JBCOMS - VOL. 5, Nº 3

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EDITORA-CHEFE Gabriela Granja Porto

EDITOR-CHEFE ASSOCIADO José Nazareno Gil

EDITORES POR SEÇÃO

Cirurgia Bucal Alejandro Martinez Andrezza Lauria de Moura Cláudio Ferreira Nóia Danilo Passeado Branco Ribeiro Fernando Bastos Pereira Júnior Luis Carlos Ferreira da Silva Marcelo Marotta Araújo Matheus Furtado de Carvalho

Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Florianópolis/SC

Clínica particular - México Universidade Federal do Amazonas - UFAM - Manaus/AM Faculdade Ciodonto - Porto Velho/RO Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ - Rio de Janeiro/RJ Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS - Feira de Santana/BA Universidade Federal de Sergipe - UFS - Aracaju/SE Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora/MG

Implantes Adrian Bencini Clarice Maia Soares Alcântara Darklilson Pereira Santos Leonardo Perez Faverani Rafaela Scariot de Moraes Ricardo Augusto Conci Waldemar Daudt Polido Trauma Aira Bonfim Santos Florian Thieringer Leandro Eduardo Kluppel Liogi Iwaki Filho Márcio Moraes Nicolas Homsi Ricardo José de Holanda Vasconcellos

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Florianópolis/SC University Hospital Basel - Suíça Universidade Federal do Paraná - UFPR - Curitiba/PR Universidade Estadual de Maringá - UEM - Maringá/PR Universidade de Campinas - FOP/Unicamp - Piracicaba/SP Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE

Cirurgia Ortognática e Deformidades Fábio Gamboa Ritto Fernando Melhem Elias Gabriela Mayrink Joel Motta Júnior José Laureano Filho José Thiers Carneiro Júnior Paul Maurette Rafael Alcalde Rafael Seabra Louro

Hospital Universitário Pedro Ernesto - UERJ - Rio de Janeiro/RJ Universidade de São Paulo - Hospital Universitário - São Paulo/SP Faculdades Integradas Espírito-Santenses - FAESA Centro Universitário - Vitória/ES Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Manaus/AM Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE Universidade Federal do Pará - UFPE - Belém/PA Centro Médico Docente La Trinidad - Venezuela South Miami Hospital - EUA Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ

Doenças da ATM Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Carlos E. Xavier dos Santos R. da Silva Chi Yang Eduardo Hochuli Vieira Eduardo Seixas Cardoso João Carlos Birnfeld Wagner Luis Raimundo Serra Rabelo Sanjiv Nair

Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE Instituto Prevent Senior – São Paulo/SP Shanghai Jiao Tong University - China Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - FOAR/Unesp - Araraquara/SP Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ Santa Casa de Misericórdia - Porto Alegre/RS Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA Bangalore Institute of Dental Sciences - Índia

Universidad Nacional de La Plata - Argentina Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - Fortaleza/CE Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Parnaíba/PI Universidade Estadual Paulista - FOA/UNESP - Araçatuba/SP Universidade Positivo - Curitiba/PR Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Cascavel/PR Clínica particular - Porto Alegre/RS

Patologias e Reconstruções Darceny Zanetta Barbosa Universidade Federal de Uberlândia - UFU - Uberlândia/MG Jose Sandro Pereira da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN Martha Alayde Alcântara Salim Universidade Federal do Espírito Santo - UFES - Vitória/ES Renata Pittella​ ​​Universidade Federal do Espírito Santo - UFES​-​Vitória/ES Ricardo Viana Bessa Nogueira Universidade Federal de Alagoas - UFAL - Maceió/AL Rui Fernandes University of Florida - EUA Sylvio Luiz Costa de Moraes Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ Wagner Henriques de Castro Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Belo Horizonte/MG Editores ad-hoc André Luiz Marinho Falcão Gondim Diogo Souza Ferreira Rubim de Assis Eider Guimarães Bastos Hernando Valentim da Rocha Junior

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA Hospital Federal de Bonsucesso - Rio de Janeiro/RJ


Sumário

4 6 13 14

Um ciclo que se encerra Gabriela Granja Porto Os encantos do COBRAC XXV e de Belém do Pará: duas oportunidades de novas experiências em um só lugar José Rodrigues Laureano Filho CBCTBMF promove integração das Ligas Acadêmicas no COBRAC 2020 Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Entrevista Emanuel Dias Artigos

17

Bichectomia como procedimento estético facial: estudo observacional prospectivo Raíssa Damasceno da Silva, Laís Dantas Fernandes Leite, Weber Céo Cavalcante, Arlei Cerqueira

