , ACONTECIAM OS JOGOS DE VERÃO DO CALHAU . E ESSA 1ª FOTO FOI NO 5º JOGOS ,ONDE FUI CONVIDADA PARA AS AULAS RECREATIVAS, QUE ACONTECIAM NA PRAIA DO CALHAU E E EU EM CIMA DE UM CAMINHÃO- PORQUE AINDA NAO TINHA PALCO NESSE PERÍODO DAS FÉRIAS , DAVA AULAS DE GINASTICA AERÓBICA, LEVANDO O NOME DA 1ª ACADEMIA QUE TRABALHEI. ACADEMIA SÃO FRANCISCO DE GRAÇA HELUY MÃE DE MINHA AMIGA @carolheluynutri FUI PIONEIRA NESSA MODALIDADE AQUI EM SÃO LUÍS DESDE 85 QDO NO BRASIL ACONTECEU O BOOM DA G.A.


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO: GREMIO LÍTERO-RECREATIVO PORTUGUES4 1931 junho, 24: reuniu-se uma Comissão para deliberar sobre a organização de uma Sociedade recreativa Agosto, 6 – fundação do Grêmio Lítero Recreativo Portugues , em reunião realizada no IHGM, para proporcionar aos seus associados um adequado ambiente – o Gabinete de Leitura – para a realização de leituras; ademais, além das atividades de viés literário, houve a instalação de uma sala para a prática do jogo de bilhar e demais jogos, bem como a promoção de bailes, palestras, reuniões; daí a agreção de “Recreativo”. 1950 - ATIVIDADES ESPORTIVAS – na sede esportiva, localizada no Anil, iniciada a construção na década de 1950, possuía campo de futebol, quadra poliesportiva para as práticas basquete e voleibol , quadras de tênis, judô, além de sala para a sinuca e futebol de botão, e um espaço para uma academia. Havia campeonatos de xadrez. DÉCADA DE 1980 -Quando da constituição da SEDEL (1979), várias Federações especializadas foram fundadas, no Maranhão. O Lítero participou de todas, como clube fundador. Com a alteração da Lei do Esporte (CND), como só sociedades esportivas poderiam participar do esporte federado, o Lítero preferiu permanecer apenas como literária e recreativa, e teve que deixar a participação no esporte federado. Tinha uma boa equipe de Natação, comandada por José Lauro Serejo Martins; participava, ainda, do Tênis de Mesa, Tênis de Campo, Xadreez, Damas, Basquetebol, Handebol, Voleibol, e Futsal.

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MACEDO, Ada Maria Mesquita de; MACEDO, Lais Mesquita de; MACEDO, Lara Mesquita de. LÍTERO PORTUGUES: 90 anos da história de São Luis. São luis: GLRP, 2001



BALSENSE É MEDALHA DE BRONZE NO VÔLEI NAS PARAOLIMPÍADAS DE TÓQUIO 2021 Publicada em 06/09/2021 às 10h33Versão para impressão

A seleção brasileira feminina de vôlei sentado venceu neste sábado (4) o Canadá por 3 sets a 1 e conquistou medalha de bronze na Paralimpíada de Tóquio. O confronto ocorreu no Centro de Convenções Makuhari Messe, na cidade de Chiba. As brasileiras saíram na frente, vencendo o primeiro set por 25 a 15. As canadenses reagiram, e fecharam o segundo set por 26 a 24. Na sequência, só deu Brasil, que obteve êxito no terceiro set, por 16 a 24, e no quarto, por 25 a 14. O bronze em Tóquio foi o segundo pódio na história da seleção brasileira. No Rio 2016, ela conquistou a primeira medalha na modalidade ao faturar o bronze. A atleta maranhense Pâmela Pereira, de 35 anos, que integra a seleção brasileira feminina de vôlei sentado, comemorou e agradeceu a torcida pelo título. "Que orgulho eu tenho de representar duas cidades 1 que me acolheu de braços abertos e 'aonde conheci o esporte, e onde moro hoje com minha família obrigada Goiânia. Outra e minha cidade onde nasci e fui criada Balsas Maranhão quem diria, olha onde estou, obrigada a todos por tanto carinho e amor sou muito grata. Sou medalhista de bronze Tokyo 2021. Obrigada Trezidela de açúcar, meu bairro que morava em Balsas. Sei que todos meus amigos e amigas estão orgulhosos de mim. Sou medalhista! Beijos meu pai que onde você estiver sei que está orgulhoso de sua filha. (Valderedo) esporte para todos te amo”, publicou Pâmela no Instagram.


NINGÚEM SEGURA MARLON ZANOTELLI! Montando VDL Edgar M, o campeão pan-americano 2019 Marlon Zanotelli faturou o vice-campeonato no GP, a 1.60 metro, do Longines Global Champions Tour, em Roma.



GRANDES TALENTOS NO ESPORTE DE SÃO LUÍS Na capital maranhense, nasceram atletas famosos que compõem a imensa lista dos que fazem parte dessa história.

Atletas maranhenses que se destacaram aqui e lá fora, conquistando títulos importantes. NERES PINTO Grandes talentos no esporte de São Luís | O Imparcial

08 de Setembro de 2021 O Maranhão é conhecido internacionalmente como um dos estados brasileiros reveladores de grandes talentos em diversos esportes. Em São Luís nasceram atletas famosos que compõem a imensa lista dos que fazem parte dessa história. Eles se destacaram aqui e lá fora, conquistando títulos importantes. Difícil lembrar e relacionar todos os astros nas mais diversas modalidades em todas as épocas. Por ser o esporte mais popular do mundo, o futebol teve maior espaço de divulgação na mídia. Os demais, no entanto, não foram esquecidos, pois representaram muito bem o nosso estado.

JOÃO EVANGELISTA BELFORT DUARTE (1883-1918), mais conhecido por, Belfort Duarte, nascido na capital maranhense, marcou época por ter participado da fundação da Associação Atlética Mackenzie College, primeiro clube de futebol formado por brasileiros, em São Paulo. No Rio de Janeiro, em 1907, jogou no América como meio-campista, depois zagueiro, foi capitão, técnico, diretor-geral do futebol e tesoureiro. Abriu as portas do clube rubro carioca aos atletas negros. Encerrou sua carreira no Flamengo-RJ, em 1915, e como pregava respeito total aos adversários, ao ponto de denunciar um pênalti cometido por ele mesmo, por sua lealdade e honradez, acabou sendo homenageado com um troféu que tinha o seu nome, entregue ao jogador que passasse dez anos sem sofrer uma expulsão.


CLÁUDIO VAZ DOS SANTOS, popularmente conhecido como “Alemão”. (Foto: Reprodução) CLÁUDIO VAZ DOS SANTOS, popularmente conhecido como “Alemão” (1935-2021), nascido em São Luís, marcou época como um atleta dos mais completos. Praticou basquetebol, voleibol, futebol de campo e salão, atletismo e natação. Pertenceu a uma geração de destaques do esporte maranhense, nas décadas de 1950 e 1960, e foi coordenador de Educação, Esportes e Recreação da Secretaria de Educação e Cultura, criador do Festival Esportivo da Juventude, embrião dos Jogos Escolares Maranhenses.

SEBASTIÃO RUBENS PEREIRA, Tião 1957-2005), em São Luís, foi um dos maiores destaques do handebol masculino do Brasil. Chegou a ser chamado de “Pelé do Handebol”, pela sua habilidade e técnica capazes de desequilibrar os jogos em sua época. Passou a ser mais conhecido nacionalmente após brilhantes atuações pela Seleção Maranhense de Handebol Juvenil em dezembro de 1973, no Estádio Caio Martins, em Niterói, no Rio de Janeiro, e no ano seguinte em Osasco-SP, onde o Maranhão ficou em quarto e terceiro lugar, respectivamente. Em 1976, Tião foi considerado o melhor jogador de handebol do país e pela seleção maranhense levantou o título de campeão na categoria adulto. Foi parar na Seleção Brasileira de Handebol na função de armador central. Em Nice, na França, era chamado de Maravilha Negra pelo jornal L’Equipe. Morreu aos 48 anos. A maior homenagem está no ginásio de esportes do Parque do Bom Menino.


RAFAEL DUAILIBE LEITÃO, enxadrista, se destaca pelos importantes títulos conquistados, entre os quais o de heptacampeão brasileiro e Grande Mestre Internacional de Xadrez. Ele começou com seis anos de idade e aos nove foi campeão brasileiro mirim (sub-10 – 1989), quando também foi campeão mundial juvenil (FIDE). Em 1995, aos 15 anos, alcançou o título de Mestre Internacional, ao sagrar-se campeão panamericano juvenil, em Santiago (Chile). Defendeu o país em nove Olimpíadas de Xadrez, de 1996 a 2018. Participou de vários campeonatos mundiais. Em Nova Delhi figurou entre os 16 melhores do mundo. É o único brasileiro campeão mundial de xadrez (FIDE) por duas vezes: sub-12, (Varsóvia, 1991) e sub-18 (Menorca, 1996), este último, de alto nível. Mas foi em junho de 2014 que atingiu o rating de 2652, o mais alto de sua carreira. Rafael Leitão foi sete vezes campeão Brasileiro Absoluto de Xadrez:96, 97, 98, 2004, 2011, 2013 e 2014 e hoje continua figurando entre os grandes nomes do xadrez mundial. IZIANE CASTRO MARQUES, ludovicense, moradora do bairro Liberdade, estrela do basquete, destacou-se nas categorias de base do Osasco-SP, e em 2002 jogou pelo Miami Sol da Flórida, sendo mais jovem da Women’s National Basketball Association, aos 21 anos.

Estrela maranhense do basquete Iziane Castro Marques. (Foto: Divulgação) Depois de uma trajetória vitoriosa em diversos países, inclusive da Europa, mostrou seu enorme talento pela Seleção Brasileira, onde se tornou campeã da Copa América em 2001 e terminou na quarta colocação nos Jogos Olímpicos de 2004 e Mundial de 2006. Com a camisa do Brasil fez 870 pontos em 71 jogos. Na volta a São Luís, em 2011, defendeu o Maranhão Basquete e o Sampaio Basquete na LBF em 2016. Hoje, gerencia um projeto social destinado a revelar jovens talentos no esporte da Ilha.


ANA PAULA RODRIGUES BELO (1987) é uma das mais talentosas atletas de handebol do mundo, hoje atuando na Romênia. Graças à sua performance, vestiu a camisa da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008, 2012, 2016 e 2021. Conquistou o Mundial em 2013 na Sérvia. Nasceu em São Luís e começou a praticar esportes no bairro da Liberdade. Ao se destacar na escola Alberto Pinheiro, em 2002 foi morar em Guarulhos-SP, onde permaneceu até 2007 quando assinou contrato com o clube espanhol BM Puerto Dulce Roquetas. Daí em diante, foram vários clubes e títulos na Europa (Áustria, França, Rússia e Romênia) e inúmeras conquistas importantes. Foi campeã dos jogos sul-americanos de Santiago do Chile no ano de 2014, do Pan-americano em 2011 no Brasil, 2013 na República Dominicana e 2017 na Argentina, tricampeã dos Jogos Pan-Americanos, 2011 Guadalajara, Toronto 2015, e Lima em 2019, campeã do Sul-Americano na Argentina.

+ CASEMIRO DE NASCIMENTO MARTINS (1947), ludovicense conhecido popularmente como Rei Zulu, destacou-se como brilhante lutador de vale-tudo brasileiro. Durante 17 anos, foi o grande nome desse esporte no Brasil, conquistando 151 vitórias em 200 lutas. Sua fama o levou a viagens por vários estados e pelo mundo. Desafiou lutadores famosos, inclusive o também invicto Rickson Gracie. O escritor e


procurador do Estado, Bento Tomé, escreveu um livro intitulado “Rei Zulu, a Majestade Bárbara”, contando a história do lutador maranhense. Em novembro de 1984 Rei Zulu conquistou uma das suas mais importantes vitórias sobre o competidor Sérgio Batarelli, lutador de Kickboxing. Apesar de já ter completado 62 anos em 2007, teve três lutas no Brasil e venceu todas elas por nocaute. Só parou em 2008, mas deixou como sucessor o filho Zuluzinho, também destaque nesse esporte.

JULIA LEAL NINA (nadadora), ludovicense, vem mostrando seu talento desde os nove anos de idade no cenário nacional e internacional. Foi campeã dos 10 km da 3ª etapa do Circuito Brasileiro de Maratonas Aquáticas, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 2015. A coleção de medalhas e troféus é imensa é imensa, entre as quais o 1º lugar na 3ª etapa do Brasileiro de Maratonas Aquáticas Infantil e na Travessia do Rio Negro de Maratonas Aquáticas. Aos 17 anos já estava na Seleção Brasileira em Quebec, no Canadá. Teve dezenas de participações em competições internacionais. É tetracampeã do Circuito Nacional pela Seleção Brasileira Principal de Maratonas Aquáticas.

JOSÉ MARIA SILVA FILHO, o Zezinho (1960), nasceu em São Luís e foi criado no bairro Liberdade. É Mestre Internacional de Damas, diplomado pela Federação Mundial. Nove vezes campeão brasileiro em 12 torneios disputados, além de vice três vezes seguidas, ele levantou o título no estado do Maranhão em 21 oportunidades. Antes de ser damista jogava dominó e botão. Aos 13 anos começou a se dedicar com maior ênfase às damas de 100 casas. Em 1978 foi campeão maranhense pela primeira vez. Em 1988 disputou o Campeonato Mundial no Suriname onde ficou na oitava colocação (relâmpago) e décimo primeiro em jogo


normal. No Sul-Americano tem dois terceiros lugares e dois terceiros lugares. Foi considerado o quinto melhor jogador de damas das Américas.

ALLAN IGOR MORENO SILVA, filho do damista Zezinho, nascido em São Luís (1993) é outro destaque nas damas de 100 casas. Grande Mestre Internacional, foi quatro vezes campeão pan-americano, batendo um recorde de um russo naturalizado americano, sendo também o primeiro brasileiro a conseguir esta façanha. Allan Igor, antes já havia sido o mais jovem Grande Mestre Internacional do mundo, título outorgado pela Federação Mundial de Jogo de Damas. Em 2011 e em 2012 foi o único damista das Américas no Sportaccord Mind Games, realizado na China, com 16 participantes de 16 damistas dos cinco continentes. ONDE NASCEU O CRAQUE CANHOTEIRO?

JOSÉ RIBAMAR DE OLIVEIRA, O CANHOTEIRO, mesmo tendo registro de nascimento no cartório do município de Coroatá, na verdade, veio ao mundo em São Luís, onde residiam seus pais, no bairro Diamante, segundo afirma o jornalista Haroldo Silva, que atuou em uma equipe amadora juvenil (Paissandu) na qual nosso maior craque de todos os tempos também jogou, na capital maranhense. “Eu conversava muito com Canhoteiro, um cara que fazia embaixadinhas com bola de gude e sabia driblar e desequilibrar os mais ferrenhos marcadores”, revela Haroldo. “A informação do nascimento dele em São Luís me foi passada pelo seu pai, senhor Cecílio. O registro feito em Coroatá foi por questões financeiras”, atesta. No time do Paissandu também jogavam Celso Coutinho, Hernane, Totó, Schalcher e tantos outros nomes da época. O Canhoteiro não atuou como profissional em nenhum clube do Maranhão. “Uma vez foi cedido pelo Paissandu para jogar um amistoso pelo Sampaio Corrêa e arrasou”, completa o experiente comentarista esportivo Haroldo Silva. De São Luís, o craque foi jogar no futebol cearense (América de Fortaleza), onde chamou a atenção do São Paulo, que o contratou em 1954. Brilhante com a camisa do Tricolor Paulista, por


ser um ponta esquerda extremamente habilidoso, esteve três vezes na Seleção Brasileira, inclusive na fase preparatória da Copa do Mundo de 58. Foi apontado como o maior ponta-esquerda do futebol brasileiro em todos os tempos, inclusive pelo Rei Pelé. A maior homenagem prestada a ele no Maranhão está no nome do complexo esportivo do Outeiro da Cruz, após uma série de publicações sobre sua história em O Imparcial, e aprovação na Assembleia Legislativa, do projeto de lei de autoria do deputado Afonso Manoel, em 2007, no governo Jackson Lago.


OS “PAULISTAS” ESTÃO CHEGANDO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA Laércio Elias Pereira liga e pergunta como desenvolver um sociograma que represente o “quem é quem” – melhor, quem trouxe quem, - no desenvolvimento de um modelo de prática esportiva que foi introduzido no Maranhão na década de 1970. Por sociograma5 se entende “uma representação gráfica de vínculos sociais que uma pessoa tem. É um desenho gráfico6 que traça a estrutura das relações interpessoais em uma situação de grupo”. [...]. Assim, Um sociograma (Jacob L Moreno7) é uma técnica que apresenta diagramaticamente as relações entre os atores de um grupo, permitindo visualizar as relações de afinidade, subgrupos e identificar as pessoas mais influentes (líderes sociométricos). Usual na sociologia, analisa as relações e grau de coesão uns com os outros e com o sistema8. Por “paulistas”9 se entende o grupo de professores de educação física oriundos do Estado de São Paulo que, na década de 1970, vieram a ter no Estado do Maranhão a convite do administrador Cláudio Vaz dos Santos10, então coordenador de educação física, recreação e jogos das Secretarias de Educação tanto do Município de São Luís, quanto do Estado do Maranhão. No princípio dos anos 1970, alguns acontecimentos ligados à utilização de espaços destinados à prática esportiva levaram à administração pública um grupo de jovens que se destacaram no seio esportivo no início da década de 1950, provocando uma verdadeira revolução no meio educacional, em relação à Educação Física e às práticas esportivas, em especial o esporte escolar. Cláudio Vaz dos Santos11, levado à coordenação de esportes da Secretaria Municipal de Educação – e depois, à Estadual – começa a trazer Professores de Educação Física, com formação em nível superior, para suprir a falta destes profissionais no Estado, e cria condições para a participação do Maranhão em eventos esportivos nacionais, destinados à escolares: os Jogos Escolares Brasileiros.

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Sociograma | Definição de Sociograma por Merriam-Webster 6 O desenho gráfico é uma área de matemática e ciência da computação que combina métodos da teoria geométrica do gráfico e da visualização de informações para derivar representações bidimensionais de gráficos decorrentes de aplicações como análise de redes sociais, cartografia, linguísticae bioinformática. Um desenho de um gráfico ou diagrama de rede é uma representação pictórica dos vértices e bordas de um gráfico. Este desenho não deve ser confundido com o gráfico em si: layouts muito diferentes podem corresponder ao mesmo gráfico. No resumo, tudo o que importa é quais pares de vértices estão conectados por bordas. No concreto, porém, o arranjo desses vértices e bordas dentro de um desenho afeta sua compreensão, usabilidade, custo de fabricação e estética. O problema fica pior se o gráfico mudar ao longo do tempo adicionando e excluindo bordas (desenho gráfico dinâmico) e o objetivo é preservar o mapa mental do usuário. 7 Moreno, J. L. (1934), Who Shall Survive?, New York, N.Y.: Beacon House. 8 Sociograma - Wikipédia (wikipedia.org) 9 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÃO DOS “PAULISTAS” PARA O ESPORTE, LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA DO MARANHÃO. In MARANHÃO - Revista Lazerenta - n. 40, abril 2020 por Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu 10 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CLÁUDIO VAZ DOS SANTOS – O ALEMÃO – E O LEGADO DA GERAÇÃO DE 1953. IN CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o Legado da Geração de ´53 by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu 11 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CLAUDIO VAZ, O ALEMÃO - E O LEGADO DA GERAÇÃO DE 53. São Luis, s.d., inédito, alguns capítulos publicados na REVISTA DO LÉO. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MAS, QUEM É CLÁUDIO VAZ? In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, Por Leopoldo Vaz • quarta-feira, 05 de dezembro de 2012, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2012/12/05/mas-quem-e-claudio-vaz/; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. HOMENAGEM A CLÁUDIO VAZ. BLOG DO LEOPOLDO VAZ. 12/05/2013. DISPONÍVEL EM http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2012/12/05/homenagem-a-claudio-vaz-o-alemao/


É quando são instituídos os Jogos Escolares Maranhenses – JEMs -, em sucessão aos que então eram realizados, tanto os Jogos Interescolares, e os Jogos Colegiais (disputados desde a década de 1950 até os anos 1960) e já substituídos pelo Festival Esportivo da Juventude – FEJ (iniciados na década de 1970)12. Laércio Elias Pereira13 foi o primeiro contratado, responsável pelo convite aos demais que aqui vieram se estabelecer. Alguns retornaram, mas a maioria ficou na terra e deixaram um Legado: o(s) Curso(s) de Educação Física – técnico(s) e superior(es) -; a revitalização dos Jogos Escolares; o Esporte Escolar; a Pesquisa no Maranhão na área; a Profissionalização da Educação Física... Este artigo está assentado em entrevistas realizadas em 2001, com vários dos protagonistas desta História. Publiquei três edições da REVISTA DO LÉO em que aparecem depoimentos e documentos sobre o esporte, o lazer, e a educação física no Maranhão, edições especiais, sobre os 40 anos de criação da SEDEL – duas edições disponíveis em VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19_abril_2019 ; VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019

SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 19.1 – ABRIL – 2019 SEDEL – 40 ANOS SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 20 – MAIO – 2019 AINDA OS 40 ANOS DA SEDEL... e uma terceira, sobre o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira, VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec 12

MESQUITA, Raimundo Nonato Irineu. DOS FESTIVAIS AOS JEMs... UM SONHO CONCRETIZADO A MUITAS MÃOS! REV. DO LÉO, ABRIL 2018, P. 63. https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. REV DO LEO, 8, MAIO 2018, p.13 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. INTRODUÇÃO DO ESPORTE MODERNO EM MARANHÃO: Novos Apontamentos para sua História – 1907/1910 REV. DO LEO, 13, OUTUBRO 2018, p. 42 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio.; VAZ, Delzuite Dantas Brito. OS ESCOLARES E OS JOGOS/ESPORTES NO MARANHÃO - REV DO LEO, 14, NOVEMBRO 2018, p. 7 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb 13 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Editor). REVISTA DO LÉO VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA. Disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec



OS “PAULISTAS” ESTÃO CHEGANDO14...

