Edição 43, novembro / 1989

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Manfredo - Existe a possibilidade de se cair sempre no imediatismo do vídeo; não é só na facilidade de manejo e definição de imagem; é porque ainda não se percebeu as possibilidades que o vídeo oferece como uma outra linguagem que contribua para ampliar o debate das grandes questões. É evidente que o vídeo tem suas referências em relação ao cinema, mas o vídeo tem assimilado esta referência de forma conturbada porque o vídeo não tem enquanto processo o tempo de reflexão que o cinema exige (tempo de revelação, custos, etc.). A produção de cinema comporta riscos e responsabilidades que o vídeo não tem (e o risco cria exigências na elaboração) e isto resulta num relaxamento e certa irresponsabilidade no acabamento, identificadas em muitas produções de vídeo. Outra confusão é a referência à televisão (alguns vídeos parecem mais programas "ao vivo" do que vídeos acabados). O vídeo é algo que pode ser elaborado , editado e aí as possibilidades são infini-

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Manfredo· Caldas, documentarísta paraíbano, trabalha como montador e díretor de cinema desde 1972. Foi várias vezes premiado com seus documentários, como em 1983, quando recebe o prêmio Glauber Rocha na XII Jornada de Cinema da Bahia, com Cinema Paraibano - Vinte anos. Em 1987, Nau Catarineta é premiado no Festival de Bras(lía e, em 1989, seu filme Uma Questão de Terra recebe o Prêmio Margarida de Prata. A partir de 1986 Manfredo passa a trabalhar também com v(deo popular, desenvolvendo junto com a equipe de comunicação da FASE vários v(deos que retratam a problemática social e pol(tica dos setores populares.

tas; o cinema, a televisão e o vídeo são três coisas completamente diferentes. Se um vídeo não é artisticamente bem feito não pode ser bom politicamente (um resultado primário afeta a forma e o conteúdo). Finalmente tem outro aspecto importante que é a questão da manipulação da linguagem : é a tentativa de trabalhar com a dramaturgia popular (nesse diálo-

go antes, durante e depois da produção) para que ela se expresse da maneira mais espontânea possível. O problema da manipulação, onde o que está em primeiro plano é a verdade pessoal do autor , manipulando o material registrado de forma a "moldá-lo" a essa verdade pessoal qúe se tenta impor a qualquer custo. A manipulação embota qualquer reflexão a partir do material, induzindo a aceitar aquela verdade; o documentário deve fugir disso!

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TELEVISÃO X VfDEO POPULAR

A leitura da imagem Entrevista concedida p1r Eduardo Coutinho a Alberto López Mejía, Mabel de Faria Melo e Paulo Martins Teixeira.

Proposta - Coutinho, você trabalhou em televisão durante muito tempo, tendo sido, inclusive, um dos criadores do Globo Repórter na década de 70 . Ser ia interessante se você contasse um pouco o que foi esta experiência . Coutinho - Eu não participei da criação do Globo Repórter não. Quando fui pra lá, em agosto de 75, o programa já existia há dois, três anos. Eu tinha largado o cinema há quatro anos, estava fazendo jornalismo. E quando me chamaram pensei que ia mexer com redação, texto, e me surpreendi quando vi que ia poder trabalhar com imagem. E mais que isso : ia poder sair pra filmar. Foi nessa época qur. me dei conta que em dez anos de cinema nunca tinha feito um documentário na vida. E foi nessa época que oomecei a me apaixonar por documentá-

rio; a me apaixonar pela possibilidade de conversar com o outro através do cinema.

Eu trabalhei nove anos no Globo Repórter. Mas o período mais rico foi em 78, 79 quando nós conseguimos fazer uns 15 programas seguidos sobre temas nacionais, todos de 40 minutos sobre um só tema. Isso jamais tinha acontecido na televisão brasileira. O próprio Globo Repórter nunca tinha feito nada parecido. O programa começou como Globo Shell, um especial que ia ao ar às onze da noite. Era barato, não tinha muito problema para ser feito e vinha para dar prestígio para a emissora. Quando o programa começou a fazer sucesso desvincularam da Shell e passaram para o horário das nove e meia da

noite, uma vez por semana. A Globo sempre inventou prevendo a médio prazo, pensando no futuro entende? Programas como o Ciranda Cirandinha ou o Malu Mulher foram um pouco o produto disso. A Globo sempre teve dinheiro, mais do que as outras emissoras. E sempre foi, do ponto de vista capitalista e industrial, uma coisa sem comparação. Sempre teve uma visão geral, sempre inventou prevendo a médio prazo, entendeu? Na área de ficção e humor, ela continua a ter essa visão - taí o exemplo da TV Pirata. Mas na área de jornalismo a diferença é tremenda . . . Eu acho que hoje teria muito mais liberdade para fazer uma mini-série ou até um show do que jornalismo. Proposta - O Globo Repórter foi um dos primeiros programas a focalizar uma

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Catálogo de vfdeo

6min
pages 69-72

ANEXO o

3min
page 66

Glossário de termos técnicos e siglas mencionadas

4min
pages 67-68

A leitura de imagem Um novo conceito de comunicação:

9min
pages 57-58

o destinatário é o sujeira

27min
pages 59-65

Pensando a videosfera no 3? Mundo Entrevista com Manuel Calvelo

27min
pages 50-54

A capacitação e a multiplicação dos meios: CIMCA Entrevista com Afonso Gumucio

8min
pages 48-49

imagens

7min
pages 55-56

O espaço da imagem

5min
pages 46-47

D'América Imagem Latina

8min
pages 42-44

Proposta n9

2min
page 45

O olhar cotidiano dos bairros

32min
pages 14-23

Mandacarú: Um projeto audiovisual

20min
pages 24-27

As histbrias de vida nos meios eletrõnicos

7min
pages 37-38

Construindo uma mldia sindical: TVB

11min
pages 4-7

Câmera aberta

7min
pages 34-36

A expansão do vldeo popular e a atuação da A BVP

8min
pages 39-41

A comunicação como mediadora do conhecimento

2min
page 13

TVT: uma rede sindical em expansão

13min
pages 8-12
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