24

Indicação para exodontia de terceiros molares impactados: estudo transversal

Caio Gonçalves Silva, Victor Hugo Ferreira, Everaldo Pinheiro Lima, Suzana Celia Carneiro, Jefferson Figueiredo Leal, Belmiro Cavalcanti Vasconcelos

29

Avaliação da soroprevalência dos vírus das hepatites B e C em cirurgiões-dentistas Airton Vieira Leite Segundo, Emerson Filipe de Carvalho Nogueira, Patrícia Élida Fernandes Rodrigues Carvalho, Maria Sueli Marques Soares

34

Prevalência das fraturas mandibulares de um hospital referência terciária em trauma de São Paulo Eduardo Vasquez da Fonseca, Daniel Falbo Martins, Renato Cardoso, Manoel Roque Paraíso Santos Filho, Luciano Henrique Ferreira Lima

40

Remoção de sialolito do ducto de Wharton por meio de eletrocirurgia: relato de caso Rodrigo Souza Capatti, Lucas Rodarte Abreu Araújo, Marcela Silva Barboza

45

Tratamento conservador de ameloblastoma em mandíbula: relato de caso

Camila Lopes Gonçalves, Felipe Eduardo Baires Campos, Luiz Felipe Cardoso Lehman, Roberta Rayra Martins Chaves, Flávia Leite Lima, Wagner Henriques de Castro

51

Mioeptelioma de glândula salivar menor em palato relato de caso

Rafael Saraiva Torres, Joel Motta Junior, Marcelo Vinicius de Oliveira, Valber Barbosa Martins, Gustavo Cavalcanti de Albuquerque

56

Expansão tecidual como opção para reconstrução de defeitos craniofaciais e áreas de alopecia: relato de dois casos Sylvio Luiz Costa de Moraes, Alexandre Maurity de Paula Afonso, Roberto Gomes dos Santos, Ricardo Pereira Mattos, Mariana Brozoski, Jonathan Ribeiro, Bruno Gomes Duarte, Bruno Costa Ferreira

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Normas para publicação


Editorial

Um ciclo que se encerra

É com o sentimento de dever cumprido e gratidão que encerro esse ciclo de gestão à frente da JBCOMS. Foi uma honra ter participado, ao lado do Belmiro Vasconcelos, desde a sua concepção, na gestão de Nazareno Gil, à sua consolidação nas gestões subsequentes, de Sylvio de Moraes e Laureano Filho. A revista era um sonho antigo, que se tornou uma realidade sólida nos dias de hoje, graças à visão dos colegas que estiveram na gestão do Colégio. A JBCOMS é um patrimônio coletivo. Tenho a certeza de que a árdua luta para que ela atinja patamares mais altos de indexação em outras bases de dados será mantida, pois ainda é necessária a captação de um número maior de artigos originais para que esse objetivo seja alcançado. Para isso, será preciso que as colaborações tão valiosas dos revisores e dos autores sejam contínuas e intermitentes.

Como citar: Porto GG. A cycle that ends. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):4-5. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.004-005.edt

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Editorial

É nesse contexto que agradeço pela confiança em mim depositada por Nazareno, Sylvio e Laureano. Acreditem, dei o meu melhor. Assim como aos revisores, que disponibilizaram tempo e dedicação; e aos autores, que contribuíram com o conhecimento publicado. Sem vocês, a revista não teria sentido! Ao novo editor chefe, Sylvio de Moraes, desejo sucesso nesse novo desafio, na certeza de poder contar comigo da forma que for necessária.

Profa. Dra. Gabriela Granja Porto Editora-Chefe do JBCOMS Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

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Carta do Presidente

Os encantos do COBRAC XXV e de Belém do Pará: duas oportunidades de novas experiências em um só lugar Prezados membros do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, Entre os dias 09 e 12 de junho de 2020, realizaremos o XXV Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, no Hangar Centro de Convenções, em Belém do Pará — um dos mais amplos e modernos do país, próximo de pontos turísticos e do centro da cidade, que é considerada a mais exótica do Brasil. A comissão organizadora do COBRAC XXV está preparando uma grade científica com o que há de mais atual dentro de nossa especialidade, com mais de 140 palestrantes nacionais e 16 internacionais (África do Sul, Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Guatemala, República Dominicana e Venezuela). Para fazer a inscrição e aproveitar tudo que o Congresso tem a oferecer, é necessário acessar o site www.cobrac.com.br/inscricao.php e preencher o formulário online. Após a identificação do pagamento, você terá acesso à área do inscrito, onde poderá submeter trabalhos, acessar documentos e fazer a atualização dos seus dados pessoais. A inscrição inclui acesso às atividades da programação científica do evento, certificação e materiais do participante. Aos colegas que queiram apresentar seus trabalhos durante o COBRAC XXV, as inscrições serão feitas pela internet, na área de submissão de trabalhos da página do evento. Os prazos para envio dos materiais e demais datas deverão ser consultados no site www.cobrac.com.br/trabalhos.php, na área ‘Regulamento para Envio de Trabalhos Científicos’. Serão aceitos trabalhos na categoria tema livre, para apresentação oral e em pôster eletrônico; e na categoria fórum científico, para apresentação oral de trabalho de pesquisa concluída. É importante se atentar à escolha do tema, que deverá abordar áreas da Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e/ou correlatas à cirurgia.