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANOS 70 NO MARANHÃO - "IMPORTAÇÃO" DE PROFESSORES, TÉCNICOS E ATLETAS. REV. DO LÉO 17, março 2019, p. 70 Disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019


Da Esquerda para direita, Laércio (Laércio Elias Pereira, da cidade de São Caetano-SP), Zeca, Zé Pipa (José Carlos Conte, de São Paulo-SP), Sidney (Sidney Zimbres, de Atibaia-SP), Djalma Santos (da cidade de São Paulo-SP) foi contratado para ser técnico do Sampaio Correia Futebol Clube, Marcão (Marcos Antonio Gonçalves, de São Caetano do Sul-SP), Viché (Vicente Calderone Filho, de São Paulo-SP), Gil (Gilmário Pinheiro, de Fortaleza-CE) e Lino (Lino Castellani Filho, de Atibaia-SP). Todos faziam parte de um grupo de professores e Educação Física, envolvidos com duas modalidades esportivas, o handebol e voleibol. Montaram o time de futebol com o nome de Handvô-40.

Nas lembranças de Lino Castellani Filho: Pois é… Estávamos no ano de 1976 em São Luís do Maranhão… Nós – um grupo de professores de Educação Física repleto de utopias — e ele Djalma Santos, então contratado como técnico do Sampaio Corrêa Futebol Clube, um dos grandes do futebol maranhense, ao lado do Moto Clube e do MAC (Maranhão Atlético Clube). Boa parte de nosso grupo trabalhava vinculado ao Departamento de Esporte do Governo daquele Estado, basicamente envolvido com os afazeres de duas modalidades esportivas, o handebol e o voleibol. O contrato de trabalho era de 40 horas… Não deu outra: montamos um time de futebol e demos a ele o nome de… Handvô-40, homenagem ao handebol, ao voleibol e às 40 horas de trabalho – qualquer semelhança com outra expressão… Pois foi nesse time que Djalma Santos foi convidado a jogar e… Jogou! Se nossas conversas o assustavam às vezes (chegamos perto de comprar uma ilha, embalados pelas ideias de A.S. Neill,


fundador da escola de Summerhill), a de participar do time foi recebida com o mesmo sorriso que ele estampa hoje em seu rosto… Duvidam? Pois aí vai a prova! O primeiro da fila é o diretor – presidente do CEV, Centro Esportivo Virtual… O último, este ponta-esquerda que vos escreve! No meio dela, Djalma Santos, junto com Viché, Sidney (ambos professores da UFMA), Gil, “Zé Pipa”, Marcão – o “Véio” – e outros cuja lembrança surge enevoada em minha cabeça… Para Cláudio Vaz: [...] não tinha professor de Educação Física no Maranhão e eu queria fazer um trabalho de nível, eu tinha de pensar primeira coisa que tinha de ter, era o professor tanto para quem quisesse transferir conhecimento, então eu não tinha nada acadêmico, nada elevado nessa área aqui, só tinha professor já superado, dois que já não trabalhavam mais, Braga que era professor daqui [ETFM, hoje IF-MA] e não sei se era formado, Braga, Zé Rosa, Rinaldi Maia. Aí foi que o Dimas começou, trabalhamos juntos, nós acumulávamos, nós éramos árbitros, técnicos. Tudo nós fazíamos, tanto o Dimas quanto o Laércio (de São Paulo) já me ajudou nessa época; foi o primeiro que veio para cá; o pessoal criou muito problema comigo porque eu estava enchendo de paulista. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). LAÉRCIO ELIAS PEREIRA foi o primeiro a chegar: era o ano de 1973: Tendo voltado da Olimpíada com vários cursos de handebol e sendo treinador de HB da General Motors EC e da Seleção Paulista Feminina e prof. de Handebol na Escola Superior de Educação Física de São Caetano, fui convidado a dar cursos pela Brasil pela ODEFE, onde eu já tinha contato através da Revista Esporte e Educação (escrevia o Rumorismo e dava palpites gerais). Houve um circuito de cursos que incluía Maceió, São Luís e Manaus. Era 1973 e eu treinava a seleção paulista feminina que ia para os Jebs. Acertei com o namorado de uma das minhas atletas (que ia apitar os Jebs) para cuidar de alguns treinos enquanto eu ia dar os cursos. Só manutenção, para o pessoal não ficar sem treinar. Dei o curso em Maceió e, em São Luís, enquanto dava o curso, ajudava a treinar o time de handebol que ia para os JEBs. Deu problema no curso de Manaus e o Cláudio Vaz pediu que eu ficasse treinando o time o tempo que estaria em Manaus. Depois pediu para que eu acompanhasse a equipe nos JEBs, em Brasília. Eu disse que não podia porque tinha compromisso com a seleção paulista. Quando voltei para São Paulo, o meu substituto tinha conseguido me substituir totalmente. Liguei para o Cláudio Vaz e acertei a ida para Brasília. Conseguimos classificar o time para as quartas de finais, mas no dia que ia começar essa fase o basquete levou todos para jogar o campeonato em Fortaleza, e ficamos em oitavo. Voltei em janeiro de 1974, para morar no Maranhão. Resolvemos, Cláudio e eu, chamar o Prof. Domingos Salgado15 para montar o processo de criação do curso de Educação Física na Federação das Escolas Superiores [do Maranhão - FESM -, hoje, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA], o que aconteceu com o empenho do secretário Magno Bacelar e o Assessor João Carlos, ainda em 1974. Quando cheguei a Simei estava de saída, ou tinha acabado de sair. Rinaldi Maia era assessor da Secretaria de Educação e treinador famoso de Futebol. O Dimas era o mestre das Escolas e do Esporte Escolar. Felicidade Capela tinha o curso de Normalista Especializada no Rio. Rinaldi tinha se formado no Rio, com uma ótima geração de treinadores de Futebol, como os Moreira. Soube pelos professores 15

DOMINGOS FRAGA SALGADO – professor de educação física foi um professor de Educação Física da UFMA; trabalhou no MEC, na África. Seu genro, Enzo Ferraz, médico ortopedista, atua em Medicina Esportiva, no Maranhão


– e depois pelo Rubinho [Rubem Teixeira Goulart Filho ]– que o Rubens Goulart tinha tido um papel importante, inclusive foi quem fez o primeiro contato com o Listello (deve ter feito um dos cursos de Santos). Teve também uma turma do DED, com o Ari Façanha e um pessoal do Rio. Bom recuperar também o curso de Medicina Esportiva... José [Pinto] Rizzo Pinto esteve ... Tem que puxar isso com o Cláudio Vaz e Dimas. Simei Bilio, Rinaldi Maia e Dimas eram da Universidade, depois entrou o Domingos Salgado, que fez o velho trabalho de montagem do curso (tem que perguntar isso para o Dimas). Acho que teve a pressão na inação da Universidade enquanto o FESM e Pituchinha já tinham saído na frente em criar o curso de Educação Física.

Domingos Salgado UFMA

Laércio SIMEI RINALDI DIMAS

Domingos Fraga Salgado


SIMEY RIBEIRO BILIO – MISS JAGUAREMA 1956 – PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FUNCIONÁRIA DO MEC, QUE VEIO IMPLANTAR AS PRÁTICAS ESPORTIVAS NA UFMA, AJUDANDO A CRIAR O CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

Blog Futebol Maranhense Antigo: Rinaldi Lassalvia Lauletta Maya, um técnico na verdadeira concepção da palavra

Aqui cabe um estudo mais apurado sobre quem trouxe quem, mas é bom juntar a listagem dos “paulistas”. Biguá, Viché, Horácio, Domingos Fraga Salgado, Demosthenes, Nadia Costa, Jorelza Mantovani, Marcos Gonçalves, Sidney Zimbres, Lino Castelani, José Carlos Conti, Zartu Giglio, (tem um dessa turma que eu esqueci o nome), o Paschoal Bernardo... Não lembro quem trabalhou no curso do ITA. O Sidney deve ter todos os nomes. Biguá16 vem junto, quase à mesma época, com Laércio, ainda em 1973, para apitar os Jogos, e em seguida, integrar as seleções maranhenses de handebol, conforme relata: Laércio Elias Pereira, em 1973... Para ser preciso ele contatou comigo no dia 08 de setembro de 1973, foi contato maluco... Aí Laércio virou - dia 08 de setembro, virou para mim e disse: - "Quer ir para o Maranhão?” - Virei, "como?" - Vai ter os Jogos - primeiros JEM’s 73 -, e eu preciso levar uns caras para apitar, ai tu vai apitando Handebol, tu queres ir? Aí eu disse, "quando?" ele disse: - "Depois de amanhã nós teremos que estar lá, não dá nem tempo de tu pensares!" Ai eu disse: "tô nessa". Eu sei que no dia 10, eu estava aqui com o Laércio, desceu eu, Laércio... Eu, Laércio, o rapaz, o professorzinho de... Milton usava uns óculos pequeninho - o nome completo dele, eu não lembro. Milton, Laércio, eu, Milton, Laércio. Ai é que quando o Laércio disse assim: vai ter o primeiro Campeonato Brasileiro de Handebol Juvenil, vai ser em Niterói, vai ser final de novembro, em Niterói. Nós estávamos em setembro. - Aí, por, tu queres ficar para jogar?... Ai Laércio disse: "Como é que a gente faz?”- Eu disse: "Faz o seguinte, me arruma passagem e vou até São Paulo, eu vou conversar com meus pais e eu trago o Turco e Dugo - que eram meus companheiros na General Motors. Laércio disse: " bem pensado". O Viché (Vicente Calderoni, professor de handebol da UFMA, hoje), nessa época jogava no Juvêncio, não jogava com a gente não. Ai Laércio disse: "Legal, legal". Ai, eu fui para São Paulo, contei a história para 16

ENTREVISTA com Edivaldo Pereira Biguá, realizada na Sede da Federação Maranhense de Voleibol, no Ginásio Costa Rodrigues, no dia 04 de julho de 2001 com inicio às 10:07hs.


meu pai e minha mãe - eu vou voltar para o Maranhão -, convenci o Turco e Dugo. Ai o que acontece, o seguinte, eu vim na frente e eles ficariam de vir depois, eles estavam estudando - nós estudávamos no mesmo colégio, era no Colégio Barcelona, já nessa fase-, aí eles vieram; aí, nos fomos para o Brasileiro. Laércio, técnico; quando nós chegamos lá, para nossa belíssima surpresa, nós conseguimos o 3º lugar do Brasil. Você sai do 18º em julho, em novembro você em 3º lugar no Brasil; ficou São Paulo, Minas e Maranhão, daí que começou a força do Handebol no Maranhão; ai onde entra o Laércio, com o Viché, eu fui para ...

LAERCIO

DOMINGOS SALGADO

BIGUÁ

VICHÉ


Marcão17, convidado por Laércio, veio em seguida. Fala sobre sua vinda para o Maranhão, de como foi o trabalho inicial, de implantar as escolinhas de esportes, trazer as pessoas para assumir os diversos cargos e funções e os primeiros jogos: Eu, já cansado de São Paulo, e tendo trabalhado com Laércio do SESI de São Caetano e Santo André - a mesma equipe que fazia os esportes do SESI -, eu decidi sair de São Paulo, quando de um JEB's que a gente apitou em Brasília, acho que handebol; em Brasília, e o Laércio estando por aqui em São Luís, nos convidaram para visitar; eu como já tinha intenção de sair de São Paulo não aguentava mais aquela cidade danada, acabei vindo visitar São Luís e em duas semanas como diz outro, fechei a conta e vim embora... Como eu me encontrei com o Laércio, que já estava aqui no Maranhão, em Brasília com a delegação do Maranhão. Ele nos fez esse convite para vir para conhecer São Luís foi à época de julho, eu vim; inclusive na época eu vim com Júlio, Júlio do Gás, Julinho, não sei se tu já fizeste algum detalhe sobre o Júlio também, foi a primeira vez que nós viemos para cá; viemos de ônibus de Brasília para São Luís e aqui nós ficamos duas semanas passeando e quando eu voltei para São Paulo, já voltei com alguma coisa acertada, na época com Carlos Alberto Pinheiro Barros; então, eu não vim para apitar o JEM's, vim já para trabalhar no antigo Departamento de Educação Física (DEFER, de São Luís-Maranhão) juntamente com o diretor na época o Carlos Alberto Pinheiro de Barros... Prossegue: Então eram somente elementos que estavam aqui, depois é que, através de Laércio, e de vir é que nós fomos trazendo todo esse pessoal, que foi Zartú, que foi Levy, que foi Júlio, que foi José Carlos Fontes, Sidney, toda a equipe se formou aqui, Demóstenes já estava. Demóstenes estava chegando à mesma época que eu... Domingos Fraga, já estava aqui também. Só que não no Departamento de Educação Física do Estado.

NÁDIA

LAERCIO

DOMINGOS

BIGUÁ

VICHÉ

MARCÃO

JULIO

DEMÓSTENES

JORELZA

Em seguida, trazido por Marcão, Sidney Zimbres18, que ajuda a clarear a questão de quem trouxe quem, nessa época, para o Maranhão:

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GONÇALVES, Marco Antonio da Silva. ENTREVISTA com o professor, Marcos Antônio da Silva Gonçalves, realizada no Estádio Nhozinho Santos, 09:35. 2001

ZIMBRES, Sidney Forguieri. ENTREVISTA realizada com o professor Sidney Forghieri Zimbres, na residência do entrevistador, à Rua Titânia n.º 88, Recanto dos Vinhais, no dia 24 de março de 2001, iniciando às 8:30 horas.


Isidoro, Sidney, Dimas e Zartú [Meu] Contato com o Maranhão foi com o Marcos [Marco Antônio Gonçalves], que me trouxe; o Marcos não terminou o curso [de Educação Física, da USP], veio embora... Quem trouxe o Marcos foi o Laércio; o Marcos ficou trabalhando aqui, ele me escreveu perguntando se eu não tinha a intenção de vir para cá, ai eu falei - me leva para dar um curso, para eu ver como é que é. Foi em 19... Em outubro vim aqui, no JEM’s em 1975, eu vim para dar um curso de voleibol; dei o curso de voleibol em outubro, ai eu coordenei o voleibol nos Jogos Escolares, e ai eu fiz um contrato de três meses... Lembrome bem disso... Para ver se ia dar certo, na época quem estava à frente do DEFER era o Carlos Alberto Pinheiro19; já havia saído o Cláudio Vaz, o Governador do Estado era o Nunes Freire... O primeiro ano dele... Ai foi quando ele implantou, fez aquela reformulação do Serviço Público, criando [a função de] Técnico de Nível Superior - TNS -; foi que eu recebi o convite e eu fui contratado pela Secretaria de Educação em [19]76, entrei como TNS, técnico em nível superior, nível 3. Então era Laércio, eu e Lino; Lino já tinha vindo para cá; o Marcos me trouxe; eu trouxe o Lino; depois eu trouxe o Zartú; ai o Marcos ainda trouxe o Júlio, que veio antes do Zé Pipa... Júlio... O sobrenome eu não lembro mais, não é difícil de pegar... Julinho ficou pouco tempo aqui e foi embora, teve um problema no pulmão até numa aula minha... Depois veio o Zé Pipa, que era José Carlos [?], que trabalhou no futebol, no Sampaio Correia, era repórter da TV Bandeirantes... Esporte... Então ai nós criamos o curso de Educação Física no ITA... (ZIMBRES, Sidney. Entrevista). Sidney quem convida Lino Castellani Filho20 - outro "paulista": Foi através do Sidney, que tinha ido para o Maranhão antes de mim na época eu estava, eu estava trabalhando em Ribeirão Preto, no Botafogo de Ribeirão Preto, e eles estavam montando equipe de trabalho no Maranhão: o Sidney estava empolgado, de férias em Atibaia, cidade onde ele morava, os familiares moravam, onde nós nos conhecemos, enfim. 19

CARLOS ALBERTO PINHEIRO BARROS economista, dirigiu a Coordenação de Educação Física e Desportos, depois Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação, em substituição à Cláudio Vaz. 20 ENTREVISTA realizada com o professor Doutor Lino Castellani Filho, realizada no dia 06 de abril de 2001, inicio às 18:06 horas, hotel Ouro Verde, em Maringá, Paraná.


Ele fez alusão ao Maranhão, e me convidou para conhecer o Maranhão, e foi por ele então que eu fui no primeiro momento. Lá, montaram um esquema de visitas, todo ele sedutor, e eu fui totalmente seduzido pelo Maranhão. Foi em 76, começo de 76.

Prof. Dr. Lino Castellani Filho Cabe ressaltar que haviam outros profissionais atuando em São Luis e no interior, como em Imperatriz. Alguns, com curso na área da Educação Física, em sua maioria monitoria feita na Escola do Exército, outros na Escola Nacional, na década de 1940, a exemplo de Alfredo Duailibe (médico esportivo), Rubem Goulart; Rinaldi Maia; do Exército, Dimas, Aldy, Juarez, além de inúmeros ‘leigos’ que aqui atuavam, como Geraldo, Macário, e muitos outros. Laércio, com a metodologia do Listello adotada, em especial a Desportiva generalizada, e a criação de diversas escolinhas de esportes, funcionando no Ginásio Costa Rodrigues e no Rubem Goulart, começou a formação de ‘monitores esportivos’, utilizando-se de atletas escolares, que estavam ‘estourando’ a idade para as competições, e treinando-os e colocando-os nas diversas escolas, em especial as públicas, para formarem as equipes esportivas escolas, nas diversas modalidades: Handebol – aí ficaram Biguá e Viché, e depois Tião, Rubilota, Gastão, -; Basquetebol – com os irmãos Carlos e Paulo Tinoco; Voleibol – com Gilmário, Ginástica Olímpica – Patinho, Raimundão -; e tantos outros. Horácio, Julio Dugaich, José Carlos Conte - Laércio trouse esses três, mas não ficaram por aqui, por problemas de saúde e/ou familiares; atuaram por pouco tempo, não se fixando em nenhum dos lugares à disposição; não contribuíram com nada; Silcio foi trazido por Laércio, então professor na UnB; após negociações com os reitores – Cristóvão Buaeque e Jeronimo Pinheiro, permanenceu aqui por cerca de três anos, sem apresentar qualquer tipo de serviço; professor da UFMA, raramente compareceia ás aulas; quando foi de sua efetivação o DEF votou por sua devolução à Brasília, pois não ‘fazia nada’.


