E&M_Edição 13_Abril 2019 • A mulher moçambicana.

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EnErgia

Os grandes investimentOs em cursO nas fOtOvOltaicas rEPOrTagEM na bEira a destruiçãO que fica e a esperança que permanece frangO O OvO e a galinha? O mercadO vem primeirO CâMbiOs e&m fOi visitar um mercadO infOrmal em crescimentO

moçambique
a MulhEr MOçaMbiCana a e&m analisa O que ainda falta na ecOnOmia e nO país, para que se pOssa falar de igualdade Abril 2019 • Ano 02 no 13 • Preço 200 MZn

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Observação

Idai a imagem de uma das maiores tragédias humanitárias da história de Moçambique 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 12 Macro

ENQUADRAMENTO

12 Energia os grandes investimentos que estão a ser efectuados na área das fotovoltaicas 16 Frango Um dos poucos ramos da agro-indústria em que o país é auto-suficiente 24 Nação

A MUlhER MOçAMbIcANA 24 O que falta a e&M analisa o papel da Mulher na economia e na sociedade moçambicana 34 Na voz de... sofia cassimo, presidente do pelouro da Mulher empresária na cTa 40 ProvÍncIa

beira os efeitos do Idai na vida de uma Província que terá de recomeçar quase do zero 44 Mercado e FInanças câmbios o mercado cambial informal tem aumentado em Maputo. a e&M foi descobrir porquê 50

EMPresas

PME compuscan Melhor qualidade na informação e mais transparência no mercado do crédito

52 MegaFone

Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

54 FIgUra do MÊs

ATcM os planos de rodrigo rocha para mudar a face do desporto automóvel no país

56 socIedade

Gamers estão a surgir dezenas de novas startup de videojogos por toda a África

60 lÁ Fora clima as mudanças climáticas estão, cada vez mais, a provocar mais e maiores catástrofes naturais

67 ócio

Arte “(F)achadas”, a nova exposição de João roxo

Ao volante e bikes, a reinvenção da bicicleta

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 3 Sumário
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Uma visita à reserva especial de Maputo
Gourmet o shawarma show, em Maputo 71 Adega Um brinde aos novos bourbons 72 Agenda Música, livros, filmes

Idai, o furacão que devastou o centro de Moçambique

o mês de março de 2019 ficará registado na História de Moçambique como um tempo de grandes e irreparáveis perdas, destruição de infra-estruturas, bens materiais e mais do que tudo, vidas humanas. Sempre demasiadas. Em consequência do ciclone Idai, de magnitude 4, registado no dia 12, acompanhado de chuvas intensas, que arrasou o Centro de Moçambique, em particular a cidade da Beira que ficou irreconhecível e os distritos circunvizinhos, foram igualmente atingidos pela tempestade e chuvas as províncias de Manica, Tete, Zambézia e o Norte de Inhambane, tendo o rasto de destruição e lamento percorrido não só o país, como quase todo o mundo.

Perante esta tragédia, a Economia & Mercado não poderia ficar indiferente à onda do movimento de solidariedade interna e internacional jamais vista em Moçambique, que mobiliza todo o tipo de apoio às vítimas desta devastação monumental.

A equipa da E&M endereça por este meio as mais sentidas condolências às famílias enlutadas e manifesta o seu apreço e reconhecimento do esforço daquelas pessoas e instituições que não tiveram mãos a medir no movimento de apoio às populações afectadas, enviando equipamento de resgate, alimentos, água, medicamentos, pessoal médico e roupa para as tantas necessidades prementes.

Em homenagem aos afectados e aos heróis vivos desta calamidade, vai a nossa solidariedade.

MÊS ano • nº 01

propriedade Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

ABRIL 2019 • Nº 13

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

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JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos PRODUÇÃO Executive Moçambique

PUBlICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO

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E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

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DElEGAÇÃO EM lIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt

IMPREssÃO E ACABAMEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

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Editorial
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Director da revista Economia & Mercado

observação

IdaI,

sInónImo de morte... e esperança

A depressão tropical que se formou na costa leste de Moçambique atingiu o país com uma brutalidade nunca antes vista. Com ventos de 175 km/h, o ciclone de grau 4 passou, em Março, e deixou para trás um rasto de destruição inaudita. Entre as contas finais de um pesadelo vivido por milhões de pessoas, os números que ninguém esquece, e que contam mais de mil mortos e desaparecidos, 400 mil desalojados e milhões de meticais em prejuízos materiais. No entanto, a solidariedade de países como a Índia, EUA ou Portugal, de empresas nacionais e internacionais e de cidadãos com vontade de ajudar as populações afectadas também se fez sentir, como nunca antes, em Moçambique.

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Beira, março de 2019
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ECONOMIA

Financiamento. Quatro con venções de financiamento a Moçambique, para o fomen to do comércio, biodiversida de, agro-negócio e transpor tes, foram recentemente assi nadas em Maputo, informou a delegação da União Europeia em Moçambique.

Com um valor total de 217 milhões de euros, os acordos fazem parte do progra ma PROMOVE e cobrem es tas quatro áreas-chave de desenvolvimento, como a fa cilitação ao comércio, a ges tão sustentável dos re cursos naturais, a promo ção da agricultura susten tável e do agro-negócio e a recuperação de estradas nas zonas rurais.

Investimento. A companhia pe trolífera Anadarko anunciou que pretende investir cerca de 176 milhões de dólares no projecto de exploração de gás natural em Moçambique, ain da neste semestre, antes de avançar para a Decisão Final de Investimento (DFI).

De acordo com o relatório anual da empresa norte-ame ricana entregue no regulador local, este valor “inclui a par te do custo da Anadarko asso ciado à preparação em cur so no terreno para a central onshore”.

No documento, lê-se também “que os prazos estão a ser cumpridos para que a petro lífera anuncie a Final Invest ment Decision (FID)” igualmen te neste primeiro semestre.

Tributação. África vai contar, a partir deste ano, com uma rede de comunicadores so bre assuntos de tributação no continente, visando alargar a base tributária.

Trata-se da Rede Africana de Media para Assuntos Tri butários, que vai integrar jornalistas e técnicos de co municação das autoridades tributárias dos vários paí ses-membros do Fórum

MOçAMbIquE vAI tEr INdústrIA dE lApIdAçãO dE pEdrAs prECIOsAs

Jóias. A Empresa Moçambi cana de Exploração Mineira (EMEM) anunciou, recente mente, que pretende insta lar no país uma indústria de corte e lapidação de gemas, para a produção de jóias. Para o efeito, a EMEM lan çou um concurso público pa ra a selecção da empresa, que fundamentalmente te rá a missão de realizar um estudo de viabilidade técni ca e financeira para a im plementação da referida nova indústria. Na concurso, a EMEM explica que a insta lação de uma indústria de

Africano das Administrações Tributárias ,ATAF (sigla em in glês). A decisão foi tomada no fim do II Encontro de Formação e Engajamento de Media em Assuntos de Tributação, reali zado no mês passado, na capital ruandesa, Kigali.

corte e lapidação de gemas para produção de jóias tem como principal objectivo fa zer aumentar o nível de re ceita deste subsector ao ní vel da tributação e na con tribuição para o Produto In terno Bruto (PIB), uma vez que, até agora, o tratamen to e venda de pedras pre ciosas nacionais é integral mente feito no exterior. Exemplo desta realidade, são os nove leilões de rubis de Cabo Delgado já efectua dos em Singapura, com uma receita total de mais de 350 milhões de dólares.

Niassa, Romualdo Vaíla, a ini ciativa visa impulsionar o “desenvolvimento agro-in dustrial com base numa clas se jovem empreendedora.”

Financiamento. Estão prestes a iniciar, este semestre, as obras de construção de uma fábrica de rações, incubado ra e matadouro industrial, no distrito de Lichinga, província do Niassa. O projecto, finan ciado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), orça do em três milhões de dóla res, está a ser implementado através do Instituto para Pro moção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME). Segundo o Coordenador do Projecto de Gestão de Emprego e Melho ria de Renda na província do

Formação de quadros. Portu gal vai apoiar Moçambique na formação de quadros na área de turismo, para a ges tão do património da Ilha de Moçambique. De acordo com a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Go dinho, aquando da sua visita de trabalho a Moçambique, “esta parceria será desenvol vida através de um instituto de formação a ser implemen tado na Ilha de Moçambique, como forma de contribuir pa ra o aproveitamento do valor histórico e turístico local.”

A formação irá arrancar em Julho e vai abranger, numa primeira fase, professores na Ilha de Moçambique, sendo que, mais tarde, um alarga do grupo de estudantes vão ser instruídos em matérias ligadas à importância do uso de métodos tecnológicos na di vulgação do potencial da Ilha.

Logística. O Governo, atra vés da empresa CFM-Portos e Caminhos de Ferro de

RADAR www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 8

Moçambique, vai adquirir, ainda este ano, cerca de 90 carruagens e cinco locomoti vas adicionais para o reforço do transporte de passageiros e mercadorias, nos sistemas ferroviários Sul e Centro. De acordo com o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, “a perspec tiva é de que os referidos equipamentos estejam dispo níveis e em circulação já no terceiro trimestre do ano em curso”, anunciou.

Capital. Os accionistas da Ga pi-Sociedade de Investimen tos aprovaram recentemen te um aumento de capital, na ordem dos 300 milhões de meticais, sendo que o primei ro pacote, na ordem dos 100 milhões, já está parcialmente realizado. De acordo com o se cretário-executivo da Gapi-SI, Victor Ribeiro, os accionistas deliberaram também que “oportunamente irão abrir o capital da Sociedade a outros investidores privados”, além de estarem a decorrer tra balhos de preparação para a sua inscrição na BVM.

rECursOs MINErAIs

Gás. A extração e processa mento de gás natural no cam po Mamba, no Bloco Área 4 da Bacia do Rovuma, no Norte de Moçambique, deverão ter início até 2024, informou re centemente, em Milão, o pre sidente executivo do grupo italiano ENI, Claudio Descalzi. No final da sessão de apresen tação da estratégia da petro lífera para os próximos três anos, o presidente executivo da multinacional italiana dis se esperar o início da produ ção até àquela data, “desde que a decisão final de investi mento seja tomada este ano”, uma vez que o financiamen to do projecto e a assinatura de contratos para a venda do gás “estão a decorrer dentro das previsões.”

Hidrocarbonetos. Um grupo de empresários dos Emirados Árabes Unidos anunciou a in tenção de entrar no negócio do gás em Moçambique, atra vés da criação de cadeias de logística para o desenvolvi mento da indústria de hidro carbonetos. Depois do grupo Qatar Petroleum anunciar, em Março passado, a aqui sição de 25,5% da concessão da italiana ENI, no Bloco A5-A, agora a Câmara de Comércio do Dubai em Moçambique revelou a intenção de entrar na área da logística da in dústria de hidrocarbonetos no país. “Estamos atentos às oportunidades de negócios na indústria de hidrocarbo netos e queremos ajudar com a nossa larga experiência neste sector”, apontou Omar Khan, director dos Escritórios Internacionais da Câmara de Comércio do Dubai.

Empresas. A Sahara Energy é o novo operador na área da importação de gás de cozinha para o país. O anúncio foi fei to pela Importadora Moçam bicana de Petróleos (IMOPE TRO), e revela que a empresa suíça deverá importar 25 mil toneladas métricas (TM) para o consumo nacional ao lon go dos próximos seis meses. A entrada da Sahara Energy no mercado do gás doméstico é o culminar de um processo de contratação que se iniciou em Dezembro último, com o lançamento do concurso público internacional, que ti nha em vista uma mudança de importador, por forma a baixar a factura mensal de importação cifrada em 1,5 milhões de dólares.

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Fundos Soberanos: As gerações vindouras, a qualidade do investimento, a aplicação racional dos recursos, ou ‘só uma moda’?

o aprofundamento do processo de globalização, particular mente na perspectiva financeira, fez emergir e colocar no centro da agenda de desenvolvimento económico a temática dos Fundos Soberanos (FS´s), como um instrumento financeiro ao serviço das Nações. A discussão do assunto tem levado a debates longos, polarizados e até gerado controvérsia entre economistas, gestores, planificadores, “fazedores de políticas”, governantes, parlamentares, sociedade civil, media, comuni dade académica e parceiros de cooperação.

Por que razão esse assunto tem provocado grande polémica e até posições extremadas? Será que os diferentes grupos têm percepções e expectativas distintas sobre o seu papel, vanta gens, como gerir e usar? Qual a razão porque muitas vezes se concentra mais nos mecanismos de gestão, transparência e governação e não na sua importância estratégica, sua utilida de prática, impacto e sustentabilidade?

Os FS´s são fundos de investimento administrados pelos Estados, criados para uma variedade de objectivos macroeconómicos e normalmente capitalizados por meio de transferência de re cursos externos investidos numa perspectiva de longo-prazo. São instrumentos financeiros pelos quais os países utilizam parte das suas reservas internacionais ou da arrecadação fiscal para financiar projectos empresariais estratégicos de interesse do Estado e também adquirir participações em ban cos e empresas nacionais e estrangeiras que existem desde a década 1950, quando foram criados com o objectivo de acu mular, para uso futuro, as receitas da exploração de recursos naturais esgotáveis, na maioria dos casos o petróleo. O primeiro FS foi criado pelo governo do Kuwait, em 1953, com a finalidade de reduzir a dependência do Emirado de uma só “commodity”, baseado no pressuposto de que os recursos obti dos com a extracção do petróleo seriam investidos no mercado financeiro com vista a garantir a renda das futuras gerações. Depois, foi criado o FS de Kiribati, financiado pelas “royalities”

provenientes da venda de fosfato. Indicações do FMI (2008) e de Simas (2010) dão conta que, em 2012, os activos de diversos fundos atingiram os 10 biliões de USD, destacando-se entre os maiores FS´s, o Abu Dhabi Investment Authority e o Govern ment of Pension Fund da Noruega, com 875 e 380 mil milhões de dólares, respectivamente. Singapura, Brasil, Rússia, Irão, Timor-Leste, China, Nova Zelândia, Chile, Hong Kong (SAR), Índia, França, Sudão, Canadá, Coreia do Sul, Angola, Argélia, Nigéria, Qatar, Venezuela, Arábia Saudita, Guiné Equatorial, entre outros, também constituíram FS´s. Os que o fizeram apresentam uma poupança interna média de 40% do PIB, e a evidência empírica dá conta que os dez países com maiores FS´s representam 89% do volume de recursos nesse tipo de instrumento financeiro, em que o predomínio de Estados ex portadores de recursos naturais esgotáveis é atestado pelas exportações de combustíveis, que representam em média 52%. Nas últimas décadas, a enorme acumulação de reservas in ternacionais, por parte dos países em desenvolvimento, le vou à proliferação de FS´s, que passaram a ser usados para aumentar a rentabilidade de parte das reservas e reduzir o custo de carregamento. Os principais determinantes do seu estabelecimento são os superavits significativos de conta cor rente, dependência das exportações de combustíveis e miné rios e altos níveis de poupança interna. Os países estabelecem FS´s visando: (i) proteger e estabilizar a economia dos choques ligados à volatilidade dos preços sobre as receitas e exportações; (ii) gerir as poupanças para benefí cio das futuras gerações; (iii) alocar recursos para fazer inves timentos não tradicionais com maior rentabilidade; (iv) fundo de reserva de pensões, e; (v) direccionar para investimentos estratégicos na promoção económica, incluindo na interna cionalização das empresas nacionais e na implementação de políticas industriais. Alguns desses objectivos são conciliáveis, podendo até alterar a prioridade e enfoque, com o tempo.

Existem desde a década 1950, quando foram criados com o objectivo de acumular, para uso futuro, as receitas da exploração de recursos naturais esgotáveis, na maioria dos casos o petróleo.

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 10
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores

Por exemplo, a Noruega criou o seu FS em 1990, para ser um instrumento capaz de dar margem de manobra à política fiscal do país no caso de quebra de receitas provenientes do petró leo, o que aconteceu também com o Chile, que constituiu o fun do para enfrentar a volatilidade dos preços internacionais e os seus impactos cambiais e fiscais. O caso desses países mostra uma preocupação com as gerações futuras, apostando na di versificação da economia e na capacidade de gerar empregos. O Brasil, por sua vez, criou o FS em 2008 visando formar poupança pública, mitigar os efeitos dos ciclos económicos e fomentar projectos de interesse estratégico. Não sendo um país dependente de uma só “commodity” (como Angola, Guiné Equatorial ou Nigéria), mas com diversificação de expor tações, incluindo no agro-negócio e manufactura, o fundo é uma ferramenta de política monetária e de ajuste fiscal. Já o FS de Abu Dhabi (Mubadala) passou a apresentar eleva da rentabilidade a partir de 2012, sendo uma incubadora de tecnologia e empregos, investindo em tecnologia.

Vários pesquisadores (como Ouriques, Vieira & Arienti, 2010 e Arrighi, 2009 ) têm apontando a China como uma potência em ascensão, destacando a possibilidade de o país ser o epicentro de um provável “Século XXI asiático”. Mas, até ali, os crescentes “superávits” comerciais estão a ser direccionados para o Fun do Soberano de Riqueza, criado em 2007. O China Investment Corporation (CIC), FS Chinês, vem despontando como um instru mento da transformação da China em actor fundamental no sis tema global, especialmente devido aos recursos envolvidos e à sua actuação estratégica pois tem direccionado parte das suas reservas estrangeiras, através do CIC, para investir na ener gia, matérias-primas, agricultura e alta tecnologia no exterior. É bem verdade que a expansão de FS´s no mercado financei ro internacional ocorreu a partir da década 2000, marcando uma tendência mundial por parte dos países emergentes e ricos em recursos naturais, devido ao aumento do preço das

“commodities”, protecção contra as crises financeiras e cri ses cambiais da década 1990 e a necessidade dos governos concederem incentivos fiscais para manter as economias aquecidas. O Índice de Governação de Recursos, baseado nos Princípios de Santiago (2008), aponta casos bem sucedidos de gestão dos FS´s, como a Noruega, Timor-Leste, Chile e Canadá, mas também casos de deficiente gestão, como o Sudão, Ve nezuela, Arábia Saudita, Nigéria, Angola e Guiné Equatorial. Em Moçambique, a discussão sobre a constituição de um FS mantém-se, sobretudo com o advento da exploração dos re cursos naturais, em particular o gás natural a ser extraído da Bacia do Rovuma. Há diversos documentos produzidos so bre o assunto, incluindo o feito pelo SPEED (2011) e Mimbire (2017), que advogam a relevância, acuidade e oportunidade da sua criação, para garantir a boa gestão de recursos sig nificativos que o país vai obter, aplicar devidamente esses recursos, contornar o perigo sempre presente da “maldição dos recursos” e para adoptar medidas preventivas contra a eminência da “doença holandesa”. Os retornos de investi mentos com elevada rentabilidade podem ser aplicados, na minha óptica, no incremento do capital humano, na agricul tura e desenvolvimento rural, nas PME, na promoção da in dustrialização, nas infra-estruturas estratégicas e na ciência, tecnologia e inovação. Não é apenas por imperativo de adop tar uma “moda de natureza financeira” ou de teorias atracti vas de desenvolvimento sustentável. A criação de um FS em Moçambique vai permitir que as reservas financeiras que advêm da exploração dos recursos naturais possam fugir à “febre de gastos públicos de má qualidade” sendo entregues à gestão de um FS de Investimento gerido por quadros de competência e integridade reconhecidas, com uma política de investimento consistente e escrutinável, adequado gerencia mento de riscos e adoptando padrões de governação e trans parência acima de qualquer sombra de dúvida.

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Fundo Soberano da Noruega é um exemplo, a nível mundial, da utilização de recursos provenientes da exploração petrolífera em prol da economia nacional

Mapa energético de MoçaMbique desperta coM a luz solar

Moçambique é uma das zonas do planeta que mais raios solares recebe. Não espanta, por isso, que o país acolha projectos de grande dimensão e suportados por capitais estrangeiros que lhes conferem solidez

longe vão os tempos em que produzir energia a partir de raios solares parecia uma espécie de magia.

Foi em 1839 - há quase 200 anos - que o cientista francês Alexandre-Edmond Becque rel observou, pela primeira vez, o efeito fotovoltaico, a criação de corrente eléctrica depois da exposição de deter minado material à luz.

Esse material são as células fotoeléctricas, aperfeiçoa das ao longo do tempo com a ajuda da Química. O objectivo

é que os electrões sejam ejec tados da superfície dessas células quando elas são expostas ao Sol. A verdade é que, até à metade do século XX, os painéis fotovoltai cos eram coisa de cientistas. Hoje, uma breve pesquisa em sites de compras na Internet permite encontrar, mesmo em Moçambique, pequenos painéis a partir de 1 500 meticais. É certo que pouco mais poderão alimentar do que alguns gadgets ou ilumi nação de baixa potência, mas

hectares a área de painéis solares da central fotovoltaica de mocuba, na ZambéZia

126são o exemplo acabado de que o conceito se massificou.

Deixou de ser um assunto de cientistas e laboratórios, para saltar para a cultura pop. A utilização do Sol para produzir electricidade ganha impacto no ‘mix’ de novas fontes energéticas.

Em 2016, foi mesmo a terceira entre todas as renováveis, na União Europeia. E Moçambi que prepara-se para entrar definitivamente nesta arena e parece jogar em casa. Diferentes mapas (estudos

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macro

disponíveis na Internet) mostram que, analisado o efeito da nebulosidade, é uma das zonas do planeta que mais raios solares recebe ao longo do ano.

Não espanta, por isso, que o país tenha sido o destino de um crescente interesse, consubs tanciado em vários projectos de grande dimensão suporta dos por capitais estrangeiros que lhes conferem solidez.

primeira central, Mocuba “Levar a energia eléctrica a 72% da população em 12 anos é um grande desafio que se coloca ao Governo”. A frase, do presidente Nyusi, foi proferi da em Novembro passado, quando foi lançada a Estraté gia Nacional de Energia, (Pro grama Energia Para Todos) e que tem como principal objec tivo levar energia eléctrica a todo o país até 2030, criando as condições para a expansão da actual Rede Nacional atra vés da sua densificação, bem como da diversificação das fontes energéticas. E é aqui que o Sol pode dar uma gran de ajuda.