Como citar: Laureano Filho JR. The charms of COBRAC XXV and Belém do Pará: two opportunities for new experiences in one place. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):6-7. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.006-007.crt

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Carta do Presidente

A apresentação dos painéis será no formato eletrônico, conferindo maior interatividade entre o apresentador e a plateia, menor custo e maior flexibilidade para quem prepara o conteúdo e, também, para os colegas que o acessam e visualizam no monitor. No início de junho, serão divulgados os três melhores trabalhos de cada categoria. Para continuar a concorrer, esses trabalhos deverão ser reapresentados pelo mesmo autor/apresentador, em local e horário a serem divulgados. Os critérios de avaliação serão: relevância do tema; qualidade do material apresentado; desenvoltura do apresentador; e respeito ao regulamento de apresentação. Falando um pouquinho da cidade, Belém tem uma culinária complexa, cheia de ingredientes e gostos diferentes de tudo que já provamos. Oferece diversos pratos típicos e sucos dos mais variados sabores. Um dos destaques da região é o mercado Ver-o-Peso, conhecido como o coração da cidade. Nele, há uma ampla variedade de ingredientes da Amazônia, peixes, frutas e sucos. O grande atrativo do local são as benzedeiras e seus inúmeros pozinhos, loções e óleos para curar tudo o que você imagina. Já o Complexo de Feliz Lusitânia, no centro histórico, é a parte mais antiga de Belém e abriga pontos turísticos como o Forte do Presépio, a Casa das Onze Janelas, o Museu de Arte Sacra e a Catedral. Outra dica é a Estação das Docas, que em 2020 completará 20 anos de inauguração e oferece gastronomia, cultura, moda e eventos, nos 500 metros de orla fluvial do antigo porto de Belém. Assim como as chuvas que caem toda tarde sobre Belém, ainda tem muita água para rolar e o “leito para chegarmos à margem do rio” e realizarmos um excelente congresso é longo. Temos bastante trabalho pela frente, mas estamos empenhados em oferecer o que há de melhor para os membros do CBCTBMF. Esperamos por você no maior congresso de nossa especialidade! Abraço a todos!!! José Rodrigues Laureano Filho Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

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FIL | LISBOA | 14 | 15 | 16 | NOV | 2019

CONFERENCISTAS ESTRANGEIROS CONFIRMADOS GRE

ANTONIS CHANIOTIS

ENDODONTIA

ESP

JUAN CARLOS PÉREZ VARELA

ORTODONTIA

ESP

DAVID HERRERA

PERIODONTOLOGIA

BRA

JULIANA RAMACCIATO

TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA

BRA

DUDU MEDEIROS

FOTOGRAFIA

DNK

LARS BJØRNDAL

CARIOLOGIA

BRA

FERNANDO BORBA DE ARAÚJO ODONTOPEDIATRIA

ITA

LEONARDO TROMBELLI

PERIODONTOLOGIA

ITA

FILIPPO GRAZIANI

PERIODONTOLOGIA

ITA

LUCA CORDARO

IMPLANTOLOGIA

BRA

FRANK KAISER

PRÓTESE REMOVÍVEL

ESP

MARIANO SANZ

PERIODONTOLOGIA

AUT

GABOR TEPPER

REABILITAÇÃO ORAL

BRA

OSWALDO SCOPIN

PRÓTESE FIXA

ITA

GIOVANNI LODI

MEDICINA ORAL

GRE

PANOS N. PAPAPANOU

PERIODONTOLOGIA

TUR

HANDE ŞAR SANCAKLI

DENTISTERIA ESTÉTICA

ITA

PASQUALE VENUTI

DENTISTERIA ESTÉTICA

USA

HOMA H. ZADEH

PERIODONTOLOGIA

BRA

PAULO FERNANDO CARVALHO

PERIODONTOLOGIA

ARG

HUGO ALEJANDRO ALBERA

REABILITAÇÃO ORAL

ESP

PEDRO BARRIO FERNANDEZ

MEDICINA ORAL

ESP

JOSÉ MARIA SUÁREZ FEITO

OCLUSÃO

www.omd.pt/congresso/2019

PLATINIUM SPONSOR

SILVER SPONSORS

GOLD SPONSORS

INT. MEDIA PARTNER

INSTITUTIONAL PARTNER

ORGANIZAÇÃO


CBCTBMF

CBCTBMF promove integração das Ligas Acadêmicas no COBRAC 2020 2019-09-pagina-revista-ligas-academicas-cobrac2020-impressao.pdf 1 09/09/2019 10:09:53

