E&M_Edição 04_Julho 2018 • A banca no Bolso

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JULHO 2018 • Ano 01 • NO 04 Preço 200 MZN A BANCA NO BOLSO COMO O SISTEMA FINANCEIRO QUER CHEGAR A CADA VEZ MAIS MOÇAMBICANOS MOÇAMBIQUE PME+ REGRESSAR ÀS BASES, PARA CONSTRUIR O FUTURO CASAMENTO A UNIÃO ENTRE O SONHO E O NEGÓCIO DE MILHÕES HULENE VIVER, MORRER E SOBREVIVER NA TERRA DAS COISAS MORTAS LÁ FORA OS ROBÔS ESTÃO A CHEGAR A ÁFRICA. E VÊM PARA FICAR

Mandela a celebração dos 100 anos do nascimento do humanista sul-africano 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País, agenda 14 Macro

ENQUADRAMENTO

14 MPME elas regressam às bases para fazer crescer os seus negócios 18 Casamento como uma instituição antiga se tornou um (grande) negócio novo 26 Nação

BANCA DigiTAl

26 A banca no bolso como o sistema financeiro está a tentar encontrar soluções inovadoras para chegar a toda a população 34 Na voz de... Teotónio comiche, o presidente da associação Moçambicana de bancos 38 ProvÍncIa

g aza o que tem e o que falta à província que vive na ‘sombra’ da capital 42 Mercado e FInanças

Outlook como o fim da tempestade económica não anuncia ainda a chegada do bom tempo 46 EMPresas

PME Moz good Trade a história de uma empresa que quer fazer o bem. Porque o que é nacional, pode e deve mesmo ser o melhor 48 MegaFone

Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

50 fIgura do MÊs

CPlP Murade Murargy, traça um retrato do país, à luz de quem andou pelo mundo

52 socIedade

Hulene seis meses depois da tragédia, na maior lixeira do país continua tudo na mesma

58 lÁ Fora

Tendências a 4ª revolução industrial dá a vez aos robôs. como vão ‘ocupar’ o nosso lugar na sociedade?

65 ócio

66 Escape Jardim dos aloés, um b&b de charme e aconchego 68 gourmet em viagem pelo botânica, o jardim das delícias 69 Adega um novo olhar sobre velhos whiskies 70 Agenda Música,livros, filmes 71 Arte europa e África, o passado e o presente 72 Ao volante a audi aposta nos ‘autónomos’

Julho 2018 3 Sumário
6 Observação

Da banca digital às plataformas móveis; uma via aberta à inclusão

a necessidade da bancarização do país até às zonas mais recônditas do ter ritório nacional coloca ao Banco de Moçambique, entidade responsável pela preservação do valor da moeda nacional e promoção de um sector financeiro sólido e inclusivo, a necessidade premente de estimular o mercado para que os serviços financeiros se estendam ao Moçambique real. E combinando assim a evolução e modernização da banca com as plataformas móveis, que começam a ganhar dinâmica no mercado rural.

A este nível, as estratégias desenvolvidas em África traduzem-se em resulta dos encorajadores que vão levando cada vez mais a população rural a sentir -se parte do sistema financeiro quebrando, desta feita, o tabu de que o banco é para as elites.

Nao obstante este dinamismo que se assinala nas zonas rurais, é necessário não perder de vista que o programa de inclusão financeira só terá sucesso se houver esforços conjugados de outros sectores que concorrem para a extensão e desenvolvimento destes serviços, apostando em formas alternativas, inova doras e económicas de circulação monetária e de pagamento de contas. As políticas do Banco de Moçambique não serão, de per si, suficientes para os vários operadores efectivos e potenciais se sentirem estimulados a desen volver ou implementar sistemas ou projectos quando encontram entraves de vária ordem para a sua materialização. É necessário que, por exemplo, os sectores das Tecnologias e Sistemas de Informação, das Comunicações, o órgão legislador, a Justiça, a Educação e o Desenvolvimento Rural façam parte de um programa nacional verdadeiramente global.

O desenvolmento de plataformas informáticas que tornam o serviço financeiro fácil, cómodo e célere, acarreta riscos associados a tentativas de fraudes, pelo que a legislação e o sistema de justiça devem acautelar medidas e penalizações para desencorajar tais actos.

É perspectivando o presente à luz do futuro, que a E&M disponibiliza informa ção relevante como esta, aos estimados leitores, todos os meses, como um ins trumento de tomada de decisão pois ‘quem lê sabe mais’.

JulhO 2018 • Nº 04

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

DIRECTORA EDITORIAl

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl; Rui Trindade

PAGInAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; Fax: +351 213 813 569; iona@iona.pt

ImPREssÃO E ACABAmEnTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique

TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO

01/GABINFO-DEPC/2018

Julho 2018 4 Editorial
Iacumba Ali Aiuba Director
da revista Economia & Mercado

observação

A lutA continuA ...

Completa-se no próximo dia 18 de Julho o centenário do nascimento de Nelson Mandela. Cem anos que valem mais do que mil palavras na vida de milhões de pessoas na África do Sul e em todo o mundo.

Apesar de tudo, num país que enfrenta dificuldades em honrar o legado de Mandela na política, na economia e na sociedade, as comemorações da sua vida estendem-se ao longo de todo o 2018.

É uma boa altura para visitar alguns dos locais mais significativos associados à vida do homem que lutou contra o apartheid, como a Ilha de Robben ou a sua casa no Soweto. Mas, mais do que isso, é o momento ideal para revisitar a parte da sua obra que ainda não se vê com os olhos. Mas que tem as cores do arco-íris. A tal ‘Rainbow Nation’ que só ele parecia ver durante tantos anos e o lugar da utopia sempre possível, onde todos somos um só.

Julho 2018 6
Joanesburgo, África do sul
fotogRAfIA DR
Julho 2018 7

ECONOMIA

em moeda nacional em 14%.

Do lado das empresas, a Con federação das Associações Económicas (CTA) mostra, ain da assim, “preocupação” com a morosidade na redução das taxas de juro praticadas pe los bancos comerciais, que baixaram apenas 300 pon tos base (contra os 600 que fo ram cortados há precisamen te um ano) na taxa de juro de política monetário.

Taxas de juro. O Banco de Mo çambique (BM) reduziu a taxa MIMO (introduzida em Abril do ano passado como inde xante único para a definição das taxas de juro a ser utili zado pela banca) em 75 pontos base, para 15,75%. De Abril de 2017 até agora, esta foi so frendo quedas graduais (de 21,75% para os actuais 15,75%) com o objectivo de “criar con dições para baixar as taxas de juro nos empréstimos”. O BM decidiu ainda reduzir também a taxa da Facilida de Permanente de Depósitos (FPD) em 50 pontos base para 12% e manteve a taxa da FPC em 18% assim como os coefi cientes de Reservas Obriga tórias (RO) para os passivos

Luís Magaço, responsável pe lo pelouro de política finan ceira da CTA, dizia, em Mapu to “haver uma atitude positi va por parte do BM que tem vindo a reduzir a taxa de re ferência do mercado”; mas criticava “uma reacção mais lenta por parte dos bancos co merciais no sentido da redu ção das taxas que praticam aos seus clientes.”

Crescimento. A economia na cional expandiu 3,2% nos pri meiros três meses deste ano, em comparação com igual período do ano passado, re velam dados preliminares do Instituto Nacional de Esta tística (INE) publicados no iní cio do passado mês de Junho. Recorde-se que o Executivo tinha previsto um crescimen

to de 5,3% para este ano, per centual que o ministro das Finanças, Adriano Maleiane, admitiu entretanto rever em baixa para um valor pró ximo dos 3% (mais de acordo com as previsões do FMI, do Banco Mundial e dos princi pais observadores externos da economia nacional) devido “a uma redução das estima tivas da produção de carvão na mina da Vale, em Tete, que reduziu a expectativa de pro dução em 2018, para 15 mi lhões de toneladas de carvão, devido a constrangimentos operacionais.

Contas públicas. Moçambique regista, uma vez mais, um agravamento do défice das contas públicas nos primeiros três meses do presente ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo o governador do Banco de Moçambique, Rogé rio Zandamela, o défice foi, ainda assim, minimizado pelo financiamento interno líqui do ao Estado no montante de 4 343 milhões de meticais, (equivalente a 46% do défice), e através de fundos de ajuda externa destinados a projec tos de investimento.

pAÍs

memo rando conjunto que permite maior controlo da informação sobre os volumes de madei ra exportados para a China, grande destino da madeira contrabandeada, um merca do responsável por um pre juízo para o Estado (económi co, tributário e ambiental), que ronda, de acordo com uma estimativa do ministério da Economia e Finanças, os 1 000 milhões de dólares nos últimos 10 anos.

O documento prevê um “cres cente intercâmbio” para ex ploração, transporte, comer cialização e exportação de madeira.

IMObIlIárIO juNtA-sE EM MAputO, NA MAIOr CONfErêNCIA dO sECtOr

Mercado. A Mozambique Real Estate – Investment Summit, que decorreu em Maputo, no final de Junho, reuniu os principais agentes do sector, imobiliário em Moçambique. Numa apresentação feita du rante a Conferência Ronaldo Toledo, director da Banca de Investimentos do Standard Bank, abordou a capacidade do banco no financiamento a projectos imobiliários em Moçambique e o “enorme de safio que se coloca ao sector”. Enquanto isso, Miguel Alves, Administrador Executivo do BCI, assume o abrandamento

do acesso ao financiamento no ramo imobiliário por con siderar ser esta “uma área onde se tem vindo a assistir, nos últimos anos, à volatilida de dos preços, sobretudo das vendas dos imóveis devido ao abrandamento económico.”

Do lado dos principais agen tes do sector, o debate focou -se nos desafios e oportunida des, sendo de destacar uma tendência de crescimento da procura no segmento imobi liário dos escritórios, sendo que a quebra de preços no ramo residencial já terá , por esta altura, estagnado.

RADAR 8 Julho 2018
Exploração de madeira. Moçam bique e China anunciaram a assinatura de um

Transporte aéreo. Os resulta dos operacionais da Aeropor tos de Moçambique reflectem um crescimento (ainda que li geiro) face a 2016, “apesar da desaceleração do crescimen to económico que reduziu a procura por transporte aé reo”, revelou a empresa, em reunião de balanço de contas. Assim, o volume de negócios, chegou à casa dos 2 807 mi lhões de meticais, (mais 2%) . De acordo com o Presidente de Conselho de Administra ção da empresa, Emanuel Chaves, “foi preciso que os Ae roportos se reorganizassem para enfrentar a crise.” Para 2018, a Aeroportos de Moçambique prevê “um in cremento da procura por transporte aéreo justificado, principalmente, pela retoma da economia e entrada de no vas companhias no mercado doméstico.”

CPLP. Foi lançado um anuário de estudantes moçambicanos em Portugal. Permitir a liga ção entre a academia e as ins tituições da lusofonia, tornan do-se “uma oportunidade pa ra que as empresas consigam aceder a uma listagem de di versos estudantes formados nas várias áreas em Portu gal”, é o objectivo do anuário lançado pela Câmara de Co mércio Portugal-Moçambi que (CCPM).

A recolha engloba mais de 200 estudantes a frequentar cur sos superiores em Portugal. Para a embaixada de Portu gal em Moçambique, “o anuá rio vai permitir uma aproxi mação dos estudantes que es tão em busca de emprego e os empregadores.”

NEGÓCIOs

Gás natural. A produção de LNG da exploração da área 1 do Rovuma, continua a ser vendida nos mercados exter nos. Soube-se agora que será exportado também para o Japão e Grã-Bretanha, à luz de um recente acordo conjun to assinado pela petrolífera norte-americana Anadarko com as companhias japonesa Tokyo Gas e britânica Centri ca. “O acordo de compra con junta prevê o fornecimento de 2,6 milhões de toneladas por ano a partir do início da produção (em 2023) e até ao ano de 2040”, refere a Anada rko em comunicado que refe re ainda o “enorme peso na meta definida para a Decisão Final de Investimento”, cujo anúncio está previsto para os próximos oito a 12 meses.

IMplEMENtANdO O sIstEMA dE QuAlIdAdE COMO fACtOr dE

VAlOrIZAÇÃO dA prOduÇÃO NACIONAl

Rovuma. Um grupo alargado de empresários da província de Cabo Delgado voltou a ma nifestar, em reunião da CTA naquela província, a preocu pação com a “falta de estraté gia e de comunicação” sobre os passos a seguir para inves tir na exploração das opor tunidades que serão criadas com a exploração de gás na Bacia do Rovuma a partir de 2023. Assif Osman, do Conse lho Empresarial da CTA em Cabo Delgado, assume que o empresariado local “ain da não está preparado para tirar benefícios dos mega -projectos”, porque o que vai acontecer, prossegue, “é novo para a realidade do empre sariado nacional.”

Em geral, nas práticas de comercialização de produtos agrícolas em Moçambique, não há diferenciação do preço pela qualidade. Este facto contribui a longo-prazo para um de sincentivo à produção, pois aquando da colocação do pro duto no mercado por parte do agricultor, este vê o seu esforço subvalorizado.

Do lado da procura, o produto que chega ao mercado no início da campanha de comercializa ção apresenta níveis elevados de humidade, infestação (inicia da no campo e não tratada), e defeitos vários, o que contribui sobremaneira para a rejeição no momento do processamento, por não cumprir com padrões mínimos, resultando em eleva das perdas financeiras.

A BMM, bem ciente desta rea lidade prejudicial tanto para o lado da oferta como da procura, tem vindo a implementar, com recurso aos Complexos de Silos, um sistema de gestão de qualidade para cereais, oleoginosas e leguminosas, através do beneficiamento que inclui: limpeza (processo que reduz as impurezas advindas

do manuseamento do produto desde a colheita até aos silos e armazéns), secagem (pro cesso que reduz a humidade dos grãos, passando para seco, estado que permite armazena mento seguro por longo período sem que ocorra desenvolvi mento de fungos que libertam toxinas nocivas aos seres vivos); classificação do produto (com base nos padrões mínimos) e armazenamento seguro (inspec ções regulares, actualizações do estado do produto, tratamentos preventivos e curativos) até ao momento da transacção. Assim os produtores, com os recibos de armazém ficam a conhecer a qualidade real do produto, o valor da mercadoria com base no preço do mer cado e têm maior poder de negociação face aos compra dores. Estes, podem também desta forma encontrar volumes agregados, em quantidade e qualidade especificados por lotes, o que beneficia a transac ção, que ocorre num ambiente competitivo e que induz à pro dução com qualidade e maior valorização comercial do produto.

Julho 2018
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IFRS 16 Locações: As grandes mudanças que se avizinham para Janeiro de 2019

as recentes alterações na contabilização de locações de acordo com as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS) entrarão em vigor em Janeiro de 2019 e deverão ter um impacto significativo em várias empresas. A IFRS 16 introduz novas directrizes e requisitos - a importância dessas mudanças será sentida em diversas áreas-chave nos relatórios financei ros, incluindo o capital circulante, níveis de dívida e resultados da empresa. Antes da IFRS 16, as locações operacionais eram reportadas fora do balanço, enquanto as locações financeiras eram reflectidas dentro do mesmo. No interesse da transpa rência, a IFRS 16 elimina essas distinções e agora reconhece tudo sob o mesmo modelo.

As empresas que actualmente arrendam activos sob uma loca ção operacional serão obrigadas a reconhecer um passivo de arrendamento e um activo de direito de uso correspondente no balanço, que será então amortizado na demonstração de resultados. As entidades devem estar cientes de que essa al teração provavelmente resultará no seguinte: Uma parte da despesa corrente de locação operacional será vista como um custo de financiamento e não como uma despesa de locação; surgirá na demonstração de resultados, um custo superior no início da locação; o valor do EBITDA, que muitas empresas usam como indicador para a avaliação do negócio, aumenta rá, devido à remoção de uma parte da despesa de arrenda mento e substituição por depreciação e despesas de juros. Identificar e separar os componentes de leasing dos compo nentes de não leasing de um contrato poderá ser um exercício complexo que irá exigir mais informação a disponibilizar pelo locador, e/ou o uso de um preço base independente para a refe rida repartição (“stand alone selling price”).

No activo, a empresa passa a conhecer o direito de uso do activo (“right-of-use” ou “ROU”) e no passivo reconhece-se a responsa bilidade subjacente que não é mais que o valor presente dos pagamentos do leasing, os quais incluem as considerações fixas, opções, penalidades, valores residuais entre outros.

O reconhecimento do ROU trará dificuldades acrescidas, no meadamente, o cálculo da respectiva duração do contrato, quer

seja por não existir prazo definido, quer seja por existirem op ções de renovação que deverão ser avaliadas aquando da sua realização. Acresce ainda a determinação do valor do aluguer dependente do tratamento que será dado às considerações va riáveis e/ou não mensuráveis, como são exemplo as existen tes nos contratos de aluguer de lojas e/ou espaços comerciais. O registo do ROU irá alterar a leitura e interpretação de rácios e a forma como avaliamos a performance nos dias de hoje, no meadamente e a título de exemplo, por via do aumento do reco nhecimento de passivos, aumento de gastos com depreciações e gastos financeiros por oposição a um decréscimo de gastos operacionais com rendas. Então, o que deve ser feito para se preparar para esta nova norma contabilística?

Em primeiro lugar, desenvolva um plano de projecto para aju dar na implementação do processo. A transição para a IFRS 16 representará uma quantidade significativa de trabalho e um plano de projecto vai permitir conseguir gerir esse trabalho extra de maneira eficiente. É vital entender quais são seus con tratos de locação actuais e conhecer a pool de locações. Se tem actualmente uma base de dados de todos os seus contra tos de arrendamento, isso será um óptimo começo e posicionar -se-á à frente de muitas empresas nesse processo. Depois, será preciso examinar um conjunto de amostras dos contratos de locação e fazer uma análise mais profunda, agrupando-os. As áreas mais complexas de uma locação e que requerem uma análise adicional para fins contabilísticos são as opções de reno vação e os pagamentos variáveis. Depois de avaliar as questões contabilísticas dos contratos de locação actuais, é o momento de integrar essas informações nos seus relatórios financeiros. As mudanças associadas à IFRS 16 são um processo contínuo que afectará os resultados mensalmente. Garanta uma transição suave porque este processo de imple mentação poderá ser, por vezes, complexo. Por experiência, as locações nem sempre estão estruturadas da mesma forma. Quanto mais cedo a sua empresa começar, melhor. Reúna as in formações necessárias e comece a analisar os seus contratos de locação para determinar quais contêm complexidades.

Antes da IFRS 16, as locações operacionais eram reportadas fora do balanço, enquanto as locações financeiras eram reflectidas dentro do mesmo. A IFRS 16 elimina essas distinções

OPINIÃO Julho 2018 10

MPME dE volta à sala dE aula

Lançada há pouco mais de três meses pelo Banco Único, a Academia PME+ desenvolve técnicas de formação direccionadas para as dificuldades da gestão do ponto de vista de quem é pequeno, mas quer crescer no mercado

regra geral, as micro, pequenas e médias empresas (mpme) nacionais as sociam as suas principais dificuldades à complexidade de acesso ao mercado fi nanceiro, da burocracia na obtenção de crédito bancário às elevadas taxas de juro, que rondam os 30%.

No entanto, se a componente financeira não deve ser negligenciada, a verdade é que se analisarmos o tecido das MPME nacionais com maior pormenor concluí mos que quase 90% não encontram no capital (ou na dificuldade de acesso a ele) a principal falha na sua tentativa de prosperar. “O desafio está no me lhoramento do ambiente de negócios. E dada a complexidade e o carácter de in ter-sectorialidade em que tocam, todas instituições do Estado têm de cooperar na preparação de um bom clima para PME, porque os desafios são múltiplos e

complexos tem de se priorizar bem. Não se pode fazer tudo e è mais importante fazer poucas coisas importantes em vez de querer resolver todos problemas ao mesmo tempo. Será importante seguir a ‘Estratégia PME’ e focar bem, alinhando os programas dos doadores com os ob jectivos das empresas. Não faz sentido fazer algo, só porque há fundos ou finan ciamento”, pode ler-se no estudo desen volvido pelo IPEME, ‘PME em Moçambi que, situação e desafios’.

Assim, o próprio financiamento ban cário fluiria melhor se este segmento empresarial tivesse uma preparação mais adequada a todos os níveis, que se resume nas boas práticas de ges tão de negócios, um problema estru tural que tem afectado o pleno desen volvimento deste tipo de empresas. Foi a pensar nas dificuldades não-finan

ám r i o p

“Depois do módulo de liderança, a nossa organização tentou redefinir a definição da visão, missão e objectivos que agora passa a estar mais clara. O módulo da gestão é mais técnico e permitiu adquirir competências de gestão”.

“Adquiri práticas que, embora aplicasse antes, não tinha base técnica para as sustentar. Quanto à gestão, há conceitos e indicadores a que não dávamos a devida atenção, mas hoje sinto-me capaz de olhar melhor para o nosso negócio”

Macro Julho 2018 14
aniZ T a vares, d.g.de empresadegesTã o d e i m sievó
eresTrelo,gesTor deempresa de c o oãçurTsn

ceiras (e não são poucas), que o Banco Único resolveu investir numa Academia vocacionada para a formação de gesto res de MPME, completamente orientada para os resultados. Assim, firmou uma parceria com a conceituada academia portuguesa de formação de empresários em gestão de negócios, a Nova School of Business & Economics (Nova SBE) uma referência a este nível na Europa, que cede alguns dos seus professores à Aca demia PME+.