IZIDORO

PASCOAL

VICHÉ

HORÁCIO

DOMINGOS

BIGUÁ

LAERCIO

SILCIO

MARCÃO

NÁDIA

DEMÓSTENES

JORELZA ZÉ PIPA

SIDNEY

JULIO MOACIR

ZARTÚ

LINO

TRAJANO LÉA

BRANCO

APARECIDA


SUBGRUPOS

DEFER / SEDEL CLÁUDIO VAZ / CARLOS ALBERTO/ ELIR DIMAS LAERCIO

R SGT. LOPES

BIGUÁ

MARCÃO

RICARDO VICHÉ

SIDNEY

LEOPOLDO ZARTÚ

ALBERTO

TRAJANO

BRANCO

LÉA

APARECIDA

DIMAS – maranhense, sargento do Exército, volta ao Maranhão em meados dos anos 1950 e se intregra à Educação Física, e aos Esportes à partir dos anos 1960 SGT. LOPES – mineiro, de Juiz de Fora, lotado no 24 BC, monitor de Educação Física, e técnico de Atletismo, atuando no DEFER RICARDO – paulista, técnico de Basquete, atuou no Maranhão por uns meses, na administração do Carlos Alberto Pinheiro, no então DEFER; foi trazido mpor Paulão LEOPOLDO - paranaense, veio para o Maranhão através do Projeto Rondon, para atuar em Imperatriz; em 1979 transferiu-se para São luis. Não faz parte do grupo dos paulistas BRANCO e LÉA – paranaenses, de Londrina, marido e mulher, ambos professores de educação física, ele atuando no Voleibol, ela na Ginástica Ritmica; vieram convidados por Zartú; não fazim parte do grupo dos paulistas ALBERTO – Betão – paranaense, professor de educação física, foi trazido por um dirigente do SES-SE para atuar na SEDEL; não fazia parte do grupo dos paulistas TRAJAO e APARECIDA – ele, pernambucano, ela paulista, professores de educação física, atuando como técnicos de Atletismo, foram trazidos por Moacir; pode-se considerar como do grupo dos paulistas


UFMA

ITA/UFMA/ FESM /IF-MA

SIMEI

SGT. LOPES

RINALDI

DIMAS

LAERCIO LEOPOLDO NÁDIA SIDNEY

DOMINGOS

DEMÓSTENES

SILCIO ZARTÚ

LINO

MOACIR PASCOAL

ISIDORO

VICHÉ

TRAJANO

DEFER/SEDEL; ITA; UFMA; IF-MA – LAÉRCIO DEFER/SEDEL; ITA - LOPES DEFER; FESM; UFMA – ZARTÚ; DEFER; UFMA - VICHÉ ITA; UFMA; SEDEL – SIDNEY ITA; UFMA - DOMINGOS, DEMÓSTENES, LINO UFMA – NÁDIA, PASCOAL, SILCIO; MOACIR; ISIDORO FESM; UFMA, IF-MA – LINO SEDUC; FESM/UEMA; IF-MA – LEOPOLDO SEDEL; IF-MA; UFMA – TRAJANO SEDEL; IF-MA - APARECIDA

Lembrando que Viché veio como atleta de handebol, ficou como monitor de educação física/técnico de handebol, atuando no DEFER e em várias escolas; depois, foi cursar Educação Física, iniciando no ITA e depois na UFMA, em nível superior; após o térmi


no do curso, ingressou como professor de handebol, por onde se aposentou

DEFER ITA SEDEL

LAERCIO

FUM

ETFM

UFMA

CEFET-MA

MARCÃO

DEMOSTENES

SALGADO

SIDNEY

LINO

MOACIR

ZARTÚ

PASCOAL

TRAJANO

VICHÉ

ISIDORO


"QUANDO UMA LUTA DE TELECATH MONTILLA VIROU UMA LUTA CAMPAL" MHARIO LINCOLN

Só para constar: em uma de minhas empreitadas, ainda menino, tentei ser lutador de “Telecath Montilla”. E claro, ser o “Ted Boy Marino”. E quem, não? Mario Marino, o ‘Ted Boy” era um ídolo. O galã tinha muita popularidade entre as crianças e o público feminino. O “Telecath” era, na verdade, um ‘espetáculo-marmelada’. Mesmo assim, fazia muito sucesso nas décadas de 60/70. Pois bem. Para armar a coisa, precisava de um empresário e um cara bom para ganhar no ‘bico’ a plateia e arrecadar uma grana para comprar ‘papagaios’ na Barraca de Zezé Caveira, o melhor artesão de pipas da história de São Luís do Maranhão e participar das lanceadas no ‘Cuvão’ da Madre Deus. Foi assim que convidei meu amigo Júlio para ser o empresário. Pedi um dinheiro para tia Mary Santos (aquela tia xodó da gente) e, com mais três amigos, montamos um ringue na rua dos Afogados, em frente a minha antiga casa. A lona pesada e bem áspera que cobria o tablado era do caminhão de seu “Dega”, entregador de mantimentos. Prestava serviço para a “Mercearia Neves”, onde mamãe tinha uma Caderneta de Fiado. O pagamento era ao final do mês. Ringue pronto, formamos dois confrontos. O cara esperto que me referi acima era “Tucum”. Ele recolheria as ‘doações’ da plateia. Fui buscar uma caixa de sapatos de minha mãe (ela nunca soube o que aconteceu com aquela caixa desse produto estrangeiro) e entreguei para ele fazer o serviço. Assim, enquanto a primeira luta rolava no tatame, ele recolhia a contribuição de quem estava assistindo. Mamãe não tinha a mínima ideia de nada. Chegou, então, o momento da minha luta. Eu estava ‘crente’ de que eu era o “Ted Boy Marino”. O lutador que escolhi para enfrentar era magrinho (chamava-se ‘Manga’):“uma presa fácil”, pensava eu com minhas sapatilhas altas de napa vermelha e ilhós grossos de bronze, entrelaçados com cadarço tirado das botas do meu tio, expedicionário. Estava nos ‘trinques’. Mas.… Na primeira investida o adversário aplicou um “raspa” e eu fui de cara na lona. Cortou a minha sobrancelha e começou a sair muito sangue. A vizinha da frente, olhando aquilo, pegou o telefone dela e ligou para o jornal onde mamãe trabalhava 1533 - esse era o número.


Mamãe tinha uma camionete AeroWillys. Veio em desabalada carreira. Como não sabia dirigir tão bem naquela época e como o carro não tinha direção hidráulica, ao entrar na rua dos Afogados perdeu o controle e derrubou parte da fachada da casa do Delegado do Trabalho - autoridade que morava na esquina. A partir daí, a inocente luta de “Telecath” virou uma luta campal. Veio ambulância do Pronto Socorro do Hospital Português, a Kombi preta e branca - Chiquita Bacana - da Polícia e o fusca vermelhão dos Bombeiros. Imaginem o bafafá e o tempo que tudo isso durou. Passado o susto, procurei o amigo que arrecadava a grana para somar e dividir o apurado. Não o encontrei. Dias depois fiquei sabendo que “Tucum” aproveitou a confusão e zarpou para a Padaria Santa Maria com a paquera Gracinha. Foram se deliciar com a famosa bolachinha da padaria e com o não menos famoso refresco de maracujá. E gastaram toda a nossa ‘ensanguentada’ grana...


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO "As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.


CURRICULUM VITAE ATUALIZADO Nasci, como todos, do amor dos pais e da dor de uma mãe. O crescimento foi diferente do de alguns. Não descendo de nobres e possidentes; o sangue não é, pois, azul. A casa, onde vi a luz do dia, já não existe; só restam as paredes esborralhadas. Aprendi, muito cedo, a perceber da terra dura, das pedras agudas, da chuva inclemente, do vento agreste, do sol escaldante e das trovoadas assustadoras. Destas só nos protegia a imagem de Santa Bárbara, exposta na porta da igreja. Ouvi histórias que metiam medo. Vivi funerais de meninos e meninas que morriam mal acabavam de nascer. E também tive lições sobre crenças, milagres e o céu estrelado. Era ainda criança, quando concluí (Maxima cum Laude!) o doutoramento na matéria e recebi o respetivo diploma. Tenho este encaixilhado numa moldura dourada e levo-o comigo para toda a parte. Fui obrigado a ser migrante. Percorri inúmeras etapas; não me lembro como venci a maioria, até porque não corri sozinho as mais importantes. A sorte do casamento com uma mulher extraordinária e os filhos exemplares, que vieram, conferiram coautoria à caminhada, renovada com a chegada da neta maravilhosa. Andei pelo mundo. Conheci árabes, afegãos, gregos, índios, mongóis, judeus, africanos, eslavos, turcos, chineses, japoneses, coreanos, indianos, cambojanos, vietnamitas, tailandeses, malaios, mauberes e todo o arco-íris do universo. Apenas sinto preconceito em relação à malvadez, ínsita e viva nas reencarnações atuais do fascismo, do nazismo e capitalismo selvagem, de Nero e Torquemada. Sou do tempo em que se consertava e não deitava fora o que, por vezes, quebrava. Hoje celebramos 50 anos de casamento. Canto a gratidão! Não olvido donde venho. Continuo a entender da terra dura e das pedras agudas, transformadas em palavras e voz para que a aspereza e a agrura se tornem gentileza e doçura. Sou Doutor Honoris Causa na vida sólida; não me seduz a líquida. Os meus olhos veem no espelho a imperfeição. Ah quanto há e sempre haverá por fazer! DA MENTIRA E DA VERDADE A mentira é ágil e ligeira como a lebre. Esta, apesar da perna curta, atinge 55 quilómetros por hora, o que lhe permite deslocar-se rapidamente de um ponto para o outro. Porém, tem pouca duração de vida, porquanto é facilmente apanhada pelos seus caçadores. A verdade assemelha-se à tartaruga. A marcha desta é lenta; demora, pois, muito tempo a chegar ao destino. Em contrapartida, a sua longevidade pode alcançar o marco dos 450 anos. CONVERSANDO COM OS MEUS BOTÕES Há idosos que possuem e usam vários óculos, uns visíveis, outros não, de diverso formato e com apurada visão. São capas e lombadas de livros e têm bibliotecas por dentro. Por isso veem mais longe e melhor, falam sobre as circunstâncias e os tempos, o sentido instrumental das coisas e o que é estar vivo. Conseguem assim enfrentar o vazio. Se muitos jovens prestassem atenção ao jeito de ser e agir daqueles idosos, deixariam de só reparar e ter interesse nas coisas, minariam, pouco a pouco, a imaturidade e suceder-lhes-ia o mesmo, quando entrassem na velhice. Haviam de gostar e o mundo seria um prado de sorrisos. INTELIGÊNCIA E ESPERTEZA A inteligência é alvíssima, clarividente, leve e transparente. Está casada com o fulgor da verdade; e dá-se bem com a bondade, a generosidade e a beleza. Quando se divorcia deste casamento, torna-se cinzenta, manhosa, pesada e soturna; muda de nome e passa a chamar-se esperteza. Partilha então cama e mesa com a fealdade e a maldade, com o oportunismo e a safadeza.


NO DIA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA Na trajetória da Civilização e da Humanidade há um ‘antes’ e um ‘depois’ da criação da figura do ‘pedagogo’, da ‘paideia’ e da ‘escola’. Ergue-se então a fronteira que pretendia fechar as portas à besta e cegueira da ignorância e abri-las à curiosidade e luz do saber e à instrumentalização deste para um mundo melhor. Professor, tens a devida noção do que significou a tua origem e a da educação escolar, e do que recebeste em herança? Fazes ideia da barbárie de outrora e da que está viva agora? Percebes a finalidade cimeira da tua ação? Laboras no aprimoramento do corpo e da criatura, para edificar a Pessoa como síntese harmoniosa da natura e cultura. Não apagues a memória, nem deixes fenecer aquela esperança! PRIMO LEVI: MURRO NA CONSCIÊNCIA Em Wannsee, nos arredores de Berlim, há uma casa onde, no dia 20 de janeiro de 1942, se reuniram dirigentes nazis para ultimar os pormenores do extermínio total dos judeus, sob a orientação de Reinhard Heydrich. Oito dos 15 facínoras presentes possuíam o grau de Doutor, ornamento que evidencia bem o teor ético da instrução dita ‘superior’, então como agora! As salas do edifício estão decoradas com imagens e frases das vítimas. Uma das citações é de Primo Levi: “Aconteceu contra todas as previsões; (…) aconteceu que um povo inteiro civilizado (…) seguisse um histrião cuja figura hoje provoca o riso; e, no entanto, Adolf Hitler foi obedecido e adulado até à catástrofe. Aconteceu, logo pode acontecer de novo; é este o cerne do que temos para dizer.” Sim, pode e está a acontecer. Olhem para o nosso querido Brasil, para outras paragens e para dentro de portas: são altas as labaredas das fogueiras atiçadas pelos feiticeiros neofascistas. Não as vedes?! Sofreis de grave doença, não nos olhos, mas na alma. PARALÍMPICOS Partiram para Tóquio, com o rosto iluminado por um sol que não se mostra na maioria das pessoas. A alma e o corpo transbordavam de entusiasmo e fogo. E de uma fé que arrasa as assustadoras montanhas da impossibilidade. Aprenderam a ser assim ao longo dos anos. Carregados de ilusões, o doce alimento da felicidade, nunca deixam de recomeçar e sonhar que amanhã será outro dia: promissor, belo e resplandecente. Com razão, porquanto a Humanidade encontra sempre maneira de se reerguer e exaltar. Não devíamos, pois, cansarnos de dar provas disso. Mas, nos dias transatos, quase não houve notícia dos Jogos Paralímpicos que conhecem hoje o seu termo. Afinal, é assaz apertado e fatigante o caminho dos princípios e ideais; custa muito andar nele. Ficamos, demasiadas vezes, aquém de nós. DA MALDADE DE ÉOLO No Panteão grego há deuses bons e maus, olímpicos e grotescos. Éolo, o guardião dos ventos, não possui um carácter claramente definido. Tem o poder de enviar cada tipo de vento para a direção que lhe aprouver. Por isso está ligado tanto à bondade como à maldade, havendo provas suficientes (por exemplo, as tempestades desencadeadas no mar, causadoras de terror e morte a muita gente) de que a segunda é predominante. A ruindade de Éolo ficou, mais uma vez, à vista. Deslocou a ilha flutuante, em que mora, para o Oceano Atlântico, perto da costa do Brasil. Este devia celebrar amanhã 199 anos de independência; mas o deus da perfídia conseguiu, com uma nuvem de poeira, cegar muitos cidadãos e levá-los a eleger para presidente e rotular de ‘mito’ um ser horrendo e execrável. Ademais, tirou-lhes a inteligência e lucidez e transformou-os numa súcia de aberrantes fascistoides. Em vez de cantarem a alegria, as cores e a


DA ABSURDIDADE E SEM-VERGONHICE

Parece não haver volta a dar! Para aumentar os ganhos de notoriedade, galgar degraus e passar a perna a outros na escalada da carreira política ou profissional, temos que, doravante, fazer declarações públicas acerca da nossa orientação sexual. Tornar-se-á isto rubrica obrigatória do curriculum vitae? O que é que temos a ver com a orientação sexual do outro? Isso é um não-assunto. Haja Deus e, sobretudo, uma potente onda de indignação perante a sem-vergonhice dos descarados oportunistas! Afinal, não lhes basta ser pequeninos; também são o resto. COM QUE ENTÃO GOSTAM DE MEDALHAS OLÍMPICAS! Desceu o pano sobre os Jogos de Tóquio. É tempo de rescaldo e de avaliar a coerência e a consistência das proclamações. Por isso aqui vai, sem rodriguinhos e falas mansas. São hipócritas muitos dos que tanto apreciam as medalhas olímpicas, gostam de felicitar os vencedores e tirar selfies com eles, e dos que tecem críticas à falta de condições para chegar ao pódio. Porquê? Querem sol na eira e chuva no nabal! Não basta gostar; é preciso querer de verdade. E isso implica dar passos nessa direção, porque as medalhas não caem do céu como maná gratuito. Desejarão os 'medalheiros' que haja um sólido investimento na educação física, lúdica e motora dos portugueses? Defendem um desporto escolar a sério? Vão abrir mão de uma escola orientada para os rankings e a obtenção das classificações tão desejadas para entrar no ensino superior? Têm coragem e lucidez para romper com a ideologia que se apoderou da vida e só valora positivamente o que é da ordem do utilitário? Provem isso com atitudes! Não acredito na maioria dos políticos, cidadãos, pais, comentadores e ‘achadores’, nem tampouco na maioria dos professores! Sim, não acredito que estejam disponíveis para exigir e apoiar uma profunda reforma da educação, apostada na realização do talento das crianças, dos adolescentes e jovens, nas diversas áreas. O que vós apreciais, insisto, é a oficina das notas, não a escola axiológica, cultural e pluridimensional. Pactuais com o desperdício do potencial dos alunos e com uma visão ‘educativa’ exaurida, que nada mais contém para melhorar a Humanidade. Estou a ofender-vos? Fico à espera de razões para me penitenciar! No entretanto, leiam o “Mandado de despejo aos mandarins do mundo” e a todos que sejam como eles, de Fernando Pessoa (Álvaro Campos). Vivemos no podre. ‘NÓS-OUTROS’ O castelhano tem a palavra ‘nosotros’ para significar o que em português dizemos com a junção de duas. ‘Nós-outros’ subentende que existimos, nos formamos e prolongamos na mistura e alteridade; estamos ligados uns aos outros por uma linha de pertença à mesma entidade. Somos, pois, ramos de um tronco comum. Todos são nós e outros em simultâneo. Em cada ‘eu’ há um ‘outro’; em cada ‘outro’ habita um ‘eu’. A diferença é constituinte da identidade, dá sentido, finalidade e valia à 'comunidade'. Não é fácil este entendimento, mas não estamos desobrigados da sua compreensão e aplicação, por mais difícil que se apresente o empreendimento. BRASIL: UMA UTOPIA LUSITANA Somos originários da Mesopotâmia; talvez não seja esta a designação mais apropriada, porquanto são muitos os rios, todos eles com águas caudalosas e férteis, em que fomos batizados e nos inundaram de messianismo. Ao passar por Jerusalém aprendemos a apreciar e a ter saudade das terras do leite e do mel que lá não havia. Conhecemos o Deus de Israel, as figuras bíblicas, os descendentes de Abraão, os profetas, a Lei de Moisés, a justiça de Salomão. Ainda não tinha chegado o Messias e a promessa da ressurreição. Fomos até à Grécia, pátria de mitólogos, filósofos e vates criadores da Divindade e da Humanidade. Ensinaram-nos que a perda da memória acarreta a da consciência e leva à nossa degradação em porcos.


Tomamos boa nota do ensinamento e acompanhamos Homero na Odisseia. Não perdemos de vista Ulisses na sua errância à procura de Ítaca. Incitamo-lo a não temer os deuses Bóreas e Éolo e os ventos e tempestades que estes desencadeariam. Navegamos pelo Mediterrâneo e chegamos a Roma. Aí ficamos o tempo suficiente para aprender novos olhares e ofícios. Era chegado o tempo de sair do mar estreito e fechado e partir para outras paragens. Tínhamos por missão inventar mastros e velas para as caravelas da inquietude, e navegar pelo mar aberto, imenso, infinito e incógnito. Não conhecíamos essa arte, apenas a de cavar e lavrar. Mas largamos os arados e charruas, descemos das montanhas e atamo-nos a mastros, lemes e remos. Num rufo acordamos as técnicas prometeicas, adormecidas dentro de nós. Para bússola tomamos o astrolábio da fé, a capacidade de fitar o céu e as estrelas, de invocar a proteção de Deus, dos vários nomes de Santa Maria e de todos os santos. Entramos no Oceano Atlântico como quem apalpa o terreno que pisa. Cada viagem realizada tornou-nos mais afoitos e desafiou-nos a alongar a distância, a buscar novas paragens, a enfrentar o desconhecido, a descobrir o mundo por achar. E isto tornou-se tão viciante que nem os naufrágios e as mortes nos fizeram parar. Quantas mães em vão rezaram, quantas viúvas e filhos em desespero choraram, quantas noivas puseram luto e ficaram por casar, quantas procissões se realizaram, quantos cadáveres a sepultura em ti encontraram, para que fosses nosso, oh mar! Valeu a pena? Fomos além da dor, dobramos o Bojador e todos os cabos do medo, da desconfiança, das tormentas e da traição. Enfrentamos as fauces medonhas e grotescas do Adamastor. E a esperança foi ganhando forma desmedida. Pela porta dos nossos olhos a coragem e a ousadia entraram e tomaram posse da alma. Bastava haver chegado à Índia para termos muito para contar e encantar! Mas as ordens e a missão eram infinitas; não consentiam descanso. Era o Brasil que tanto queríamos! Era ele o rio subterrâneo do sebastianismo, antes de este emergir. Ele ficaria como testemunho indesmentível e transcendental da história de Portugal, justificá-la-ia e levá-la-ia para o futuro, sob o olhar e as palmas do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa e, mais tardiamente, de Ariano Suassuna. O Brasil, saído da granítica pedra do reino lusitano, seria o Quinto Império, não da conquista e domínio do mundo pela força bruta, mas do espírito, da luz, do convívio e da fraternidade universais. Esse é o Brasil da utopia lusitana e concórdia humana e não da ‘pax norte-americana’. Tem tudo para a realizar, conquanto o queiram os seus cidadãos. Ora uma das melhores maneiras de começar a cumprir o seu destino é cuidar da Amazónia como uma criança que lhe foi posta nos braços, para pôr à prova a capacidade de ator e protagonista de um mundo doce, feito de harmonia e poesia, de canto e encanto. A Amazónia é a pauta em que o Brasil há de escrever uma sinfonia de arrebatadora e comovente beleza; redimirá assim os excessos e defeitos de quem o gerou. É nesta conformidade que saudamos a independência do Brasil e todos os que configuram a sua exaltante diáspora. A RIMA DO SUCESSO GENUÍNO A busca da realização não é alienação. É a nossa cimeira e incontornável obrigação. Mas, olha lá, não deturpes esta formulação! A vida cumpre-se num trânsito de constante superação. Ser bem-sucedido é dever muito exigente e comprido. O meu triunfo não pressupõe a destruição de ninguém. Percebes a implicação? Ele inclui o teu também. A vitória difícil e exaltante é não prejudicar alguém. O meu e o teu êxito constituem um modo de rimar; são