C

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CY

CMY

K

Participantes terão descontos em eventos do Colégio e acesso a vídeos e aulas » O coordenador e o vice-coordenador devem ser sócios do CBCTBMF. » É necessário comprovar a existência da Liga por meio de documentação ligada à instituição. Para conferir todos os critérios e fazer o credenciamento, acesse www.bucomaxilo.org.br/site/credenciamento-das-ligas-academicas-cadastro.php.

Vislumbrando a integração de ligas de Cirurgia, o CBCTBMF lançou edital para inscrição das Ligas Acadêmicas. As ligas são núcleos de estudantes e profissionais da área da saúde, normalmente formados em universidades ou hospitais, direcionados a atividades científicas, didáticas, de pesquisa, assistenciais, culturais e sociais, agregando valores à formação dos participantes. Além da oportunidade de adquirir um vasto conhecimento sobre a área de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, os membros das Ligas credenciadas terão vantagens como, por exemplo: a divulgação de suas atividades no site; participação garantida e desconto para os membros nos eventos do Colégio; concorrer a premiações durante as ações realizadas pelo CBCTBMF; e acesso aos vídeos educativos e aulas preparatórias. Alguns dos requisitos para credenciar as Ligas são: » Ter 20% dos membros associados ao Colégio.

Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos - Doutor em Odontologia, Universitat de Barcelona, Facultad de Odontología (Barcelona, Espanha). - Universidade de Pernambuco, Faculdade de Odontologia, Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Camaragibe/PE, Brasil). - Diretor Científico do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxilo-Facial.

Como citar: Vasconcelos BCE. CBCTBMF promotes integration of Academic Leagues in COBRAC 2020. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):13. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.013.oar Enviado em: 22/08/2019 - Revisado e aceito: 06/09/2019

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Entrevista

Uma entrevista com Emanuel Dias

» Professor Adjunto de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – Universidade de Pernambuco. » Chefe do Setor de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – Hospital Universitário Oswaldo Cruz. » Ex-Reitor da Universidade de Pernambuco (1999-2006). » Ex-Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (2001-2003). » Ex-Vice-Presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO) (2008-2012). » Ex-Presidente da Comissão de Ensino do Conselho Federal de Odontologia (CFO) (2003-2013). » Professor dos Programas de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado da Universidade de Pernambuco (UPE).

Como citar: Dias E, Porto GG. Interview with Emanuel Dias. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):14-6. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.014-016.oar Enviado em: 27/08/2019 - Revisado e aceito: 11/09/2019

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Dias E, Porto GG

Prof. Emanuel Dias, cirurgião bucomaxilofacial há 38 anos, já ocupou cargos de grande relevância para a especialidade, quando lutou e contribuiu para sua consolidação no Brasil. Seu olhar sensato e verdadeiro sobre a especialidade, em especial no que diz respeito ao ensino e ao contínuo fortalecimento da cirurgia BMF, é relatado em breves palavras na entrevista concedida a seguir. A Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial vem desenvolvendo, particularmente nos últimos 40 anos, um avanço científico e assistencial extremamente importante. Conseguiu associar, através das grandes escolas de Odontologia, o ensino de graduação e pós-graduação ao seu desenvolvimento nos grandes centros hospitalares. Começou a entender que a especialidade se desenvolveria naturalmente como todas as especialidades cirúrgicas médicas dentro dos grandes ambientes hospitalares, o que obrigou, naturalmente, os profissionais da especialidade, especialmente os professores, a entender que a multiprofissionalidade e a multidisciplinaridade da cirurgia BMF são fatores inquestionáveis. Impossível se discutir e avançar a CTBMF sem pensar nesses aspectos.