Menos teoria, mais prática e transformação Da teoria à prática, o resultado alcançado nesta parceria já dá resultados. Em ape nas um mês (já com dois dos cinco módulos lecionados), os formandos – na sua maio ria gestores das cerca de 25 empresas de diferentes ramos de actividade que participam dos cursos – reportam à E&M algumas mudanças importantes na pró pria visão estratégica dos seus negócios. Para Mário Perestrelo, gestor de uma empresa de importação e distribuição de materiais de construção, o módulo de liderança permitiu “entender melhor” o seu papel como líder da empresa na ges tão operacional com os seus funcionários. Hoje, domina as técnicas de recrutamen to e selecção do pessoal com o perfil mais adequado ao seu modelo de negócio e fi cou a conhecer novas técnicas de gestão do desempenho dos trabalhadores. Mudaram, igualmente, os valores es tratégicos de gestão, definidos por Edson Luís para a empresa de que é gestor fi nanceiro (uma gráfica). O empresário as sume ter adquirido “melhores critérios

MEnos MPME...

Cerca de 98,7% das empresas existentes são MPME, mas número caiu 17,8% em apenas dois anos devido à quebra de crescimento. Pelo lado positivo, pode falar-se de um efeito de fortalecimento do tecido empresarial, agora mais profissionalizado

2015 2017 56 46

17,8%

É a quebra do número de MPME existentes no mercado, em apenas dois anos

para definir a visão, missão e objectivos da empresa.” Apercebendo-se que não usou as técnicas apropriadas para os valores actualmente em uso, admite ago ra que os vai “mudar”, prometendo dar continuidade à formação que recebeu, “estendendo-a” aos seus colaboradores. Zina Tavares, directora-geral de uma empresa de gestão de imóveis assume mesmo uma nova visão sobre o seu pró prio negócio: “Sempre geri a minha equi pa de forma muito intuitiva e buscando sempre o que chamamos de bom-senso. Com a formação, percebi que existe su porte teórico para isso, o que me dá se gurança para continuar a desenvolver outras técnicas.” Relativamente ao se gundo módulo, o da ‘gestão financeira’

98,7%

É o peso das MpMe no conjunto de todas as eMpresas nacionais. dessas, quase 73% são Micro-eMpresas, sendo responsáveis por 42% do total dos postos de trabalho existentes na econoMia forMal

,um dos que mais obstrui, ou facilita, o acesso ao crédito bancário. Aqui os três ‘alunos’ também parecem ter-se saído bem. “Este módulo, permitiu uma aná lise muito centrada em três pontos: ba lanço, demonstração de resultados e fluxos de caixa. São elementos que fun cionam como o espelho que nos faz per ceber onde estamos, de onde viemos e para onde estamos a seguir em termos de gestão da empresa”, explicou Edson. Mário Perestrelo complementa: “Agora estamos a falar de rácios de solvabili dade e de liquidez, o que nos permite, enquanto gestores, olhar para nossa em presa e saber como é que os eventuais parceiros olham para ela, sobretudo os bancos, que são actores extremamente importantes na alavancagem e cres cimento das empresas no mercado”. Depois dos dois módulos realizados em Julho, seguiu-se o módulo “Estratégia de Marketing”, nos dias 19, 20 e 21 de Junho. Para completar este ciclo de formação serão realizados ainda dois módulos: o do “Planeamento”, agendado para os dias 16, 17 e 18 de Julho, e o módulo “Simulador de Gestão”, nos dias 28, 29 e 30 de Agosto. À E&M, a direcção de marketing e comu nicação do Banco Único revela um cres cente interesse de muitos empresários e empresas nacionais em participar nas sessões de formação da Academia PME+. No entanto, esta não foi a primeira ini ciativa do banco com o objectivo de proporcionar instrumentos de for mação às MPME. Desde Setembro de 2015, um programa diário de televi são, (também designado por PME+),

... E coM Pouco PEso no PIB, sE oLhArMos Aos vIzInhos

Peso das MPME (face às grandes empresas) no PIB caiu 2,5% no último ano por via da desaceleração do crescimento, afastando Moçambique da média da SADC

Em % de contribuição para o PIB

74%

66%

26%

Contribuição para o PIB em Moçambique

34%

Contribuição para o PIB na SADC

Julho 2018 15
em milhares
fontE IPEME

Qual é a sua estrutura?

Na sua maioria são empresas do ramo de comércio ou de serviços. Pouquíssimas da área da transformação. Não há estatísticas sobre o peso das empresas em diferentes sectores de actividade, mas não há dúvidas que existe uma grande concentração nas áreas menos velozes da transformação da economia. São geralmente lavandarias, empresas de catering, pequenas gráficas, comércio a grosso de produtos alimentares (importados). Mas há uma tendência de entrarem na agro-indústria, (processamento de frutas, vegetais e produção piscícola).

Em que ramos de actividade estão concentradas as MPME?

Sendo o segmento maioritário do conjunto das empresas do país (98,7%), há variações nos últimos anos. Em 2015, a pirâmide era de base larga, com 73% constituído por micro-empresas. Já em 2017 houve uma transição de micro para pequenas, o que significa que a dimensão das micro reduziu para 40% e as médias aumentaram para 53%.

O IPEME interpreta o fenómeno como resultado dos diferentes programas de apoio prestado por vários actores, que além do IPEME contemplam a Associação de Pequenas e Médias Empresas (APME) e a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

Elas sentiram a crise?

A resposta é um claro sim. Dados do IPEME indicam que em 2015 haviam cerca 56 mil empresas registadas. No entranto, com o abrandamento da ecionomia, muitas não resistiram e encerraram actividade e muitas outras reorientaram a sua actuação no mercado, levando a uma nova redução, para perto de 46 mil empresas que estavam em actividade no final de 2017.

Ainda devido ao abrandamento económico, a contribuição das MPME para a criação de riqueza nacional, caiu de 28,5% em 2015 para 26% no final do ano passado.

o facto de a geração empresarial mo çambicana ser ainda demasiado jovem e padecer de uma cultura empresarial bastante incipiente. ”O que tem aconteci do em Moçambique é que os temas são tratados de forma muito teórica e alto ní vel técnico, dificultando o empresário de os implementar na prática”, complemen ta a direcção de comunicação do Banco Único, numa nota enviada à E&M.

de apenas cinco minutos, propõe-se a ajudar a solucionar dificuldades con cretas das PME nacionais. “O programa apresenta temas sobre boas práticas de gestão de uma forma simples e pragmá tica para que qualquer gestor perceba e consiga assimilar como pode aplicar os conhecimentos ali adquiridos na sua ac tividade do dia-a-dia.”

dar prática às boas práticas Começando pelas mais usadas, nos últi mos anos, as más práticas de gestão em presarial são um problema endémico, e há vários programas já desenvolvidos e em vigor para o resolver. Claire ZImba, director-geral do Instituto para a Pro moção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), desconfia que a ineficácia (até

pela fraca contribuição para o PIB face aos vizinhos regionais) se justifique “pe los modelos de formação importados, que ignoram a realidade das MPME moçam bicanas”, habitualmente muito pouco tra balhados na área estratégica, comercial ou na abordagem à prestação de servi ços, devido ao estágio muito precário do desenvolvimento do seu capital humano, financeiro, e infra-estrutural.

É por isso que iniciativas como esta lan çada pelo banco Único merecem o elogio de Claire Zimba, director-geral do IPEME, instituição do Estado que tem levado a cabo inúmeras iniciativas de apoio a este segmento empresarial há vários anos. Zimba defende que muitos dos proble mas das MPME não estão relacionados com a falta de financiamento, mas “com

E é a partir desta constatação que a aca demia toma como ponto de partida a rea lidade das MPME. Ou seja, no fim de cada módulo, os formandos deverão sair com ideias claras sobre o que devem fazer nas suas empresas. No módulo de lide rança, a que a E&M assistiu, o professor orientou a formação depois de se infor mar sobre os desafios reais de cada em presa participante na formação. Partindo dos desafios que as PME reve laram que foram fornecidas e aplicados na sala de aulas, as ferramentas direc cionadas à resolução dos problemas con cretos e específicos das suas empresas. Após saírem da sala de aula, no final do dia da formação, os empresários Ivan traba lho para casa, e terão de aplicar nas suas empresas o que aprenderam, tendo a in cumbência de apresentar os resultados das transformações que irão operar, ten do como base o que apreenderam e nos exercícios realizados durante a formação. Do lado de quem forma empresários, há já muitos anos, Fernando Cardoso, um experiente professor da Nova SBE e que lecionou o módulo de Gestão Finan ceira constata que as dificuldades que notou nos empresários moçambicanos que atenderam à sua aula “são próprias da conjuntura do mercado que está re lacionada à situação económica do país (sub-desenvolvimento e abrandamento económico)”. No entanto, ele defende que a transformação passa mesmo pela sala de aulas. “Sem dúvida. Mudar o cenário exige modelos de formação das MPME baseados nisto mesmo, na transferência de conhecimentos, tecnologias e expe riências de empresas de outros contex tos e realidades. É este o caminho ideal para que Moçambique alcance no futuro o lugar que todos acham que o país pode ocupar.” Por isso, aponta como “excelen te” a parceria entre o Banco Único e a Nova SBE para ajudar a fazer crescer as MPME que querem, em breve, ganhar novas siglas, e crescer no mercado,.

Macro Julho 2018 16
FaQ: PErguntas E rEsPostas sobrE as MPME nacionais claire zimba, do IPEME
Celso Chambisso fOTOgrAfIA Jay Garrido
TExTO

casamento é o negócio perfeito. sim, mas para quem?

A E&M analisa um mercado peculiar mas, ainda assim, muito lucrativo. A verdade é que existe hoje em Moçambique uma

de festa familiar, em algo novo e caro. Muito caro

o casamento virou negócio. e ren tável porque os clientes (noivos) tudo fazem (investem) para ter uma festa de sonho que requer uma ginástica finan ceira de... pesadelo! Caso para perguntar, quanto vale a felicidade?

Vale muito dinheiro, aparentemente, na perspectiva de corresponder às expec tativas dos convidados com um menu de muitos pratos, um bolo com degraus des medidos, um vestido de noiva com folhos a mais, a decoração do espaço com dema siadas flores, passando pelo copo de água com convidados em excesso. E tudo o que a cerimónia implica, do DJ à banda, aca bando na própria gravação para memó ria futura de todos os momentos do dia.

gás em cabo Delgado, carvão em tete e uma mina no registo civil Claro que há exagero aqui. Mas, também há negócio, e não é tão pequeno assim. Se olharmos à tendência global, des cobrimos um texto da BBC, de 2017, que fala de uma startup que se chama Maid of Social. Fundada em Nova Iorque por duas ex-editoras da revista de casamen to The Knot, a empresa apresenta-se a uma clientela que não pára de crescer, como a “sua equipa de RP para o dia do casamento”. Os preços variam, entre 500 dólares pelo pacote para criar hashtags, um post no Instagram e dicas para au mentar o potencial de viralização de um casamento e os milhares de dólares pelo ‘pacote de 5 estrelas, que inclui influen ciadores digitais com muitos seguidores, e em que os noivos até têm direito a uma equipa no local, uma estratégia de me dia própria para qualquer marca que tenha estado envolvida na cerimónia, bem como actualizações no Instagram e Snapchat ao minuto.

Claro que, este é um outro mundo. E em Moçambique, o mercado ainda não che gou a esta ‘loucura’. Mas a verdade, é que para lá caminha, e a organização de casamentos tende a ser uma nova mina de ouro onde, um cada vez maior núme

macro Julho 2018 18
verdadeira indústria que transformou o conceito tradicional

ro de agentes acorre, para garimpar e obter o seu quinhão.

A sociologia tenta assim explicar o que a economia começa a impulsionar. Ou vice-versa. A verdade é que o casamen to é um momento que deve ficar marca do nas páginas douradas da história de qualquer jovem casal. Ou pelo menos, é uma verdade que dá jeito a quem se casa, e a quem tem um negócio que vive dos casamentos, e surge como uma ópti ma justificação que alguém terá um dia inventado para que o dinheiro gasto na festa possa ser visto como investimento. Pelo menos, até ao dia do divórcio (outro nicho de mercado em ascensão, que me receria um artigo por si só). Voltando aos casamentos, nota-se que as empresas e os fornecedores traba lham já de forma bastante profissional: têm objectivos claros, cumprem um plano de negócios, investem em busca de retorno, organizam-se em função do lucro e geram postos de trabalho. E com a oferta a aumentar até já apostam na diferenciação dos serviços e produtos.

metade dos casamentos acontece em maputo De acordo com o levantamento que a E&M fez junto da Direcção Nacional dos Serviços de Notariado e Registo Civil, durante o ano foram realizados no país, 15 540 casamentos (um aumento face aos contra 13 890 do ano anterior). E foi na ci dade de Maputo que se registou o maior número, fixando-se em 7 601 face aos 7 205 do ano transacto. Continuando a olhar para eles, percebemos ainda que os ventos da crise financeira não tive ram qualquer peso no número de casa mentos realizados.

O indicador é perfilhado pela generali dade dos provedores de serviços para casamentos, contactados pela E&M, que consideram que este foi um sector para o qual a crise não foi convidada.

Para Clementina Maheme, directora da Expo Noivos, o mercado de casamentos “é uma actividade que vem crescen do, e ‘puxando’ maior número de agen tes e empresas dada a sua capacidade de gerar lucros em tempos de crise, o que é algo que não acontecerá muito noutros sectores de actividade. E os nú meros do incremento de matrimónios acabam por mostrar isso, transfor mando os casamentos num importante impulsionador e dinamizador de mui tas PME moçambicanas,” diz. Depois, há de facto a tal tendência de, para além do número de matrimónios aumentar, se registar uma maior apetência das

CAdA vEz MAiS CASAMEntOS

O número de matrimónios evoluiu de forma significativa no país. A cidade de Maputo é responsável pela realização de quase metade dos casamentos em todo o país.

em milhares de meticais fonte Ine

2016 2017 13 890 15 540

prEçOS diSpArArAM

Orçamento para a realização de um casamento quintuplicou devido a novas tendências em copiar as modas ocidentais

pessoas em contrair matrimónio sem medir esforços, nem olhar a gastos. “Fa zendo uma comparação de 2011 para 2018, notamos que tem havido uma de manda cada vez maior, com grande apetência pelo luxo”, explica. Com isso, “o mercado evoluiu porque os clientes também exigem mais dos provedores de serviços de casamentos, no sentido de fornecerem melhores serviços, e aca bam também por aumentar os preços, seguindo esta dinâmica do mercado”. Se há seis anos era possível organizar uma festa de casamento com bons ser viços, aluguer do espaço, decoração e de viaturas, para além de todo o menu de catering, por um valor médio de 200 mil meticais, agora os preços praticamen te que duplicaram, de acordo com uma consulta ao mercado, de acordo com um pacote básico completo com tudo incluído para um casamento (ver infografia pá gina seguinte).

7 601 matrimónios

Apesar do preço, mais de metade dos casamentos acontecem em Maputo

em milhares de meticais 1 000 2018 200 2012 fonte agentes do sector à e&M

O casamento parece ter virado moda, quase como um acto de exibição pública, mais do que para celebrar a união entre duas pessoas.

É por isso que o número de casamentos está a aumentar, mas talvez seja também por essa mesma razão, que se registam cada vez mais divórcios. Só no último ano, eles aumentaram 400%

E a procura cresce, ainda assim, por causa de casamentos como o de um casal russo que, detém o recorde de o mais caro a nível mundial. O casamen to de Said e Khadija aconteceu há três meses, e, de acordo com relatos da im prensa internacional, custou, nada mais nada menos, que 1 000 milhões de dóla res, 59,3 mil milhões de meticais, 8% do PIB de Moçambique. A cerimónia contou com a presença de perto de 600 convi dados que, quando se instalaram no ho tel que os recebeu tinham à sua espe ra uma pequena lembrança, ou seja, a oferta dos noivos, um porta-jóias feito de ouro e esmalte.

Claro que relatos como este (e tantos ou tros, como acontece com os casamentos reais, por exemplo), que nos chegam via redes sociais, influenciam a forma de estar as expectativas de muitos jovens casais que hoje preferem fugir à ceri mónia de união tradicional e familiar, e “copiar” os modelos que vêm do exterior. Alinhando na mesma ideia, Latifa Man gaze, gestora da Folha Verde uma em presa especializada em serviços para eventos (com grande incidência nos ca samentos, por serem os mais frequen tes), considera que “neste momento os pacotes para serviços de casamento tendem a crescer ao nível da oferta e do valor, mas que tudo depende dos servi ços prestados pelos provedores, que têm directamente a ver com o que os noivos pretendem”, assinala. “Mas, há bolsos para todos os eventos e a verdade é que assistimos a uma tendência de cres cimento do segmento de luxo”, revela.

Julho 2018 19

Se olharmos, uma vez mais, para algu mas páginas de revistas sociais, desco brimos que o vestido mais caro no mun do custa 1,2 milhão de dólares, cerca de 71,2 milhões de meticais, e é da autoria da designer de luxo Reem Acra e da len dária marca de jóias Tiffany’s. O vestido conta com 165 quilates de diamantes e 61 quilates de pedras preciosas. Claro que é uma peça conceptual, desenhada para constar dos rankings, e angariar publici dade para a marca que a concebeu. No entanto, denota uma tendência global. E que se nota mesmo aqui, em Moçambi que. De acordo com Ivete Mapita, gestora comercial na Loja Dream Dress Noivas, há já um número assinalável de vestidos de noiva “que chegam a custar entre 80 mil e 200 mil meticais, dependendo dos detalhes pretendidos pelo cliente”. Apesar desta escalada de preços, Ivete não deixa de assinalar o aumento expo nencial do número de vendas de vesti dos de noiva, que observou nos últimos anos, sem contar com os acessórios que acompanham a indumentária da noiva. E para a gestora não foram só os preços a crescer, foram também as vendas a aumentar: “Tem sido frequente a venda de dez a 14 vestidos num só mês”, releva. No entanto, para quem pense que pode enriquecer depressa a vender vestidos de noiva, ela confessa que os ganhos não são assim tão elevados como se possa pensar, “porque estamos a falar de ma

teriais que na sua maioria são importa dos”. A gestora vê, ainda assim, este como um negócio do qual não se pode queixar. “A procura tem sido muito boa e o negó cio tem vindo a crescer de forma satisfa tória nos últimos anos”, adianta.

um mercado em inovação

A verdade é que pode parecer estra nho invocar o termo inovação numa das mais ancestrais celebrações da história da humanidade. Talvez dito assim, nem o seja tanto. Recentemente, um progra mador sul-africano, Robert Matsaneng, desenvolveu uma aplicação para cal cular o ‘lobolo’, ou o dote de casamento da noiva. È apenas um exemplo de uma realidade antiga à procura de mudança. Mas de facto, ela é algo a que se assiste nas cerimónias de hoje em dia, o que faz com que os preços disparem equiparan do-se ao orçamento de dois ou três anos para uma família de média renda. “O desafio passa por todos os provedores de serviços estarem mais atentos ao que tem acontecido nas cerimónias de casa mentos noutros países e não se limitarem àquilo que já sabem fazer, porque o con ceito de casamento mudou e nos últimos anos assistimos a pedidos por parte dos clientes que pedem cada vez mais criati vidade e alta qualidade aos provedores de serviços, o que vai dos carros alu gados, aos bouquets de flores, passando pelo vestido, pelo

pela escolha

macro Julho 2018 20
aluguer De salão convites e outros fotografia e víDeo Bolo De casamento Jóias e Beleza serviços De catering vestiDo De noiva música & DJ´s fato De noivo aluguer De viaturas 300 000 80 000 50 000 50 000 30 000 300 000 80 000 50 000 30 000 30 000 1 000 000 De meticais QuAntO CuStA CASAr? Numa sonsagem ao mercado, fazemos as contas do casamento em meticais influências de fora: todo o conceito de casamento mudou fonte Agentes do sector à e&M factura
catering,

e decoração do espaço, até aos presentes para os noivos. Estamos atentos a estas novas tendências que vêm da moda oci dental, e a ideia é sempre querer fazer o melhor para não ficar desprovido de mercado, até porque há cada vez mais concorrência”, explica Clementina Ma heme, da Exponoivos.

E claro que, depois de tanto tempo (e me ticais) dedicado a criar a memória per feita, os serviços de fotografia e filma gem são também essenciais hoje em dia, para perpetuar o momento, e mostrar aos amigos nas redes sociais. Haverão hoje dezenas de empresas e individuais a oferecer este serviço. E pela investigação da E&M, elas não têm mãos a medir, chegando a ter de fazer a cobertura fotográfica de três e quatro casamentos por semana, e com preços que variam entre os 25 mil e os 50 mil meticais, de acordo com o tipo de filma gem que os noivos pretendam. No entanto, esta é uma pequena despesa para quem tenha a capacidade finan ceira (hoje há já quem contraia crédito

15 540

Foi o número de casamentos registados em moçambique em 2017, um crescimento de 11,8% Face ao ano anterior, demonstrando que os maus tempos económicos não signiFicam menos vontade em contrair união. porventura, até ajudam a impulsionar essa realidade

bancário para o efeito) para um casa mento de sonho. Recorrendo aos dados avançados pela Expo Noivos, os gastos que pesam mais na factura são o alu guer do espaço e o serviço de catering (de acordo com o número de convidados e com a ementa escolhida) e o bolo que não pode ficar atrás na aparência e no tamanho. Depois vêm as indumentárias, o vestido da noiva e o fato do noivo. E há ainda o aluguer de automóveis, a música e a animação da festa, os honorários dos organizadores de eventos, dos decorado res e os convites.