tanto maiores quanto mais o insucesso dos outros minguar. O verdadeiro sucesso edifica-se, sem o trabalho e suor alheios parasitar. É sorridente, se não for larápio e excludente. COMO SAIR DO ESCURO E VAZIO "Um dia vazio, embora límpido e brilhante, é tão escuro como qualquer noite." (Anne Frank, O Diário, p. 321). Às vezes, parece que estamos no topo do mundo, mas jazemos na fundura do pasmo. Agir, falar e escrever com esmero e sentido de retidão ajuda a sair das profundezas e ver a luz. Juntar-se ao Outro e ser solidário com a sua dor também. NO COMEÇO DE MAIS UM ANO LETIVO Permito-me, caro professor, enviar-te uma curta mensagem. Se não for do teu agrado, atira-a para o caixote do lixo. Se a julgares pertinente, passa-a de mão em mão. Ninguém exige que mostres paisagens belas aos cegos, mas podes levá-los a pressentir e compreender a beleza, a distinguir esta da fealdade e a optar pela primeira. Ninguém espera que proclames a verdade aos surdos, mas não mintas aos que têm a capacidade de escutar. Desperta neles o sentido crítico da dúvida e interrogação, bem como a repulsa pela falsidade. Ninguém aguarda que atinjas a culminância das virtudes, mas apenas que a tua conduta não seja manhosa e oportunista, nem dececione os teus alunos e pares. Será pedir muito? Talvez, porquanto a situação comprova o lamento de William Yeats (1865-1939) num dos seus poemas: “A maré tingida de sangue foi libertada, e por toda a parte / A cerimónia da inocência submersa. / Aos melhores falta-lhes convicção, enquanto os piores / Ardem de paixão intensa.” Por favor, escolhe e pondera as consequências! REFLEXÃO À MESA DO CAFÉ: DO ESTADO DA PÓLIS No caminho de casa para o café cruzei-me com muitas pessoas. Não nos saudamos; se saudei alguma, não me lembro do seu rosto, nem sei o nome. Sentado numa mesa, olho as outras. Têm gente que conheço de vista; vejo-a aqui quase todos os dias. No entanto não há diálogo de uma mesa para a outra. Afinal, o que é que nos traz ao café? Creio que é a necessidade de conviver, de ver e ser visto, de falar e ser ouvido. Todavia, falta-nos a coragem para derrubar o muro que se instalou paulatinamente na vida urbana. Esta devia respirar urbanidade, cultivar o sentido de Pólis e Cidade, e não o possui. Deixamos de ser ‘concidadãos’. Somos entes ambulantes, que passam uns pelos outros como as formigas de um formigueiro, cumprindo a função natural e instrumental, sem chegar à convivência eticamente escolhida e configurada. Nunca fomos de todo civilizados, mas hoje estamos de regresso à barbárie. O ‘quê’ vai matando o ‘quem’. Ergamo-nos, reencontremo-nos e saudemo-nos, antes de ficarmos definitivamente mortos! ENTRE O ALÉM E O AQUÉM A sonolência não consente que nos levantemos cedo. Ademais, temos ciscos nos olhos e dificuldades em ver. Por isso andamos aos tropeções. Perdemo-nos muitas vezes no caminho. Quando damos conta, já o sol se pôs e caiu a noite. Nunca chegamos a tempo; gastamo-lo na hesitação, na demora e falta de decisão. Agora parece demasiado tarde e não dispomos de resposta certa para a interrogação: qual seria a melhor direção? Mas…vale sempre a pena a ousadia de recomeçar e tentar percorrer a distância entre o além da insatisfação e o aquém da plenitude.


NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: GREVE GERAL DOS ESTUDANTES O país está atónito: Oitenta por cento (!) dos estudantes do ensino superior decidiram não iniciar as aulas, enquanto não virem satisfeito um caderno de reivindicações. Estas são muito simples. Em primeiro lugar, exigem uma reforma curricular que inclua disciplinas de cultura geral (tais como filosofia, história e literatura) habilitantes a estar à altura das exigências deste tempo, a compreender o curso do mundo e o seu papel de atores e modificadores das circunstâncias. Em segundo lugar, advogam a valorização de aulas presenciais, devidamente preparadas e lecionadas em português escorreito por professores com linguagem culta e edificante, que tenham muito para contar e encantar. Em terceiro lugar, requerem à Assembleia da República a elaboração urgente de uma lei, de cumprimento obrigatório para todos os governos, que fixe um ordenado mínimo para jovens possuidores de curso superior em qualquer área. O ordenado deve permitir-lhes a constituição de família e garantir aos seus membros um modo de vida decente. Trata-se de uma posição em defesa da regeneração social e do futuro de Portugal. O Presidente da República já recebeu uma comissão dos grevistas, testemunhou-lhes inteiro apoio e tirou selfies com eles. Gaudeamus igitur: Viva a Nação valente e imortal!


ACONTECENDO...


JUNTA GOVERNATIVA DA ACADEMIA MARANHENSE DE TROVADORES.


DANIEL BLUME ELEITO PARA A ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS

91ª Feira do Livro de Lisboa, Comissão Julgadora do Concurso elegeu o Poema "Viagens" para o segundo lugar; Verso


CASA DA FAMÍLIA RABELO EM VIANA ÁUREO VIEGAS MENDONÇA

Conhecida como casa de Estrelinha, situada na Rua Antonio Lopes nº 544 (Rua Grande) quase na esquina com a Rua Alteredo Nogueira, no Centro Histórico de Viana, essa belíssima casa colonial com fachada revestida de azulejos portugueses do século 19. A casa serviu de residência em épocas distintas, as várias pessoas de destaques na cidade de Viana, antiga residência de Tolentino Veloso e onde residiu durante muito tempo o 9º Juiz de Direito da Comarca de Viana, Dr. Artur Almada Lima, após certo tempo o imóvel passou a pertencer ao casal Laurindo Pereira funcionário dos Correios e dona Camélia. Segundo o ilustre conterrâneo Sostono Silva o imóvel também foi de propriedade do seu Pai Sr. Tomaz Alves da Silva, mais conhecido como Bizica do Juçaral e também do Sr. Heráclito Silva e depois foi comprado pelo Sr. Estrelinha, que por sua iniciativa como alguns dos azulejos já bastante deteriorados foram substituídos por peças retiradas do prédio da Prefeitura Municipal, quando a prefeitura sofreu uma reforma desastrosa na década de 1980 quando foram trocados os seus azulejos portugueses da fachada do prédio do poder executivo municipal por azulejos industrializados similares. A fachada original da casa tipo clássico colonial com suas janelas com vidraças e grades foram danificadas e substituídas por paredes de alvenaria. Segundo o ilustre vianense Stelio Castelo Branco, essa casa foi palco de realizações de saudosos bailes. Esta casa foi destaque no Inventário do Patrimônio Azulejar do Maranhão, o catálogo de azulejos das cidades históricas do Maranhão, obra da sociedade dos amigos do Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, sob o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce, pelos seus raros azulejos do século 19, cujo modelo de estampa é o único em todo o estado do Maranhão. Os azulejos dessa casa de Viana foram destaques na capa de encartes distribuído em 2006 pelos jornais o Estado do Maranhão e o Imparcial conforme a foto. O catálogo de azulejos do Maranhão dedicou 8 páginas sobre os azulejos da cidade histórica de Viana. (*) Áureo Viegas Mendonça é geógrafo, servidor público federal e pesquisador. Fonte da Pesquisa: Cordeiro, João Mendonça, Retrato de Viana MA, 1683 a 2013. São Luís: Segraf, 2016. Furtado, Raimundo Nonato Travassos. Minha Vida, Minha Luta. Belo Horizonte (MG), Editora São Vicente, 1977. Jornal o Renascer Vianense, edições nº 14, 39 e 46 Serejo, Lourival. Do alto da matriz. Imperatriz, MA, Ética 2001.


Fotos: Luiz Alexandre Facebook Coisas de Viana Arquivo Pessoal


50 SABORES E LUGARES DE SÃO LUÍS, UM PASSEIO PELO TEMPO HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO. A abundância de informações culinárias ou gastronômicas que aparecem nos canais de televisão, atiça o paladar e seduz aqueles que de restrições alimentares sobrevivem e sofrem. O pecado da gula transcende a razão de qualquer um. São Luís tem o charme e a tipicidade própria do maranhense no quesito gourmet. A cidade tem paladares e odores inconfundíveis. Lugares e características que contam história e fascinam quem nasceu aqui ou teve o privilégio de morar na ilha mais bonita do Brasil. Pontuei 50 lugares, sabores e situações gastronômicas que marcaram a vida do maranhense ludovicense e destas, imagino que pelos menos 10 você conheça, delicie-se, não morra de saudade e tenha um bom apetite: 1-Jantar no Restaurante Palheta. 2-Pão cheio recheado com camarão seco vendido nas ruas do centro de São Luís. 3-O cachorro-quente do Companheiro que sobrevive heroicamente no beco da Pacotilha e o do Sousa no estacionamento da Praia Grande. 4-Caldo de ovos do João do Caldo. 5-Galeto da Base do Rabelo. 6-Calderada do Germano. 7-Sorvete de coco na casquinha. 8-Quebra-queixo. 9-Pirulito enrolado com papel de seda e vendido principalmente na Praia Grande e Praça Deodoro. 10-Peixe-pedra cozido ou frito. 11-Peixe-serra frito com arroz de cuxá. 12-Torta de camarão seco. 13-Torta de caranguejo. 14-Sururu no leite de coco. 15-Juçara com farinha d’agua e camarão seco. 16-Em tempos de politicamente incorreto e sem compromisso com o meio ambiente, o transgressor e perversamente delicioso arroz de jaçanã. 17-Galinha de parida com pirão. 18-Peixada da Peixaria Carajás. 19-Caldo de cana do extinto abrigo ou do Bar do Cajueiro na Rua Afonso Pena. 20-Queijo de São bento. 21-Cola- Guaraná Jesus. 22- Frango assado na brasa do Restaurante Frango Dourado no Anil. 23-Feijoada do Baiano no bairro da Alemanha. 24-Costela de porco da Base da Diquinha na ladeira do Diamante. 25-Raspadinha de maracujá no Reviver. 26-Bolachinha da Padaria Santa Maria na Rua dos Afogados ou da Padaria Nossa Senhora de Fátima no Monte Castelo. 27-Cuscuz Ideal. 28-Roleto de cana vendido na Praça da Matriz em São José.


29-Descascar e comer uma tanja na porta da Igreja de São José. 30-Kibe do Abdon na Praça da Misericórdia ou de dona Nilza na antiga padaria do Anil, perto da casa de Cordeiro Filho. 31-Manga de fiapo com farinha d’agua. 32-Tiquira da feira da Praia Grande. 33-Jeneve. 34-Sorveteria Elefantinho. 35-Pastel do garoto do Bigode na Praça Deodoro. 36-Murici amassado com açúcar. 37-Pamonha vendidas pelas ruas do centro de São Luís. 38-Uma parada quase que obrigatória era na Churrascaria Filipinho. 39-Sorvete de ameixa do extinto bar do Hotel Central para os saudosistas. 40-Quem está na casa dos 70 não esquece o sanduiche de pernil do extinto Moto Bar. 41-A Base da Lenoca quando ainda era na Praça Pedro II. 42-Espetinho de camarão do Jaguarema ou do Litero. 43-Ingá, maria pretinha, canapu e guajuru. 44-Pizzaria Internacional na Cohab ou na Cohama. 45-Mocotó, sarrabulho ou cozidão do Mercado Central. 46-Bar do Amendoeira e o seu tradicional bode no leite de coco servido na calçada no Olho d’Agua. 47-Quem frequentava a Praia da Ponta d’Areia não se esquece do Bar Tóquio, das peladas, da cerveja e do caranguejo. 48-Mocotó e feijoada da Base do Binoca no Vinhais Velho. 49-Restaurante Hibiscus na Vila Palmeira na década de 1980. 50-Restaurante La Boheme frequentado pela turma da moda e do poder político da época. Lembre-se que sua memória afetiva e gustativa sempre estaram preservadas. Alguns destes lugares ou algumas destas comidas se perderam com o processo de crescimento da cidade, outros ainda resistem bravamente e nos identificam culturalmente. Bom apetite e boa diversão!


A RENDIÇÃO DE LA RAVARDIERE NO FORTE SÃO LUÍS EUGES LIMA Foi numa manhã de quarta-feira no dia 4 de novembro de 1615, que o general francês, Daniel de la Touche, o senhor de la Ravardiere, depois de muito postergar, no afã de ganhar tempo a espera de socorro da França que nunca veio, que finalmente, sem mais alternativas e pressionado pelo capitão Alexandre de Moura, resolveu se render oficialmente às tropas portuguesas e entregar o forte São Luís. Toda essa história está descrita no documento de N. 18, intitulado "Auto de posse que se tomou da fortaleza", apenso ao Relatório de Alexandre de Moura, capitão-mor do Maranhão, onde ele relata de forma detalhada como se deu essa conquista aos franceses e anexa 25 documentos acerca desses acontecimentos e que foram entregues a V. Majestade o Rei Felipe II em setembro de 1616. Hoje, os originais desses documentos encontram-se no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e em 1905, foram publicadas suas transcrições nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em 2010, o Instituto Geia, com base na edição dos Anais da Biblioteca Nacional, também publicou o Relatório de Alexandre de Moura e outros documentos sob o título de "A Rendição dos Franceses do Maranhão". Embora alguns dizem que a rendição de la Ravardiere se deu no forte do Sardinha, na verdade, não é bem assim. O forte do Sardinha, que pertencia aos franceses, que teve seu nome substituído por Alexandre de Moura para forte São Francisco e que obviamente por questões estratégicas, foi o primeiro a ser tomado pelos portugueses quando surpreendentemente conseguiram entrar na barra do Maranhão com sua poderosa esquadra de nove navios e seiscentos homens, foi nesta história, apenas o local marcado, onde muitos desses personagens históricos, Alexandre de Moura, la Ravardiere, Diogo de Campos Moreno, Francisco de Frias de Mesquita (engenheiro mor do Brasil) e tantos outros se encontraram inicialmente naquela manhã do dia 4 de novembro de 1615 para então a partir dessa fortaleza, irem tomar posse da principal fortaleza que era o forte São Luís e finalmente selar o fim da França Equinocial, onde ocorreu de fato, a rendição oficial e incondicional de la Ravardiere e seus homens, com direito a entrega da "chave" do forte de São Luís pelo comandante francês ao capitão Alexandre de Moura, conforme comprova o referido documento de N. 18: (...) e estando as ditas pessoas juntas, veio o d. general francês, e deu por resposta que elle estava de acordo no apontamento atrás, e que cada ves que quizessem poderiao ir tomar posse do forte Sant Luís em nome de Sua Mag. de de que fez o termo assima, e assinou de sua própria mão, o que visto, e ouvido pelo dito capitão mor Alexandre de Moura dispondo as coisas conforme ao estado prezente mandou marchar o Sargento mor do estado Diogo de Campos Moreno, com o Capitão Henrique Afonso, com cento, e vinte soldados pessoas nobres, e se foi em bateis para o dito forte Sam Luís, onde depois de Reconhecido pelo dito sargento mor, e pelo engenheiro mor fran.co de Frias de Mesquita o d. Capitão Mor Alexandre de Moura entrou com a dita Companhia no dito forte onde a porta lhe entregou as chaves dele o d. s.r de la Ravardiere geral dos franceses, e depois de aver reconhecido todos os particulares do d. forte, e artilharia deixando lhe a dita Companhia de guarda com o dito sargento mor em seu lugar ouve a dita posse por tomada em nome, e por sua Mag. de (... ) ( ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, 1905, p. 227/229)


DUNSHEE DE ABRANCHES, 155 ANOS HOJE EDMILSON SANCHES

Parece até caso pensado: grandes datas sobre grandes maranhenses continuam não merecendo a atenção maciça e massiva de autoridades de nosso Estado. A partir do talento e até da coragem de filhos seus do passado, o Maranhão legou ao Brasil um grande número de ações e contribuições que modificaram (para melhor) nosso país e concorreu para fortalecer a identidade do povo brasileiro. Já escrevi e publiquei um texto sobre alguns nomes pioneiros que contribuíram enormemente com a brasilidade ("POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEU MAIOR PATRIMÔNIO"). Quem desejar este texto, solicite-o e será enviado por e-mail ou como anexo na caixa de mensagens privadas do solicitante. Hoje, 02 de setembro de 2021, completam-se exatos 155 anos do nascimento de um dos maiores intelectuais maranhenses: Dunshee de Abranches. Quando dos seus 150 anos, escrevi o texto a seguir. Mas nada sensibiliza quem não tem sensibilidade. Nascido em 02 de setembro de 1867, João Dunshee de Abranches Moura foi escritor, advogado, promotor público, jornalista, poeta, músico (tocava violino), sociólogo, político (deputado estadual e federal), professor de Ciências Físicas e Naturais, Anatomia e Fisiologia Comparadas, de Direito Público Americano e professor honorário da Universidade de Heidelberg (Alemanha). Aos 4 anos, Dunshee de Abranches já sabia ler e escrever; aos 6, fazia traduções do Francês. Aprendeu também Inglês, Espanhol, Alemão, Latim... Como jornalista, foi presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e em sua gestão foi implantada a carteira de jornalista. O escritor maranhense Joaquim Vieira da Luz, de Matões, escreveu uma das mais completas biografias sobre seu conterrâneo: o livro "Dunshee de Abranches e Outras Figuras", de mais de 400 páginas, impresso nas oficinas do "Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro - RJ), em 1954. A obra traz diversas fotos e outras imagens relacionadas a Dunshee de Abranches e às demais "figuras" (Aluízio Azevedo, Raimundo Lopes, Antônio Lobo, Correia de Araújo e Raimundo Correia). Tenho em minha biblioteca particular diversos livros de Dunshee de Abranches, entre os quais: ---- "Como se Faziam Presidentes" (386 páginas; Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1973); ---- "A Ilusão Brasileira" (dedicado ao também maranhense Urbano Santos, à época vice-presidente da República; 384 páginas; Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1917); ---- "A Esfinge do Grajaú - Memórias" (266 páginas; Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1959); ---- "Actas e Actos do Governo Provisório" (2ª edição; 402 páginas; Rio de Janeiro: edição do autor, 1930). ---- "Rio Branco e a Política Exterior do Brasil (1902-1912)" (1º e 2º volumes; 254 + 224 páginas; Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1945). No Maranhão, Dunshee de Abranches é patrono da Cadeira nº 40 da Academia Maranhense de Letras, da Cadeira nº 40 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), da Cadeira nº 19 da Academia Ludovicense de Letras e da Cadeira nº 20 da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), esta que tem como ocupante o professor e escritor Ribamar Silva, que sucedeu a Adalberto Franklin, fundador da Cadeira. Também, como me informou Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Dunshee de Abranches é o patrono da Federação Esportiva de Levantamento de Peso do Estado do Maranhão, fundada em 1º/09/2017. Leopoldo Gil, professor, pesquisador e escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e da Academia Ludovicense de Letras, de São Luís, registra que Dunshee de Abranches "foi o primeiro a praticar o levantamento de peso -- halterofilismo -- no Maranhão", daí a homenagem com o patronato da novel federação esportiva. Dunshee de Abranches faleceu aos 73 anos em Petrópolis (RJ), em 11 de março de 1941.