metabólicas importantes, sendo algumas características das nossas doenças tropicais. Ainda assim, temos um povo que, como dizia Darcy Ribeiro, formou “uma espécie de nova Roma”, uma mistura de raças que determina um padrão estético facial extremamente personalizado. É preciso aprender a não copiar de maneira irrestrita modelos externos; é preciso trazer o conhecimento para aplicabilidade interna, para que possamos consagrar resultados dentro de uma percepção funcional estética do tipo de pessoas com as quais nós convivemos. Um fator importante dentro da especialidade que precisa ser melhor trabalhado nas residências é o capítulo de tumores, as grandes ressecções, as substituições teciduais, a possibilidade de se trabalhar com pacientes transplantados ou com doenças irreversíveis, como AIDS. Há muitos pacientes que trabalham com protocolo de câncer com quimioterapia ou radioterapia, os quais precisamos compreender mais para, assim, participar deles ativamente. Fortalecimento da especialidade Ainda é preciso discutir que estamos num país onde mais de 50 mil pessoas morrem por ano e decorrência de acidentes. Estamos em um país onde a maioria dos grandes hospitais públicos tem em sua equipe de pronto atendimento um cirurgião BMF, o que foi uma extraordinária conquista. Precisamos estar envolvidos nos movimentos nacionais que trabalham na prevenção do trauma, a sua etiologia e os mecanismos do trauma. É uma especialidade grande, que tem uma equipe diferente das outras especialidades odontológicas, porque precisamos necessariamente de um anestesista, de todos os elementos de suporte de internamento hospitalar, da colaboração dos médicos uteístas, precisamos da Cardiologia, Hematologia, Infectologia, hospitais que trabalhem com laboratórios 24 horas, bancos de sangue. Essa dimensão não pode ser desprezada nem colocada em segundo plano, porque alguns querem fazer procedimentos que podem transformar a CTBMF em subárea, com importância limitada. Acredito que a Cirurgia é uma só: começa nos estudos do tipo de paciente, tipos de doenças, bases de técnicas operatórias, desde a anestesiologia até os grandes estudos de técnicas das grandes disfunções craniofaciais, e precisamos estar envolvidos com tudo isso.

A cirurgia BMF e a multidisciplinaridade Esse ambiente que envolve outras profissões proporcionou e proporciona, através dos grandes hospitais de ensino, a formação em longo prazo. As grandes residências de CTBMF se desenvolvem hoje em 3 anos de atividade em período integral, fazendo com que os residentes fiquem ligados a outras residências e circulem em ambientes com diversas especialidades, particularmente médicas. Também há a relação com o exame geral do paciente, tais como internamento, UTI, enfermarias, recursos de enfermagem, exames complementares, a admissibilidade de outros pacientes com doenças de base ou doenças graves, infectocontagiosas ou câncer bucal, o que os obriga a uma preparação muito maior. Há, também, a relação da cirurgia BMF com outras especialidades odontológicas que são absolutamente relevantes, embora a maioria seja clínica, ou seja, corresponde-se através das clínicas e consultórios. É importante que a Cirurgia entenda que estamos no Brasil e que temos doenças próprias ou muito clássicas do país. Temos muitos pacientes com alterações

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Entrevista

Opinião de quem entende do assunto Defendo que a CTBMF se desenvolva não só sob os aspectos de metodologia moderna e pedagógica moderna para o ensino e aprendizado, mas também que novos modelos sejam aplicados na graduação e na pós-graduação. Discutir convênios e internacionalização me parece uma prática absolutamente irreversível. Defendo, ainda, que os grandes centros de treinamento ocupem particularmente esses grandes espaços multiprofissionais. Não acredito na formação temporal do especialista com pouco tempo. São necessários, no mínimo, 3 anos dentro de grandes ambientes hospitalares com boas equipes, o que permite um aprendizado sólido, que fatalmente formará a base de qualquer cirurgião para o futuro. Essa é a minha expectativa; isso não é uma visão momentânea, e sim a opinião de alguém que está exercendo a especialidade há mais de 38 anos e que já ocupou todos os espaços possíveis em relação ao ensino e à assistência.

A tecnologia e a boa prática clínica A velocidade de construção do conhecimento tem sido tão rápida que alguns profissionais que procuram esse conhecimento, que pode ser adquirido também de forma rápida através das tecnologias disponíveis, negligenciam, de certa forma, a experiência clínica. Naturalmente, a aplicação tecnológica, os conhecimentos e a velocidade com que se adquire esses conhecimentos só estarão associados à boa prática clínica se houver experiência clínica. Isso quer dizer que é preciso tempo, é preciso operar, atender os pacientes, é preciso estar nos meios que possibilitem uma movimentação importante de pacientes para que a tecnologia moderna se associe com a experiência de cada de um nós. Uma coisa depende da outra. É preciso estar atualizado e ter o tempo para utilizar essa atuação. O tempo define muito a qualidade de quem está fazendo e aplicando essa tecnologia. Operar sempre, tratar sempre e estar em grandes centros que possibilitam o exame de vários doentes com ambulatórios com atividades preenchidas dará uma prática enorme.

Profa. Dra. Gabriela Granja Porto - Editora-Chefe do JBCOMS Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery.