A verdade, é que o mercado dos casamen tos está a mudar. E com mais casamen tos, chegam também mais baptizados, e mais divórcios (cerca de 400% mais, face ao ano anterior). Novos clientes, sejam eles noivos, divorciados, ou recém-nasci dos, que garantem mais negócio. ‘Se hou ver objecções, que se levantem agora’.

textO Pedro Cativelos & Hermenegildo langa

úmeros em conta

IDE caIu 25% só no ano passaDo. Mas não foI só EM MoçaMbIquE

os fluxos de investimento directo estrangeiro (IDE) têm vindo a cair ano após ano desde 2013. Moçambique era então um dos principais destinos de inves timento em todo o continente africano, im pulsionado à época pelos processos de son dagem de gás natural em Cabo Delgado, e a grande distância, pelo sector imobiliário. No entanto, esta é uma realidade que não se torna evidente apenas no contexto da economia nacional, como também em toda a África (especialmente os países ex portadores de commodities), em que só no ano passado, o volume de IDE registou uma quebra de 21%, para um total de 42 mil milhões de dólares, um mínimo dos úl timos dez anos. Estes dados são revelados no ‘Relatório sobre Investimentos Mundiais em 2018’,

lançado no início de Junho pela Conferên cia das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). “Os fracos preços do petróleo e os efeitos prejudiciais remanescentes do colapso das commodi ties assistiram a uma contracção dos flu xos, especialmente nas maiores economias exportadoras de commodities”, lê-se no relatório. Ainda assim, e apesar da quebra, a região África Oriental é a que mais cres ce no continente africano. Tendo recebido 7,6 mil milhões de IDE em 2017 (mesmo as sim um declínio de 3% em relação a 2016), olhando para Moçambique a entrada de investimento externo quedou-se pelos 2,3 mil milhões de dólares. Os restantes “clien tes”, foram a Etiópia (3,6 mil milhões, e uma quebra de 10%), e o Quénia, que até demonstra uma tendência de crescimento,

Outra das zonas que caiu, e não foi pouco, foi a da África Austral, com o IDE a cair 66%, para um bolo total de 3,8 mil milhões de dó lares, com a maior quebra a ser registada na África do Sul (menos 41%, quedando-se nos 1,3 mil milhões, devido ao baixo desempe nho do sector de commodities e à incerteza política).

No entanto, em 2017, o cenário pode mudar com o “início da recuperação dos preços das commodities, bem como os avanços na cooperação inter-regional através da assinatura do acordo da Área de Livre Co mércio Continental Africana que poderiam encorajar maiores fluxos de IDE em 2018.”

ÁFriCa auSTral Cai, maS ainda é a que aTrai maiS inveSTimenTo

Apesar de uma quebra de 3% (para a qual a África do Sul contribuiu fortemente) a região é ainda atractiva

Em milhares de milhões de dólares

ToP 5 de quem maiS inveSTe noS PaíSeS em deSenvolvimenTo 34 13 2017 2011

000 000 000 de dólares Grande parte do investimento da China em África, acontece nos países menos desenvolvidos, mas com mais potencial de crescimento 11 11 2017 2011

8 3

4 2017 2011

6 6 6 2017 2011

Central 5,7

Austral e Oriental 11,4

44%

Quebra de IDE na África do Sul, devido à queda nos preços das principais commodities e à instabilidade política

fontE UnCtAD - Relatório sobre Investimentos Mundiais em 2018

Julho 2018 22
N
Tailândia Coreia do Sul Hong Kong França Em milhares de milhões de dólares
34
Moçambique e Etiópia são, na região, os maiores clientes do maior investidor externo, a China, que quase triplicou volume de investimento em seis anos CHina 2017 2011
a única na região, com um aumento de 672 milhões de dólares, explicados pelos “flu xos de entrada nos sectores de tecnologia da informação e comunicação.”

…aPeSar de CreSCimenTo na úlTima déCada e meia

O grande boom, começou naturalmente após as descobertas de gás natural na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado

Em milhões de dólares

38 000 000 000 de dólares

Volume acumulado de IDE que entrou em Moçambique desde 2000, e que equivale a quase três vezes o valor do PIB, se considerarmos que o actual anda um pouco acima dos 13 mil milhões de dólares

doS maioreS deSTinoS de inveSTimenTo exTerno em Todo o

maior

de

e o

externo em todo o mundo

de dólares

Julho 2018 23
fontE
o ToP 10
mundo Estados Unidos conseguem ser, ao mesmo tempo, o
receptor
IDE,
maior investidor
eSTadoS unidoS 2016 2017 275 457 Em milhares de milhões
CHina 2016 2017 136 134 Hong Kong 2016 2017 104 107 BraSil 2016 2017 63 58 SingaPura 2016 2017 62 77 Holanda 2016 2017 58 86 França 2016 2017 50 35 auSTrÁlia 2016 2017 46 48 Suíça 2016 2017 41 48 índia 2016 2017 40 44
UnCtAD - Relatório sobre Investimentos Mundiais em 2018 20OO 2010 2017 1 249 4 331 38 019 ide não Tem Parado de Cair… Em 2013 Moçambique chegou a ser o maior destino de IDE em África com 6,1 mil milhões de dólares Em milhões de dólares 2012 2013 2014 2015 2016 2017 5 629 6 175 4 902 3 867 3 093 2 293 -25,9% Moçambique perdeu um quarto do investimento externo em 2017
2,2 2017 mil
milhões de dólares Volume de IDE tem vindo a cair, ano após ano. Será 2018 diferente? MoçaMbIquE

Paz, Educação, Trabalho, Felicidade e Bem-Estar

felicidade e bem-estar são talvez a principal aspiração da maioria das pessoas. Na sua expressão mais elementar, felici dade e bem-estar querem dizer paz e segurança, viver sem temer pela vida das pessoas que se ama, assim como, sem te mer perder o fruto do esforço e do trabalho. Felicidade e bem -estar querem dizer, no segundo nível, poder educar-se, e aos dependentes, para poder ousar aspirar, arregaçar as man gas, trabalhar e alcançar o justo resultado do talento e esforço individuais.

Felicidade e bem-estar querem dizer, no terceiro nível, perten cer a um meio que estimula a produção de riqueza material e espiritual através de trabalho digno e estimulante. Vive mos num período em que estas aspirações elementares, mas fundamentais e alicerce para tudo o mais, são obscurecidas no turbilhão das prioridades, das mensagens e das modas. As iniciativas pela Paz têm à frente de todos o Chefe de Estado, cujas acções vão, por vezes, para além do que convencional mente se pensaria possível e politicamente correcto. Estimu lam a acção de um segmento crescente da sociedade, desde congregações religiosas, formações políticas, organizações da sociedade civil, líderes de opinião e cidadãos comuns. Os dispo sitivos legais, a paz das armas, que persiste desde a extensão ilimitada das tréguas, vai-se seguindo e consolidando com os entendimentos sobre descentralização e a sua consagração le gal pela Assembleia da República. Há pois, razões para esperança. Não se devem, contudo, minimi zar ou ignorar as atrocidades que, mais recentemente, negam a paz, a segurança, a tranquilidade e a vida aos concidadãos de algumas regiões de Cabo Delgado. Nem outras formas de vio lência que, aqui e ali, ocorrem ainda com uma frequência que nega a Paz.

Debate-se o Sistema Nacional da Educação - SNE, procurando identificar as alavancas para assegurar que a expansão do acesso seja acompanhada pela garantia da adequação e eleva

ção da qualidade. É desejável que as reflexões e recomendações que se fizeram no recente seminário sobre as línguas nacionais sejam levadas em conta e enriqueçam o SNE. Ao nosso ritmo e tempo, vamos assumindo que língua é cultura e ferramenta do pensamento e da aprendizagem. Que pensa, apreende e se exprime melhor, incluindo em segundas e terceiras línguas, quem o faz primeiro bem na sua língua materna, seja ela por tuguês ou uma das mais de duas dezenas de línguas nacionais bantu. Vamos assumindo que a negligência e marginalização das línguas nacionais é, na verdade, mais cara, e conducente à maiores perdas, incluindo por desperdício escolar, do que o investimento necessário para dar às línguas nacionais o lugar e estatuto devidos e insubstituíveis. No debate do SNE deseja-se que se analisem e tracem caminhos para harmonizar e alinhar o sistema com as prioridades e ne cessidades do desenvolvimento e produção da riqueza e bem -estar dos cidadãos. Que se vejam e se tracem os caminhos para corrigir as desproporções de acesso e sucesso escolar nos sub sistemas de ensino primário, ensino secundário, ensino médio, ensino técnico-profissional e ensino superior.

No ensino primário deseja-se uma reflexão profunda e reco mendações sobre a adequação do ensino às condições naturais e ao potencial de trabalho e desenvolvimento de cada região. Que se ensine sobre a terra e produção agrícola e florestal, e sobre a preservação do ambiente, às crianças habitantes de uma região eminentemente agrícola. Se ensine sobre riqueza animal, habitat, convivência e protecção de riqueza e diversi dade biológica, às crianças de uma região com potencial para produção animal ou turismo cinegético. E se ensine sobre pesca, navegação e riqueza marinha, às crianças de regiões costeiras ou à volta de lagos. Deseja-se, na essência, que ao fim do ensino primário a criança, ou já então jovem adolescente, tenha co nhecimentos e atitudes úteis e adequados ao meio, que a habi litem a trabalhar e contribuir para melhorar a sua qualidade

Há pois, razões para esperança. Não se devem, contudo, minimizar ou ignorar as atrocidades que, mais recentemente, negam a paz, a segurança, a tranquilidade e a vida aos concidadãos de algumas regiões de Cabo Delgado. Nem outras formas de violência que ocorrem

OPINIÃO Julho 2018 24
Professor Narciso Matos • Reitor da Universidade Politécnica e membro do Conselho Editorial da E&M

de vida, da sua família e sua comunidade. E deseja-se que se resolvam as enormes perdas escolares na transição do ensino primário para o ensino secundário. No ensino médio, deseja-se especialmente que se privilegie o ensino técnico e profissional. Que se aprofunde a reforma e o alinhamento da aprendizagem das profissões às necessidades imediatas e ao potencial de crescimento do mercado de traba lho. Deseja-se a formação de profissionais de nível médio com conhecimentos e competências específicas e certificadas, fácil e imediatamente empregáveis, por exemplo, na agricultura, na construção civil, na indústria, no turismo e restauração, na mi neração. Ou capazes de trabalhar por conta própria. No ensino superior, deseja-se qualidade e adequação crescentes às prioridades de desenvolvimento. Deseja-se a produção, para além da reprodução, de conhecimentos, que só podem resultar do investimento na pesquisa e disseminação da ciência que, por sua vez, só pode resultar do crescimento da oferta e da quali dade de cursos de especialização, mestrados e doutoramentos. É por isso oportuno o debate sobre o SNE. Vai ser melhor suce dido, se for abrangente e começar por considerar as grandes determinantes do sistema.

Se postular que nenhum sistema, de modo isolado, pode contri buir e fazer crescer um sistema educacional que educa os cida dãos para a felicidade e bem-estar.

Decorre a consulta pública e o debate sobre a Lei do Trabalho, na esfera da revisão e aprovação recentes da política de tra balho e segurança social. O processo é oportuno e é desejável

que resulte na maior valorização do saber fazer, das capacida des demonstradas, da aprendizagem contínua e consequente aumento da produção e produtividade. Que a primazia possa ser inequivocamente dada aos conhecimentos, experiência e desempenho, deles fazendo depender a remuneração, pré mios e progresso profissional. Que a compensação dependa cada vez menos de diplomas e certificados, sobretudo quando estes sejam “irrelevantes” para as funções desempenhadas. É desejável que se encontre o equilíbrio entre a justa protecção da saúde e segurança social do trabalhador, o salário justo, e a flexibilidade necessária para o empregador estimular, pre miar e reter os melhores, e libertar-se dos desajustados da filosofia e planos da instituição. Deseja-se ainda que resultem estímulos para uma ligação e cooperação mais estreitas entre o mundo do trabalho e o sistema educacional, especialmente a formação técnica e profissional e a formação e investigação que correspondem e respondem às necessidades do aumento da produção, produtividade e competitividade. Deseja-se que a Lei do Trabalho estimule o trabalho, o emprego e a produção, para que aumente a capacidade de satisfazer as necessidades internas do país e aumentar as exportações, levando ao equilí brio da balança de pagamentos e ao aumento da arrecadação de receitas fiscais resultantes do trabalho justo, formal e digno. A Paz e estabilidade social, a elevação contínua dos conheci mentos e capacidades dos cidadãos, o aumento da produção, produtividade e competitividade, são prioridades e roteiro cer to para o bem-estar social e felicidade dos moçambicanos.

Julho 2018 25
“É por isso oportuno o debate sobre o SNE. Vai ser melhor sucedido, se for abrangente”

A bAncA no bolso

Como a evolução da tecnologia, e especialmente do telemóvel, ajudou a alterar o paradigma da banca comercial que aposta cada vez mais na mobilidade, na dinâmica e na aproximação ao cliente final, por forma a conseguir completar o grande salto da inclusão financeira. Mas, apesar dos avanços, prevalecem desafios. O mais importante de todos é perceber como o dinheiro real e o digital podem trabalhar juntos, para chegarem a todos os moçambicanos

bancarização é um termo que os di cionários de língua portuguesa ainda não reconhecem. É uma expressão em “economês” que, recentemente, ga nhou espaço um pouco por toda a parte. A expansão do acesso a serviços e produ tos financeiros foi definida, a nível global, como uma das metas do desenvolvimento sustentável. E não foi por acaso. O acesso ao sistema financeiro repre senta a entrada num admirável mundo novo, da economia aberta e dos merca nismos do mundo do século XXI, do acesso ao financiamento, aos instrumentos de poupança e ao desenvolvimento social. Olhando para Moçambique, havia (e ain da há) que inverter um cenário: muito poucos moçambicanos tinham, no início da década, acesso aos serviços financei ros. Dados de 2013, indicam que essa per centagem era de apenas 20%, metade da média dos países da África Austral que se situava nos 40%. Hoje, ela andará nos 31,2%, ainda longe do ideal.

A necessidade de mudança, com especi ficidades inerentes ao próprio território,

31,2%

ApenAs pouco mAis de um terço dA populAção AdultA , cercA de 4,9 milhões de moçAmbicAnos, tem Algum tipo de Acesso Aos serviços finAnceiros nAcionAis. o objectivo é chegAr Aos 70%, Até 2022

levou a que, até há poucos anos, banca rizar colocasse a ênfase na expansão física das instituições bancárias sen do que se assistiu a uma ‘corrida’ dos principais bancos para abrir novas agências no meio rural, numa estra tégia incentivada pelo Banco Central. Assim, o número de agências era, até há pouco tempo, um factor diferenciador en tre eles. Ainda hoje o é, de resto. Mas, num curto espaço de tempo, esta lógica tem vindo a sofrer evoluções, e parece que rer dar lugar aos ventos de uma nova era que, se calhar, nem é tão nova assim. O tempo em que, por via da crescente utilização de tecnologia (ao nível do de senvolvimento das telecomunicações e da melhoria das redes móveis, com um impacto brutal em África) surgi ram as Instituições de Moeda Elec trónica (IME) que vieram percorrer os últimos quilómetros que ainda se paravam o balcão físico e os milhões de clientes finais, até então excluídos. Estes serviços financeiros de moeda digi tal, dos quais o maior exemplo em África

Julho 2018 26 Nação Banca Digital
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Nação

será o mPesa, ganharam espaço no mer cado e muitos houve que os olhassem en quanto concorrência à banca comercial. No entanto, serão todavia mais com plementares do que outra coisa (assim como o E-mola, ou o Mkesh). E a realidade comprova-o. Dados recentes do Banco de Moçambique (BM), indicam que o número de utilizadores de IME em Moçambique já ultrapassa o número de contas activas existentes nos serviços e agências bancá rias: há assim 7 milhões de subscritores de serviços financeiros das três institui ções de moeda electrónica que funcio nam através de redes de telefonia móvel (Vodacom, Mcel e Movitel) face aos 4,9 mi lhões de contas bancárias. Ainda assim, e apesar do crescimento exponencial das IME, há que registar os progressos fei tos pela banca comercial, o que permitiu ampliar a cobertura do acesso aos servi ços financeiros para os actuais 31,2% da população adulta nacional (cerca de 15,5 milhões de pessoas) em apenas cinco anos (quando era de apenas 20%, em 2013).

Quénia, o padrão da aposta moçambicana Estatísticas reveladas pelo BM, num evento que decorreu em Junho passado, precisamente sobre bancarização, pelo

sisteMa finanCeirO

Bancos comerciais; micro; cooperativas de crédito e três operadoras de moeda electrónica

milhões

moçambicanos já fazem transacções em moeda electrónica

ex-governador da instituição, Ernesto Gove, indicam que a percentagem de população adulta com acesso a serviços financeiros móveis cresceu de 40% em 2016, para 44% no ano passado.

Ou seja, a chamada banca móvel não está a ‘tirar’ clientes dos bancos. Até por que, são cada vez mais os serviços com plementares, entre a banca e as IME (os maiores bancos nacionais têm protoco los com todas elas), sendo que, por outro lado, se estas permitem transacções de forma fácil e prática, grande parte do di nheiro acaba por ser levantado na rede de ATM que tem vindo a crescer expo nencialmente, fruto do investimento, e da estratégica da banca comercial.

Ainda assim, Moçambique permanece longe de uma cobertura satisfatória da totalidade da população.

O Banco Central e os principais bancos no mercado sempre lideraram os es forços para alargar a cobertura, en quadrada pela ‘Estratégia Nacional de Inclusão Financeira 2016-2022’, que esta belecia metas específicas neste domínio.

E a utilização de novas tecnologias, a tal digitalização da banca de que cada vez mais se vem falando, não podia ter chegado em melhor altura, para todos.

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fonte
MiCrO banCOs COOperativas de
OperadOras MOeda eleCtróniCa banCOs 9 8 3 19
O
Banco de Moçambique
CréditO
7
de
Banca Digital
novos caminhos: banca comercial e banca móvel estreitam parcerias para chegar a cada vez moçambicanos

Do lado do BM, o regulador do mercado, em Abril deste ano, o Governador Rogé rio Zandamela manteve conversações com o governador do Banco Central do Quénia, Patrick Njoroge, no sentido de co lher experiências sobre o rápido avanço que aquele país alcançou nos esforços pela inclusão financeira. O Quénia é, como se sabe, um exemplo mundial na expansão dos serviços financeiros digi tais através do mPesa (já tem mais de 30 milhões de clientes em África), o que permitiu expandir a inclusão financeira a 90% da população, uma das mais eleva das taxas de cobertura em todo o mundo. À luz deste contacto, dois técnicos mo çambicanos foram ao Quénia em meados de Junho passado, estando agendadas ou tras deslocações de quadros moçambica nos para a aquisição da experiência es tratégica daquele país. E neste momento, Moçambique dispõe de vários técnicos de um grupo multidisciplinar coordena do pelo Banco de Moçambique. É este o grupo que tem por missão recolher as boas práticas do Quénia. A meta é que dentro de cinco anos haja resultados vi síveis, e o país possa estar mais perto de ter cerca de 70% da população abrangi da por algum tipo de serviço financeiro.

o cheque... posto em cheque Será a primeira vítima da ‘digitalização do sistema bancário’ nos últimos anos, com o foco mais evidente na expansão de caixas electrónicas (ATM e POS), mas também na própria oferta de serviços mobile da banca comercial. A verdade é que os cheques vão, indelevelmente, ficar em vias de extinção. E são os dados do Banco de Moçambique que ilustram esta realidade, sendo que o quase ances tral método de pagamento está gradual mente a ser substituído pelas transfe rências electrónicas interbancárias: em 2010, o rácio de transacções monetárias indicava que 73% delas eram feitas atra vés de cheques, enquanto 27% seguiam por via electrónica. Dando um salto no tempo, até 2017, a utilização de cheques caiu agora para 51%, ao passo que as transferências electrónicas interbancá rias cresceram para 49% do total. Esta mudança estrutural ilustra, de res to, uma mudança conceptual da banca, principalmente a comercial, a partir de finais da década passada, estando a atri buir cada vez maior relevância à digi talização dos seus serviços e estratégias. Por isso, hoje já quase tudo o que se faz no balcão de um banco, é possível realizar com o telemóvel, em tempo real, sem a

aCessO à MOeda eleCtróniCa supera COntas banCárias ...

Em 2016 mudou o paradigma e passaram a existir mais moçambicanos a utilizar serviços e produtos financeiros por telemóvel do que com conta bancária

... Mas estas taMbéM registaM CresCiMentO

em % da população adulta 16

31,2

23,9 17

25,1 20

31,1 36

39 49

Com conta de moeda electrónica evolução das contas bancárias

O número de pessoas com conta nos bancos comerciais cresceu mais de sete vezes e os subscritores de serviços financeiros digitais aumentou mais de 16 vezes. atenta, a banca aposta agora na melhoraria dos seus serviços digitais para aproveitar a ‘onda’ que as iME começaram há alguns anos

em milhares

2010 2017

1 600%

burocracia das agências e com a máxi ma segurança e conforto.

o foco mudou

Do lado da banca comercial, o desafio da tecnologia foi aceite e se, por um lado, não se assume a possibilidade de colocar um travão à expansão física das suas re des, é visível uma canalização dos inves timentos para o crescimento digital.

Os serviços financeiros digitais muda ram por completo a abordagem estra tégica dos bancos, e cada uma das 19 instituições do mercado puxa para si o protagonismo na oferta de serviços mo dernos e personalizados.

