Sax & Metais #5

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GAITA

TESTAMOS!

GABRIEL GROSSI

Sax Eagle SA 501 afinação de primeira classe Palheta Rico Royal e boquilha Rico B5 boa sonoridade para o clarinete

O aprendiz do mestre Einhorn

FLAUTA

CORINA MEYER

Apenas 18 anos e currículo de gente grande

GOSPEL

ANGELO TORRES

mistura do pop com black music que deu certo

RAUL DE SOUZA

SAX&METAIS•2006•Nº 5•R$ 8,50

“Nasci com um dom, a facilidade de pegar qualquer instrumento e sair tocando”

MARCELO MARTINS

Mergulha em carreirasolo em 2007

E MAIS: As novidades da Expomusic 2006 ClarinetFest: cobertura completa do evento em Atlanta Capa_Sax&Metais 5.indd 1

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EDITORIAL

Esta revista apóia

O REI DO TROMBONE

A

ntes deste exemplar da revista chegar em suas mãos, há um processo que envolve uma série de profissionais supercomprometidos em trazer o melhor do mundo do sopro. Tudo começa com a pauta, decidida em uma criteriosa reunião entre os editores e o diretor da revista, quando também levantamos as sugestões dos leitores. Decidida a pauta, vem a produção das reportagens, com a coleta e checagem de informações e, finalmente, a diagramação, que torna todas essas informações bonitas visualmente e mais fáceis de ler. Comecei nossa conversa contando essa história porque, na reunião de pauta que definiu as matérias desta quinta edição, ficamos todos muito felizes com a reportagem de capa. Afinal, não é sempre que se tem Raul de Souza estampando as páginas de uma publicação, com tantos detalhes e fotos (do competente Marcelo Rossi). Ainda mais quando o texto foi escrito por um grande jornalista de música e cultura, Arnaldo DeSouteiro. Com sensibilidade ímpar, ele nos apresenta um trombonista versátil, alegre e, acima de tudo, com técnica invejável. Além do craque do trombone, Sax & Metais desse mês mostra o jovem talento da gaita Gabriel Grossi, aprendiz do mestre Maurício Einhorn, que nos conta sobre sua já vitoriosa carreira. Junte ao nome de Grossi o virtuosismo do saxofonista Marcelo Martins e de Corina Meyer. Com apenas 18 anos, ela formou um trio de choro com as irmãs e mostra que concilia técnica com sensibilidade. Para completar, os esperados workshops trazem dicas superespertas de grandes músicos para você tocar cada vez melhor. Confira as lições de AC (saxofone), Vadim Arsky (saxofone), Júnior Galante (trompete) e Gian de Aquino (tuba). Espero que goste e aproveite. Até o mês que vem! Um abraço, Regina Valente ajuda@saxemetais.com.br 4

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Edição Técnica Débora de Aquino Revisão Hebe Ester Lucas Departamento Comercial Marina Markoff Eduarda Lopes Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Fotos Marcelo Rossi(capa), Michel Moraes e divulgação Colaboradores Ludmila Curi (reportagem); Marcelo Monteiro e Michel Moraes (análises); Afonso Cláudio, Júnior Galante, Gian de Aquino e Vadim Arsky (workshops) Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 Brooklin Novo • CEP: 04569-001 São Paulo / SP / Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais saxemetais@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br

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SAX & METAIS ABRIL / 2006

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ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 14 Vida de músico Alexandro Caldi 36 Análises Saxofone alto Eagle SA 501, Palheta Rico Royal 2½ e Boquilha Rico B5 39 Reviews CDs e Livro

MATÉRIAS 16 Gospel: conheça o trabalho do saxofonista Angelo Torres, que faz um som moderno e de qualidade 18 Gabriel Grossi: Um dos ícones contemporâneos da gaita, Grossi fala sobre sua carreira, a influência do mestre Maurício Einhorn e os projetos para 2007. 26 Marcelo Martins: conhecido sideman do cantor Djavan, com quem trabalha há mais de 10 anos, o saxofonista fala de suas influências, trajetória e projetos de gravação de disco-solo.

28 Expomusic 2006: saiba o que rolou no maior encontro sobre música da América Latina. A Sax & Metais conferiu a feira e trouxe novidades. Confira! 32 ClarinetFest: Michel Moraes esteve no encontro anual de clarinetistas, organizado pela Internacional Clarinet Association, e nos conta o que aconteceu por lá. 34 Corina Meyer: Jovem talento do choro, com apenas 18 anos, a flautista se revela uma grande instrumentista nesse engenhoso estilo musical.

26 Marcelo Martins

WORKSHOPS 40

AC (SAXOFONE) False Fingerings: alterando o timbre das notas

20 Raul de Souza Em matéria especial de Arnaldo DeSouteiro para a Sax & Metais, o craque do trombone fala sobre carreira, planos e seu novo CD 6

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Vadim Arsky (SAXOFONE) História e tabela dos superagudos

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Gian de Aquino (TUBA) Plano de estudos e técnicas de respiração

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Júnior Galante (TROMPETE) Dicas de articulação e progressão

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CARTAS Teco Cardoso Gostei muito da entrevista com o flautista e saxofonista Teco Cardoso (S&M #4). Gostaria de ver nas próximas edições alguma matéria sobre flautas étnicas e dicas de compra, importação e modelos das flautas em G e baixo, que são mais difíceis de se obter aqui no Brasil, embora possuam timbres fantásticos. Josec Neto, por e-mail Prezado Josec, suas sugestões foram anotadas! Obrigada por nos escrever.

Luthier Norberto A revista está cada vez melhor, com ótimas reportagens. Na edição 5, minha preferida foi a do luthier Norberto. Conhecia-o somente por nome e, realmente, o cara é fera! Parabéns aos editores e repórteres da Sax & Metais, é uma ótima publicação. Germano Neres, Bagé, RS

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Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - CEP: 04569-001 - São Paulo / SP - Brasil

Foi uma grata surpresa a matéria com o Norberto. Ele tem feito muito sucesso em Nova York também e merece todo esse reconhecimento. Marcelo Coelho, São Paulo, SP

Literatura de sopro É com grande satisfação que escrevo para congratular a todos os responsáveis por esta nova revista Sax & Metais. Já estava mais do que na hora de nós, instrumentistas de sopro, termos uma literatura especifica. Gostaria de saber quem são os responsáveis e se existe uma condição especial para novos assinantes. Agradeço e desejo muita sorte! Adriano Fiorinm Coordenador da Todos Tons Escola Livre de Arte www.todostons.com.br

encher esta lacuna. A revista é coordenada pelo diretor Daniel Neves, pela jornalista Regina Valente e pela nossa supereditora técnica, a saxofonista e flautista Débora de Aquino, professora do CLAM (www. clamzimbo.com.br), em São Paulo. Contamos também com um time de colaboradores de primeira linha. Sobre assinaturas, você pode consultar o box nesta página.

COMO ASSINAR SAX & METAIS Entre em contato com nosso departamento de assinaturas pelo telefone (11) 5103-0361 ou escreva para ajuda@saxemetais.com.br colocando nome, endereço completo, cidade, estado e telefone, ou ainda preencha o formulário disponível no site www.musicaemercado.com.br, especificando a revista Sax & Metais. Disponibilizamos a assinatura da revista por um ano (12 exemplares). O valor é de R$ 95,00 e o pagamento pode ser feito por cartão de crédito (Visa) ou depósito bancário (Banco do Brasil).

NÚMEROS ANTERIORES Prezado Adriano, de fato o universo do sopro estava carente de informações detalhadas e a revista Sax & Metais, lançada em maio de 2006, veio com a proposta de pre-

Para adquirir as edições anteriores da revista, ligue para (11) 5103-0361 ou mande um e-mail para ajuda@saxemetais.com.br.

Comunidade Sax & Metais no Orkut, participe! www.orkut.com/Community.aspx?cmm=12315174

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Ivo Perelman e Ernest Reijsenger: sax e violoncelo de primeira classe

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS - IVO PERELMAN | TEM CROMÁTICA NA DIATÔNICA

LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

25 anos depois, Ivo Perelman se apresenta no Brasil

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LIVE!

m dos raros músicos brasileiros a praticar exclusivamente a linguagem free jazz, o saxofonista brasileiro radicado nos Estados Unidos há 25 anos esteve no Brasil durante o mês de setembro, apresentando-se pela primeira vez depois de tanto tempo longe da terra natal. O show no Tom Jazz, em São Paulo, contou com a participação do violoncelista holandês Ernst Reijsenger e fez parte do projeto Solidário Jazz 2006, realizado pela Plataforma Brasil – Holanda – Jazz. Este é o terceiro ano do projeto, que promove encontros entre músicos holandeses e latino-americanos e parte da renda obtida é destinada a projetos assistenciais locais. Em 1981, Perelman se mudou para os Estados Unidos para conhecer o jazz a fundo e foi estudar na Berklee School, em Boston. Hoje, aos 44 anos, acumula mais tempo de EUA do que de Brasil. “Por isso, sou muito mais conhecido fora do que dentro do País”, conta ele. Em 25 anos de carreira, tem 28 CDs lançados, com participação de músicos expressivos como Flora Purim, Airto Moreira, John Patitucci, Dominic Duval e tantos outros. Nos últimos anos, o saxofonista vem desenvolvendo um trabalho em que interage com instrumentos de cordas. Seu mais recente CD, Soul Calling (Candence), é um duo com o contrabaixista nova-iorquino Dominic Duvall. Em rara oportunidade, Sax & Metais conversou com este músico excepcional e, em breve, você confere uma matéria completa.

Tem cromática na diatônica

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onsiderado por muitos como um dos expoentes no Brasil da técnica que ele batizou de ‘cromatismo na harmônica diatônica’, Otavio Castro está de site novo – www.otaviocastro.com –, cheio de atrações, como a seção multimídia. Nela, é possível ouvir canções de Coltrane (Impressions), Pixinguinha (o choro Segura Ele) e músicas de autoria do próprio gaitista. Castro começou como professor de música e foi para Nova York, quando tocou com músicos importantes como Mark Whitfield, Deanne Witowiski e Hector Martingnon. No Brasil, participou de shows e gravações com João Donato, Carlos Lyra e Carlos Malta. Endorser da Hohner, o gaitista se dedica também ao trabalho autoral, criando composições instrumentais para a harmônica-diatônica e utilizando a harmônica baixo em arranjos. > Sax & Metais – Qual a grande vantagem de tocar com essa técnica? Otávio Castro – Acredito que é a abertura de horizontes musicais para todos que gostam de tocar gaita. Isso porque a gaita diatônica, apesar de levar esse nome, é também uma gaita

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cromática, pois tem 38 notas cromáticas. Contudo, a diferença estrutural entre uma gaita diatônica e uma gaita cromática consiste na repetição das oitavas e no uso de uma chave lateral. No caso da diatônica, não só as oitavas são bem diferentes quanto à disposição das notas, como não há a chave lateral. Costumo comparar a gaita diatônica ao pife e a gaita cromática à flauta transversa. > Há alguma mudança de timbre? Muitas novidades vêm vindo por conta das novas dicções que as músicas recebem ao serem tocadas por um instrumento tão orgânico. Pela ausência da chave lateral, as melodias e os improvisos tendem a soar bem ‘falados’. As notas vão mudando e o rosto vai mudando junto. É bem diferente da frieza de se apertar um botão na hora certa. Então, acho que a música brasileira, sobretudo, tende a receber novos ares com a chegada desse velho-novo instrumento. > Quando começou a praticar essa técnica?

Comecei a cromatizar a gaita diatônica quando fazia aulas de gaita cromática com Maurício Einhorn, justamente porque não acreditava ser possível tocar as músicas que eu gostava no instrumento que inicialmente havia escolhido. Contudo, ia para casa e cismava em fazer os exercícios na gaita diatônica. Foi a época em que tomei conhecimento do trabalho de Howard Levy, gaitista americano que primeiro sistematizou a técnica de cromatizar a gaita diatônica. > Que gaitas você usa? Utilizo a Golden Melody afinada em C (prata) e a gaita-baixo Double Bass Extended, ambas da Hohner.

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Tem cromática na diatônica

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onsiderado por muitos como um dos expoentes no Brasil da técnica que ele batizou de ‘cromatismo na harmônica diatônica’, Otavio Castro está de site novo – www.otaviocastro.com –, cheio de atrações, como a seção multimídia. Nela, é possível ouvir canções de Coltrane (Impressions), Pixinguinha (o choro Segura Ele) e músicas de autoria do próprio gaitista. Castro começou como professor de música e foi para Nova York, quando tocou com músicos importantes como Mark Whitfield, Deanne Witowiski e Hector Martingnon. No Brasil, participou de shows e gravações com João Donato, Carlos Lyra e Carlos Malta. Endorser da Hohner, o gaitista se dedica também ao trabalho autoral, criando composições instrumentais para a harmônica-diatônica e utilizando a harmônica baixo em arranjos.

NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS - IVO PERELMAN | TEM CROMÁTICA NA DIATÔNICA

LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

LIVE!

Ivo Perelman no Brasil

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m dos raros músicos brasileiros a praticar exclusivamente a linguagem free jazz, o saxofonista brasileiro radicado nos Estados Unidos há 25 anos esteve no Brasil durante o mês de setembro. O show no Tom Jazz, em São Paulo, contou com a participação do violoncelista holandês Ernst Reijsenger. Em 25 anos de carreira, Perelman tem 28 CDs lançados, com participação de músicos expressivos como Flora Purim, Airto Moreira, John Patitucci e Dominic Duval. Nos últimos anos, o saxofonista vem desenvolvendo um trabalho em que interage com instrumentos de cordas. Seu mais recente CD, Soul Calling (Candence), é um duo com o contra-baixista novaiorquino Dominic Duvall. Em rara oportunidade, Sax & Metais conversou com este músico excepcional e em breve, você confere uma matéria completa.

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> Quando começou a praticar essa técnica? Comecei a cromatizar a gaita diatônica quando fazia aulas de gaita cromática com Maurício Einhorn, justamente porque não acreditava ser possível tocar as músicas que eu gostava no instrumento que inicialmente havia escolhido. Contudo, ia para casa e cismava em fazer os exercícios na gaita diatônica. Foi a época em que tomei conhecimento do trabalho de Howard Levy, gaitista americano que primeiro sistematizou a técnica de cromatizar a gaita diatônica. > Que gaitas você usa? Utilizo a Golden Melody afinada em C (prata) e a gaita-baixo Double Bass Extended, ambas da Hohner.

> Sax & Metais – Qual a grande vantagem de tocar com essa técnica? Otávio Castro – Acredito que é a abertura de horizontes musicais para todos que gostam de tocar gaita. Isso porque a gaita diatônica, apesar de levar esse nome, é também uma gaita cromática, pois tem 38 notas cromáticas. Contudo, a diferença estrutural entre uma gaita diatônica e uma gaita cromática consiste na repetição das oitavas e no uso de uma chave lateral. No caso da diatônica, não só as oitavas são bem diferentes quanto à disposição das notas, como não há a chave lateral. Costumo comparar a gaita diatônica ao pife e a gaita cromática à flauta transversa. > Há alguma mudança de timbre? Muitas novidades vêm vindo por conta das novas dicções que as músicas recebem ao serem tocadas por um instrumento tão orgânico. Pela ausência da chave lateral, as melodias e os improvisos tendem a soar bem ‘falados’. As notas vão mudando e o rosto vai mudando junto. É bem diferente da frieza de se apertar um botão na hora certa. Então, acho que a música brasileira, sobretudo, tende a receber novos ares com a chegada desse velho-novo instrumento.

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Mauro Senise é indicado ao 7º Grammy Latino

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saxofonista concorre com o CD Templo Caboclo, na categoria Álbum de Música Clássica. O disco reúne obras de compositores clássicos brasileiros, dentre eles Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone e Guerra Peixe, fontes inesgotáveis para gravações e concertos eruditos, que neste álbum ganharam um toque de música popular, com arranjos de Jota Moraes e a belíssima interpretação de Mauro Senise. “A idéia original é do Jota. Apesar de trabalharmos na linha popular, estamos

muito ligados ao clássico, e ele tinha este sonho de gravar só compositores eruditos. Só que era um projeto difícil e caro”, destaca Mauro. O resultado é um tanto inusitado no que diz respeito aos arranjos. “Tem peças criadas originalmente para violão, como Choros nº 1, de Villa-Lobos, que ganharam piccolo, cravo, cello, contrabaixo e até pandeiro”, conta. A orquestra é a Rio Strings, sob regência de Erani Aguiar. O disco conta ainda com o vibrafone de Jota Moraes e a voz de Mônica Maciel.

Trompete, flugelhorn & sax

Por Ludimila Curi

Sax & Metais conversou com três feras do sopro. Marcelo Cotarelli, trompetista, arranjador e professor. Faz parte da banda Funk Como Le Gusta. Músico de grande experiência, já tocou em shows de Jorge Benjor, Ed Motta e Elza Soares, além de acumular a direção da Orquestra Popular da Ilhabela. Jessé Sadoc, um dos grandes trompetistas em atividade no Brasil, conhecido como sideman de Guinga, João Bosco, Ed Motta e Marisa Monte; e Renato Franco (flauta e sax tenor), músico carioca bastante requisitado no meio instrumental. Os dois últimos fazem parte da banda de Marcos Valle. Eles falaram sobre as diferenças de timbres do trompete e do flugelhorn, e como esses instrumentos podem se combinar, em arranjos, com os saxofones de forma harmoniosa. > Sax & Metais - Quando é mais adequado o flugel e quando cabe melhor o trompete? Jessé Sadoc: É o lance da adequação de timbre. Quando a música é mais suave, acabamos escolhendo o flugelhorn por ser um instrumento com um timbre mais doce. O trompete é mais brilhante, então é melhor na música com mais punch, com uma dinâmica mais forte. Marcelo Cotarelli: O flugel é solista, tem timbre mais suave, mais macio. Na hora do solo, pode-se optar, mas as músicas mais suaves favorecem o flugelhorn. > E como o sax se comporta? Como é a harmonia com o flugel? Renato Franco: Isso tudo depende do arranjador. Ele vê a textura, a doçura do instrumento. Há combinações que sempre dão certo, como flugelhorn e flauta ou sax alto e flugel. Quando queremos mais pegada,

usamos saxofone tenor e trompete, porque são dois instrumentos de muito peso. O trompete é mais brilhante e o tenor é mais encorpado, dá uma segurada. > E como acontece no som do Marcos Valle? Renato Franco: Neste caso do disco instrumental, do Jet Samba, na maioria das melodias as vozes são os sopros, como se fossem os cantores. Jessé Sadoc: Completando, sobre as músicas vocais, hoje em dia estamos mais acostumados a ouvir instrumentos eletrônicos, como o baixo e a guitarra, e acústica é a bateria. As pessoas não estão mais habituadas com a cor que é o som do instrumento de sopro. Então, o pessoal que tem contato com o que acontecia antigamente insere mais esse tipo de instrumento e dá uma cor diferente, mais rica, com mais harmônico e é até mais bonito.

