músicas que cantavam e na variedade rítmica. As origens deles estavam nos congos, nas congadas, nos quilombos e ticumbis do Nordeste, adquirindo, no Rio de Janeiro, identidade própria. Monique Augras, igualmente, assevera que, por ser o ritmo do cordão Cucumbis caracterizado como triste e enfadonho, marcou a “incapacidade das elites perceberem a riqueza de construções musicais cujas regras fugiam aos cânones ocidentais.” (AUGRAS, 1998, p. 20)
1.3.4 – OS RANCHOS Ranchos eram grupos que organizavam cortejos no carnaval e tinham como elementos de destaque rei e rainhas, provavelmente, devido a influências da cultura africana, notadamente as congadas5 e as festas do divino. Surgiram por volta de 1870 e os seus integrantes pertenciam às classes populares cariocas. José Ramos Tinhorão6, em Pequena história da música popular, afirma que os Ranchos apareceram no fim do século XIX entre os núcleos de moradores nordestinos da zona portuária do Rio de Janeiro, todos ligados a uma origem rural. A proposta de desfilar com os Ranchos no Carnaval veio dos baianos migrados para o Rio de Janeiro, “os primeiros ranchos cariocas saíam cantando pelas ruas as marchas e loas do repertório tradicional do ciclo das festas folclóricas de dezembro”. (TINHORÃO, 2013, p. 153) Para esse pesquisador, ao adotarem a formação das procissões religiosas, os Ranchos instituíram um mínimo de disciplina em meio ao caos do Carnaval e foram motivo de inspiração para o “Ó abre alas”, de Chiquinha Gonzaga, em 1899. Com efeito, a evolução dos Ranchos era marcada pelas marchas-rancho que usavam instrumentos de percussão e de sopro; as fantasias e as performances coincidiam com as das congadas e festas do divino. Observemos que muitos dos recursos utilizados nos Ranchos permaneceram nas Escolas de Samba – que passaram a ocupar o lugar deles, de forma gradual – a exemplo, a comissão de frente, o mestre sala e a porta estandarte. Muniz Sodré destaca que os ranchos eram uma organização estruturalmente negra e que existiam na Pedra do Sal, atual Morro da Conceição, anterior ao reinado das tias da 5
Marina de Mello e Souza, em Reis negros no Brasil escravista: história da coroação do rei do Congo, define a congada como uma forma particular de conceber e transmitir a história. Como a maior parte de seus atos é realizada nas ruas, “essas festas tinham nas igrejas de seus padroeiros um importante elemento aglutinador, sendo os templos espaços de convívio dos grupos que se articulavam nas irmandades.” (SOUZA, 2006, p. 315) 6 José Ramos Tinhorão, jornalista e pesquisador da música popular brasileira desde 1966.
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