Aquela que será a primei ra central de energia solar de Moçambique está insta lada em Mocuba, na provín cia central da Zambézia, e deverá começar a funcionar em breve, segundo a empre sa pública Electricidade de Moçambique (EDM). “Vai ser a primeira central solar de grande escala do país e re presenta um passo importan te na ambição de aumentar a percentagem de origens renováveis na produção de electricidade”, anuncia o gru po promotor.

Esta larga esteira de painéis solares vai ocupar um terre no de 126 hectares e resulta de uma parceria entre a em presa Scatec Solar (52,5%), o fundo estatal norueguês Nor fund (22,5%) e a EDM (25%).

A operação financeira já es tá, de resto, concluída: dos 76 milhões de dólares de inves timento, 14 milhões foram

entregues pelos sócios, sete milhões resultam de donati vos e 55 milhões através de dívida - negociada com o Ban co Mundial, com a iniciativa Fundos de Investimento do Clima e ainda com o Departa mento Britânico de Desenvol vimento Internacional.

O Governo norueguês vai apoiar o Estado moçambica no e cobrir a participação de 25% da EDM.

A empresa pública vai com prar a energia (que se esti ma chegue para abastecer 175 mil agregados familiares - produção de 40 MW) e dis tribui-la pela rede elétrica nacional. Um relatório da em presa pública de electricida de prevê que a central ajude a colmatar a falta de respos ta da rede na metade norte do país (ainda hoje abastecida a partir de uma central flu tuante instalada em Nacada, da empresa turca Karadeniz Powership) e ao mesmo tem po promover o desenvolvi mento da região de Mocuba. Prevê-se que o empreendi mento tenha um tempo útil de vida de 25 anos e que cubra 85% do consumo anual de energia da região onde vi vem 216 mil pessoas, mas on de só 8% dos agregados tem electricidade.

A expectativa é que o projec to ajude a aumentar este va lor para, a prazo, um quarto das famílias terem electrici dade. Mas há mais impactos. Durante a fase de construção, a obra terá já dado emprego a 200 pessoas e impulsionado negócios locais nas áreas do alojamento, restauração, alu gueres e venda de bens es senciais. Na fase de produção, o projecto prevê que 0,75% das receitas anuais, em valor não referido, seja aplicado em projectos sociais na região. O documento da EDM apon ta o empreendimento como a opção mais económica pa ra produzir electricidade e, ao mesmo tempo, garantir uma forma de abastecer facil mente o mundo rural e diver

milhões de dólares é quanto vai custar a central de mocuba, a primeira fotovoltaica do país. será composta de uma larga esteira de painéis solares e vai abastecer 175 mil agregados familiares

76sificar as fontes de energia. Para a empresa pública, o in vestimento é também uma forma de acumular experiên cia neste novo (no país) seg mento de gestão de centrais fotovoltaicas, que têm ainda como vantagem, a rapidez de construção, quando compa rados com as de produção hí drica ou as alimentadas por combustíveis.

abastecer cabo delgado

Um outro projecto de grande dimensão está na forja. O go verno moçambicano assinou em Dezembro do ano passa do, com a empresa francesa Neoen, um acordo para cons trução de uma central eléc trica solar no norte do país, na província de Cabo Delga do. A infra-estrutura será capaz de servir 150 a 170 mil pessoas, e terá uma capaci dade de 41 MW, semelhante à de Mocuba. Ou, por outras contas, será ali gerada uma quantidade de energia capaz de suprir 75% das necessida des de Pemba, capital provin cial, a poucos quilómetros do local de implementação do projecto.

O investimento ronda os 50 milhões de euros e vai ser instalado em Metoro, espe rando-se que as obras ar ranquem no segundo semes tre deste ano, anunciou Max Tonela, ministro dos Recur sos Minerais e Energia. “O Go verno considera este projecto como prioritário”, garantindo maior “segurança e fiabilida de no fornecimento de ener gia ao país”. Ao mesmo tempo, “durante a fase de constru ção, o projecto irá criar 380 empregos”, referiu, elevando desta forma as expectativas da população.

Cyril Perrin, director da Neoen em Moçambique, des tacou pela positiva o traba lho desenvolvido com o Go verno e comunidades locais desde 2015. Tal como na Zam bézia, espera-se que contri bua para o aumento da elec trificação rural, atendendo à

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O Governo apresentou, em Setembro de 2017, a carteira de projectos de energias renováveis com a qual pretende garantir o acesso universal no país até 2030. Prevê-se a electrificação de cerca de 300 vilas com recurso a energia hídrica a que se deverão juntar outros tantos projectos de energia solar, de acordo com dados do Ministério dos Recursos Minerais e Energia. Actualmente, dos cerca de 29 milhões de moçambicanos, estima-se que apenas oito milhões tenham acesso a energia eléctrica da rede nacional, o correspondente a uma cobertura de cerca de 28%, graças a seis mil quilómetros de linhas de transmissão ao longo do país, segundo dados da EDM

Energia à escala familiar

A energia solar pode produzir electricidade à escala familiar, sem recurso à rede pública ou grandes empreendimentos. O Governo estima poder levar energia a cerca de dois milhões de pessoas graças a um destes modelos de produção, uma parceria público-privada com a empresa multinacional Ignite que “prevê a instalação de sistemas residenciais de energia solar em 300 mil habitações”.

Energia solar com responsabilidade social

A Fundação Galp e a Funae inauguraram, em Fevereiro, o primeiro de quatro sistemas solares fotovoltaicos e rede eléctrica em aldeias sem energia. No total, são mais de 1 400 habitantes beneficiados na “primeira Aldeia Solar” do projecto Energiza, uma iniciativa de responsabilidade social que, numa primeira fase, abrange duas povoações em Sofala, uma em Cabo Delgado e outra em Manica.

A projecto prevê a instalação de sistemas solares fotovoltaicos, num investimento total de 600 mil euros e que vai gerar aproximadamente 50 KWh de energia eléctrica de origem renovável.

Ventos de mudança na Namaacha

Um outro projecto de base renovável está em esboço no Parque Eólico de Namaacha, onde se avança para a fase de levantamento topográfico e geotécnico, com vista a estudar a localização, anunciou em Fevereiro o Banco Africano de Desenvolvimento, co-financiador do empreendimento. O parque, com uma capacidade prevista de 120 MW, é uma iniciativa da Eleqtra, empresa presente em vários países e com experiência na área de energia na África subsaariana.

procura crescente na região. A central vai ainda dar apoio às minas de grafite de Ancua be e Balama e ao projecto de extracção de areias pesadas de Moma O empreendimen to vai ocupar uma área de 70 hectares onde vão ser insta lados diversos equipamentos, entre os quais os módulos foto voltaicos que vão captar a luz solar. De acordo com informa ção da Neoen, o financiamento é prestado pela Agência Francesa de Desenvolvimen to (AFD), sendo que a empresa será detentora de 75% da central, ao passo que a EDM ficará com os restantes 25%.

O contrato já assinado prevê, ainda, uma concessão do Estado à nova sociedade por 30 anos e o projecto poderá injectar 52 mil euros por ano na economia local e em iniciativas sociais. Ainda a Norte, há mais pla nos para captar e distribuir a energia do Sol, mas ainda es

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macro
UMa pEqUENa pErcENtagEM

Um outro projecto de grande dimensão está na forja. O governo moçambicano assinou em Dezembro de 2018, com a empresa francesa Neoen, um acordo para construção de uma central eléctrica solar no norte do país, na província de cabo Delgado, capaz de servir 150 a 170 mil pessoas

tão numa fase de planeamento menos adiantada que as de Mocuba e de Cabo Delgado. Um desses projectos é lide rado pelo grupo Phanes, cujo foco são as energias reno váveis. Sediado no Dubai, anunciou, em Maio do ano pas sado, a intenção de construir três centrais fotovoltaicas pa ra abastecer a província. O governo local e o grupo, as sinaram um memorando de entendimento que pre vê a instalação de centrais em Lichinga e nos distritos de Mandimba e Marrupa. O in vestimento pode chegar aos 170 milhões de euros, numa zo na do país onde, de acordo com dados oficiais, só um quinto dos 1,9 milhões de residentes tem acesso a energia.

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FOtOGRAFIA
tExtO Luís Fonseca, SERvIçO ESPECIAl DA AGêNCIA luSA
PARA A E&M
d.r.

macro

O OvO Ou a galinha? DO galinheirO... a tuDO O restO

Fruto de uma política proteccionista, é um dos poucos segmentos em que Moçambique conseguiu ser praticamente auto-sustentável, de há alguns anos a esta parte, algo impensável num passado recente

nos últimos anos, a produção nacional do frango tem vindo a crescer, impulsio nada pelo surgimento de pequenos, mé dios e grandes avicultores, bem como de empresas de produção de rações e de abate que promoveram a actividade. Aliás, nesta última década, a indústria avícola do país tem estado a trilhar um rumo bem encorajador para toda uma cadeia de valor, tornando-se num sec tor que já consegue produzir ciclicamen te frango em grandes quantidades capaz de abastecer a quase totalidade do mer cado nacional.

O clique para este segmento começou com a decisão de banir a importação de frango

(sobretudo do Brasil, África do Sul e tam bém do frango vivo da Suazilândia), toma da em 2016 pela presidência da República. Considerada à época e em vários secto res como “precipitada”, a verdade é que desde então se nota que ela veio dotar os produtores nacionais de uma mus culatura financeira e técnica para pas sarem a ser os principais abastecedo res do mercado nacional. Segundo da dos da Direcção Nacional de Veteriná ria (DNAV), a produção da carne de fran go cresceu de 75 mil toneladas em 2015 para 90,2 mil em 2017, um incremen to de 18,8%, com impacto na redução da importação do frango em cerca de 70%.

Menos importação, mais produção nacio nal, menos factura para pagar ao exte rior, mais postos de trabalho e, acima de tudo, um segmento de mercado em cresci mento e com potencial, até, para exportar. E é isso que se percebe quando, analisan do o mercado do ponto de vista quanti tativo, se percebe que o sector avícola passou das 15 para as 18 milhões de aves em 2018, “um crescimento de cerca de 20%”, aponta a DNAV, projectando ain da para este ano uma produção nacional de 128 mil toneladas face a um consumo na ordem de 96 mil, o que irá gerar, pe la primeira vez em anos, um superavit destinado a exportação.

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Próximo passo é aumentar o consumo Entretanto, dados divulgados por Améri co Marques, director comercial de uma das maiores empresas de produção de frangos e rações no país, a Higest, duran te a XVI Conferência Nacional do Sector Privado (CASP) realizada em Maputo no mês passado, “o consumo de frango no país anda a volta de 6,5kg por pessoa. Se compararmos com os outros mercados à nossa volta, por exemplo na África do Sul, verificamos que a discrepância é enor me, onde o consumo do frango por pessoa anda à volta de 90 quilogramas”.

Perante este cenário, com a produção a subir e com um mercado que, tendencial mente, irá ter de consumir mais, os avi cultores contactados pela E&M não têm dúvidas em afirmar que “a auto-suficiên cia já está à vista, embora seja necessário continuar a crescer”, dizem-nos.

Prova disso são as várias iniciativas pri vadas de construção de aviários automa tizados e de matadouros, ao longo de to do o território nacional. Fátima Mussagy, presidente da Associação dos Avicultores de Maputo, entende que neste momen to, já é possível alcançar a auto-suficiên cia sem que, para isso, venhamos a assis tir a um aumento de preços para o con sumidor final, desde que o governo e os avicultores unam esforços para o comba te ao contrabando.

“Assumimos o desafio com muita respon sabilidade, aumentámos as nossas capaci dades de produção, investimos nos aviá rios de forma a crescermos”, justifica. Enquanto isso, para a Associação Moçam bicana da Indústria Avícola (AMIA), uma agremiação criada há um ano, que con grega 11 das grandes empresas produ toras do frango e rações a nível nacional (entre elas a Higest no sul, Abílio Antunes no centro e Novos Horizontes no norte) considera “o sector não só cresceu em ter mos de quantidade, mas também a qua lidade aumentou”, sublinha o secretário -executivo, Zeiss Lacerda. Que depois ex plica que “durante a recente quadra fes tiva, não houve falta de frango tal como vinha acontecendo nos anos anteriores, e isto graças ao crescimento da indústria”, congratula-se.

Produção local é tendência regional

A aposta na produção local tem ganho ex pressão em vários países africanos, como é o caso do Zimbabwe e do Malawi. Aliado a isto, muitos países que antes eram dependentes das importações, como Moçambique, têm mudado o paradigma. As grandes exportadoras, que num pas

mil toneladas

É a produção de frango prevista para este ano face a um consumo interno na ordem das 96 mil toneladas

128sado recente alimentavam o mercado nacional, já se ressentem da indepen dência de Moçambique no que respeita à produção de frango. Segundo a agên cia brasileira Money Times, que faz estu dos do mercado financeiro global, o preço do frango no mercado internacional tem vindo a cair ano após ano (16,7% em 2018 em relação ao ano anterior), o que acon tece, explica, “devido à quebra das expor tações provocadas pela sobretaxa impos ta pelos países importadores”. Moçambi que incluído, embora a Money Times não coloque o país nessa lista de importado res que decidiram agravar as taxas das importações, visto que o país não é con siderado um dos grandes importado res mundiais. No entanto, terá o seu peso nesta matéria.

O alimento que agora... alimenta uma indústria Umadascausasque,nopassado,fizeramcom que a produção de frango não disparasse tem que ver com a matéria-prima utiliza da para a produção das rações, sobretudo o milho e a soja. No entanto, actualmente, os avicultores decidiram procurar alternati vas locais de forma a reduzir os custos. E, na verdade, foi uma prática que não tar dou a trazer resultados: “Agora já não im portamos muita ração e o que tem acon tecido é que uma ou outra matéria-prima é que são importadas. Houve uma evolu ção muito grande nos últimos anos, e hoje, mais de 90% da soja que usamos é produ zida no país”, diz o responsável da Higest. No entanto, apesar de existirem condi ções e um número razoável de aviculto res familiares e industriais responsáveis pela produção do frango que é consumi do no país, desengane-se quem pensa que todos os problemas foram remediados nesta cadeia de valor. Os avicultores con tactados pela E&M não hesitam em rea firmar a capacidade para produzir con soante a procura, mesmo que ela cresça. É que, até agora, os avicultores do ramo industrial estão a operar a menos de 50% da capacidade instalada devido às fragi lidades que o mercado vem apresentan do ao nível da procura, e por um merca do ainda muito informal, algo que se per cebe quando metade do consumo advém ainda da compra de frango vivo, que não passa pelos matadouros certificados. “Estamos a produzir consoante aquilo que o mercado consegue absorver, vis to que, infelizmente, continuamos a de parar-nos com o contrabando do frango, sobretudo o vivo, que vem da vizinha eSuatine, e com um consumo ainda baixo”, sublinha. De acordo com os avicultores

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produção informal de frango vivo compete com o sector agro-industrial

O mercado do frango nacional tem crescido ao nível da produção. No entanto, o consumo per capita, de cerca de 6,5 quilogramas por habitante, terá de aumentar consideravelmente

contactados pela E&M “não há dúvidas de que o país já produz o suficiente para co brir toda a procura e sem depender de alguma importação”.

Porém, consideram também que, ape sar de haver ainda essa fasquia dos 30% de importação, “existe no mercado nacio nal algum frango, sobretudo o vivo, que não se sabe em que circunstâncias entra no território nacional visto que o gover no apenas agravou as taxas sobre a im portação do frango congelado. A verda de é que existe capacidade instalada pa ra produzir mais, e acabar de vez com a importação. Assim haja vontade de fazer ‘voar’ o mercado.

Concorrência desleal

“Existem no nosso mercado outros produ tos que fazem concorrência, sobretudo os importados associados ao contraban do, e isso tem estado a bloquear o cresci mento dos produtores nacionais. O registo das importações avançado pela DNAV contradiz a realidade dos números do frango que é vendido no

Com quase dois terços da produção gerada internamente,Moçambique caminha a largos passos para atingir a auto-suficiência neste segmento

Em milhares de toneladas FONTE DNAV

mercado interno”, assinala a presidente da Associação dos Avicultores de Maputo. Já Fátima Mussagy considera urgente a necessidade de se apertar cada vez mais o cerco ao contrabando, por forma a “estimular o aumento da produção nacio nal, familiar e industrial”, reitera.

E explica ainda que “aquilo que devia acontecer para acabar com o contra bando não está a acontecer, uma vez que parecem existir agentes que não estão alinhados com o desafio assumido pelo governo e os produtores para diminuir as importações e reduzir as transacções no mercado negro.”

Cientes de que há algo de bom prestes a acontecer neste mercado, sabem que não são poucos os perigos à espreita pa ra os avicultores, que não se bastam a lançar um alerta: “É urgente resolver-se a situação por forma a resgatar a dinâ mica deste sector tão promissor”.

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macro
fotografia d.r
texto hermenegildo langa
INdustrIal FaMIlIar O CONsuMO tOtal 17,8 26,7 45,7 90 200 IMpOrtações
prOduçãO INterNa COM MaIOr pesO

úmeros em conta

Mercado da construção está... eM reconstrução

moçambique foi, ao longo de 2018, o ter ceiro país da África Austral com maior nú mero de projectos de construção de valor igual ou superior a 50 milhões de dólares. A conclusão surge no “Africa Construction Trends”, estudo da Deloitte referente ao ano de 2018. Assim, o mercado nacional foi res ponsável por 13,6% de todos os projectos de uma lista regional, liderada pela África do Sul, com 35,9%. A região austral de Áfri

A evolução dos projectos

ca, que engloba África do Sul, Angola, Bot suana, Lesoto, Madagáscar, Malaui, Mau rícias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabué, registou 103 projectos em 2018, com um valor combinado de 125,4 mil milhões de dólares. A região represen tou 21,4% de todos os projectos de valor igual ou superior a 50 milhões de dólares no continente africano e 26,6% em termos de valor de investimento.

Existem 103 projectos em curso na região onde estão 21,4% de todos os projectos de construção em África, com um valor global de 125,4 mil milhões de dólares. O volume de investimento aproxima-se, cinco anos depois, ao registado no final de 2015

125,4

mil milhões de dólares

CONSTRUÇÃO

O volume de investimento em projectos de construção nos países da África Austral, região que representa hoje 21,4% do total de projectos construídos em toda a África, e 26,6% do volume de investimento global.

N
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2014 2015 2016 2017 2018 119 144,9 109 140 85 93,5 93 89,7 103 125,4
Número de projectos Investimentos em milhares de milhões de dólares

42,4 mil milhões de dólares

ENERGIA

É o segmento que lidera ao nível do volume do investimento no continente.

32%

TRANSPORTES

O sector líder, em número de projectos, nesta região. É seguido pela área do imobiliário com 25%.

CHINA FINANCIADORES

A China assume-se como um dos grandes financiadores, ocupando a segunda posição (21%), sendo ainda o segundo maior ‘exportador’ de empresas de construção para a região.

os projectos mAis

vAliosos por

Energia lidera projectos, Governos financiam e a China constrói Em %

energia imobiliário transportes oil&gas portos água mineração desenv social saúde

sector... 33,8 27,6 16,3 12,8 4,8 2,1 2,1 0,2 0,1

... quem os finAnciA ... 30,1 21,4 17,5 11,7 7,8 4,9 3,9 2,9

governos china privados nacionais outros países dfi ’ s austrália áfrica do sul dfi ’ s africanas

... e quem constrói 40,8 30,1 14,6 4,9 4,9 4,9

privados nacionais china outros países austrália áfrica do sul portugal

“Africa Construction Trends”, estudo da Deloitte de 2018

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FONTE

O género do empreendedorismo

Denise Branco • Investigadora e Consultora em Comunicação Intercultural e Tradução para Fins Empresariais, Técnicos e Científicos

“Os seres humanos pensam através de narrativas e não através de factos, números ou equações, e quanto mais sim ples a narrativa, melhor.” Na sua mais recente reflexão sobre o estado da Humanidade, 21 Lições para o Século XXI, Yuval Harari convida a uma viagem provocadora sobre a(s) narrativa(s) da Humanidade, onde o actual estado de em briaguez dos sentidos, das dimensões intelectual, espiritual e emocional é analisada à luz dos desafios do Século XXI… e XXII. A hipoteca do asset humano é por demais óbvia, juntamente com a eminente falência de sistemas económico-financeiros e sociais considerados inabaláveis. Vivemos, como parte inte grante da Humanidade, um momento de ruptura: perderam -se narrativas; não se sabe como substituí-las; fica um vazio que está ainda por ser compreendido na sua íntegra, mas que confirma que a mudança é uma constante que cada indiví duo, organização, sociedade, nação terá capacidade, ou não, de acompanhar, e com os respectivos efeitos colaterais.

