A primeira música do Carnaval “Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, mereceu nossa atenção, ainda que não a tenhamos discutido mais detidamente. Há de se perceber, portanto, que, apesar de a primeira canção não mencionar explicitamente a palavra liberdade, a sugestão em seus versos é precisa. Nessa seção, baseamo-nos nas pesquisas desenvolvidas por Eneida de Moraes e Edgar de Alencar. Tia Ciata – Hilária Batista de Almeida – é uma das personalidades mais marcantes na memória de nosso Carnaval brasileiro. Uma mulher que tem a sua ancestralidade africana, passando pela Bahia e se estabelecendo no Rio de Janeiro. A casa em que ela residia era um local de encontro para festas, samba de partido alto e batucada. Um campo dinâmico, de expressões identitárias. Foi naquele espaço que surgiu Pelo Telefone, o primeiro samba gravado, em 1916, conforme atestam os estudos de Muniz Sodré, Sérgio Cabral, Hiram Araújo, Hermano Vianna, Edgar de Alencar e Monique Augras. Finalizando este capítulo, discutimos, de forma igualmente breve, o surgimento do samba que, inicialmente, era um ato livre com o corpo; as escolas de samba, que reuniram vários elementos constituintes de nossa história do Carnaval. Optamos pela grafia de samba-enredo, reconhecendo a frequência do uso de outros dois vocábulos “samba de enredo” e “samba enredo” que nomeiam essas primeiras composições de nossa história. Consultamos, nessa investida, as pesquisas de Eneida de Moraes, Sérgio Cabral, Hermano Vianna, Tinhorão, Muniz Sodré, Roberto DaMatta e Edgar de Alencar.
1.2 – ORIGENS E SIGNIFICADOS DO CARNAVAL A escritora Eneida de Moraes2, em sua obra História do Carnaval Carioca, legou importante contribuição para os estudos da memória do Carnaval, um testemunho privilegiado visto que ela participou várias vezes como membro do corpo de jurados nas escolas de samba do Rio de Janeiro. Eneida dedicou a sua escrita ao povo carioca e o definiu como aquele que sabe manter sua alegria e seu espírito crítico. Um povo que, “desamparado pelos Governos,
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Eneida Costa de Moraes, jornalista e escritora, segundo a Enciclopédia da música brasileira, foi conhecida como a maior foliã do carnaval do Rio de Janeiro. Criou o famoso Baile do Pierrôs; em 1958 lançou o livro História do Carnaval carioca e mais tarde participou de júris nos desfiles de escolas de samba. Em 1965, desfilou na ala dos pierrôs da Escola de Samba Salgueiro, escola que a homenageou postumamente, com o enredo de 1973.
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