> E quanto ao uso da surdina? Jessé Sadoc: A surdina muda o timbre do instrumento, é mais ou menos como o flugelhorn. Às vezes o timbre da música pede a surdina, que é uma coisa mais leve, mais sutil. Às vezes também quando se tem trompete e flauta e precisa-se ser doce, mas ao mesmo tempo aparecer bem. A surdina que usei no show hoje, por exemplo, tem um som doce, mas um ataque que projeta bem, então ela combina a doçura com projeção. É uma função específica. > Que dicas dariam aos jovens músicos? Renato Franco: Ouvir de tudo sem preconceito e ter disposição para estudar muito, com bons professores, boa informação e direcionar bem. Não se fechar em guetos musicais, ouvir jazz, bossa nova, música instrumental, música de cantor, hip hop, o que for. SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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LIVE!

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Quinteto Villa-Lobos em ritmo acelerado

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS: QUINTETO VILLA LOBOS | TORNEIO DAS CAMPEÃS

LIVE!

Poucos grupos de música de câmara no mundo podem se gabar de viver só desse tipo de música, como é o caso do Quinteto Villa-Lobos. Seus integrantes Antonio Carlos Carrasqueira (flauta), Luís Carlos Justi (oboé), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fegerlande (fagote) estão juntos há dez anos e, nos últimos 12 meses, gravaram três CDs. Desses, dois já foram lançados no circuito comercial. Um dos álbuns traz um projeto inédito, reunindo a produção de um dos mais importantes compositores brasileiros, A Obra Completa para Sopros de Villa-Lobos, apoiado pela Petrobras Cultural. O ano de 2006 vem sendo especial para o quinteto. Em maio, realizaram a série de Concertos Didáticos, dirigida a crianças e jovens de 66 escolas diferentes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Antes de fechar o ano, o QVB faz turnê pela Alemanha, a convite da embaixada brasileira, para fechar o Ano Brasil.

Torneio das Campeãs de volta 23 anos depois

Por Marcio Mazzi Morales, editor do site Planeta Bandas - www.planetabandas.com.br

O dia 8 de outubro ficará marcado em 2006 por ter sido a data em que o Torneio das Campeãs, concurso de Bandas e Fanfarras no ginásio do S. C. Corinthians Paulista, voltou a ser realizado, depois de sua última edição em 1983. O torneio surgiu após o término de outro importante campeonato, o concurso da Rede Record, que acontecia na Av. São João, no centro de SP, na década de 1970 e início dos anos 1980. Depois, iniciou-se a fase do Torneio das Campeãs, para reunir as melhores bandas e fanfarras da época. Como todos os grandes eventos do meio, o Torneio das Campeãs foi cancelado repetidas vezes, mas, este ano, graças ao empenho do maestro Marcelo Bonvenuto, da prefeitura municipal de São Paulo, e de patrocinadores, conseguiu-se que o concurso voltasse às suas origens. Para alavancar o evento foram integrados ao torneio uma competição paralela com as escolas da rede municipal de ensino que possuem bandas ou fanfarras, e um torneio de Drum Corps, nova modalidade que está entrando no segmento de bandas e fanfarras. O resultado foi impressionante, pois foram reunidas escolas municipais e diversas Drum Corps, além das melhores e mais conhecidas bandas marciais de SP. Dentre elas, três de destaque nacional: Colégio Santa Isabel Sênior, Colégio Noé Azevedo e Colégio Jardim São Paulo. O evento teve uma eliminatória na parte da manhã, e essas três corporações vieram a se apresentar no período da tarde, consagrando a Banda Marcial Santa Isabel Sênior como campeã do torneio, por uma diferença mínima de 0,9 ponto do Colégio Noé Azevedo. O objetivo principal do evento foi manter cada vez mais presente o movimento de bandas e fanfarras no estado de SP e no Brasil, segmento que vinha sendo tão abandonado pela cultura.

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Grandes nomes do jazz no TIM Festival 2006 Com edições em São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Curitiba, o festival reúne durante três dias grandes músicos do jazz e do pop e rock. Um dos maiores eventos musicais da América Latina, o TIM Festival se destaca pela experimentação e pela diversidade musical. O festival traz bandas consagradas, mitos do jazz e do rock, além de representantes do pop, da world music e da música eletrônica. No universo do sopro, o destaque fica para a banda vencedora do Grammy 2005 de Melhor Álbum de Jazz por Concert in the Garden: The Maria Schneider Orchestra. A musicista começou a carreira em 1985, como assistente de Gil Evans, colaborador de Miles Davis. A partir de 1993, sua orquestra passou a se apresentar às segundasfeiras no Visiones, no Greenwich Village, em Nova York. O sucesso foi tanto que Schneider recebeu convites para se apresentar na Europa, América Latina e Ásia. Schneider trabalhou também com Ivan Lins, fazendo arranjos para a turnê européia do cantor em 2003. Além do Grammy, o álbum Concert in the Garden recebeu o prêmio de CD de jazz do ano do Jazz Journalists Awards. Evanescence (1994), seu primeiro trabalho, também foi indicado ao Grammy 1995, assim como os álbuns seguintes Coming About (1996) e Allegresse (2000), que ainda concorreram ao prêmio máximo da música norte-americana. Em suas apresentações, a orquestra recebe a presença do trombonista Vince Gardner.

MSO: 18 músicos virtuosos em show superconcorrido

Homenagem de primeira Aloysio de Oliveira, integrante do histórico Bando da Lua, foi para os Estados Unidos com Carmen Miranda e ali fez sucesso com ela, como compositor, músico e participante de filmes em Holywood. No CD Coisas que Lembram Você (gravado e lançado pela CPC-Umes), Sonya, vocalista do Quarteto em Cy, presta uma comovida homenagem ao compositor. Além de excepcional cantora, Soninha fez esta emocionante releitura da obra de Oliveira da melhor forma possível: ao lado de alguns dos melhores músicos do Brasil, como Gilson Peranzetta, Roberto Menescal, Luiz Alves, Mauro Senise, Celinha Vaz, Paulo Russo, João Cortez, Ricardo Pontes, Adriano Giffoni, Chiquinho Netto e Jimmy Santa Cruz. Pelo talento privilegiado de Sonya, este CD mostra o quanto foi grande Aloysio.

Sonya (sentada, à esquerda): CD inspirado

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JOVENS TALENTOS

Vida de Músico

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JOVENS TALENTOS: ALEXANDRE CALDI - O SEGREDO É A VERSATILIDADE

ALEXANDRE CALDI

LIVE!

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saxofonista cresceu em um ambiente musical. O pai, falecido, era pianista, e a mãe também é. “Freqüentava concertos, festivais, ambientes de música erudita, e hoje percebo o quanto tudo isso foi importante”, conta. Seu grande desejo, porém, era fazer música popular. Aos 17 anos, começou no mundo do sopro tendo aulas com Mauro Senise. Apesar disso, Caldi achava que a música era um hobby, tanto que chegou a cursar três meses da faculdade de jornalismo, antes de decidir se

SETUP DE ALEXANDRE CALDI Saxofones • Sax soprano e tenor Selmer Super Action • Sax alto Yamaha 62 • Sax barítono Selmer Mark VI • Flauta Muramatsu • Flautim Scholastic “São instrumentos que praticamente apareceram para mim. Comprei-os em épocas distintas, sempre em ótimo estado. Sou fiel a eles há muito tempo.”

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tornar profissional. “A partir daí tive contato com outras pessoas fundamentais para a minha formação, como a Bia Paes Leme, com quem estudei teoria, percepção, harmonia e arranjo; Laura Rónai, que me deu aulas de flauta e, principalmente, Carlos Malta, que me orientou muito e me indicou para substituí-lo em uma série de trabalhos”, relembra. O músico tem outra qualidade importante: procurou sempre escutar de tudo, de Bach a Pixinguinha, de Villa-Lobos a John Coltrane. Caldi conversou com Sax & Metais sobre sua carreira e seus projetos.

Rotina: “Como toco quatro tipos de saxofone, além de flauta e flautim, ensaio em vários grupos e sou professor de sax, flauta, teoria e percepção musicais, tento estudar diariamente e procuro definir as prioridades conforme os compromissos se apresentam. Mas sempre dou uma atenção especial à flauta, que, dos instrumentos que eu toco, vejo como o que mais exige de mim para o padrão de qualidade não cair. Também busquei trabalhos que me fizeram praticar os quatro saxofones: no Garrafieira, toco os saxes soprano e barítono, e no Sembatuta, o alto e o tenor.” Estilo:

“Considero-me um saxofonista eclético. Já fui mais jazzista, toquei música erudita quando gravei uma peça de Almeida Prado. Agora estou aprimorando uma

linguagem mais brasileira, mais próxima do choro, mas há trabalhos que exigem outras leituras, como o LiberTango, que se dedica a Piazzolla. Vou aceitando os desafios.”

Garrafieira

(vencedor do Prêmio TIM 2005 de melhor grupo de MPB): “Foi uma alegria enorme ter esse reconhecimento diante da dificuldade que é manter um grupo grande (dez músicos) atuando sem ter espaço no rádio ou na televisão. O prêmio nos trouxe algum status, nosso mercado melhorou um pouco, mas não foi nada que tenha transformado radicalmente a trajetória do grupo. O Garrafieira está planejando seu segundo CD e está aberto a conversas.”

CD-solo: “Sempre trabalhei bem em parcerias ou em grupos. Achei que era hora de pensar mais em mim como solista e estou gravando meu primeiro CD-solo. Como não tenho condições de parar tudo o que estou fazendo só para gravar, é um trabalho de médio prazo, que espero lançar no início de 2007. É um produção independente e 80% autoral, com um perfil bem brasileiro: choros, sambas, baiões. Hoje você encontra centenas de gravações de música brasileira, choro, frevo, na forma de partituras, métodos, songbooks, etc. Temos de valorizar nossa música, sem xenofobia, claro. Podemos apreciar igualmente o Hermeto Pascoal e o Joshua Redman.” z

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CINCO MINUTOS COM

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CINCO MINUTOS COM:

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Angelo Torres

ANGELO TORRES POR DÉBORA DE AQUINO FOTOS: DIVULGAÇÃO

ANGELO TORRES

Gospel: Influência Pop

A

ngelo Torres não veio de família de músicos, mas aos 11 anos, quando se mudou para Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro e com intensa cultura musical, seu destino parecia traçado. Iniciou seus estudos musicais aos 16 anos e, dois anos depois, com os créditos do professor Edson Santos, passou a dar aulas na escola Art Music. Assim, foi se envolvendo cada vez mais com o meio profissional e entrou para o mundo da música de vez. Seu primeiro trabalho de destaque foi a gravação do CD De Bem com a Vida, da cantora Melissa. As participações em shows e gravações passaram a ficar mais intensos. Trabalhou durante dez anos acompanhando renomados artistas gospel, como Cláudio Claro, Kleber Lucas, Oficina G3 e outros. Tocou com alguns nomes da música pop como Simony, Alexandre Lucas e Cláudio Zoli. Com a agenda lotada, realizou turnês por diversas cidades brasileiras. Agora, em seu terceiro CD-solo, Um Novo Tempo, Angelo toca e canta algumas músicas suas e outras em parceria com Kleber Lucas. Nesta entrevista a Sax & Metais, o saxofonista fala sobre a carreira, o novo trabalho e seus projetos musicais. > Sax & Metais - O que o levou a escolher o saxofone? Angelo Torres - Meu gosto pelo saxofone surgiu quando ouvi um solo num disco da cantora gospel Marina de Oliveira. Neste CD, havia uma música, Faça um Teste,

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em que o solo de sax chamou a minha atenção pela sonoridade. Foi aí que meu interesse começou a despertar. Eu tinha 14 anos e ouvia as músicas nas rádios, logo identificava aquele som que me atraía muito. Aos 16 anos, depois

RELEITURAS INSTRUMENTAIS Intitulado Um Novo Tempo, o novo trabalho de Angelo Torres é um CD com releituras instrumentais de canções que emplacaram no circuito gospel como Deus Cuida de Mim, de Kleber Lucas; Leva-me além, do Min. Apascentar e Não há Barreiras, com participação de Álvaro Tito. “Há também algumas composições inéditas como Cada Vez Mais, Será uma Festa e Sara Nossa Terra. O CD tem um estilo congregacional, e além de tocar, canto algumas canções”, explica o músico. A produção do CD é uma parceria de Torres com Kleber Lucas e a gravação foi realizada nos estúdios Art Music e KLC Studios. “Contamos com uma equipe de arranjadores e técnicos muito competentes, como os tecladistas Tiago Antony, que faz parte da banda de Kleber, e Adelso Freire, da banda Asaf, e os técnicos Júlio Silveira e Everson Dias, com mixagem e masterização de Val Martins, tudo supervisionado por mim e pelo Kleber”, conclui.

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GOSPEL

ANGELO TORRES

de muito insistir, meu pai fez uma surpresa e comprou um sax alto da Weril para mim. Fiquei muito feliz. Ele entrou em casa com o presente sem que eu soubesse. Comecei a me envolver com pessoas que tinham noções do instrumento, já que na época eu ainda não conhecia escola ou professor de música. Em pouco tempo já estava soprando umas notas na igreja Ministério Plenitude do Caramujo. > O que gosta de ouvir atualmente? Hoje minha maior influência é o saxofonista norte-americano Kirk Whalum. Gosto da forma como ele toca e aplica suas idéias. Mas não foi sempre assim. Comecei ouvindo Kenny G, como a grande maioria, pois é o mais popular. Depois conheci o trabalho do David Sanborn, a quem eu ainda ouço e coleciono. Nesse tempo todo tive várias influências em momentos diferentes, como Nelson Rangel, Charlie Parker, Gerald Albright. Atualmente ouço muita coisa diferente também, e não apenas discos de instrumentais. Gosto de Steve Wonder, Toto, Lionel Richie, Earth Wind & Fire e os brasileiros Djavan, Ed Motta, e muitos outros. > Você diz que Deus lhe mostrou o caminho da música para o Ministério, mas queria fazê-lo de maneira não convencional. Como é o seu trabalho musical dentro da Igreja? O trabalho instrumental já não é muito convencional nas igrejas, é algo diferente. Sempre toquei com outros artistas, e quando comecei e fazer minha música instrumental, a resposta do público era diferente. As pessoas assistem a uma apresentação instrumental e observam muito mais os elementos da música, os instrumentos captam a atenção das pessoas, essa é a diferença. Deus tem me ensinado que essa atenção tem de ser redirecionada para a glória e honra Dele, por isso precisamos buscar a unção de Deus, e não apenas uma boa técnica. Assim nossa música se torna um verdadeiro louvor. > Após anos de dedicação e estudo, você decidiu lançar seu primeiro CD autoral,

FIM

DISCOGRAFIA Angelo Torres - 2002 Minha Vida - 2004 Sax for Christ (coletânea) - 2005 Um Novo Tempo - 2006

muito mais longe, mas tenho dado passos importantes. Quanto ao estilo, não gosto muito de rotular minha música. Gravo aquilo que está no coração, ouço muita coisa diferente e isso às vezes se reflete nos meus discos. Estava observando a diferença do meu primeiro CD para o terceiro – em aproximadamente cinco anos mudei muito as características dos trabalhos. Quanto ao meu estilo de tocar, isso não mudou muito. Gosto do saxofone com um som pop e romântico. > Como você vê os rumos da música gospel hoje? Acho que tem melhorado muito. Os estúdios, arranjadores e produtores têm se aperfeiçoado bastante, temos excelentes músicos e cantores. Mas é preciso entender que a música de um determinado segmento não é apenas o que se ouve nas rádios. Existe a música comercial, como em qualquer outro segmento, e que muitas vezes não retrata fielmente nossa música. Existe muito artista independente que não tem o mesmo espaço na mídia, mas que faz um som muito bacana.

Angelo Torres. Fale sobre este trabalho e sobre o seu processo de composição. O CD Angelo Torres é o resultado de vários experimentos, das composições aos arranjos. Comecei a compor por acaso, nunca tinha feito isso e resolvi arriscar. No início, tudo era muito ruim, sem nexo, e às vezes ocorriam repetições de solos que eu tinha acabado de ouvir. Fui amadurecendo até ter alguma coisa que pudesse levar para estúdio. Começamos a gravar, gravei e regravei algumas coisas várias vezes, experimentava e, quando não gostava do resultado, deletava e refazia tudo. Muita transpiração. Quando terminamos o CD, fiquei muito satisfeito com o resultado. Nesse trabalho consegui mostrar exatamente o que eu era naquela época. Acredito que um trabalho registrado em CD é sempre assim, mostra o que o artista está sentindo. > Como avalia sua carreira-solo e seu estilo? Ainda tenho muito que aprender e andar. Estou no meu terceiro CD-solo e quero ir

> A vida de músico é um desafio? Sempre digo aos meus alunos que é preciso focar os objetivos e seguir em frente. É necessário também ouvir as coisas certas, ouvir os mais experientes e estudar muito. Cada dia é um novo desafio, é preciso dar um passo de cada vez e vencer as adversidades. Fazendo isso, viverão muito bem e desfrutarão de uma vida realizada. z

SETUP DE ANGELO TORRES Saxofones • Sax alto Yamaha YAS 25 Boquilha Jumbo Java A 95 Palhetas Rico Royal 3 • Sax tenor Yamaha YTS 100 Boquilha ARB 9 Palhetas Rico Royal 3 • Sax soprano Condor Special Series Boquilha Dukoff D8 Palhetas Rico Royal 3 • Equipamentos Microfone AKG C 419 SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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PERFIL

Um dos principais gaitistas da nova geração musical, Gabriel Grossi concilia talento e emoção em seus trabalhos como instrumentista e produtor

GABRIEL GROSSI

Técnica com sensibilidade

FOTOS: DIVULGAÇÃO POR REGINA VALENTE

GABRIEL GROSSI

Técnica com sensibilidade

Gabriel Grossi

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aça o teste e pergunte a gaitistas e a outros instrumentistas de sopro o que eles pensam sobre o músico Gabriel Grossi. Provavelmente, a maior parte deles irá responder “é fera!”, “excelente gaitista”, entre outros elogios. Quem ainda não o conhece, depois de ler esta matéria, vai entender o porquê de tanta admiração por um jovem músico de 28 anos, nascido em Brasília e há quatro anos radicado no Rio de Janeiro. Quando criança, Grossi teve duas rápidas experiências que, muito provavelmente, acionaram o ‘botãozinho’ do talento para a música. “Aprendi um pouco de piano aos 7 anos, e de baixo, aos 14. Mas tudo como hobby”, despista. Por sorte, a família sempre incentivou o gaitista a enveredar na vida musical, já prevendo que seu talento para absorver e aprender música poderia render a ele ótimos frutos no futuro.