Ao olhar sobre os contextos do mundo, à procura dos padrões de novas narrativas que possam estar a surgir e a influen ciar a forma como as coisas são feitas, acontecem e são comu nicadas, há uma em particular que me chama a atenção: o ac tivismo feminino e as suas diferentes expressões. Se, por um lado, esta é uma luta necessária e urgente, por outro, arrisca levar à perda de uma oportunidade não só de aprendizagem… mas de construção de uma narrativa de transformação. Ve jamos o caso do empreendedorismo. Uma definição geral de empreendedorismo salienta a acção inovadora, o processo criativo de trazer valor acrescentado a uma organização, a uma sociedade por meio de produtos ou serviços. Significa agir. O que é então empreender no feminino? O que o distin gue do masculino? Ao adjectivarmos acções como femininas, ou masculinas, estamos a convidar o perpetuar de modelos não inclusivos e, simultaneamente, a perder o produto final

de uma experiência transformadora, i.e., onde pessoas com percursos diferentes contribuem para o desenvolvimento de soluções globais, que incorporam várias facetas de um mesmo fenómeno. Ao encobrir uma narrativa falida adjectivando-a de feminina, perde-se individualidade e castra-se o potencial inovador de pensar e criar sem limites. Há ainda o risco de reforçar o efeito inverso (e perverso) que, na vez de optimi zar as experiências passadas, compromete o desenvolvimen to colaborativo e promove dinâmicas de oposição. Colaboração exige mais do que oposição. O masculino neste momento pro cura também redefinir-se, está em crise, e sabe que precisa de se reinventar, de criar as suas próprias novas narrativas a nível profissional e pessoal. Importa conseguir distinguir os contextos, identificando as causas pelos nomes, e evitando os perigos das generalizações para que o novo capítulo seja efec tivamente novo, e não o perpetuar de discursos que possam implicar um favorecimento, ou compensação, pelo género e que mais uma vez assentem em princípios de poder. Se hoje as neurociências nos mostram que a intuição é cada vez menos fruto do acaso e que é possível neuroprogramar indi víduos, importa também estar atento e preservar aquilo que mantém integras as comunidades humanas: o seu lado Humano. Mais do que ser contra, é importante estar a favor de uma mudança que acarinhe a Humanidade; que amenize o sofrimento, que nutra e fortaleça o corpo e alma para que a próxima viagem seja uma de colaboração na diferença, e olhando a diferença como um elemento enriquecedor e único para que o potencial máximo de cada indivíduo, de cada organização, de cada nação seja plenamente atin gido, independentemente de questões de género. Importa estar a favor de processos transformativos e não apenas da mudança, pois estes por si só não garantem nem crescimento, nem desenvolvimento.

Mais do que ser contra, é importante estar a favor de uma mudança que acarinhe a Humanidade; que amenize o sofrimento, que nutra e fortaleça o corpo e alma para que a próxima viagem seja uma de colaboração na diferença, e olhando-a como um elemento enriquecedor e único

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 22

Nação

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Mulher

A mulher moçAmbicAnA , ou quAndo querer deveriA significAr poder

Era justo que tudo o que fosse valioso tivesse poder correspondente ao seu valor. Mas nem sempre é assim e todas as fontes apontam a Mulher como um infeliz exemplo disso. No mês em que se evoca a Mulher moçambicana, a E&M reacende uma antiga reflexão sobre o verdadeiro papel na economia, abrindo uma discussão nunca fechada, e tentando perceber até que ponto o espaço que lhe é reservado na economia e na sociedade lhe permite impor-se e melhorar a sua participação no desenvolvimento do país

no mês em que se celebra o dia da mu lher moçambicana, importa relembrar que, ainda hoje, no país, 80% dos assala riados formais são homens, o que signifi ca que os empregos que dispõem de me lhores condições salariais estão, quase que por definição, concentrados na popu lação masculina.

Do lado diametralmente oposto, em ter mos estatísticos, constata-se que 80% das mulheres que estão no mercado labo ral concentram-se na agricultura, sem acesso aos empregos formais. As pou cas que conseguem auferem apenas 63% do salário de um homem, mesmo quan do desempenham funções similares. “Se pudermos elevar estas cifras, imagi ne-se toda a produtividade que seria pos sível obter em Moçambique”, observa, em entrevista à E&M, Peter Holland, líder de programas do Banco Mundial. Antes de mergulhar a fundo nesta ques tão da imparidade, importa referir que a desigualdade de oportunidades entre ho

80%

dos assalariados em moçambique são homens. Por outro lado, 80% das mulheres que estão no mercado laboral concentram-se na agricultura, sem grande acesso a emPregos formais. e as Poucas que o conseguem auferem aPenas 63% do salário atribuído a um homem

mens e mulheres não é um mal do país, mas universal. Muitos especialistas, inter nacionalmente, entendem que nas socie dades capitalistas, historicamente, existe uma divisão em classes sociais e também de género no trabalho, ou seja, há um padrão social no qual homens e mulhe res não ocupam, de facto, posições iguais. O entendimento de especialistas (sobre tudo sociólogos e economistas) é que esta disfuncionalidade resulta de modelos so ciais instituídos ao longo da História e que definem politicamente a organização da sociedade entre quem vai vender a sua força de trabalho, no mercado, e quem fi ca longe dele, a fazer o trabalho domésti co, também considerado trabalho de cui dados, essencial à manutenção de muitas sociedades ao longo dos séculos.

Ao analisar a distribuição ocupacional da Mulher na economia nacional, conclui-se que, além de se aglutinar em sectores on de tradicionalmente os salários são mais baixos, este é o grupo mais numeroso

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Acesso às instituições

Pontuação de Moçambique: 100

Ilustra quão aberto um país é para atrair e reter talentos (pessoas ou empresas), e de origens desfavorecidas sobretudo mulheres e pessoas idosas.

Pontuação de Moçambique: 100

Diz respeito à igualdade de direitos de firmar contratos e administrar bens, incluindo o direito à herança. A desigualdade no acesso a bens prejudica o poder de negociação das mulheres e a sua capacidade de participar em actividades económicas. Se a Mulher tiver acesso a activos (heranças, por exemplo), tem maior capacidade de investimento no seu futuro.

os 7 indicAdores que colocAm A mulher (AindA) longe do poder

um estudo do Banco Mundial intitulado “Mulheres, empresas e o Direito”, publicado em 2018, mostra que, embora haja em Moçambique um conjunto de leis que favorecem o empoderamento económico da Mulher, o país precisa de melhorar o quadro legal na luta contra a discriminação da Mulher no acesso ao emprego, no incentivo à criação de negócios e, principalmente, no acesso ao financiamento. Os dados cobrem um período de dez anos, em 187 países e só Bélgica, Dinamarca, França, letónia, luxemburgo e Suécia conseguiram a pontuação perfeita de 100 pontos.

Pontuação de Moçambique: 62

Sugere a eliminação da discriminação da Mulher por razões de casamento ou maternidade no trabalho. São bons exemplos desta realidade a proibição da demissão por gravidez e a adopção da licença de maternidade remunerada. restrições relativas ao trabalho das Mulheres limitam a sua capacidade de conseguir bons empregos e de maximizar a sua remuneração.

Pontuação de Moçambique: 60

Faz parte deste quadro o apoio às mães, por exemplo, através da disponibilização de cuidados infantis e consequente aumento da participação da Mulher na força de trabalho. O estudo refere que “gastos em ensino infantil e creches, por exemplo, podem aumentar a participação das mulheres na actividade económica e reduzir as desigualdades de género.”

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Mulher
ação
1
Acesso Ao emprego
3
incentivos Ao trAbAlho
4
2
uso dA propriedAde

Pontuação de Moçambique: 100

A desigualdade de género pode afectar negativamente a capacidade das mulheres de aceder ao sistema jurídico. O relatório indica que o acesso à assistência jurídica civil pode reduzir a necessidade de programas de bemestar social, o tempo que as crianças passam em acolhimento familiar e a violência doméstica, o que melhora o envolvimento da mulher no trabalho.

umA bAtAlhA do pAís e de todo o mundo

Não é só em Moçambique que a Mulher tem menos oportunidades do que as que naturalmente deveria ter.

A questão já inspirou várias pesquisas em todo o mundo. uma das mais recentes intitula-se “Mulheres, empresas e o Direito”, produzida pelo Banco Mundial (com contribuições externas), de dois em dois anos desde 2009. Na sua 5ª edição (2018) mede as diferenças de género no tratamento jurídico, com impacto no desempenho produtivo.

Ou seja, toma a lei como o primeiro passo para fornecer uma medida objectiva de como regulamentações específicas afectam os incentivos das Mulheres para participar da actividade económica.

Pontuação de Moçambique: 60

Para elucidar a importância deste indicador, um exemplo: antes da promulgação da lei de Oportunidades Iguais de Crédito nos euA em 1974, os bancos tratavam mulheres e homens de maneira diferente. Quando a lei passou a proibir a aplicação de desconto na renda e a classificação de crédito baseada no sexo, houve impacto positivo no financiamento às mulheres.

O estudo, que abrange 189 economias de todo o mundo, introduz um índice estruturado em sete indicadores que cobrem diferentes estágios da vida profissional de uma Mulher, e que têm implicações significativas para a sua situação socio-económica, nomeadamente o acesso às instituições, uso da propriedade, acesso a emprego, incentivos ao trabalho, acesso aos tribunais, ao crédito e à protecção da mulher contra a violência de género.

também ao nível da taxa de desemprego. A diferença de oportunidades no merca do laboral começa desde cedo nos bancos da escola. Dados do INE indicam uma cla ra desvantagem da Mulher em todos os níveis de ensino: a taxa de escolarização no nível primário é maior nos rapazes (120,6%) que nas raparigas (110,3%), embo ra seja satisfatória (superior a 100%, sig nificando haver muitas crianças abaixo da idade escolar já matriculadas). Só que a situação começa a tornar-se de sigual, a partir do ensino secundário, em que a taxa de escolarização da rapariga cai para 23,5%, enquanto que a do rapaz se fixa nos 24%, o que mostra que a mu lher começa aqui a ser menos competiti va que o homem. Há pesquisas que mos tram uma realidade curiosa: a desvanta gem das mulheres tem prevalecido mes mo quando a mulher tem melhor prepa ração académica e talento profissional. “A divisão de género no trabalho, que se perpetua através de um conjun to de preconceitos e ideias antiquadas que buscam naturalizar a subordinação e inferioridade das mulheres face aos ho mens, expressa-se nos dados da pesquisa que apontam que as mulheres estudam mais, têm maior nível de instrução, mas recebem menores salários do que os ho mens”, revelam duas economistas brasi leiras, Priscila Santana e Eline Matos, nu ma publicação de Junho de 2018, intitula da “Entendendo a economia: Mulher, mer cado de trabalho e Desigualdade”, e que descreve a realidade do seu país.

contrA A violênciA

Pontuação de Moçambique: 100

Nas economias em que os maridos podem proibir a Mulher de trabalhar, ou em que há uma alta prevalência de violência contra elas, têm menos chances de constituir uma conta formal, de poupança ou crédito. Ao mesmo tempo, o assédio sexual no trabalho mina a autoridade, reforça estereótipos de género e reduz a Mulher a um mero objecto sexual.

A boa nova da edição deste ano é que “desde o início da pesquisa, a percepção da importância do empreendedorismo e do emprego das mulheres aumentou significativamente, assim como a compreensão da relação entre a igualdade de género na lei e os resultados económicos das mulheres” na vida real, avança o prefácio do estudo, assinado por Kristalina Georgieva, directora-geral do Banco Mundial em Washington. No entanto, muito há ainda por fazer. “A nível global, mais de 2,7 mil milhões de Mulheres enfrentam restrições legais na escolha das suas actividades profissionais”, revela o estudo. A posição de Moçambique tem melhorado mas há ainda áreas em que muito existe por fazer.

*As pontuações para cada indicador variam de 0 a 100, sendo 100 o melhor resultado. Cada indicador, por sua vez, abarca outros sub-indicadores específicos, totalizando 50 pontos.

uma visão mais profunda Em Moçambique não se pode referir a lu ta pela igualdade da condição de género sem se utilizar o termo “empoderamento”. É, no fundo, o reconhecimento de que se es tá a colocar na margem quem tem poten cial para (também) estar no centro do pro cesso de produção, do desenvolvimento e até de decisão. E liderá-lo até.

A E&M foi em busca da informação já veicu lada a esse respeito. Mas, mais do que isso, buscou a visão de intervenientes de di versos sectores, para perceber a realida de a partir dos diferentes pontos de vista. “Ainda estamos numa sociedade que con tinua a ser machista. Uma sociedade em que se ela (a mulher) for casada, o ma rido não deixa grande espaço para que consiga desenvolver-se na medida em que tem as tarefas de casa. Então, ela lu ta não só contra os desafios que lhe sur gem pela frente (gestão da carreira ou do seu negócio), mas contra os conflitos diá rios da dura realidade que ainda a ofusca”,

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Acesso Aos tribunAis
5
Acesso Ao crédito 6
7
protecção

Nação

MulhErEs EM Maior NúMEro…

A proporção de população feminina tem aumentado ao longo dos últimos trinta anos, de forma ininterrupta

…. Mas MENos participativas

O índice de paridade de género mostra que, em quase todos os grupos etários, há maior participação de homens

1,06 0,98 0,99

1 1 1 1 *A pArtiCipAção nAs ACtividAdEs EConómiCAs mostrA Como As pEssoAs ContribuEm Com AlgumA ACtividAdE pArA A EConomiA (não nECEssAriAmEntE AtrAvés do EmprEgo formAl). A rECtA Cor-dE-lArAnjA (quAndo o índiCE dE pAridAdE do génEro é iguAl A 1) é o ponto dE Equilíbrio Em quE homEns E mulhErEs, hipotEtiCAmEntE, tEriAm A mEsmA Contribuição homens mulheres

20-34

considera a economista Tânia Tomé. Já a pesquisadora de assuntos relativos à Mulher do Observatório do Meio Rural (OMR), Aleia Rachide, anota que “a mulher rural trabalha muito, mas esse seu tra balho não é, muitas vezes, suficientemen te visível, porque não se consegue conver ter em valor financeiro o que produz com o tempo dispendido em tarefas domésticas. O mesmo acontece com a sua contribuição na produção alimentar e no comércio, ge ralmente informal. O resultado disso é que no campo a pobreza tem de facto o rosto feminino”, reitera.

O peso da intervenção masculina sobre a independência económica da mulher ain da é marcante em Moçambique. “Há al guns anos, para uma Mulher obter cré dito bancário tinha de ter autorização

economista

“É exactamente pelo facto de ter mais desafios que a Mulher tem mais poder de fazer a diferença. Por isso acho que nós, mulheres, devemos olhar pela perspectiva dos desafios que enfrentamos, e não a de sermos vítimas da sociedade onde nos inserimos”

de um homem, fosse ele esposo, irmão ou outro familiar” recorda Rosita Alberto Va loi, Presidente do Caixa Mulher, uma insti tuição de microcrédito criada para assistir às necessidades das mulheres empreende doras nacionais. “Sabemos que o preconcei to de género continua a ser o principal en trave ao empreendedorismo feminino, não só em Moçambique mas por todo o mun do. Mesmo nos mercados mais desenvolvi dos, essa é uma realidade ainda muito pre sente. Mas há um caminho que tem vindo a ser feito, com sinais de progresso, só que ainda com muito por fazer”, refere Liliana Catoja, administradora do Millennium bim.

banco mundial: “mulher, o foco para a mudança” No fundo, tudo depende da remoção de barreiras que cortam o potencial

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Mulher
âT n i a Tomé
milhões 1975 1980 1997 2007 2017 5
7
Em
171 5 909
703 9 930 13 801 5 456 6 222 8 373 10 702 15 061 15-19
35-54 55+ 0,9

produtivo da Mulher. Muitos destes obstá culos, que não parecem ter qualquer re lação entre si, e com os problemas do gé nero que impactam a economia, incluem a violência de género, o acesso à educação e à saúde sexual e reprodutiva. ”Se quiser mos erradicar a pobreza em Moçambi que, nada há que tenha um maior impac to para o alcance desse objectivo do que colher o que se chama de dividendo de mográfico, que é o rácio da população que contribui na economia em relação à popu lação que está dependente dos demais”, argumenta Peter Holland, líder de programas do Banco Mundial, em entrevista à E&M.

Os cálculos do Banco Mundial prevêem que o PIB per capita, em 2050, poderá ser 31% mais elevado, em termos

reais, se a taxa de fecundidade se re duzir em um filho por mulher. “Esse poderia ser, de facto, um impacto gi gantesco. Podemos dizer que nada pode, hoje, ser tão decisivo e fazer baixar de tal forma os índices de pobreza do que esta medida”, considera o especialista.

mas como é isso possível? No meio urbano, cada moçambicana tem, em média, 5,9 filhos, uma das mais ele vadas taxas de fecundidade em todo o mundo. Em 40% dos agregados mais po bres, nas zonais rurais, cada Mulher che ga a 7,2 filhos em média sendo que as es tatísticas do Banco Mundial apontam para um decréscimo para os 5,7 filhos. Estes números são assustadores e, de um modo geral, a taxa de fecundidade real é

quE

90 93,5

américa latina e caribe

europa e ásia central média mundial

ásia oriental e pacífico

áfrica subsaariana sul da ásia médio oriente e norte da áfrica

há dez anos, nenhum país havia alcançado 100 pontos em todos os indicadores. hoje, são seis: Bélgica, Dinamarca, França, letónia, luxemburgo e Suécia conseguiram criar as condições para não haver distinção entre homens e mulheres 2009 2018

75,4

ocde 80,1 70,1 64,8 64 50 50

84,7 74,7 70,7 69,6 58,4 58,4

79,1

demasiado elevada e tem efeitos nefastos. Sociais e económicos. E, claro, também ao nível do género, porque se torna im possível imaginar como é que uma Mu lher com cinco, seis ou sete filhos pode ter, de facto, uma participação efectiva na economia formal.

Outra forma de empoderar é, de acordo com os especialistas, atacar a violência baseada no género. Olhando para Mo çambique, há indicadores preocupantes: 75% das raparigas dizem que a sua es cola não é segura e 70% que contactam ou já tomaram contacto com professores que trocam favores sexuais pela apro vação de ano. “É uma questão fundamen tal a combater, num país em que 48% das meninas com menos de 18 anos já têm um bebé”, defende Holland, sublinhando que,

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fontE Estudo de Especialistas do banco mundial initulado mulheres, Empresas e o direito” publicado Em 2018 MuNdo avaNça… só lENtaMENtE

Nação

Para o Banco Mundial, o mundo digital e a inclusão financeira são instrumentos encorajadores no empoderamento da Mulher, e com um considerável efeito multiplicador por toda a sociedade.

e é essa a mudança que deverá possibilitar, e de forma muito rápida, que a Mulher consiga angariar poupança e a possa depois investir, ou reinvestir em actividades produtivas, de forma progressiva, até baixarem os índices de pobreza. “hoje há uma faixa de apenas 27% das mulheres que utilizam, de alguma forma, pagamentos digitais. Posso dizer que temos um projecto de inclusão financeira que vai elevar a cobertura até aos 40% nos próximos quatro anos”, revela Peter holland o representante do Banco Mundial, para quem o factor mais crítico nesta luta continua a ser a base de tudo: “a fraca protecção da rapariga ao nível da educação e da escola”, assume.

“se baixar a fecundidade dos adolescentes, haverá vários ganhos para a rapariga, não só porque terão mais tempo para frequentar a escola e se formarem nas mais variadas áreas de actividade pro fissional, mas porque, ao evitarem a gra videz precoce, evitarão mortes associa das a partos prematuros, ainda hoje um problema também endémico da nossa sociedade”. Tudo isto, para além de gan hos humanos e sociais, vem acompanha do de contributos efectivos no desempe nho da economia nacional.

mais cumpridoras e melhores pagadoras… É factual, e o mercado financeiro reco nhece-o, em números e nas acções e pro dutos disponibilizados ao mercado. Ao perceberem que a Mulher é considera da melhor gestora de capitais próprios e, ela própria, mais capaz de assegurar retorno dos empréstimos, os bancos não têm poupado esforços em iniciativas pa ra o empoderamento feminino. Os exemplos são diversos e para todos os gostos. Começando pelas iniciativas de di mensão mais imediata, não é incomum, em todos os mercados da capital, coinci dirmos com vários grupos de poupança

ao perceberem que a Mulher é considerada melhor gestora de capitais próprios e, ela própria, mais capaz de assegurar retorno dos empréstimos, os bancos não têm poupado esforços em iniciativas para o empoderamento feminino.

e associações de crédito formados com a intenção de apoiar a Mulher, sobretu do do sector informal. Ao mesmo tempo, vão proliferando os bancos e instituições de microcrédito com o mesmo propósito. Uma destas iniciativas com uma ba se assente no género é a Caixa Mulher. Sedeada na Cidade da Matola, nos arre dores de Maputo, surgiu de uma iniciati va de 15 pequenas empresárias que há cinco anos juntaram fundos (de até 5 mi lhões de meticais) para facilitar a activi dade produtiva da Mulher na economia. Mais tarde, a instituição veio a ser maio ritariamente participada pela Gapi-SI, instituição de financiamento ao desenvol vimento de capital misto, público e priva do, apoiada por mecanismos e fundos in ternacionais investimento para o desen volvimento sustentável.

Ao longo dos anos terá apoiado e fei to a diferença na vida de largos milha res de Mulheres da cidade e da pro víncia de Maputo. “Antes, a Caixa foi ca paz de emprestar até 600 mil meticais para mulheres envolvidas em projec tos estruturantes do sector agro-indus trial, mas hoje os empréstimos variam entre 5 mil e 100 mil meticais, a uma

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Mulher

taxa de juro fixa de 4%, muito mais baixa do que a da banca comercial”, explica a PCA da Caixa Mulher, Rosita Valoi.

Mas há outras iniciativas que visam bene ficiar a Mulher, numa óptica de compen sação das diferenças latentes, que ainda a afastam do real poder dos nossos dias: o de serem donas do seu próprio destino. E não são só micro-bancos, ou institui ções focalizadas na ajuda ao desenvolvi mento. A própria banca comercial tem vindo a despertar para estas questões. Liliana Catoja, administradora do Millen nium bim, revela que a instituição “tem hoje um conjunto de produtos desenhados a pensar na Mulher”, e dá como exemplos o ‘Solução Mulher’ e o ‘Crédito Mulher Empreendedora’.