À E&M, Jorge Octávio, administrador do Millennium bim, explica que “o peso dos canais digitais tem vindo a ganhar uma relevância cada vez maior nos serviços que presta”. E revela que mais de 40% dos clientes do banco “já utilizam activa mente os serviços digitais, o que se nota nos mais de 7 milhões de transacções

Contas bancárias Contas em moeda electrónica

subscritores de serviços financeiros digitais aumentaram exponencialmente

684 428 4 900 7 000 fonte Banco de Moçambique

pesquisa da fundação bill gates sobre impacto da expansão dos serviços financeiros digitais nos países emergentes revela que podem gerar 3,7 biliões de dólares e criar 95 milhões de empregos

realizadas mensalmente. Para ter uma ideia da ordem de grandeza, 9 em cada 10 recargas de serviços diversos que fornecemos aos clientes já são compra das através dos canais digitais”, revela. Já o BCI reporta igualmente um “impac to muito positivo da digitalização que se nota pelo volume de transacções, bem como pela adesão dos clientes a estes canais que tem crescido de forma ex pressiva”. A estratégia do BCI (bem como dos cinco principais bancos nacionais) as sentou ao longo dos anos no crescimento da rede de balcões, caixas ATM e termi nais de POS por todo o país, que acaba ram também eles por beneficiar muitos clientes fora do sistema, nomeadamente os que utilizam os serviços de carteira móvel (mPesa, Mkesh e E-mola).

Também ligado aos serviços de opera doras móveis, o Standard Bank tem hoje, garante à E&M, entre 88% e 91% do seu core business directamente ligado à oferta de produtos e serviços digitais,

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tendo vindo a apostar também em ino vação, facto que se nota na abertura de uma incubadora de startup com o objec tivo de criar e optimizar novos serviços (com enfoque nos financeiros digitais) que possam ser capitalizados na estraté gia de expansão do banco. Já o Moza tem, também, visto “aumentar substancialmente” o número de tran sacções realizadas em canais digitais. Nos últimos dois anos, o crescimento terá sido de cerca de 70%, prevendo en cerrar 2018 com mais de 2,3 milhões de transacções efectuadas nos canais digi tais - Internet Banking, Mobile Banking e USSD (Moza Já). Se a estas acrescentar os quiosques e as transacções previstas no Moza D’Agente (agentes do banco junto dos mercados informais) pode alcançar os 3 milhões de transacções através de canais digitais, ultrapassando em mui to o número de transacções efectuadas nas agências (pouco acima de um mi lhão). “Naturalmente que em volume (valor das transacções), as realizadas nas agências, pela sua tipologia, ainda ultrapassam as realizadas pelos canais digitais, mas mesmo essa situação tende rá a inverter-se, em minha opinião, nos próximos anos, fruto da massificação da utilização destes canais”, assume João Fi gueiredo, presidente do conselho de ad ministração do banco Moza à E&M. Já no Banco Único, uma das novidades que demonstram a apetência por novas soluções digitais enquando factor dife renciador, é a recentemente apresen tada SocialApp, um novo aplicativo que promete “revolucionar a forma como as pessoas gerem o seu dinheiro.” Ela vai permitir ao cliente a criação da sua própria rede social bancária através de um Smartphone, e assim fazer com que a gestão de dinheiro entre pessoas pró ximas deixe de ser um problema. Passa assim a ser possível, pedir e emprestar dinheiro, dividir contas ou fazer “xitique” (grupos de poupança e crédito rotativo) com a sua rede de amigos e familiares. A este nível, também o Barclays Bank Moçambique se tem mostrado cada vez mais activo, tendo assinado recentemen te um protocolo com a Movitel para a facilitação de transacções (à imagem de todos os outros bancos que mantêm pro tocolos com as principais IME) e aposta ainda numa rede de ‘balcões do futuro’, nos quais a tecnologia está bem presente. “Não podemos deixar de embarcar nes te caminho que se abre para a banca em Moçambique. O potencial do país é enorme, tanto como os desafios que se

FInTEcH Têm ImpAcTo “dEcIsIvo” nA EconomIA

São inúmeros os estudos que mostram como a expansão das finanças digitais é impactante no crescimento económico. O Banco Mundial, por exemplo, realça o papel das “Fintech (startups que se dedicam a criar soluções financeiras digitais) para a inclusão financeira” e incentiva os governos de países em desenvolvimento a “apostar no investimento em infra-estruturas que favoreçam a inclusão financeira (fibra óptica, electrificação do país, telecomunicações)”. investimentos sim, mas com um retorno no desenvolvimento económico “uma vez que quando a taxa de inclusão financeira aumenta, associada à elevada literacia financeira, o PiB per capita cresce e o alívio às taxas de pobreza torna-se visível, revela a experiência

de certos países que investiram muito em literacia financeira e nas Fintech. nesse sentido, o Banco de Moçambique lançou recentemente a sua própria Fintech, juntando-se à Financial Sector Deepening Moçambique (FSD Moz) para criar a incubadora Sandbox, uma plataforma que vai ajudar no a promover a criação de novos serviços financeiros.

atM Mais dO que dupliCaraM

aumento reflecte aposta da banca comercial no quadro da estratégia de bancarização da economia em unidades

nos colocam, enquanto sector financei ro. A ideia do Barclays é abraçar esta tendência e apostar na proximidade com o cliente, expandindo a rede, crian do novas formas e serviços através de meios digitais, e procurando ganhos de eficiência e dinâmica essenciais no con texto do mercado nacional”, explica Rui Barros, CEO do Barclays Bank, à E&M.

Ritmo de crescimento mostra que a banca está cada vez mais perto

pOs eM rápida expansãO

Em 2017 existem seis vezes mais aparelhos do que em 2010 2010 2017 4 731 27 851

Banco de Moçambique

o caminho para acelerar a inclusão Para o ex-governador do Banco de Mo çambique, Ernesto Gove, a digitalização é o caminho para “minimizar os proble mas do défice de infra-estruturas que dificultam a expansão física das agên cias bancárias.” Gove explica ainda que, ao contrário das condições necessárias para a expansão de bancos, “as condi ções impostas pela digitalização para que existam serviços financeiros são relativamente acessíveis”. Elas estão agrupadas em pelo menos três dimen sões: a plataforma tecnológica, que per mite que um cliente use um dispositivo para fazer ou receber pagamentos ou transferências electronicamente; canais digitais, isto é, disponibilidade de Inter net, telemóvel, caixas electrónicos, entre outros; agentes que fazem a repercus são dos serviços gerados pelas plata formas que utilizam os canais digitais. “Andando hoje pelo país há quiosques e outras entidades que funcionam como

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agentes mPesa, Mkesh ou E-mola que per mitem transferências rápidas entre os utilizadores. E é essa compra de dinheiro electrónico que amplia a possibilidade de fazer pagamentos, realizar poupanças e transferências, muitas vezes em inter ligação com a própria banca comercial que trabalha com estas IME”, sublinha. Nesse sentido, antes mesmo de trazer para Moçambique a bem-sucedida ex periência queniana, o Banco de Moçam bique já criou a sua própria FinTech, uma plataforma que vai ajudar a promover a criação de serviços financeiros sofisti cados e adequados às exigências de um mercado onde a resolução dos desafios, passa inevitavelmente por novas solu ções adequadas às circunstâncias (terri toriais, estruturais, e sociológicas) do país. Se já não há qualquer dúvida que a digi talização é bem-vinda, é na ‘interopera bilidade’ que reside a força motriz da in clusão financeira, e é aqui que está outro dos maiores desafios. É que actualmente não é possível transferir dinheiro de te lemóvel para telemóvel entre usuários dos serviços prestados por provedores diferentes. Isto é, essas transacções ocor rem apenas entre subscritores de mPe sa para mPesa, de Mkesh para Mkesh e E-mola para E-mola. O problema é que ela não é fácil de se estabelecer. Depen de da abertura dos provedores de servi ços mediante a avaliação das vantagens e desvantagens, e dos mecanismos de compensação pela partilha de infra-es truturas entre operadores distintos. Para tratar desta questão, a equipa mul tidisciplinar que trabalha na promoção da inclusão financeira está já a estudar o modelo mais apropriado à realidade moçambicana, entre vários que já são prática em diferentes partes do mundo. Está também em avaliação o tipo de in centivos que se devem dar aos provedo res de serviços, para evitar que hajam barreiras à entrada de operadores con correntes, encorajando os que detêm me lhores infra-estruturas a partilhá-las.

Jerry Mobs, CEO da Vodacom (detentora do mPesa) em Moçambique, dizia isso mesmo à E&M, antevendo “um futuro em que banca comercial e banca móvel são parceiras e não concorrentes num cami nho comum para fazer chegar os servi ços financeiros a cada vez mais pessoas.”

O Banco Central assume ser da sua “com petência”, enquanto regulador, “reflectir e encontrar a melhor forma de ampliar os passos para chegar à tal ‘interope rabilidade’, que no entanto, os operado res do mercado já têm vindo a colocar

Disponibiliza serviços de internet banking e o serviço Millennium izi, uma solução própria de banca móvel. também criou uma rede de mais de 300 agentes bancários “Jájá”, à escala nacional, responsável por fornecer um conjunto de serviços financeiros para pessoas em zonas rurais e áreas suburbanas.

Em 2005 disponibilizou o primeiro serviço através de telemóvel – o SMS banking. Em 2011 lançou o canal USSD #124 que permite fazer a gestão de conta, sem custos adicionais. Em 2012, inaugurou um serviço que permite a clientes transferir dinheiro para usuários sem conta, utilizando apenas um número telemóvel.

O destaque vai para o QUiQ, que funciona com base no código USSD. também disponibiliza o netPlus que dá a possibilidade de abertura de uma segunda conta bancária online; o netPlus app permite a autenticação do utilizador através de impressão digital; e os Quiosques digitais que permitem o pagamento de serviços diversos.

tem disponíveis produtos de poupança a partir de 100 meticais e de microcrédito a partir de 5 000 meticais, e alguns podem ser activados a partir do telemóvel (crédito Já). Oferece também soluções de Mobile Banking e USSD (Moza Já). lançou o “Banco do Merkado” que levou as agências bancárias até aos mercados informais.

lançou o serviço “Barclays Móvel”, que permite efectuar consultas, movimentos e transferência de fundos para contas de outros bancos. trata-se de um serviço para o qual não é necessário fazer download ou instalar nenhuma app, baseado no código USSD. aposta ainda em tecnologia de ponta nos ‘balcões do futuro’.

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Millennium bim standard bank barclays bank bCi MOZa Os serviÇOs digitais de alguns dOs MaiOres banCOs fonte Millennium Bim, Bci, Moza, Standard Bank, Barclays Bank Moçambique

Mpesa CresCe seM parar …

Subscritores do serviço já representam quase metade do número de clientes de todos os serviços de iME em Moçambique

em milhares de utilizadores

2017

… O que se nOta nO CresCiMentO das transaCÇões …

Em apenas dois anos (de 2015 a 2017), o número de transacções realizadas aumentou 12,6 vezes

em milhões

2015 2016 2017

… e nO auMentO expOnenCial dOs valOres transaCCiOnadOs

Volume de meticais que circula nas operações de transferências, depósitos e levantamentos aumentou dez vezes em dois anos

em milhares de milhões de meticais

em prática, aos mais variados níveis. Ajudados também por uma mudança estrutural ao nível da rede, promovida pelo Banco Central que criou o SIMO (So ciedade Inter-Bancária de Moçambique), que começou a operar em 2015, servin do para facilitar a ‘interoperabilidade’ entre as instituições (realização de tran sacções inter-bancárias pelos clientes de qualquer banco, sem custos adicionais).

sua fase inicial, para discutir mudan ças na área de protecção de dados, uma questão que é absolutamente crucial, sendo que este processo está ainda em análise, assegura à nossa reportagem: “É preciso ainda definir o modelo a adoptar.”

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segurança e protecção de dados No entanto, no meio de todo este turbi lhão de inovações, as que já existem e as que que se esperam para os próximos anos, há alguns riscos a ter em conta. A protecção de dados e o processo de iden tificação dos clientes serão os principais. Nesse sentido, o Banco Central deverá emitir, em breve, novas regras de iden tificação que não apenas por via do Bi lhete de Identidade que deverão passar a incluir novos elementos de segurança, como as impressões digitais e o reconhe cimento de voz para aceder a contas por via electrónica e assim poder efectuar transacções. “O departamento de licen ciamento e regulação já está a traba lhar para que, brvemente, saia o aviso que autoriza a banca a utilizar outros instrumentos para flexibilizar a iden tificação dos seus clientes”, assegura à E&M o Governador Rogério Zandamela. Também decorrem trabalhos, ainda na

o papel do Governo Rogério Zandamela dá a entender que o Governo não tem participado de forma satisfatória no processo de digitalização, daí que seja preciso, em sua opinião, “re flectir e dialogar mais sobre o seu (do Exe cutivo) papel nesta caminhada”, assinala. Compete ao Governo legislar no sentido de dotar o mercado de uma cada vez maior flexibilidade, especialmente por via da constante inovação tecnológica que impõe mudanças mais aceleradas do que a velocidade da aprovação dos regulamentos. “O Governo é parte inte ressada no processo, visto que alguns dos seus objectivos encontram resposta na própria digitalização.” Dos novos ca minhos que se esperam para a banca, parece sobrar apenas um: crescer com os instrumentos disponíveis, sem deixar de investir na construção de alternati vas. E o sector parece comprometido em fazê-lo, para se desenvolver com o país.

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mPesa
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FOtOgRaFia istoCk Photos
tExtO Celso Chambisso
exemplo africano: no Malaui, bancos encontram soluções inovadoras. em Moçambique, também já acontece

Há muito por fazer no capítulo da literacia financeira

teotónio comicHe

Presidente da Associação Moçambicana de Bancos

a associação moçambicana de ban cos (amb), tem a missão de promover o progresso técnico, económico e social da actividade bancária dos seus membros, com “uma visão profunda sobre as trans formações impostas pela digitalização no sistema financeiro nacional.” teotónio comiche, administrador do mil lennium bim e presidente da amb, tem procurado coordenar os esforços que os 18 bancos do mercado estão a reali zar com vista à expansão dos produtos e serviços financeiros modernos, não deixando de atribuir às instituições de moeda electrónica “o mérito da rápi da expansão da cobertura dos serviços financeiros”.

Numa entrevista exclusiva à e&m, comi che, diz que “nem tudo está a favor dos avanços que se necessitam”, apontando à “necessidade” de mudanças estrutu rais. e até dá exemplos concretos: um de contornos mais operacionais, que passa por “acabar com o excesso de burocracia para a abertura de contas bancárias”, e um outro mais estrutural, que passa por “incrementar” o nível de literacia finan ceira, ressalvando “os esforços” do Banco de moçambique (bm) e dos bancos co merciais neste sentido.

No último aNo, mais de um milhão de pessoas passaram a ter acesso aos serviços fiNaNceiros e a perceNtagem de distritos cobertos passou de 55% para 70%. foram abertas mais de 19 mil coNtas baNcárias e movimeNtados mais de 107 milhões de meticais

Moçambique vive uma era em que as contas bancárias passaram a ser inferiores ao número de subscritores de serviços financeiros móveis. O que nos diz essa tendência? temos que dar o mérito às instituições de moeda electrónica (ime) por esse fei to. eles encontraram o modelo de negócio apropriado, estabeleceram a operação, o suporte ao nível de marketing e comuni cação e ainda uma vasta rede de agentes que resultou na aceitação dos moçambi canos por esta solução que permite que cada vez mais pessoas possa ter acesso aos serviços financeiros. O resultado está à vista, pois números publicados recente mente apontam para mais de 7 milhões de contas de moeda electrónica contra os cerca de 5 milhões de contas bancárias. devo dizer que as ime, como o mpesa, Mkesh e mais recentemente o eMola, são parceiras do sistema financeiro, pois des de a primeira hora que os associados da AMB, os bancos, estiveram disponíveis para apoiar estas iniciativas. este apoio evidenciou-se, por exemplo, ao permitir que os agentes destes operadores usassem os seus balcões para depositarem dinhei ro para a gestão de liquidez dos agentes. adicionalmente, foi com o apoio dos

Na voz de... Julho 2018 34
Banca Digital
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a voz de...

bancos que os operadores integraram a rede de atms, na altura rede ponto 24, hoje simorede e permitiram que os clientes dos operadores de moeda elec trónica possam fazer levantamentos na rede de atms.

O surgimento das Instituições de Moe da Electrónica veio revolucionar a utilização de serviços financeiros tornando-os mais acessívels. Estão criadas todas as condições para que se estabeleça uma relação de comple mentaridade entre banca e IME? eu diria que o aparecimento destas ins tituições veio revolucionar o acesso aos serviços financeiros pois passa a consti tuir um canal alternativo, mas comple mentar, à banca tradicional. repare que os operadores suportam a sua operação na rede de balcões dos bancos para per mitir gerir a liquidez dos agentes. adi cionalmente e mais uma vez como ha via indicado, os clientes das ime podem levantar dinheiro nos atms dos bancos. Isto só foi possível porque há um enten dimento claro da complementaridade destas instituições e acima de tudo pela necessidade de servir cada vez mais clientes e permitir uma maior inclusão financeira. E para reforçar esta ideia é já possível fazer transferências entre con tas de bancos e IME e vice-versa (a título de exemplo os acordos entre o mpesa e o Standard Bank ou ainda o Mpesa e o BCI).

Embora ainda não esteja disponível para todos os bancos acreditamos que é um processo que irá continuar a desenvol ver-se naturalmente permitindo aumen tar a interoperabilidade.

A literacia financeira é uma condição apontada por várias entidades, in cluindo o BM como incontornável para acelerar a inclusão financeira. Mas as iniciativas para dotar os potenciais con

sumidores de conhecimento parecem sempre pouco efectivas, concorda? A educação financeira é um dos pilares fundamentais para o aumento da inclu são financeira e esta actividade tem sido continuamente desenvolvida pelos ban cos. uma das iniciativas que podemos des tacar é a celebração do mês da poupança em que todos os bancos participam con juntamente com o bm em iniciativas de educação financeira num vasto número de escolas de todo o país onde são expli cadas as funcionalidades dos produtos bancários, os benefícios das poupanças, por exemplo. por outro lado, cada banco tem desenvolvido iniciativas individuais de literacia financeira. Reconhecemos, no entanto, que ainda há muito por fazer e temos, por isso mesmo, participado acti vamente no comité Nacional de inclusão financeira para promover acções con juntas a este nível.

“Em um ano, abriram 17 agências Em 17 distritos do país. dEsta forma, mais dE um milhão dE pEssoas passaram a tEr acEsso aos sErviços financEiros”

17Há sempre questões de ordem legal a serem colocadas em debate. Ou seja, um entendimento geral de que a re gulamentação é mais lenta que a dinâ mica dos serviços digitais. Concorda? É verdade que a evolução de tecnologia é sempre mais rápida que a regulação. Considero isso natural pois só é possível regular depois de se desenvolver a tecno logia. muitos exemplos podem ser dados, pois a regulação é feita para resolver ou regular as funcionalidades que essas tec nologias trazem ao funcionamento das so ciedades. No caso dos serviços financeiros digitais, esse factor ainda é mais eviden te, pois a velocidade com que se colocam novos produtos e serviços no mercado, é muito superior à nossa capacidade de regular. Não acreditamos que tal cenário venha a mudar pois está previsto que o investimento em fintechs continue a crescer e o resultado será ainda mais ino vação. e julgamos que este é um factor po sitivo para o consumidor e para o desen volvimento do sistema, resultando numa maior inclusão financeira. Este desígnio nacional tem sido continuamente abra çado pela banca em moçambique. de tal modo que os bancos têm introduzido es tes canais no mercado. desde atms, pos e cartões bancários, passando pelo inter net Banking e, naturalmente, o telemóvel, em que já era possível, em 2005, realizar operações bancárias por sms, sendo que hoje esta tecnologia está já disponível em ussd (tecnologia interativa, baseada em menus, suportada por quase todos os te lemóveis mesmo sem ligação à internet). a regulação teve uma abordagem posi

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DInheiro mais perto: nos últimos anos, a banca tem apostado em fazer aumentar número de ATM no país

a baNca tradicioNal já iNterage com as iNstituições de moeda electróNica. No futuro, essa iNtegração será cada vez maior

tiva sobre o tema e foi sempre ajustan do e permitindo aos bancos lançarem novos produtos e serviços com suporte tecnológico.

Isso pressupõe desafios... Há que manter esse equilíbrio entre a re gulação e a inovação. por isso vemos com bastante satisfação a iniciativa do banco central e da financial sector deepening moçambique (fsdmoç) com o lançamento da incubadora sandbox que irá permitir que se testem novos serviços financeiros em ambiente controlado. esta iniciativa ilustra a preocupação do bm como regu lador tem em se ajustar às condições que o mercado exige.

As zonas rurais são, por definição, menos privilegiadas no acesso aos serviços financeiros. De que for ma é que o sistema financeiro pode incentivar a celeridade das iniciativas de expansão da rede bancária? desde a primeira hora, o presidente da re pública, filipe Nyusi, lançou o programa

“Um Distrito, Um Banco” a 9 de Agosto de 2016, em inhambane, e que visa cobrir to dos os distritos com um balcão até 2019. assim, em cerca de um ano, depois do seu lançamento, foram abertas 17 novas agências em 17 distritos, ou seja, mais de um balcão aberto por mês. Desta forma, mais de um milhão de pessoas passaram a ter acesso aos serviços financeiros e a percentagem de distritos cobertos passou de 55% para 70%. foram abertas mais de 19 400 contas bancárias e movimentados mais de 107 milhões de meticais. consi deramos esta iniciativa um pilar para a bancarização e um forte incentivo para os bancos. e outras há, como a implemen tação de redes de agentes bancários e a expansão da rede de atm,

Que instrumentos está hoje a banca a mobilizar para que, no futuro, Moçam bique seja também um exemplo de in clusão financeira ?

