Os dois primeiros artigos a seguir resgatam e analisam a experiência com vídeo das equipes de Belém e São Paulo; em ambos os casos transparecem concepções de vídeos-processos. O terceiro e último texto é uma rápida sistematização a respeito da metodologia de capacitação, especificamente do vídeo, utilizada nas equipes; neste artigo está colocada, de forma impl feita, a questão da apropriação do conhecimento (no fazer vídeo) nas atividades de formação.
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Oolhar cotidiano dos bairros Equipe FASE -Belém
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Desde 1968, a FASE vem desenvolvendo em Belém do Pará seu trabalho de educação popular junto à população da periferia urbana e também em diversos setores operários. Para este trabalho, ela tem à sua d isposição uma equipe interdisciplinar de tempo integral. Embora a questão dos recursos pedagógicos no t rabalho de educação popular valha tanto para o set or trabalhista como para os bairros periféricos queremos, neste artigo, concentrar-nos mais na experiência desenvolvida junto à população de um bairro periférico de Belém chamado Bengui, bairro este resultado da expansão metropolitana, o que fez com que o mesmo crescesse muito nos últimos 15 anos; hoje, atinge aproximadamente a 120.000 habitantes. Esta exper iência visa, através de um "J)rocesso formativo e organizativo, construir neste bairro sujeitos coletivos, capazes de defender os direitos fundamentais da população e criar os espaços necessários para a participação crítica de todos na construção da sociedade. Alguns princípios norteiam este trabalho de formação e organização. O ponto de partida deve ser a objetivação da realidade local e, a partir disso, chegar à análise crítica, buscando alternativas de ação coletiva, isto sem cair em doutrinação e manipulação, procurando construir uma representatividade real em vista dos interesses populares. A experiência acumulada no tratamento dado aos recursos pedagógicos neste trabalho direto e localizado, e também a necessidade de um intercâmbio nacional viabilizaram-nos a participação em vários encontros espedficos de comunicação, entre os quais um realizado em Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, em 1983, onde tivemos cantata pela primeira vez com o vídeo que, naquele momento, iniciava um processo de integração como mais um instrumento de comunicação popular, vindo preencher uma lacuna no movimento, no que se refere à documentação simultânea de som e imagem, substituindo com vantagem econômica o cinema. 12
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Após este encontro de comun icação popu lar em Teixeira de Freitas, passamos a nos interessa r ainda mais pelas possibilidades que o vídeo poderia proporcionar ao nosso trabalho, vindo soma r forças aos instrumentos pedagógicos que já vínhamos utilizando. O vídeo, como força expressiva de reg istro instantâneo, ganhava força no movimento popular. Pequenas produções dentro do campo do vídeo-produto e vídeo-processo começaram a apa recer estimulando encontros de formação, sem iná rios e congressos em outros estados; a cada participação nesses encontros, companheiros da equipe voltavam cada vez mais convencidos da importância desse instrumento. As possibi Iidades do registro instantâneo de som e imagem e a sua devolução imediata, o baixo custo de produção, a quebra do monopólio da imagem televisiva e a oportunidade de operacionalizar, de modo mais prático, o registro histórico do processo de luta do movimento transformaram-se em fatores decisivos para que elegêssemos o vídeo como mais um instrumento pedagógico. Em 1983, adquirimos nosso primeiro equipamento de vídeo modulado e mais uma câmera, que nos dava condições de iniciar os prime iros registras de um conjunto de acontecimentos na vida e luta do povo do bairro, que hoje identificamos como acervo histórico importante do processo de trabalho desenvolvido na área de atuação da equipe, ou seja, o bairro do Bengui.