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ArtigoOriginal

Bichectomia como procedimento estético facial: estudo

observacional prospectivo RAÍSSA DAMASCENO DA SILVA1 | LAÍS DANTAS FERNANDES LEITE1 | WEBER CÉO CAVALCANTE1,2,3 | ARLEI CERQUEIRA1,2,3

RESUMO Objetivo: o objetivo do presente estudo foi avaliar morbidade, possíveis sequelas e a satisfação dos pacientes submetidos ao procedimento estético de bichectomia. Métodos: foram analisados, prospectivamente, 16 pacientes submetidos ao procedimento, por meio de questionário, exame clínico e análise de fotografias. Resultados: este estudo revelou bons resultados quanto à satisfação dos pacientes, sendo que pacientes do sexo feminino demonstraram satisfação com o resultado estético, enquanto pacientes do sexo masculino notaram maior ganho funcional. Além disso, observou-se baixa morbidade e baixo risco de complicações, havendo apenas dois casos de infecçõesão, tratados com antibióticos orais. Conclusões: foi possível concluir que a bichectomia propicia melhorias estéticas no contorno facial, com segurança e baixa morbidade. Palavras-chave: Corpo adiposo. Cirurgia plástica. Cirurgia bucal. Bochecha.

Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Odontologia (Salvador/BA, Brasil). Universidade Federal da Bahia, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxila-Faciais (Salvador/BA, Brasil). 3 Obras Sociais Irmã Dulce, Hospital Santo Antônio (Salvador/BA, Brasil). 1

Como citar este artigo: Silva RD, Leite LDF, Cavalcante WC, Cerqueira A. Bichectomy as facial aesthetic procedure: prospective observational study. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):17-23. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.017-023.oar

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Enviado em: 11/08/2018 - Revisado e aceito: 26/05/2019 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Arlei Ciqueira Av. Tancredo Neves, 620, sala 2423/2424 – Caminho das Árvores – Salvador/BA CEP: 41.820-020 – E-mail: arleic@ufba.br, arlei.bucomaxilo@gmail.com

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Bichectomia como procedimento estético facial: estudo observacional prospectivo

INTRODUÇÃO A valorização e busca pela estética se mostram como forte tendência na sociedade atual1. No campo de atuação do cirurgião-dentista, o referencial estético, tradicionalmente, é o sorriso. Contudo, a avaliação do padrão facial, linhas de expressão, contornos faciais e possíveis melhorias tem se tornado uma prática rotineira entre os dentistas2,3. O terço médio da face ocupa uma posição central no perfil facial e exerce um papel relevante na definição da imagem pessoal. Critérios visuais para um terço médio harmonioso dependem, entre outros, de eminências zigomáticas proeminentes e contorno mandibular bem definido, particularmente em seu ângulo4. O corpo adiposo da bochecha foi descrito pela primeira vez em 1732, por Heister, que imaginou que essa estrutura era de natureza glandular, denominando-a glândula malar4,5. Em 1802, o anatomista francês Marie François Xavier Bichat descreveu mais detalhadamente uma massa encapsulada de tecido adiposo que, junto com o osso zigomático, confere volume bilateral à face3-8. Devido à sua localização anatômica adjacente e suprimento sanguíneo abundante, o corpo adiposo bucal vem sendo empregado na reconstrução de defeitos intrabucais, transplante autólogo de gordura e aumento da região malar em pacientes portadores da Síndrome de Down4,9. A técnica descrita por Egyedi12 utiliza a gordura adiposa da bochecha para fechamento de fistulas oroantrais. Poeschl et al.13 utilizaram enxerto gorduroso em 161 pacientes portadores de fístula bucossinusal, com resolução de todos os casos, mostrando a eficácia da técnica. Mais recentemente, a gordura adiposa da bochecha obteve grande importância no campo da cirurgia estética facial, com atenção especial ao afinamento ou modificação dos contornos faciais e proeminência malar4,9. Além da indicação estética, sua retirada pode ser justificada para solucionar o trauma em mucosa jugal por mordedura10,14. A remoção cirúrgica desse corpo adiposo da bochecha é intitulada bichectomia e possibilita ao paciente uma aparência mais jovial, com traços mais finos e definidos3,5. Em mão habilidosas, com treinamento específico, a técnica cirúrgica é simples. Por acesso intrabucal, sua cicatriz é aparentemente imperceptível e os cuidados pós-operatórios são semelhantes aos de uma exodontia2,3. Todavia, como em qualquer cirurgia, podem ocorrer intercorrências e complicações relevantes, a exemplo da lesão do ducto parotídeo, com formação de mucocele, lesão de nervo facial, sobrerressecção (fenestração na face), trismo, infecções, hematomas e assimetria facial4,5,14.