Eu diria que ao nível de inclusão finan ceira, moçambique tem tido o desen volvimento adequado à sua dimensão

económica e à sua realidade social, es pecialmente nos últimos anos em que se registou um crescimento acentuado da rede bancária e do número de clientes. Não quero com isto dizer que não haja ainda trabalho para fazer. Ninguém pode dizer isso e, no nosso caso, há muito ainda por fazer.

Em que aspectos?

um dos que consideramos importantes é a revisão da regulação das condições para a abertura de contas. veja que, para se abrir uma conta numa ime, bas ta ter 16 anos e um documento de iden tificação, enquanto que numa instituição bancária, é preciso ter pelo menos 21 anos, um documento oficial e um com provativo de residência. É importan te poder rever estas condições e posso adiantar que temos estado a trabalhar activamente com o bm nesse sentido.

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texto Celso Chambisso fotografia Jay Garrido

Gaza, a província que parou no tempo, corre contra o relóGio

O projecto das areias pesadas de Chibuto, orçado em 1,2 mil milhões de dólares, é aguardado quase como um ‘salva-vidas’ económico para uma província que, durante quase três décadas, não viu chegar grandes investimentos. Mas, do presente ao futuro, a distância é grande e muito parece ainda estar por fazer, do turismo à agricultura

epicentro da luta de libertação na cional, e uma província com reconhe cido potencial agrícola, turístico e de re cursos naturais, Gaza é no entanto pobre no que diz respeito ao desenvolvimento económico porque não consegue trans formar o potencial em riqueza (o que se nota nos índices de pobreza muito eleva dos em torno dos 37% segundo dados do Banco Mundial).

E assim é, há já largas décadas, numa região que parece condenada a poucos investimentos, públicos ou privados. Há quem diga que falta capacidade huma na e técnica para fazer de Gaza um pólo

de desenvolvimento, através do melhor aproveitamento das potencialidades lo cais, com enfoque para os recursos na turais, e será por isso que o sector em presarial local considera “essencial” um plano estratégico para a sua exploração sustentável. Para isso, “tem de haver uma estratégia muito forte que possa ti rar aquela província do abismo”, e dar -lhe vida própria, crescendo em paralelo com a capital, Maputo. Se, nos anos 60, 70 e 80, devido ao seu enorme potencial agrícola alimentado pelo regadio de Chókwè, no norte da pro víncia era considerada ‘o celeiro de Mo

província gaza

capital Xai-Xai área 75 709 km² população 1.446.654 região Sul

Julho 2018 38 p
Gaza
rovíncia

çambique’ devido à produção de arroz, tomate e hortícolas que produzia para alimentar o país inteiro, agora apenas consome, na sua maioria importações. E até o arroz que, outrora, era o principal produto da província é hoje importado maioritariamente da Tailândia. De acordo com a directora provincial da Indústria e Comércio de Gaza, Lúcia Hum bane, “os recursos são vários e as oportu nidades também, mas falta investimen to, pelo que as pessoas só precisam de apostar na província. Os pontos fortes da economia da província de Gaza advêm, em grande escala, dos recursos naturais que detemos e da nossa localização geo gráfica. Temos recursos invejáveis, terra arável, madeira, pedra, argila, areias pe sadas, sem deixar de lado a nossa larga costa, com pouco mais de 150 quilómetros de extensão”, considera Humbane. Depois, há a riqueza potencial, gerada pelo rio Limpopo, “cujas características da água e do seu caudal são favoráveis para a produção agrícola e piscícola”, complementa.

Fraco desempenho da actividade agrícola De acordo com os dados avançados pelo sector da Indústria e Comércio do gover no provincial, Gaza tem hoje duas gran des zonas de regadio, a do Baixo Limpopo, (com claro potencial para dinamização agrícola) com uma área de 27,2 mil hec tares hectares, e o de Chókwè, com 23 mil. Porém, esse potencial é ainda suba proveitado. O que se nota na composição da estrutura económica da província, que tem como base a agricultura, com uma comparticipação de cerca de 89% da produção global, mas na qual predo mina uma agricultura de subsistência. Ciente dos enormes desafios do sector, Lúcia Humbane assume que este recur so, tal como os restantes, “não é explora do” na sua máxima força, havendo ainda um largo caminho por trilhar. “Notamos a insuficiência de infra-estruturas nos regadios, o fraco uso de tecnologia e os reduzidos níveis de investimento públi co e privado por entre os vários cons trangimentos que o sector agrícola em Gaza atravessa, agravado ainda pelos constantes choques climáticos, como é o caso das secas e cheias. A modalidade em que a agricultura é praticada pelo sector familiar e em pequenos talhões de forma desordenada e dispersa, colo ca naturalmente em causa os níveis de rendimento”, aponta. Assim, e olhando aos dados do Governo provincial de Gaza, de uma área poten

é A ACtividAde que predOMinA

Gaza é mais um exemplo da fraca diversificação da economia no país. a agricultura (na sua maioria de subsistência) é responsável por 89% dos rendimentos da província

cial de 1 494 milhões de hectares para a prática da agricultura, apenas estão em aproveitamento cerca de 53,5% da área disponível.

À E&M, o Governo provincial acrescenta que, “do valor total da produção agríco la, 92% destina-se à subsistência das fa mílias rurais, 5% vai para a indústria e 3% para exportação”, acrescentando que “destes produtos constam a castanha de caju, o arroz, hortícolas diversas, man dioca e carne, devido ao elevado número do efectivos de gado bovino.”

A descontinuidade entre a cadeia de produção e os centros de comercializa ção é outro dos entraves ao melhor apro veitamento de uma cadeia produtiva baseada no potencial da província. “Há elementos de quebra no meio de todo o processo. Temos feito esforços, enquanto Governo provincial, para minimizar o impacto negativo deste factor, estabele cendo ligações de mercado com grandes superfícies e indústrias de outras pro víncias, especialmente Maputo e Inham bane”, assinala a directora provincial da Indústria e Comércio.

89%

agricultura é o ramo de actividade que mais contribui para a economia

Mas não é apenas na agricultura que a província de Gaza possui enorme poten cial, já que o turismo e os recursos mine rais são também outros sectores a ter em conta. Mas tudo passa pela criação das tais cadeias de valor que não passam sem as vias de acesso e as plataformas logís ticas ainda, e por enquanto, inexistentes.

Julho 2018 39
Em
fontE InE AgriCulturA OutrOs indústriA extrACtivA turisMO indústriA AliMentAr 89 0,5 0,5 7 3 Agricultura de subsistência: sector alimenta a quase totalidade economia local da província de gaza
AgriCulturA
percentagem do PIB da Província

“Temos a apontar nesse sentido: a insu ficiência de infra-estruturas, sobretudo a falta das vias de acesso que ligam as zonas de produção aos mercados; de um aeroporto que flexibilizaria a logística de exportação, essencial ao desenvolvi mento da economia, que está concentra da em poucos sectores, embora haja um vasto leque de opções como o turismo, a indústria transformadora e os recursos minerais”, explica.

investimento precisa-se Paulino Hamela, presidente do Conselho Empresarial de Gaza (CEP-Gaza), conside ra haver uma ruptura entre o Governo e o sector empresarial, “minando” de certa forma a entrada de investimentos de grande vulto na região. E, há um ou tro senão, para além das falhas de que se fala habitualmente, e que tem a ver com “a falta de promoção das potencia lidades de que a província dispõe, para além do velho problema da burocracia para entrada de qualquer investimento, que leva “a que o ambiente de negócios seja ainda considerado pouco atractivo a quem quer investir aqui”, assinala. O Plano Estratégico de Desenvolvimen to do Sector Agrícola 2011-2020 (PEDSA)

“Ainda há muito por explorar, pois os recursos ainda não são potenciados na sua máxima força. Assim, pode dizer-se que gaza continua ainda longe do seu potencial”.

preconiza “a criação de cadeias de valor viradas para o agro-negócio, com des taque para as culturas de arroz e hor ticulturas”. No entanto, se olharmos aos números da produção anual de hortíco las e de arroz, percebemos que, devido à falta de uma rede de logística, “cerca de 40% se tem perdido por falta de mer cado para colocação”, um factor que ga nha ainda maior ponderação negativa, pelos baixos índices de rendimento da grande maioria das culturas praticadas. “Há que incrementar cada vez mais o processo de agro-processamento para reduzir o nível de perdas que se tem ve rificado em cada época, abrindo espaço para a mecanização agrícola”, diz-nos Lúcia Humbane.

a costa é rica

No entanto, a contribuição do turismo para a economia da província de Gaza, é ainda pobre (apenas 7%). Mesmo com o potencial que todos lhe reconhecem,

de ser um lugar de turismo com os pa drões necessários para atingir um ní vel internacional, mas que padece de alguns dos males que enfermam o cres cimento e desenvolvimento dos outros sectores de actividade: carece de me lhores infra-estruturas, organização, di versificação, promoção e investimento. No entanto, há alguns bons sinais, como o incremento de receita verificado no úl timo ano, na época alta, que chegou aos 250 milhões de meticais, face aos 190 mi lhões de meticais arrecadados em 2016 Uma realidade, ainda assim muito dis tante ao nível dos números, do que aque la região poderia fazer prever.

Fabricar o futuro, a partir do presente O sector industrial é outro ponto que se encontra em letargia. De acordo com o Governo de Gaza, a rede industrial da província é constituída essencialmen te por micro-indústrias, sobretudo nas áreas de carpintaria, processamento de

Julho 2018 40
Gaza
província
de costas para a costa: gaza ainda não conseguiu capitalizar potencial do sector do turismo para a economia local

cereais, panificadoras, serralharias e al faiatarias (um segmento que ganhou es tofo movido pela obrigatoriedade do uso de uniforme escola).

Mas, a grande mola económica da pro víncia deverá mesmo ser, a breve tre cho, o crescimento das extractivas. Para Castro Elias, director provincial de Re cursos Minerais e Energia ir-se-á assis tir “a uma grande mudança de cenário, com a iminente entrada em funciona mento da pedreira em Massangena e com a exploração das areias pesadas de Chibuto” que, a juntar-se à exploração dos jazigos de diamantes (recentemente descobertos) no distrito de Massangena e Chicualacuala formam o conjunto dos projectos que podem alavancar o moral (e a economia) local nos próximos anos. Avaliado em 1,2 mil milhões de dólares, o investimento (com origem na China) no projecto das areias pesadas de Chi buto, a 60 quilómetros do Chokwé é o que mais promete impulsionar a eco nomia de toda a região interior da pro víncia. Porque é ali que está situado

1,2

mil milhões de dólares

O InvestImentO PRevIstO PARA A UnIDADe De exPlORAçãO DAs AReIAs PesADAs DO ChIbUtO, O mAIOR JAZIGO mUnDIAl De IlmenIte, RUtílIO e ZIRCãO, UsADOs nA InDústRIA metAlúRGICA , De COsmétICOs, PAPel e PlástICO e nA AeROnáUtICA; DARá , esPeRA-se , Um nOvO FÔleGO eCOnÓmICO

À PROvínCIA De GAZA PARA DesenvOlveR tUDO O RestO

o maior jazigo mundial de ilmenite, ru tílio e zircão, com as pesquisas a apon tarem para um total de 2 660 milhões de toneladas de matéria-prima depo sitada, numa área de concessão de 10,5 mil hectares, e será ali que vai ser ins talada uma unidade que vai albergar três mil trabalhadores, e que terá uma capacidade instalada para processar 100 mil toneladas de areias pesadas por dia, “a partir do segundo semestre deste ano”, garante Castro Elias.

No entanto, o projecto poderá ser condi cionado pela falta de um corredor logísti co que possa assegurar o escoamento dos minerais a preços competitivos (o Porto de Maputo é o mais próximo, e dista a cerca de 270 quilómetros da mina), uma situação que tem sido ‘levantada’ pelo Governo de Gaza, que assegura à E&M, “estar em curso a definição de um pro jecto que possa resolver esse problema.”

texto Hermenegildo langa fotoGrafia d r

mercado e finanças

O piOr já passOu? sim, mas O melhOr já chegOu? ainda nãO

Na apresentação do Economic Briefing anual do Standard Bank, Fausio Mussá, economista-chefe do banco conclui que a economia nacional “continua a dar passos firmes para ultrapassar um conjunto de desafios”. No entanto, também confirma o que já se desconfiava: o crescimento vai continuar tímido até 2020

ilustração

o pior já passou? Se o pior for a que bra abrupta do crescimento do PIB para menos de metade da média de 7% dos primeiros cinco anos desta década, um aperto do garrote fiscal (especialmente sobre as contas das empresas), uma re dução drástica do investimento público, uma diminuição abrupta do investimen to externo e uma erosão acentuada do metical face ao dólar, então sim, o pior já passou. No entanto, o melhor ainda não chegou.

Mas, parece começar a dar os tais “pas sos firmes” em direcção a algum lugar, que ainda só se vê meio desfocado no ho rizonte temporal mas que, parece agora, ter as coordenadas certas para contor

3,5%

ExpEctativa dE crEscimEnto até ao final do ano é optimista, facE à projEcção do fmi Economia nacional tErá o ano dE mEnor crEscimEnto da década, mas 2019 trará boas notícias

nar os desafios criados pelo contexto dos três últimos anos, no sentido de restau rar a estabilidade macroeconómica e a esperança num verdadeiro floresci mento económico.

E se há indicadores que demonstram que esse progresso foi notório, como os números da conta corrente que evi denciam uma tendência de equilíbrio (deficit caiu, em dois anos, cerca de 60% para 2,4 mil milhões de dólares no ano passado), com efeitos na estabilidade cambial (71,2 meticais por dólar, há um ano, para 59,3 nesta altura) e na drástica descida da inflação (de 23,7% para 5,6% em 2017) que se observa desde meados do ano passado, outros há que tradu

Julho 2018 42

zem ainda um certo torpor económico. Como o carro a diesel que esteve muito tempo parado e que demora… e demora, a arrancar. O exemplo mais claro dessa realidade é o crescimento tímido do PIB, que desacelerou para 3,5% no ano pas sado, prevendo-se que fique nos 3% este ano (ou nos 3,5% se tomarmos em conta a previsão do Standard Bank).

A este nível, aliás, o veículo de transpor te colectivo (económico) onde todos esta mos em viagem, só vai mesmo arrancar (crescer) a partir do próximo ano, sendo que só se espera que acelere a partir de 2020 (crescimento acima de 5%). E a ve locidade cruzeiro (crescimento acima de 9%), essa só iremos atingir em 2023 (ano do início da exploração de LNG da área 4 da Bacia do Rovuma), e só lá chegaremos com o combustível certo e com o depósito cheio. De gás natural, no caso. Para já, e olhando aos primeiros meses do ano, 2018 não tem sido péssimo, mas também não tem enchido as medidas. O que não será novidade para ninguém. Por um lado, antevêem-se razões con cretas para acreditar numa melhoria. Mas elas ainda não se fazem sentir nas expectativas de empresários, nos ba lanços mensais das empresas, nem no bolso dos consumidores. E tudo porque a actividade económica deste primeiro se mestre apresenta níveis de crescimen to bastante reduzidos, na casa dos 3,2%, face aos 3,7% do mesmo período do ano transacto.

“melhorias são evidentes, mas é preciso mais” Na sessão de apresentação do Economic Briefing anual do Standard Bank Mo çambique, conduzida pelo economista -chefe do banco sul-africano, Fáusio Mus sá (um dos mais ‘escutados’ economistas nacionais da nova geração), foram lança das as perspectivas económicas para o segundo semestre do ano e para o início do próximo, e destacados dois cenários de enquadramento de toda a análise: um mais imediato e um outro de médio prazo. Assim, anotou os riscos elevados do lado fiscal que se colocam no presente, e as perspectivas de crescimento económico ainda lento, até ao arranque das expor tações de LNG, cujos efeitos só se sentirão, a sério, em 2022 e 2023.

Começando no presente, uma nota alusi va às taxas de juro. “Esperávamos que o Banco Central cortasse as taxas de juro, no mínimo, ao mesmo ritmo que vimos desde Dezembro, na casa dos 150 pontos base. Obviamente que este último corte (na sessão de Junho do Comité de Políti

PIB: Só vAI DISPArAr EM 2023

Crescimento será abaixo dos 4% até 2020. Economia só aquece em 2023

Em % do PIB 10 9 8 7 6 5 4 3 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023

PIB PEr CAPItA: vAI tEr DE CrESCEr Até 2023 2017 27,3 2018 30,2 2019 32,5

Em milhares de meticais

EXPOrtAÇõES: BOM DESEMPENhO AguENtA rItMO DE CrESCIMENtO

Em milhões de dólares; em 2017

Valores apontados em datas a partir de 2018 correspondem a previsões fontE Standard Bank

“Esperávamos que o Banco Central cortasse as taxas de juro, no mínimo, ao mesmo ritmo que vimos desde Dezembro, na casa dos 150 pontos base. A questão que se coloca é: será que se espera que haja uma aceleração da inflação acima dos níveis previstos, o que está a fazer o BM tomar aquele nível de decisões?”

ca Monetária do BM) foi metade disso (75 pontos base, fixando-se em 15,75%) e a questão que se coloca é: será que se espe ra que haja uma aceleração da inflação acima dos níveis previstos, o que está a fazer o BM tomar aquele nível de deci sões? Em nossa opinião, poderá apontar para uma ideia de que os riscos fiscais permaneçam elevados. Considerando que houve uma melhoria na balança de pagamentos, haveria espaço para cortes das taxas de juro mais agressivos do que os que foram anunciados”, reiterou. O economista complementa, de resto, que se se assistisse ao corte das taxas seguindo o ritmo seguido no último ano e meio, “poderíamos chegar, até ao final do ano, a uma taxa de juro MIMO perto dos 10%, pois há espaço para isso”, sendo a aplicação de taxas de juro atractivas “um factor importante para evitar o ce nário ‘crowding-out’ ao sector privado”, o que provoca uma canalização excessiva da economia para o sector público. Para o economista-chefe do Standard Bank, com o alto nível das taxas de juro que ainda se verifica no mercado ban cário, a maior parte do crédito para a economia é canalizado para o sector público, quando num cenário em que as taxas de juro seriam mais baixas “have ria apetência por parte do privado em financiar a sua actividade o que iria es timular a recuperação económica.” Na verdade, continua, “taxas de juro baixas abrem espaço para que o sector privado tenha dinheiro para si e para estimular a recuperação económica de uma forma mais veloz.”

E Mussá entende que, olhando para o tecido empresarial e vários sectores da economia, “não há dúvidas de que há necessidade de estimular algum cresci mento da procura agregada neste mo mento”, e neste sentido, o acesso ao cré dito, “é essencial”.

curva decrescente já se inverteu Lançando depois um olhar para o futuro, Mussá sustenta que, antes da exploração do gás natural na Bacia do Rovuma, as perspectivas apontam para que o PIB cresça a um ritmo bastante abaixo dos níveis históricos recentes, anotando ain da a quebra que o PIB per capita, sofreu no ano passado. É um dado preocupante que o PIB per capita tenha descido, em 2017, para perto de 400 dólares por ha bitante, quase metade do nível de há três anos, antes da queda dos preços das matérias-primas, da divulgação de dívi das de empresas públicas com garantia

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370 tabaco 190 carvão
700 gás
350
alumínio
electricidade
1
natural
1 200
200 areias pesadas

mercado e finanças

Bom desempenho na conta corrente, e corte na despesa influenciam

... há MENOS DESPESA E rECEItA ...

Ano em curso é o mais ‘conservador’ da década ao nível de ambas

Aumento do investimento público três anos depois, é a boa notícia

16 mil milhões de dólares

Dìvida total caiu percentualmente este ano, mas continua em níveis preocupantes

do Estado que foram ocultadas dos doa dores internacionais e das instituições nacionais, da depreciação do metical, e do Censo geral levado a cabo pelo INE e que revelava um aumento da população para 28,7 milhões de pessoas. Ou seja, menos riqueza nacional a dividir por mais população fazia encolher o valor do PIB per capita para abaixo dos 400 dólares, e colocava Moçambique na cau da dos países com menores rendimentos por cidadão em todo o mundo. Claro que o crescimento deste indicador acompa nhará o aumento do PIB do país, o que também se fará sentir apenas no ínicio da próxima década.

O contexto bom e o contexto mau Ainda assim, e num resumo final da apresentação, Mussá assinala que a aná lise conduzida indica que “o país continua a dar passos firmes para a recuperação da economia.” Mas, complementa que “a manutenção da estabilidade macroe conómica requer uma aceleração das reformas estruturais, nomeadamente no sistema judiciário, ambiente de negó cios, sector bancário e financeiro, fiscal e nas empresas públicas”, refere, não deixando de assinalar a importância da “manutenção do crescimento do sector exportador, particularmente o mineiro, incluindo as empresas que têm conse guido manter um nível considerável de negócios, investindo capitais próprios.” Assim, após um período de tensão militar

Dólares por ano o pib pEr capita é hojE , Em moçambiquE , um dos mais baixos (o sEgundo) Em todo o mundo, o quE rEflEctE um conjunto E rEalidadEs quE mErEcEm sEr analisadas. no Entanto, prEvê-sE um crEscimEnto dEstE indicador nos próximos cinco anos, acompanhando a curva dE crEscimEnto da Economia nacional

400que se prolongou ao longo de meses, o ambiente pacífico regressou a Moçam bique desde a trégua de Dezembro. Na sequência disso, a recente aprovação de uma mudança na Lei Constitucional para permitir a descentralização do poder Executivo, “contribui muito para aumen tar a confiança na manutenção da paz”, o que obviamente é um indicador social, mas com forte impacto no desenvolvi mento económico. São os episódios posi tivos que, no entanto, são contrabalança dos, e de que maneira, pelo processo em curso referente às lacunas de informa ção sobre o relatório da Kroll e os proble mas de responsabilização das mesmas, num processo que decorre sob a alçada da PGR, mas que, tendo por base os indi cadores do relatório do Standard podem considerar-se como estando, ainda as sim, “a ser abordados de forma satisfa tória, e poderemos ver a incerteza a dar espaço a um crescimento da confiança”. Mas, o grande ponto de interrogação actual do país é assinalado a tons ver melhos pelos actos de terrorismo a que se tem assistido na província de Cabo Delgado desde Outubro passado, e que terão consequências ainda impre visíveis que, de acordo com o Standard Bank, “requerem uma análise mais pro funda, que será feita a seu tempo”.