O LAZER É SAGRADO CERES COSTA FERNANDES Moreira levara mais uma vez trabalho para casa. Coisa de pouca monta. Só uns balancetezinhos, para desafogar os montes de processos de cima de sua mesa. Na repartição não estava dando, era um atender gente sem fim... Além do mais com chefe novo, muito entusiasmado e cheio de ideias novas, era bom não facilitar. No fundo, no fundo isso não era coisa de se apoquentar o juízo, até gostava. E já tinha o esquema pronto para o domingo: enquanto estivesse repassando o trabalho, de pijama e chinelos, tomaria uma cervejinha, de leve, é claro, e fumaria uns cigarros e, para acompanhar, música ambiente... Não estaria de todo mal. Ah! Isso é que não! O lazer é sagrado! É dona Zefa quem fala, tomada de santa ira. Está pensando que eu vou deixar aqueles sanguessugas do trabalho se aproveitarem de sua boa fé? Nunca, para isso sou sua mulher. Domingo é dia de descanso e de se divertir. Está resolvido, vamos ao churrasco do compadre Arcelino. Moreira quer protestar, mas dona Zefa, filha de advogado, encerra a questão, Não tem apelação nem agravo, vamos nos aprontar e nos di-ver-tir. Aproveitamos e levamos também o Silvinho. Um parêntese para apresentar Silvinho. É o neto do casal, menino magricela e um tanto cheio de vontades, abrindo o berreiro sempre que contrariado, recurso já conhecido por todos, menos pelos embevecidos avós. Moreira! Grita dona Zefa, não acredito que você calçou o chinelo de dedo e vestiu essa bermuda desbotada do tempo em que Adão era cadete, para um churrasco que vai dar até gente importante. Com certeza o Gerente estará lá. Calce, pelo menos, aquela sandália franciscana que lhe dei de Natal, e que não sei porque não usa, e mais, vista uma bermuda decente. Moreira suspira. A costura da sandália de couro pinica, e a bermuda, a desbotada, é a mais “nova” que possui. Só vestindo uma calça jeans. Ô, siô, a dita está apertada. Também, reconhece que engordou um bocado. Nem reclama, senão a mulher bota logo a culpa na cerveja. Queria descobrir o veado que inventou a mentira que calça jeans é sinônimo de liberdade. Depois de rodar bem uma hora e meia, chegam ao clube de campo, que devia servir para algum esconderijo de traficantes de drogas, tão complicado era chegar lá. Pra inventar um mapa daqueles, o compadre Arcelino devia ter problemas de infância mal resolvidos no quesito caça ao tesouro. De tanto rodar Silvinho ameaça vomitar. Coitadinho, sofre do labirinto, diz Zefa. Além das ameaças ao estofamento novo do carro, a encantadora criança, repete de cinco em cinco minutos, Vovó, você não disse que a gente ia se divertir? Eu quero se divertir! Afinal, o clube. Aleluia! São recebidos festivamente. O amigo coloca-os em lugar de honra: uma mesa bem em frente à pista de dança, perto do palco. Para confirmar a honraria, o Gerente e a mulher, uma enganjenta, diga-se de passagem valeu a pena vir, quando começa a música. Incontáveis decibéis pulam de uma caixa de som às suas costas e como que lhe sacodem tudo que ele tem dentro da caixa torácica. A conversa com os amigos é gritada. Responde o que pensa ter ouvido e desconfia que os amigos fazem o mesmo. Mas todos sorriem e, bebericando a cerveja quente, mostram nos semblantes como estão felizes com o encontro. A nota desarmoniosa é só Silvinho que, obrigado a ficar sentado, repete insistentemente. Eu quero se divertir. Quando é que a gente vai se divertir? Depois de algumas dezenas de salgadinhos de diferentes formatos, mas da mesma massa, chega o churrasco. O estomago de Moreira, azedado de massa com cervejas, agradece uma fatia de picanha, deveras deliciosa. Uma outra e mais outra, aceita uma farofinha? Uma felpa de carne engata no dente lá de trás. E agora, que fazer com a enganjenta de olho? Faz uns trejeitos com a boca e nada. O cós da calça aperta, a sandália pinica. Olha em torno, nenhum palito. Depois que aquela metida da Danusa inventou que palito “nem no banheiro com a luz apagada”, deram de não botar paliteiros na mesa. Sinceramente! Pede licença e vai ao banheiro. Nenhum fio dental. Não há o que tire a maldita felpa do lugar. Volta para a mesa disposto a ir embora, mas Zefa, com Silvinho, sentado a força, no colo, chama a atenção que o compadre vai falar. Ué! Discurso em churrasco? Fala o compadre, fala o Gerente, e mais um chato que


resolve fazer um acróstico para Marcelino, usando laurífero, para a letra L. Silvinho repete, com a voz fininha, quero se divertir. Finalmente acaba a sessão literária e podem sair. Zefa resmunga, agora é que estava ficando bom... Já no carro, Moreira passa o volante para a mulher e vai logo desapertando o nó da calça e tirando as sandálias. Que é isso, homem!? Parece índio. Moreira não responde, enquanto tenta desengatar a maldita felpa, antegoza a leitura dos balancetes que vai fazer logo mais. Silvinho, cansado das tentativas de se divertir, dorme no banco de trás, enquanto Zefa, louvando os benefícios do lazer, promete que no outro final de semana farão outro programa ainda melhor que este.


RECORDAR O CAÚRA ROBERTO FRANKLIN Retornar ao Caúra, após vários anos, para mim e minha amada Lu foi gratificante, podemos nos momentos que lá passamos relembrar e voltar a um passado que vivemos e que trouxeram muitas recordações bastante prazerosas. Poder visualizar novamente a baía de São José em maré cheia, visualizar vários e vários barcos saindo para pescar, sabendo que à tarde eles voltavam carregado do delicioso peixe pedra, foi realmente gratificante. Poder do alto da ponta do Caúra ter uma visão da cidade balnearia de São José, ter meu momento de oração olhando para a imagem do meu santo foi realmente sensacional. Neste sábado a convite do meu cunhado Miguel e de sua adorável esposa Diana, passamos momentos de alegrias, recordações, momentos de um imenso prazer, ao lado do casal e de seus quatro filhos, hoje todos casados e com suas famílias, contrariando o que no passado vivemos quando todos ainda pequenos, juntos aos meus filhos passávamos o final de semana. Lá no Caúra nossas famílias juntas, viveram momentos fantásticos, noites memoráveis, porto de partida para vários momentos e viagens de barcos, sempre acompanhado de meu cunhado e de sua esposa. O Caúra testemunha de muitos prazeres, gastronômicos de lazer, churrascos, peixadas, de rodada de buraco(cartas), e muitos momentos felizes, eu na verdade fazia parte da mesa as vezes, mas não gostava muito. O que gostava era de ir à cozinha e lá fazer e inventar pratos que quando prontos eram servidos a minha esposa e meus cunhados, lá pude servir e até hoje lembrado um espaguete ao molho de tomate acompanhado de uma picanha ao forno, prato até hoje pedido pelo cunhado, preparar e servir uma enchova na grelha que era cozida apenas com a água que da sua carne saía, era sensacional. No Caúra vivi emoções de passar pelo menos uns dois réveillons, Miguel herdou do seu pai meu sogro Henry o gosto pela pirotecnia, e para lá sempre nas festas do final de ano, tínhamos uma verdadeira queima de fogos, que nada deixava a desejar a outras que tínhamos notícia. Era realmente um espetáculo tínhamos a certeza que lá da cidade de São José muitos ficavam a observar o espetáculo pirotécnico. Próximo à meia noite descíamos todos para da praia assistir as queima dos fogos, eram noites de grandes emoções, onde reuniam as famílias de todos os irmãos, lembro-me que em um dos réveillon, que na verdade ficará guardado por muito tempo, um amigo do meu cunhado trouxe uma ou duas caixas de um recém lançado energético, logo o Miguel fez questão de me apresentar afirmando que era uma maravilha e se eu notasse que já estivesse fora do eixo devido a ingestão do uísque, que era para eu beber uma lata e que logo essa sensação passaria, dito e feiro, após horas consumindo o meu favorito uísque o Red. Label, sentir que estava pisando em nuvens, imediatamente lembrei das palavras dele, abri uma lata bem gelada e comecei a tomar, em alguns momentos o efeito do álcool desapareceu como um passo de mágica, eu surpreendido achei que teria inventado a pólvora ou melhor acabaria de conhecer e presenciar um milagre, resultado a noite toda era uísque e Rede Bud, pela manhã tomei um banho, logo após serviram um café, resultado deitei na minha cama para repousar, e tal a minha surpresa não consegui pegar no sono, isso tudo aconteceu pela ingestão de várias lata do energético, acredito que foram umas três sou quatro latas, o que me levou a ficar vinte e quatro horas sem dormir, foi a pior experiencia que tive numa farra regrada a uísque e |energético, nunca mais ingerir uma gota desta bebida. Histórias temos muitas, principalmente de quando os nossos filhos e os de Miguel eram ainda crianças, momentos felizes passamos no Caúra, início e passagem de vária viagens de barcos que fizemos eu e minha esposa Miguel e a sua amada Diana, o barco comandado pelo seu fiel comandante Zé João enfrentamos mares fracas e fortes, lembro-me que em uma noite em algum lugar acho que perto da ilhas dos guaras, estávamos no barco, este abastecido de carnes e outros quitutes, ainda não havíamos comido nenhum peixe ou camarão, estávamos na parte de fora do barco sentados em uma mesa jogando cartas e de longe avistamos um barco que se aproximava do nosso, logo que chegou perguntamos o que ele havia pego, ele com uma cara que seria uma mistura de decepção e alegria eu acho afirmou que teria pego alguns camarões


e logo em seguida nos mostrou, meu Deus que visão sabe aqueles camarões gigantes aqueles camarões rosa, pois eram esses mesmo, os meus olhos brilharam, imediatamente perguntamos se ele poderia trocar uma picanha pelos camarões, o momento foi mágico, ele respondeu logo de imediato, senhor carne aqui é coisa rara, não comemos a muito tempo, logico que queremos, pode trazer e assim foi feiro após a troca, os camarões fora temperados com sal e limão e frito ao alho e óleo, passamos a noite a comer aquele deliciosos camarões ao alho, a noite foi inesquecível. Foram momentos realmente de extrema recordações para mim, momentos de muitas alegrias, e pouquíssimas tristezas, momentos que guardo até hoje, que neste sábado foram relembrados, esperando a próxima volta, esperando o próximo capítulo.


TESTE VOCACIONAL PARA SER CIDADÃO LUDOVICENSE HOMENAGEM AOS 10 ANOS DO GRUPO SÃO LUÍS DE NOSSAS LEMBRANÇAS. HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO. São Luís além ser a cidade mais bonita do Brasil, é também a mais cosmopolita. É difícil de se encontrar algum traço de provincianismo na cidade. Aqui temos nossas expressões, nosso sotaque e uma maneira peculiar de comportamento. O maranhense costuma ir e voltar. Ser maranhense é um privilégio e ser cidadão de São Luís um privilégio ainda maior. Se você conhece, já fez ou já ouviu falar de pelo menos dez dos cinquentas itens, considere-se um autêntico ludovicense, um ludovicense raiz: 1º-Ter participado do encontro de bois de matraca no mês de julho em São José de Ribamar. 2º-Amanhecer na Praça de São Pedro no dia 29/06. 3º-Ter acompanhado a Turma do Quinto pela Rua do Passeio durante o carnaval. 4º-Comer um peixe-pedra frito em uma das praias da cidade. 5º-Ter usado chamató nas férias de julho em São José de Ribamar. 6º-Ter saído durante o carnaval em algum bloco de sujo pelas ruas do centro. 7º-Ter comido o cachorro-quente do Companheiro ou o similar do Sousa. 8º-Ter andado na lancha de Chocolate com destino a Ponta d’Areia. 9º-Participado de romaria para São José por ter sido aprovado no vestibular. 10º-Empinado papagaio fabricado por Zezé Caveira. 11º-Chamar algum conterrâneo de “qualira” em uma outra cidade. 12º-Pedir alguma coisa pelo nome de “xiri” em uma outra cidade e ficar zoando da cara da pessoa. 13º-Viajar com isopor levando camarão seco, farinha d’agua e juçara. 14º-Lavantar da poltrona do avião assim que o avião toque em solo maranhense. 15º-Ter pelo menos uma vez na vida escutado o melô da Poliana, da Cinderela ou do caranguejo e ter tido vontade de ir ao Espaço Aberto ou no clubão da Cohab. 16º-Ter comido cuxá com peixe frito, torta de camarão e de caranguejo em algum arraial durante o São João. 17º-Ter frequentado o Litero, Jaguarema ou Cassino Maranhense. 18º-Ter frequentado a Genesis ou Extravagância. 19º-Ter comido o caldo de ovos no João do Caldo ou a peixada da Peixaria Carajás. 20º-Pedir para algum conhecido, que estivesse com viagem marcada, levar uma encomenda para algum parente no RJ ou SP. 21º-Ter frequentado o Ginásio Costa Rodrigues principalmente na época do JEMES. 22º-Ter participado do JEMES mesmo que na torcida. 23º-Ter assistido pelo menos uma vez a turma do Pão com Ovo. 24º-Ter visto o Sampaio Correa ser Campeão Brasileiro. 25º-Ter gritado no Castelão: “aqui, no Castelão, que manda é o tubarão”. 26º-Ter visto o cabelereiro Bezerra desfilar na segunda-feira de carnaval no Jaguarema. 27º-Ter frequentado a Rua Grande e “marcado ponto” na Loja Sodisco ou em frente ao Edifício Caiçara. 28º-Ter conhecido a Loja Ocapana e a sua lanchonete.


29º-Ter tomado o milk shake de chocolate ou comido misto-quente na lanchonete da Loja Acácia. 30º-Ter assistido algum filme no Eden, Roxy ou Cine Passeio. 31º-Ter chegado em casa na hora do almoço e ouvir no rádio as últimas do esporte com Herbet Fontenele. 32º- Ficar acordado a noite toda para assistir ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro torcendo pela Beija-Flor por causa de Joaozinho Trinta. 33º-Ter assistido o pelotão de honra do Colégio Marista ou a banda da Escola Técnica durante o desfile de 7 de setembro na Praça Deodoro ou na Praça João Lisboa. 34º-Ter assistido algum jogo de vôlei feminino entre o Colégio Santa Teresa, Escola Normal ou Rosa Castro. 35º-Ter ficado de porre com Rum Montilla e Coca-Cola na época do carnaval. 36º-Ter entrado em alguma festa do Litero na mala do carro. 37º-Ter discutido a respeito de qual a melhor banda da São Luís: Nonato e seu conjunto ou os fantoches? 38º-Ter conhecido ou tomado Jeneve. 39º-Ter tido medo ou visto alguma criança com medo de fofão. 40º-Ter estudado no Liceu ou ter conhecido alguém da famosa “turminha do Liceu que no esporte nunca perdeu...” 41º-Ter passado férias no Olho d’Agua ou em São José. 42º-Ter esperado pelo rádio a relação dos aprovados no vestibular 43º-Ter visto Tião jogar handebol, Hermínio Nina jogar basquete ou Djalma, João Bala e Fifi jogar futebol de salão. 44º-Ter assistido o programa espírita “Um minuto apenas” na TV Difusora. 45º-Ter namorado na porta da casa da namorada com hora marcada. 46º-Ter tomado “gelado” no Nhozinho Santos ou na Praia Grande. 47º-Ter conhecido ou ouvido falar no “filho do padre”. 48º-Ter se sacudido com a musicalidade do “Bicho Terra”. 49º-Cantarolar a toada “Minha bela mocidade” do Boi de Axixá ou “Maranhão meu tesouro meu torrão...” do Boi de Maracanã. 50-Ter falado alguma vez na vida: hum, hum ou hem, hem. Parabéns você acaba de ser certificado como um autêntico cidadão ludovicense!


A PRAÇA GONÇALVES DIAS E A MAGIA DOS PATINS Para os 409 anos de São Luís, publicado no Caderno Especial do JP CERES COSTA FERNANDES Na segunda metade dos anos quarenta do século passado, nesta bela, e então tranquila, Ilha de Upaon-açu, aconteceu uma moda entre os jovens da classe média alta, patinar na Praça Gonçalves Dias; patinar, deslizar, dançar, voar nem tanto, sobre os pesados patins de ferro de quatro rodinhas, ajustáveis ao tamanho e largura dos sapatos de sola. A prática não era nova, nem os patins, seu uso vinha de mais longe. Dizem os historiadores que os protótipos para patinação fora do gelo – os do gelo, nem pensá-los por aqui – remontam ao século XIX. Desse “mais moderno” de quatro rodas, tenho notícias do meu próprio pai rapazote, nos anos trinta, descendo sobre eles, temerariamente, a Rua Montanha Russa. Fato registrado por meu futuro sogro que, preocupado, informou ao vizinho, meu avô, sobre o perigo da peripécia do seu desajuizado rapaz, protegendo o pai de sua futura nora, num tempo em que eu não era nem nascida. O que era brincadeira isolada de meninos nos anos trinta, no meado da década de quarenta, transformouse em tendência da jeunesse dorée da época. Talvez influência do modismo vindo dos Estados Unidos, implantado nesta longínqua província pelo cinema americano do pós- guerra, da Segunda Grande Guerra Mundial, em que os marines e os cowboys eram os heróis de todas as tribos de crianças e jovens. As duas Grandes Guerras e, acima de tudo, o cinema, construíram a imagem da América como a terra da liberdade e das oportunidades. Deixamos de imitar os franceses para sermos americanos. Era no tempo das meninas com as suas saias meia-perna de flores miúdas ou de xadrez, sapatos abotinados, meias curtas e os indefectíveis laços nos cabelos – segundo vi nas raras fotografias das tias paternas, donas da minha admiração e meus modelos inquestionáveis de um comportamento futuro – patinando, mãos dadas com amigas, na Praça Gonçalves Dias. Não as vi em plena glória, cheguei a São Luís após este boom dos patins, mas esses um ou dois instantâneos mexeram com a minha capacidade de sonhar e passeiam nítidos no meu imaginário misturados às cenas dos musicais da Metro Goldwyn Meyer. Eu os vi ou sonhei? A Praça Gonçalves Dias era, certamente, o ponto chique da cidade. Logradouro de beleza ímpar, carregado de história e tradição. Sabemos das antigas festas do Largo dos Remédios, narradas por João Lisboa e referidas por César Marques, e do cognome Largo dos Amores, em alusão ao malfadado amor de Gonçalves Dias e Ana Amélia - este concorre pari-passu com o nome de Praça Gonçalves Dias. No local, a única igreja gótica da cidade, com apóstolos cimeiros e vitrais de origem alemã (um tanto simplesinha, se confrontada com suas coirmãs brasileiras e europeias), as palmeiras imperiais, a brisa constante, a visão da baía de São Marcos, da foz do rio Anil e da Avenida Beira-Mar. No epicentro da praça, a estátua de Gonçalves Dias, inaugurada em 1873, retrata o poeta, de pé em uma coluna coríntia simbolizando uma palmeira, em cuja base, divisamos quatro medalhões com as efígies de João Francisco Lisboa, Sotero dos Reis, Odorico Mendes e Gomes de Souza. O poeta olha para além da baía, olha o mar do Maranhão, nos Atins, onde tragou o Bois de Boulogne e o poeta guardado no seu bojo. Na praça e nos arredores da Avenida Rio Branco, então Rua dos Remédios, localizavam-se imponentes e senhoriais casarões que abrigavam algumas das melhores famílias da cidade. O Colégio São Luís, do Professor Luís Rêgo, situava-se na Avenida Rio Branco e ficava perto da praça; dele chegava-se a pé. O bonde Gonçalves Dias trazia moças e rapazes, alunos dos Maristas , Rosa Castro, Liceu, Escola Normal e Ateneu. Todo esse plantel de jovens ele vinha arrebanhando no caminho, até chegar ao seu destino. As meninas do Colégio Santa Tereza, colégio só para moças, esperavam o Gonçalves Dias na esquina da Farmácia Sanitária, na Praça João Lisboa, e nele, atravessavam a Rua Grande, em alarido, para encontrar, lá no Canto da Viração – onde o vento, em redemoinho, levantava a saia das moças – os alunos de todos os colégios mencionados. Chamávamos secretamente este bonde de o bonde do amor. Aconteciam os flertes, que se resumiam a olhares e, suprema audácia (!), um jovem ousava pagar a passagem de uma mocinha, fato repassada a ela


pelo cobrador. O costume era baixar os olhos e corar até às orelhas. As mais desembaraçadas sorriam e faziam um gesto de agradecimento com a cabeça. Isso equivalia a um sim. O ponto final do bonde era na praça. Para a volta, tinha que trocar a posição da lança. Era uma operação complexa, viravam-se os encostos dos bancos de madeira, trocava-se a placa e guiava-se a lança no fio elétrico alimentador do veículo para outra direção. O veículo ficava um bom tempo ali parado, executando essas operações, o suficiente para as pessoas do bonde decidirem se permaneciam ou se desciam naquele delicioso recanto. A missa diária da Igreja de N.S dos Remédios aumentava a animação. Ora, já estou me desviando dos patins, mas isso tudo faz parte da sedução da tal praça e demonstrava o porquê do ajuntamento de jovens por lá. A Praça foi projetada pelo arquiteto Evandro Rocha e inaugurada, com a feição atual, nos anos trinta, na gestão do interventor Paulo Ramos. Contava pontos, mais que tudo, a qualidade do piso da praça, belo piso de cimento marmorizado com desenhos de arabescos. O piso era bem liso e a praça ampla. Isso facilitava a prática da patinação que, na época, não era bem um esporte, mas um modo de diversão e de reunir amigos. Houve várias outras ondas de patinadores em outras décadas, na mesma praça, inclusive com os novos patins modernos de rodas de poliuretano acoplado a botinhas de couro, mas nenhuma incorporou o charme e o romantismo deste Largo dos Amores como a moçada do pós-guerra, inaugurando um mundo novo.