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Apesar da popularização da técnica, ainda são escassos dados científicos quanto à segurança, ao benefício estético-funcional e à satisfação dos pacientes. Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar, prospectivamente, uma série de casos de cirurgia estética de bichectomia, quanto à morbidade, possíveis sequelas e satisfação dos pacientes, visando contribuir com dados para a literatura. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia. O estudo se propôs a avaliar, prospectivamente, pacientes que buscaram atendimento junto ao Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial para procedimento de bichectomia, com fins estéticos ou funcionais, entre maio de 2016 e julho de 2017. Utilizou-se amostra de conveniência, adotando-se como critério de inclusão: pacientes de ambos os sexos, que buscaram o procedimento de bichectomia. Seriam excluídos pacientes com condições sistêmicas que pudessem interferir no processo de cicatrização ou histórico de cirurgia local prévia. Os pacientes que aceitaram participar do estudo foram fotografados com câmara digital Canon Rebel T5i, de modo padronizado, utilizando-se flash circular, em ambiente com iluminação artificial, a uma distância de 1,52m, antes do procedimento e no pós-operatório de três meses (Fig. 1). Os procedimentos foram realizados pelo pesquisador especialista em cirurgia bucomaxilofacial, em regime ambulatorial, sob anestesia local, sem sedação. Após anestesia infiltrativa terminal, na região jugal, poder-se-ia anestesiar, também, o nervo bucal e alveolar superior posterior. Foi realizada uma incisão, medindo até 1cm, situada na porção superior da mucosa jugal, próxima ao segundo molar e posterior à papila parotídea (Fig. 2). Com o auxílio de uma pinça hemostática, pela técnica de divulsão romba, o músculo bucinador é transfixado e o tecido adiposo subjacente é exposto à cavidade bucal e tracionado até que seu pedículo subcutâneo seja localizado e, então, completamente removido. Para finalizar, realiza-se irrigação da ferida com soro fisiológico e sutura com um ou dois pontos simples. Após a alta, todos os participantes fizeram uso domiciliar de anti-inflamatório não esteroidal e analgésico de ação periférica, prescritos por três dias.

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Silva RD, Leite LDF, Cavalcante WC, Cerqueira A

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D

E

F

Figura 1: Protocolo das imagens do pré-operatório (A, B e C) e pós-operatório de 3 meses (D, E e F).

se, hematoma, infecção, lesão de ducto e lesão nervosa. Para avaliar o resultado estético, foram empregados dois métodos clínicos. Os pacientes opinaram quanto à sua satisfação em uma escala de 0 a 10, e dois avaliadores, com conhecimento do tratamento empregado, analisaram as fotografias montadas em um álbum digital. O resultado estético foi considerado positivo quando as alterações foram perceptíveis pelos dois avaliadores.

O acompanhamento incluiu reavaliação uma semana após o procedimento, para avaliar morbidade e incidência de complicações; e nova avaliação três meses após o procedimento, para avaliar o resultado estético, funcional e a satisfação do paciente. Nessa oportunidade, os participantes foram novamente fotografados e entrevistados com questões referentes à morbidade do procedimento. Para caracterizar a morbidade, foi atribuída uma escala de 0 a 5 para as variáveis dor, edema, equimo-

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Bichectomia como procedimento estético facial: estudo observacional prospectivo

Figura 2: Técnica cirúrgica empregada. Incisão de até 1cm, dissecção romba para exposição do corpo adiposo da bochecha, tracionamento da gordura e secção do pedículo. Sutura com um ou dois pontos simples.

RESULTADOS Durante o período do estudo, 16 pacientes procuraram o serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial para realizar a cirurgia de bichectomia, sendo 13 pacientes do sexo feminino e 3 pacientes do sexo masculino. Todos os participantes preencheram os critérios de inclusão e nenhum foi dispensado ao início ou durante o estudo. A faixa etária variou de 22 a 30 anos de idade, com média de 26 anos. Quando questionados sobre a motivação para o procedimento, dos 16 pacientes, 13, todos do sexo feminino, buscavam benefício estético e 3, do sexo masculino, referiram queixa funcional, caracterizada pela mordedura da bochecha, além da queixa estética. Durante o estudo, observou-se dois casos de infecção pós-operatória, um deles diagnosticado após a solicitação de exame de ultrassonografia. Ambos os casos foram tratadas com antibióticos orais (azitromicina). Não foi registrada lesão nervosa ou do ducto parotídeo.