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Em % do PIB
DívIDA COMEÇA A CAIr ... 2014 53,1 2015 61 2016 85,9 2017 130,9 2018 108,4 2019 106,8
Em % do PIB 2013 2014 2015 2016 2017 2018 37 41,8 31,4 29,8 28,3 28,1 26,2 29,4 26,3 24,2 27,1 22,5 Receita Despesa ... E ONDE ElA SE gAStA
Em % do PIB 2013 2014 2015 2016 2017 2018 15 16,4 10,8 7,3 6,3 8,2 0,8 1 1,3 2,4 2,3 3,3 10,3 11,3 10,9 11,3 10,8 9,3 Juros Salários Inv. público
tExto Pedro Cativelos fotogrAfiA Jay Garrido fontE Standard Bank
empresas Julho 2018 46

O que é naciOnal (e natural) é bOm

A Mozambique Good Trade é uma empresa de distribuição de produtos 100% nacionais, naturais e orgânicos que ganha espaço num nicho de mercado em franco crescimento. Em Moçambique e um pouco por toda a parte

um negócio com bom fundo. foi esta a ideia que levou Diogo Lucas, então um jovem gestor com uma carreira promis sora na área da banca de investimentos a um dia decidir mudar de vida e apos tar no seu próprio futuro, investindo no futuro do país.

Nasceu desta forma a Mozambique Good Trade, há exactamente um ano, em Julho de 2017. “Na área em que trabalhava, passaram por mim alguns casos de em presas nacionais em busca de financia mento. E sempre notei que havia um elo que faltava nesta dinâmica. Senti que existia aqui, potencialmente, um nicho de mercado que não estava devidamen te preenchido, ou seja, uma empresa de dicada à distribuição, comercialização e exportação de produtos moçambicanos que já existem e têm qualidade.”

Assim, óleo e farinha de coco de Inham bane, tortilhas de milho frescas da Zam bézia, arroz integral produzido em Gaza, ou chá preto colhido no Gurué, são apre sentados enquanto produtos premium, porque ‘sofreram’ pelo caminho um tra balho de construção de marca ao nível do design, da qualidade da embalagem e da estratégia comercial de introdução no mercado. E chegam por isso, a lugares onde antes não chegavam, preenchen do-se assim o tal elo que faltava para que se tornasse real uma cadeia de va lor de que tanto se fala (e cuja falta tanto se nota em muitos produtos e serviços nacionais). E com benefícios para todos, do produtor ao consumidor final. É esse, pois, um dos fundamentos de uma empresa que procura sempre soluções. “Temos neste momento um portefólio de 13 produtos. Alguns deles, chegam -nos já acabados e prontos a serem en caminhados para o retalho. No entanto,

há outros que são trabalhados por nós. O objectivo é ter uma linha de produtos nacionais direccionados ao mercado de produtos naturais e biológicos, orien tados para um target que opta por um estilo de vida saudável, activo, social e responsável, ocupando um segmento que está a crescer exponencialmen te em todo o mundo”, explica o gestor.

E é ai que se torna real o que o nome da marca prenuncia. “Procurámos cons truir um mercado que não existia, ligan do o produtor local e o mercado nacional e internacional. O espírito, ou o core do negócio, está na criação de uma cadeia de valor em que pretendemos incutir princípios como a colocação de preços justos nos produtos, preocupações am bientais e normas de sustentabilidade das produções, passando pela formação de pessoas, porque apoiamos os nossos fornecedores e produtores desenvol vendo relações de benefício mútuo.”

No futuro, a ideia passa por também criar um mecanismo de investimento que possa reverter para que os produto res possam investir nos seus negócios. “O grande mercado para este tipo de pro dutos é o de exportação e para que isso possa ser uma realidade lucrativa, é pre ciso aumentar a produção, ter máquinas, pessoas, logística de distribuição e certi ficação de cada um dos produtos, algo que os mercados europeu, e sul-africano exigem. No entanto, o nosso objectivo é que dentro de dois anos a maior parte da nossa facturação já provenha da expor tação. Há muitos desafios, mas o potencial é tão grande como os nossos objectivos.”

BemPresa MoZaMBiQUe gooD traDe FundaÇÃo 2017 número de ParCeiros 12 Pontos de venda 25

PorteFolio 13 produtos

a Moz good trade comercializa produtos naturais moçambicanos, como chá, mel, flor de sal, compotas e achares, arroz integral e frutas desidratadas

Julho 2018 47 produtosmoçambicanosdequalidade
texto Pedro Cativelos fotografia Jay Garrido

Inserido no plano de expansão da marca de cerveja angolana CUCA, o grupo Castel assinou um me morando de entendimento com a empresa moçambicana Moz Bebi das. o objectivo “é permitir a ex pansão e internacionalização da cerveja CUCA, a mais consumida em Angola, para o mercado mo çambicano” anuncia a empresa, em comunicado.

o grupo Castel Angola, assinala ainda a entrada da CUCA no mer cado moçambicano enquanto “um momento histórico”, subscri to em Luanda, Angola, pelos di rectores-gerais das duas em presas, Philippe frederic e Seve rin Tchogna, e que prevê a impor tação de nove a dez contentores até ao final do presente ano.

nEsTlé rEEsTrUTUra nEgócios E faz dE África a prioridadE

A gigante mundial, líder no seg mento de alimentos e bebidas nu tritivas, anunciou em Junho que irá reestruturar seus negócios na Áfri ca Subsaariana.

Assim, irá fechar a sede regional no Quénia, com o objectivo de conti nuar com “o caminho de cresci mento saudável” no continente, concentrando as operações na África do Sul. o anúncio da rees truturação das operações, acon tece na sequência da apresenta ção dos resultados trimestrais do grupo, em que foi anunciado um crescimento de facturação na casa do um dígito, na região da África subsaariana.

Vodacom E mozdEVz aliam-sE

pEla massificação das Tic

Empresa de comunicações móveis tem apostado cada vez mais nas novas tecnologias

‘BiscaTE’ da UX, prEmiado por Uso dE TEcnologia inclUsiVa

A distinção, atribuída pelo finan cial Times, destacou o serviço de procura de trabalho informal ‘Bis cate’. Desenvolvido pela startup moçambicana Ux Information Te chnologies, esta angariou assim mais uma condecoração justifi cada pelo “destaque na utilização de tecnologias inclusivas que per mitem unificar trabalhadores do sector informal e os seus clien tes.” Durante o evento da fT/IfC Transformational Business Awar ds, que aconteceu em Londres, a plataforma Biscate sagrou-se assim, vencedora na categoria “realização em Desenvolvimento Sustentável”, num universo de 189 inscrições, provenientes de 278 organizações de mais de 126 paí ses de todo o mundo.

criar uma plataforma tecnológica que permita o de senvolvimento de conectividade entre estudantes e profis sionais das áreas das Tecnologias de Informação e Comuni cação (TIC) direccionada ao sector corporativo, é o objectivo do acordo assinado pela Vodacom e a Associação Moçam bicana de Desenvolvedores de Softwares e Aplicações (Mo zDevz).

Assim, o acordo irá permitir a criação de condições de fun cionamento da nova plataforma, bem como a abertura de um espaço para que os colaboradores da Vodacom passem a ser ‘mentores’ dos membros da MozDevz. Por outro lado, a iniciativa vai, igualmente, permitir a realização de “mara tonas de programação, onde passarão a ser premiados os melhores hackthons”, assinala a telefónica em comunicado. Para os mentores, o memorando insere-se ainda na promo ção da utilização das TIC’s como uma “ferramenta de inte gração, para o desenvolvimento do país, através do espírito de trabalho e partilha de conhecimento, tornando Moçam bique numa referência regional de produção de soluções tecnológicas.”

moza Banco ElEiTo “mElhor Banco inoVador do país”

A distinção ao banco liderado por João figueiredo desde 2016, foi anunciada na International Banker, publicação especializada no sector financeiro, em resultado “do posi cionamento no mercado financeiro e da forte capacidade de inovação em que a instituição bancária tem vindo a apostar.”

A MozDevz é uma organização vocacionada para a ampliação e maximização das TIC’s no país. Já a Vodacom é a uma operadora de telefonia móvel existente no país há cerca de 15 anos, sendo líder de segmento, com pouco mais de seis milhões de utilizadores, especialmente nos grandes centros urbanos.

esta é a segunda vez que o Mo za surge premiado, tendo a pri meira acontecido há três meses quando foi eleito pelo Banker Afri ca na categoria de “Most Impro ved Bank”. A International Banker é uma publicação internacional di rigida aos profissionais da área financeira.

megafone Julho 2018 48
TexTo HErmEnEgildo langa foTogrAfIA Jay garrido cErVEja cUca assina acordo dE EXpansão para moçamBiqUE

mês

a educação é a base, for M ar é funda M ental

murade murargy será, por ventura, o diplomata com mais tempo de carreira na história de Moçambique. Mas, apesar de ter andado pelo mundo ao longo das últimas quatro décadas, foi sempre al guém atento às grandes ques tões nacionais e ao desenvolvi mento económico do país.

À E&M, ele fala do que viu an tes de partir e do que antevê, agora mais de perto, para o futuro do país nas vuas diver sas dimensões, da sociedade à economia.

Como olha para a sua extensa carreira diplomática?

Comecei em 1976, como asses sor jurídico do Presidente Chis sano, então ministro dos Negó cios Estrangeiros. Passados dez anos fui colocado em França co mo embaixador, onde estive 11 anos. Desenvolvi com os fran ceses uma intensa cooperação económica, e nessa altura mui tas empresas francesas vie ram para Moçambique. Elegi sempre na minha carreira di plomática a área da diploma cia económica, por considerar que estava aí, grande parte do futuro.

Que marca gostaria de ter deixado na CPLP?

Quando o Presidente Guebu za me chamou para a CPLP, primeiro em 2012 e depois em

2014, apanhei um susto pela dimensão do desafio. Mas per cebi que havia ali um grande potencial e que não podíamos perder a oportunidade que se nos abria. Tentei sempre inci tar os estados membros a en cetarem um novo caminho. Na cimeira de Timor foi decidido que deveríamos recriar a CPLP para os próximos 20 anos. Ter minei o meu mandato em 2016 com a aprovação de uma nova estratégica que aponta para os caminhos essenciais dessa transformação na saúde, edu cação, agricultura e coopera ção económica e empresarial.

Como vê agora o país? Moçambique tem um gran de potencial. Numa visão ma cro, vemos que há muito que já está a acontecer. Não nos po demos esquecer que o mundo mudou e as grandes transfor mações também afectaram a nossa sociedade. Somos um país em desenvolvimento com carência de recursos, não ape nas humanos mas, também fi nanceiros e tecnológicos.

O que é que para si funda mental implementar desde já? O desenvolvimento de um país depende de todos, porque os desafios que se colocam a cada um de nós são enormes. Se con tinuarmos a não apostar nas pessoas como motor de desen

cvcurriculim vitae

Nasceu em gaza, em Maio de 1946. Licenciado em Direito pela faculdade de Direito de Lisboa e com especialização em relações internacionais. tem uma carreira de 40 anos de percurso diplomático que atingiram o seu topo, quando foi nomeado secretário-executivo da CPLP, em 2012.

cplp

volvimento, naquelas que são capazes de transformar a na tureza e os recursos que têm, em beneficio do país, ficare mos eternamente na depen dência. A educação é a base e formar é fundamental. Temos de identificar os melhores qua dros e enviá-los para as gran des universidades e depois sa ber integrá-los no nosso tecido socio-económico.

Quais são o sectores mais im portantes para esse tal de

senvolvimento que vem pre conizando nas suas várias intervenções?

O principal é a agricultura. É fundamental mesmo. O turis mo também. Antigamente di zíamos que o turismo é o nosso petróleo. Hoje, acrescentaria a logística, porque somos o país do qual todos os países do hin terland dependem mas, para isso é preciso que estes servi ços sejam eficientes, porque se não forem, procuram-se alter nativas. Estamos numa econo mia de competição, se oferece mos qualidade e celeridade, todos vêm para cá.

Como idealiza o Moçambi que das próximas décadas?

Para termos melhores condi ções para todos, é preciso dar passos de gigante. Primeiro, te mos que pensar na necessida de de nos entendermos, e ter a noção de que todos os moçam bicanos têm de pensar primei ro no país. Temos de travar a saída das populações para as cidades, mas para que per maneçam nos campos é preci so dar-lhes condições. Para que tenham escola, saúde e tam bém saneamento básico, isto porque o desenvolvimento es tá no campo e não na cidade.

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figura do

MoçaMbicano pelo Mundo

Quase dois anos depois de ter deixado a liderança da CPLP, Murade Murargy, o mais antigo diplomata moçambicano, perfilha de uma visão global do país. Para o presente e para o futuro

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ViVer, morrer e sobreViVer na terra das coisas mortas

Seis meses depois da tragédia em que morreram 17 pessoas, soterradas numa montanha de lixo, a E&M regressou ao Hulene para ver o que mudou. E lançar um olhar sobre o lixo, questionando o que fazer com ele. Da reciclagem ainda residual, aos novos aterros sanitários projectados para a capital do país

o desperdício de muitos garante a so brevivência de alguns. Na lixeira de Hu lene, que acolhe as sobras geradas pelos bairros da Cidade de Maputo, mais de mil pessoas dedicam-se, todos os dias, a recolher o que houver de aproveitável –papel, plástico e metal – para reciclar. O lixo garante-lhes renda. Embora dema siado escassa, talvez, para os riscos que correm. E escassa é também a parte do lixo que resgatam. Mais escasso ainda é o lixo que Moçambique consegue reciclar. Apesar do potencial do negócio, falta-lhe uma indústria capaz de o fazer Maputo é uma cidade suja, maculada pela incúria dos que ali habitam e trabalham, deixando nas ruas o lixo da sua passagem. No Verão, com os canais de escoamento entulhados pelo cúmulo dos dias, a Bai xa, por exemplo, fica inundada pelas águas impedidas de correr para o mar. E já foi muito pior. No início deste milénio, por exemplo, havia pirâmides de lixo, com altura apreciável e cheiro propor cional, instaladas nos separadores cen trais de algumas das avenidas da cidade.

Hoje, já não. O Município implantou, en tretanto, um sistema de recolha que ar ticula duas soluções, cada qual adaptada à natureza da vizinhança a que respeita. “A Cidade de Maputo tem um sistema de gestão de resíduos que consiste na di visão em duas grandes áreas – a área urbana (Maputo Cimento) e a suburbana (Maputo Caniço)”, diz João Mucavele.

O Director Municipal de Gestão de Resí duos Sólidos Urbanos e Salubridade ex plica como é que se procurou resolver o problema: “Tal como em qualquer cidade da Europa, a recolha do lixo na área de Maputo Cimento foi adjudicada a uma empresa de capitais moçambicanos e portugueses, a Ecolife”, cuja logística e processo envolve “700 contentores de 1100 litros espalhados pela cidade, com a recolha a fazer-se até duas vezes por dia, embora a principal seja feita no ho rário nocturno”.

Mas este sistema não tem condições para se desenvolver em outras áreas, muito mais vastas e densas do que a cimentada, de Maputo. Condicionantes

estruturais que obrigaram a encontrar soluções mais criativas. E inclusivas. “Na zona suburbana (Caniço) há, muitas ve zes, o problema do acesso de camiões”, reconhece Mucavele. Por isso, “a estra tégia é diferente: sendo composta por 44 bairros, cada um tem uma micro-em presa que faz a recolha do lixo”.

Tais micro-empresas, contratadas pelo Conselho Municipal após concurso pú blico e pagas pela taxa inclusa na factu ra do consumo de energia emitida pela Electricidade de Moçambique (EDM), “são formadas por elementos do próprio bairro”, diz Mucavele. Trata-se de um expediente que, para lá de resolver o problema do acesso, também “é uma maneira de o Conselho Municipal estar mais perto dos munícipes, da população.”

Gente activa que, na impossibilidade do recurso a veículos motorizados no rendi lhado anárquico das ruas estreitas, “usa os txovas – carros de mão –, que vão de casa em casa tirar o lixo para depositá-lo num dos 180 contentores, de 12 metros cú bicos, espalhados pela zona suburbana”.

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Depois, os camiões de uma outra empre sa, a Enviro Service, levam-nos para o Hulene, a lixeira a céu aberto nas pro ximidades do Aeroporto Internacio nal de Maputo, que acolhe desde 1972 todos os desperdícios produzidos pela capital do país e pelos seus pouco mais de 1,1 milhões de habitantes. Gente que, segundo a contabilidade da Direcção Municipal de Gestão de Resíduos Sóli dos Urbanos e Salubridade de Maputo, produz diariamente entre 1200 a 1400 toneladas de carga fétida que, depois de descarregada na lixeira, acrescen tará altura à montanha de desperdí cios. Preciosos, no entanto, para milha res de pessoas que deles dependem.

Fazer vida das coisas mortas Bairro do Hulene. Por entre o fedor aze do da mixórdia em fermentação, esca lando a montanha de lixo que recobre uma área de 20 hectares, uma pequena multidão coberta de andrajos e fuligem, tão incrustada que é já segunda pele, evolui entre máquinas pesadas e os fu mos permanentes da combustão. Gente que garimpa o sustento no que os outros rejeitaram. Vistos à distância, os recolec tores de Hulene, que o Conselho Munici pal de Maputo estima em cerca de um

“Moçambique não tem fábricas de vidro, papel ou metal para reciclar em quantidade, pelo que sai mais barato comprar as embalagens fora do país e trazê-las para cá”

ProDução DE lixo não Pára DE Subir

400 300 200 100 2009 2013 2017

1 200 toneladas por dia

É a quantidade de lixo que diariamente aterra na lixeira do Hulene

Aumento da população e do consumo alimentam o crescimento da produção de resíduos em milhares de toneladas fonte Município de Maputo

milhar, evocam um exército de espec tros garantindo a vida difícil num campo cheio de coisas mortas. E, por vezes, tam bém mortais. “Tem ferro com ferrugem, tem garrafa partida, tem ratazana, tem mosquito, tem fumo, tem doença...”, enu mera Luís Adriano. São os perigos que espreitam o quotidiano de todos os reco lectores de Hulene. Não obstante, como ele, regressam todos e todos os dias, por que “não tem como ficar em casa. Há fi lhos para criar – três, mais a mulher – e não posso dar-lhes fome”, refere o prag mático Adriano, catador de 32 anos, na tural e residente ali mesmo, no sopé do monte repelente. Como ele, são pelo me nos 550 famílias em convivência estreita com a precaridade do lixo empilhado, cuja armadilha se revelou fatal para 17 pessoas quando as chuvadas de Feverei ro provocaram uma derrocada sobre as casas rudimentares. Adriano voltou. Os vizinhos também. Porque “não há como”. Foi, precisamente, a falta de alternativa que levou Ernesto Carlos Nbila a Hulene,

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o fim... do fim da linha: dentro de meses, esta será apenas uma (má) imagem do passado, quando abrir o novo aterro da cidade de Maputo

onde cata o lixo há meia década, depois de um emprego fugaz. “A vida trouxe -me aqui. E a fome”, confessa o homem, tão seco de carnes que o colete reflector lhe resvala pelo corpo. “Faço dois turnos, dia e noite. Por isso, uso o colete”, justifica, referindo o período nocturno em que é aconselhável assinalar a presença aos maquinistas de camiões e retroescava doras em manobras.

Aos 29 anos, Ernesto, provindo da Manhi ça, não vislumbra outra ocupação: “De pendendo da sorte, posso ganhar até 500 meticais num dia”, assegura, orgulhoso do seu esforço. O apuro laboral vê-se ali, nos ajuntamentos de mulheres que têm o lixo à sua guarda, acondicionado em grandes sacos e dividido por categorias: latas, papelão, plástico e o que houver que seja transaccionável. Quando cheios, são elas que os transportam à cabeça até à empresa de reciclagem que fica ao lado, a Recicla, e que lhes compra os ma teriais. Para triturar, fundir e dar nova vida aos dejectos.