A primeira é um cartão de débito perso nalizado com acesso a um seguro de saúde. Dispõe de cobertura de despesas de parto e tratamentos médicos para enfermidades como o cancro do colo do útero e o cancro da mama. E também inclui descontos em estabelecimentos comerciais parceiros. O cartão tem ainda uma componen te de responsabilidade social, uma vez que cada transacção efectuada corres ponde a um apoio à formação “Líder em

Maior dEsEMprEgo fEMiNiNo ENtrE os iNstruídos…

há mais mulheres desempregadas com o grau de escolaridade concluído a partir dos 15 anos

Em %

Mais MulhErEs... só MEsMo Nas actividadEs MENos rENtávEis

Olhando aos sectores de actividade, há uma maior concentração na agricultura do que na indústria índice de paridade de género

26,7

23

Homens

….

em %

E os Não iNstruídos

Maior parte das ocupações que não exigem nível escolar também são realizadas por homens

32,4 15,3 17 16,3

Homens

Mulheres Mulheres

Média Média

Mim”, integrada no projecto Girl Move Academy, uma instituição que, na Beira, promove o empreendedorismo femini no, e que consiste num plano de poupança com base num depósito a prazo com juros atractivos, acima da média do mercado. Já o ‘Crédito Mulher Empreendedora’ foi desenhado para permitir acesso a um crédito que facilita a concretização de projectos profissionais, e o empreen dedorismo feminino. Mas é justo referir que quase todos os outros bancos comer ciais do mercado têm começado, nos últi mos anos, a olhar para a Mulher de for ma específica nos seus produtos, casos do BCI, Único, Moza, Barclays, Standard Bank ou do Banc ABC.

esquecidas no meio rural Se, ainda assim, a Mulher consegue ter al guma visibilidade e melhores oportuni dades nas grandes cidades, o mesmo não se pode dizer da realidade no meio rural. Aleia Rachide, pesquisadora do OMR para a área de género, explica que, nesse con texto, “e porque a agricultura é normal mente voltada para a produção alimentar de subsistência e não de culturas de ren dimento, a sua capacidade de melhorar

agricultura, silvicultura e pesca comércio e finanças outros serviços indústria transformadora serviços administrativos energia transportes e comunicações indústria extractiva e minas construção

1,43 1,01 0,44 0,38 0,37 0,13 0,05 0,04 0,01

quAndo o índiCE dE dispAridAdE do génEro for iguAl A 1, há iguAldAdE dE pArtiCipAção EntrE homEns E mulhErEs; quAndo for mAior quE 1, o dEsEquilíbrio é fAvorávEl às mulhErEs E; quAndo infErior A 1 é fAvorávEl Aos homEns.

a renda e os índices de qualidade de vi da é ainda mais complicada”, explica. Para fazer face à pressão da pobreza, a mulher rural adopta o comércio infor mal de produtos alimentares, alguns dos quais processados, sendo comum coloca rem bancas de venda de sal, açúcar ou óleo alimentar.

A dificuldade deste grupo é depois agra vada pelo seu fraco nível de escolaridade (ver quadro na página seguinte).

Aleia Rachide considera que “despertar a sensibilidade dos decisores em empo derar a mulher rural passa por avaliar quais seriam os danos económicos das comunidades se as Mulheres se retiras sem do seu trabalho dentro da família, na produção de alimentos ou no comércio.” Seria algo impensável, mas daria para ter uma noção da sua real importância, tantas vezes invisível aos olhos (e contas) da grande economia.

E a pesquisadora consubstancia a sua opi nião de que “é, de facto, preciso que os di ferentes sectores tenham, efectivamente, maior e melhor coordenação estratégica. Existem vários pequenos programas e planos de género adoptados por al gumas instituições públicas, mas que

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Nação

EM dEsvaNtagEM taMbéM Na Educação

não estão a ser implementados com o rigor e a abrangência necessários. Precisamos de bons programas de edu cação, formal e informal, porque é aí que está a semente de uma mudança que, dia após dia, tarda para milhões de mulheres moçambicanas”, alerta.

vontade de mudar

A este nível, a consciência de empoderar a Mulher já resultou em diversos progra mas públicos que visam uma interven ção efectiva. Criticados ou não por esta rem a ser implementados ou pela sua (in) eficiência, eles existem, e não são poucos. O Banco Mundial considera que “o empo deramento tem uma forte dimensão da componente da saúde sexual e reprodu tiva, onde entram em jogo aspectos cultu rais socio-económicos. E já trabalha com o Ministério da Saúde para oferecer mais e melhores serviços e cuidados a este nível. Em relação a este aspecto, existe o Pro grama Baseado em Resultados, cuja ideia é elevar dos actuais 9% para 20% o núme ro de Mulheres que recebem, pelo me nos, quatro visitas pré-natal na fase de gestação e até aos três anos. “Se o Governo conseguir elevar essa cifra irá receber

31%

É quanto deverá aumentar o rendimento Per caPita, em moçambique, atÉ 2050, se a taxa de fecundidade baixar um filho Por mulher, de acordo com os cálculos do banco mundial

10 milhões de dólares de incentivo para criar programas similares”, comprome te-se Peter Holland. E o Banco Mundial também está a financiar programas de educação, em parceria com o Ministério da Educação e Cultura, que visam a me lhoria da performance dos professores, e a qualidade do ensino de um modo ge ral, avaliados em 250 milhões de dólares. Aí, uma das áreas de intervenção priori tárias incide no acompanhamento da ra pariga orientado para um trabalho coor denado com as comunidades através do Ministério da Juventude e Desportos no sentido de manter as raparigas na esco la, garantindo-lhes materiais adequados, uniforme escolar (porque este é um dos maiores custos indirectos que retiram a rapariga da escola), e a oferta de bici cletas para que tenham melhor mobili dade, como prémio para as que transi tam do nível primário para o secundário. Na Zâmbia e na Índia, a ideia resultou. Em Moçambique, será necessário mais do que isso. Só que lhes seja feita justiça.

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Mulher
Em % Ensino primário Ensino secundário 120,6 110,3 115,4 *no Ensino primário, A tAxA brutA dE EsColArizAção médiA é ACimA dE 100%, porquE ExistEm Alunos mAtriCulAdos quE não Estão nA idAdE ofiCiAl pArA frEquEntAr A EsColA fontE inE 24 23,5 23,7 homens mulheres média
A cobertura do ensino, a todos os níveis, é maior nos homens do que nas mulheres, apesar de a população feminina do país ser superior (52%)
Educação é a base do problema. E a sua principal solução textO Celso ChaMbisso FOtOGrAFIA Jay Garrido, istoCk Photo

“Há oportunidades mas não sabemos onde, nem como aceder a elas”

soFia cassimo Presidente do Pelouro da Mulher Empresária na CTA e vice-presidente da Federação das Mulheres Empresárias e Empreendedoras

o enquadramento e a im portância da Mulher na eco nomia não difere, na essência, do papel que assume noutros domínios da vida em socieda de. Sofia Cassimo, Presiden te do pelouro da Mulher em presária na CTA – entidade que representa oficialmen te o sector privado nacional –fala, por isso, de uma eviden te “desigualdade de oportuni dades”, e foca a raiz do proble ma na “falta de instrumentos que orientem o empresaria do ponto de vista legal”, uma lacuna “que pesa mais sobre as empresárias”, especial mente as jovens. Sendo que o seu pelouro é dos mais recentes a terem si do criados, já a luta com que se depara, em busca de fer ramentas para empoderar a Mulher moçambicana é já bem antiga.

Que fundamento levou à criação do pelouro da Mu lher Empresária na CTA? Se olharmos para a demogra fia vemos que existem mais mulheres no país. E, só por aí, não pode ser verdade que es tes grupos não tenham capa cidade de desenvolver em preendimentos de sucesso.

O que acontece é que, siste maticamente, é sempre o mesmo grupo que tem acesso a oportunidades de negócio e aos meios para criar rendi mento e é preciso reverter essa tendência. É nisso que te mos estado a trabalhar.

Há certa confusão em defi nir o que são empresárias, e quem são, sobretudo por que muitas proprietárias de micro-negócios são geralmente assim chamadas. Qual é a fronteira que per mite uma distinção clara? E temos, de facto, um empre sariado feminino assim tão representativo? na minha opinião, temos em presárias e empreendedoras. O empreendedor traz um fac tor distintivo, quer no modelo de negócio, quer no desenvol vimento do tipo de produto ou serviço que oferece ao mer cado. Ou seja, vê uma oportu nidade de mercado ou uma demanda que não está a ser suprida e cria uma solução.

Segundo essa lógica, há mais empresárias do que empreendedoras… Claro que sim. infelizmente, o ine não nos consegue dizer

do ToTAl do ProCuremenT PúbliCo AdjudiCAdo

A emPreSAS nACionAiS, Só 17,2% vAi PArA

quantas empresas detidas por mulheres temos em Mo çambique, nem as áreas em que elas operam ou, muito menos, quantas mulheres são accionistas em empresas.

Muitas vezes, não pare cem claros os motivos pe los quais se atribui à mu lher um potencial elevado, quando a realidade de mui tas delas passa por ter de lidar com a informalidade e limitações financeiras e de literacia… Haverá algum estudo que demonstre o seu real potencial? um relatório do departamen to para o desenvolvimento in ternacional (dFid, na sigla em inglês) refere que as mulhe res perfazem 82% da infor malidade em Moçambique. Destes, 37,5% consegue um volume de negócios de mais de 600 mil meticais. Se es tão dentro da informalidade, significa que estão limita das de explorar em pleno a sua competitividade porque não podem firmar contratos. Além disso, do total do procu rement público adjudicado a empresas nacionais, só 17,2% vai para as mulheres. E sabe mos que estes são contratos muito grandes. Se juntarmos estes 17,2% (que conseguem adjudicações do Estado) aos 37,5% (com volume de negó cios de mais de 600 mil me ticais) e se os potenciarmos, conseguiríamos um volume considerável de recursos, em termos de encaixe, para a economia, provenientes só de mulheres (não todas) do sec tor informal.

Há inúmeros factores que dificultam a imposição da mulher no ramo empresa rial. Quais são os principais? Falta-nos muito disciplina e

Na voz de... www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 34 Mulher
AS mulhereS e SAbemoS que eSTeS São ConTrAToS muiTo grAndeS
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boas práticas. Muitas mulhe res usam a empresa como se fosse a sua conta bancária, o que não pode ser. Desde o ano passado, temos trabalha do, como pelouro, na tradu ção deste tipo de informação para evitar erros de com portamento no ramo empre sarial. Por exemplo, o banco Mundial anunciou um fundo que poderá apoiar a activida de produtiva da mulher em preendedora de Moçambi que. Estamos a receber muito interesse de candidatas, mas está tudo ainda na fase em brionária (falta mapeamento, criação de um comité, defi nição das áreas prioritárias de incidência do fundo), mas garanto, desde já, que quem não tiver o seu negócio bem estruturado, incluindo a con tabilidade organizada, não terá acesso, mesmo sendo verdade que as mulheres são financeiramente mais res ponsáveis do que os homens.

Os obstáculos, certamente, vão muito além da discipli na e boas práticas… O ponto de partida é a falta de informação a todos os níveis. Como registar uma empre sa, porquê o pagamento de impostos, ou como e quando pagar. Toda esta informação tem de ser disponibilizada em linguagem acessível, já que o nível de literacia no nosso país é ainda fraco. Daí que uma das coisas que o nos so pelouro quer elaborar, ain da este ano, é um manual do empreendedor onde estará aglutinada toda a informação necessária a este respeito. Também iremos criar uma app com todos os procedimen tos que deve tomar e os pra zos de pagamentos do iSPC, inSS, entre outras obrigações.

A carga fiscal tem sido mui tas vezes colocada pela CTA como um dos obstáculos ao desenvolvimento do em presariado nacional… Sem dúvida. Essa é uma das nossas áreas prioritárias de

Desafio da formalização ainda está em cima da mesa em milhares de pequenos negócios

intervenção enquanto pelou ro. Entendemos que pessoas com micro-negócios, como carpinteiros, canalizadores, pequenos comerciantes, por exemplo, não deviam pagar o iSPC, e poderiam ser taxa das pelos municípios, como acontece no brasil e noutras geografias. os municípios, por sua vez canalizariam parte (até 40%) destes impostos à Autoridade Tributária (AT). Esta medida permitiria re duzir a carga de trabalho da AT em ter de controlar os pequenos comerciantes, direccionando os esforços na adopção de políticas para os contribuintes que mais lhes interessam (com maior vo lume de negócios), ao mesmo tempo que aliviaria a carga fiscal dos micro-empresários.

“enTendemoS que PeSSoAS Com miCronegóCioS, Como CArPinTeiroS, CAnAlizAdoreS, PequenoS ComerCiAnTeS, Por exemPlo, não deviAm PAgAr o iSPC, e PoderiAm Ser TAxAdAS PeloS muniCíPioS, Como AConTeCe no brASil e nouTrAS geogrAFiAS”

o quénia e o ruanda aplica ram esta regra e, em pouco tempo, reduziram a infor malidade em mais de 70%. Em Moçambique sinto que as políticas são descoordenadas, sem qualquer perspectiva de médio ou longo prazo.

Qual será o papel da Mulher no debate do conteúdo local? Temos uma grande discussão em torno da lei de Conteúdo nacional, que já vem de há anos e percebemos que não havia nada plasmado para as mulheres e jovens. neste aspecto, propusemos que a lei previsse que os grandes empreendimentos definis sem, por exemplo, 30% do procurement nacional des tinado a mulheres, e privile giasse também as portadoras

Na voz de... www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 36
Mulher

de algum tipo de deficiência, uma vez que temos muitos deficientes que já têm os seus negócios. na SAdC isto acon tece ao nível do procurement público e privado. não acredi to que não haja empresas de mulheres (catering, despa chantes aduaneiras, etc.) que não sejam capazes de prestar bons serviços. Vemos siste maticamente que as oportu nidades andam por aí, mas não sabemos onde estão nem como ter acesso a elas.

Que avanços foram já al cançados pela CTA?

O pelouro é muito jovem, foi criado neste mandato da CTA, em 2017, e levámos os pri meiros 18 meses a fazer o mapeamento do sistema. Pri meiro, procurámos encontrar

casos de mulheres que têm negócios de escala e que real mente devem ter acesso às mesmas oportunidades que os outros têm. E depois juntá mo-nos ao Governo para que, enquanto legislador, possa ajudar a criar sinergias para que as grandes preocupações relacionadas com o género e a juventude sejam debatidas. Quando se criam políticas na Autoridade Tributária, somos chamadosaparticiparnodebate. Ainda recentemente, aquan do da revisão do regime tributário do iSPC, enviámos a nossa proposta, que refere não ser justo que haja uma carga fiscal elevada sobre os empresários, sobretudo os de pequena dimensão, embora percebamos que os impostos são um fundamento impor tante para a definição do oe Por isso propusemos a cria ção de um imposto anterior (inferior) ao iSPC, para pe quenos negócios – como se faz na índia e no brasil, por exemplo –, assumindo-o como imposto a ser cobrado sobre empreendedores com me lhor capacidade financeira.

Se fosse possível remover todas as barreiras que im pedem a Mulher de explo rar o seu potencial produ tivo, até onde chegaria a economia moçambicana? Seríamos capazes de trazer grandes mudanças ao país. Tenho estudado países como o ruanda, uganda ou quénia, que, há cerca de 15 ou 20 anos, se aperceberam que tinham de apoiar mulheres e jovens para assegurar que este grupo de milhões de pessoas contribuísse para o desen volvimento económico. E isso aconteceu. Às vezes fechamo -nos muito cá dentro e não ve mos o que acontece à volta, e há bons exemplos nestas ma térias, aqui bem perto. Por que não segui-los?

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O Mercado de Capitais como catalisador para o Desenvolvimento económico

há 11 anos tive a oportunidade de entrar para uma das áreas que pessoalmente considero das mais interessantes do sector financeiro, a área de mercados. Este segmento, principalmente em Moçambique, tem algumas particularidades que, na verda de, são comuns a muitos dos países africanos pela natureza da sua economia: por serem detentores de diversas matérias-pri mas e, ao mesmo tempo, serem deficientes na indústria de pro cessamento e de transformação. Nessa perspectiva, as políticas macroeconómicas têm-se focado fundamentalmente a tentar resolver questões estruturais da economia, voltadas para po líticas de controlo cambial, uma vez que estas economias apre sentam uma balança de pagamentos deficitária, pois o país im porta mais do que exporta e, nessa medida, a moeda local apre senta uma vulnerabilidade elevada a choques económicos. Nu ma outra perspectiva, o aumento do consumo interno, fruto do crescimento da população e do PIB per Capita, impacta os níveis de inflação e condiciona a gestão da política monetária. Neste contexto, os dois mercados que mais sobressaem neste ti po de economias são o cambial e o monetário. Entretanto, nes ta ânsia de controlar as principais variáveis macroeconómicas, acaba por se negligenciar, de certa forma, o terceiro mercado, que é o mercado de capitais e que, no meu entender, é igual mente de grande importância para a estabilidade do merca do financeiro e para o crescimento e desenvolvimento social e económico de um País.

É através do mercado de capitais e dos seus intervenientes que os agentes superavitários e desejosos em rentabilizar o seu ca pital e os agentes deficitários à procura de se capitalizarem se encontram. Um mercado de capitais eficiente e líquido passa a ser uma alternativa de financiamento ao tradicional financia mento bancário e uma alternativa de investimento aos tradi cionais depósitos a prazo.

Um mercado de capitais desenvolvido e activo, significa que as pessoas ou agentes económicos são mais conscientes dos seus

papéis na sociedade, têm uma visão de futuro e estão dispostos a sacrificar algo “hoje” para benefícios futuros. Naturalmente, não podemos ignorar o facto de que é difícil insti tuir uma cultura de poupança e de investimento quando as pes soas mal têm o que comer e estão preocupadas em sobreviver. Mas esta mudança de mentalidade tem de ser iniciada de for ma a permitir que gerações futuras tenham melhores níveis de vida. Introduzir educação financeira nas escolas e univer sidades para que os jovens de hoje ganhem essa consciência e passem a controlar de maneira mais consciente o seu futuro deve ser uma preocupação da nação. Em Moçambique, a cultu ra de investimento ainda é pouco estimulada, quer seja por des conhecimento deste mercado, pelo baixo nível de renda e pou pança ou até por medo ou receio de investir. Diversos autores consideram o desenvolvimento do mercado financeiro como um dos principais sinais do aperfeiçoamen to económico de uma nação. O desenvolvimento dos países eu ropeus e dos EUA, por exemplo, foi impulsionado pela contínua evolução e sofisticação do mercado de capitais e pela eficiên cia na gestão de poupanças. Estudos indicam que uma econo mia com um mercado de capitais desenvolvido pode gerar em prego e aumentar a renda da população e quanto mais desen volvida é uma economia, mais activo é o seu Mercado de Capi tais e toda a sociedade é beneficiada à medida que este cum pre aquelas que são as suas quatro principais funções: mobi lização da poupança, gestão de riscos, alocação eficiente de re cursos e aumento da disciplina corporativa através da partilha de informação por parte das empresas que captam os recur sos, o que induz a maior disciplina e transparência do mercado. O resultado é que toda a sociedade é beneficiada com mais em prego, renda, investimento e crescimento económico. O mercado de capitais está disponível a investidores de to dos os escalões sociais, permitindo desta forma que a socie dade no geral tenha acesso a oportunidades de multiplica

Entretanto, nesta ânsia de controlar estas variáveis macroeconómicas, acaba por se negligenciar, de certa forma, o terceiro mercado, que é o de capitais e que, no meu entender, é igualmente de grande importância para a estabilidade financeira e para o crescimento e desenvolvimento social

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 38

ção da poupança e de geração de renda, promovendo des sa forma um desenvolvimento social equilibrado e inclusi vo. Isto só acontece quando as operações públicas de subscri ção tanto de acções como de obrigações requerem um valor mínimo de subscrição reduzido e ao alcance de detentores de pequenas poupanças Através do mercado de capitais, não só poupanças locais são cap tadas como também a poupança externa, o que aumenta a en trada de capitais estrangeiros no País. Para as economias em desenvolvimento, como é o nosso caso, e com uma balança de ficitária, como mencionei acima, a entrada de capitais exter nos contribui para um maior equilíbrio do mercado cambial. Um dos principais motores do mercado de capitais é a Bolsa de Valores, o ambiente de negociação no qual os investidores podem comprar ou vender os seus títulos com o auxílio de intermediá rios financeiros. Actualmente a Bolsa de Valores de Moçambique tem uma capitalização bolsista de cerca de 1,4 mil milhões de dó lares, cerca de 9% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que, se olharmos para a nossa vizinha África de Sul, a capitalização bolsista esta acima de 1,1 biliões, correspondendo a 316% do PIB, comparando com uma média da região africana de 55% do PIB. Quero com isto demonstrar que o mercado moçambicano de ca pitais ainda não atingiu os níveis de actividade próximos dos ob servados em outras praças da região, e que ainda não é um ins trumento que motive o crescimento económico.

Há, dessa forma, a necessidade de fazer crescer o número de empresas cotadas na Bolsa de Valores, que conta apenas com sete entidades, de aumentar o número e volume de ofertas de subscrição e fazer igualmente crescer o volume de transac ções diárias para que as entidades locais e os investidores, pos sam beneficiar de um mercado de capitais transparente, líqui do e eficiente.

Eventualmente, para atingir estes objectivos, haverá necessi dade de se proceder a algumas reformas ou ajustamentos das políticas de investimento em bolsa, de forma a atrair mais in vestidores e cada vez mais empresas. Outras melhorias pas sam por plataformas electrónicas e de fácil acessibilidade, par cerias com as bolsas da região e, quiçá, reformas a nível fis cal, de forma a atrair mais investimento local e estrangei ro para que o mercado de capitais possa contribuir para um desenvolvimento económico e social sustentável.

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província Beira

Um recUo imensUrável

Nada nem ninguém permanecerá o mesmo na cidade da Beira, depois do ciclone de Março passado. Das várias lições aprendidas, o valor da solidariedade é a mais impressionante de todas. Um aprendizado decisivo para uma sociedade que não teria outra alternativa de sobrevivência que não fosse o “cada um por si”. Permaneceu o “Todos pela Beira”

quanto tempo será necessário para devolver estrutura a uma província que, em poucas horas, perdeu tantas vidas? Em quanto tempo é possível recuperar a economia construída ao longo dos 112 anos de uma cidade? Por onde começar? Como agir e o que esperar da vida na ci dade da Beira e em toda a província de Sofala daqui em diante? Todos estão ávi dos de respostas a estas questões. A reportagem da E&M esteve na cidade da Beira e testemunhou cenários de so frimento e destruição, mas também de esperança num novo começo, que abre espaço para o rápido reerguer de todo um povo. Por ali, todos parecem apressa dos em reconstruir as casas, estaleiros e empresas que não aguentaram, firmes, a força devastadora do Idai.

província sofala

capital Cidade da beira área 68 000 km² população 2,2 milhões região Centro

A Construa, por exemplo, uma das mais importantes empresas de materiais de construção da cidade da Beira, sofreu da nos e estava encerrada até ao fecho des te artigo. Com 90% das casas sem tecto (em pontos da cidade onde as constru ções tinham melhor consistência), e habi tações totalmente desfeitas (onde a qua lidade das construções era relativamen te inferior), toda a cidade se mobilizava em busca de meios para refazer os da nos, na primeira tentativa de retomar a vida normal depois do pior.