A NOVA LITERATURA LUDOVICENSE /MARANHENSE


A INFLUÊNCIA DA MACONHA NO FOLCLORE MARANHENSE ERASMO DIAS

Aprecie este texto do escritor Erasmo Dia publicado em 1974, na Revista Maranhense de Cultura sobre a maconha e a lenda do Rei Dom Sebastião. O que há de mais impressionante nas sagas que constituem o riquíssimo folclore da zona litorânea do noroeste do Maranhão, não é a perfeição histórica e fabulosa com que elas são repetidas, mas, sim, o depoimento, com guizos de veracidade, de trabalhadores, alguns alfabetizados, que, além de garantir, juram as ter visionado. Figuremos o lendário dos Lençóis: há, sem dúvida alguma, muito de histórico na repetição da saga, por certo transmitida de geração em geração, pelos meios de comunicação mais verazes, se bem primários; o narrar e o estudar para depois transmitir. Vejamos a facilidade com que essa legenda se formou e é mantida, há séculos. Cururupu foi povoada por lusônios e por negros escravos. Alguns desses portugueses vieram das ilhas açorianas, de onde se explica a lavoura canavieira que predominou, numa terra pontilhada de praias, que vão receber, a todo momento, o banho verdejante do Atlântico. Mais lógico seria ser – não fossem as origens do colonizador – terra de pescadores, como de fato o é, nas regiões praianas. Ora, aportada nestas, plagas pelos Seiscentos e pelos Setecentos, a gente portuguesa vinha para ali, no mais derramado misticismo, daquilo que se chamou sebastianismo, ou a ânsia de regresso de quem Camões nomeou na sua epopéia, “a maravilha fatal da nossa idade”. A ilha dos Lençóis, pela sua solidão e pela configuração de suas dunas, que, para a visão de quem vem do mar, semelha lençóis, arrumados para serem guardados numa arca, ofereceria, por certo, ao colonizador, de alma sedenta de esperança do Retorno, a visão e a remembrança das areias marroquinas, de AlcácerQuibir. Para espanto, porém, do pesquisador contemporâneo, foram guardadas palavras tais como: donzel, açafata, terém, quartilho, ouropel, uxaria, etc. essas palavras repontariam não só nos repetidores da saga de origem branca, como invadiriam os cantares dos cultos afro-brasileiros, em toda a região do noroeste. O príncipe, designação dada a El-Rei D. Sebastião e só usada naquele remoto 500, haveria de encantar nas ardências da areia dos Lençóis, como tombara, aguerrido e destemeroso, em Alcácer-Quibir, e, pelo equinócio de verão, na noite de fogos dedicada pelos cristãos a São João, repontaria, no seu encantamento, na figura mística de um touro negro a resfolegar chamas azuladas, que, para os entendidos do seu mistério, estava esperando a chegada do homem, jovem e viril, que lhe ferisse a estrela branca da testa, para desencantá-lo, e, dos Lençóis subir das águas à Corte de Queluz, com o conseqüente afundamento da cidadecapital, fundada por fidalgo estrangeiro e de nome de Santo e Rei, taumaturgo e soberano em terras estrangeiras, nunca na de Portugal.


Tudo isso está explicado, na retenção do mito, nas diversas camadas sociais e sua conseqüente estratificação no sub-consciente individual e coletivo. O surpreendente, porém, é, como já enunciamos ao começar este trabalho, o depoimento, autêntico, de homens de bem, chefes de família afeitos ao trabalho, da visualização de tudo isso, que constitui a lenda do fadário do Príncipe. Nem se diga que são os depoentes rebotalhos das suas associações de trabalho, ou debilóides mentais, largados ao esmo da vida! Fácil é ouvir, com o tom altissonante de veracidade, o depoimento dos que viram, nos Lençóis, o lendário Príncipe, e já em terras de Guimarães, o navio fantástico de João de Una, a cortar caminhos pelo canal intransitável que entremeia Itacolomi do litoral. Aí vem no seu lastro da realidade, a presença dessas visões, que a muitos ocorre, ocorreram e ocorrerão, nas praias do noroeste. O elemento negro, como já foi dito, preponderante na colonização, trouxera, da África, as sementes do seu cânhamo estupefaciente, tão em uso, em todo o continente negro, dominando as civilizações árabes, ali domiciliadas, e, espalhando-se pelo labirinto das cubatas e cafrarias. Diamba, liamba, hashishe, na África; erva maldita, maconha, no Brasil; marijuana, nas Antilhas e na América Central, por onde o negro passou. De nomenclatura tão díspar e variada, a “canábia sativa”, só agora combatida, se arraigou nos povoamentos onde houvesse pretos. No noroeste maranhense se fixou entre barqueiros, canoeiros e pescadores – homens do mar, dispostos à fuga da solidão, nas suas longínquas vigílias. Em estudos firmados pelos doutos da Medicina, há afirmações do delírio visua, a que chegam os fumantes, e, que nos casos refericios, teria como “back-ground” as memórias subconscientes das sagas, ouvidas continuadamente e repetidas pela vida em fora, com o povilho místico das cousas do sobrenatural. Daí ter de se acrescentar, no estudo dessas representações mnemônicas o fator preponderante da usança da maconha, como geratirz das alucinações visuais, desse vasto lendário, que, na sua integridade, soma a mais bela e perfeita, vivência de fatos folclóricos, do nordeste litorâneo do Maranhão. O uso da maconha gera espírito associativo, como, na África, entre os fumantes das cubatas e os árabes dos haréns. Não dispondo de aparelhagem de filtração da fumaça, como os árabes aperfeiçoados, queimadores de hashishe, a negrada selvagem ou semicivilizada usa um instrumento primitivo feito em artesanato, com os produtos da terra: é o fumador de cabaça, improvisado na casca de uma curcubítácia seca, na qual se apõe um queimador, afunilado, feito de qualquer metal, na sua preferência, pela facilidade de obtenção da folha flandres e no bojo da cabaça, onde circulará a fumaça estupefaciente, certa quantidade de água, no caso, o elemento de filtração. O espírito associativo da usança do narcótico improvisa grupos de viciados, que repassando de mão em mão o fumador primitivo, que gera na sua entorpecência um rimário de quadras, alusivas à diamba. Já há documentários sobre essa improvisação poética, quase sempre brejeira, a lembrar os danos e perigos causados pelo vício. Nas praias de pescarias, os homens se reúnem nesses grupos improvisados e fazem circular a cabaça. Quando porém se trata de barqueiros, mergulhados na solidão da faina, desaparece o uso do instrumento, que se impõe nos grupos. Passa o homem, então, a usar o longo cigarro de maconha, enrolado em papel pardo, de embrulho ou papel fino que vem aderente à folícula metálica de preservação dos cigarros importados. É o “soró”. Compreendamos o homem em solidão de espírito e observação do que o cerca no mar sentido na aproximação dos lugares lendários, a eclosão mnemônica das sagas que lhe encheram o subconsciente, pela transmissão oral desde a infância. O pescador ao se encher do lendário dos fatos sobrenaturais, como o fator alucinatório da fumaça de maconha, primeiro deslumbra, e a seguir vê claramente, como em exibição cinematográfica, toda a saga, imbuída no seu subconsciente. E, então, nos Lençóis, ele não ouve só os cantares das açafatas, vindos do fundo do mar, nem se reduz em visão quase surrealista, dos búzios aporcelanados, e das algas coloridas trazidas para a praia pela


arrebentação, que são para o seu misticismo os tesouros e teréns do Príncipe e da sua corte perdida em sofrença de encantamento no fundo do oceano. A diamba colabora com a alucinação visual e, no equinócio de verão, na noite premarcada pela tradição, ele visualiza o touro negro, escavando e bufando labaredas azuladas, à espera do homem heróico e viril, que o venha desencantar e reabilitar Queluz, com o desaparecimento de São Luís. Se é, em Itacolomi, ele vê com todas as suas perspectivas, farto de luminárias, o navio de João de Uma cruzando o canal pedregoso, que nem as canoas ou “bastardos” ousam cruzar. Já foi dito e repetimos que os testemunhos e depoimentos que se pode colher não são dados por debilóides mentais ou gentalha de rebutalho na vida social. Eles brotam de homens sisudos, verazes, que os narram com a certeza de os terem visto. Desta arte alevanta para estudo futuro a influência do uso da maconha na história do folclore do noroeste maranhense. Estudo que há de ser feito com precisão científica para revelar a visualização do rico lendário, que integra o contexto das sagas, que enfeita a história fabulosa e mística, envolvente da vida de milhares de pessoas, habitantes da zona praiana dessa região maranhense. In: Fundação Cultural do Maranhão. Revista Maranhense de Cultura. Nº 1. São Luís, jan-jun 1974.


"TRAVESSIA", A NOVA LÍRICA DO POETA E IMORTAL APB, SECCIONAL MA, ELOY MELÔNIO Por: Mhario Lincoln O verso acima é o slogan de TRAVESSIA, livro de Eloy Melonio que será lançado em duas oportunidades, neste setembro. O livro é resultado de quatro anos de trabalho, – com seus 113 poemas – e consagra a poética do autor entre as importantes produções dos últimos dois anos em nossa cidade. Desde seu primeiro livro de poemas (Dentro de Mim/2015), Eloy Melonio busca a concretização de um trabalho espelhado na qualidade gráfica e um zelo quase exagerado com o seu conteúdo. Tanto é assim que o comentário na orelha do livro resume esse propósito: “Cada página de Travessia carrega em si o esmero e a lucidez poética do autor. Como deve ter transpi-rado na busca incessante pela exatidão das palavras, pela sucintez estrutural, pela con-cisão cativante e pelo rigo linguístico!” TRAVESSIA revela o amadurecimento do poeta, que se iniciou formalmente na “arte dos versos” em 2015. E se baseia no conceito de que “viver é uma passagem”, e que a vida, o mundo, o ser existencial, o amor, as letras, tudo isso se encaixa num contexto em que a poesia traduz a compreensão e fruição desses mares da vida. Nesse anseio, as decep-ções e as alegrias, as conquistas e as derrotas são horizontes possíveis de quem se aventura nessa viagem pelas praias das letras poéticas. Dividido em seis “portos” (capítulos), os poemas se agrupam em liames temáticos como o amor, a vida, o homem e o seu mundo, e “a poesia e as letras” O livro será lançado em dois momentos diferentes, conforme calendário abaixo:

Eloy Melônio. • 16 (quinta-feira): 17h; na AMEI - Livraria e Espaço Cultural (São Luís Shopping) • 17 (sexta-feira): 19h; no BASA CLUBE (Av. Neiva Moreira, 1- Calhau) Eloy Melonio é membro fundador da AMEI (Associação Maranhense de Escritores Independentes), da APB (Academia Poética Brasileira), da ATHEART (Academia Atheniense de Letras e Artes) e da UBE-MA (União Brasileira de Escritores). Seus três trabalhos (poesia, conto e crônica) foram selecionados no prêmio AMEI/2020 e constam nas antologias POETAS MARANHENSES e CONTOS E CRÔNICAS (Viegas Editora).


O ÚLTIMO DOS POETAS DE UMA BOEMIA ESQUECIDA

FELIX ALBERTO LIMA

José Maria Nascimento chega aos 81 anos hoje como o último remanescente maranhense de uma poesia forjada por décadas nos becos soturnos da boemia, sob o éter que encobre as ruas estreitas do Centro de São Luís. Poesia, como vida, de altos e baixos. Poesia como meio de vida, quando vida e poesia são quase uma coisa só, e se confundem. Mimetizam. Autodidata, mal frequentou o ensino básico e logo cedo se jogou no mundo para começar a desaprender nos livros emprestados, nos puteiros e nos bares. Foi “desaprendendo as coisas”, como que ruminando involuntariamente as invenções de Manoel de Barros – e cada vez mais se agarrando no acaso das palavras - que ele virou poeta. Aos 17 anos, publicou os primeiros versos na imprensa. Para se sentir verdadeiramente um poeta, imaginava ele, precisava andar com poetas, conviver com a poesia no seu nascedouro, em estado bruto. Começou então a frequentar a roda de intelectuais no Bar do Castro. Foi beber na fonte. E se entregou, como um poeta maldito que se achava, aos primeiros tragos. Um dia, fora alertado por Erasmo Dias: – Sai desse meio, aqui só tem cachaceiro. Vai estudar! Mas era tarde. Ele já era o próprio meio. Aos 20 anos, José Maria Nascimento sofreu o golpe da morte do pai, João Pereira, um homem simples, vigia de matadouro, que ansiava um futuro menos dolente para o filho e a família. Construiu das sobras, e de alguma dor, a sua obra, que flutua entre o lirismo – o olhar onírico sobre a cidade que o pariu –, o berro social e a desesperança. É de 1960 o seu primeiro livro, “Harmonia do conflito”. Foram 15 livros publicados em 60 anos de poesia, alguns deles premiados em concursos literários da prefeitura de São Luís e do governo estadual. Ao longo de todo esse tempo de escritura há momentos de delicadeza e profundo desapego (‘Vai por mim que a vida é uma valsa’) e, como diz o próprio poeta, há dias de lírios jogados à sarjeta (‘... A vida ainda flameja e explode/ Por debaixo dos círculos da esperança). Não foi uma caminhada fácil. O autodidata, obviamente, não tinha tanta intimidade assim com a língua portuguesa e, por inúmeras vezes, no início da jornada, recorreu a amigos como José Chagas e Jorge Nascimento na revisão de seus poemas, nos apontamentos, nas boas dicas de leitura. Nos anos 1960, José Maria Nascimento foi viver a sua temporada hippie no Recife e de lá embrenhou-se pelas estradas do Nordeste. Andou sobre o tempo. Experimentou amores novos nas madrugadas, por muitas vezes ele impregnado na fumaça do relento. “Até que um dia acabou o dinheiro. E com isso acabou também o encanto dessa experiência hippie”, conta. De volta a São Luís, engatou uma jornada boêmia de longos anos com o seu companheiro de copo e de cruz, o poeta Nauro Machado. Juntos, eles foram a paraísos impuros, purgatórios e inferninhos nos quarteirões


da cidade velha. Eram os andarilhos trôpegos da Praia Grande e Desterro: ‘Tenho inverno e verão em mim ocultos/ Iluminando os vales de outro mundo”. Foram anos de alcoolismo e desregramento que renderam a José Maria Nascimento, dentre outras chagas, uma tuberculose. O poeta viu a morte de perto. Mas persistiu – ‘O inferno e o céu estão presentes/ Na solidão do verso que me habita’. Só em 1992 tomou a decisão de parar de beber. Quando parou, foi chamado de traidor por Nauro. “A bebida só me trouxe prejuízo. Mas ainda ali, entorpecido, tentei fazer do sofrimento o lirismo para a minha poesia”, comenta. Há 25 anos José Maria Nascimento vem se dedicando à fotografia. Com os seus cabelos prateados, o olhar atento de poeta, passos firmes, sai por aí de câmera em punho a decifrar a alma da cidade. Da rua do Ribeirão, número 85, onde mora há 40 anos, ele compõe o seu destino, a sua história. ‘Recrio-me nos abismos do espaço’. José Maria Nascimento divide o tempo ainda no acabamento de um livro inédito de poemas, que ele pretende inscrever num desses concursos literários. Sobre reconhecimento, essa palavra cheia de armadilhas, ele não cria grandes expectativas. Nem se considera um injustiçado. “Eu colhi o que plantei”, diz, como quem conhece a trama do chão onde pisa. Só sabe ele que “mora nas manhãs” dessa cidade antiga que, num dia como hoje de setembro do ano passado, esqueceu dos seus 80 anos.


"O QUE PODE UM CORPO?" JOÃO BATISTA DO LAGO "Reputo o João Batista como um dos pensadores modernos mais expressivos do agora", Olinto Simões 10/08/2021 12h21 Por: Mhario LincolnFonte: João Batista do Lago A estreia do poeta e jornalista, imortal da APB, João Batista do Lago: "O que Pode um Corpo?" (facetubes.com.br)

João Batista do Lago O QUE PODE UM CORPO? (O Corpo é o cárcere da alma ou é potência em ato?) João Batista do Lago INTRODUÇÃO O que sei sobre o corpo? Do que o corpo é capaz? Como pode o corpo ajudar no processo de evolução do ser humano? No modo de e-xistir? O que pode um corpo masculino? E um corpo feminino, o que pode? Todas essas questões são literalmente imbricadas às nossas e-xistencialidades, seja no campo fisiológico, seja no campo social, seja no campo econômico, seja no campo político. Isto posto, pode-se afirmar que um Corpo é um Logos de subjetividade[2] imanente do corpo de si. O corpo pode se dá de duas formas: individual (por exemplo: o ser humano), ou coletivo (por exemplo: a sociedade ludovicense). No primeiro caso temos o corpo real, no segundo caso temos o corpo metafórico. Desde a Grécia Antiga a problemática do corpo sempre se apresentou como um dos mais significativos problemas filosóficos. Já em Heráclito de Éfeso (Século V a.C) encontramos este debate posto. Seguidamente vemos Platão e Aristóteles também se debruçarem sobre a problemática do corpo. Da mesma maneira os neoplatônicos, os sofistas, os místicos, os gnósticos, os teólogos, os cristãos, enfim... E não para por aí! Filósofos como Espinosa, Nietzsche, Kierkegaard, Foucault, Deleuze e Guattari, entre tantos outros, fizeram do corpo uma problemática para suas pesquisas, seus estudos, seus escritos. Ou seja, a problemática do corpo não sai da onda! Está em pleno ato de surfar... Vale destacar, ainda, que a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicanálise e a Esquizoanálise, também, se referem à problemática do corpo. Ora, diante deste panorama (primário e superficial), vale resgatar e discutir – aqui e agora – essa problemática. Evidentemente que não se esgotará toda a questão, posto que, aos meus olhos, para além da complexidade inerente, a problemática do corpo é inesgotável. Quanto mais se avança nas pesquisas e estudos de diversas matizes, verificamos que sempre existe uma nova perspectiva de debate sobre a potência do corpo: seja do ponto de vista do corpo humano; seja do ponto de vista do corpo sócio-coletivo. O corpo é um complexo de forças que se relacionam infinitamente em sua singularidade ou em sua pluralidade. HISTORICIDADE


Partindo de uma perspectiva histórica da Grécia pode-se inferir que fora Platão (428/7 a.C – 348/7 a.C) o primeiro pensador a discutir, racionalmente, a problemática do Corpo, ao criar para este, um corpo transcendente: a Alma. Para ele (Platão), esta (Alma) seria superior ao corpo humano, enquanto este (corpo humano) nada mais seria que uma prisão para aquela (Alma). Racionalmente, neste estágio, Platão propõe e instaura filosoficamente essa tipologia de dualismo que vai repassar por toda a sua obra literária (na qual ele promove um verdaeiro desprezo pelo corpo físico). No caso desse dualismo corpo-alma, por exemplo, essa dicussão se dá, fundamentalmente, nos diálogos Fédon, Fedro, O Banquete, e, sobretudo, em sua maior obra: A República. Por seu turno, Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C) - que fora o mais destacado discípulo de Platão – discorda literalmente do ateniense. Mesmo considerando o corpo como sendo um instrumento da alma, Aristóteles, assevera que o dualismo proposto por Platão não existe. O estagirita concebe corpo-alma como natureza única, ou seja: o corpo é matéria em ato de potência e, portanto, não tem substancialidade ou forma; isto quer dizer que não existe um corpo sem uma alma, nem uma alma sem o seu corpo. Em outras palavras: para Aristóteles não existe vida após a morte, ou seja: a morte do corpo é a morte da alma. Potanto, findado o corpo finda-se a potência em ato. Isto está claro em sua obra Sobre a Alma. Inclino-me a imaginar que este pensamento aristotélico esteja mais próximo da minha realidade, consequentemente, da contemporaneidade. O QUE É O CORPO? Para falar sobre a problemática do corpo é quase impossível não iniciar por Platão (mesmo que se admita que já antes dele a problemática do corpo esava posta, contudo foi Platão que instituiu e metodizou a temática), para quem, o corpo era uma dimensão inferior e limitado. Segundo ele, o corpo, nada mais seria que o cárcere da alma. Esta tese, inclusive, vai abastecer o imaginário teológico – e teleológico - de todo o cristianismo. Platão (e consequentemente o seu Sócrates, em Fédon) era um desprezador do corpo. Penso que essa condição seja, talvez, um dos piores enunciados de todo o platonismo. "Aos que desprezam o corpo quero dizer-lhes a minha opinião. Não devem mudar de preceito, nem de doutrina, mas, simplesmente, desfazerem-se do corpo, o que lhes tornará mudos", diz Friedrich Nietzsche em Assim falava Zaratustra, no discurso Dos que desprezam o corpo (Ed. Vozes, 7ª ed. P. 51). Nesse mesmíssimo discurso, o filósofo alemão também infere: "Há mais razão em teu corpo que em tua melhor sabedoria. (...)". Vê-se, desde logo, que o Corpo em Platão é niilista; enquanto o Corpo em Nietzsche é vitalista (pura potência). E é exatamente isto que me interessa de fato: o Corpo como potência plena. Sou inclinado a pensar que nada existe além do corpo. Para eu não há uma Alma que vive, mas um Corpo que existe plenamente. Sob a perspectiva de Gilles Deleuze, que foi beber na fonte de Baruch Espinoza, pouquíssimo ou quase nada sabemos sobre o corpo: "(...) o fato é que ninguém determinou, até agora, o que pode o corpo, isto é, a experiência a ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas leis da natureza enquanto considerada apenas corporalmente, sem que seja determinado pela mente – pode e o que não pode fazer (...)" - (Espinoza - Ética III – Prop. 2). Deleuze, por sua vez, além de admitir o paralelismo psicofísico, coloca-o como um caso especial de outro paralelismo, o paralelismo epistemológico, o qual identifica uma ideia com um modo individualizado do pensamento e este, de sua parte, seria modo correspondente a um corpo. De qualquer forma, para Deleuze, o paralelismo entre corpo e mente caracteriza a dupla expressão simultânea própria do Deus spinozano: o paralelismo expressaria a imanência divina. Em sua obra "Nietzsche e a filosofia" (n-1 edições 2018), Gilles Deleuze nos propõe a seguinte questão: O que é o corpo? (grifo nosso) Nós não o definimos dizendo que é um campo de forças, um meio nutridor disputado por uma pluralidade de forças, Com efeito, não há "meio", não há campo de forças ou de batalha. Não há quatidade de realidade; toda realidade já é quantidade de força. Nada mais do que quantidade de força "em relação de tensão" umas com as outras. Toda força está em relação com outras, quer para obedecer, quer para comandar. O que define um corpo é a relação entre forças dominantes e forças dominadas.Toda relação de forças constitui um corpo químico, biológico, social, político. Duas forças quaisquer, sendo desiguais, constituem um corpo desde que entrem em relação; por isso o corpo é sempre o fruto do acaso, no sentido nietzscheano, e aparece como a coisa mais "surpreendente", muito mais surpeendente, na verdade, do que a consciência e o espírito. Mas o acaso, relação da força com a força, é também a essência da força; Não se perguntará então como nasce um corpo vivo, uma vez que todo corpo é vivo como produto "arbitrário" das forças que o compõem. O corpo é fenômeno multiplo, sendo composto por uma pluralidade de forças irredutíveis, sua unidade é a de um fenômeno múltiplo, "unidade de dominação". Em um corpo, as forças superiores ou dominantes são ditas ativas, as forças inferiores ou dominadas são ditas reativas. Ativo e reativo são precisamente as qualidades originais que expressãm a relação da força com a força. As forças que entram em relação não têm uma quantidade sem que, ao mesmo tempo, cada uma tenha a qualidade que corresponde à sua