Perto dali, Milagrosa de baptismo, mu lher de Hulene e mãe precoce de sete crianças cujo marido se limitou a engen drar, após refoçilar nos despojos alheios que uma retroescavadora trouxe à su perfície, descansa as costas antes de par tir com a carga imensa. A safra do dia não deu sustento: “Tenho muitas garra fas de plástico, mas só pagam 5 meticais por quilo”, diz algo desalentada, sacudin

do uma barata da perna fina. “O plástico dá pouco: se for de embalagem (película transparente, de boa espessura e densi dade), pagam 7 meticais por quilo; se for de bacia, já pagam 10”. No saco transbor dante, Milagrosa não tem de um nem de outro. Há-de dar para o pão, todavia. Para algo mais, chegará a carga deixa da por Raimundo aos cuidados da irmã. A primeira saca do dia, que mais have rá até que a noite sobrevenha porque Ricardo, vestindo uma camisola encar dida do Barcelona, com 13 anos é já o campeão dos recolectores de Hulene. Em treino quotidiano desde os 10. “De manhã, vou à Escola do Povo”, garante –embora ninguém acredite, dado o tempo que por ali passa a remexer na porcaria –, explicando como a matemática o tor nou selectivo: “Só apanho latas, que são mais pesadas e dão mais por quilo: 40 meticais se vender aqui mas, se for lá (à Recicla) pagam 50”.

reciclagem de vidas Para a Recicla, converge a maio ria dos resgates da lixeira; mas, não raro, vêm compradores que fazem as transacções ali mesmo, no recinto. “Alguns são artistas, que vêm comprar ferro para fazer máscaras, mas a maio ria são chineses. Esses, compram tudo, mas pagam pouco”, queixa-se Maria, mãe solteira de olhos irrequietos, varrendo o chão em busca de algo que lhe aumente

o pecúlio. Onde nada vê, descobre Adria no uma mina: computadores. Exultante, retira-lhes a placa verde de circuitos in tegrados, incrédulo ainda por terem es capado à cobiça da concorrência. Não só a local, mas outra pior, desleal: “Os próprios condutores dos camiões já põem para o lado o que tem valor”, alega Adriano. Não obstante os ganhos potenciais – não só ambientais, mas também financeiros –, a reciclagem é ainda insignificante em Moçambique, como admite João Mu cavele. “Temos 20 ecopontos e estimamos em 50 toneladas por dia o material que vai para reciclagem”, afirma. “Está mui to longe do desejável, mas Moçambique não tem fábricas de vidro, papel ou me tal para reciclar em quantidade, pelo que sai mais barato comprar as emba lagens fora do país e trazê-las para cá”, lamenta o Director Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos. No entanto, há alguns mecanismos para inverter a situação. Começou com o Decreto n.º 16/2015, no qual o saco de plástico dei xou de ser gratuito para o consumidor, levando à sua diminuição nas ruas da cidade; e, mais recente, a publicação do Decreto nº 79/2017, que aprova o Re gulamento sobre a Responsabilidade Alargada do Produtor e Importador de Embalagens (RAP). “Com a introdu ção do RAP, que diz que quem produz e compra embalagens é responsável pelo seu tratamento, a pessoa já pon dera nas consequências”, diz Mucavele. E há outras medidas já em curso. E que implicam o encerramento da lixeira de Hulene. “Está em construção um aterro intermunicipal de Mathlemele, no mu nicípio da Matola”, indica Mucavele, ex plicando que terá cerca de 100 hectares para acolher os resíduos da grande Ma puto, “prevendo-se que possa reciclar, por dia, cerca de 200 toneladas de resíduos”. O projecto está orçado em mais de 60 mi lhões de dólares, e, segundo Mucavele, fica concluído em 2019. Nessa altura, as lixeiras de Hulene e de Malhampsene, ambas em estado de saturação, fecham portas. Deixando os catadores que por ali andam aos milhares, sem meio de sustento. Mas eles são gente pragmática. “Se o lixo sair daqui, vamos atrás”, ga rante Adriano. “Não sabemos fazer mais nada e ninguém nos quer em lado ne nhum. Mas temos de comer”. Nem que seja lixo. Reciclado.

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texto Elmano madaíl fotogrAfiA RicaRdo FRanco Sombras pesadas: são pouco mais de mil as pessoas que se alimentam do campo de coisas mortas. E, até mortais

Transformação digital como uma realidade incontornável na banca

vivemos hoje num mundo com forte pendor digital e as novas tecnologias de informação e comunicação ganharam espaço, mudando a nossa visão do mundo, os mercados e a forma como vivemos e trabalhamos.

A nova era é marcada por uma revolução onde internet, smartphones, redes sociais, internet das coisas, blockchain, inteligência artificial, entre outras, assumem um papel primordial na vida das pessoas, no funcionamento das insti tuições e no desenvolvimento económico e social das Nações. Nessa esteira, a banca não é nem pode ser uma excepção, pelo contrário, ela lidera uma transformação digital sem preceden tes, dominada por uma geração de clientes que exigem novas experiências na sua relação com os produtos e serviços ofere cidos pelos bancos.

Esta nova e inovadora onda trouxe à banca uma realidade pe culiar que veio para ficar e os bancos – no seu formato tradi cional – não têm como não operar mudanças profundas para sobreviver, competir com vantagem e assegurar a sua plena integração no mundo digital.

Entende-se por banca digital o fornecimento, distribuição e venda de serviços financeiros através de canais digitais, ex plorando tecnologias para conhecer melhor os clientes e an tecipar as suas necessidades de forma rápida e adequada, através de multicanais e com automação de serviços e tem as seguintes características principais: (i) processo não pre sencial de acesso aos serviços (ii) acesso a canais electrónicos para contratações de produtos, e; (iii) resolução de problemas por múltiplos canais online. No relacionamento entre os ban cos e os seus clientes, os canais de acesso aos serviços bancá rios representam um grande diferencial e com a transfor mação digital os clientes que agora são activos consumidores digitais, mudaram os seus hábitos e referências. De acordo com uma Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (2018), no Brasil o volume médio de transacções por conta caiu 53,7% no Internet Banking, enquanto no Mobile Banking cresceu 436%. No caso de Moçambique, observa-se um comportamento seme lhante nas preferências dos consumidores pelo canal Mobile

Banking e esta evidência é registada nas estatísticas do Ban co de Moçambique (2017) para a banca electrónica, que regista uma quantidade de subscritores no Mobile cinco vezes supe rior à do Internet Banking. Por outro lado, o surgimento de novas tendências não deve ser negligenciado, e as FinTech são um exemplo disso. A mais recente pesquisa sobre a banca, Global Banking Outlook (2018), conduzida pela EY, refere que a adopção de provedores FinTe ch para transferência de dinheiro e serviços de pagamento au mentou de 18% em 2015 para 50% em 2017. Este crescimento re vela que as FinTech são actores estratégicos no sector bancário e estão a provocar mudanças profundas no sistema financeiro. O The Economist (2018) destaca que na China o sistema de pagamento Alipay, baseado em smartphone, espalhou -se rapidamente para o exterior e, no Quénia, o M-PESA, com cerca de 30 milhões de contas móveis e mais de 148 mil agentes, tornou-se o sistema de transferência mais popular. Esse cenário já é uma realidade em Moçambique, onde o M-Pesa, M-Kesh e o E-Mola já se afirmaram no contexto das fi nanças digitais no País.

A questão da banca digital não é um assunto isolado e muito menos um fenómeno passageiro. Para assegurar o sucesso des te processo é necessário definir um conjunto de acções e opções, com destaque para o desenho de estratégias integradas de transformação digital, adequação dos cursos secundários e uni versitários à nova realidade digital, promoção de programas de educação financeira, introdução de reformas legais para acomodar as mudanças nos mercados e canalização de maior investimento para o desenvolvimento do capital humano. Garantir maior abrangência, impacto e sustentabilidade do sistema financeiro moçambicano vai exigir transformações profundas na forma de conceber a nova banca e transformá-la para responder às novas exigências do mercado.

A bancarização da economia e a extensão dos serviços finan ceiros para as áreas rurais e para os clientes de baixa e média renda, vai exigir uma banca inclusiva e de proximidade, e isso só pode ser sinónimo de banca digital em Moçambique.

A questão da banca digital não é um assunto isolado e muito menos um fenómeno passageiro. E para assegurar o sucesso deste processo é necessário definir um conjunto de acções

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Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

fora

Quarta rEVOLuÇÃO INDuStrIaL,

Ou QuaNDO OS rOBÔS CHEGaM a ÁFrICa

O que se espera da evolução a que se assiste por todo o mundo, num continente com desafios muito próprios, da forma como eles vão ser superados, ao salto evolucional que se antevê nas sociedades e economias africanas

em novembro do ano passado, a em presa canadiana Lucara Diamond Cor poration viu a cotação das suas acções em Bolsa subirem quase 70% depois de ter anunciado a descoberta de três diamantes de tamanho e qualidade ex cepcional numa das suas minas no Bo twsana. O dado mais interessante, no entanto, é que estes diamantes, do ta manho de uma bola de ténis, foram ex traídos por robôs capazes de operar a uma profundidade que os humanos não conseguem de forma alguma alcançar.

O que importa sublinhar é que este não é um caso isolado no que toca ao sector da mineração no Botswana.

Os robôs estão progressivamente a ocu par o lugar dos humanos e a colocar as organizações representativas dos traba lhadores sem saber como lidar com este tipo de situação. Dimpho Nyambe, líder sindical no Botswana, reconhecia, recen temente, que “os sindicatos adquiriram, ao longo dos anos, uma capacidade ne gocial que sempre esteve ligada a ques tões como salários, horários de trabalho”.

Porém, acrescenta, “estão totalmente impreparados para saber como agir face a este novo contexto de robotização industrial”.

Num país em que, segundo algumas es timativas, o nível de desemprego entre a população jovem já atinge os 18,4%, o impacto social pode vir a ser devasta dor. Mesmo na África do Sul, uma na ção que, ao contrário do Botswana e de outros países africanos, tem sabido di versificar a sua economia, começam a surgir indicadores que apontam para a

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emergência de situações semelhantes. Num artigo escrito por Ross Harvey, do South African Institute of International Affairs, o investigador refere que a ro botização “pode vir a ameaçar quase meio milhão de postos de trabalho” no sector da mineração naquele país nos próximos anos, sendo que esse é um dos sectores em que assenta grande parte da economia sul-africana.

E este número poderá ainda aumentar exponencialmente caso se verifique, como muitos estudos antecipam, uma progressiva utilização de “veículos autó nomos” no sector dos transportes.

Estes veículos, que utilizam as mais avançadas tecnologias no domínio da In teligência Artificial, dispensam conduto res humanos e parecem antecipar uma subida das taxas de desemprego para muitos milhares de sul-africanos.

Custos e benefícios

À medida que os custos envolvidos nos processos de automação se vão tornan do mais atractivos, a substituição da mão-de-obra humana por robôs será inevitável.

No estudo “Digitalisation and the Future of Manufacturing in Africa”, realizado pelo Overseas Development Institute (Reino Unido), estima-se, por exemplo, que no final da década de 2030, num país como a Etiópia, os custos da automação em diversos sectores industriais será mais barato do que o emprego de mão -de-obra humana.

Ainda segundo Harvey, um outro sector industrial que na África do Sul poderá também em breve vir a confrontar-se com a questão da automação é o sector têxtil. Ao longo dos últimos anos, muitas empresas sul-africanas optaram por deslocalizar a sua produção para vários países asiáticos onde a mão-de-obra é mais barata.

E um eventual “regresso” destes empre gos parece agora, no entanto, uma possi bilidade cada vez mais remota, pois o ad vento de sistemas robotizados capazes de substituir toda a mão-de-obra huma na é algo que já não pertence ao domínio da ficção.

Uma empresa norte-americana, a Sof tWear Automation, especializada na área da Inteligência Artificial e da Robótica, tem vindo a desenvolver um processo, designado “Sewbot”, que tem como objec tivo automatizar toda a produção têxtil. Em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh esta tecnologia já começou a ser implementada e, embora o seu cus

to ainda seja elevado, a previsão é que dentro de poucos anos venha a ser uma opção atractiva.

Rajiv Kumar, economista e fundador da Pahle India Foundation, não tem dúvi das de que a Robótica e a Inteligência Artificial “vão constituir uma revolução industrial muito mais disruptiva do que qualquer outra anterior – a da máquina a vapor, da electricidade ou mesmo a dos computadores – porque já não se trata apenas de substituír rotinas mas fun ções mentais e intelectuais complexas”.

Na sua perspectiva, esta “mudança de paradigma irá ter um impacto brutal” não só nos países do Sudoeste Asiático como na África subsaariana.

Num estudo feito pelo McKinsey Global Institute – “A Future That Works: Auto mation, Employment, and Productivity” – os autores analisaram detalhadamen te a estrutura produtiva de 46 países que representam 80% da mão-de-obra global no sector industrial, tendo obser vado que quase 50% das actividades le vadas a cabo na economia global serão potencialmente objecto de automação num futuro próximo. No que toca ao con tinente africano, os autores consideram que os países em que este potencial de automação é maior são: Quénia (51,9%), Marrocos (50,5%), Egipto (48,7%), Nigéria (45,7%) e África do Sul (41%).

11milhões de empregos

É o número de postos de trabalho formais que terão de ser criados em África. no entanto, parte significativa do mercado de trabalho estarÁ nas “mãos” de robôs e “sistemas inteligentes”, o que apresenta desafios complexos

Efeitos locais de uma tendência global Mas vários outros relatórios recentes reforçam esta perspectiva, tornando claro, se dúvidas houvesse, que a chamada “4ª Revolução Industrial” –alimentada por tecnologias como a Inteligência Artificial e a Robótica, e pelo desenvolvimento da “Internet das coisas” (“Internet of Things”) que permitirá interligar, de forma “inteligente”, todo o tipo de produtos e objectos – é um processo em pleno desenvolvimento, cujo impacto é não só já hoje significativo

Fábrica textil da SoftWear: depois de deslocalizar para a China, as fábricas regressaram, mas com robôs

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mas tenderá, ao longo das próximas duas décadas, a ter efeitos sistémicos a nível gobal.

Um estudo da Price Waterhouse Coopers (PWC) indicava que, por exemplo, nos Es tados Unidos, 38% dos empregos actual mente existentes serão substituídos por máquinas em 2030.

Num outro estudo, da Universidade de Oxford, também relativo ao impacto da 4ª Revolução Industrial nos Estados Uni dos, e no qual é feita uma análise a mais de 700 tipos de profissões actualmente existentes (tanto no sector industrial como no dos serviços), a conclusão é que, ao longo das próximas duas décadas, a taxa de automação poderá chegar aos 47%.

Ainda mais recentemente, num estudo da OCDE envolvendo uma análise a 32 países desenvolvidos, esta organização internacional constata que 14% dos em pregos nestes 32 países são altamen te vulneráveis, tendo pelo menos 70% grandes hipóteses de automação. Outros 32% também correm risco, com uma probabilidade entre 50% a 70%. Com as actuais taxas de emprego, isso irá colocar 210 milhões de empregos

EmpREgO 66%

O BanCO mUndial pREvê qUE dOiS tERçOS dOS EmpREgOS aCtUalmEntE ExiStEntES nOS paíSES Em dESEnvOlvimEntO SEjam, na pRóxima déCada, ‘OCUpadOS’ pOR ROBôS

em risco nos países estudados, o que se constituirá, porventura, como a maior mudança social (em apenas uma década) de que há memória na história das socie dades modernas.

O impacto onde ele é preciso. Será? No entanto, como já foi referido, o impac to da 4ª Revolução Industrial poderá ser ainda mais significativo nos chamados países em desenvolvimento.

De acordo com as estimativas do estudo “Digital Dividends”, realizado pelo Banco

Mundial, dois terços dos empregos ac tualmente existentes nestes países estão em risco de ser automatizados. Em economias como a chinesa, este pro cesso já está em marcha e faz-se notar por toda a parte.

Notícias recentes davam conta, por exemplo, que uma fábrica em Xangai, produtora de componentes electróni cas, já substituíu dois terços da sua mão -de-obra por ‘funcionários robotizados’ e prevê que o processo de automação atinja os 90% das operações dentro em breve.

Uma outra unidade fabril, que produz componentes electrónicas para a Apple, despediu recentemente 60 mil trabalha dores de uma das suas plantas no âmbito de um processo de robotozição integral da produção.

Importa sublinhar que estes não se tra tam de casos isolados. Pelo contrário, inserem-se num plano estratégico que tem como objectivo tornar a China líder mundial no sector da Inteligência Artifi cial e das tecnologias que serão o motor do novo paradigma industrial. Refira-se a este propósito que, de acordo com algumas estimativas, a China deve

Julho 2018 60 Lá
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Robôs agrícolas: utilização de ‘ajuda’ robotizada em estufas dos Estados Unidos já é uma realidade para muitos produtores

rá ultrapssar, em 2018, os Estados Unidos e a Alemanha, no que toca ao número de robôs industriais em funcionamento. Tendo em atenção que a China emprega cerca de 100 milhões de pessoas no sec tor industrial, existem legítimos receios de que este “salto tecnológico” possa vir a ter consequências sociais dramáticas (e imprevisíveis).

Desindustrialização prematura Para Dani Rodrik, da Universidade de Harvard (EUA) e autor de um estudo de referência intitulado “Premature Dein dustrialization” (2015), o continente afri cano perdeu a oportunidade histórica para, tal como a China fez no final do sé culo passado, aproveitar os avanços tec nológicos no sentido de se industrializar, “saltando” as etapas que marcaram a evolução das sociedades desenvolvidas. Não tendo aproveitado o facto de ter uma mão-de-obra barata e uma população jo vem semi-qualificada para diversificar as suas economias, fazendo da indústria e dos serviços um “motor” do crescimen to, o continente vê-se agora confrontado, por via dos avanços tecnológicos que marcam a 4ª Revolução Industrial, com uma “desindustrialização prematura”.

Tendo em atenção as expectativas em termos de crescimento populacional em África – um relatório recente das Nações Unidas indica que o maior cres cimento populacional até 2050 se irá verificar precisamente no continente –e o acelerado processo de urbanização em curso, todos os indicadores apontam para a emergência de uma situação so cial potencialmente explosiva, fruto de uma equação binária, bastante simples: muito mais gente para muito menos postos de trabalho, algo que só pode ge rar um resultado que não pode, à dis tância de poucos anos, ser tomado como imprevisível ou inesperado, de todo. Até porque os avisos estão todos aí. Devido à sua mão-de-obra jovem e em rápido crescimento as 54 nações africa nas precisariam de criar as condições para o surgimento de mais de 11 milhões de empregos na economia formal. No entanto, a demora que a criação des sas condições implica é confrontada com o espaço crescente que a robotização está a ganhar no mundo industrial, fruto da rápida e imparável evolução tecnológica. E começa a tornar-se inevitável pensar que ganhará mesmo a corrida, chegan do (e ficando) para ocupar o seu lugar

África tem condições para desenvolver um sector industrial relevante mas este terá de ter uma configuração totalmente distinta do modelo anterior pois terá de ser capaz, entre outros aspectos, de saber desenvolver produtos ‘complexos’

num mercado de trabalho que se prevê que possa cair nas “mãos” de robôs e “sis temas inteligentes”.

E há inúmeros estudos que falam sobre esse admirável, ou nem tanto assim, mundo novo. Como “Industries Without Smokestacks: Industrialization in Afri ca Reconsidered” (“Indústrias sem Cha minés: Repensar a Industrialização de África”), da Brookings Institution e do Instituto de Investigação Internacional para o Desenvolvimento Económico, da Universidade das Nações Unidas (UNU -WIDER), ou as reflexões World Economic Forum, de Davos, e do Prémio Nobel Jo seph E. Stiglitz, unânimes em considerar que a resposta à “desindustrialização prematura” não pode passar pela “recu peração” dos modelos que marcaram o período pós-independências.

A 4ª Revolução Industrial é estrutural mente diferente das suas antecesso ras. Assenta numa interligação entre o mundo físico, digital e biológico. Não se limita apenas à Inteligência Artificial e à Robótica mas envolve muitas áreas científicas e tecnológicas em pleno de senvolvimento – como a nanotecnologia, a biotecnologia, a computação quântica, as energias alternativas ou os novos ma teriais – que vão configurar um tipo de sociedade em que as fronteiras entre o mundo natural e o artificial serão cada vez mais ténues e inter-permutáveis e em que a definição do “humano” e o conceito tradicional de “trabalho” será reequacionado.

Mas, acima de tudo, a 4ª Revolução In dustrial implicará, um “pensamento sis témico”, capaz de responder à complexi dade e interconectividade permanente de todos os sistemas.

Como refere o estudo da PWC – “The In dustrial Internet of Things” –, África tem condições para desenvolver um sector industrial relevante mas este terá de ter uma configuração totalmente distin ta do modelo anterior pois terá de ser capaz, entre outros aspectos, de saber desenvolver produtos “complexos”, com alto valor acrescentado em termos de incorporação de “conhecimento”. Isto implicará, porém, como nota Klaus S Schwab, do World Economic Forum, que os governos do continente tenham a per cepção que esta poderá ser a derradei ra oportunidade para uma efectiva “mu dança de paradigma” em África.