Mas aqui o poder de compra provou que nem sempre é uma solução infa lível para problemas desta natureza. Para já, em finais de Março, centenas de pessoas estão em centros de acolhimen to espalhados pela cidade, por tempo

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indeterminado, simplesmente porque não têm para onde ir. Perderam tudo. Já os que estão no centro da cidade têm aquilo que, perante tudo o que se vive por ali, é um privilégio: permanecer em ca sa, ou quatro paredes, mesmo sem tecto. Muitos edifícios, de facto, têm agora lonas no lugar do telhado, uma solução tempo rária para lidar com as chuvas que ain da caíam nos dias que se seguiram à ca tástrofe. Resultado disso é que o preço do próprio improviso quase duplicou. “Entra muita água e praticamente chove den tro da minha casa. A solução adequada seria encontrar e montar telhas e fibro cimento (mais conhecido por lusalite), mas o mercado não tem. E esta lona custou-me quase o mesmo que o material apropria do”, revela José Paulo, engenheiro civil residente no bairro Macuti.

A fome

“Nada pode ser tão mau que não possa piorar”. O dito popular encontra eco nos eventos que se vivem na cidade da Beira. Não bastasse não poder escapar à des truição das chuvas e dos ventos de 170 km/h, veio a fome. Dezenas de pada rias cederam à fúria do Idai e os cerca de 540 mil habitantes da cidade (segun do o anuário estatístico do INE de 2017) fo ram, durante dias, alimentados por ape nas três panificadoras. As consequên cias são óbvias: o preço quase duplicou e o consumo do pão tornou-se um privi légio de poucos, não só pelo preço, como pela incapacidade das unidades em fun cionamento em atender a demanda, em forma de fila interminável, na porta. Também subiram desregrada e acen tuadamente os preços de praticamen te todos os produtos alimentares, peran te uma crónica falta de dinheiro na cida de, principalmente ocasionada pelo apa gão que, por vários dias, impossibilitou operações financeiras electrónicas (em bancos ou via mobile). A farinha de milho, por exemplo (um dos alimentos que não faltam à mesa dos beirenses), custava 40 meticais o quilo e passou para os 70 me ticais. O abastecimento da água, electri cidade, combustíveis, telecomunicações e outros serviços públicos começava, nos úl timos dias de um mês para esquecer, a dar sinais de regressar à plenitude, quando passavam duas semanas após a tragédia. Mas não se deve esperar a mesma coi sa em relação aos preços que, segun do empresários com quem a E&M man teve contacto, “devem continuar eleva dos por mais tempo”, já que dependem da “retoma da estabilidade e sobretudo da

os grAndes números de UmA enorme trAgédiA

Os números da devastação causada pelo idai eram massivos até ao fecho desta edição (29 de Março)

As feridAs AbertAs...

O idai foi tão grande, quanto inesperado em tudo. Da força dos ventos até à enormidade das consequências

PoPulação afectada (Pessoas) 794 035 Pessoas salvas 128 941 alunos afectados 90 756 culturas totalmente destruídas (ha) 36 747 GruPos vulneráveis 6 563 salas de aula 3 140 feridos 1 522 Óbitos 501 unidades sanitárias 45

... os meios AlocAdos

O mundo tem estado a ajudar Moçambique a lidar com as cruéis consequências da catástrofe

esPecialistas de busca e resGate 120 barcos 37 telefones via satélite 30 helicÓPteros 18 camiões 8 aviões 4 fraGatas 2

reposição das vias de acesso”, dizem-nos. A E&M falou com três dos considera dos mais influentes empresários da Bei ra. Todos fazem as contas a perdas in calculáveis. Immran Mohamed, proprie tário de armazéns para comércio ex terno, teve todos os imóveis danifica dos (vários apartamentos em dois condo mínios), incluindo a residência própria. Destaque merece um dos hotéis de refe rência da cidade da Beira, o Hotel Manga, que tinha acabado de ser reabilitado e alugado a operadores chineses. O empre sário perdeu, igualmente, os oito arma zéns no centro da cidade, cujas paredes e tecto desabaram por cima de mercado rias pertencentes a clientes, e que deviam seguir para o hinterland. Tudo se perdeu. “São compromissos nossos. E como iremos honrar esses compromissos? Nem todos (os fornecedores) poderão ter sensibili dade porque estamos a falar de acordos comerciais. De certeza que os nossos clientes vão lamentar e vão querer sobrecarregar as nossas contas, o que se rá mais doloroso. Um novo pesadelo co meça agora e não será nada fácil”, prevê o empresário que ainda não acabou de fazer as contas aos prejuízos. Outro empresário influente, Nagib Amade, estima em 5 milhões de dólares os pre juízos, só no terminal de contentores e num armazém que recebe carga diver sa, inaugurado em 2016 numa área de 4 800 metros quadrados. Ficam por cal cular os prejuízos em 12 apartamen tos situados no bairro do Estoril que fica ram muito danificados. Augusto Marti nho Álvaro, proprietário da AMA Equi pamentos, grupo com actividade imobi liária, portuária, mineira e de equipa mento médico, fala de perdas de até 2 milhões de dólares só na sua actividade. Para este empresário, a crise só tem um lado minimamente construtivo, que tem que ver, como não poderia deixar de ser, com os esforços de reconstrução.

investimentos não segurados Muitas das perdas dos empresários se rão difíceis de recuperar uma vez que, muitos deles, não estão segurados porque, dizem-nos, “não há seguros que cubram danos causados por desastres naturais”. A E&M foi em busca de uma confirmação. Olívio Melembe, da Índico Seguros, deixa um meio termo. É que este tipo de seguros é específico e deve ser, dessa for ma solicitado. “Acontece que muitos, por não estarem à espera que ocorra algum ciclone (já que são fenómenos atípicos em Moçambique), não vêem a necessidade

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província Beira

já têm com a banca, esta não resolva agravar ainda mais o custo do dinheiro, porque, se assim for, não haverá saída. Teremos de encerrar empresas.”

O empresário defende mesmo a criação de um “fundo de desenvolvimento empre sarial, que não podendo repor os danos causados pelo ciclone, seguramente vai minimizar o seu impacto. Este fundo de ve ter taxas bonificadas em diferentes áreas de actuação e deve ser controlado por um organismo de fiscalização para evitar desvios de aplicação ou o apare cimento de beneficiários que não foram afectados pelo ciclone”. O referido fundo, segundo o empresário, poderia ser cria do “através da comparticipação do em presariado e do Governo.”

Ainda sobre o financiamento às empre sas, o presidente do Conselho Empresa rial de Sofala lembra que “eles (os ban cos) também sofreram com o ciclone em Sofala. Mas é preciso que se entenda que quem capitaliza a banca é o sector pri vado e se este não tiver recursos para a economia fluir, então a banca não terá co mo ter dinheiro. Ou seja, é preciso que os bancos invistam em quem produz e ago ra precisa, mais do que nunca”, refere.

“É preciso encontrar financiamento com taxas de juro bonificadas para as empresas. E será necessário recorrer aos donativos, estando ainda por definir a que áreas alocá-los”

de solicitá-lo”, explica, sublinhando a urgência em “se levar este assunto cada vez mais a sério.”

dinheiro terá de ser barato No final de Março, o Presidente da Repú blica, Filipe Nyusi, anunciou medidas pa ra minimizar o impacto do ciclone Idai no centro do país, num pacote que inclui a re dução de taxas em electricidade e trans portes e assistência médica gratuita. Decidiu suspender todas as taxas cobra das no Sistema Nacional de Saúde e es tá a organizar uma campanha de vaci nação contra a cólera. Na distribuição de electricidade, o Executivo vai reduzir pa ra metade o valor da factura da indús tria e comércio, e os agricultores da re gião vão beneficiar de uma distribuição gratuita de mil toneladas de sementes, além de 100 mil utensílios agrícolas. Nos transportes ferroviários, o Governo também vai reduzir em 50% as tarifas para os passageiros nas linhas de Sena e Machipanda. Apesar destas medidas, os empresários da Cidade da Beira, que per

deram mais de 80% dos seus empreendi mentos, condicionam a sua recuperação à forte intervenção da banca através de juros bonificados. A E&M sabe que os principais bancos estão a trabalhar nes se sentido, para criar linhas de crédito bonificado para a reconstrução. “Primeiro, é preciso encontrar financia mento com taxas de juro bonificadas pa ra assistir às empresas. Depois, será ne cessário recorrer aos donativos, estando ainda por definir a que áreas alocar es ses fundos. O mais importante, porém, é que a banca e o Governo encontrem ta xas de juros competitivas para os empre sários de Sofala”, sugere Ricardo Conha que, Presidente do Conselho Empresarial provincial.

Na mesma linha, Augusto Martinho Ál varo defende que “esta fase fará a ‘filtra gem’ das empresas. Se não tivermos um sistema financeiro à altura, as pequenas empresas não conseguirão recuperar. E espero que, diante da situação de eleva do risco de financiamento que o ciclone trouxe, aliada às dívidas que as empresas

A força da solidariedade Nunca o aeroporto da Beira registou tama nho movimento ao longo da sua história. Foi ali o centro das operações, onde se concentraram todos os serviços de assis tência humanitária, a todos os níveis, pro venientes de todos os continentes. É este “ombro amigo” – de países como a Áfri ca do Sul, Quénia, Angola, Portugal, Índia ou Brasil, entre tantos outros, com forças treinadas para este tipo de eventos – que tem estado a amenizar o impacto dos da nos causados pela catástrofe. Das opera ções de resgate de milhares de pessoas em zonas de risco (destaque para o distri to de Búzi); ao abastecimento ininterrupto de alimentos e assistência médica às co munidades reassentadas.

Mas o valor da solidariedade e o espírito de luta pela superação é também visível dentro de portas. Várias iniciativas, com destaque para a organização “Unidos pe la Beira”, juntaram esforços e enviaram quantidades significativas de mantimen tos (76 contentores), numa manifestação de solidariedade que é, sem dúvida, um le gado de futuro para uma zona de um pre sente ingrato. Que o futuro comece aqui.

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textO Celso Chambisso fOtOgrafia Jorge A reconstrução de infra-estruturas é uma das primeiras preocupações de Governo e empresários locais

mercado e finanças

‘Show me the money’, ou o dilema do mercado cambial irregular

O negócio das casas de câmbio tem vindo a fragilizar-se, ao mesmo tempo que se nota o robustecer dos operadores informais que vão surgindo um pouco por toda a parte, o que sugere problemas de fiscalização e um crescente risco de exposição a crimes de branqueamento de capitais e até dinheiro falso. A E&M foi ver como funciona este mercado

em quase todos os mercados da capi tal, é comum ver gente aparentemente desocupada a conversar, sem qualquer mercadoria visível a vender, e sempre cautelosa em abordar os clientes.

Muito longe de desocupados, estes estão entre os (senão mesmo os mais) bem su cedidos comerciantes destes espaços. E tudo porque comercializam um dos mais preciosos bens (e também não tão abun dantes como todos pretenderiam) de que um país e uma economia podem dispor – as divisas, nomeadamente dólares.

Num mercado (rigorosamente) regula do, o assunto ganha dimensão digna de abordar porque se reconhecem riscos associados a práticas informais de trocas

200

metros

É a distância entre a principal praça informal de compra e venda de dólares e o banco de moçambique, o regulador do mercado

cambiais, sendo o mais temido o de faci litar a circulação de dinheiro de prove niência criminosa.

Até aqui, o tema poderia continuar a ser pouco relevante para merecer uma abordagem mais profunda, mas ocorre um fenómeno de que muito pouco se fala, e que acaba por se revelar contrário aos princípios da legislação cambial em vigor.

É que hoje, os operadores informais de câmbio ganharam uma pujança que ameaça cada vez mais os operadores licenciados, as casas de câmbio.

O volume de divisas transaccionado in formalmente, e embora não haja da dos oficiais que o comprovem, é igual ou superior ao das casas de câmbio,

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o que justifica a preferência dos agen tes económicos (pessoas singula res e até de inúmeras empresas) pe lo mercado informal, o que tem sus citado protestos das casas de câmbio. Pior que isso, elevam o risco de o país se tornar num corredor facilitador da la vagem de dinheiro e branqueamento de capitais.

o mercado cambial informal Antes de procurar entidades oficiais pa ra explicar o que realmente se passa, a E&M foi a três verdadeiras praças fi nanceiras informais da capital (mer cados Central, Xiquelene e Compone, os dois últimos de dimensão relativamen te menor), medir o nível de actividade ali realizado.

Também visitámos duas casas de câm bio da cidade de Maputo. Todos os inter venientes convergiram ao relatar a realidade.

No mercado central da capital, na baixa de Maputo, está a maior praça informal. Curiosamente, fica a cerca de 200 metros do Banco de Moçambique, o regulador do mercado. Ali, a E&M simulou pretender comprar cinco mil dólares a um opera dor. Havia prontidão em atender à pro cura. Mas numa das casas de câmbio de referência, também próxima ao Banco de Moçambique, não havia dólares dispo níveis para venda, tal como também não havia noutras casas. Como se explica?

burocracia, preço e desconfiança

A unidade do dólar no mercado infor mal custava 68 meticais a 20 de Mar ço passado. E porque nas casas de câm bio custava 64,4 meticais, mais ou me nos o mesmo valor da banca comer cial, a E&M simulou que optaria pelas alternativas oficiais.

O comerciante avisou, desde logo, que o problema do mercado oficial era a escas sez de divisas e muitas exigências de do cumentos para registar as operações, o que viemos a confirmar nas pesquisas de campo que se seguiram.

Já numa das casas de câmbio, ao questio nar sobre como é lidar com a concorrên cia informal, que tem sempre o dólar dis ponível, o operador tratou a concorrência com certo respeito. Surpreendentemente. “Se não existissem aqueles (informais), isto caía de vez. São eles que garan tem que haja dólares no mercado ago ra. Aqueles são sempre os ‘celeiros in falíveis’ nesta época de escassez do dólar”, admitiu à nossa reportagem. Mas, de seguida, afirmou que até os ban

oS grandeS perigoS do câmbio informal

Tomemos o caso do Brasil, onde um estudo recente demonstrava os males a que estão sujeitas as economias onde este fenómeno acontece. Num artigo publicado em Agosto do ano passado com o título “Câmbio negro: o que é, como funciona e por que não vale a pena”, é revelado que muitos operadores informais facilitam a compra e venda de moeda no mercado paralelo para remessas de dinheiro por meio de contratos fraudulentos, já que estas transacções não são registadas. “Adquirir dólar no mercado paralelo muitas vezes é tentador porque, nele, a moeda é encontrada por um valor mais baixo do que o do dólar de turismo, mas você pode-se enganar com a suposta vantagem”. É que “a compra ilícita de moeda estrangeira não é segura, estando associada ao risco de ser vítima de um crime e acabar por receber notas falsas”.

cos, quando se ressentem da falta cróni ca de divisas, têm recorrido a negocia ções com os informais para se abastece rem. A desconfiança não é confirmada pelos bancos, nem poderia ser, mas refor ça o poder que estes operadores detêm, hoje, no mercado.

Quem alimenta os informais? Além da preferência que os singulares têm pelo mercado informal, há sinais de que empresas também realizam trocas com este sector, o que acontece à mar gem da lei. E isso foi confirmado por um operador informal do mercado Central. O ex-presidente da Associação Moçam bicana das Casas de Câmbio (o actual to ma posse em Abril corrente), Custódio Ri cardo, explicou que a disponibilidade de moeda externa, sobretudo o dólar, nos bancos comerciais e nas casas de câm bio, depende das regras de política mo netária do Banco de Moçambique, que os vende ou compra conforme o movimen to que é preciso fazer para salvaguar dar a estabilidade cambial do metical e as reservas internacionais. Já “os infor mais conseguem ter permanentemen te divisas disponíveis porque operam à margem das normas, transaccionando, por exemplo, com empresas, através de taxas mais atractivas”, explicou Custódio Ricardo.

O privilégio de realizar operações cam biais com empresas é atribuído apenas aos bancos comerciais, de acordo com um regulamento da Lei cambial, intro duzido em 2011, e que retirou esse direi to às casas de câmbio, colocando-as em concorrência directa com os informais. Custódio Ricardo, que falou à E&M com brevidade e por telefone, revelou que “o negócio das casas de câmbio está a perder fôlego” perante a concorrência com o sector informal, mas essa queda já vem da altura em que entrou em vi gor a interdição de contar com as em presas como clientes, uma vez que per faziam mais de metade do seu volume de negócios.

há disciplina na banca A E&M procurou ouvir os principais bancos comercais a actuar no mercado nacional, para saber como lidam com o fenómeno do câmbio informal, bem como com os respectivos riscos que isso coloca à economia. As respostas, por e-mail, vie ram (até ao fecho deste artigo) do Millen nium bim e do BCI.

“Agimos sempre dentro das normas do regulador e dos princípios formais que

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mercado e finanças

A regulamentação do mercado cambial é rigorosa, mas há lacunas de fiscalização que desenvolvem o mercado cambial, resultando em riscos de práticas de branqueamento de capitais

regem a nossa actividade. Não temos qualquer ligação com o sector informal. Temos todas as operações cambiais re gistadas como a lei estabelece porque estamos cientes do perigo que isto re presenta”, reagiu o Millennium bim à possibilidade aventada de os bancos se rem alimentados pelo sector informal em situações de escassez de divisas, que foi levantada à nossa reportagem, por diversos operadores das casas de câm bio de Maputo.

Como não poderia deixar de ser, tam bém o BCI se distancia, de igual forma, deste tipo de ‘proximidade’ com o sector cambista informal, não deixando, ainda, de reconhecer, que “a informalidade do mercado cambial é um tema preocupan te da economia nacional”.

A instituição reforça também o papel do Banco de Moçambique, “que tem si do rigoroso na vigilância deste mercado através de decretos que visam as me

lhores práticas do mercado, a estabilida de cambial do metical e a disponibilida de de divisas”, refere o banco.

bancos vs casas de câmbio. um caso de concorrência desleal?

É a disputa de posições entre quem tem de regular e salvaguardar a estabilida de do mercado e da moeda (o Banco Cen tral), e aqueles para quem fazer negó cios e obter lucro (as casas de câmbio) não têm de obedecer às regras do mer cado formal.

Desde 2011, a lei geral que proíbe a rea lização de trocas cambiais com empre sas vem sendo criticada pelas casas de câmbio que, à época, argumentaram que não era “justo” que se lhes retiras sem o principal grupo de clientes (em presas) a favor dos bancos comerciais, cujo core business, apontavam, é outro (captar poupança e conceder crédito). Na altura, o Banco Central argumentou

que a medida visava “liberalizar a ba lança de transacções, controlar a lava gem de fundos e evitar a exportação ile gal de moeda externa fortalecendo as sim a balança comercial”. Com o mesmo objectivo, o Banco Central tinha aprova do a limitação da movimentação de con tas em divisas superiores 5 mil dólares sem a sua autorização, medida que veio a ser revogada recentemente.

regulação vigorosa

“O Banco Central tem sido muito assíduo em legislar sobre o mercado cambial”, disse o assessor de comunicação da ins tituição, questionado sobre a fiscalização da informalidade por parte do BM. Instado pela E&M a comentar a reivin dicação de um maior espaço no merca do, por parte dos operadores informais, o mesmo responsável aproveitou pa ra anunciar uma resposta mais alarga da por parte do Banco Central. Algo que acabou por nunca chegar até ao fecho desta edição.

Verdade é que, do ponto de vista dos re gulamentos vigentes, o mercado pre vê severas punições para a compra e venda de moeda por entidades não au torizadas, caso dos operadores infor mais, por exemplo, e nas quantidades e valores contrários aos definidos pe las normas do Banco Central. Pelo que “todas as operações devem estar sujei tas a registo”, algo que, naturalmente, os informais não fazem.

As multas para este conjunto de infrac ções variam entre os 10 mil e os 100 mil meticais, se o infractor for pessoa singu lar, ou entre os 40 mil e os 400 mil me ticais, se o infractor for pessoa colecti va. Caso este cometa, simultaneamen te, mais do que uma contravenção cam bial, incorre, assim, num agravamento da multa de 20 mil a 200 mil meticais pa ra pessoas singulares e de 100 mil a um milhão de meticais se o infractor for, por sua vez, pessoa colectiva.

Neste processo, “as autoridades policiais e serviços públicos devem prestar todo o auxílio necessário a uma correcta ave riguação e instrução dos processos da competência do Banco de Moçambique”, estabelece a Lei Cambial em vigor.

No entanto, isso parece ainda insuficien te para travar o crescimento da infor malidade da compra e venda de dinhei ro nas ruas e ruelas da capital.

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TexTo Celso Chambisso foTogrAfiA D.R. Banco de Moçambique tenta regular um mercado cada vez menos controlável

O que esperar até ao fim de 2019?

Nuno Tavares • Director-Geral da REC – Real Estate Consulting, Lda.

com o primeiro trimestre concluído, importa “afinar” aquilo que prevemos que o futuro poderá trazer, continuando a fazer um pouco de futurologia, contribuindo para que as empresas se preparem para as oportunidades e desafios que virão. Testemunhámos durante Março, a Natureza a castigar a zona Centro do país, trazendo morte e destruição a uma grande ex tensão de território. Estes fenómenos demonstram a fragilida de das nossas organizações na prevenção e resposta e, ao mes mo tempo, os efeitos das mudanças climáticas.