DE FRENTE PARA O MESTRE Fã de estilos brasileiros, como choro e samba, e do improviso do jazz, Grossi começou a tocar mais intensamente aos 15 anos, quando fazia apresentações de gaita diatônica no tradicional Clube do Choro de Brasília, um dos redutos onde é possível encontrar músicos como Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda e Guinga, entre outros. O gaitista apresentava-se às quartas, quintas e sextas-feiras em uma casa de shows considerada uma grande vitrine para os novos talentos. “Fiz contatos com músicos incríveis lá”, conta Grossi, que trocou a gaita diatônica pela cromática aos 19 anos. “Foi uma opção para ampliar meu repertório, espe-

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cialmente de música brasileira e de jazz.” A partir daí, Grossi se tornou figura freqüente nas rodas de samba e choro do Distrito Federal. Mostrava grande domínio técnico e capacidade de improvisação, mas ainda de forma muito intuitiva. “Quando passei para a cromática, senti necessidade de um estudo teórico mais denso”, lembra ele. Teve aulas de harmonia com Ian Guest e com o pianista Renato Vasconcelos. Para se aperfeiçoar na gaita, o jovem músico entrou em contato com um dos mestres do instrumento, Maurício Einhorn. “Estava passando férias no Rio e liguei para ele, sem muita esperança de retorno, pois eu era um adolescente de 19 anos que ninguém conhecia e um pouco atrevido”, brinca Grossi. Contrariando suas expectativas, a receptividade foi a melhor possível. “O Maurício foi muito bacana, ficou feliz com meu interesse pela gaita e me convidou para ir à casa dele. Tivemos uma empatia instantânea: a primeira aula durou seis horas!”, recorda o gaitista, que viajava 18 horas de ônibus

CURIOSIDADES • A primeira gaita de Gabriel Grossi foi uma cromônica (cromática com diatônica) modelo 48 vozes da Hohner. • Antes avesso à tecnologia na música, o gaitista está estudando para conhecer mais o assunto. “Ainda estou no começo, mas vejo como um caminho inevitável para o músico. É muito útil conhecer o microfone que você usa, a equalização do instrumento, efeitos como delay e distorção.”

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PERFIL

GABRIEL GROSSI

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SETUP DE GABRIEL GROSSI

de Brasília para o Rio aos fins de semana para freqüentar as aulas com Einhorn. O sacrifício valeu a pena. “Sou muito grato a ele, porque acreditou no meu potencial e me abriu muitos caminhos na música.” A amizade rendeu também muito conhecimento para Grossi, que destaca três grandes ensinamentos absorvidos com Einhorn: o amor pela música, a importância de cuidar bem do instrumento e de sempre estudar harmonia. “Ele batia muito nesta tecla e também na improvisação”, diz o gaitista, lembrando uma característica que hoje é sua marca. “Meu ímpeto é de improvisar, me entusiasma. Respeito as músicas executadas com perfeição e rigidez, mas gosto dessa liberdade.”

• Gaita Bossa, de ouro, afinada em Dó. “É um modelo novo da Bends, fábrica recém-inaugurada no Brasil, que vem fazendo um ótimo trabalho, me surpreendeu.”

CARREIRA-SOLO Grossi, além de tecnicamente apresentar incrível vigor, virtuosismo e sensibilidade, vem construindo uma sólida carreira na produção musical. “Trabalhar com música envolve tocar, produzir, dar aulas, gravar. É um leque muito grande de opções e eu me considero um profissional versátil.” Ele foi co-arranjador e músico do CD Eu me Transformo em Outras, de Zélia Duncan, e gravou o CD e o DVD de Beth Carvalho. Tocou e gravou com artistas como Leila Pinheiro, Lenine, Dominguinhos, João Donato, Chico Buarque e Paulo Moura. Lançou, em 2005, seu primeiro trabalho-solo, Diz que Fui por Aí (Delira Música), com participações especiais de artistas como Maurício Einhorn, Hamilton de Holanda e Hermeto Pascoal. Seu disco de estréia foi muito bem re-

GAITA COM VIOLÃO Gabriel Grossi e Marco Pereira se conheceram em Brasília, durante as gravações do CD Eu me Transformo em Outras, de Zélia Duncan. Por dois anos, se apresentaram juntos na turnê do disco e, entre uma passagem de som e outra, surgia, espontaneamente, um repertório em comum. “Quando vimos, já tínhamos um CD quase pronto nas mãos”, lembra o gaitista. Daí para o lançamento do CD Afinidade, foi um passo. A combinação da gaita com o violão rendeu um álbum original e agradável. “Os timbres dos instrumentos combinam muito e o repertório com baladas mais românticas me deu a oportunidade de desenvolver um outro lado musical, de tocar notas mais longas, em um ritmo mais lento”, explica Grossi.

Diz que fui por aí, primeiro trabalho-solo de Grossi, conta a participação do mestre das harmônicas Maurício Einhorn e o grande violonista Marco Pereira

cebido pela crítica especializada, tanto em relação à original concepção musical quanto ao trabalho de composição e arranjos. A história do álbum é curiosa: Grossi estava terminando a faculdade de jornalismo em Brasília, em 2002, e pensava em mudar-se para o Rio, onde o mercado era mais pro-

missor para a sua carreira. Montou o repertório e toda a concepção do álbum. De surpresa, seu pai inscreveu o projeto no MEC. Depois veio a notícia de que o CD havia sido aprovado e a Delira Música o gravaria. Diz que Fui por Aí é um trabalho de grande técnica, interpretação e sentimento, que contou com a participação de Marco Pereira (violão), Hermeto Pascoal e, claro, o ex-professor, mestre e amigo Maurício Einhorn. “É um gaitista espetacular, um músico de forte personalidade, movido por uma enorme paixão pela gaita e pela música, me encho de orgulho em ter participado deste brilhante CD”, comenta Einhorn. “Gabriel é aquele menino que leva a lição pra casa e, no dia seguinte, já tem algo pra ensinar. Intuitivo, atrevido, reconhecido por seus mestres, um músico emocionado e emocionante”, completa a cantora Zélia Duncan. O gaitista está em turnê pelo Brasil, divulgando seu trabalho no álbum Brasilianos, do bandolinista Hamilton de Holanda, e do disco Afinidade, gravado em duo com Marco Pereira (ambos lançados pela Biscoito Fino) e já tem um novo projeto engatado. “É um CD de forró, bem brasileiro, com gaita e sanfona, que tem tudo a ver um com o outro”, revela o músico, que também faz parte do sexteto do contrabaixista Thiago do Espírito Santo. z

O gaitista está em turnê pelo Brasil e deve lançar CD mesclando gaita e sanfona no começo de 2007

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RAUL DE SOUZA o craque do trombone

Aos 72 anos, o trombonista brasileiro mais famoso internacionalmente faz uma retrospectiva de sua carreira, em reportagem especial para a Sax & Metais Por Arnaldo DeSouteiro* Fotos: Marcelo Rossi e divulgação

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esde o início das comemorações por conta de seus 70 anos, em 2004, que incluiu até um documentário sobre sua vida, Raul de Souza não pára. Agora, decidiu viver na ponte aérea Rio-Paris. Além de se preparar para lançar um novo disco com músicos brasileiros, segue se apresentando com sua banda francesa na noite parisiense. “Montei um conjunto com a bela saxofonista Claire Michael, que mistura ritmos brasileiros e sons eletrônicos, bem na linha dançante do acid-jazz. Mas para o mercado brasileiro tem de ser outra jogada, por isso fiz o Jazzmim numa outra onda”, revela. Em férias no Rio com a esposa Yolaine, o mais completo, versátil e expressivo trombonista brasileiro de todos os tempos – e o único a alcançar fama mundial, graças a seus trabalhos com Airto Moreira, Flora Purim, Sonny Rollins, Cal Tjader e George Duke – ainda usufrui da ótima repercussão causada pelo relançamento de seu álbum-solo de estréia, À Vontade Mesmo, cuja reedição tive a honra de produzir para a série RCA 100 Anos de Música.

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RAUL DE SOUZA

Raul de Souza: o craque do trombone Raul de Souza está preparando o lançamento (pela editora Keyboard) de três métodos musicais, para trombone, saxofone e trompete.

TESTE CAPA ESTÚDIO TECNOLOGIA

RAUL DE SOUZA - O CRAQUE DO TROMBONE

REVIEW LIVE!

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ssa reedição gerou vários convites, inclusive para participar do novo disco de Ithamara Koorax (em uma das últimas sessões do baterista Dom Um Romão, com Ron Carter e Gonzalo Rubalcaba completando o trio de base), e compor a trilha sonora para o filme Lost Zweig, de Sylvio Bach, cuja estréia vem sendo sucessivamente adiada. “O filme retrata a última semana de vida do escritor judeu austríaco Stefan Zweig, autor do livro Brasil, País do Futuro, e de sua esposa Lotte”, comenta Raul. “Eles fizeram um pacto misterioso, se suicidaram em Petrópolis, após o Carnaval de 1942, tudo foi premeditado. Fiz a trilha junto com o Guilherme Vergueiro, pianista, e grande parte das músicas foi improvisada no estúdio enquanto assistíamos ao copião.” Também nos planos de Raul está um projeto sinfônico, com variações jazzísticas sobre a obra de Brahms, seu compositor predileto. Uma pequena prévia desta acomplagem com orquestra foi realizada em um concerto com a Jazz Sinfônica, em 2005, em São Paulo, filmado para lançamento em DVD, que ainda não aconteceu.

TRAJETÓRIA BRILHANTE Nascido João José Pereira de Souza, em 23 de agosto de 1934, no Rio de Janeiro, começou tocando pandeiro na Igreja

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Presbiteriana da qual seu pai era pastor. O primeiro trabalho profissional surgiu aos 16 anos, tocando tuba na banda da Fábrica Bangu, onde trabalhava como tecelão. “Era uma das indústrias mais importantes do Rio naquela época”, relembra. “Tocávamos nas inaugurações das lojas e também em jogos de futebol, para animar as torcidas. Experimentei flauta, trompete e sax tenor, antes de optar pelo trombone de válvula, também chamado de trombone de pistões.” O apelido de ‘Raulzinho’ foi dado por Ary Barroso, quando o garoto se apresentou no famoso programa de rádio comandado pelo compositor. “Já temos o Raul de Barros, o Raulzão, então você vai ser o Raulzinho do Trombone. Além disso, João José não é nome de trombonista”, sentenciou Ary. Durante o serviço militar, ficou amigo do lendário batera Edison Machado quando ambos serviam na Infantaria de Guarda da Aeronáutica, chegando a Primeiro Sargento-Músico. Retomando a vida civil, passou a tomar parte em vários concursos radiofônicos, conhecendo mestres como Pixinguinha, Waldir Azevedo e Altamiro Carrilho. “Em 1955, fiz algumas gravações com A Turma da Gafieira, conjunto liderado pelo Altamiro, com participações de Edison Machado, Sivuca, Zé Bodega e Ba-

den Powell. Depois fui para Curitiba, onde casei, tive três filhos e fiquei cinco anos, tocando na orquestra do trompetista Osval Siqueira, e na Banda da Escola de Oficiais e Guardas da Base Aérea de Bacacheri. À noite, saía de uniforme e tudo para tocar nos dancings. Foi lá também que conheci o Airto, que cantava boleros em boates de reputação duvidosa”, diverte-se. Diz a lenda que, em uma região pantanosa, o trombonista costumava estabelecer inusitados diálogos musicais com um búfalo, o que teria influenciado sua volumosa sonoridade. O jornalista Roberto Muggiati, testemunha ocular do fato, conta a versão correta para a esdrúxula amizade que gerou até mesmo uma música (Water Buffalo, incluída no disco Colors) em homenagem ao mamífero ruminante. “Raulzinho tocava numa boate que ficava dentro do Passeio Público de Curitiba, misto de parque e zoológico. Nos intervalos, ele caminhava perto do tanque dos búfalos, que de tão grande parecia uma lagoa. E de fato travava longos duetos com os animais, para espanto meu, do escritor

SETUP DE RAUL DE SOUZA • Trombone Besson. “É uma fábrica inglesa. Recebo o instrumento por meio da Buffet Crampon, em Paris.”

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RAUL DE SOUZA

Raul de Souza: o craque do trombone Raul de Souza está preparando o lançamento (pela editora Keyboard) de três métodos musicais, para trombone, saxofone e trompete.

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ssa reedição gerou vários convites, inclusive para participar do novo disco de Ithamara Koorax (em uma das últimas sessões do baterista Dom Um Romão, com Ron Carter e Gonzalo Rubalcaba completando o trio de base), e compor a trilha sonora para o filme Lost Zweig, de Sylvio Bach, cuja estréia vem sendo sucessivamente adiada. “O filme retrata a última semana de vida do escritor judeu austríaco Stefan Zweig, autor do livro Brasil, País do Futuro, e de sua esposa Lotte”, comenta Raul. “Eles fizeram um pacto misterioso, se suicidaram em Petrópolis, após o Carnaval de 1942, tudo foi premeditado. Fiz a trilha junto com o Guilherme Vergueiro, pianista, e grande parte das músicas foi improvisada no estúdio enquanto assistíamos ao copião.” Também nos planos de Raul está um projeto sinfônico, com variações jazzísticas sobre a obra de Brahms, seu compositor predileto. Uma pequena prévia desta acomplagem com orquestra foi realizada em um concerto com a Jazz Sinfônica, em 2005, em São Paulo, filmado para lançamento em DVD, que ainda não aconteceu.

TRAJETÓRIA BRILHANTE Nascido João José Pereira de Souza, em 23 de agosto de 1934, no Rio de Janeiro, começou tocando pandeiro na Igreja

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Presbiteriana da qual seu pai era pastor. O primeiro trabalho profissional surgiu aos 16 anos, tocando tuba na banda da Fábrica Bangu, onde trabalhava como tecelão. “Era uma das indústrias mais importantes do Rio naquela época”, relembra. “Tocávamos nas inaugurações das lojas e também em jogos de futebol, para animar as torcidas. Experimentei flauta, trompete e sax tenor, antes de optar pelo trombone de válvula, também chamado de trombone de pistões.” O apelido de ‘Raulzinho’ foi dado por Ary Barroso, quando o garoto se apresentou no famoso programa de rádio comandado pelo compositor. “Já temos o Raul de Barros, o Raulzão, então você vai ser o Raulzinho do Trombone. Além disso, João José não é nome de trombonista”, sentenciou Ary. Durante o serviço militar, ficou amigo do lendário batera Edison Machado quando ambos serviam na Infantaria de Guarda da Aeronáutica, chegando a Primeiro Sargento-Músico. Retomando a vida civil, passou a tomar parte em vários concursos radiofônicos, conhecendo mestres como Pixinguinha, Waldir Azevedo e Altamiro Carrilho. “Em 1955, fiz algumas gravações com A Turma da Gafieira, conjunto liderado pelo Altamiro, com participações de Edison Machado, Sivuca, Zé Bodega e Ba-

den Powell. Depois fui para Curitiba, onde casei, tive três filhos e fiquei cinco anos, tocando na orquestra do trompetista Osval Siqueira, e na Banda da Escola de Oficiais e Guardas da Base Aérea de Bacacheri. À noite, saía de uniforme e tudo para tocar nos dancings. Foi lá também que conheci o Airto, que cantava boleros em boates de reputação duvidosa”, diverte-se. Diz a lenda que, em uma região pantanosa, o trombonista costumava estabelecer inusitados diálogos musicais com um búfalo, o que teria influenciado sua volumosa sonoridade. O jornalista Roberto Muggiati, testemunha ocular do fato, conta a versão correta para a esdrúxula amizade que gerou até mesmo uma música (Water Buffalo, incluída no disco Colors) em homenagem ao mamífero ruminante. “Raulzinho tocava numa boate que ficava dentro do Passeio Público de Curitiba, misto de parque e zoológico. Nos intervalos, ele caminhava perto do tanque dos búfalos, que de tão grande parecia uma lagoa. E de fato travava longos duetos com os animais, para espanto meu, do escritor

SETUP DE RAUL DE SOUZA • Trombone Besson. “É uma fábrica inglesa. Recebo o instrumento por meio da Buffet Crampon, em Paris.”

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CAPA

RAUL DE SOUZA

Dalton Trevisan e até do Edson Maciel, o Maciel Maluco, um grande trombonista que foi parar em Curitiba quando soube que o Raulzinho estava por lá”, relata Muggiati. “Tanto o Airto como eu fomos tentar a sorte em São Paulo, conseguindo emprego no João Sebastião Bar, reduto da bossa nova, onde conhecemos a Flora, o Cesar Mariano e o José Roberto Bertrami, futuro pianista do Azymuth. Em 1964 eu já estava de volta ao Rio, tocando com Edison Machado, Tião Neto, Hector Costita e Edson Maciel no inovador Você Ainda Não Ouviu Nada!, do sexteto Bossa Rio, do Sergio Mendes”, diz Raulzinho. “Foi um dos anos mais produtivos da minha vida. Excursionei pela Europa com o Sergio, na volta entrei para o conjunto Os Catedráticos, do Eumir Deodato, gravando o disco Tremendão, e reencontrei o Edison, que me convidou para o primeiro LP dele, Edison Machado É Samba Novo, outro registro genial.”

O trombonista tem planos de manter uma residência no Brasil para passar pelo menos seis meses por ano aqui.

