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O capacitismo é uma forma de preconceito velada, pois são conjuntos de idéias e atitudes que estão tão enraizadas no imaginário da população que passam despercebidas. Exemplo de postura capacitista é dirigir-se ao acompanhante de uma pessoa com deficiência física para falar algo sobre ela em vez de dirigir-se diretamente à própria pessoa, julgando que esta última não tenha capacidade de falar por si. Outro exemplo é quando se trata uma pessoa com deficiência de forma infantilizada, usando termos como: “sua perninha, seu bracinho, sua cadeirinha, etc.” Tratar um adulto de maneira infantil é imaginar que ele é uma eterna criança, que não consegue fazer nada sem ajuda e que pode ter sua privacidade invadida ou negada. Isso é capacitismo. O problema é que, além dessa discriminação, o capacitismo também se apresenta como um problema social. Na prática, não envolve apenas termos ofensivos e olhares de julgamento. Ele está ligado à ausência de pessoas com deficiência em diversos espaços da sociedade. Quantas pessoas com deficiência trabalham com você? Quantas estão na sua sala de aula? Você tem amigos que sejam pessoa com deficiência? Só essas perguntas já nos levam a uma reflexão. Os dados atuais do IBGE mostram que pelo menos 45 milhões de pessoas no Brasil possuem algum tipo de deficiência, quase 25% da população do país. Mas esse número, nem de longe, representa os espaços ocupados pelas pessoas com deficiência no mercado de trabalho. E quando a pessoa com deficiência decide ingressar no mercado, exercer sua independência e autonomia, uma realidade bastante contraditória do capacitismo também acontece. Ela passa a ser vista como uma verdadeira guerreira, exemplo de heroísmo e inspiração para o resto do mundo. Mas porque esse é um pensamento capacitista? A verdade é que quando a expectativa é baixa, qualquer coisa que fazemos parece ser grande. Expressões do tipo: “não posso reclamar da minha vida, porque fulano não anda e faz de tudo” ou “que exemplo ver uma pessoa cega estudando.” São só algumas que muita gente reproduz sem nem perceber. Uma pessoa com deficiência que trabalha, estuda, pratica esportes, namora, não faz isso com a intenção (ou obrigação) de inspirar ninguém. Tratá-las como guerreiras da vida é só uma forma “bonitinha” de dizer: “eu não esperava muito de você”. Foto: TSE

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Revista Livre Acesso #1 - Setembro/2021 - pág.10


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