diferença de quantidade como tal. Chamar-se-áde hierarquia a diferença das forças qualificadas conforme sua quantidade:forças ativas e reativas. Isto posto pode-se dizer que o texto acima, por si, é autoexplicativo. Contudo resta-me salientar que o que soçobra do pensamento deleuziano – baseado em Espinoza e Nietzsche - é a ideia de que o corpo é um complexo singular e plural ao mesmo tempo, ou seja, é a pluralidade do singular infinito ou a infinitude na pluralidade do corpo. Sou, de fato, inclinado a pensar que o ser humano pouco e quase nada conhece sobre o seu corpo singular (físico), e muito menos sobre o seu corpo plural (social, econômico, político, etc). Neste sentido considero que Deleuze – associado à Félix Guattari -, em sua principal obra: O Anti-Édipo, bem como em Mil Platôs, infere o debate da problemática do corpo sob os olhares da filosofia e da psicanálise. Deleuze e Guattari vão resgatar a originalidade de Antonin Artaud, que desenvolvera o conceito de corpo sem órgãos. Vale dizer, desde sempre, que não se trata de um conceito de fácil entendimento. Artaud propõe o fim do julgamento de Deus (corpo transcendente), isto é, um corpo ausente da minha geografia corporífica e materialística. Diz Antonin Artaud: "Assim como o mundo tem uma geografia, também o homem interior tem sua geografia e esta é uma coisa material". Vejo aqui uma conexão, ou mesmo um diálogo, com Nietzsche, para quem "o desejo de atribuir a si mesmo toda a responsabilidade de seus próprios atos, desobrigando a Deus, o mundo, os antepassados, o acaso, a sociedade, (...) é apenas o desejo de ser causa sui e de levantar-se a si mesmo pelos cabelos" (Além do Bem e do Mal – Primeira parte §21, p.30, Ed Vozes). Aos meus olhos, Espinoza, Nietzsche, Deleuze e Guattari, e Antonin Artaud, surfam na mesma onda: é necessário e fundamental de-organizar o corpo, ou seja, eliminar todos os órgãos do ser humano, para que, assim, possa re-nascer o novo ser humano que habita o corpo. Somente um corpo totalmente de-organizado, isto é: um corpo sem órgãos, será capaz de construir, de fato, sua liberdade plena, posto que, perderá seus automatismos, determinismos, etc. E essa liberdade em ato se dará porque a realidade internalizada em uma mente cheia de maquinarias transformadoras possibilitará que este novo ser humano – este corpo sem órgãos - torne-se o verdadeiro corpo de si em ato... Em potência pura... Em vontade de potência. De certa maneira eu os coloco (Espinoza, Nietzsche, Deleuze, Guattari e Artaud) no mesmo altar dessa igreja revolucionária que pretende explodir o princípio, a moral, os fundamentos de um mundo moderno capturado pelo capitalismo desestruturante de todos os corpos.

O que pode um corpo? (Parte II) De João Batista do Lago Intuo empriricamente que foi a partir de Baruch Espinosa2 que a problemática do corpo se deu confessadamente uma questão filosófica (é claro, antes dele já se havia falado a respeito, porém, penso que é a partir de sua Ética que o tema ganha propulsão). Com ele aprendemos que o corpo não é pura e tão somente um amontoado de carne, músculo e osso. Um corpo é muito mais que isso. Um corpo é, sobretudo, potência que se relaciona com outras petências finitas e infinitas. Um corpo é um complexo de afectos3 e afecções4. Isto quer dizer que um corpo tanto pode ser afectado como afectar. Em outras palavras: o corpo é uma potência em ato; é a essência da existência de si; é o centro do divino; é o divino. Nada existe sem corpo, nem para além dele. Ora, isto posto, devemos entender que não só o ser humano é corpo, mas, também, todas as outras “formas” de animais; assim como as árvores, as pedras, as rochas, os rios, os mares, a terra, o ar, o fogo, o sólido, o líquido, o tempo, o espaço... enfim, o universo. Mas é neste ponto que devemos fazer uma distinção clara, plena e absoluta: somente o ser humano é racional; somente o homem e a mulher têm uma mente pensante. Portanto, somente o hoem e a mulher têm a possibilidade de adquirir a imanência5 do corpo na natureza. Sendo assim, intuo que para Espinosa isso faz toda a diferença. E é exatamente aqui que ele consagra a unicidade mente-corpo. Aos meus olhos é exatamente aqui que ele estabelece o seu conceito originalíssimo de Natureza-naturante... de Deus... de Natureza-Deus ou Deus-Natureza. Noutras palavras, isto significa o seguinte: há perfeição em tudo, pois, tudo provém de Deus (Natureza). Portanto, para ele, a natureza é divina e perfeita. Dito isto, caros leitores e leitoras, rogo-vos – desde sempre – perdão por essas elucubrações empirísticas que em mim ruminam-se. Contudo, elas são parte desta minha experienciação existencial/intelectual e que latejam como um tumor purulento. Então, o que pode um corpo (necessariamente)?


Seguindo a trilha deixada por Espinosa, e considerando apenas a minha intuição, intuo que um corpo pode tudo... Pode afectar e ser afectado, pois todo e qualquer corpo é feito de encontros6. De forças que se relacionam com outras forças. De potências que se relacionam com outras potências. De movimentos que se relacionam com outros movimentos. De repousos que se relacionam com outros repousos. De alegrias que se relacionam com outras alegrias. De tristezas que se relacionam com outras tristezas. Tudo isso são encontros categóricos indispensáveis para entender o que pode um corpo – seja na esfera científica, seja no plano físico ou metafísico; seja no escopo metafórico. Seja no campo privado; seja no campo público. Seja no âmbito da religião ou não. Seja no campo da Moral ou da Ética. Seja no campo; seja na cidade. Seja na ambiente social, político ou econômico. Não há como escapar de encontros! Eles são as nossas experiencias – conscientes ou inconscientes. Aos meus olhos, vivemos ad eternum de encontros. (E mesmo os desencontros são, necessariamente, encontros!). É exatamente isso que Espinosa enuncia como sendo a natureza (imanente) divina e perfeita (Deus) – penso eu. E como acontecem esses encontros (necessariamente)? Por intermédio dos afectos e das afecções (necessariamente). Vejam o que infere Espinosa: “(...) Nada acontece na natureza que possa ser atribuído a um vício desta; a natureza, com efeito, é sempre a mesma; a sua virtude e a sua potência de agir são unas e por toda parte as mesmas, isto é, as leis e as regras da natureza, segundo as quais tudo acontece e passa de uma forma a outra, são sempre e por toda parte as mesmas; por consequência, a via reta para conhecer a natureza das coisas, quaisquer que elas sejam, deve ser também una e a mesma, isto é, sempre por meio das leis e das regras universais da natureza (…).” - (Ética, parte III, Da Origem da Natureza das Afecções, p. 175). Ora, então por quê há corpos deprimidos, doentios, enfermos, tristes, acabrunhados?; outros alegres, satisfeitos, potencializados, saudáveis e prenhes de alegrias? O próprio Espinosa nos responde dizendo: “O corpo (…) pode ser afetado de numerosas maneiras pelas quais a sua potência de agir é aumentda ou diminuida; e, ainda, por outras que não aumentam nem diminuem a sua potência de agir.” (…) “O corpo (…) pode sofrer numerosas transformações e conservar, todavia, as impressões ou vestígios dos objetos e, consequentemente, as imagens das coisas (...)”. (Ética, III, postulados I e II, p. 176). É aqui que a porca torce o rabo! Ao inferir tal pensamento Espinosa quer dizer que tudo o que acontece a um corpo somente ocorre porque esse corpo foi afectado, isto é, teve sua potência aumentada ou diminuida durante o processo de um encontro qualquer. Essa afectação resulta de subjetividades apreendidas durante toda a existência e que são resgatadas ou coagidas no instante (aqui e agora) da ocorrência do afecto (encontro). Benedictus não está só nesse pensamento. Nietzsche, por exemplo, declara em uma carta de 1881 que sua filosofia7 e a de Espinosa partilham de uma “idêntica tendência geral”, resumida na fórmula: “fazer do conhecimento o afeto mais potente”. Vê-se, pois, aqui, que o corpo é um “senhor desconhecido”, mas que precisa ser absolutamente conhecido pelo “si” do corpo. Noutras palavras pode-se salientar que todo e qualquer encontro (afecto) – alegre ou triste – deve ser cristalinamente entendido pelo corpo afectado como “o afeto mais potente”.Novamente aqui a porca torce o rabo! Aos meus olhos, todo “o afeto mais potente” (e aqui corro o risco da discordância pretensiosa de entender, seja o afeto (Nietzsche); seja o conhecimento (Espinosa)) – como “o afeto mais potente - é todo e qualquer um que se nos ocorra, que se nos atravessa, que se nos encontra; tanto faz se alegre ou triste. Ter a sensação do amor ou do ódio são, para mim, parte da imanência da natureza do ser e do si. Portanto devem ser existencializados (poetencializados) e não somente percebidos. Noutras palavras: sentir amor (paixão alegre) ou sentir ódio (paixão triste), não está fora da possibilidade do que pode um corpo. Aqui insiro a noção de gozo (prazer de...) ou de desprazer, aflição ou choque. Estes modos ou atributos estão em movimento contínuo. Permanentemente somos atravessados por eles, estejamos em movimento ou não,


ou seja, em estádio de sonho (sono) ou de vigília. E isso ocorre necessariamente porque somos, inequivocamente, corpo-mente/mente-corpo. Contudo, a inexistência experiencial do conhecimento ou do afeto, ou seja, não ter a experienciação destes, não saber deles é, pois, a causalidade fundamental para que existam corpos alegres ou tristes, ou ainda, corpos sãos ou doentios. Assim sendo, pode-se dizer concretamente que os que passam pela vida resmungando – de tudo e de todos (e existem muitas pessoas assim) – são, necessariamente corpos doentes, infelizes, grosseiros, abjetos. E é exatamente daí que nascem os preconceitos, os rascismos, os ressentimentos... são reativos. Por outro lado, aqueles que se propõem um processo de constante alegria (e esses são muito poucos) são prazeros, felizes, cordatos, vitalistas, entusiasmados e entusiasmadores.. são ativos. Exemplo Na minha experiencialidade (pessoal e social) tive a possibilidade de “encontros” com corpos sãos e doentios! Até mesmo no núcleo familiar (e, principalmente nesse)! E devo admitir sobriamente que, mesmo eu, fui (necessariamente) um corpo doente, assim como um corpo são – tantas e quantas vezes. Contudo, diferentemente de pais, irmãs e irmãos, ou de companheira(s) ou filhos, tentei – e tento – sistematicamente ser tão somente um corpo sadio. Não é fácil! Administrar um processo de “alegria” permanente é algo consideravelmente difícil! Intuo que é mais possível (até!) viver em um processo de “tristeza”! A esse respeito vejam o que diz Espinosa: “Aquele que imagina aquilo que ama afetado de alegria ou de tristeza será igualmente afetado de alegria ou de tristeza; e ambas essas afecções serão maiores ou menores naquele que ama, conforme o forem na coisa amada” - (Ética III, prop. XXI, p. 188). Confesso que para mim foi e é (assim como será) extremamente difícil lidar com esse processo de verdadeira desconstrução de um sujeito que foi nascido e criado e educado no seio de uma família católica, cristã, preconceituosa, racista, homofóbica, falocêntrica... Mas, sobre isto, falarei no artigo da próxima semana. Até lá. ---------------------E-mail para correspondência: joaobatistagomesdolago@gmail.com 1 Jornalista, Escritor, poeta, teatrólogo, articulista, ensaista e pesquisador. 2 No dia 24 de novembro de 1632, em Amsterdam, nasceu Baruch (ou Bento em português, ou Benedictus em latim). Morreu em Haia em 21 de fevereiro de 1677. 3 Afeto (affectus ou adfectus em latim) é um conceito usado em filosofia por Espinosa, Deleuze e Guattari, o qual designa um estado da alma, um sentimento. De acordo com a Ética III, 3, definição 3, de Espinosa, um afeto é uma mudança ou uma modificação que ocorre simultaneamente no corpo e na mente. 4 Preferi esta grafia para, definitivamente, diferenciar o sentido desses vovábulos. 5 Característica do que faz parte da essência de alguma coisa em oposição à existência (real, imaginária ou fictícia). 6 Espinosa acredita ser possível entender os afetos, em sua produção interna e necessária, com seus vários graus de complexidade. Espinosa denomina de “bom-encontro” o momento onde nos tornamos mais próximos do mundo e de nós mesmos, ampliando a capacidade de afetar e ser afetado. 7 Em 30 de julho de 1881, Nietzsche envia carta ao amigo Franz Overbeck, Nessa carta o filósofo alemão infere: “Eu tenho um precursor! Eu estou muito espantado, arrebatado! Eu tenho um precursor! E que precursor! (…) Não é apenas que sua tendência global seja a mesma que a minha: fazer do conhecimento o afeto mais poderoso (...)”.


SARAU


CORPORALIDADE De João Batista do Lago

Ó tu minha imanência, princípio, meio e fim; passado, presente e futuro, aquele que jamais me abandona, me saúdas com a plena existência. Ó tu meu campo de guerra, que me crostas e estratificas, que me potencializas em rocha, que me sensualizas o amor da dor, por que me queres matar a terra? Ó tu maestro dos meus pensamentos, que me crias complexo, intenso, belo... deus pleno de toda minha estética, forma material que me consagras, ética pura de todos meus argumentos. Ó tu que me existes em pleno ato, que me cunhas novas expressões, que me arrastas à buracos negros, que me unes a toda natureza, revelas-me no instinto meu imediato. Ó tu espelho da minha aparência, que auscultas o meu desconhecido, ouvindo dele os gritos da libertação, quantas as cadeias que me prendem impedindo toda minha resistência? Ó tu meu sarcófago bem-aventurado, que me guardas como hóstia sagrada, que me ofertas ao outro anódico elemento, que me subjazes na cova transcendente, sou eu mesmo o teu deus desnaturado.


PEQUENA HOMENAGEM À SÃO LUÍS NOS SEUS 402 ANOS DE FUNDAÇÃO E A BANDEIRA TRIBUZI NO SEU 36° ANIVERSÁRIO DE PARTIDA FRANCISCO TRIBUZI FELIZ CIDADE! VIVA TRIBUZI! (VIVA FELIZ NA CIDADE QUE TRIBUZI CANTOU E SE ENCANTOU!) 8 de setembro Para meu pai, Bandeira Tribuzi, no 36° aniversário de sua partida e para São Luís – Patrimônio Cultural da Humanidade, na data do seu aniversário - terra da encantaria, Athenas Brasileira, terra dos poetas... dos bumba bois, tambor de criola – dos carnavais (de tua, passarela...) dos Sãos: João, Pedro, Maçal... praias encantadoras (olho d’agua, araçagy, ponta d’areia...) da feira do livro... dos dias ensolarados, das noites de lua cheia... histórias de glorias... lendas e mistérios... São Luís, cidade louvada em verso e prosa por Tribuzi que, de tanto doar-se e doer-se por ela (na poesia, no jornalismo, como professor, técnico economista) madrugando projetos que visavam um melhor reordenamento do espaço físico/humanista, distribuição de renda mais igualitária (uma educação de abrangência ampla, geral e irrestrita). Porém a voz e o coração de Tribuzi, já cansados, embora os olhos plenos de poesia e amor por esta ilha, resolveram emudecer e, num último suspiro, como prova inconteste do seu infinito amor... resolveu plantar-se nela, para homenageia-la! Assim quando acendemos as velas para festeja-la, o poeta ressurge e brada do infinito: OH MINHA CIDADE DEIXA ME VIVER QUE EU QUERO APRENDER A TUA POESIA...!

Bandeira Tribuzi, pseudônimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes, foi um poeta brasileiro. Filho de pai português, até 1946 viveu em Portugal, estudando na Universidade de Coimbra. Imagem Bandeira Tribuzi Vista do mar, a cidade, subindo suas ladeiras, parece humilde presépio levantado por mãos puras: nimbada de claridade, ponteia velhos telhados com as torres das igrejas


e altas copas de palmeiras. Seus dois rios, como braços cingem-lhe a doce figura. Sobre a paz de sua imagem flui a música do tempo, cresce o musgo dos telhados e a umidade das paredes escorre pelos sobrados o amargo sal dos invernos. Tudo é doce e até parece que vemos só o animado contorno de iluminura e não a realidade: vista do mar, a cidade parece humilde presépio levantado por mãos puras e em sua simplicidade esconde glórias passadas, sonha grandezas futuras.

PRÉ-HISTÓRIA Bandeira Tribuzi Na solidão do chão sem tempo há uma ilha de expectativa, entre dois rios, como braços, suavemente recolhida. Verdes copas e o vento nelas e os cachos das frutas nativas e as alvas coxas de suas praias ao sol do trópico estendidas. Vizinho o mar com sua espuma, seu horizonte imaculado, com sua raiva e sua ânsia, com seu verde pulmão salgado, misturando sua maresia com o acre cheio do mato. Vizinho o mar com seu mistério e o além por ser desvendado. o mar de onde, por milênios, tudo que vem é rumor longo, surdo ou cavo, manso ou severo, cantochão grave, som redondo contra pedras, conchas, areias, interminável apelo em som do horizonte que não revela o mistério profundo e abscôndito.


Passeio sobre São Luís Francisco Tribuzi Não consigo ser Mais que esse vício provinciano De andar pelas tardes (Sob o limo dos telhados) Praia Grande Ponta d’Areia Mesmas vitrines De entrar pela noite Madrugar nos bares Ler Poema Sujo Na solidão da Ilha Divagar lugares vários Mas se sentir como um imã Preso a São Luís.

São Luís Francisco Tribuzi Soletro São Luís é ela quem me passeia por brejos, luares, varandas, limo e lustres, fortes e fontes, muros e mares. Basta-me um barco. As lanternas do cruzeiro do sul para navegar o cortejo deste presépio de luz, ancorado na beira-mar e, o precipício dos becos empurrando poesia pelas ladeiras da História. Soletro São Luís e aprendo a didática de amar a cidade muito além da arquitetura de azulejos portugueses.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

FRAN PAXECO:

recortes & memórias

SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2021


DO BILHETE-POSTAL À “DISCUSSÃOZITA”: FRAN PAXECO E PAULINO DE OLIVEIRA ANTÓNIO CUNHA BENTO

Há uns anos apareceu à venda num alfarrabista de Lisboa um bilhete-postal escrito por Francisco Pacheco e dirigido a Paulino d’Oliveira. Expedido de Lisboa a 5 de Dezembro de 1894 foi recebido em Setúbal no dia seguinte. Como se pode verificar pelos carimbos dos Correios e Telegraphos – estavam longe os tempos que ditariam a necessidade de criação do chamado correio azul com vista a conseguir-se, na melhor das hipóteses, a mesma rapidez de entrega – note-se que o endereço do destinatário era simplesmente: “Exmo. Sr. Paulino d’Oliveira / Setúbal”. Estávamos longe, também, da introdução do código postal que era “meio caminho andado”. Nos dias de hoje, mesmo com o correio azul, o postal não levaria só um dia, nem sequer seria entregue ao destinatário, por falta de completo endereço!