Em Março, o FMI esteve em Moçambique a rever outro tipo de devastação criado pelo processo das dívidas ocultas que aca bou por ditar a suspensão de apoio pela comunidade interna cional. Em Novembro de 2018, na última avaliação do FMI, re gozijámo-nos com o tom aprovador de um desenvolvimen to positivo em grande parte das matérias em monitorização. É imperativa uma revisão do actual “status quo” que tem de vastado o tecido empresarial, ao nível do emprego, consumo e consequentemente impactado bem-estar social das famílias. É crítico anunciar-se um “Staff Monitored Program” e a Comu nidade Internacional mudar a abordagem de utilização da ‘ca çadeira’ para impor dor colectiva, por armas de precisão que atingem os (poucos) envolvidos. O que se vê nas províncias são níveis de pobreza alarmantes e uma fraca actividade económica. As infra-estruturas, desde centros de saúde às condições nas estradas, sofrem de ausência de manutenção. A nossa percepção do bem-estar das pessoas e empresas é bem pior do que a reportada nas estatísticas oficiais. No que diz respeito à paz, e contrariamente ao que muitos di ziam, a oposição não disparou um único tiro desde o cessar-fogo, mostrando não só maturidade, como também disciplina. Nas nossas expectativas, 2019 será o ano em que as Final In vestment Decisions (FID) serão anunciadas tendo como refe rência Abril e Setembro de 2019. Caso estas previsões se mos trem correctas, teremos a primeira venda do gás em 2023/24. Vamos então agora ver o que a nossa bola de cristal nos mostra para o remanescente de 2019. Com excepção das áreas sociais (educação e saúde) não contamos com grande actividade por par te do Estado por inexistência de fundos para executar os gran des projectos. Dentro desta visão, prevê-se a expansão do princí pio “utilizador-pagador”, particularmente ao nível de estradas com portagens e a eliminação de subsídios a alguns produtos e serviços que eventualmente ainda estejam em vigor. A grande

ausência no relatório do Fundo Monetário Internacional sobre Moçambique foi o muito desejado anúncio da retoma de assistên cia financeira ao País, ficando agora essa possibilidade adiada para 2019 e refém de algumas condições que viremos a saber. Prevemos o início de um processo de privatizações e ou con cessões em moldes ainda não conhecidos, podendo ir desde a alienação à abertura de capital a parceiros estratégicos, ou até mesmo à terceirização da gestão. Estarão englobados neste rol a maioria das grandes empresas públicas (energia, transpor tes, comunicações), mas também as três empresas envolvidas no caso das dívidas soberanas. Potencialmente associado a este processo, ao lançamento dos pro jectos de gás e à necessidade de os agentes económicos mobiliza rem outras formas de financiamento, prevemos o relançamen to da Bolsa de Valores de Moçambique, entidade que deverá du rante os próximos anos ganhar destaque nos meios financeiros. Moçambique negociará acordos com todos os detentores da dí vida soberana e consequentemente será readmitido aos mer cados financeiros internacionais. Resultado disso, anunciará fi nanciamentos concedidos por entidades internacionais para fi nanciar a sua participação nos dois projectos de oil&gas (com va lores que representam cerca de cinco vezes o actual PIB nacional). Ao nível financeiro, o câmbio no primeiro trimestre tem sofri do pressão com a procura a exceder a oferta e com o regula dor a intervir e a regular a actividade obrigando à constituição de reservas obrigatórias em dólares de 36%. Perspectivamos uma desvalorização suave e gradual de 10% durante o ano. O Estado prevê um mecanismo para liquidar dívidas que tem com as empresas, nomeadamente em torno do reembolso do IVA bem como de obras públicas contratadas, o que será um ba lão importante para as empresas do sector da construção. Resultado da quebra no consumo das famílias, o retalho perma nece em crise, com espaços comerciais a encerrarem a um ritmo alarmante. Os escritórios continuam em desequilíbrio, com ofer ta significativa por escoar e, ao nível social, não prevemos ne nhum programa de construção de habitações em grande escala. Em ano eleitoral, as negociações sobre aumentos salariais pa ra 2019 serão complexas e penalizantes para todos os sectores e um aspecto que o Estado pretenderá realizar cedo no primei ro trimestre para que não seja tema nos manifestos eleitorais. Ainda no tema dos recursos humanos, prevemos uma grande dificuldade na retenção de quadros, caso as FID venham a con

Ao nível financeiro, os câmbios têm sofrido pressão com a procura a exceder a oferta e com o regulador a intervir e a regular a actividade. Prevemos uma depreciação de 10% até ao fim do ano

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 48

firmar-se. As PME moçambicanas terão grande dificuldade em concorrer com o poderio das multinacionais mais bem capitaliza das, dos mais diversos sectores de actividade. O desenvolvimen to de estratégias para retenção de talentos vai requerer mui ta criatividade de todo o tecido empresarial, privado e público. Decisões de investimento que requeiram recurso a financia mento nacional continuarão a ser adiadas por razão de taxas de juro, ainda que em decréscimo, bastante penalizantes. O de senvolvimento imobiliário continuará refém desta política de juros altos, mesmo contando com o influxo expectável de qua dros e empresas que se avizinha. O Norte do País, nomeadamente Cabo Delgado, será a locomo tiva do desenvolvimento do País, e contamos com os investi dores para assegurarem que uma fatia razoável do procure ment, ao longo da cadeia de valor, seja adjudicado a MPME na cionais cujo envolvimento será crucial para assegurar que al gum knowhow e riqueza sejam retidos em Moçambique. Por um lado, a ausência de “windfall tax”, de concursos públi cos de grande dimensão, um ano eleitoral, a dependência da agricultura em factores não controláveis como cheias, seca e pragas, são factores que pesam pela negativa na nossa análise. Por outro, a substituição do Estado como locomotiva da economia pelo sector privado (privatizações, indústrias extractivas e ONG´s a continuarem e a expandirem o trabalho social dos doadores que antes canalizavam fundos para o OE), um Estado menos des pesista, a eliminação de factores de interferência nos mercados e o aperfeiçoamento de legislação específica, a instabilidade po litica e social na África do Sul impactando positivamente o câm bio, contribuem para uma menor inflação nos custos de produ tos de lá importados, e ajudam na retoma do consumo privado doméstico. Depois, o aumento da produção agrícola, pesqueira e de madeiras aliado a descidas nos principais indicadores eco nómicos, a manutenção do crescimento do PIB no mínimo de 4%, a aprovação de legislação sobre Conteúdo Local e os preços dos commodities a mostrarem a continuação de um ciclo sustentá vel de subidas, são factores que positivamente nos influenciam. Este poderá ser o ano em que saímos colectivamente do fundo do poço e iniciamos a recuperação económica rumo ao boom de 2020-23. O maior desafio do Estado será fazer este potencial pas sar a realidade e ser inclusivo.

Terminamos com um sopro de esperança, testemunhando que, não obstante as dificuldades existentes, os Moçambicanos têm mostrado uma resiliência sobrenatural e uma solidariedade, quer perante o ciclone Idai, quer perante a ostracização da eco nomia nacional, e têm demonstrado aquilo que é a verdadeira unidade nacional do País.

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empresas

Dar créDito ao créDito

Melhorar a qualidade da informação e a transparência no mercado é o objectivo da Compuscan, o primeiro bureau de crédito em Moçambique

um bureau, ou central de registo e análise de crédito, serve para fornecer dados e informações sobre consumidores e empresas, contribuindo dessa forma, através da disponibilização de relatórios, pontuações de crédito, verificações de identidade, avaliações de acessibilidade e de colectas para prever riscos e re duzir fraudes no sistema financeiro. A descrição ajuda a perceber que, sem um mecanismo deste género, dificilmen te o mercado poderia ser minimamente desenvolvido. “O rápido e fácil processo de análise de crédito facilitado pelo bu reau de crédito incentiva o consumidor a buscar o acesso ao financiamento, o que, por sua vez, contribui para a inclu são financeira, um dos desígnios do país”, explica Lara Cangi, a country manager da Compuscan em Moçambique.

A multinacional de origem sul-africana, criada em 1994 por Remo Lenisa, é a pri meira e, até ver, a única autorizada pelo Banco Central a operar em Moçambi que. “Este é, digamos, o primeiro passo para passarmos a ter taxas de incumpri mento mais reduzidas e, gradualmente, taxas de juro mais baixas” complementa a responsável.

Até agora, esse ónus recaía, quase por inteiro e de forma pouco completa e ar ticulada, no Banco Central, bem como nos próprios bancos que, por isso, não dispunham da possibilidade de cruzar informações com todo o restante sistema financeiro.

“Agora, todos os bancos comerciais e ins tituições de microfinanças, bem como outros fornecedores de crédito, como te lecomunicações, retalhistas, serviços de utilidade pública, seguros, entre outros

players do mercado terão acesso a um mais fiável retrato do país, porque ire mos gerar informação relativa aos tomadores de crédito, que permitirá a sua avalição segundo o seu bom e mau comportamento no mercado.” Uma informação relevante para a cons trução de históricos e de concessão de garantias de reputação, algo que po derá, depois, produzir efeitos ao nível da diferenciação das taxas de juro, por exemplo, de acordo com o grau de expo sição do cliente ou, até, levar à criação de novos serviços de crédito por parte de grandes superfícies, ou de micro-cré ditos direccionados de curta-duração. “Somos supervisionados pelo Banco Cen tral. Por lei, a banca comercial e as micro-finanças têm a obrigatoriedade de reportar a uma central de registo de crédito e agora ela existe. Não somos ainda capazes de fazer pontuações de crédito (credit rating), porque não te mos acesso à informação histórica, que não nos foi concedida pelo Banco Cen tral, mas iremos disponibilizar o acesso aos relatórios de crédito aos bancos e às outras instituições nossas clientes, que podem ver qual é a exposição do clien te, onde ele está a cumprir e incumprir, podendo basear-se nisso para poderem uma análise de raiz na qual conseguem perceber qual a capacidade de endivi damento ou a taxa de esforço. Queremos trazer clareza e informação ao mercado e isso é fundamental para desenvolver os serviços de crédito no país.”

BemPresa CompusCan Fundação 1994 número de Funcionários 400 subsidiária CompusCan moçambique sede TeChnopark sTellenbosCh, ÁfriCa do sul

13 mercados

a multinacional de informação de risco de crédito de origem sul-africana criada em 1994 é a primeira e única autorizada pelo Banco Central a operar em moçambique. também está presente na África do sul, uganda, namíbia, etiópia, Lesoto, Botswana, Quénia, Zâmbia, tanzânia, malawi, filipinas, austrália.

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texto Paulo manjacaze fotografia jay Garrido
powerfuldataintelligentinsights

banco Único lança novo cartão crédito

“Alargar e diversificar cada vez mais a sua oferta de cartões, ofe recendo soluções e benefícios di rigidos a cada segmento, assim como responder de forma eficaz às necessidades específicas dos seus clientes”. É desta forma que o recente lançamento no merca do de um cartão de crédito de signado “Cartão Único Voyager”, do Banco Único, é apresentado. Lançado em parceria com a Sou th African Airways, com duas ofertas, Classic e Gold, o cartão irá permitir aos clientes do ban co acumularem milhas em voos pela SAA e nas suas compras do dia-a-dia, em qualquer parte do mundo.

iPeMe e anadarko aliaM-se na caPacitação das PMe

acordo visa potenciar formação e capacitação do pessoal dos centros de apoio e orientação ao empresário de Maputo e cabo delgado

Fábrica da cervejas de MoçaMbique eleita ‘a Melhor de áFrica’

Phc soFtware volta a bater recorde de Facturação

Pelo quarto ano consecutivo, a PHC Software, multinacional portuguesa de desenvolvimento de ferramentas informáticas de gestão, regista uma melhoria na facturação anual.

Trata-se, assim, de um novo re corde fixado em 11,5 milhões de euros, que resultam de um cres cimento de 6,3% do volume de vendas. A este respeito, Moçam bique, onde a empresa detém uma importante fatia do merca do, é um dos países que susten tam este resultado.

Com presença em Angola, Peru, Espanha, Argélia e Cabo Verde, a PHC está no país há 19 anos e notabilizou-se pelo sucesso da sua operação local e crescimen to da sua quota de mercado.

o acordo firmado entre o Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) e a multinacional Ana darko insere-se no âmbito das acções das duas entidades orientadas para a dinamização e desenvolvimento das Pe quenas e Médias Empresas (PME) e do Programa de Desen volvimento de Fornecedores da Anadarko.

Recorde-se que a petrolífera norte-americana anunciou re centemente um investimento global de cerca de 2,5 mil mi lhões de dólares em empresas moçambicanas, ao longo dos cinco anos do período de construção da fábrica da GNL, que deverá iniciar-se no próximo ano.

Para o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sou sa, “com este memorando espera-se que as partes possam operacionalizar o projecto a curto e médio prazo e que o mesmo esteja orientado para os legítimos benefícios da eco nomia nacional”, disse.

Já Steve Wilson, vice-presidente e director-geral da Anada rko em Moçambique, o documento representa “a continua ção do trabalho conjunto entre o governo moçambicano e a Anadarko, por forma a melhor desenvolver as empresas na cionais, de modo a aumentar a sua capacidade e competiti vidade para aceder às oportunidades do mercado”.

Num universo de 32 fábricas afri canas que fazem parte do gru po ABInBev, que lidera o segmen to das cervejas a nível mundial, a unidade fabril da CdM de Nampu la foi eleita a melhor do continente africano. “O nível do consumo de água, a observação das normas de segurança, a produtividade, quali dade dos produtos e o grau de ca pacitação dos trabalhadores” fo ram os critérios que determina ram que a fábrica de Nampula da CdM fosse elevada ao topo na lista das melhores do continente. Ac tualmente a unidade emprega cer ca de 130 trabalhadores e produz a Manica, 2M e Laurentina Preta.

técnica industrial Passa a ser rePresentante da Marca jeeP eM MoçaMbique

O IPEME é uma entidade pública com autonomia financeira e administrativa orientada para a dinamização e desenvolvimento das PME nacionais. Já a Anadarko Moçambique é uma subsidiária integral da Anadarko Petroleum Corporation, operadora da Área 1 Offshore do Rovuma, onde detém uma participação de 26,5%.

A marca Jeep, nos seus vários segmentos SUV, onde se des tacam os modelos Renegade, Compass, Cherokee, Wrangler e Grand Cherokee, passou a ser representada exclusivamente em Moçambique pela Técnica Indus trial. Com a entrada da Jeep, a Técnica Industrial, detida pelo Grupo João Ferreira dos Santos (JFS), complementa a sua gama de marcas representadas e que abrangem os vários segmentos, desde ligeiros aos SUV, passando também pelas viaturas comer ciais, pick up e camiões, através das outras marcas representa das, como a Alfa Romeo, Mitsu bishi e Fuso.

megafone www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 52

Mudar a face do desporto autoMóvel eM MoçaMbique

rodrigo rocha

Advogado e presidente do Automóvel e Touring Clube de Moçambique (ATCM)

é o típico caso em que, é jus to dizer, se junta a fome com a vontade... de correr. Será con sensual que o desporto auto móvel, com um trajecto feito de paixão e tradição há já lar gas décadas no país, parecia estar ‘em ponto morto’. E é por isso que o último acto eleito ral no Automóvel Touring Clu be de Moçambique (ATCM) ga nhou relevância, após quase duas décadas de mandato da direcção cessante. Venceu Ro drigo Rocha (obteve 142 votos, contra 109 do seu oponente, Ricco Alibai), um conhecido ad vogado, reconhecido também como um apaixonado pelos au tomóveis. À E&M, ele explica o projecto que, ao longo dos pró ximos quatro anos, quer levar até ao fim, para restaurar a credibilidade do desporto mo torizado no país.

Quais são os objectivos des ta nova direcção?

O ATCM é um clube com mais de 70 anos de existência. To da a gente diz que o despor to automóvel é um despor to de elite, mas qualquer um levado a sério o é, até o xa drez. Durante anos, tivemos no clube uma gestão muito particular... até que chegá mos ao ponto de querer fa zer mais. Em poucos dias de mandato, criámos condições para que quem esteja a cor rer nas vias públicas possa fazê-lo na pista, em seguran ça, e já organizámos quatro eventos desportivos.

O desporto motorizado é ca ro. Como pretende alargar a base de associados, e mas sificar a sua prática?

Vamos apostar numa lógi ca de aproximação do des porto com os pilotos e todos os agentes do mercado. Se olhar mos para as modalidades que atraem mais adeptos, como o drift ou o drag racing, uma das questões que nos tinham pedido era que fosse instala da uma máquina de mudar pneus. Arranjámos um patro cínio da Trentyre Moçambi que que colocou cá esse ser viço e opera-o sem custos pa ra o clube. Estamos nessa fase, de procurar sponsors que pos sam disponibilizar combustí veis a valores mais baixos e que forneçam óleos e combus tíveis na própria pista.

O que vai mudar no calendário?

Vamos integrar os campeo natos nacionais de todas as modalidades motorizadas, bem como daquelas em que ainda não existe campeonato, porque só aqui é que existem condições para serem rea lizadas. Depois, a aposta em troféus monomarca, como o que foi recentemente lançado com a Kia, o Picanto Cup, que se irá realizar este ano. Que remos ainda começar uma modalidade nova em Moçam bique, o Rally Cross, em que as viaturas têm de fazer qua tro voltas em dois pisos dife rentes. Vai haver muitas pro

cvcurriculum vitae

rodrigo ferreira rocha é um conhecido advogado, especializado em Direito do Consumidor e energia, Petróleo e gás. em outubro de 2012, torna-se sócio da Abreu Advogados. em Janeiro deste ano assumiu a presidência do AtCM.

ATCM

vas a realizarem-se no nosso autódromo que já está pron to e estamos a tentar requa lificar algumas das constru ções que aqui foram feitas e que atentam contra a integri dade da própria pista. Temos aqui muita terra, mas não sig nifica que ela esteja disponí vel. Saindo um pouco da par te do desporto, a forma como foi esquartejado o patrimó nio do clube e a própria ges tão era complicada... É por is so que estamos em auditorias às contas, que não eram apro vadas pelos associados há já alguns anos.

Está a falar de lotes aliena dos pela anterior direcção? Exactamente. Esta localiza ção, em plena Costa do Sol, é

valiosa. Há várias pessoas ilustres que só por terem si do membros do governo fica ram com lotes, incluindo al guns que, pela forma e locais como estão atribuídos, nem sequer permitem acesso à via pública, a não ser passan do por cima da pista, algo que não iremos nunca permitir. Aliás, temos um muro aqui à frente, com um portão virado para a pista que pertence ao senhor Manuel Chang.

Ao nível da receita e do in vestimento, qual é o plano?

O Baía Mall é um empreen dimento do qual detemos 80% do capital (o Autódromo, o Baía Mall e o Hotel perten cem à AGIL, que tem a sua es trutura societária com 80% do capital obtido pelo ATCM). No Baía temos duas lojas que estão arrendadas, a bomba de gasolina que está junto ao hotel e hospedamos três ante nas de telecomunicações, em bora com algum incumpri mento de duas delas que já le varam à rescisão do contrato. Por algum motivo escolheram um advogado para estar aqui. Quando não há cumprimento reiterado de um contrato ele será rescindido com as conse quências necessárias.

Ao nível dos associados, como está a situação?

Temos hoje 866 sócios dos quais 250 são pagantes. A mu dança começa de cima, e te mos de criar condições no au tódromo e levar o ATCM a de sempenhar um papel de pro moção do desporto e da segu rança rodoviária. Pensamos trilhar um caminho similar ao de um ACP em Portugal, com seguros específicos para automobilistas e vantagens para os associados. Tenciono aproximar o clube dos sócios, para conseguirmos mudar a face do desporto automóvel em Moçambique.

figura
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do mês
texto Pedro Cativelos fotogrAfiA Jay Garrido

Mudar

“Criámos condições para que quem esteja a correr nas vias públicas possa fazê-lo na pista”

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Videojogos, o nascimento de uma um noVa indústria africana

Estão a surgir inúmeras pequenas empresas dedicadas ao desenvolvimento de videojogos, especialmente na Tunísia, Egipto, África do Sul, Nigéria, Gana e Quénia.

E algumas delas estão mesmo posicionar-se num mercado global que já movimenta 140 mil milhões de dólares anualmente, mais do que o do cinema

ainda adolescente, o sonho de Madi ba Guillaume Olivier era mudar-se dos Camarões (seu país natal) para a Euro pa ou os Estados Unidos. Apaixonado pe los videojogos, Madiba queria transfor mar essa paixão numa carreira profis sional. O seu pai tinha uma pequena loja de aluguer de videos e foi aí que come çou a desenvolver um intenso interesse pelos videojogos.

Enquanto esperava que essa oportuni dade de emigrar se materializasse, Ma diba começou a dedicar muitas horas do seu dia a tentar aprender as noções bá sicas do design de videojogos na internet. Quando entrou, em 2003, para a universi dade de Yaoundé, na capital dos Camarões, onde foi estudar ciências da computação, Madiba conheceu alguns outros jovens que, como ele, partilhavam a sua pai xão e, juntos, começaram a desenvol ver um projecto de videojogo a que cha maram Aurion: Legacy of the Kori-Odan. A trama do jogo girava em torno da fi

milhões de dólares o mercado dos videojogos em África passou de 105 milhões de dólares, em 2014, para 570 milhões. ainda pouco, numa indústria global que vale 140 mil milhões, mas um crescimento assinalÁvel, em apenas quatro anos

570gura do príncipe Enzo e da sua noiva os quais, depois de terem sido traídos por um familiar, tentam recuperar o poder perdido no seu planeta Auriona.