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texto Rui TRindade fotografia isTock O que nos espera? parece ser esta a questão, embora as respostas estejam já aí. Os robôs estão a chegar

Pequenas realizações que podem levar a grandes transformações

a 5 de março deste ano, entraram em vigor as novas tarifas de transporte público de passageiros nas cidades de Maputo e Matola. Para distâncias inferiores ou iguais a 10 quilómetros, a tarifa de transporte passou de 7 meticais para 10 meticais. Para distâncias superiores, mas inferiores a 20 quilómetros, a tarifa de transporte aumentou de 9 para 12 meticais. A revisão reanimou os transportadores, que durante dez anos viram os custos operacionais aumentarem significativamente, sobretu do nos últimos dois anos, induzidos pela depreciação do metical em relação ao dólar e consequente subida dos custos de im portação de acessórios dos veículos e sua manutenção; subida acentuada do nível geral das tarifas; e aumento do preço de combustíveis ocasionado pela suspensão do subsídio. É perceptível que a medida não seja considerada de todo sa tisfatória para os transportadores, que continuam a enfrentar custos elevados (chegaram a apontar como ideal o aumento mí nimo de 30 meticais por viagem), mas era de se esperar que o alívio às suas contas pudesse ter algum impacto na redução da dificuldade de acesso aos transportes. Mas nada mudou. Não falo de soluções estruturais, que normalmente levam tem po e demandam avultados recursos para serem realizadas, mas de mentalidade e sentido de oportunismo dos transporta dores. Hoje, três meses depois da revisão, os transportadores continuam a encurtar as suas rotas. Nos terminais, os utentes dos serviços não têm escolha. Ou atravessam para a outra margem da mesma via e pagam o preço de uma viagem intei ra só para dar a volta com o carro ou sujeitam-se à incerteza de chegar a tempo ao destino (local de trabalho, escola, hospital, etc., pelas manhãs, e no regresso à casa, à noite). Na realidade, as pessoas pagam o dobro do preço por uma viagem. A este adiciona-se um custo difícil de quantificar em termos monetários: utentes do transporte público permanecem horas a fio nas paragens até conseguirem uma vaga em carros so brelotados e seguem viagem em condições desumanas, sem fa

lar na vergonha conhecida por “My love” – camioneta de caixa aberta que se oficializou como alternativa ao défice de trans porte em Moçambique –, vergonha essa que hoje ninguém vo taria pela sua interdição, dada a importância que assume com o crescente défice, já que o número de residentes da área me tropolitana, que compreende as cidades de Maputo e Matola, distritos de Boane e Marracuene, duplicou, passando de pouco mais de 2 milhões em 2007 para cerca de 4 milhões em 2017, de acordo com o Censo Geral da População. Mas os investimentos na área dos transportes estiveram aquém desta subida. A meu ver, e sem entrar em questões estruturais do problema dos transportes urbanos (investimentos em sistemas intermo dais, ampliação ou não da frota de transportes, construção e/ou descongestionamento de estradas, etc.), o primeiro passo está ao alcance das autoridades municipais (a quem compete a gestão dos transportes urbanos): uma fiscalização rigorosa e perma nente do comportamento dos transportadores face ao encur tamento de rotas. Não se trata de uma experiência nova. Fun cionou em 2008 aquando do penúltimo ajuste da tarifa, e vem mostrando eficiência sempre que as autoridades são chamadas a pôr ordem nos terminais, e funcionou em Março, quando o preço do “chapa” (como é popularmente designado o transporte privado de passageiros) aumentou pela última vez. Até porque há uma prática que poderia ajudar: os utentes organizam-se em filas nos terminais, de tal maneira que, sem o oportunismo, os ‘chapeiros’ teriam a possibilidade de transportar gente de forma mais fácil e rápida, com benefícios para todos. Infelizmente, na prática não é assim. E enquanto for possível ganhar o dobro de forma injusta, o transportador não hesitará em ser manhoso. Cabe às autoridades atribuir a esta questão a mesma relevância que atribui ao cumprimento das normas da Postura Municipal, a qual penaliza com esforçada dedicação, por exemplo, ao arrancar os bens de comerciantes informais dos passeios de toda a cidade.

Parece-nos que a Polícia Municipal dedica excessivo controlo à (ir)regularidade do trânsito, dos documentos e condições dos veículos e dos motoristas, e faz esforço zero no combate aos encurtamentos de rota, algo que urge em ser alterado o quanto antes

OPINIÃO Julho 2018 62
Celso Chambisso • Jornalista da Revista Economia & Mercado

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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O Jardim dos Aloés é, sem dúvida, um dos melhores Bed&Breakfast (B&B) da Ilha de Moçambique.

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Uma viagem pelas dimensões do (bom) gosto que encontramos no Botânica, em Maputo

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As tendências que saíram do “Annual Spirits Tasting”, e como os Whiskies já não são apenas considerados pela idade.

g

Jardim dos aloés

Um B&B de charme e aconchego

antes de mais é acolhedor, muito acolhedor. O Jardim dos Aloés é, sem dúvida, um dos melhores Bed&Breakfast (B&B) da Ilha de Moçambique. Mas é também um exemplo do que significa amar a ter ra com paixão pelo trabalho: todos aqueles – não apenas os ilhéus – que acreditam no acolhimento como valor de veriam dirigir a Judite e a Bruno Musti o seu mais sicero “obrigado”.

Judite e Bruno decidiram instalar-se na Ilha e fazer dela a sua casa há cerca de cinco anos. E assim fizeram reviver um antigo edifício, com amor pela arquitectura e pela decoração.

As cores dos três quartos do Jardim dos Aloés são deslum brantes. Verde, cor-de-rosa antigo, azul e amarelo, com a

técnica do almagre, são fruto da perícia dos pedreiros da Ilha de Moçambique. O mobiliário (todo restaurado por Judite) é original da re gião, fruto das incursões nos mercados pelo Oceano Índico. Os lençóis e as mantas são de algodão e seda. Mas, é à mesa do pequeno -almoço que se vive intensa mente toda a devoção à bele za que nos faz perdermo-nos pela gama de sabores apre sentada. Das compotas de flores de aloé – que provêm do jardim, tal como o nome deste lugar –, amora, papaia, manga, tudo confeccionado pelas sábias mãos deste casal que se divide entre a cozinha e a amável conversa com os hóspedes. Bolos e pão, compotas e chás, são a deliciosa valia que sai

da imaginação deste casal. O Jardim dos Aloés é também um centro de formação em ponto pequeno para o pes soal que aqui trabalha e um laboratório votado à valori zação dos produtos locais e à cultura gastronómica da Ilha. Judite organiza e confecciona jantares de sonho, onde não falta a matapa de siri-siri e canapés de xima com tchassa (ostras do Índico). Mas só por encomenda.

Guardanapos de linho, talhe res antigos, copos de cristal e chávenas de porcelana. Tudo antigo, tudo recuperado, tudo original. À mesa, de manhã, os hóspedes dos três quartos partilham as guloseimas e as conversas. Tão bonito e acon chegante que não se dá pelo tempo passar. A Ilha, fora do portão, fica à nossa espera…

Julho 2018 66
TexTO Paola Rolletta fOTOgrAfIA MauRo Pinto
noites sugeRidas: 4 PReço Médio: 7.000 MZn Rua Presidente Kaunda, Ilha de
+258 84 213 1488 dos
e
Moçambique.
aloés

roteiro

A LAM voa de Maputo para Nampula e/ou Nacala (a partir de 19.000 MZN ida e volta). em Nampula e/ou Nacala, aluga-se um carro e segue-se para a ilha por estrada, cerca de 175 Km (aluguer do carro cerca de 3.500 MZN).

o que faZeR

O roteiro de barco à vela Himalu III nas águas transparentes do Oceano Índico, ou então o roteiro histórico da Ilha de Moçambique.

onde CoMeR

Não deixe de degustar um jantar da Judite, uma ementa da gastronomia local revisitada. Preço: 3.000 MZN, por pessoa.

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o ‘Jardim dos aloés’ não é apenas Um B&B, mas tamBém o resUltado de saBedoria antiga, fantasia apUrada e de mUito, mUito amor

saBemos hoJe qUe o “gosto” não se resUme oU decorre apenas do paladar. e o BotÂnica é Um exemplo de excelência dessa realidade

restaUrante BotÂnica

Rua Kibiriti Diwane, nº 148 Maputo +258 84 558 4558

no livro “a fisiologia do gosto”, publicada no sécu lo XIX por Brillat-Savarin, um dos mais famosos epicuristas e gastrónomos franceses de to dos os tempos, o autor conside ra que o “gosto” se concentra exclusivamente nas papilas gustativas. Descreve mesmo a língua como se fosse um ma pa. Segundo ele, o doce situa va-se na sua ponta, o salgado nas laterais, o ácido no meio e, finalmente, o amargo na zona mais funda, escorregando pe lo abismo da garganta. Hoje, sabemos que o “gos to” não se resume ou decor re apenas do paladar. A ciên cia contemporânea, como po demos ler nas obras de Her vé This, explica-nos como os sentidos intervêem enquanto instrumentos de apropriação das qualidades dos alimentos e influenciam a sua degusta ção: cor, aroma, textura, tem peratura desempenham um papel fundamental e até mes mo o tacto e a audição (quando

g B ot nica : o Jardim das delÍcias

se trata, por exemplo, de um alimento “crocante”) partici pam na construção do “gosto”. Estamos, portanto, perante uma noção complexa, elabo rada a partir de uma expe riência multi-sensorial à qual não podemos deixar de acres centar ainda a componente da “fruição estética”.

Serve esta introdução pa ra explicar porque o “Botâ nica” é um dos raros espa ços em Maputo onde é possí vel ter esta experiência gas tronómica total, isto é, onde a degustação apela, simulta neamente, a todos os sentidos e eleva a fruição ao patamar

da transcendência incomum. Talvez não seja por acaso que Susana Macropulos – que jun tamente com Bibi Kan fundou o “Botânica” e é “alma” da sua cozinha – nos diz, a dado mo mento, que o ponto de parti da do projecto foi, de alguma forma, o jardim, que define co mo um “espaço zen” que pre dispõe, portanto, e desde logo, a que a degustação nos trans porte a um estado de trans cendência e nos afaste da

“funcional rotina” alimentar. É uma referência que nos faz lembrar, o documentário ‘How to Cook Your Life’ no qual o chef Edward Brown explica o segredo da sua arte conside rando que, “na verdade, são os alimentos que nos cozinham”. No “Botânica” sugerimos: co mo entradas, os cogumelos recheados (com espinafre e queijo de cabra) e as cour gettes panadas com cerve ja acompanhadas com Tzatzi ki; nos pratos principais, o Sou vlaki (apa grega com tiras de frango, tomate, cebola e papri ka) e o Paper Steak (fatias de picanha com rúcula, ananás, parmesão e sésamo).

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TexTO Rui tRindade fOTOgrAfIA Jay gaRRido

the dalmore valoUr

País reino Unido Região escócia aRoMa ameixas maduras, frutas cítricas e caramelo cremoso saboR laranja cristalizada, abacaxi e chocolate doce teoR alCoóliCo 40%

País Reino Unido Região Escócia teoR alCoóliCo 48% aRoMa Adocicado com Mel, Frutas Vermelhas e Canela. Discretamente Defumado saboR Mel, Frutas em Calda, Uvas Passas, Pimenta do Reino. Final Longo, Apimentado e Defumado

País Reino Unido Região Escócia teoR alCoóliCo 46% aRoMa Frutado e Doce com Laranja e Sorvete de Limão saboR Quente e Picante de Início Sobressaindo Depois Fruta Doce, Sorvete de Limão, Coco e Gengibre

o dalmore valoUr sem idade declarada e os whiskies

o evento “annual spirits tasting” organizado, em Lon dres, pela International Wine & Spirit Competition (IWSC) é sem pre um bom indicador das ten dências emergentes. A última edição - que teve um número recorde de participantes, vin dos de todo o mundo, e premiou cerca de 200 bebidas destila das – não foi excepção e permi tiu confirmar algumas das ten dências do mercado. Referimos cinco das mais re levantes. Em primeiro lugar, a clara ascenção dos destila dos asiáticos: do indiano feni, ao chinês baiju, feito a partir dos grãos fermentados do sorgo, o Oriente começa a dar cartas a nível global. O próprio IWSC instituíu um troféu especial pa ra os baijus, que foi vencido es te ano pelo Yushan Taiwan Kao liang Liquor. Com aromas subtis de lavanda e pinheiro e sabor delicado de bambu cozido e pi ckles, o júri considerou-o “um sabor único no mundo”.

Em segundo lugar, uma redes coberta do armagnac. Os espe cialistas consideraram que se está a verificar uma revalori zação dos destilados franceses. Em terceiro lugar, e de modo al go surpreendente, um reconhe

cimento do mescal. Apesar das vendas serem ainda reduzidas (se comparadas com a tequila) este destilado mexicano atrai cada vez mais consumidores devido à sua “autenticidade”. Uma outra tendência, é febre do gin, que continua no mercado. Em 2017, candidataram-se aos prémios do IWSC aproximada mente 400 rótulos de gin de 35 países diferentes. E a previsão é de que o mercado continue a ser inundado por “projectos” ca da vez mais exóticos.

Por fim, outra tendência em clara ascensão é a dos whiskies sem idade declarada. De acor do com um especialista do IWSC, o mercado está clara mente a deixar de lado a idade como principal critério de ava liação para se focar no sabor e “personalidade” (os chamados NSA - No Age Statement) pro curando enfatizar a “qualidade da madeira do barril” ou “os se gredos do destilador”. No “Annual Spirits Tasting” de 2017 o vencedor nesta catego ria foi o Dalmore Valour, que aqui deixamos como sugestão deste mês.

País Reino Unido País Escócia teoR alCoóliCo 60,5% aRoMa Profundo. Especiarias. Alguns Citrinos, Fortes Notas de Xerez saboR Encorpado, Quente e Cremoso. Frutos Silvestres, Bastante Doce, com influência de Laranja e Chocolate Preto

hiBiki Japanese harmony

País Japão teoR alCoóliCo 43% aRoMa Notas de Rosa, Lichia, Sugestão de Alecrim, Madeira e Sândalo saboR Casca de Laranja Confitada e Chocolate Branco. Final Longo e Subtil com Indícios de Mizunara (Carvalho Japonês)

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TexTO Rui
mercado está a deixar de lado a idade como principal critério de avaliação para se focar no saBor e “personalidade” the
macallan rare cask Black glenmorangie milsean
aBerloUr a’BUnadh

• em destaque

“Being A PhotogRAPheR in AfRicA: the ten YeARs of AfRique in visu” cooRdenAção: JeAnne meRcieR e BAPtiste de ville d’ AvRAY Éditions clementine de lA fÉRonnièRe

Lançada em 2006 no Ma li, por iniciativa de Jeanne Mercier e Baptiste de Ville d’ Avray, a “Afrique in Vi su” é uma plataforma que tem como objectivo esti mular redes colaborativas em torno da fotografia em África. Para festejar os seus dez anos de existência, a “Afrique in Visu” concebeu um livro – “Being a Photo grapher in Africa: The Ten Years of Afrique in Visu” –um repositório do que de melhor foi publicado e é complementado por uma série de ensaios escritos por diversas personalida des ligadas ao mundo da fotografia. Trata-se de um livro visualmente poderoso e que, tendo em atenção a escassez da reflexão sobre as questões substantivas que se colocam ao exercí cio da fotografia em África, permite aos leitores obter uma perspectiva erudita e sobre as diversas proble máticas abordadas.

“A Revolução do Algo Ritmo mestRe” PedRo domingos editoRA mAnuscRito

Depois de Bill gates e eric Schmidt (google) terem considerado o livro “A re volução do Algoritmo Mes tre”, do português Pedro Domingos, uma obra de re ferência no que toca à aná lise que faz sobre o impacto da tecnologia da Inteligên cia Artificial (IA) no futuro das sociedades, foi a vez do presidente chinês xi Jin ping se lhe referir recente mente como sendo um dos livros “mais importantes que leu em anos recentes.” No seu livro, Pedro Domin gos descreve os impac tos que os algoritmos já usados por empresas co mo a Amazon, o google e o facebook estão a ter no mundo. e explica como a pesqui sa no sentido de conce ber um “algoritmo-mestre” pode implicar mudanças “sísmicas” na forma de funcionar das sociedades e na forma como são inte grados na sociedade.

exposiçÕes

idAsse temBe mAlendzA (moçAmBique) teResA coRtez(PoRtugAl)

Fundação Fernando Leite Couto

galeria de exposições Inauguração: 4 de Julho às 18h30 Patente até 3 de Agosto entrada Livre

(Re)lemBRAR - mYsteRY of foReign AffAiRs exPosição colectivA inteRnAcionAl cuRAdoRiA: AndReAs WegneR

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Patente até 27 de Julho De segunda a sexta das 11h00 às 18h00 entrada Livre

mÚsica

conceRto “ePARAkA” de deltino gueRReiRo convidAdos: steWARt sukumA e AzAgAiA

A festA do PReto gRuPo teAtRAl mintsu

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 11 de Julho Hora: 18h

memóRiAs PóstumAs de Bás cuBAs centRo de RecRiAção ARtísticA

Fundação Fernando Leite Couto

música filmes livros

Centro Cultural Franco-Moçambicano Palco do Jardim Dia: 6 de Julho Hora: 20h30

conceRto “m’vulA” (AngolA)

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala grande Dia: 12 de Julho Hora: 19h

mARRABentA - velhA guARdA dillon dJindJi

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 13 de Julho Hora: 18h

cinema

Dia: 18 de Julho Hora: 18h “enviAdo esPeciAl” ReAlizAção de nAlini de sousA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia: 9 de Julho Hora: 19h

kongoloti sessions documentáRio lusofoniA , A (R)evolução

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 6 de Julho Hora: 18h teRtúliA liteRáRiA os PRocessos de Poesis ou As quARto cAtegoRiAs PoÉticAs em knoPfli convidAdo: AmÉRico PAcule modeRAdoR: JosÉ dos RemÉdios

literatUra

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 19 de Julho Hora: 19h

Julho 2018 70 livros

eUropa e áfrica:

o passado e o presente

o ponto de partida da ex posição ‘Internacional Mys tery of Foreign Affairs’ é uma reflexão sobre a o que foi a experiência de vida de vinte mil trabalhadores moçam bicanos que trabalharam e moraram na República De mocrática Alemã.

Contudo, o projecto alme ja também, de forma mais abrangente, contribuir para uma reflexão sobre as rela ções entre Europa e África, no passado e no presente.

A primeira parte da expo sição decorreu em vários lugares da cidade de Schwe rin, na Alemanha, entre Se tembro e Novembro de 2017, com a participação de artis tas de Moçambique, Angola, África do Sul e Alemanha. Nesta exposição, as obras de artistas como Dito Tembe, Iris Buchholz Chocolate e Katrin

Michel abordam a temática das relações de intercâmbio da República Democrática da Alemanha com trabalhado res moçambicanos, conheci dos como Madgermans. Por seu turno, as obras de artis tas como Matias Ntundo ou Gemuce proporcionam uma revisitação do passado colo nial, enquanto os trabalhos de Edson Chagas e Zanele Muho li representam a presença e a questão de estereótipos e atribuições culturais no mun do actual.

A segunda parte da exposi ção decorre em dois espaços da cidade de Maputo, no Ca mões – Centro Cultural Por tuguês e na Fortaleza de Ma puto, e estará patente entre 14 de Junho e 27 de Julho de 2018. Em Maputo, a exposição passa a incluir dois trabalhos sobre a Namíbia: ‘Towards

Memory’, de Katrin Winkler, um projecto de vídeo e pes quisa que surgiu de uma co laboração com mulheres da Namíbia que foram enviadas em crianças para a RDA, em 1979, aquando da luta da li bertação e anti-apartheid no seu país. O segundo trabalho, intitulado ‘Namibia Today’, de Laura Horelli, recorda a edi ção do jornal ‘Namibia Today’ impresso na então RDA. Em Maputo, são ainda apre sentadas obras de Jorge Dias, Maimuna Adam, Gemuce, Dito Tembe, Luís Santos, Matias Ntundo, Iris Buchholz Choco late, Edson Chagas e Katrin Michel.

Através de diferentes meios, da instalação à pintura, pas sando pela escultura e vídeo, a exposição pretende contri buir para um complexo tra balho de evocação de uma memória sobre um passado comum, bem como para uma reflexão sobre as relações ac tuais entre o continente afri cano e a Europa.

(re) lemBrar mystery of foreign affairs

Camões - Centro Cultural Português em Maputo/ Fortaleza de Maputo

Julho 2018 71
TexTO Rui tRindade fOTOgrAfIA Jay gaRRido

Motor Híbrido W12 6,0 litros e versão diesel 4,0 litros de 435cv potência 435cv (diesel) e híbrido 460 cv

vaUdi aposta forte nos veÍcUlos aUtónomos

durante a edição de 2017 da ces (consumer electronic show), a maior feira mundial ligada à electrónica de consu mo que se realiza anualmente em Las Vegas, nos EUA, a Audi anunciou que iria lançar den tro de meses um “veículo autó nomo” (de nível 3) e que prevê colocar no mercado em 2020, em conjunto com a empresa norte-americana de tecno logia Nvidia, um veículo “to talmente autónomo” (nível 4).

O carro escolhido pela Audi pertence à próxima geração do A8 e, a confirmar-se, será o primeiro veículo do mundo a chegar ao mercado com uma autonomia de nível 3, ou seja, não será, na verdade, “total mente autónomo”, mas será o primeiro a subir um novo pa tamar de autonomia.

De acordo com a classificação estabelecida pela Society of Automotive Engineers (SAE), os carros com um nível de autonomia 3 são aqueles que podem acelerar, desacelerar,

manobrar e ultrapassar ou tros carros sem intervenção humana. Eles são capazes de tomar decisões e permitem que o motorista tire as mãos do volante e os pés dos pedais em situações específicas.

O modelo que a Audi irá lan çar no mercado pode autocon duzir-se a uma velocidade de 60km/h, lidar com situações adversas e dará ao condutor 10 segundos para poder re tomar o controlo em caso de necessidade.

De forma muito abreviada, a classificacação da SAE consi dera que o nível de autonomia 0 é aquele em que o carro de pende totalmente do condutor.

O nível 1 inclui aqueles veícu los que já estão equipados com

alguns tipos de câmaras e sensores. O nível 2, no qual se enquadram muitos veículos já hoje disponíveis no mercado, pressupõe a existência de sis temas avançados de assistên cia ao condutor.

Acima do nível 3 , há ainda o nível 4, em que o veículo é ca paz de se autoconduzir com segurança, “mesmo se um hu mano não responder a uma solicitação para intervir”. A tecnologia já existe e está a ser testada mas o problema maior é que para poderem circular será necessário um grande investimento na adap tação das actuais infra-estru turas urbanas. Finalmente, os veículos do nível 5 serão aqueles que dispensarão por completo o condutor. Bastará indicar ao carro o seu destino pretendido e ele levá-lo-á.

Julho 2018 72
aUdi a8
carro escolhido pela aUdi pertence à próxima geração do a8 e será
primeiro com aUtonomia
3’
TexTO Rui tRindade o
o
de ‘nÍvel

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