ANOS REBELDES Raulzinho ainda aprontou muito mais em 1964. Além dos discos de estréia do Quarteto Em Cy e do pianista Tenório Jr. (Embalo), fez parte de duas importantes sessões para a RCA: Trio 3D Convida (o segundo álbum do grupo, liderado por Antonio Adolfo) e Flora É M.P.M, primeiro LP de Flora Purim. Terminou contratado para gravar seu pró-

O JAZZMIN DE RAUL Em seu oitavo e recém-lançado disco-solo (Biscoito Fino), o trombonista apresenta um repertório que prioriza suas próprias composições e as feitas em parceria com o grupo curitibano Na Tocaia. As exceções ficam por conta de Piano Na Mangueira (Tom Jobim e Chico Buarque) e Luiza (Tom Jobim), esta última com inserção do texto Grafia Nua, de Silvana Leal. A primeira faixa do Tema para Raul (Mário Conde), única faixa do disco em que está presente o souzabone, uma variação do trombone, inventada por Raul, com quatro válvulas, em vez das tradicionais três, e afinado em dó. Raul apresenta três faixas: os sambas St. Remy, em homenagem à cidade freancesa, e Yolaine, além do samba de gafieira Violão Quebrado. Gravado em apenas sete dias, o álbum traz de volta um dos maiores trombonistas do mundo, em grande fase, misturando sua essência brasileira à tradicional sonoridade contemporânea do Na Tocaia.

prio disco como líder para a RCA, escolhendo o Sambalanço Trio (Cesar Camargo Mariano ao piano, Humberto Clayber no contrabaixo e Airto Moreira na bateria) como companheiros na empreitada. “Eles já tocavam juntos em São Paulo desde 1962, tinham gravado três LPs, estavam superentrosados. Então, não tinha como dar errado.” “Ao contrário do que muita gente pensa, Raulzinho só passou a tocar trombone de vara no fim dos anos 1960”, informa um de seus maiores fãs, o trompetista Cláudio Roditi, que chegou a tocar trombone no início da década de 1980 – tendo Raul como influência máxima – ao integrar a banda de Paquito D’Rivera. “Em matéria de trombone de válvula, ninguém no mundo o superou, nem mesmo o Bob Brookmeyer.” Quem duvidar, que ouça as performances antológicas conti-

das em À Vontade Mesmo, amostras do “trombonão balançante, inventivo e loquaz, sempre buscando o registro baixo como pontuação”, na análise do crítico Luiz Orlando Carneiro. Após o lançamento de À Vontade Mesmo, Raul viajou novamente à Europa, atuando com o baterista Kenny Clarke em clubes de jazz da noite parisiense, como o Blue Note e o Elephant Blanc. Voltando ao Brasil, empregou-se no RC7, grupo de apoio de Roberto Carlos, antes de ingressar no Impacto 8, gravando o disco International Hot para o selo Equipe, relançado em CD na Europa. “Sentia-me desapontado com o cenário musical brasileiro daquela época, então me mandei para o México em 1969”, desabafa. Estava morando em Acapulco quando, em agosto de 1973, recebeu um telefonema dos velhos amigos Airto & Flora. No auge da popularidade, eles o chamavam para trabalhar nos Estados Unidos. “Três dias depois eu já estava em Los SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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RAUL DE SOUZA

PISTO X VARA: 4 PERGUNTAS PARA O MESTRE Por Daniel Neves*

TESTE CAPA ESTÚDIO TECNOLOGIA

RAUL DE SOUZA - O CRAQUE DO TROMBONE

> Sax & Metais - Existe muita diferença entre o trombone de pisto e o de vara que você toca hoje? Raul de Souza - O trombone de vara tem de estudar, tocar muito, é bem diferente. A única coisa parecida é a embocadura, a articulação é completamente diferente. Ganhei um trombone de vara King, do Nelsinho, meu amigo trombonista. Era um trombone tenor, ele tinha comprado um Bach no México, e como eu estava sofrendo uma discriminação musical por tocar trombone de pisto, ele me sugeriu a troca, deixando que eu ficasse com aquele, e pagaria quando pudesse. Na época, eu havia prestado exame para sargento da aeronáutica em Curitiba e comecei a pensar em como levaria aquele trombone para lá se eu nem sabia tocar. Um belo dia, apareceu um sujeito lá em casa com um trombone Amatti de pisto, uma marca tcheca, então negociamos a troca. Preferi continuar com um de máquina.

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> Quando mudou para o trombone de vara? Em 1966, pintou um trabalho em Monte Carlo, Côte d’Azur, do príncipe Rainier. Era um contrato de quatro meses. A estréia foi um baile de aniversário da princesa Grace Kelly. Eu estava lá, quando comecei a escutar um som de trombone baixo, vi que era igual ao meu, só que com uma tubulagem um pouco maior. Não acreditei, vi que era aquilo que eu queria. Conversei com o trombonista, que tinha o mesmo nome que eu. Quando peguei o trombone dele, não saiu nada, então pensei: “É esse que eu quero”. Juntei dinheiro naqueles quatro meses. O baterista Wilson das Neves estava comigo nesta viagem, era ele quem guardava o dinheiro para que eu não gastasse com besteiras. No fim da temporada, comprei meu primeiro trombone baixo de vara, um Bach Stradivarius que custou US$ 850,00. > Foi fácil superar as dificuldades da mudança? Antes de comprar o instrumento, comecei a estudar com um amigo que tocava trombone tenor. Um dia ele perguntou como eu respirava, eu disse que não sabia. Ele me convidou para almoçar em sua casa no dia seguinte e lá me explicou algumas coisas. Tinha dois trombones de vara, me emprestou um e comecei a estudar. Estudava as escalas e a respiração diafragmática. Mais ou menos um mês antes

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Cogita-se a criação da Fundação Raul de Souza, instituto com o objetivo de ensinar música a crianças e formar profissionais no futuro.

de eu ir embora, abandonei o trombone de pisto e tocava só trombone de vara no concerto. Eu tinha todos os arranjos de cor na cabeça, a grande dificuldade foi passar tudo aquilo. Eram coisas complicadas, rápidas, que eu fazia bem no pisto. Pensei: “Não quero nem saber, o que sair, saiu, se não sair, saem outras notas”. Quando cheguei de viagem depois dos quatro meses, já estava tocando os dois trombones, tanto o de pisto quanto o de vara. Comecei a estudar pra valer, técnica e tudo. Em 1966 mudei definitivamente para o trombone de vara.

> Você nunca teve professor, mas tinha uma metodologia própria de estudo? Não, nunca fui interessado em estudar escalas e essas coisas. Eu pegava uma música, ouvia e nem pegava o instrumento. Chegava na hora, conseguia tocar qualquer coisa em qualquer tonalidade. Só fui aprimorando minha própria técnica. Mas não quero que ninguém se baseie por mim, nasci com esse dom, com essa facilidade de pegar qualquer instrumento e sair tocando. São coisas que não se explicam. *Colaborou Marcelo Soares

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CAPA

RAUL DE SOUZA

Angeles, começando uma turnê em que abríamos os shows do grupo Crusaders. Quando a excursão terminou, decidi dar um tempo em Boston, para estudar no Berklee College of Music”, conta Raul. Regressando a L.A. no ano seguinte, fascinou os críticos com solos excepcionais em várias faixas do álbum Stories To Tell, de Flora, impressionando o produtor Orrin Keepnews, então diretor artístico da Milestone. Como conseqüência imediata, Orrin autorizou Airto a produzir um disco de Raul como líder, o soberbo Colors, gravado em outubro de 1974 com arranjos de um de seus maiores ídolos, J.J. Johnson, e participações de Cannonball Adderley, Richard Davis e Jack DeJohnette. “Quase caí pra trás quando vi essa turma da pesada no estúdio, tocando no meu disco... parecia um sonho!”, comenta. Apesar do fracasso comercial (“foi pessimamente divulgado”), aumentou seu prestígio perante a comunidade jazzística, levando-o a atuar em sessões de Cal Tjader (Amazonas), Azar Lawrence (Summer Solstice) e Sonny Rollins (Nucleus). “Rollins me chamou para fazer a turnê de divulgação do disco, mas fui atropelado, quebrei as duas pernas, passei por várias operações e fiquei três meses no hospital”, lamenta. Entretanto, outro sonho se materializou quando Airto & Flora organizaram um concerto visando arrecadar fundos para o seu tratamento: Frank Rosolino, um de seus trombonistas favoritos, apareceu, identificou-se como fã e tocou em duo com Raulzinho, que ainda estava em cadeira de rodas. Em uma ocasião mais alegre, tocaram juntos novamente em 1978, no I Festival Internacional de Jazz de São Paulo, no Anhembi.

MÚSICO DE VÁRIAS SEARAS Nesse intervalo, Raul havia assinado contrato com a Capitol, lançando dois funkeados álbuns produzidos por George Duke (os best-sellers Sweet Lucy, em 1977, e Don’t Ask My Neighbors, em 1978, patenteando sua invenção, o souzabone), que o levaram a ser aclamado entre os melhores trombonistas do mundo nas votações dos leitores

FIM

da revista DownBeat. Depois, mal orientado pelo produtor Arthur Wright, embarcou na canoa furada de Till Tomorrow Comes (1979), uma aventura na área da disco music. Gravou também com Milton Nascimento (Milton), Hermeto Pascoal (Slaves Mass), no LP de estréia do grupo fusion Caldera, e em dois álbuns de George Duke: Reach For It e Brazilian Love Affair. Ignorado na Enciclopédia da Música Brasileira (Itaú Cultural), virou verbete na Encyclopedia of Jazz in The Seventies, de Leonard Feather & Ira Gitler. Integrando uma banda de all-stars formada por Duke, Stanley Clarke, Airto, Ndugu e Roland Bautista, apresentou-se

no Rio/Monterrey Jazz Festival, em agosto de 1980, no Maracanãzinho. Surpreendeu a todos quando decidiu permanecer no Brasil, abandonando não apenas sua carreira internacional, como também sua esposa Marilyn Castles, que voltou sozinha para os EUA. Casou-se com uma antiga namorada, e uma semana depois estava tocando no pátio da Faculdade Hélio Alonso, em Botafogo, ao lado de Lincoln Olivetti & Robson Jorge. Durante os anos 1980 e 1990, viveu entre Rio e São Paulo, fazendo shows esporádicos, gravando discos (A Arte do Espetáculo, The Other Side of The Moon) muito aquém de seu talento e participando de sessões com Gilberto Gil, Toninho Horta, Maria Bethânia, Lisa Ono, Salena Jones, Nelson Angelo, Taiguara, João Donato, Eloir de Moraes, e no último disco de Jobim, o grammyado Antonio Brasileiro. Por sorte, antigas gravações até então inéditas com Airto & Flora (Colours of Life, Aqui Se Puede, Samba de Flora) e Georgie Fame (The In-Crowd) foram finalmente editadas, impedindo que seu nome caísse em esquecimento no exterior. Em 1998, às vésperas de mudar-se para Paris, lançou um ótimo CD em dupla com o trombonista Conrad Herwig, Rio (nos moldes da parceria entre J.J. Johnson & Kai Winding), seguido pelo excelente Elixir em 2005, distribuído no Brasil pela Tratore. Esse disco voltou a colocá-lo entre os dez melhores trombonistas do mundo, na votação dos leitores da DownBeat no ano passado, depois de Raul ter ficado em 12º lugar em 2004. Ainda assim, os espetaculares álbuns de estréia no Brasil (À Vontade Mesmo) e EUA (Colors) permanecem como as obras-primas de sua discografia. z

Raul de Souza está gravandoo disco Brazilian Butterfly, de Ithamara Koorax, a ser lançado em janeiro de 2007. *Arnaldo DeSouteiro é produtor musical (fundador & presidente do selo JSR/Jazz Station Records), historiador de jazz e música brasileira, jornalista (membro da Jazz Journalists Association, de NY) e educador (membro da IAJE – International Association for Jazz Education).

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CINCO MINUTOS COM:

1

MARCELO MARTINS FOTOS: DIVULGAÇÃO POR DÉBORA DE AQUINO

MARCELO MARTINS

O outro lado do sideman

CINCO MINUTOS COM

Conhecido por acompanhar grandes artistas da MPB, como Djavan (com quem toca há mais de 15 anos), o saxofonista planeja seu vôo-solo com CD autoral e novos trabalhos com o grupo Foco

E

ste fluminense de Niterói entrou para o mundo da música influenciado pelos irmãos mais velhos e pelo pai, que colocou os filhos para estudar. E foi por intermédio dos irmãos que ele ouviu boa música. Foi quando ele conheceu e conviveu com diversos músicos, entre eles Mazinho Ventura (contrabaixista que tocava com Ivan Lins), Márcio Bahia (baterista de Hermeto Pascoal), Carlos Malta e Renato Franco, que foi seu primeiro professor. “Ele tocava com meu irmão em um grupo de choro e, paralelamente, estudei teoria musical com a ex-professora da minha irmã, Maria Isis, pianista clássica que hoje é harpista”, lembra Marcelo. Conhecido como sideman de grandes nomes da MPB, toca com Djavan desde 1989 e já fez trabalhos com Cláudio Zoli, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ed Motta. Integrou a VSOqt (Vittor Santos Orquestra), big band liderada pelo maestro, arranjador e trombonista Vittor Santos. Seus mais recentes trabalhos são a participação na turnê do disco Vaidade, de Djavan, e a gravação do CD duplo e do DVD Ouro Negro e do CD Choros e Alegrias,

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Marcelo Martins ambos de Moacir Santos e, mais recentemente, na gravação do CD e DVD Obrigado Gente, de João Bosco, com quem vem fazendo shows de lançamento.” > Sax &Metais - Como começou a estudar saxofone? Marcelo Martins - Meu primeiro movimento foi no sentido da percussão, bateria, tocando na banda marcial do colégio. Um dia o maestro não foi, os alunos ficaram com os instrumentos e começamos a trocar, a experimentar. Peguei uma corneta e curti, depois gostei do trompete. Então, meu irmão me convenceu a pensar no saxofone. Eu tinha 8 anos e entrei para um grupo infanto-juvenil da escola tocando flauta doce e, mais tarde, passei para a orquestra, com o saxofone. > Você sempre foi mais conhecido por ser um sideman, um músico que acompanha diversos artistas, grandes nomes da MPB. Em minha formação, além do instrumental, sempre tive a referência da MPB, e a minha meta era poder em algum momento tocar com esses caras, meus ídolos, tanto

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CINCO MINUTOS COM:

1

MARCELO MARTINS FOTOS: DIVULGAÇÃO POR DÉBORA DE AQUINO

MARCELO MARTINS

O outro lado do sideman

CINCO MINUTOS COM

Conhecido por acompanhar grandes artistas da MPB, como Djavan (com quem toca há mais de 15 anos), o saxofonista planeja seu vôo-solo com CD autoral e novos trabalhos com o grupo Foco

E

ste fluminense de Niterói entrou para o mundo da música influenciado pelos irmãos mais velhos e pelo pai, que colocou os filhos para estudar. E foi por intermédio dos irmãos que ele ouviu boa música. Foi quando ele conheceu e conviveu com diversos músicos, entre eles Mazinho Ventura (contrabaixista que tocava com Ivan Lins), Márcio Bahia (baterista de Hermeto Pascoal), Carlos Malta e Renato Franco, que foi seu primeiro professor. “Ele tocava com meu irmão em um grupo de choro e, paralelamente, estudei teoria musical com a ex-professora da minha irmã, Maria Isis, pianista clássica que hoje é harpista”, lembra Marcelo. Conhecido como sideman de grandes nomes da MPB, toca com Djavan desde 1989 e já fez trabalhos com Cláudio Zoli, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ed Motta. Integrou a VSOqt (Vittor Santos Orquestra), big band liderada pelo maestro, arranjador e trombonista Vittor Santos. Seus mais recentes trabalhos são a participação na turnê do disco Vaidade, de Djavan, e a gravação do CD duplo e do DVD Ouro Negro e do CD Choros e Alegrias,

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Marcelo Martins ambos de Moacir Santos e, mais recentemente, na gravação do CD e DVD Obrigado Gente, de João Bosco, com quem vem fazendo shows de lançamento.” > Sax &Metais - Como começou a estudar saxofone? Marcelo Martins - Meu primeiro movimento foi no sentido da percussão, bateria, tocando na banda marcial do colégio. Um dia o maestro não foi, os alunos ficaram com os instrumentos e começamos a trocar, a experimentar. Peguei uma corneta e curti, depois gostei do trompete. Então, meu irmão me convenceu a pensar no saxofone. Eu tinha 8 anos e entrei para um grupo infanto-juvenil da escola tocando flauta doce e, mais tarde, passei para a orquestra, com o saxofone. > Você sempre foi mais conhecido por ser um sideman, um músico que acompanha diversos artistas, grandes nomes da MPB. Em minha formação, além do instrumental, sempre tive a referência da MPB, e a minha meta era poder em algum momento tocar com esses caras, meus ídolos, tanto

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CINCO MINUTOS COM

MARCELO MARTINS

FIM

quanto no instrumental – Hermeto Pascoal, Nivaldo Ornelas, Marcio Montarroyos, Ricardo Silveira, Arthur Maia, Nico Assumpção... Mas tinha aquela idéia de que o trabalho com um cantor gera mais dinheiro e o trabalho instrumental é mais pelo amor à música. Então, eu e toda uma geração acabamos direcionando mais as coisas para atuar como sideman ao lado desses artistas. O que foi muito bom financeiramente e com certeza também musicalmente, mas de uma certa maneira anulou um pouco o ímpeto de nossos próprios trabalhos. > Qual é o enfoque desse trabalho com o grupo? Começamos com um disco independente em 2000, com uma tiragem de mil cópias. Eu e o João Castilho estávamos em um trabalho com o Djavan, viajando juntos e também tocávamos muito em jams em Vila Isabel, em um bar chamado Palpite Infeliz. Havia uma galera tocando, Renato Massa na bateria, André Rodrigues no baixo, Jessé Sadoc no trompete. O som foi ficando cada vez melhor até que tivemos a idéia de registrar o trabalho, gravar um disco. Durante as viagens com Djavan, eu e Castilho pensávamos no repertório e, nas horas vagas que tínhamos entre as viagens, nos juntávamos com o restante do pessoal e acabou surgindo o disco Foco, que é também o nome da banda. Há um ano voltamos a nos encon-