Uma vez terminados os estudos e en quanto trabalhavam já como webdesig ners, Madiba e os seus amigos continua ram a desenvolver o projecto: melho rando a história, adquirindo novas com petências em termos de game design e de interacção por forma a conseguirem chegar a um produto suficientemente robusto para ser lançado no mercado. Madiba acabou por nunca saír dos Ca marões. Em 2011, depois de inúmeras re visões e mudanças ao guião original, ele e os seus amigos, acabaram por lançar o jogo no mercado local.

um novo mercado no continente Dois anos depois, e perante um enorme e inesperado sucesso, fundaram a sua própria empresa, a Kiro’o Games, o pri meiro estúdio camaronês inteiramen

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te dedicado à produção de videojogos. Convictos de que havia um mercado pa ra videojogos com um conteúdo inteira mente africano, isto é, cujas histórias as sentavam em mitos e lendas tradicio nais, mas às quais era incorporado um registo gráfico inovador e uma dinâmi ca contemporânea, lançaram, em 2016, uma campanha de crowdfunding, atra vés da plataforma Kickstarter e, deste modo, conseguiram lançar Aurion: Lega cy of the Kori-Odan no mercado interna cional através da Steam, uma platafor ma de distribuição global. Este lançamento deu à Kiro’o Games enorme projecção internacional sen do hoje considerada uma referência na emergente indústria dos videojogos em África. Refira-se que, logo em 2017, Madiba Guillaume Olivier foi nomeado para integrar a lista das personalida des mais inovadoras do continente pe la publicação norte-americana Quartz aquando da sua conferência anual Afri ca Innovators.

Neste momento, a Kiro’o Games é uma equipa constituída por 18 pessoas (ar tistas e programadores) e pretende po sicionar-se como uma plataforma criati va capaz de desenvolver, para além de videojogos, bandas desenhadas e filmes. O sucesso da Kiro’o Games não é um caso único no continente e a edição de 2018 do festival FEJA (Festival de l’Électronique et du Jeu vidéo d’Abidjan), que decorreu no passado mês de Novembro em Abid jan (Costa do Marfim), foi um indicador interessante do crescimento e da diver sificação da indústria dos videojogos no continente africano.

Mesmo se há quem questione a exis tência de uma verdadeira indústria de videojogos em África ninguém con testa o facto de que, ao longo da última década, se deu um salto significativo nessa direcção.

Surgiram inúmeras pequenas empre sas dedicadas ao desenvolvimento de videojogos – especialmente na Tuní sia, no Egipto, na África do Sul, na Nigé ria, no Gana e no Quénia – sendo que al gumas destas conseguiram mesmo posi cionar-se já no mercado internacional, e grandes feiras como a FEJA ou a Africa Games Week, em Cape Town, na África do Sul, têm sido um sucesso não apenas em termos de público mas também pe la capacidade que têm demonstrado em atraír programadores de todo o conti nente interessados em envolver-se nes te novo sector e, de forma talvez mais decisiva, têm visto aumentar nos seus

África ultrapassou a fase da computação e abraçou rapidamete o mobile

A nível mundial, o consumo de jogos através do telemóvel está em crescimento acelerado. O “mobile gaming” já ultrapassou os 70 mil milhões de dólares, mais de metade do mercado mundial

eventos a presença de grandes players internacionais como, por exemplo, a Ubi soft. Esta nova realidade foi particular mente evidente na edição do FEJA 2018 onde estúdios independentes como o Masseka Game Studio (República Centro Africana), o Studio Lomay (Madagáscar), o Mog Media Design (Níger), o Weza Interc tive (Quénia) e o Frontfire (Algéria) des pertaram de tal forma o interesse dos participantes internacionais que acaba ram por marcar presença em certames de primeiro plano como a Paris Game Week (França) ou a Gamescom em Colónia (Alemanha). A Paradise Games, a entida

de que organiza o FEJA, tem tido, aliás, um papel muito importante neste processo de internacionalização pois é uma das plata formas mais activas no desenvolvimen to da indústria dos videojogos em África. Apesar de, como refere Sidick Bakayoko, da Paradise Games, não existir ainda um “modelo de negócio” claro para o de senvolvimento desta indústria no con texto africano, a aposta da maior par te das empresas tem sido investir em jogos para telemóveis e tablets. O que não surpreende se atendermos ao fac to de que a penetração dos smartpho nes em África é uma das mais eleva

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das do mundo e foi também no con tinente que surgiram meios de pa gamento electrónico como o M-Pesa. Recorde-se que, em apenas dois anos, en tre 2014 e 2016, o número de smartphones em África duplicou, atingindo hoje os 226 milhões de pessoas conectadas, ao mesmo tempo que os preços baixaram, em mé dia, dos 230 dólares para os 150 dólares. Um estudo recente da Pew Research in dicava, por exemplo, que 89% da popula ção na África do Sul tinha um telemóvel, uma percentagem praticamente idênti ca à dos Estados Unidos, e que países co mo a Tanzânia estão já perto dessa taxa de penetração (73%).

o impacto dos telemóveis

Estes indicadores mostram como o crescimento acelerado da utilização de telemóveis tem tido um impacto sig

nificativo no consumo de videojogos. De acordo com Serge Thiam, responsá vel da Stay Connect, em 2014, havia em África 23 milhões de consumidores de vi deojogos (de todas as proveniências). Em 2018, esse número de “jogadores” atingia já os 500 milhões. “Há efectivamente aqui um enorme potencial porque em África os telemóveis ocupam um papel central e decisivo na vida das pessoas – acres centa Sidick Bakayoko – e, portanto, não faz muito sentido estar a desenvolver jo gos para consolas ou computadores”. Convém sublinhar que, a nível mundial, o consumo de jogos através do telemóvel está em crescimento acelerado. Segundo os últimos indicadores, relativos a 2018, o mercado do “mobile gaming” ultrapassou os 70 mil milhões de dólares, o que repre senta mais de metade do actual mercado dos videojogos em termos globais.

A tendência é, de acordo com vários es tudos, nomeadamente da Newzoo, que os smartphones venham mesmo a tor nar-se na plataforma de eleição para o consumo de videojogos ultrapassando as consolas e os computadores.

Mais uma razão, portanto, para pensar que o continente estará bem posicionado (se certas condições se materializarem) para ocupar um lugar destacado, a pra zo, no mercado global.

mercado local com expansão global Ainda de acordo com a Stay Connect, no mesmo período de quatro anos (20142018), o mercado dos videojogos em Áfri ca passou dos 105 milhões de dólares pa ra os 570 milhões.

Estes valores não incluem, por exem plo, as vendas de hardware pelo que Serge Thiam calcula que o mercado africano, considerado em termos glo bais, poderá representar, actualmen te, algo como mil milhões de dólares. Ora, este número, apesar de relevante, significa ainda muito pouco em termos globais. A indústria global dos videojo gos atingiu, em 2018, os 140 mil milhões de dólares, ultrapassando, assim, a in dústria cinematográfica (100 mil milhões de dólares). Por isso, para a Stay Connect (como para outros analistas), para o con tinente conseguir entrar, a sério, neste mercado mundial, existem ainda mui tos constrangimentos que têm de ser ultrapassados.

Em primeiro lugar, as ligações à internet continuam, de um modo geral, a ser pe nosamente lentas, pouco confiáveis e os custos de utilização da banda larga proi bitivos. Outro factor de constrangimento

é o custo excessivamente elevado do hardware, o que torna a vida dos pro gramadores muito difícil e complicada. A um outro nível, o enquadramento ju rídico, sobretudo no que toca às questões da propriedade intelectual e do copyri ght, é desadequado ou inexistente dei xando as empresas vulneráveis a todo o tipo de práticas predatórias. Mas um dos pontos mais críticos é a falta de investimento na formação de recur sos humanos. O talento existe, o potencial é enorme (basta lembrar que um quinto da população no continente está na fai xa dos 15-24 anos), mas a maior parte dos governos parece não ter ainda com preendido que este é um sector que po de gerar milhões de empregos e repre sentar uma “porta de entrada” na nova economia do conhecimento.

faltam pessoas qualificadas para crescer mais Como dizia Wilfried Ouonouan, um game designer costa-marfinense que faz par te do estúdio Work’d, baseado em Abid jan, e que esteve presente no FEJA, “nós aprendemos a desenvolver videojo gos através do You Tube e da internet. E criámos a nossa empresa graças ao YouTube. Hoje precisamos de crescer, enquanto empresa, para poder entrar no mercado global, mas lutamos, desepe radamente com a falta de pessoas qua lificadas”. Esta é uma queixa generali zada. Em alguns casos, como o da Kiro’o Games, devido ao seu sucesso interna cional, a opção, face às necessidades de crescimento, foi desenvolver os seus próprios programas de formação pa ra conseguir incorporar novos talen tos. Mas nem todos têm esta capacida de. Como nota Sidick Bakayoko, da Para dise Games, referindo-se ao contexto da Costa do Marfim, “estamos naquela si tuação típica do ovo e da galinha: os res ponsáveis governamentais querem que demonstremos primeiro que este é um sector que está a funcionar e tem poten cial e, portanto, não investe; como não investe, temos de procurar fundos, por nós próprios, o que é um processo len to e envolve um investimento da nos sa parte. Depois, como nem sempre dis pomos dessa capacidade para ir procu rar fundos também não conseguimos demostrar que o sector tem potencial.” Um jogo difícil de vencer, mas que está a ser jogado por todo o continente.

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texto Rui TRindade fotografia d.R.

alertas para salvar o planeta e a humanidade

Receia-se que até ao final do século a temperatura global aumente mais de três graus, caso se mantenha a tendência actual de subida. Em África, aumenta a frequência de catástrofes naturais que afectam as principais fontes de subsistência das populações, como aconteceu recentemente na Beira, enquanto na Europa se trava a luta contra as emissões de CO2

O discursO da salvaçãO do planeta e da humanidade pode parecer religioso e uma mera divagação sobre questões so brenaturais, mas, na verdade, tem tudo a ver com a realidade.

No seu último relatório “Living Planet”, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, da sigla em inglês) afirma que o plane ta se encontra hoje numa encruzilhada, mas, felizmente, nunca antes houve tan tas ferramentas ao nosso dispor para de cidirmos que caminho seguir.

Na nota introdutória do relatório, o direc tor-geral da WWF Internacional, Marco Lambertini, recorda que, conscientemen te, há muitos anos que se tem explorado o planeta ao limite e cita como exemplo “o surpreendente declínio nas populações de animais selvagens” em 60% nos últi mos de 40 anos. “É um lembrete sombrio e talvez o indicador final da pressão que exercemos no planeta”, defende, acres centando que “a ciência nunca tinha sido tão clara sobre as consequências do im pacto das acções do homem no ambiente” como actualmente, mas, felizmente, tam bém nunca tinha havido “mais conscien cialização nem investimento tão rápido para encontrar soluções. Hoje, temos o co nhecimento e os meios para redefinir o nosso relacionamento com o planeta”. O relatório “Living Planet 2018”, lançado no final do ano passado, cita a reflexão do pesquisador Max Roser, da Universida de de Oxford, que alerta que desde 1800 a população mundial cresceu sete vezes, ultrapassando os 7,6 bilhões, mas a eco nomia global cresceu 30 vezes mais. “Foi realmente nos últimos 50 anos que o de senvolvimento económico impulsionou um aumento fenomenal na demanda por energia, água, terra e petróleo, o que está a mudar fundamentalmente o comporta mento da Terra”, lê-se no documento, que esclarece, entretanto, que o aumento da procura por recursos naturais não se de ve à ascensão da população mundial em si, mas sim ao desenvolvimento económi co e ao crescimento das classes médias. “Este crescimento melhorou a vida de bi lhões de pessoas. A expectativa de vida média global é de mais de 70 anos. Doen ças como a varíola foram erradicadas, mais crianças atingem a idade adulta e menos mulheres morrem durante o par to. A pobreza está num mínimo histórico”, aponta o relatório, de acordo com o qual “essas melhorias exponenciais de saúde, conhecimento e padrão de vida têm um custo enorme para a estabilidade dos sistemas naturais que nos sustentam”. Ou seja, “o impacto do homem na natureza

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Á FORA

atingiu agora uma escala que interfere profundamente com a biodiversidade”. O relatório “Living Planet” revela que as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em taxas alarmantes e em Abril de 2018, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera atingiram uma média de 410 ppm (partes por milhão) du rante todo o mês, representando o nível mais alto em pelo menos 800 mil anos. Acima da Antártida, foi descoberto em 1985 que os produtos químicos fabricados haviam criado um vasto buraco na ca mada de ozono. Mais: quase 20% da Ama zónia, conhecida como o pulmão do Plane ta, desapareceu em apenas 50 anos.

oportunidade única De acordo com pesquisas, mais de 8.500 espécies de animais e vegetais são ameaçadas de extinção devido, entre outras causas, à exploração excessiva da natureza e à prática de agricultura. Entretanto, além destes dois factores, as espécies invasoras são mais uma amea ça frequente à sobrevivência de outras. Mas a poluição e a perturbação, pro venientes dos incêndios, da exploração agrícola, hidráulica e mineira, são fontes adicionais de pressão. “A mudança climá tica desempenha um papel crescente e já começa a ter um efeito em ecossiste mas, espécies e até mesmo no nível ge nético destas”, atesta o relatório que mos tra, entretanto, que a acção do homem se afigura como um dos “grandes assas sinos” da biodiversidade. Ou seja, a ex ploração excessiva de recursos naturais e a agricultura em constante expansão são impulsionadas pelo consumo humano em espiral. “Nos últimos 50 anos, a nossa Pegada Ecológica – uma medida do nosso consumo de recursos naturais – aumen tou cerca de 190%. A criação de um sis tema mais sustentável exigirá grandes mudanças nas actividades de produção, abastecimento e consumo humano. Para isso, precisamos de uma compreensão detalhada de como esses componentes complexos se conectam”, lê-se. Para o director da WWF Internacional, a agenda de conservação da nature za não consiste apenas em garantir o futuro das espécies em extinção, mas sim a continuidade da humanidade. “A vida quotidiana, saúde e meios de subsistência dependem de um planeta saudável. Não pode haver um futuro saudável, feliz e próspero para as pes soas num planeta com um clima deses tabilizado, oceanos e rios esgotados, ter ras degradadas e florestas vazias, todas

EmissõEs dE CO2 Em alta

As emissões de dióxido de carbono (CO2) aumentaram pela primeira vez em quatro anos, de acordo com dados avançados em Novembro passado pelas Nações Unidas, em Paris (França). Se a tendência actual persistir, a temperatura global pode vir a aumentar mais de três graus até ao final do século.

O estudo mostra que os esforços que estão a ser feitos a nível mundial para mitigar as alterações climáticas estão longe das metas definidas. As emissões globais de CO2 atingiram níveis históricos de 53,5 gigatoneladas de gás carbónico equivalente e os cientistas alertam que a temperatura global pode subir pelo menos três graus Celsius até ao fim do século.

Depois de as emissões globais de CO2 terem estabilizado entre 2014 e 2016, o documento aponta agora para o crescimento económico como principal causa da sua subida em 1,2%, em 2017. Para ir ao encontro dos objectivos previstos no Acordo de Paris, os países devem triplicar os esforços para manter o aquecimento global até 2030 abaixo de dois graus Celsius ou quintuplicar as acções para limitar o aumento da temperatura abaixo de 1,5 graus. Apenas 57 países, que representam 60% das emissões globais, estão no caminho para atingir a meta em 2030, informa o documento da ONU, que teve em consideração as medidas que

60%

é quanto decresceu a população das espécies animais e vegetais, entre 1970 e 2014. a américa central e do sul registaram um declínio ainda mais dramático, com uma perda de 89% desde 1970

os mais de 190 países-membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima apresentaram nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), como resultado do Acordo de Paris, assinado em 2015. No âmbito deste Acordo, cada nação estabeleceu um compromisso diferente de redução das emissões de CO2, com metodologias variadas de acordo com a sua realidade. Ao lado da China e do Japão, o Brasil é citado no relatório como um dos três países integrantes do G20 cuja meta prevê que até 2030 a redução das emissões de gases de efeito de estufa seja de 43%, atingindo, assim, as metas definidas para 2030. Já a Austrália, a Argentina, o Canadá, o Reino Unido, os EUA, a Coreia do Sul, a Arábia Saudita e a África do Sul são países aos quais a ONU “aponta o dedo” por não estarem a cumprir aquilo a que se propuseram. O relatório da ONU projecta ainda que a mitigação das mudanças climáticas possa ser reduzida com a revisão das acções no sector privado e o aproveitamento máximo do potencial de inovação e financiamento sustentável. Além disso, é sugerido aos governos que adoptem políticas fiscais de subsídio a alternativas de baixa emissão de carbono e que elevem as taxas ao uso de combustíveis fósseis, de modo a estimular investimentos no sector de energia e reduzir as emissões de CO2.

desprovidas de biodiversidade, a teia da vida que nos sustenta a todos”, defendeu Marco Lambertini.

declínio ambiental afecta, e de que maneira, o crescimento económico

O Fundo Mundial para a Natureza en tende que toda a actividade económica depende, em última análise, dos serviços prestados pela natureza, estimados em cerca de 125 triliões de dólares por ano. Para a ONG, à medida que se compreen de melhor a dependência humana dos sistemas naturais, fica claro que a pro tecção e conservação da natureza não são apenas uma “boa ideia”, mas sim uma necessidade.

Para WWF Internacional, a solução está na mudança de paradigma de consumo. “Embora a mudança climática seja uma

61 www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019

Á FORA

dEsEnvOlvimEntO vs amBiEntE

Os dados revelados no relatório “Living Planet”, do WWF, deixam bem claro que foi sobretudo nos últimos 50 anos que “o desenvolvimento económico impulsionou um aumento fenomenal na demanda por energia, água, terra e petróleo, o que está a mudar fundamentalmente o comportamento da Terra”.

ameaça crescente, os principais propul sores do declínio da biodiversidade con tinuam a ser a exploração excessiva das espécies, a agricultura e conversão de terras”, defende a organização. Actualmente, a questão das alterações climáticas assume um lugar de desta que na agenda política internacional, em função do impacto que vários fenómenos naturais têm tido na economia global. Em África, onde a população depende em larga escala da agricultura, pesca e flo resta, assiste-se a um crescente número de vítimas de secas ou inundações, o que, segundo o especialista, afasta ainda mais as soluções possíveis para a segurança alimentar no continente.

O climatologista do Grupo de Análise do Sistema Climático da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), Peter Johnston, considera que a segurança alimentar é a grande questão futura, tanto mais que muitos governos não têm dinheiro para importar alimentos em quantidade suficiente para as popula ções quando as colheitas falham. Numa entrevista à Deutsche Welle, agência noticiosa alemã, concedida no fi nal do ano passado, o especialista afirma va que as temperaturas elevadas “são, de facto, uma grave ameaça, sobretudo,

para o rendimento das colheitas”, disse. Recorde-se que, em 2017, os eventos cli máticos extremos resultaram em conse quências dispendiosas para os países. Moçambique é, de resto, um exemplo desta mudança que traz, consigo novos fenómenos climatéricos extremos a regiões em que eles não eram, de todo, habituais. Como se comprova pela ca tástrofe do mês passado na Beira, após a passagem do ciclone Idai, que deixou um rasto de centenas de mortos, e milhões de dólares de prejuízos, ainda por conta bilizar na sua totalidade.

Dos dez desastres naturais que causa ram o maior número de mortos no pri meiro semestre desse ano, oito envolve ram deslizamentos de terras.

De resto, as temperaturas cada vez mais elevadas e outras ameaças relacionadas com o clima foram também a principal causa de deslocações, com os últimos da dos a mostrarem que 76% das 31,1 mi lhões de pessoas deslocadas ao longo de 2016 foram obrigadas a abandonar as suas casas em consequência de eventos relacionados com o clima.

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L
FOTOGRAFiA
nívEis dióxidO dE CaRBOnO (CO₂) Concentração atmosférica (PPM) 1800 1900 2000 1750 1850 1950 fonte Living Planet, WWf 1800 1900 2000 1750 1850 1950 dEgRadaçãO da BiOsfERa tERREstRE % de redução das principais espécies 1800 1900 2000
1750 1850 1950 Valores em milhares de milhões
TExTO SebaStião vemba
iStockphoto
POPulaçãO mundial
Bio diversidade está seriamente ameaçada

O Barco do Amor

dizem-nos as notícias que Março foi um mês desgraçado. Na Beira, todos fomos sabendo o que se passou. Continuamos a descobrir, e a redescobrir, diariamente. Na medida desmedida dos números que se avolumam, baptizados com os nomes de pessoas que se perderam no vendaval mais do que esperado. Mas que, ainda assim, não foi contrariado. Essas contas serão para mais tarde multiplicar, porque há ainda demasiadas vidas para salvar, enquanto escrevo. E é aí que o esforço deverá recair, por dias, semanas e meses. Moçambique voltou a ser notícia, cá dentro e lá por fora. E Sofala, a Província com a capital na Beira, o lugar que se tornou manchete de sites, revistas e jornais, e abertura de noticiários.

Por todos os lugares em que há gente que gosta de outra gente, e ainda são muitos, as notícias foram levadas pelo vento, e trouxe ram a ajuda em forma de lamento. Mas de esperança também. O Brasil enviou dois aviões com ajuda, equipas de resgate e salvamento. A América, onde mora Trump mas também boa gente, também o fez, enviando 3,4 milhões de dólares de ajuda humanitária. E Portugal, África do Sul, Angola, Índia e tantos outros que se juntaram aos beirenses, num abraço próximo, estando ali para os ajudar a reerguer. Mas não foi só o mundo que o fez. Moçambique também se ajudou. E se um país são as suas gentes, ele, este país, será hoje bem maior do que algum dia foi.