A mensagem que o referido bilhete-postal contém é muito curta: “Meu am. o O meu parabém pela nova iniciativa que promete, se for severa. – O Almada Negreiros vai colleccionar as poesias do Costa Alegre. Pediu a um meu colega se lhe arranjava a Estreia e a Semana Set.e, onde vêm poesias dele. O meu caro arranja-me isso? Desde já lhe agradece o seu F co Pacheco” Comecemos, então, a analisar a peça em presença, um bilhete-postal, de 10 réis, cor sépia, com a efígie de D. Carlos, de uma série emitida pelos Correios entre 1892 e 1895: - O destinatário é o setubalense Francisco Paulino de Oliveira (Setúbal, 1864 – São Paulo, 1914) que, no campo literário, usou o anagrama Anúplio de Oliveira. Foi jornalista, poeta e, mais tarde, cônsul de Portugal em São Paulo; - O remetente é Manuel Francisco Pacheco (Setúbal, 1874 – Lisboa, 1952), que, em 1897, passou a usar o nome Manuel Fran Paxeco, posteriormente oficializado com a publicação em Diário do Governo de 25 de Novembro de 1905. Também setubalense, foi jornalista, escritor, professor e cônsul de Portugal em São Luís do Maranhão, Belém do Pará, Cardiff e Liverpool;


- A nova iniciativa, que promete, se for severa é uma referência a O Mez – Chronica da vida setubalense, que Paulino de Oliveira havia fundado em Novembro daquele ano, terminando em Janeiro do ano seguinte e do qual só sairiam três números; - Almada Negreiros é António Lobo de Almada Negreiros (Aljustrel, 1868 – Paris, 1939), jornalista, escritor e poeta, pai de José de Almada Negreiros (S. Tomé e Príncipe, 1893 – Lisboa, 1970). Radicouse em Paris e lá faleceu. Após a sua ida para França só se terá voltado a encontrar-se com o filho uma única vez; - Costa Alegre é Caetano da Costa Alegre (São Tomé, 1864 – Alcobaça, 1890), poeta santomense – “criador da negritude em poesia”, segundo um seu conterrâneo –, estudante de Medicina em Lisboa e que havia sido colega de Paulino de Oliveira na Escola Académica de Lisboa falecido precocemente, vítima de tuberculose. Paulino de Oliveira dedicar-lhe-ia dois dos melhores e mais artísticos sonetos, segundo Fran Paxeco: I Alegre, Alegre triste… o seu sorriso Que nos lábios constante lhe pairava, Lampejo que era pálido e indeciso Às vezes – que amargôr ele destilava! Sentir com que a si mesmo disfarçava… Perdão mandado a custo para o riso De mofa, eterno, que custar julgava E lhe partia todo o paraíso… Quando, o sorrir gelado pela morte, Mas descansando da hediondez da Sorte, Vim de deixar-te à porta do jazigo, Descia a noute, fúnebre, de rastros, Semeando estrela, como, tu, Amigo Negro infeliz que irradiavas astros. II Esses alvares que, troçando o preto, Como a negar-lhe o seu quinhão na Vida, O julgam réprobo, alma esquecida, O julgam enjeitado para o afecto, Quem lhes dera possuir a delicada E fina flor ideal do sentimento Como possuía o teu vivaz talento, Alma de artista morto na alvorada! O corpo é nada, o coração é tudo… O teu corpo era o escrínio de veludo De uma joia celeste, gema rara, Preto gentil, meu malogrado poeta… Sabei, oh brancos d’alma hedionda e preta, Que há pretos d’alma niveamente clara!...


- O colega de Fran Paxeco é Artur Ernesto de Santa Cruz Magalhães (Lisboa, 1864 – Lisboa, 1928), jornalista, escritor e poeta, fundador do Museu Rafael Bordalo Pinheiro em Lisboa; - A Estreia é o periódico A Estreia - quinzenário literário e noticioso, jornal fundado por Paulino de Oliveira, que se publicou entre 25 de Abril e 26 de Setembro de 1886; - Semana St.e é a Semana Setubalense – folha independente, política, litteraria e noticiosa que sucedeu a A Estreia, publicou-se de Outubro de 1886 a Outubro do ano seguinte.

Manuel Fran Paxeco

Francisco Paulino de Oliveira

Apresentados os personagens e as referências, passemos às “estórias”: Como se viu, o pedido formulado no postal era no sentido de obter exemplares dos jornais A Estreia e Semana Setubalense, onde tinham sido publicados poemas de Costa Alegre, falecido poucos anos antes, a fim de que Almada Negreiros (pai) os publicasse. No entanto, a poesia de Costa Alegre só veio a ser compilada e publicada, por Cruz Magalhães, com o título “Versos”, em 1916. O assunto, depois de satisfeito o requerido, teria ficado encerrado se o remetente e o destinatário não fossem dois jornalistas locais, um de 30 e outro de 20 anos, polemistas por natureza. Assim não aconteceu, como se verá. Quis o acaso que, decorrido algum tempo, no mesmo alfarrabista, fosse encontrado um lote de jornais e revistas que tinham feito parte do mesmo espólio, pertença de um descendente de Paulino de Oliveira. Desse lote fazia parte o conjunto, caso raro, dos três números publicados de O Mez – chronica da vida setubalense - Redactor único e único responsável para todos os efeitos: Paulino de Oliveira. O primeiro número, logo a abrir, prometia (em tom de ameaça): Uma vez por mês – assim fica explicado o singelíssimo título – entreteremos esta «causerie» com o público... que nos ler. Uma vez só todos os meses, simplesmente porque o tempo que ocupamos em trabalhos d’outra ordem nos não concede sobejidão maior. Todavia será uma falácia nada apoucada de tamanho e... de má-língua. As ferroadas não demoraram em O Elmano – jornal fundado por Manuel Francisco Pacheco, em 1890, que, na primeira série, não passaria do primeiro número, reaparecendo três anos depois, tendo como Redactor Principal Manuel de Padilha (Setúbal 1871 – Lisboa, 1922) e onde colaborava regularmente Manuel Francisco Pacheco, que assinava indistintamente como Francisco Pacheco, F. P. e Flamino.


As hostilidades foram abertas logo no primeiro número de O Mez que, entre outros mimos, no artigo intitulado «Comentários novos a asneiras velhas», Paulino de Oliveira se referia a um artigo de Manuel de Padilha, publicado em O Elmano de 27 de Setembro de 1894, sobre Manuel Maria Portela, em que este era chamado de poeta parnasiano. Terminava assim o autor do artigo: Temos, dizendo isto, apenas em mira não deixar passar, em julgado, semelhante barbaridade literária, que só tem explicação na ignorância charra de quem o deitou a público. Manuel de Padilha ripostou em O Elmano de 24 de Janeiro de 1895: De ouvir apregoar bravatas estamos nós fartos. De aturar charlatães que pretendam vender-nos gato por lebre, drogas nocivas por elixires de longa vida, estamos já cansados. A crítica quando bem orientada é uma necessidade. Fora disso não passa dum reles pedantismo, que é necessário escorraçar, que de modo algum se pode admitir. Criticar nunca poderá ser o largar rédeas à má-língua... em meia dúzia de sandices, despeitos e rancores mal contidos. Intensificou-se a troca de acusações e, no nº 3 de O Mez, página 101, diz Paulino de Oliveira em novo texto ainda intitulado «Comentários novos a asneiras velhas»: Pacheco (Manuel Francisco) sempre foi homem de alvitres audazes. Uma vez, na girandola do seu estilo estapafúrdio, opinou que a terra da sua natalidade era demasiadamente dotada de largos e praças. Pacheco, por antonomásia o Pachequinho [talvez porque Paulino tivesse 30 anos e Pacheco 20], que sempre foi uma boa praça, acusava nessa guerra desalmada contra os higiénicos largos a estreiteza do seu encéfalo… Francisco Pacheco, em O Elmano, de 28 de Março de 1895, retribui assim: O abuso, seja do que for, é sempre prejudicial. Exemplifiquemos: - se o Anúplio abusar da manjedoura arrisca-se a uma indigestão; se abusar do tinto expõese a uma bebedeira. E estas, repetindo-se, promovem incómodos gástricos, de que, supomos, o furioso ainda não padece…

Perguntar-se-á, mas o que tem esta polémica – Teófilo Braga designou as polémicas de «balas frias» – a ver com o bilhete-postal? Tem, como se verá na página 107 do nº 3 de O Mez, de Janeiro de 1895, só distribuído em Março, onde Paulino de Oliveira transcreve, parcialmente, o postal em análise: Pacheco (Manuel Francisco) escrevia-nos em 5 de Dezembro, de Lisboa: «O meu parabém pela nova iniciativa, que promete, se for severa».


Mudou bem depressa a opinião de tão agudo precioso. A severidade, como lhe tocou pela porta, já não presta. Para os outros é que serve. Terminava, assim, esta troca de acusações e agressões verbais, bem ao gosto da época porquanto, não só Manuel Francisco Pacheco partira para o exílio político no Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro a 8 de Maio de 1895, e O Mez findara a publicação em Março desse ano. Não fora isso e, certamente, teria prosseguido a “contenda”. Anos mais tarde, já Manuel Francisco Pacheco tinha alterado o nome para Manuel Fran Paxeco e era Cônsul de Portugal em São Luís do Maranhão. Na sua obra Setúbal e as suas celebridades, Setúbal, 1930, a páginas 291 e 292, refere-se a este incidente nos seguintes termos: O Mês – crónica da vida setubalense – irrompe em novembro - 1894. Estamparam-se mais dois folículos – em dezembro-1894 e janeiro-1895. Num deles chasqueou [Paulino de Oliveira] dum nosso artiguinho, inserto no Elmano. Ocupávamo-nos do excesso de largos irregulares, em Setúbal. Ocasionou uma discussãozita. Padeceu por nós o Padilha, que ficou sem as lunetas, ou seja cego, pois era desmesuradamente míope. E nunca mais trocámos palavra. Isto não obstou a que lhe [refere-se a Paulino de Oliveira] admirássemos, através de tudo, os primores da inteligência e o desapego de vaidades pueris, ainda que se orgulhasse dos seus inquestionáveis méritos. Revimo-lo num camarote do teatro Luísa Todi, em 4 de fevereiro de 1899, quando agradecíamos, publicamente à extraordinária Lucinda Simões, a honra de haver ido lá, para dar um espetáculo de preito a Garrett, o grande prógono português do Romantismo. Celebrava-se-lhe o centenário da nascença. Paulino, que participara das homenagens centenárias de 1905 a Bocage, também se manifestou naquela oportunidade… Sentimos uma sensação de espanto, ao ouvir da Exma. Sr.ª D. Ana de Castro Osório, em Janeiro de 1914, na embaixada de Portugal no Brasil, a triste notícia de que se encontrava tuberculoso o seu marido, que era cônsul em S. Paulo. Conhecêramo-lo tão nutrido, tão cheio de saúde! E maior se tornou o nosso espanto, acrescido por uma sincera mágoa, ao saber que falecera, semanas depois - em 13 de março. Fran Paxeco, quando do seu encontro com Ana de Castro Osório, prestava serviço na Embaixada de Portugal por ter sido requisitado pelo, então, Embaixador Bernardino Machado e, mais tarde, Presidente da República. Um simples bilhete-postal, formulando um simples pedido, permite, passados mais de 120 anos, reviver uma discussãozita entre dois ilustres setubalenses, jornalistas, diplomatas, republicanos, forçados ao exílio, passando ambos, injustamente, pelo cárcere e ambos de personalidade muito vincada.

Notas: 1 – Nas transcrições optou-se pela alteração da ortografia, para facilidade de leitura, excepto nos títulos. 2 - Não é seguido o novo Acordo Ortográfico.


FRAN PAXECO E A CRÍTICA AO LIVRO “FUNDAÇÃO DO MARANHÃO” EUGES LIMA*

“(...) Fran Paxeco, que tanto se interessa por tudo quanto diz respeito ao Maranhão, e que tão profundamente conhece os nossos homens e as nossas coisas.” José Ribeiro do Amaral (1914) Muito já se falou e se escreveu sobre o questionamento da fundação francesa de São Luís, principalmente nos últimos quase vinte anos. Então, quando pensávamos que não havia mais novidades sobre o tema e que quase tudo já tinha sido dito, pesquisado e publicado, em uma de nossas pesquisas em jornais antigos, eis, que, por acaso, encontrei, há um pouco mais de um ano, uma surpreendente resenha sobre o livro “Fundação do Maranhão”, escrito pelo professor José Ribeiro do Amaral por ocasião das comemorações do tricentenário da “fundação francesa” de São Luís em 1912. Este trabalho é considerado o livro-chave que introduziu essa nova versão de fundação da cidade, pois, até então, a versão corrente, clássica da historiografia maranhense era que a cidade de São Luís tinha sido fundada pelos portugueses, após a expulsão dos franceses, em 1616. Pois bem, pasmem-se! Encontrei no Jornal “A Pacotilha,” de 20 de novembro de 1912, ou seja, contemporânea à publicação do livro de Ribeiro do Amaral, uma resenha com o título “Uma boa memória”, escrita por ninguém menos que o intelectual português, Consul de Portugal no Maranhão e um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras (AML), Fran Paxeco, que nessa ocasião, era jornalista desse diário. Essa resenha crítica, que apesar do aparente título elogioso, na verdade, traz implícita e, em alguns momentos, explícita, certo tom de ironia nos argumentos de seu autor acerca das teses de fundação francesa de São Luís, levantadas por Ribeiro do Amaral. A novidade do texto consiste, de um lado, que a nova versão da fundação de São Luís, de origem francesa, engendrada e encampada por Ribeiro do Amaral, não foi unânime entre os historiadores e intelectuais contemporâneos e encontrou forte resistência na visão de Fran Paxeco, seu colega de geração literária e da fundação da AML, em 1908. Por outro lado, representa também um dado novo nesse debate, pois, até aqui, as críticas e contestações contra essa visão da fundação francesa de São Luís que os historiadores tinham conhecimento, eram referentes a várias décadas posteriores à publicação do livro “Fundação do Maranhão,” e, mais recentemente, a partir dos anos 2000, com o livro da historiadora Lacroix. Portanto, até agora, não se tinha conhecimento de uma crítica contemporânea ao surgimento dessa nova interpretação, ou seja, no seu nascedouro. Vejamos quais foram os principais argumentos utilizados por Fran Paxeco para rechaçar o livro “Fundação do Maranhão” e sua tese de uma São Luís de origem “absolutamente francesa.” Primeiro, o autor, usa de uma aparentemente cautela para desconstruir as teses de Ribeiro do Amaral, tentando alternar falsos elogios com críticas para dar um tom equilibrado, buscando fazer uma média, afinal, a reputação e notoriedade do douto saber do professor e historiador José Ribeiro do Amaral eram algo patente, talvez, não quisesse gerar um melindre mais sério; porém, acho que não teve sucesso nesse intento, com isso, acabou construindo um texto bastante irônico quanto às fragilidades e contradições dos argumentos de Amaral acerca da fundação francesa da cidade de São Luís. Prevaleceu mais sua inteligência e capacidade de descaracterizar o trabalho do professor Ribeiro do Amaral como um trabalho de história, daí o tom aparentemente elogioso, mas, no fundo, irônico, de “Uma boa memória”, pois, seria memória e não história. Fran Paxeco inicia seu texto, dizendo que é “um sugestivo estudo, especialmente com o fim de comemorar o tricentenário do estabelecimento dos franceses no Maranhão”, tentando ressaltar, a distinção entre o estabelecimento dos franceses na Ilha de São Luís com a fundação da cidade de São Luís. Já no segundo parágrafo, ressalta “que as publicações rememorativas se revelam, no geral, inferiores ao fato que pretendem festejar, por via do afogadilho com que se elaboram”, sugerindo, assim, o autor que o livro resenhado teria sido feito às pressas, que seria uma publicação de efemérides, de comemoração e como tais, eram sempre inferiores


devido à rapidez como eram elaboradas, sem tempo para pesquisa séria. Arremata, dizendo que “a musa das idades mortas repudia” esse tipo de trabalho. A musa à qual se refere é a “história”. Continua, dizendo, “bem certo é que a história se não inventa.” Aqui, Fran Paxeco, na sua resenha demolidora, insinua que José Ribeiro do Amaral estaria inventando uma história acerca das origens da cidade de São Luís, que se trata de uma invenção, argumento surpreendente atual para quem discute o problema hoje, a partir de uma perspectiva de invenção de uma tradição ou da história como invenção, embora ele afirme que a história não é invenção. Afirma também “que o critério julgador dos acontecimentos idos não se improvisa,” sugerindo novamente a ideia de que o olhar do professor Amaral sobre o passado remoto das origens da cidade foi feito a partir de improvisos, sem muito critério histórico. No seu rosário de argumentos de desconstrução da nova versão de origem francesa, imprimida pelo autor de “Fundação do Maranhão”, Fran Paxeco, destaca que “exuberância documental, de por si, sem uma pontinha de síntese e uns dedinhos de filosofia, resulta redundante,” isto é, os documentos por si só, sem a devida análise e interpretação, não representam muita coisa, os documentos não falam por si só. Mais uma vez, o autor da resenha demonstra uma visão bem inovadora da história para aquele momento, bastante contemporânea. No terceiro parágrafo, o autor, diverge novamente da visão de Ribeiro do Amaral, que considera a cerimônia realizada no 8 de setembro de 1612 como “verdadeiro auto de fundação da cidade de São Luís”, inventando, assim, uma tradição para a cidade, dia, mês e ano do seu aniversário. Para Fran Paxeco, tal cerimônia representou, na verdade, “o ato de posse da ilha de São Luís, pelos companheiros de La Rarvardiere”, conforme, inclusive, está expresso no livro “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão...” de Claude d’Abbeville [1614]. Não um auto de fundação, como queria Ribeiro do Amaral. Segundo Paxeco, essa visão de Amaral de apologia à ocupação francesa, “despertou hossanas incontáveis qual delas mais interessantes. Houve quem entendesse que, se Maria de Médicis se desinteressasse da miraculosa ideia, o Maranhão seria ainda um espesso matagal. E o que buzinaram sobre a cultura francesa, transmitida aos íncoles!?” Conclui o autor, dizendo: “riríamos de tudo isso, se o caso no não entristecesse. Quem acredita que, dentro de tal prazo, se transformem sociedades, catequizem incultos?” A ocupação francesa no Maranhão durou apenas pouco mais de três anos, portanto, foi muito fugaz, sem tempo para construir algo sólido no Maranhão. Nesse sentido, afirma Fran Paxeco: “longe de nós o intuito de negar que os audazes incursores se apoderassem, primeiro do que outrem, desta bela ilha, construindo fortes e cabanas [...] Mas isto, à face da ciência histórica, implica em simples episódio cronológico [...] E, como a posse que se arrogaram, contra a fé dos tratados [...], se demostrassem de todo em toda efêmera, sem deixar vestígios de peso”. Fran Paxeco surpreende-se com o fato de o trabalho do professor Amaral não se respaldar na historiografia anterior sobre o tema da ocupação francesa no Maranhão. Considera que o livro não apresenta argumentos que invalidem as conclusões de um dos grandes historiadores, não só maranhense como brasileiro: “João Lisboa, o maior dos historiadores brasileiros, e que detidamente aludiu aos velejadores de Cancale e S. Maló, contesta-lhe com fortes motivos. E não vemos argumentos que lhe anulem as indestrutíveis conclusões.” Mais adiante, fazendo referência aos renomados historiadores mundiais e tentando ressaltar a não utilização por parte de Amaral das obras de João Lisboa, no tocante a ocupação francesa, o autor, faz o seguinte questionamento: “por que se relegam à poeira das estantes dos estudiosos os livros de João Lisboa. Por fim, segundo Fran Paxeco, ao “livro do sr. Amaral [...] falta um [...] certo rigor metódico que inspira os trabalhos do gênero.” Interessante observar como essa resenha crítica, tão aguda, inteligente e atual, escrita em 1912 acerca do livro de José Ribeiro do Amaral, que tanto influenciou a historiografia maranhense nos últimos 107 anos sobre essa temática, passou despercebida durante todo esse tempo e que nos revela muito sobre a genialidade de um Fran Paxeco, atento, perspicaz, com uma visão historiográfica requintada para desconstruir no seu nascedouro a heterodoxa tese de Ribeiro do Amaral de uma São Luís fundada por franceses. Que percepção ou coragem teve Fran Paxeco, entre tantos, para ser o único a observar e contestar a mudança de versão sobre a fundação da cidade que estava sendo operada aí, nesse momento, antecipando-se o autor de “Uma boa memória”, portanto, muitas décadas às críticas e analises atualmente feita pela historiografia.


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VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS: VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b

REVISTA DO LÉO - NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018


https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/101ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019


VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/102ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec



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NINGÚEM SEGURA MARLON ZANOTELLI GRANDES TALENTOS DOS ESPORTES DE SÃO LUIS

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ROSE CARVALHO

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KENARD KRUEL FAGUNDES

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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO: GREMIO LÍTERO-RECREATIVO PORTUGUES

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BALSENSE É MEDALHA DE BRONZE NO VÔLEI NAS PARAOLIMPÍADAS DE TÓQUIO 2021

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TÓKIO 2021 – PARALIMPIADAS - MARANHENSES

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EDITORIAL

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