SETUP DE MARCELO MARTINS Saxofones • Sax tenor Selmer Mark VI com boquilha Norberto de metal. “Usei por muitos anos uma boquilha Dave Guardala modelo Brecker I. A maior parte das coisas que gravei foi com essa boquilha. Mas de um ano para cá estou usando uma Norberto de metal, que é uma cópia das Dukoff antigas, parece um Otto Link.” • Sax alto Selmer Super Action 80 Série II, com boquilha Meyer 5 • Soprano Yamaha 62, curved neck, com boquilha Selmer E de massa, mexida, mais aberta Flautas • Flauta em C Yamaha • Flauta em G Armstrong • Picollo Yamaha 62 Palhetas * Rico La Voz Medium Hard em todos os saxofones

trar e fizemos mais um CD, finalizado há uns dois meses. Estamos pensando na capa e negociando com algum selo para que o disco não fique tão independente. > Você pensa em um trabalho-solo? Estou fazendo o meu solo no intermédio do tempo que eu tenho. Na verdade, comecei a fazer em 2004, pouco antes de voltar a tocar com o Djavan. Ele parou com a banda desde o trabalho do Ao Vivo. Em 2004, ele me chamou de volta e gravei uma faixa do CD Vaidade, e então fomos para a estrada novamente. Bem quando eu estava começando a fazer o meu CD, tive de parar. Fizemos um ano e meio de turnê, e nesse último semestre fui tentando retomar. Tenho cinco faixas gravadas, preciso de mais quatro ou cinco para fechar o trabalho. Espero conseguir isso até o fim do ano. > Falando nisso, você tem um longo caminho ao lado de Djavan. Como aconteceu o convite para trabalhar com ele? Foi por meio do Arthur Maia, com quem eu já tocava na época. O Djavan estava montando a banda para o disco Oceano, e comentou com o Arthur que queria gente nova, e ele falou de mim e do Renato Neto, pois tocávamos juntos. Certa vez, o Arthur estava indo para o ensaio do Djavan e me ligou pedindo que eu também fosse. Chegando lá, fiquei tocando com o pessoal da banda, o Carlos Bala, o Calasans, o Luiz Avelar e o Celso Fonseca. Quando o Djavan chegou, o Arthur nos apresentou e então ele se sentou na minha frente, pegou o violão e começou a tocar um groove, do Asa e falou: “Sola aí”. Eu já estava aquecido e saí tocando. Depois, cantou algumas frases

e pediu para eu tocar. Tudo em tom meio audition. Ainda me deu uma fita com uma introdução de flauta para eu transcrever e levar para ele, mas de cara ele já curtiu. Isso foi no fim de 1989 e, na época, ele estava ensaiando para uma miniturnê nos Estados Unidos, à qual não pude ir porque não tinha nem passaporte. Reencontrei o Djavan após essa viagem, em janeiro de 1990, e comecei a trabalhar com ele. > Quem você gostava de ouvir? Sua formação foi mais voltada para o jazz? Ouvia tudo que podia: Charlie Parker, Cannomball Adderley, Stan Getz, Paul Desmond, Coltrane, Wayne Shorter... Houve uma época em que transmitiam programas de jazz pelo rádio e eu ficava com as fitas engatilhadas para gravar e às vezes tirava os solos. Peguei também a geração anos 1980, do jazz fusion e também do modern jazz, Brekcer Brother’s, Steps Ahead (Michael Brecker), Weather Report, Chick Corea (Joe Farrell), Yellow Jackets (Marc Russo), Bob Mintzer. E ao mesmo tempo me interessando também por grupos brasileiros como o Cama de Gato, High Life, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti... Vi muito o Nivaldo Ornelas tocando, o Marcos Resende, o Antonio Adolfo, na época do Vira-Lata. Peguei tudo isso meio de bandeja por causa do meu irmão. Bem mais tarde é que conheci o samba-jazz, um estudo que me influenciou e influencia até hoje de forma marcante, com o JT Meirelles, Sérgio Mendes e Bossa Rio, Edison Machado, Os Cobras, Eumir Deodato e a música de Moacir Santos, mestre com quem tive a oportunidade de trabalhar, homenagear e conviver nesses últimos anos. Salve Moacir! z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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CINCO MINUTOS COM

MARCELO MARTINS

FIM

quanto no instrumental – Hermeto Pascoal, Nivaldo Ornelas, Marcio Montarroyos, Ricardo Silveira, Arthur Maia, Nico Assumpção... Mas tinha aquela idéia de que o trabalho com um cantor gera mais dinheiro e o trabalho instrumental é mais pelo amor à música. Então, eu e toda uma geração acabamos direcionando mais as coisas para atuar como sideman ao lado desses artistas. O que foi muito bom financeiramente e com certeza também musicalmente, mas de uma certa maneira anulou um pouco o ímpeto de nossos próprios trabalhos. > Qual é o enfoque desse trabalho com o grupo? Começamos com um disco independente em 2000, com uma tiragem de mil cópias. Eu e o João Castilho estávamos em um trabalho com o Djavan, viajando juntos e também tocávamos muito em jams em Vila Isabel, em um bar chamado Palpite Infeliz. Havia uma galera tocando, Renato Massa na bateria, André Rodrigues no baixo, Jessé Sadoc no trompete. O som foi ficando cada vez melhor até que tivemos a idéia de registrar o trabalho, gravar um disco. Durante as viagens com Djavan, eu e Castilho pensávamos no repertório e, nas horas vagas que tínhamos entre as viagens, nos juntávamos com o restante do pessoal e acabou surgindo o disco Foco, que é também o nome da banda. Há um ano voltamos a nos encon-

SETUP DE MARCELO MARTINS Saxofones • Sax tenor Selmer Mark VI com boquilha Norberto de metal. “Usei por muitos anos uma boquilha Dave Guardala modelo Brecker I. A maior parte das coisas que gravei foi com essa boquilha. Mas de um ano para cá estou usando uma Norberto de metal, que é uma cópia das Dukoff antigas, parece um Otto Link.” • Sax alto Selmer Super Action 80 Série II, com boquilha Meyer 5 • Soprano Yamaha 62, curved neck, com boquilha Selmer E de massa, mexida, mais aberta Flautas • Flauta em C Yamaha • Flauta em G Armstrong • Picollo Yamaha 62 Palhetas * Rico La Voz Medium Hard em todos os saxofones

Marcelo Martins em apresentação com o grupo Foco

trar e fizemos mais um CD, finalizado há uns dois meses. Estamos pensando na capa e negociando com algum selo para que o disco não fique tão independente. > Você pensa em um trabalho-solo? Estou fazendo o meu solo no intermédio do tempo que eu tenho. Na verdade, comecei a fazer em 2004, pouco antes de voltar a tocar com o Djavan. Ele parou com a banda desde o trabalho do Ao Vivo. Em 2004, ele me chamou de volta e gravei uma faixa do CD Vaidade, e então fomos para a estrada novamente. Bem quando eu estava começando a fazer o meu CD, tive de parar. Fizemos um ano e meio de turnê, e nesse último semestre fui tentando retomar. Tenho cinco faixas gravadas, preciso de mais quatro ou cinco para fechar o trabalho. Espero conseguir isso até o fim do ano. > Falando nisso, você tem um longo caminho ao lado de Djavan. Como aconteceu o convite para trabalhar com ele? Foi por meio do Arthur Maia, com quem eu já tocava na época. O Djavan estava montando a banda para o disco Oceano, e comentou com o Arthur que queria gente nova, e ele falou de mim e do Renato Neto, pois tocávamos juntos. Certa vez, o Arthur estava indo para o ensaio do Djavan e me ligou pedindo que eu também fosse. Chegando lá, fiquei tocando com o pessoal da banda, o Carlos Bala, o Calasans, o Luiz Avelar e o Celso Fonseca. Quando o Djavan chegou, o Arthur nos apresentou e então ele se sentou na minha frente, pegou o violão e começou a tocar um groove, do Asa e falou: “Sola aí”. Eu já estava aquecido e saí tocando. Depois, cantou algumas frases

e pediu para eu tocar. Tudo em tom meio audition. Ainda me deu uma fita com uma introdução de flauta para eu transcrever e levar para ele, mas de cara ele já curtiu. Isso foi no fim de 1989 e, na época, ele estava ensaiando para uma miniturnê nos Estados Unidos, à qual não pude ir porque não tinha nem passaporte. Reencontrei o Djavan após essa viagem, em janeiro de 1990, e comecei a trabalhar com ele. > Quem você gostava de ouvir? Sua formação foi mais voltada para o jazz? Ouvia tudo que podia: Charlie Parker, Cannomball Adderley, Stan Getz, Paul Desmond, Coltrane, Wayne Shorter... Houve uma época em que transmitiam programas de jazz pelo rádio e eu ficava com as fitas engatilhadas para gravar e às vezes tirava os solos. Peguei também a geração anos 1980, do jazz fusion e também do modern jazz, Brekcer Brother’s, Steps Ahead (Michael Brecker), Weather Report, Chick Corea (Joe Farrell), Yellow Jackets (Marc Russo), Bob Mintzer. E ao mesmo tempo me interessando também por grupos brasileiros como o Cama de Gato, High Life, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti... Vi muito o Nivaldo Ornelas tocando, o Marcos Resende, o Antonio Adolfo, na época do Vira-Lata. Peguei tudo isso meio de bandeja por causa do meu irmão. Bem mais tarde é que conheci o samba-jazz, um estudo que me influenciou e influencia até hoje de forma marcante, com o JT Meirelles, Sérgio Mendes e Bossa Rio, Edison Machado, Os Cobras, Eumir Deodato e a música de Moacir Santos, mestre com quem tive a oportunidade de trabalhar, homenagear e conviver nesses últimos anos. Salve Moacir! z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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No maior evento da indústria de instrumentos musicais, não faltaram opções para os músicos de sopro. Do sax ao trompete, quem visitou o Expo Center Norte em busca de novos produtos não se decepcionou. Confira! Por Débora de Aquino Fotos: divulgação

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A

conteceu entre 30 de agosto e 3 de setembro o maior encontro de música da América Latina, a 23ª edição da Expomusic. A feira reuniu toda a cadeia musical, desde fabricantes, importadores, distribuidores até editoras e músicos profissionais e amadores. Durante os cinco dias do evento no Expo Center Norte, em São Paulo, 150 expositores nacionais e internacionais mostraram seus lançamentos para um público de quase 60 mil pessoas, 13% a mais que no ano passado. De acordo com Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira de Música (Abemúsica) o destaque foi o volume de negócios. “Esta edição da Expomusic superou as expectativas gerando negócios da ordem de R$ 120 milhões, valor que representa 30% do faturamento anual previsto para o setor. Um ótimo presságio para o futuro, a curto e médio prazo para a música made in Brazil”, afirma. A feira apresentou ainda workshops de diversos estilos musicais, com renomados nomes do cenário nacional. Esses eventos aconteceram no tradicional Music Hall, um espaço dedicado a pocket shows com artistas consagrados e novos talentos. Algumas das grandes atrações foram os astros pop Lulu Santos, Frejat, Kiko Loureiro, Lobão, Raimundos e Detonautas. Dentre os representantes de destaque da música instrumental estavam Derico, Thiago e Arismar do Espírito Santo, além de Celso Pixinga. Este ano, foi possível conferir muitas novidades, a começar pelo espaço. As ruas ficaram mais largas, o que favoreceu a circulação das pessoas. Em matéria de novidades na área de sopros, a Sax & Metais destaca os principais lançamentos de instrumentos e acessórios, que você confere nas próximas páginas.

Harmônica Cromática Stan Harper 56 vozes Na Expomusic, a empresa apresentou a gaita desenvolvida em homenagem a Stan Harper, considerado um dos maiores harmonicistas de todos os tempos. É uma gaita cromática de 56 vozes, mas com capacidade praticamente idêntica em sonoridade e recursos às gaitas de 64 vozes, com a diferença do tamanho reduzido. Possui corpo de madeira e chapa de 1,20 mm.

Flauta Armstrong 104 Esse é o modelo mais vendido da Armstrong. É um instrumento standard especialmente desenvolvido para estudantes e muito conhecido nos Estados Unidos, onde são fabricadas. Possuem fácil emissão de som e posicionamento de mãos extremamente confortável. Vêm com acabamento prateado e acompanham estojo moldado.

Correias Rico para Sax A Musical Express trouxe a nova coleção de correias Rico para saxofone. Possuem design especial e ganchos curvos, facilitando a vida do músico na hora de tirar e colocar o instrumento. O botão de ajuste rápido permite que o saxofonista ajuste a correia em um comprimento ideal de forma fácil e rápida. Disponível em cinco diferentes designs.

Sax Barítono Selmer BS500 Mais uma novidade da linha Selmer USA, modelo de sax barítono de qualidade e baixo custo. Possui extensão completa do Lá grave ao Fá# agudo. Os destaques deste modelo são os dois apoios entre campana e corpo, e a haste dupla na chave de dó/si grave, o que evita desajustes prematuros. O instrumento tem excelente acabamento é vem completo com estojo e boquilha.

Hering MIC-5 A feira também serviu para a divulgação de um microfone específico para harmônicas. É o Hering Mic-5, criado em parceria com a LeSon. Assinado pelo músico Jefferson Gonçalves, o objetivo deste produto é atingir todas as freqüências de qualquer harmônica. Possui timbre limpo e claro, e está fazendo sucesso entre os gaitistas. Destaca-se ainda por ter um sistema denomindado pick up patterno, ou seja, é um microfone não direcional que capta somente o som da harmônica.

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EXPOMUSIC 2006 TESTE

Michael

No quesito acessórios, a Hunter veio com sua nova linha de pedestais de microfone e estante de partituras, que estarão disponíveis no mercado a partir de novembro. A idéia foi desenvolver produtos seguindo tendências internacionais no segmento. Os acessórios tiveram os pés aumentados para melhorar a estabilidade e praticidade na montagem e desmontagem.

A empresa mineira trouxe uma linha de saxofones com acabamento escovado. Compõem a série o sax alto, tenor e soprano. As especificações técnicas são as mesmas dos outros instrumentos da marca: sistemas de regulagem de abertura e micro-regulagem das chaves, barra de reforço nas chaves de Si e Dó grave, o que traz estabilidade diminuindo vazamentos. Vem com ressonador metálico nas sapatilhas, nas juntas de cortiça natural no tudel e botões em madrepérola. Tem apoio metálico do polegar, regulável e giratório. Os cavaletes são soldados em uma plataforma de aço que diminui a possibilidade de quebra. Acompanha estojo de fibra Super Luxo, luvas, flanelas e desumidificador. Garantia de 6 meses para banho.

CAPA ESTÚDIO

Trompete Bach Aristocrat

TECNOLOGIA

EXPOMUSIC 2006 - UM SHOW DE NOVIDADES

Hunter

REVIEW

Com grande tradição em trompetes e trombones a fábrica norte-americana Bach vem lançando modelos mais acessíveis, garantindo os padrões básicos da marca. O modelo Aristocrat é uma ótima opção para estudantes interessados, com leadpipe de latão avermelhado e dois gatilhos. Desta linha estará disponível em breve o novo flugelhorn Bach, também para estudantes.

Acessórios

LIVE!

Aqui damos destaque para as novas surdinas profissionais Bach Elite para trompete, as boquilhas Selmer Gondentone para clarineta, sax alto e tenor e o lançamento nacional das palhetas Gonzalez. Estas últimas prometem ser a grande sensação para 2007.

Sax Alto Selmer La Voix

Gaitas Rex A Arwel Instrumentos Musicias, empresa distribuidora de produtos musicais nacionais e importados, apresentou na Expomusic 2006 as novas Gaitas Rex, já disponíveis nas lojas de todo o Brasil. Foram lançados três modelos, todos compatíveis com o perfil do músico brasileiro: Rex Geórgia Blues C (20 Vozes), Cromática, e Pro 20.

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Modelo da linha Selmer USA. A La Voix é uma nova linha de saxofones da empresa americana. São instrumentos robustos de excelente sonoridade, possuem o corpo em latão avermelhado. A campana tem desenho especial com diâmetro maior. Os saxofones alto e tenor estão disponíveis com acabamento natural dourado ou preto (ônix) com chaves douradas.

Trompete King Silver Flair Modelo profissional da King muito solicitado em vários países do mundo, especialmente por músicos populares e jazzistas. A versão lançada na Expomusic 2006 é uma das mais charmosas: um trompete King Silver Flair com a campana virada pra cima. Este modelo surgiu quando o lendário trompetista Dizzy Gillespie teve seu trompete avariado em uma queda no palco, e a campana virou para cima. No fim das contas, o músico gostou da idéia. Hoje este modelo é construído pela King com campana inteiriça e pistos em liga Monel.

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EXPOMUSIC 2006 TESTE EXPOMUSIC

Michael

No quesito acessórios, a Hunter veio com sua nova linha de pedestais de microfone e estante de partituras, que estarão disponíveis no mercado a partir de novembro. A idéia foi desenvolver produtos seguindo tendências internacionais no segmento. Os acessórios tiveram os pés aumentados para melhorar a estabilidade e praticidade na montagem e desmontagem.

A empresa mineira trouxe uma linha de saxofones com acabamento escovado. Compõem a série o sax alto, tenor e soprano. As especificações técnicas são as mesmas dos outros instrumentos da marca: sistemas de regulagem de abertura e micro-regulagem das chaves, barra de reforço nas chaves de Si e Dó grave, o que traz estabilidade diminuindo vazamentos. Vem com ressonador metálico nas sapatilhas, nas juntas de cortiça natural no tudel e botões em madrepérola. Tem apoio metálico do polegar, regulável e giratório. Os cavaletes são soldados em uma plataforma de aço que diminui a possibilidade de quebra. Acompanha estojo de fibra Super Luxo, luvas, flanelas e desumidificador. Garantia de 6 meses para banho.

ESTÚDIO

Trompete Bach Aristocrat

TECNOLOGIA

EXPOMUSIC 2006 - UM SHOW DE NOVIDADES

Hunter

REVIEW

Com grande tradição em trompetes e trombones a fábrica norte-americana Bach vem lançando modelos mais acessíveis, garantindo os padrões básicos da marca. O modelo Aristocrat é uma ótima opção para estudantes interessados, com leadpipe de latão avermelhado e dois gatilhos. Desta linha estará disponível em breve o novo flugelhorn Bach, também para estudantes.

Acessórios

LIVE!

Aqui damos destaque para as novas surdinas profissionais Bach Elite para trompete, as boquilhas Selmer Gondentone para clarineta, sax alto e tenor e o lançamento nacional das palhetas Gonzalez. Estas últimas prometem ser a grande sensação para 2007.

Sax Alto Selmer La Voix

Gaitas Rex A Arwel Instrumentos Musicias, empresa distribuidora de produtos musicais nacionais e importados, apresentou na Expomusic 2006 as novas Gaitas Rex, já disponíveis nas lojas de todo o Brasil. Foram lançados três modelos, todos compatíveis com o perfil do músico brasileiro: Rex Geórgia Blues C (20 Vozes), Cromática, e Pro 20.

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Modelo da linha Selmer USA. A La Voix é uma nova linha de saxofones da empresa americana. São instrumentos robustos de excelente sonoridade, possuem o corpo em latão avermelhado. A campana tem desenho especial com diâmetro maior. Os saxofones alto e tenor estão disponíveis com acabamento natural dourado ou preto (ônix) com chaves douradas.

Trompete King Silver Flair Modelo profissional da King muito solicitado em vários países do mundo, especialmente por músicos populares e jazzistas. A versão lançada na Expomusic 2006 é uma das mais charmosas: um trompete King Silver Flair com a campana virada pra cima. Este modelo surgiu quando o lendário trompetista Dizzy Gillespie teve seu trompete avariado em uma queda no palco, e a campana virou para cima. No fim das contas, o músico gostou da idéia. Hoje este modelo é construído pela King com campana inteiriça e pistos em liga Monel.