E três dias e noites longas, no Porto de Maputo comprovam-no. Foi ali, na Baixa da capital, para onde a ajuda foi desa guando, em litros de água, quilos de farinha e arroz,

paletes de sabão, óleos, fraldas, sumos. Ela veio de mer cados e supermercados, de gente que é só gente, de empresas que são só isso mesmo. Mais umas para aju dar e que, só por isso, acabaram por se tornar mais do que só isso. Perto de duas mil toneladas formaram uma monta nha de bondade no Porto da capital, enchendo dois armazéns. Lá fora, um navio em espera. O objectivo eram 50 contento res, que se deveriam pôr ao caminho, por via marítima, ao longo dos três dias que se seguiriam, com destino à Beira. Faltavam braços, pernas. Mas nunca chegaram a faltar. Porque ao longo dessas 72 horas, mais de mil pessoas iguais a nós ali estiveram. Na parede, logo à entrada, a lista de quem assinou presença. Ossemanes, Joões, Julies, Bubacares, Naydas e Augustos, lia-se. De todas as cores, idades, identidades, via-se. Juntos, a desfazer sacos pesados, empurrando paletes, empu nhando quilogramas de força e vontade de fazer a diferença, transpirando coisas boas, num arrepio colectivo que vemos pouco, e quase só quando o mundo nos castiga. Mas que vemos, ainda. O barco que levava o amor de certas gentes por outras tantas gentes iguais lá zarpou com 74 contentores.

E chegou à Beira no tempo previsto. Terá feito alguma diferença. Porque para deter a força impa rável de um vendaval, nada mais pode haver do que a onda gigante de um povo que quer ser maior do que si próprio. Uma vaga sem cor, nem idade, nem credo, feita de vontade pura de voltar a ser o que se é, afinal. Humano.

O barco que levava o amor de certas gentes por outras tantas gentes iguais lá zarpou com 74 contentores. E chegou à Beira. Terá feito alguma diferença

NOVOS ÂNGULOS www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 64

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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Nesta edição, visitamos a Reserva Especial de Maputo

O Shawarma Show, em Maputo, leva-nos pelos sabores do Líbano

A escolha da Adega recai na nova vaga de bourbons americanos

g e
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70

eo Reino dos aniMais

Reserva especial de Maputo junto ao Índico

o verde intenso e perfuma do de humidade da floresta e o chilrear de centenas de pássaros faz-nos acreditar que entrámos no reino dos animais. Estamos na Reser va Especial de Maputo, a escassos quilómetros da ca pital. Os eucaliptos partidos, há pouco, dizem-nos que há elefantes por perto. O nosso guia, conhecido por “pai dos bichos”, Rodolfo Cumbane, con duz devagar. “Estão ali, e têm uma cria que deve ter dias”, alerta. Era uma manada de elefantes, um deles avançou ligeiramente. Ficámos a sa ber que mostram agressi vidade quando há crias. “Se estiverem sozinhos são mais controlados, mas daqui pode mos observá-los sem perigo”, recomenda. Também nos con fidenciou que estes enormes bichos têm uma mania muito peculiar: coçam as costas nas árvores. E de facto encontrá mos algumas sem qualquer vestígio de ramos, até uma al tura de mais de dois metros. “É muito engraçado ver um

animal tão feliz, até ri, estou aqui há 32 anos, já vi muito, mas isto que os elefantes fa zem é bem divertido”, conta Rodolfo a rir.

Deixámos os elefantes e en trámos numa planície dou rada. Por entre as poucas árvores, e quase camuflada, caminha em passo majestoso, mais uma família. São gira fas. Olham-nos calmamente e decidem avançar um pouco. Ficamos a observá-las, en quanto o nosso guia nos diz: “A Reserva tem cada vez mais animais jovens e isso é bom”. Mais uns quilómetros e mais animais, desta vez o Boi-cava lo, são muitos e fazem poeira. Na continuação da viagem, quase sempre acompanha dos por cabritos vermelhos e algumas impalas, encon trámos inúmeras lagoas. As maiores abrigavam centenas de variados pássaros, hipo pótamos e crocodilos. À nossa passagem, as aves voam em bando, enquanto os outros continuaram pachorrentos e indiferentes à nossa presen

ça. “Podemos avançar a pé e ver mais perto. Há mais cro codilos mas eles são matrei ros, ficam quietos, parecem pedras”, explica o “pai dos bichos”.

Depois de tanto verde, des cemos uma duna. Chegamos a uma praia onde os nossos olhos não conseguem alcan çar o fim. Aqui apetece fazer tudo menos ir embora. Apete ce rebolar na areia fofa até à água azul e ficar na conversa com as ondas. Também é pos sível pernoitar na reserva. Em Dezembro, inaugurou o lodge Anvil Bay, em Ponta Chemucane, com várias ca sinhas espalhadas pela en seada. O Anvil Bay, que quer dizer “árvore do bem”, é uma parceria entre um privado e a comunidade, até agora o único negócio com estas ca racterísticas no país.

Com a lua no caminho e de pois dos animais irem dormir, ficámos a saber que a reser va existe desde 1932 e será para sempre conhecida como a reserva dos elefantes.

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tExtO Cristina Freire fOtOgRAfiA Mauro Pinto

poR entRe as poucas áRvoRes, e quase caMuflada, caMinha eM passo Majestoso, Mais uMa faMÍlia de giRafas

CoMo ir

Vindo da fronteira de Ressano garcia, siga pela EN4 até ao Shoprite, entre à sua direita na EN2 até Boane e depois siga em direcção à Ponta do Ouro. A partir daí, prepare-se para viver uma aventura emocionante, atravessando a ponte sobre o rio Umbelúzi, junto da linha férrea, de onde se podem avistar as populações a lavar roupa, a nadar ou a cultivar as suas machambas. Vastas áreas de floresta natural e belas paisagens serão uma constante companhia ao longo dos 134 Km de estrada, com uma duração de aproximadamente 3 horas. goze estes momentos ao ritmo da natureza. Da Katembe para a Reserva distam 80 Km, cerca de 50 minutos. A estrada dentro da Reserva inclui troços de terra batida e outros de solo bastante arenoso. Recomenda-se a utilização de veículos 4×4.

onde dorMir

Junto à costa, existem locais de alojamento para acolher visitantes que podem juntar o gosto pela fauna e o mergulho.

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RoteiRo

o shawarma show abriu recentemente as suas portas, bem no centro da cidade de Maputo, e a sua proposta, as sente na culinária libanesa, é uma excelente introdução às tradições gastronómicas da quele país. O espaço é amplo, agradável e acolhedor, o aten dimento não desmerece e o menu é extenso e variado. A culinária libanesa é uma das mais famosas e populares em todo o mundo. Isso deve-se, em grande parte, ao contexto que marcou a história do Mé dio Oriente entre os séculos XVI e XX, nomeadamente à influência que os povos medi terrâneos e europeus exerce ram na antiga Fenícia, actual Líbano.

A miscigenação cultural re gional ocorrida nesta época contribuiu para o surgimen to de uma gastronomia rica e singular que se difundiu, com grande sucesso, não apenas por todo o Oriente mas também pelo Ocidente. Assim, e de forma muito resu

shawaRMa show delÍcias libanesas eM Maputo

mida, podemos dizer, a título de exemplo, que dos turcos fo ram herdados o gosto e o uso do azeite, dos pães, dos vege tais recheados, das frutas se cas e da coalhada, e que do pe ríodo marcado pela presença francesa resultou a adopção de vários pratos franceses. A culinária libanesa é repleta de aromas, temperos, especia rias e ervas, frutas, verduras e legumes frescos, conservas, azeite, trigo, lentilhas, açafrão, canela, gergelim, pimenta, cravo, noz-moscada, cominho, paprica, coentro, cebolinho, salsa e hortelã.

Num típico almoço ou jantar libanês, seja em casa ou em restaurantes, começa-se sem pre pelo tradicional “mezze” (entrada). “Mezze”, apesar do acento francês da palavra, vem da expressão árabe “alloumaza”, aquilo que é de

a culináRia libanesa é Repleta de aRoMas, teMpeRos, especiaRias, eRvas, fRutos, veRduRas e leguMes fRescos

gustado e saboreado delicada mente com a ponta dos lábios, e consiste em várias porções de conservas e iguarias ser vidas em pequenos pratos. Ao tradicional “mezze” se guem-se, geralmente, as sala das como a Tabouleh ou a Fat touch. Tanto a Tabouleh como Fattouch são preparadas com tomate, pepino, hortelã e sal sinha, porém, na Tabouleh acrescenta-se trigo fino cru, e no Fattouch apenas peque nos pedaços de pão árabe torrados.

Outras saladas que importa também experimentar são a Hummus e a Baba Ganoush. A Hummus é feita à base de grão-de-bico, que é cozido e espremido, e leva sumo de limão, alho, sal, tahine (pasta de gergelim) e azeite. Trata -se de um prato que não é só consumido no Líbano mas em todo mundo árabe. Já a Baba Ganoush é uma mistura muito saborosa de puré de beringela

com tahine e sumo de limão. A beringela pode ser grelha da ou assada. Após as saladas vêm os pratos principais. As sanduíches libanesas tor naram-se, sobretudo a partir do século XX, das mais con sumidas em todo o mundo. O exemplo mais conhecido é a Shawarma, que é feita com fatias finas de carne ou fran go, que são assados num espe to vertical, e é depois servida dentro de pão árabe, junta mente com pepino em conser va, tomate, cebola, coalhada seca ou pasta de alho e, muitas vezes, também, batatas fritas. No Shawarma Show é possí vel experimentar muitas des tas delícias. Desde as saladas (Tabouleh, Fattouch, Hummus, Baba Ganoush) até várias op ções de Shawarma ou, num outro registo, o também muito conhecido Soujouk (salsichas picantes). Há ainda uma va riedade de sumos tradicionais a não perder.

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+258
Rua
Armando Tivane (entre a 24 de Julho e a Sekou Touré)
841 002 001
shawaRMa show g

País

EUA região Kentucky aroMa

Frutas vermelhas, calda de caramelo e baunilha sabor

Xarope de maple, caramelo, especiarias, baunilha, frutas vermelhas teor alCoóliCo 45%

País

EUA região Kentucky aroMa

Baunilha, caramelo, laranja e notas florais sabor

Chocolate, baunilha, especiarias e notas de madeirao teor alCoóliCo 56,4%

few bouRbon

País

EUA região Illinois aroMa

Caramelo, malte, especiarias, canela. sabor

Caramelo, pimenta do reino, cravo e canela; final longo e floral teor alCoóliCo 46,5%

w ReseRve distilleR’s select

País EUA região Kentucky aroMa Laranja e caramelo. Ao contrário de outros bourbons, o aroma de baunilha é muito subtil, ainda que presente sabor Levemente picante, com bastante caramelo e açúcar mascavo. Baunilha e laranja subtis teor alCoóliCo 43,2%

bouRbon a nova vaga

dos

aMeRicanos

o bourbon é considerado por muitos a bebida nacional dos EUA. A sua designação vem do fac to de ter tido origem no condado de Bourbon, no Kentucky. Na verdade, a sua história quase se confunde com a do país, pois o início do seu fabri co está ligado à chegada, em finais do século XVIII, de imigrantes alemães, escoceses e do norte da Irlanda que trouxeram consigo não apenas a tra dição do consumo do whisky mas também os co nhecimentos de destilação que estão na sua base. Porém, enquanto os whiskies do Velho Continen te são essencialmente feitos com centeio, os nor te-americanos são feitos a partir do milho. Um bourbon, para se poder assim chamar, tem de ter no mínimo 51% de milho.

Existem muitas marcas que são bem conhecidas dos apreciadores (Jim Beam, o Wild Turkey, o Eli jah Craig, etc.), mas um facto interessante, em anos recentes, tem sido o destaque dado a bourbons com características particulares e distintivas. Um facto que atesta bem como os factores de dife renciação pesam cada vez mais no mercado. Um exemplo notório é o Maker’s Mark. Promovido co mo o “único bourbon artesanal do mundo”, é feito de trigo doce e vermelho, milho e cevada.

O Maker’s Mark é, certamente, um pioneiro mas a verdade é que a tendência para a produ ção artesanal, enquanto garante de “autentici dade”, vem ganhando força e seria de admirar se, também no que diz respeito aos bourbons, ela não se verificasse. Daí que não possamos deixar de mencionar o Few, um bourbon relativamente seco e apimentado feito de 70% de milho, 20% de centeio e 10% de cevada.

A nossa sugestão principal deste mês vai, no en tanto, para o Woodford Reserve Distiller’s Select que tem sido incluído, de forma consistente, no lo te dos melhores bourbons actualmente disponí veis no mercado. Feito de forma 100% artesanal, é produzido por uma das mais antigas destilarias dos Estados Unidos.

Um dos aspectos que lhe confere uma personali dade muito particular é o facto de ser composto de 72% de milho, 18% de centeio e 10% de malte de cevada, com uma fermentação mais demorada.

As barricas virgens de carvalho onde matura são produzidas na Brown Forman Cooperage, também responsável por fabricar as usadas pe la Jack Daniel’s. Isso permite que a destilaria esco lha apenas as melhores barricas para maturar o seu bourbon durante sete anos, quase três anos a mais do que a maioria dos Jack Daniel’s.

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MakeR’s MaRk wild tuRkey RaRe bReed
whiskies
a históRia do bouRbon quase se confunde coM a pRópRia históRia dos estados unidos

música filmes livros

• em destaque

“Black leopard, red Wolf” Marlon JaMes ed. riverhead Books

DANÇAR - NARRATIVAS TRÍPTICAS

ADIoDATo GomeS | CuRADoRIA: uTe FeNDleR

eXposiÇÕes fotogRafia cineMa

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de Exposições inauguração: 2 de Abril Hora: 18h30 Aberta até 11 de Maio

mulHeR, SoCIeDADe e DeSAFIoS exPoSIÇão ColeCTIVA De mATxAkHoSA e AbÍlIo mAHumANA

WoRkSHoP De FoTojoRNAlISmo oRIeNTADo PoR joão PINA (APeNAS PoR CoNVITe)

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dias: 9 a 13 de Abril

NoCeS De STePHAN STRekeR (bélGICA , 2017, 98’) SemANA DA FRANCoFoNIA| PARCeRIA: embAIxADA DA bélGICA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia: 1 de Abril Hora: 19h PINA ReAlIzAÇão: WIm WeNDeRS

Depois de ter ganho, em 2015, o prestigiado Man Booker Prize pelo seu livro A Brief History of Seven Killings (Breve História de Sete Assassinatos, publicado em língua portu guesa pela editora Relógio d’Água), o escritor jamaicano Marlon James, actualmente a residir nos Estados Unidos, acaba de lançar “Black Leopard, Red Wolf”, o primeiro vo lume da sua the Dark Star trilogy. O “New York times” descreve a geografia imaginária de “Black Leopard, Red Wolf” como um cruzamento entre o universo mágico do escritor gabriel garcía Márquez e a pintura delirante de Hieronymus Bosch, sublinhando ainda múltiplas influências que vão dos super-heróis das bandas desenhadas da Marvel à saga “guerra dos tro nos” de george RR Martin. Com efeito, a acção decorre num “lugar inventado” localizado em África: “Eu queria um mundo que, de certa maneira, não fizesse qualquer sentido, ou que não estivesse realmente no nosso plano de existência, porque em muitas histórias africanas ver dadeiras, não há separação entre realidade e sonho, ou realidade e fantasia, ou entre mortos e vivos.”

Fundação Fernando Leite Couto galeria inauguração: 3 de Abril Hora: 18h lANÇAmeNTo Do lIVRo “DICIoNáRIo De PARTICulARIDADeS lexICAIS e moRFoSSINTáCTICAS DA exPReSSão lITeRáRIA em PoRTuGuêS: moÇAmbIque” De mICHel lAbAN

liteRatuRa

Centro Cultural

Franco-Moçambicano Dia: 3 de Abril Hora: 16h

PeDRo PeReIRA loPeS eSCRIToR Do mêS SeSSão DINAmIzADA PoR mbATe PeDRo

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia: 16 de Abril Hora: 17h

Fundação Fernando Leite Couto inauguração: 4 de Abril Hora: 18h THe mIll umA ColAboRAÇão áFRICA Do Sul e SuÍÇA

MÚsica

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dias: 5 de Abril Hora: 20h30

AbRAHAm meNNeN quARTeT (ÀFRICA Do Sul)

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 10 de Abril Hora: 18h

teatRo

oS moNÓloGoS DA VAGINA GRuPo CulTuRAl HANyA ARTe ADAPTAÇão e eNCeNAÇão: mARIA CloTIlDe

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 5 de Abril Hora:18h

CeNAS CuRTAS A CoNSTRuÇão

D o PeRSoNAGem: PRo CeSSo S e bARReIRAS (CoNVeRSA/ DebATe)

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 25 de Abril Hora:18h

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“(f)achadas”, a nova eXposiÇão de joão RoXo

o designer João Roxo, um dos fundadores da Anima – Estú dio Criativo, tem vindo a de senvolver, nos últimos anos, uma série de projectos indivi duais marcados por uma forte dimensão autoral.

Um exemplo particularmen te ilustrativo dessa sua capa cidade de gerar uma lingua gem estética cuja expressivi dade a torna inconfundível (e imediatamente reconhecível) foi a exposição “Objectos em Trânsito”, realizada em 2018 no Camões – Centro Cultural Português, no âmbito do festi val Maputo Fast Forward. O que distingue o trabalho de João Roxo deriva da sua capa cidade de ir além dos códigos inerentes e previsíveis à lin guagem do design para incor porar uma diversidade de ou tros registos que o posicionam claramente como um artista visual com um espectro de re cursos dignos de sublinhar. Mas o que confere uma dis tintiva genuinidade ao seu

trabalho decorre do exercício de pesquisa conceptual que vem desenvolvendo de for ma meticulosa ao longo dos úl timos anos e que se traduz na tentativa de formulação do que ele designa como o “ter ceiro espaço do design”, espa ço esse que, dito de forma mui to simplificada, seria defini do por uma emancipação em relação aos modelos de “comu nicação visual” impostos pelo Norte e pela capacidade de in corporar e combinar a lingua gem da “informalidade” pre valecente no Sul na narrati va dominante, de modo a dar corpo a um novo território de “representação”.

O seu novo projecto, intitula do “(F)achadas”, presente na 16Neto – Espaço Criativo, con tinua nessa senda explorató ria. Nesta exposição, João Ro xo ensaia uma “desconstru ção” das formas arquitectóni cas dominantes na cidade de Maputo através de um exer cício criativo de matriz grá fica no qual, uma vez mais, se revela o seu traço sempre muito distintivo.

joão RoXo, uM dos fundadoRes da aniMa – estÚdio cRiativo, teM vindo a desenvolveR, nos ÚltiMos anos, uMa séRie de pRojectos individuais

Na introdução à exposição, João Roxo escreve: “Com o cres cimento desenfreado da tra ma urbana, a ortogonalida de intencional planeada con flui em percursos capilares entrelaçados, aparentemen te desprovidos de lógica ou funcionalidade. Esta cidade, como qualquer ou tra, é um arquivo vivo e a me mória nela inscrita é ocultada por novas camadas sobrepos tas pelo tempo e impostas pe la promessa de um desenvol vimento definido pelos índices de crescimento económico. Nesta requalificação do edi ficado, presenciamos a len ta distorção de um pano rama urbano que metafo riza uma linha temporal. Assim se distorcem narrati vas e lentamente se instala a amnésia generalizada. Numa série de impressões gráficas, Roxo apresenta des construções de formas arqui tectónicas encontradas nas fa chadas de edifícios da cidade de Maputo.

Em analogia à construção des regrada, estas formas geo métricas transformam-se e criam outras narrativas, distorcidas, contorcidas.”

João Roxo 16Neto – Espaço Criativo

Av. Agostinho Neto, 16 –Maputo Patente até 26 de Abril

tExtO rui trindade fOtOgRfiA d.r.

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(f)achadas

e-bikes

B-52, da Stealth velocidade de até 80 km/h e autonomia máxima de 100 km Stromer ST5 velocidade de até 45 km/h e autonomia máxima de 180 km

ve-bikes, a ReinvenÇão

a introdução de motores eléctricos veio revolucionar o conceito tradicional da bici cleta e, segundo dados da con sultora Navigant Research, estima-se que em 2020 have rá 38 milhões de unidades a circular no mundo, algo nun ca visto. Esta mudança resul ta da conjugação de um con junto de factores muito diver sos, desde as preocupações ambientais ao cada vez mais insustentável congestiona mento urbano que leva mui tos a optarem por meios de transporte alternativos. Mas o aparecimento de um número cada vez maior de e -bikes reflecte também o fac to de, com os investimentos que grandes marcas como a BMW, a Volkswagem ou a Tesla estão a fazer no desen volvimento de carros eléctri cos, tornou-se inevitável que essa reconversão tecnológica fosse também alargada a um

mercado que tenderá a cres cer exponencialmente nos próximos anos. O mercado das e-bikes apre senta hoje uma oferta mui to diversificada com mode los especificamente concebi dos para diferentes tipos de actividade (mobilidade ur bana, estrada, montanhis mo e trilhas, etc.). E as revis tas da especialidade têm vin do a destacar, desde o início do ano, algumas das e-bikes que consideram mais bem posicionadas para obter a preferência dos consumido res mais exigentes. Assim, B-52, da Stealth, tem vindo a ser referida como um dos modelos mais interessan tes para percursos de trilhos. Com capacidade para atin gir uns impressionantes 80 km/h, tem uma autonomia de 100 quilómetros sem pedalar. Para quem gosta de fazer so bretudo estrada, a Trek Ma

da bibicleta

done SLR9 Disc é uma opção de altíssima qualidade. É basea da numa estrutura aerodinâ mica em carbono OCLV700 de última geração, com tecnolo gia IsoSpeed capaz de amor tecer as vibrações e estabi lizar a pedalada, para efi ciência e conforto em peda ladas sobre piso irregular. Em termos de cidade, uma das mais performativas é a Stromer ST5, a qual já tem sido considerada “como um verdadeiro Lamborghini de cidade”. A marca suíça ofere ce, neste modelo, um pedal as sistido com quadro totalmen te integrado e um motor Syno Sports de 850 watts assistido por uma bateria de 983 Wh, que pode alcançar uma velo cidade de até 45 km/h e tem autonomia máxima de 180 km. Oferece ainda assistência que pode ser personaliza da usando a app para smar tphone da Stromer, estando equipada com sistema de ilu minação completo, com farol de 1 600 lumens integrado e LEDs para áreas urbanas.

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019 74
desde a invenÇão da bicicleta, há quase 200 anos, que não se assistia a uMa tRansfoRMaÇão tão Radical na foRMa de pedalaR

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