uma área de comunicação pequena dentro de uma grande entidade não dava conta de cobrir as exigências desta entidade e de outras que eram demasiado grandes. Quais as principais características que poderiam definir a Iinguagem do vídeo popular boliviano? Proposta -
Alfonso - O movimento de vídeo boliviano tem uma forte herança do cinema, e isto não poderia ser de outra maneira. Um cineasta como Jorge Sangines, que é um dos mais importantes da América Latim!, imprimiu uma linha social ao conjunto da produção audiovisual. Acredito que grande parte da produção boliviana é orientada para as questões sociais e centrada no processo organizativo. Como conseqüência, não existem muitos vídeos e cinema de animação ou cinema experimental. A meu ver, não deveria haver só uma orientação, deveria-se desenvolver várias organizações simultâneas, porque o que necess itamos agora são propostas criativas, propostas ideológicas diferentes, que gerem linhas distintas e que dêem diversas opções de escolha. No momento, o vídeo boliviano está muito orientado para a questão social. Mas, nestes últimos anos, demos um salto muito importante, já não se trata de apertar um botão e fazer uma edição rápida. Há uma reflexão bastante profunda e, embora a produção ainda
não seja grande, ela detém uma qualidade muito boa. Atribuo este fenômeno em parte ao concurso nacional Condor de Prata, realizado há 10 anos. Este concurso anual, apesar de não oferecer prêmios significativos em dinheiro, é um estímulo à produção para os jovens. Outro fator importante é a constituição do movimento do Novo Cinema e Vídeo Boliviano, formado por um grupo bastante representativo do conjunto dos produtores bolivianos, ainda que nem todos estejam aí representados. A prática de reunião, de refletir sobre os vídeos latino-americanos e de editar uma revista, vem permitindo um aumento na qualidade e uma maior reflexão sobre as produções. Por último, destacaria os encontros nacionais de vídeo, que representam uma trajetória de seis anos de reflexão e discussão do conjunto de produtores.
ma é que também não há organizações nos outros países para dialogarmos. Podemos dialogar de grupo para grupo, porque não existem organizações nacionais representativas ainda. Sabemos que no Peru fizeram um encontro naciona I e estão formando organizações nacionais. No Uruguai, não se avançou muito, e na Bolívia, apesar do movimento do novo cinema ser uma entidade importante não é representativa do conjunto da atividade. No Brasil, talvez a Associação Brasileira de Vídeo Popular seja o organismo mais representativo, mas não sei se abarca todo o país. Isto é, é necessário ver país por país se temos realmente organizações representativas para iniciarmos um processo de interação . Proposta - Quais as perspectivas que você vê para o vídeo popular latino-americano?
Acredito que os avanços foram muito importantes nos últimos três anos, mas muito pouca gente está escrevendo sobre isso, falta reflexão, uma reflexão realmente crítica da produção. Creio que está acontecendo algo semelhante ao cinema, pois, estamos herdando não somente as virtudes como os defeitos do novo cinema latino-americano. Acho que é fundamental que os grupos de cada país reflitam não só sobre seu trabalho, como também analisem comparativamente com os de outros países. Alfonso -
Bolívia é um dos poucos países da América Latina onde já existe uma organização nacional. Quais as relações de intercâmbio que vocês desenvolvem com outros países latino-americanos? Como vêem a possibilidade de traçar políticas em comum? Proposta -
Alfonso - Bom, não existe uma vinculação muito estreita com outros países. Os encontros latino-americanos de vídeo estão abrindo esta possibilidade. O proble-
Pensando a videosfera*no 3? Mundo Entrevista concedida por Manuel Calvelo, assessor nacional da FAO, a Alberto López Mejía e Paulo Martins Teixeira. Calve lo - Sou assessor da F AO em matérias de informação, educação e comunicação na temática de população. E ntendendo que esta temática é o campo amplo da saúde materno-infantil; educação sexual; planificação familiar; mulher; migrações; juventude rural e relação entre ó homem e os ecossistemas, a FAO constatou que há um efeito "barragem" entre o crescimento da população e o crescimento dos recursos para alimentá-la, se preocupando fundamentalmente com a pobreza crítica e a autosuficiência alimentar. Vimos na relação com a população que é necessário infor-
mações para a tomada de decisões. Educação para a mod ificar.ão de atitudes e capacitação para o surgimento de novas condutas que fixem essas atitudes nos modelos produtivos mais razoáveis para o homem, com o objetivo de alcançar níveis de desenvolvimento rural. Em 72, eu já havia trabalhado na FAO, tentando usar, o que naquela época era a televisão de pequeno formato para capacitação rural. Neste tempo, havia equipamentos modestos em preto e branco, de fita livre, com o qual começamos a trabalhar no Chile. As mudanças políticas no Chile impediam-nos de continuar
com a proposta, que foi então desenvolvida e implantada no Peru. Era uma proposta de usar, finalmente, o vídeo para capacitação camponesa . Considerando que existe uma profunda cultura camponesa, tratava-se de recuperar, produzir, conservar e reproduzir conhecimentos camponeses utilizando meios audiovisuais. Pelo fato do camponês ser massivo, estar disperso, ser geralmente analfabeto e, com muita freqüência b ilíngüe, os meios audiovisuais ofereciam instrumentos aptos para vencer estas barreiras. Por que o vídeo e não os eslaides? Primeiro, porque para o camponês
* Videosfera: Termo cunhado por Gene Yonblood para designar o conjunto de todas as mensagens que são exibidas na tela de um monitor ou recr.ptor de TV; in Machado, Arlindo, A Arte dL Vfdeo, Ed. Brasiliense. SP, 1988, pág. 221 .
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