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EVENTO

ClarinetFest 2006 - Atlanta

EVENTO MICHEL MORAES FOTOS: MICHEL MORAES

Músicos de diversos países se encontraram e fizeram apresentações memoráveis. Destaque para os mestres Ron Odrich, Henri Bok e Jonathan Cohler. O Brasil foi representado pelo grupo Madeira de Vento.

A FESTA DO CLARINETE NOS EUA A Associação Internacional de Clarinetistas é uma entidade que tem por objetivo estimular a comunicação e a cooperação entre os clarinetistas e entusiastas do instrumento em todo o mundo. Anualmente, ela promove um encontro internacional, em que são realizados concertos, recitais, masterclasses e competições, bem como uma grande feira onde os fabricantes exibem seus produtos. Este evento é realizado em uma diferente cidade do mundo a cada ano. Em 2006, aconteceu em Atlanta, nos Estados Unidos, em agosto.

U

m festival como o de Atlanta é uma oportunidade única de encontrar grandes clarinetistas e trocar idéias. Participaram músicos do quilate de Ricardo Moralez, primeiro clarinetista da New York Philarmonic; o solista Philipe Cuper; Alessandro Carbonare, primeiro clarinetista da Orquestra da Academia Santa Cecília, da Itália; Mark Nuccio, requintista da New York Philarmonic, além de solistas de jazz como Buddy Defranco, Eddie Daniels, Andy Firth, Ron Odrich, e grupos como o quarteto de Caracas e o quarteto de Lisboa. O Brasil foi muito bem representado por Paulo Sergio Santos (RJ) e pelo Quinteto Madeira de Vento (SP).

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Repertório eclético Os instrumentistas apresentaram desde peças eruditas tradicionais, como os quintetos para clarinete e cordas de Mozart, Brahms e Weber, até estréias de obras como as Variações sobre um Tema Zappa, de P. Smith. No lado popular, o destaque foi a apresentação do nova-iorquino Ron Odrich, que deu uma canja especial com Eddie Daniels, tocando standards do cancioneiro americano e temas de Charlie Parker, como Ornithology. A presença brasileira foi de grande importância no ClarinetFest2006. O Quinteto Madeira de Vento executou obras de seu CD Chovendo Canivetes, que se baseia em uma pesquisa do grupo sobre a história do instrumento no Brasil, por meio

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EVENTO

CLARINETFEST 2006 - ATLANTA

de nomes como Luís Americano, K-Ximbinho, Severino Araújo, Paulo Moura e Proveta, entre outros. “Para os americanos, o choro é uma novidade. Conhecem só a bossa nova, e samba para eles é a bateria de escola de samba”, diz Otinilo Pacheco, claronista do Madeira de Vento. “É engraçado tocar num lugar onde todos os grandes nomes do instrumento estão te assistindo. Dá um frio na barriga, mas é gratificante ver pessoas como Ron Odrich, Henri Bok e Jonathan Cohler nos cumprimentando empolgados ao final do concerto”, diz Mário Marques, outro integrante do Madeira de Vento. O concerto de encerramento com a Orquestra Sinfônica de Atlanta teve como convidados Laura Ardan, primeira clarinetista da orquestra; Andy Firth,

Quem passou pelos estandes não se decepcionou: marcas tradicionais como Selmer, Buffet Crampon, Vandoren e Yamaha estiveram presentes, trazendo novidades que encantaram os visitantes

sinfônica. “O Paulo me chamou porque os percussionistas da orquestra estavam com dificuldade para tocar ritmos brasileiros”, diz Léo.

Feira de instrumentos e acessórios

solista de jazz, e Paulo Sérgio Santos, a grande estrela da noite, tocando choro com magníficos arranjos. Inusitadamente, Léo Barros, percussionista do Madeira de Vento, foi convidado às pressas para acompanhar Paulo Sérgio junto à

A feira dos fabricantes de instrumentos e acessórios impressionou pela estrutura apresentada aos visitantes. Todas as grandes marcas estavam representadas com seus estandes: Selmer, Buffet Crampom, Leblanc, Vandoren, BG, Yamaha, dentre outras. Das inúmeras novidades apresentadas na feira, a principal ficou por conta dos barriletes e campanas. Feitos com os mais variados tipos de madei-

O madeira de Vento executou obras de seu CD, que tem como base uma pesquisa do grupo sobre o clarinete no Brasil, por meio de nomes como Luís Americano e K.Ximbinho

ras, e com designs que às vezes fogem do convencional, proporcionam uma perceptível mudança no timbre dos instrumentos. “Os principais solistas estão trocando essas peças, que podem oferecer um som mais concentrado e escuro”, diz Morrie Backun, um dos principais fabricantes desses acessórios.

Foi um evento grandioso, com mais de 1.400 participantes, entre profissionais, amadores e expositores, o que mostra a importância que o clarinete tem em outros países e, em especial, nos Estados Unidos. Não foi apenas um encontro de músicos para trocar idéias, mas um grande acontecimento para todos os elos da cadeia produtiva em volta do clarinete, que começa com os iniciantes nas bandas das escolas, passando pelos conservatórios, igrejas, universidades, até grandes orquestras e solistas e toda a indústria que supre esse crescente mercado. z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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EVENTO

CLARINETFEST 2006 - ATLANTA

de nomes como Luís Americano, K-Ximbinho, Severino Araújo, Paulo Moura e Proveta, entre outros. “Para os americanos, o choro é uma novidade. Conhecem só a bossa nova, e samba para eles é a bateria de escola de samba”, diz Otinilo Pacheco, claronista do Madeira de Vento. “É engraçado tocar num lugar onde todos os grandes nomes do instrumento estão te assistindo. Dá um frio na barriga, mas é gratificante ver pessoas como Ron Odrich, Henri Bok e Jonathan Cohler nos cumprimentando empolgados ao final do concerto”, diz Mário Marques, outro integrante do Madeira de Vento. O concerto de encerramento com a Orquestra Sinfônica de Atlanta teve como convidados Laura Ardan, primeira clarinetista da orquestra; Andy Firth,

O madeira de Vento executou obras de seu CD, que tem como base uma pesquisa do grupo sobre o clarinete no Brasil, por meio de nomes como Luís Americano e K.Ximbinho

sinfônica. “O Paulo me chamou porque os percussionistas da orquestra estavam com dificuldade para tocar ritmos brasileiros”, diz Léo.

Feira de instrumentos e acessórios

solista de jazz, e Paulo Sérgio Santos, a grande estrela da noite, tocando choro com magníficos arranjos. Inusitadamente, Léo Barros, percussionista do Madeira de Vento, foi convidado às pressas para acompanhar Paulo Sérgio junto à

A feira dos fabricantes de instrumentos e acessórios impressionou pela estrutura apresentada aos visitantes. Todas as grandes marcas estavam representadas com seus estandes: Selmer, Buffet Crampom, Leblanc, Vandoren, BG, Yamaha, dentre outras. Das inúmeras novidades apresentadas na feira, a principal ficou por conta dos barriletes e campanas. Feitos com os mais variados tipos de madei-

Quem passou pelos estandes não se decepcionou: marcas tradicionais como Selmer, Buffet Crampon, Vandoren e Yamaha estiveram presentes, trazendo novidades que encantaram os visitantes

ras, e com designs que às vezes fogem do convencional, proporcionam uma perceptível mudança no timbre dos instrumentos. “Os principais solistas estão trocando essas peças, que podem oferecer um som mais concentrado e escuro”, diz Morrie Backun, um dos principais fabricantes desses acessórios.

Foi um evento grandioso, com mais de 1.400 participantes, entre profissionais, amadores e expositores, o que mostra a importância que o clarinete tem em outros países e, em especial, nos Estados Unidos. Não foi apenas um encontro de músicos para trocar idéias, mas um grande acontecimento para todos os elos da cadeia produtiva em volta do clarinete, que começa com os iniciantes nas bandas das escolas, passando pelos conservatórios, igrejas, universidades, até grandes orquestras e solistas e toda a indústria que supre esse crescente mercado. z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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2 3 4 5

CINCO MINUTOS COM:

1

CORINA MEYER FOTOS: DIVULGAÇÃO POR DÉBORA DE AQUINO

CORINA MEYER

Chorões em família

CINCO MINUTOS COM

A jovem flautista já teve o privilégio de tocar com os grandes chorões do País, como Carlos Poyares, Luizinho 7 Cordas, entre outros. Com as irmãs Eliza e Lia, Corina montou o grupo Choro das Três, dedicado a tocar a mais tradicional música brasileira

E

la tem apenas 18 anos, mas um currículo de gente grande. Diferentemente dos jovens de sua idade, Corina Meyer dedica-se ao estudo de uma dos estilos musicais brasileiros mais tradicionais, o choro. Ela integra o grupo Choro das Três, ex-Balaio de Gato, ao lado das irmãs Eliza (violão de 6 e 7 cordas) e Lia (bandolim), e do pai Eduardo (pandeiro). Já conseguiram feitos de destaque como, por exemplo, apresentar-se com o lendário flautista Carlos Poyares, no Bar Piratininga e na Praça do Choro, em São Paulo. Todos os sábados, o grupo toca na famosa Roda de Choro da Contemporânea (loja de instrumentos no centro da capital paulista) e no restaurante Gigetto. Em seu arquivo de apresentações importantes, contabiliza participações em programas de TV como SPTV, Altas Horas e Programa do Jô, entre outros. Nascida no interior de São Paulo, próximo a Sorocaba, Corina começou a estudar música quando cursava o primeiro ano primário, aos 7 anos. O professor de educação artística passou a levar um teclado para acompanhar o coral da classe. Assim, Corina despertou seu interesse pela música. “A gente cantava e ele tocava. Naquele ano eu decidi que queria estudar música. Pedi aos meus pais que me matriculassem em uma escola na minha cidade.” Como toda criança, começou seus estudos musicais com a flauta doce. Passado um ano e meio, veio a hora de decidir por um instrumento. “Eu sempre gostei mais de instrumentos de

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Corina Meyer

sopro, e nessa época passei a ouvi-los mais. Fiquei em dúvida entre o clarinete e a flauta transversal. Em casa, havia dois CDs dos quais eu gostava muito: uma coletânea com o Abel Ferreira (clarinetista); e o álbum Choros Imortais, do Altamiro Carrilho. O do Altamiro acabou vencendo e me decidi pela flauta”, brinca a instrumentista. > Sax & Metais – Como foi se interessar logo pelo choro? Corina Meyer - Minha família tinha dois CDs de choro – uma coletânea em que o Abel Ferreira participava e outro do Altamiro Carrilho, chamado Choros Imortais, que me chamavam a atenção. Além do mais, em casa sempre tivemos o hábito de ouvir boa música. Meus pais sempre disponibilizaram muita coisa legal, desde jazz, música clássica, MPB. Tinha de tudo, mas choro eram somente esses dois. > Como foram os primeiros anos de estudo? Estudei em minha cidade até os 12 anos, com um professor que na verdade era clarinetista, mas tocava um pouco de flauta. Depois, fui para o Conservatório de Tatuí e fiquei até o fim do ano passado. Estudei música erudita e popular com o Paulo Flores, por um período curto. Nessa época, eu já ia para São Paulo tocar. Tinha uns 13 anos quando comecei a freqüentar as rodas de choro. Meu objetivo era, desde o início, tocar como o Altamiro, mas não consegui

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CINCO MINUTOS COM

CORINA MEYER

porque choro é uma música difícil. Então, um dia, vi na TV que aconteceria um evento em que ele iria tocar. A partir daí comecei a ir para São Paulo conhecer os músicos, e eles passaram a nos convidar para canjas. A cada semana eu tirava um ou dois choros, para chegar ao fim de semana e ter alguma coisa diferente. Na primeira canja de que participei eu tocava só duas músicas, Carinhoso e Vou Vivendo. Inclusive a primeira canja tenho gravada em vídeo – quem nos recebeu foi o Carlos Poyares. Foi maravilhoso, tocamos em duas flautas, ele foi fazendo contracantos, foi muito bonito. Depois disso, nós nos encontramos várias vezes, mas cheguei tarde. Uns dois anos depois ele se mudou para Brasília, onde faleceu em maio de 2004. Não pude conviver com ele o quanto gostaria. > Você sempre toca tudo de cor, sem partitura. Como chegou a isso e qual é a sua rotina de estudo? Acho que tenho facilidade para isso. Pego uma partitura ou uma gravação, tiro a primeira parte, limpo as passagens, toco umas duas, três vezes e já decoro. Dependendo da música, o processo é mais rápido. Não sou muito de estudar sonoridade, exercícios do tipo Marcel Moyse, não gosto muito. Se meu som está feio e quero melhorar, pego uma música lenta, com notas mais longas. Gosto mesmo de estudar com música. Quando tem um trecho difícil, estudo aquilo até limpar. Em alguma outra música que tiver algo parecido já não vou ter muita dificuldade. Já fiz muito isso de estudar exercício, mas acho que encontrei uma forma mais leve, mais prazerosa, e para mim rende muito mais, é mais prático. Se eu fizer uma hora de sonoridade, depois mais não sei quanto de escalas, o estudo não rende. > E os estudos de teoria? Agora estudo sozinha e tenho aulas de piano

SETUP DE CORINA MEYER Instrumentos •Flauta em C - Arley Wilkins •Piccolo - Armstrong de massa Equipamento •Microfone - Sony de lapela - “Estou muito feliz com esse microfone porque já usei modelos que pegavam muito barulho da chave, mas desse eu gosto.” Contatos Site: www.chotodastres.com.br Comunidade Orkut: www.orkut.com/ Community.aspx?cmm=7446805

FIM

Com as irmãs Lia e Eliza: preferência pelo choro desde a infância

erudito com a Rosária Gatti. Pretendo, quando estiver com a técnica melhor, estudar um pouco de popular para aprender jazz e improvisação, acho importante. Também vou prestar vestibular para flauta no fim do ano. > Que experiências você tirou das rodas de choro de que participa? Comecei a estudar música muito pequena. Tive alguns professores de música erudita que eram muito radicais, e acabaram me deixando um pouco presa. Com as rodas, consegui me soltar e ver que a música não é tão rígida. Ela tem regras, mas você pode brincar. Isso foi uma coisa que minha irmã Eliza não sofreu, a Lia também não. Elas começaram a participar dessas rodas mais cedo. Há muitas coisas que aprendi com o Poyares, desde um dedilhado para o qual eu não achava uma solução, e ele dizia: “Você levanta esse dedinho aqui...”, e resolvia o problema, até “Sopra desse jeito, que vai ver a diferença”. Aprendi muitos macetes. > Como aconteceu a formação do grupo Choro das Três com sua própria família? Nos tempos de escola, meu pai, que fez colegial técnico no Senai, tocava pandeiro e timba, fazia bossa nova. Terminada a escola, ele parou com a música e seguiu a carreira dele. Quando eu comecei a tocar, ele comprou um pandeiro e passamos a tocar juntos, em tom de brincadeira. Com isso, as minhas irmãs começaram a gostar e a se interessar por música e queriam tocar também. Foi tudo por acaso, nunca tivemos a idéia de formar um grupo e sair tocando por aí. A primeira meta era tocar junto para se divertir, e as coisas foram acontecendo quando começamos a ir mais para São Paulo. Os músicos começaram a passar as harmonias para a minha

irmã Lia, que estudava violão erudito. Assim ela poderia acompanhar a mim e a minha irmã Eliza, que já estava começando a tocar bandolim. Aos poucos, fomos aumentando nosso repertório, até que começaram a nos chamar para fazer programas de TV, de rádio. Quando percebemos já estávamos tão envolvidas que não dava mais para sair. > De todos os seus trabalhos, tem algum que você destacaria? O que me satisfaz nem sempre é tocar para muitas pessoas, mas sim tocar para quem realmente esteja gostando daquilo, demonstre interesse. Tocar no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, foi sensacional. O Revéillon da Paulista e o Estádio do Morumbi foram uma surpresa muito grande; entramos apavoradas, não é comum tocar choro para essa quantidade de gente. Depois de tocar, saímos chorando do palco. As pessoas receberam a gente com um carinho muito grande, realmente não esperávamos que fossem gostar tanto assim do nosso trabalho. E os programas de TV também foram muito bons. Isso faz com a gente veja que vale a pena continuar tocando. > Já tem algum CD gravado ou alguma proposta? Temos muitas coisas gravadas em MD que sempre levamos conosco. Durante as idas a São Paulo, tocamos com muita gente boa. Vamos para lá todo sábado, de manhã tocamos na Contemporânea e à tarde no Gigetto, assim fomos registrando esses trabalhos, que podem ser ouvidos em nosso site (www.chorodastres.com.br). Ainda não temos um CD oficial, mas estamos em negociação com uma gravadora. Se der tudo certo, vem um por aí. z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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ANÁLISES

Acessórios bem calibrados

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

PALHETA RICO ROYAL + BOQUILHA RICO B5

PALHETA RICO ROYAL E BOQUILHA RICO B5 P

ossuir uma boa boquilha e uma boa palheta é tão importante quanto possuir um bom clarinete. É no conjunto formado por essas duas peças que se produz a vibração que se processará através do tubo do instrumento. Assim, existe uma enorme interdependência entre os elementos palheta-boquilha-instrumento. Confira as análises da palheta Rico Royal 2.5 e da boquilha Rico B5, ambas fabricadas nos Estados Unidos e distribuídas no Brasil pela Musical Express.

APRESENTAÇÃO

REVIEW LIVE!

É muito importante considerar se esses acessórios vêm com uma capinha bem reforçada, porque isso influi diretamente na durabilidade de uma palheta. Além disso, no caso das palhetas Rico, como são vendidas em embalagem com uma ou dez unidades, podem ser uma opção mais econômica para o estudante.

AVALIAÇÃO VISUAL Clarinetistas em geral são superexigentes quando o assunto é palheta. Eu, por exemplo, procuro fazer uma análise visual antes de tocar e observo a qualidade da cana. Raspo a unha na parte traseira da palheta: se esfarelar, é porque a cana é de má qualidade. Observo ainda o corte em U que sai da casca, que deve estar bem centrado. Caso contrário, a palheta ficará com um lado mais grosso do que o outro e não vai vibrar direito. Também a coloco contra a luz para verificar se as fibras estão paralelas e se há mais madeira no centro que nas bordas. Palhetas com mais cana no centro tendem a ter um timbre mais escuro e maior resistência para tocar em dinâmica forte e nos agudos. As palhetas Rico Royal têm uma cana de muito boa qualidade. O corte do U também é muito bem centrado. Já na observação contra a luz, me pareceu que poderia haver mais madeira na parte central, mas as fibras estavam bem paralelas.

