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um estudante autista que vive em Porto Velho (Rondônia), foi retirado da sala de aula por uma alegação de que a escola não tinha ninguém para cuidar dele. Sua mãe Mabel Colares fez uma gravação do momento e compartilhou na web. O desabafo chegou até o apresentador Marcos Mion, que usou seu Instagram para dar voz à mãe. Infelizmente o caso dessa família não é único. Milhares de pais e mães diariamente encontram desafios similares. Mas como isso aconteceu, se existe a lei Berenice Piana, que garante a educação de estudantes com TEA (Transtorno do Espectro Autista), em qualquer rede de ensino? Assim como dito pela mãe de Gustavo, a inclusão, em 99% do tempo, está apenas no papel. Quem tem filho com alguma deficiência sabe que é muito comum chegar em uma escola e perguntar: vocês fornecem material adaptado? E a resposta da escola é: - Sim, nós temos. Porém, o que se vê na prática é que a instituição usa o material do 1° ano para ensinar a criança com deficiência no 3° ano. Isto não é material adaptado, isto não é inclusão. Por mais que o cenário da inclusão tenha evoluído ao longo das décadas, os estereótipos criados em nossa sociedade, atitudes capacitistas, falta de preparo de educadores, falta de estrutura dentro dos prédios das instituições de ensino em todos os níveis, do infantil até a graduação, só aumentam a distância entre alunos com deficiência dos outros alunos e diminuem grandemente sua capacidade de viverem em um mundo que pertence à eles também. O impacto não é só na escola, pois a criança um dia se tornará um adulto que não encontrará um ambiente de trabalho que atenda às suas necessidades, diminuindo assim seu potencial de contribuir na sociedade. Uma capacidade diminuída não por causa da deficiência e sim por causa da falta de inclusão. Então não seria mais fácil colocar todos os alunos com deficiência em uma escola específica para eles? A pergunta é: mais fácil para quem? Esse é um caminho curto e confortável para alguns, apenas por um breve momento, que apenas trará transtornos irreversíveis para uma sociedade. Na área da educação, o protagonismo deve ser do aluno e não da instituição. Uma escola só existe porque tem alunos. Sem eles, ela é apenas um lugar vazio. Para finalizar, gostaria de fazer uma reflexão e uma troca de palavras. Desta vez vou escolher a palavra alteridade no lugar de empatia. Alteridade vem do latim, em sua origem “alteritas”. O radical alter significa “outro”, enquanto itas remete a “ser”, ou seja, em sua raiz, alteridade significa “ser o outro”. Ser o outro na escola, Ser o outro no trabalho, Ser o outro no ponto de ônibus. Ao perceber que o “eu” deve conviver com outros, podemos alcançar sim, uma inclusão em todos os setores da sociedade. *Thaissa Alvarenga é criadora da ONG Nosso Olhar, do portal de conteúdo Chico e suas Marias e do canal do youtube Inclua Mundo.

Revista Livre Acesso #1 - Setembro/2021 - pág.23


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