REVISTA PORTUGAL DEZEMBRO 114

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tema de capa PRÓTESE DENTÁRIA

ponto de vista Os desafios para o ensino do digital na área da prótese dentária

João Carlos Roque Técnico de prótese dentária. Professor do curso de Prótese Dentária da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa.

Passados 40 anos, sim, quatro décadas, sobre o surgimento da tecnologia digital na área da reabilitação protética, como está esta realidade espelhada ao nível do ensino na área dentária? Conseguiram as instituições de ensino acompanhar e espelhar nos seus currículos o ritmo de desenvolvimento tecnológico a que vimos assistindo? Estamos hoje a praticar um ensino de tecnologias digitais ao mesmo nível do que tem sido feito ao longo dos anos no ensino das técnicas tradicionais (analógico)? O acesso das instituições de ensino à tecnologia digital, que evolui a um ritmo vertiginoso, é satisfatório e de vanguarda? Existe conhecimento e preparação do corpo docente para esta nova realidade? Estarão os jovens licenciados, na entrada do mercado de trabalho, preparados para as novas exigências profissionais, alicerçadas num novo paradigma de fluxo de trabalho digital? Que contributo estão os cursos a dar para o conhecimento científico no domínio do digital? As questões são infindáveis e urge olhar para as respostas atuais para preparar o futuro, que é hoje!

Aos poucos, porque a prática profissional o vai impondo, os docentes vão evoluindo no seu conhecimento do processo digital, no entanto, existe um desfasamento geracional que ainda vai ditando alguma resistência ao processo de transformação

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dezembro 2020

Todos temos presente os slogans, que constantemente nos são buzinados aos ouvidos, de que o digital é mais fácil, rápido e de melhor qualidade. Acredito que sim, mas para tal temos de saber utilizá-lo, potenciá-lo e melhorá-lo, conforme fizemos durante outras tantas décadas com os métodos tradicionais. É aqui que entram as instituições de ensino, que em Portugal na área da Medicina Dentária e também da prótese dentária são de nível superior, universitário ou politécnico. Afinal, é suposto a universidade ser o local de vanguarda, investigando novas alternativas e apontando novos caminhos, funcionando como um polo agregador de novas ideias e tendências na prática quotidiana. Está isso a acontecer? Concretizando as minhas dúvidas, aponto três situações que devem merecer alguma reflexão. Primeiramente a questão do modelo de ensino. Na realidade portuguesa, os cursos de licenciatura em prótese dentária existem em paralelo com os de mestrado integrado em Medicina Dentária, lecionados nas mesmas instituições. Sendo um modelo que não é transversal na Europa, porque o ensino da prótese dentária ainda acontece ao nível da formação técnico/profissional em alguns países, existe também pontualmente em outros continentes. É um modelo que tem inúmeras vantagens, entre as quais destaco a sinergia de recursos humanos e técnicos, a partilha de conhecimento técnico/científico mais abrangente e um enorme potencial para investigação científica conjunta, em áreas que são indissociáveis como seja a da reabilitação oral. Contudo, não tem sido explorada convenientemente. Olhando para os vários curricula dos cursos das duas áreas e para as práticas instituídas, de que tenho algum conhecimento, não é


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