RESISTÊNCIA À PRESSÃO No caso de uma palheta nova, procuro sentir sua resistência à pressão do sopro. Procuro palhetas confortáveis de tocar e com um som limpo, sem chiados, mesmo novas.

Noto como ela se comporta nos registros grave–médio–agudo. É muito importante que o som saia livremente. Vejo também como ela se comporta em trechos legato e staccato. A boa palheta é a que consegue reunir a maior parte dessas qualidades. Ao tocar, senti que a palheta tem um som bem limpo, do grave ao agudo, e uma tendência ao som mais para o brilhante. Nas articulações em staccato se mostrou bem livre, mais do que a média de outras palhetas. Foi possível articular bem rapidamente, o que considero uma boa característica.

RICO ROYAL

CONCLUSÃO

Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

As palhetas Rico Royal são feitas de boa cana, possuem fibras paralelas, permitem fácil emissão e em todos os registros e intensidades. Recomendo que o clarinetista adquira mais de uma, pois em todas as marcas, mesmo entre palhetas do mesmo material e lote, existem diferenças perceptíveis de sonoridade e articulação. z

Importador: Musical Express Fabricante: Rico Prós: matéria-prima resistente, boa emissão em todos os registros Contra: não tem Preço médio: R$ 7,00 (unidade) e R$ 63,00 (caixa com 10) ••••••••• •••••••• ••••••••• ••••••••••

9 8 9 10

Utilização recomendada R Estudo R Apresentações ao vivo R Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Michel Moraes (clarinetista): michelmoraes@madeiradevento.com.br Tire suas dúvidas com o distribuidor: Musical Express (11) 3139-3105 ou renata@musical-express.com.br

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ANÁLISES

Boquilha Rico B5 APRESENTAÇÃO

Prós: ótima emissão do som e articulação

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10 8 7 8

SONORIDADE Esta boquilha possui um som com ten-

O preço gira em torno de R$ 65,00, e é uma boa opção para iniciantes no clarinete que querem uma boquilha acessível que ajude a emitir o som facilmente. z

LIVE!

Utilização recomendada R Estudo R Apresentações ao vivo R Gravação em estúdio

CUSTO-BENEFÍCIO

REVIEW

Emissão Afinação Sonoridade Custo-benefício

Nos trechos em legato, manteve o som uniforme. No staccato e no destacado se mostrou bastante fácil de articular, mesmo em trechos rápidos. Porém, mostrou-se um pouco instável quando se exigiu articulação de trechos em dinâmica forte, com uma leve tendência a ‘abrir’ o som, o que não aconteceu ao se articular nas dinâmicas piano e mezzo-forte.

TECNOLOGIA

Preço médio: R$ 65,00

ARTICULAÇÃO

dência ao timbre mais escuro, o que pode ser uma vantagem, já que o timbre do clarinete em geral tende a ser mais brilhante. Como desvantagem, mostrou menores possibilidades de modificação do espectro do som, apresentando-se um pouco ‘monocromática’. Tem sonoridade encorpada no grave e no médio. A dica é ter certo cuidado nos registros agudos, que têm uma leve tendência a perder harmônicos, deixando o som mais ‘magrinho’.

ESTÚDIO

Contra: sonoridade poderia ser um pouco mais versátil

O som é emitido muito fácil, e esta é uma grande virtude para uma boquilha, principalmente para o iniciante. Nenhuma adaptação é necessária. Em qualquer registro que se toque, é evidente a facilidade em emitir o som, proporcionando segurança e conforto.

NOVIDADE

Fabricante: Rico

ANÁLISE TÉCNICA - EMISSÃO TESTE

BOQUILHA RICO B5

(facilidade de produzir o som nos diferentes registros, volume e conforto ao tocar), articulação (para executar staccatos, legatos, etc.), sonoridade (timbre, do grave ao agudo), custo-benefício e recomendações de uso.

PALHETA RICO ROYAL + BOQUILHA RICO B5

A boquilha para clarinete Rico Royal B5 é feita de graftonite e a sensação é de ser bem resistente a quedas. Ela possui a mesa (que entra em contato com a palheta) em relevo, o que ajuda a centralizar a palheta, evitando que ela fique ‘torta’ em relação à boquilha. Quando se escolhe uma boquilha, deve-se considerar fatores como a emissão

ESCOVA SECADORA FREE SAX Desenvolvida para você poder cuidar do seu instrumento

Usando este acessório indispensável, você estará prolongando a vida útil das sapatilhas do seu instrumento, ajudando a prevenir o ressecamento precoce, proporcionando mais economia e evitando manutenções desnecessárias.

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www.freesax.com.br • Tel.: (11) 4165-4343 SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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ANÁLISES

Sax bem afinado

SAX ALTO EAGLE SA 501 P

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

SAX ALTO EAGLE SA 501: SAX BEM AFINADO

ara esta edição, analisei o saxofone alto Eagle, modelo SA 501, com acabamento laqueado. A marca é uma das principais distribuidoras de instrumentos de sopro do Brasil e lançou este instrumento para estudantes iniciantes e intermediários.

APARÊNCIA E ACABAMENTO

REVIEW LIVE!

A primeira coisa que percebi ao carregar o instrumento foi o peso. Achei-o leve, o que é interessante para quem está começando. Seu estojo, do tipo Luxo, tem um acabamento interno que deixa o instrumento bem acomodado. O inconveniente desse tipo de case, em formato de caixa, é não vir com alças para carregar nas costas ou no ombro. Com isso, o usuário do sax acaba optando por comprar outro case. Isso acontece com a maioria das fábricas de saxofones quando lança seus instrumentos neste formato de case. Por outro lado, é um estojo bem dividido, com compartimento para o tudel e acessórios. Este sax da Eagle vem acompanhado por correia, boquilha de massa, graxa para lubrificar a cortiça do tudel e pano para limpeza interna. A aparência dele é perfeita, tem uma ótima tonalidade de laqueamento, acabamento muito bom. Possui a chave de FA# aguda.

CONCLUSÃO É um ótimo instrumento para quem está começando e para quem já toca e não tem dinheiro suficiente para comprar um sax de desempenho ideal para um profissional. O custo-benefício é excelente. Vale a pena pelo fato de ser um instrumento bem afinado e com uma ótima mecânica. z

SAX ALTO SA 501 Fabricante: Eagle

MECÂNICA A mecânica do sax alto Eagle é excelente, o que facilita a digitação, pois o instrumentista consegue tocar sem esforço. Isso vale tanto para quem está começando como para quem já toca há mais tempo. As chaves e molas estão bem reguladas, permitindo a execução de frases rápidas e de escalas com precisão. Além disso, tem apoio de polegar regulável, os encaixes estão perfeitos e o parafuso que prende o tudel, feito de aço inoxidável, também está bem regulado.

AFINAÇÃO Como o saxofone não é um instrumento originalmente perfeito na afinação, este é um item muito importante. Muitas vezes, é preciso obter a afinação pressionando ou relaxando a boquilha, mas há marcas em que a afinação é impecável, e eu senti isso

boquilha original seja boa para quem está começando, mais fechada e mais fácil de tirar som, não tem um som com alta projeção e possui um timbre mais brilhante. Testei com palhetas Vandoren Java 2 ½ e com uma V16 2 ½, e obtive uma resposta melhor. Há outras ótimas boquilhas para sax alto, como a Beechler, a Meyer e a Claude Lakey, mas boquilha é algo muito pessoal e o instrumentista terá de experimentar várias ao longo de sua carreira. Observei ainda que o sax Eagle é uma boa alternativa para shows ao vivo. Além disso, toquei diversos tipos de músicas, inclusive chorinhos – que apresentam muitas notas rápidas – e o sax respondeu bem, dentro do padrão desse tipo de modelo, assim como nas notas agudas.

Prós: fácil digitação das notas e boa afinação Contra: boquilha original tem pouca projeção de som

no Eagle. Com o instrumento bem afinado, fica mais fácil tocar e o saxofonista tem uma preocupação a menos, pois não ficará preso à afinação, sem conseguir executar corretamente as escalas e melodias. Para o iniciante, é uma possibilidade de progredir mais rapidamente, pois o instrumento responderá muito bem na maioria das vezes.

Preço sugerido: R$ 1.500,00

SONORIDADE

Utilização recomendada R Estudo R Apresentações ao vivo R Gravação em estúdio

O SA 501 apresenta boa sonoridade, mas o ideal ao adquirir este instrumento é comprar uma boquilha extra. Embora a

Garantia: 3 meses Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

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9 8 9 10

Quer falar com o autor desta matéria? Marcelo Monteiro (11) 8283-0138: marcelo@marcelomonteiro.com.br Tire suas dúvidas com o fabricante: Eagle (11) 6931-9130 ou eagle@eagleinstrumentos.com.br

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REVIEWS CDs e DVD e Livro Charlie Parker Study Album

Amendoeira

Livro Autor: Lionel Grigson Editora Jamey Aebersold (em inglês, francês e alemão)

Bebeto Castilho Biscoito Fino

Este método pode ser utilizado por instrumentistas profissionais, estudantes e professores. Nele, é possível encontrar seis clássicos de Charlie Parker: Au Privave, Scrapple from the Apple, Moose the Mooche, Onrithology, Blues for Alice e Confirmation, todos transcritos e analisados. O livro de estudos inclui também as partituras facilitadas de piano para que os não-pianistas possam tocá-la sem grandes dificuldades. O método traz ainda as transcrições para instrumentos em Bb e Eb. R$ 95,90. À venda na FreeNote: www.freenote.com. br ou (11) 3085-4690.

Big Band SamJazz - 30 Anos Artista: Big Band SamJazz Independente

Com 30 anos de estrada, a big band SamJazz lança seu primeiro CD ‘oficial’. Formada pelos principais músicos do Conservatório de Tatuí, a mais importante escola de música da América Latina, o grupo traz 18 músicos, seguindo a formação tradicional das big bands americanas – cinco saxofones, quatro trompetes, quatro trombones, teclado, guitarra, baixo, bateria e percussão – sob o comando do saxofonista regente Sérgio Gonçalves de Oliveira (Lagartixa). O repertório é bastante eclético, com faixas de Noel Rosa (Conversa de Botequim) e Ary Barroso (Luxo Só), passando por Djavan (Flor de Liz) e Edu Lobo (Arrastão), que abre o disco, com arranjo fantástico e empolgante do lendário maestro das bandas da década de 1950, Osmar Milani. Ainda há participações vocais especiais de Célia Cruz e Zé Luiz Mazziotti no Pout-Pourri de Bossas, arranjado por Antonio Carlos Neves Campos e em Saudade que não se Desfaz. Em matéria de arranjos

CD

O músico iniciou sua carreira como contrabaixista em 1955 e tocou por muitos anos com Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, acompanhando a cantora Maysa. Mais tarde, junto com Luís Eça e Hélcio Milito, formou o Tamba Trio, banda com a qual lançou vários discos, até partir para a carreira-solo. Ainda jovem iniciou seu relacionamento com a flauta e sempre foi autodidata. Em seu novo CD-solo, ele mostra suas facetas como cantor, flautista, baixista e compositor. Além de exímio baixista, sua interpretação na flauta é especial. “Sou um músico que canta, não um cantor que toca”, define-se. Sem grandes floreios ou qualquer impostação, apenas com notas precisas desenvolve sua arte. Esse trabalho traz Laércio de Freitas nos arranjos e ao piano elétrico, Fender Rhodes. Os arranjos de cordas ficaram por conta de Gilson Peranzetta nas músicas Cabelos Cor de Prata e Beijo Dis-

traído. Em Gazela, o arranjo é de Alberto Ghimelli. Os arranjos e o repertório foram escolhidos de forma a traduzir a concepção musical de Bebeto. (Por Débora de Aquino)

De Viterbo

CD

Artista: Rubinho Antunes Grupo Tratore Records

Com a formação tradicional dos quintetos de jazz dos Estados Unidos – trompete, saxofone, piano, contrabaixo acústico e bateria –, o trompetista Rubinho Antunes desenvolveu seu novo projeto instrumental, intitulado De Viterbo, em referência à cidade de Santa Rosa de Viterbo, onde passou a infância e iniciou sua vida musical. No repertório, o músico mescla composições próprias com sucessos da MPB. Também participam do álbum o saxofonista Cacá Malaquias, o pianista Guilherme Ribeiro, o baixista Alberto Luccas e o baterista Pepa D’Elia. Rubinho Antunes já tocou com bandas como a Mantiqueira, a SoundScape e acompanhou artistas como Johnny Alf e Toquinho, entre outros. (Por Regina Valente)

CD

The Tropical Lounge Project o disco é um primor: conta com a colaboração de importantes nomes da música brasileira, como maestro Branco, Proveta, Edson Alves, Nelson Ayres, Hudson Nogueira e Valter Azevedo. Ainda em tempo para mais alguns destaques: em A Rã, ouvidos atentos para a dinâmica muito bem executada no arranjo de Nelson Ayres, fazendo um crescendo para a segunda exposição, que se mantém durante os improvisos. Flor de Liz traz a característica frenética do arranjador Proveta, com participação do piccolo de Otávio Blóes, e ainda Carinhoso, com arranjo do maestro Branco, na bela interpretação de Cláudio Sampaio no flugelhorn, com timbre e sensibilidade de destaque. Indispensável para quem gosta da boa música brasileira.(Por Débora de Aquino)

Marcelo Salazar JSR Records CD

Conhecido por sua criatividade musical, o percussionista Marcelo Salazar reuniu um time de músicos de primeira linha em seu quarto CD-solo. O conceito do álbum The Tropical Lounge Project mistura música instrumental com eletrônica, com grandes parcerias do percussionista com Roberto Menescal, por exemplo, na faixa Smoke in the City. A bossa nova marca presença também na voz de Ithamara Koorax. No sopro, participam do CD os instrumentistas (e feras) Tinho Martins (sax alto), Beto Saroldi (sax tenor), Jessé Sadoc (trompete), Guilherme Gomes (trompete), Johnson (trombone), os trompetistas Gesiel e Júnior, Danilo Caymmi (flauta transversal e de madeira) e Marcos Szpilman (sax alto). (Por Regina Valente). z SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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Saxofone

FALSE FINGERING: ALTERANDO O TIMBRE DAS NOTAS Por AC

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FALSE FINGERING: ALTERANDO O TIMBRE DAS NOTAS

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false fingering é uma técnica que consiste em utilizar uma posição alternativa para a produção de determinadas notas no saxofone a fim de obter uma mudança no timbre da nota. Essa alteração de timbres ocorrerá devido à abertura ou ao fechamento de determinadas chaves, alterando levemente o som das notas, que podem ganhar maior ou menor brilho. As notas utilizadas com false fingering acabam por afetar a afinação dessa nota. Na maioria dos casos, porém, as nuances de timbre desejadas são pequenas, e, portanto, o uso deste efeito não causará problemas perceptíveis na afinação. Os músicos que se utilizam deste recurso no seu vocabulário buscam uma posição alternativa para todas as outras notas do instrumento. Em qualquer estilo musical, o false fingering pode ser uma excelente ferramenta para adicionar texturas e variações rítmicas durante um improviso, enriquecendo o vocabulário do solista. Possibilita também ao saxofonista a repetição de notas em qualquer andamento durante um solo. Ao repetirmos determinadas notas, chamamos a atenção dos ouvintes

– e dos outros músicos que estão tocando conosco – para aspectos rítmicos de nossa improvisação. Manipular os acentos em uma repetição de notas nos possibilita enfatizar as síncopes, os tempos fortes, os double time, os ralentandos, etc. Todavia, o saxofone apresenta limitações à repetição de notas, pois a partir de um determinado andamento, a emissão de notas repetidas torna-se não só difícil como tende a atrasar a emissão dessas notas, causando imprecisão e perda de clareza na performance. O stacatto duplo também é muito difícil de conseguir no saxofone e, por essa razão, é pouco utilizado, tornando o false fingering a melhor solução para a repetição de notas durante um improviso. O false fingering permite que qualquer nota possa ser repetida em qualquer andamento, pois independem de ataque, já que são tocadas em legato. Para isso, basta que se utilize um dedilhado alternativo. Se o false fingering causar uma desafinação excessiva da nota, o instrumentista deverá pesquisar uma outra opção de dedilhado que cause um efeito mais sutil. De qualquer maneira, o recurso sempre irá funcionar em um improviso, se tocado com rapidez.

Como desenvolver Cada saxofonista deve produzir seus próprios dedilhados alternativos. Essa pesquisa o levará ao desenvolvimento de melhores posições para o seu conjunto, composto por seu instrumento, sua embocadura, sua boquilha e pela palheta que utiliza. A seguir, temos um gráfico de dedilhados para false fingerings (Tabela 1) em todas as notas. Eles podem ser aplicados a partir da segunda oitava do saxofone1. Esse gráfico foi desenvolvido com a ajuda de alguns livros,2 como o de solos transcritos de Michael Brecker e John Coltrane, escritos por Carl Coan, e as obras de Ronald Caravan. Mas foi principalmente graças a um estudo prático próprio – por ter grande interesse no assunto – que foi possível chegar a muitas dessas digitações. Alguns dedilhados podem ser considerados universais, ou seja, funcionarão em qualquer instrumento – caso da digitação sugerida para a nota A (Lá), por exemplo – mas não há uma regra rígida quanto a isso. Por essa razão, é fundamental que o saxofonista interessado pesquise seus próprios dedilhados, que estarão de acordo com o seu conjunto – instrumento, boquilha e palheta – quando alguns sugeridos pela tabela não surtirem resultados a contento.

TABELA DE DEDILHADO - FALSE FINGERING

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O saxofonista AC (Afonso Claudio), do Rio de Janeiro, é fundador do quinteto AC Jazz e tem 14 CDs gravados. É bacharel em Performance pela Berklee College of Music, em Boston, mestrado em saxofone pela California Institute of the Arts e doutorado em Música pela Unirio. No Brasil já trabalhou com o Zimbo Trio, Severino Araújo, Nivaldo Ornellas, Big Joe Manfra, entre outros. Site: acjazz.com.br. E-mail: afonsoclaudio@pobox.com

Símbolos - chave de oitava D3 - ré agudo Eb3 - mi bemol agudo E - mi agudo Bb1 - si bemol agudo

Ao utilizar o false fingering como recurso rítmico na improvisação, o saxofonista deve estar atento para sempre terminar a célula rítmica com a nota na sua posição normal, uma vez que essa posição terá, na maioria dos casos, um som mais definido e com mais brilho – exceção feita para a nota D2. Caso contrário, o músico pode acabar criando um efeito de timbres em vez de efeito rítmico3. Como ilustração, apresento os diversos casos possíveis utilizando a posição de false fingering da nota A2. Podemos dividir em dois casos as aplicações rítmicas. Veja a seguir. 1. Figuras com subdivisões binárias Ex.: colcheias ou semicolcheias, principalmente em compassos simples.

Neste exemplo, devemos começar a frase com a primeira nota tocada com digitação normal, a seguinte com o uso do false fingering, e assim sucessivamente. É possível repetir esse padrão quantas vezes quisermos, tendo em mente que o importante é que a nota seguinte à conclusão do padrão, que nesse caso começa em uma cabeça de tempo, deve ser produzida com a digitação normal.

2. Figuras com subdivisões ternárias Ex.: tercinas ou sextinas em compassos simples.

Nesse caso, é melhor começar o padrão rítmico com o false fingering, pois assim podemos concluí-lo com a digitação normal da nota. Uma exceção deve ser feita para o uso em antecipações rítmicas dentro de figuras com subdivisão binária, em que devemos começar o padrão rítmico pelo false fingering para que a nota de conclusão possa ser sustentada com a digitação normal.

Uma peça na qual o uso de false fingering pode ser bem demonstrado é Loro, de Egberto Gismonti, em que na parte B temos muitas notas repetidas na melodia. Sem o false fingering, a performance seria muito difícil, pois a peça exige andamentos rápidos.

1 Os false fingerings apresentam melhores resultados a partir da segunda oitava, pois na primeira oitava o timbre tende a ficar muito fechado. 2 COANoan, Carl - John Coltrane Solos, Michael Brecker e Michael Brecker Collection. – CARAVANaravan, Ronald – Paradigms e Paradigms II. 3 Efeitos de timbre obtidos com false fingerings são recomendados para músicas de andamento lento, como baladas.

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Fragmento de “Loro” (Egberto Gismonti) com utilização dos false fingerings ilustrados

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CARLOS MALTA • PONTO DE BALA

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WORKSHOP

Saxofone

O REGISTRO SUPERAGUDO Vadim Arsky

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or volta de 1925, um jovem saxofonista terminava sua jornada musical noturna num café em Berlim, na Alemanha, quando o outro saxofonista do grupo, um pouco mais velho e também clarinetista de uma orquestra local, o interpelou sobre o instrumento. Sabendo da paixão do primeiro pelo saxofone, e a fim de perturbá-lo, perguntou com um tom de ironia o porquê de o saxofone ser um instrumento tão limitado na sua extensão, com somente duas oitavas e uma quinta, pois, no clarinete, era possível tocar até quatro oitavas. O jovem rapaz ficou sem ação e não conse-

guiu responder à pergunta do colega e então questionou sobre o que fazer. O outro então respondeu em tom zombeteiro: — Faça qualquer coisa! Dê um jeito de esse instrumento tocar um pouco mais agudo! Assim, o jovem saxofonista Sigurd Rascher seguiu para sua casa a fim de fazer ‘alguma coisa’ para que a extensão de seu instrumento aumentasse um pouco.

Primeiro analisou o princípio da tese da série harmônica natural, que diz que todas as notas musicais, por serem uma onda mecânica, possuem outras notas resultantes dos nós formados nessas ondas por conseqüência de sua reflexão e realimentação, organizados assim em uma série de intervalos entre elas, conforme a tabela abaixo (sempre em relação à nota anterior):

te, com todos os harmônicos presentes. Para tanto, temos de realizar exercícios de notas longas prestando muita atenção à sonoridade, equilibrando as musculaturas intercostal, diafragmática e labial de modo que a sonoridade não seja presa, como se estivesse tocando dentro de uma caixa ou muito solta, como se fosse um ‘pato rouco’. É importante que possa ser ouvido, lá no fundo, um zumbido meio metálico que, na verdade, é o som dos harmônicos presente no som real. Para se chegar a esta sonoridade, minha recomendação é que, ao tocar uma nota longa em registro médio, movimente os lábios (e não o maxilar), dando mais e menos pressão para achar o foco do som e ouvir um zumbido metálico. Tente mirar sua coluna de ar em um ponto à sua frente a pelo menos 2 metros de distância e abaixo da altura dos ombros.

notas da série harmônica. Por exemplo, no Sib 2, deverá sair o Sib 3, o Fá 4, o Sib 4, o Ré 5 e assim sucessivamente. Porém, a série completa é muito difícil de ser executada imediatamente. Portanto, o melhor é tocar as quatro notas graves mencionadas anteriormente e nelas tentar estabilizar primeiro o som real e mais tarde até a 3a. Parcial, ou seja, no Sib 2 tocar também estabilizado o Sib 3 e o Fá 4 e assim por diante. Após estabilizar essas parciais, tente introduzir a 4ª. Parcial e vá prosseguindo. Isso se faz utilizando o mesmo princípio dos instrumentos de bocal. Vamos trabalhar mudando o foco e a pressão do ar. Mas como quem ‘fabrica’ o som é a palheta e não os lábios, teremos de utilizar a língua (parte posterior) e a glote para modificar a direção e a pressão do ar. Minha sugestão é que, na tentativa de filtrar os harmônicos, modifique a posição da glote e da parte posterior da língua como se tentasse falar em falsete (para as mulheres, aquela impostação para as notas agudas), simular uma posição de engolir ou coisas assim. Além dessa parte técnica, existe uma parte mística. Quando houver dificuldade de produzir um harmônico e você tentar de tudo – espremer os lábios, mudar o foco da coluna de ar – e nada adiantar, peça para um colega emitir a nota real do harmônico que você está tentando atingir e ela sairá como se fosse um milagre.

REVIEW

VADIM ARSKY - O REGISTRO SUPERAGUDO NO SAXOFONE

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Vadim Arsky é saxofonista, maestro e arranjador. Natural de São Paulo, estudou na Escola de Música de Brasília, graduou-se em saxofone pela Universidade de Brasília e possui mestrado pela Universidade de Louisville, no Kentucky, EUA. Desde 1994 é professor do departamento de Música da UnB e atua na área de saxofone e música popular. Contato: varsky@unb.br

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Assim, quando produzimos uma nota Dó 3, por exemplo, junto com ela serão geradas as notas Dó 4, Sol 4, Dó 5, Mi 5, Sol 5, Sib 5, Dó 6, Ré 6, Mi 6, Fá 6 e assim sucessivamente. Essas notas não serão percebidas inicialmente, mas se realizarmos um mecanismo de ‘filtragem’ dos sons, poderemos ouvir todas separadamente. Com base nessa tese e no princípio de funcionamento dos instrumentos de metal, no qual temos um tubo que pode ser aumentado ou diminuído (válvulas ou vara) e que em uma posição podem ser realizadas diversas notas, valendo-se do princípio dos harmônicos, Sigurd Rascher iniciou suas tentativas de ‘organizar’ os harmônicos produzidos pelo saxofone e, a partir daí, definir posições (dedilhados) para a produção afinada e com qualidade sonora de notas acima do Fá 5 (nota escrita para o saxofone que, dependendo do instrumento, gerará um som diferente). Essa experiência durou aproximadamente um ano de estudo.

As observações de Rascher De suas experiências, ele chegou a diversas conclusões, algumas de extrema importância para aqueles que desejam desenvolver uma boa sonoridade no registro superagudo: 1. Para realizar as notas superagudas, devemos ter uma sonoridade consisten-

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2. Os sons superagudos são resultado dos harmônicos gerados pelas notas mais graves do instrumento e, se os mesmos não estiverem alinhados e filtrados nas notas que irão lhes dar origem, provavelmente não sairão na digitação sugerida ou serão notas opacas e sem volume sonoro nem projeção. Um bom exercício para ‘filtrar’ os harmônicos é tocar as notas mais graves do instrumento como o Sib 2, Si 2, Dó 3 e Dó# 3 e em cada uma delas tentar tocar as

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3. Instrumentos de tamanho diferente trabalham diferentemente. Rascher percebeu que as notas superagudas possuem dedilhados diferentes quando tocadas nos saxofones alto e tenor. Nesse caso, realizou um trabalho dobrado para estabelecer posições de digitação para os dois instrumentos que produzissem sons afinados e com boa projeção. Mais tarde, ainda foi

observado que, dependendo da marca e modelo de instrumento, essas posições poderiam variar ainda mais. O quadro que segue abaixo contém posições alternativas para as notas a partir do Fá# 5 e foram publicadas por Rosemary Lang em seu método. Por ser uma publicação mais moderna, possui maior diversidade do que a inicial desenvolvida por Sigurd Rascher.

Minha sugestão para estudo do registro superagudo é tocar melodias simples, folclóricas, de roda e exercícios simples de digitação e interpretação uma oitava acima do escrito na partitura. Isso dará mais consistência ao registro superagudo e fará com que esse registro faça parte da extensão normal do saxofone, como deveria ser desde muito tempo atrás.

TABELA DE DIGITAÇÃO SUPERAGUDOS

Dedilhado de baixo para cima Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si e Chave alternativa para Fá e Mi agudos chave aberta chave fechada

OK Low C Low Bb Eb Side Bb

- chave de oitava - chave de dó grave - chave de Bb grave - chave de Eb grave - chave de Sib lateral

Side C Top Side Key High D High Eb High F

- chave lateral de Dó - chave de Mi agudo - chave de ré agudo - chave de Ré# agudo - chave de Fá agudo SAX & METAIS OUTUBRO / 2006

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Tu b a e B o m b a r d i n o

COMO ELABORAR SEU PLANO DIÁRIO DE ESTUDOS Por Gian e Aquino

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COMO ELABORAR SEU PLANO DIÁRIO DE ESTUDOS

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xistem atividades físicas básicas e exigências quando se tocam instrumentos de metal que precisam estar além do reino do pensamento consciente, especialmente fora do modo de questionamento, não pondo dúvidas em mentes sensíveis. É por esta razão que uma rotina diária que passe por todos os aspectos básicos para se tocar, se torna essencial. O músico não pode ficar pensando se aquela ligadura de oitava vai sair, se aquela entrada em piano vai acontecer. Estes aspectos básicos de nosso desempenho já deveram ter sido amplamente trabalhados em nossas práticas diárias. Alguns artistas têm uma seqüência estrita de exercícios que eles praticam diariamente antes de começar a prática de música propriamente dita. Outros preferem variar mais seus exercícios, baseados nas necessidades atuais de cada indivíduo, permitindo que cada um escolha sua seqüência com base nas suas necessidades imediatas, nas suas deficiências atuais e nas músicas que eles estão praticando. Isto permite ao músico estruturar sua rotina em porções apropriadas não só reforçando suas forças, mas também confrontando suas fraquezas e modificando a rotina à medida que suas necessidades também mudarem. A vantagem de uma rotina diária básica flexível é que ela permite ao artista um balanço mais equilibrado em sua prática, contornando possíveis problemas decorrentes do trabalho específico que ele esteja realizando no momento e que pode prejudicar certos aspectos de sua performance. Uma boa coleção de material para prática diária básica pode ser encontrada no Método Completo para Tuba de William Bell, na parte de aquecimento e rotina diária, publicado por Charles Colin. Este livro contém uma rápida, porem eficiente, seqüência de exercícios que o levarão depressa aos rudimentos de tocar: produção do som, articulação, exercícios rápidos de língua, escalas e arpejos. Minha rotina básica diária consiste num conjunto de exercícios que, dependendo da quantidade de tempo que eu tenho para trabalhar neles, podem durar de 20 minutos até 2 horas de prática. Embora eu tente trabalhar diariamente em cada área, divido o tempo de trabalho de cada área, confrontando minhas forças atuais com minhas fraquezas. Existem oito áreas na minha prática que eu tento cobrir a cada dia. Eu acredito que funcione melhor para eu atravessar estas áreas na ordem em que elas estão listadas. Podem servir de sugestão para o início da formulação de sua própria rotina diária, uma coleção de estudos que podem variar de acordo com o tempo disponível para sua prática e também de acordo com os problemas específicos que precisem ser resolvidos com freqüência. Cada músico deve desenvolver sua própria rotina, se aprimorando a cada dia. 1. Respiração Profunda e Produção de Som. Aqui é onde minha prática diária se inicia buscando respirações pro-

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Gian de Aquino é primeiro tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo e desenvolve atividades pedagógicas no Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (antiga Universidade Livre da Música), em São Paulo. Site: www.gianaquino.mus.br. E-mail: tubamore@ig.com.br fundas, relaxadas, abertas constantemente, procurando exalar o ar sem restrições ou fechamento da garganta, e produzindo um som lindo, consistente e ressonante. Nesta área eu utilizo os exercícios de notas longas do Método do Max Schlossberg, publicado por M. Baron Company. 2. Resistência, Flexibilidade e Fluxo de Ar Constante. Depois de ter certeza que a respiração e a produção do som estão em seus lugares, eu volto minha atenção para exercícios simples de ligaduras e manutenção do fluxo de ar constante. Exercícios de ligaduras de lábio através da série harmônica como os encontrados no Schlossberg e nos exercícios do grande tubista Arnold Jacobs, encontrados no final do Método Avançado para Banda, livro de Tuba, da editora Hal Leonard, são perfeitos para esta prática. 3. Registro Grave e Amplitude Sonora. Tubistas freqüentemente negligenciam seu registro grave, enquanto desejam igualar a habilidade pirotécnica e a excitação de tocar notas agudas exibidas pelos trompetistas. Isto não quer dizer que tubistas não devam desenvolver velocidade de execução e muito menos não devam desenvolver seu registro agudo, mas isto não deve ser feito em detrimento de seu registro grave e da qualidade de seu som, o que faz com que um trabalho diário no registro grave se torne essencial. Exercícios de notas longas no extremo grave são um bom início desta prática, seguido pelos 43 Bel Canto Etudes para Tuba de Marco Bordogni, tocados uma oitava a baixo, publicados por Robert King. Uma publicação um pouco mais recente e também excelente para trabalhar esta região são os Low Etudes for Tuba de Phil Snedecor, também publicados por Robert King. 4. Consistência da Articulação e Colocação da Língua. É muito importante que o controle e correta posição da língua durante a articulação sejam estabelecidos e mantidos. Como a formação bucal varia entre cada indivíduo, é importante que cada um descubra a melhor posição para si. Alguns exercícios básicos de articulação devem ser praticados a cada dia para dar a segurança de que as corretas sílabas de articulação estão sendo utilizadas e que a articulação está consistente. Alguns dos melhores estudos básicos de articulação podem ser encontrados no Método Arban e incluem os exercícios de semínimas, colcheias e semicolcheias, encontrados logo no início do método. Estes exercícios deveriam ser praticados diariamente. 5. Estabelecimento e controle de um Grande Espectro de Dinâmica. Neste ponto de minha rotina diária é muito importante checar se o controle do fluxo de ar está completo, para que am-

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bos, tanto piano quanto fortíssimo, possam ser tocados facilmente. Para esta checagem, eu procuro utilizar trechos orquestrais variados, como por exemplo, o Romeu e Julieta de Prokofiev, ou algumas passagens da ópera Das Rheingold de Wagner, inclusive a Entrada dos Deuses em Valhalla, o solo do Gigante e o solo do Dragão. 6. Técnica, Destreza dos Dedos e Registro Extremo. Depois que as áreas básicas de execução, respiração, produção do som, controle de ar e colocação de língua foram trabalhadas, é hora de dar um pouco de atenção em técnicas mais complexas, com maior velocidade e no registro agudo. Para esta parte eu utilizo pelo menos dois grupos de escalas e arpejos diariamente que incluem maiores, menores naturais, harmônicas, melódicas, escalas maiores em terças, quartas e escalas de tons inteiros. Escalas são o elemento básico de todas as músicas que nós tocamos e precisam estar sob completo controle. Além do trabalho com escalas específicas, exercícios técnicos encontrados no Método Arban e no Herbert Clarke Technical Studies, publicados por Carl Fischer, constituem-se num excelente material para se conseguir um refinamento técnico adicional.

7. Expressividade e Melodias. A essência da música é a melodia, e na maior parte do repertório tocado pelos tubistas não temos grandes oportunidades de tocar melodias bonitas. A habilidade para executar melodias é indispensável para qualquer músico e os tubistas devem fazer desta habilidade o foco de sua prática. Os 43 Bel Canto Etudes de Marco Bordogni constituem-se num excelente ponto de partida. Outra coisa que eu gosto muito de fazer é tocar as melodias bonitas escritas para outros instrumentos, como por exemplo, o solo do Cisne do Carnaval dos Animais, a Reverie de Schumam e o Largo do Inverno de Vivald. 8. Ultrapassando os Limites. A pessoa tem sempre de se esforçar para obter um completo controle técnico do instrumento. Devem desafiar-se com exercícios mais difíceis, músicas novas e mais complexas entre outras coisas. Outros livros que podem também ser utilizado são os 70 Estudos do Blazhevich e os 60 Selected Studies do Kopprash, publicados por Robert King, Bixby-Bobo Studies in Bach, publicados por Western International e os 12 Special Studies de Maenz, publicado por Hofmeister.

EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO SEM O INSTRUMENTO (sempre respirações completas, relaxando durante todo o tempo)

Charles Vernon

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Tr o m p e t e

ARTICULAÇÃO E PROGRESSÃO Júnior Galante

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SONORIDADE NA FLAUTA - MARCELO MONTEIRO

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importância da articulação, muitas vezes esquecida por estudantes de instrumentos de sopro, também é um dos elementos para definição de estilos musicais. Em geral, músicos que decidem por uma carreira de solista se preocupam, entre outras coisas, com as diversas possibilidades de articulações, não se limitando à execução das notas, à precisão rítmica e à dinâmica, ao contrário dos demais. Um naipe de sopros formado por músicos que têm o conhecimento de estilos com certeza considerou as articulações como ponto importante. A prática de articulação possibilita ao músico executar uma frase com clareza e leveza e pode ajudar muito na solução técnica, sobretudo melhorando o swing.

Júnior Galante é primeiro trompetista da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e da Soundscape Big Band Jazz. Contato: galantejunior@yahoo.com.br ou www.soundscape.com.br

Proponho a seguir alguns exemplos de estudo de frase com aproximação cromática e notas de tensão (notas dissonantes), que podem ser aplicados com diferentes articulações e ciclos harmônicos. À medida que o músico interiorizar essas articulações, fará a escolha consciente de acordo com a frase musical, exceto se tiver anotada uma específica.

EXEMPLO 1

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Sugiro que, se tiver muita dificuldade para tocar uma frase, primeiro pratique as ligadas sem qualquer tipo de articulação para que memorize com clareza os intervalos entre as notas.

Recomenda-se ouvir sempre diferentes gêneros musicais, solistas e big bands, para depois poder compará-los.

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