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Os pacientes relataram nota média para a dor igual a 1,4, considerada leve; ao edema foi atribuída uma nota média de 2,4; equimose e hematoma obtiveram média de 0,1, em uma escala de 0 a 5. Os pacientes dessa série de casos se mostraram satisfeitos com os resultados e notaram diferença significativa no contorno facial. Em uma escala de 0 a 10, foi atribuída pelos participantes uma média de satisfação igual a 9. Pacientes do sexo masculino se mostraram menos satisfeitos em relação à estética; porém, muito satisfeitos com o ganho funcional, diminuindo ou eliminando a mordedura da mucosa jugal (Tab. 1). A análise subjetiva das fotografias, após discussão entre os autores quanto à impressão pessoal, considerou que as alterações não foram perceptíveis em seis casos, enquanto em todos os outros foi notado um resultado sutil.

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Tabela 1: Dados avaliados no estudo: Dor, Edema, Equimose e Hematomas (Grau 0 a 5); Infecção, Lesão de Ducto ou de Nervo (Presença (+) ou Ausência (-)); e Grau de Satisfação (0 a 10).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Idade

Sexo

Dor

Edema

Equimose

Hematoma

Infecção

Lesão Ducto

Lesão Nervosa

Satisfação

24 28 36 23 22 30 26 25 22 23 24 25 26 27 29 27 26,1

F F M M F F F M F F F F F F F F 13/03

3 2 1 0 3 0 3 0 4 1 3 0 0 1 1 1 1,4

3 3 1 1 5 0 5 3 3 2 3 1 2 2 1 3 2,4

0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,1

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0

+ + 2

0

0

8 10 5 10 10 10 9 7 10 9 9 10 9 9 10 9 9,0

DISCUSSÃO O corpo adiposo da bochecha é uma estrutura anatômica bem definida, que, em conjunto com o osso zigomático, é responsável pelo contorno facial, conferindo uma proeminência ou luminescência na região malar, além de estar intimamente relacionado com o espaço mastigatório5,6,8. Nicolich e Montenegro5 e Junior et al.6 complementam que o tamanho da bola de Bichat corresponde minimamente com o grau de adiposidade corporal ou peso do paciente. O objetivo da bichectomia é a remoção da almofada de gordura para obter angularidade das características esqueléticas faciais e contorno mandibular mais bem definido, em busca de incremento na estética facial3,5,11. No presente estudo, os pacientes buscaram esse procedimento, em sua maioria, por finalidade estética. Segundo Matarasso11, a remoção do corpo adiposo da bochecha pode ser considerada em qualquer idade para tratamento de lipodistrofia ou pseudo-hérnia. No entanto, Stevão3 recomenda a remoção da gordura da bochecha em pacientes acima de 18 anos, não fumantes e cientes dos resultados que podem ser alcançados com a cirurgia. Os pacientes desse estudo possuíam, em mé-

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dia, 26 anos de idade, não fumantes, corroborando com a indicação de Stevão3. A motivação estética da amostra estudada justifica a seleção e orientação quanto aos resultados do procedimento, podendo ser pouco percebido por terceiros. Normalmente, não existem problemas funcionais relacionados com esse procedimento14. A queixa estética é a mais frequente: apenas 3 pacientes relataram queixa funcional relacionada à mordedura da mucosa, existindo, assim, no presente estudo, também a queixa funcional. A bichectomia busca o bem-estar físico e psicológico2. Segundo a literatura, esse procedimento possibilita alterações no contorno facial, traços mais finos, bochechas mais definidas, região zigomática mais proeminente e, consequentemente, aumento da autoestima3,5. Segundo Gracindo1, as cirurgias mais procuradas no período de um ano foram de lábios e maçãs do rosto, influenciadas pela aparência de celebridades como a atriz Angelina Jolie e a cantora Beyoncé — segundo relato das próprias pacientes. Os pacientes candidatos a essa cirurgia geralmente apresentam arredondamento facial ou alguma irregularidade estética3,11. Esses achados condizem com os pacientes apresentados, pois, nessa amostra, todos relataram insa-

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relataram diferença significativa no contorno facial, enquanto os pacientes do sexo masculino não referiram ganho estético, mas notaram ganho funcional, diminuindo a mordedura da mucosa jugal. Esses achados sugerem que a bichectomia, apesar da discreta diferença observada pelos autores, possui bons resultados aos olhos dos pacientes. Embora o registro fotográfico utilizado nesse estudo tenha limitações metodológicas, como a representação bidimensional de um modelo tridimensional, foi possível avaliar as modificações alcançadas pela bichectomia. A análise das imagens pelos autores pode apresentar limitação prática, uma vez que não se encontrou melhorias estéticas em casos nos quais participantes apresentavam-se plenamente satisfeitos. Alguns questionamentos persistem: muito se questiona quanto à aparência desses pacientes em longo prazo e como ficaria sua aparência na meia-idade ou velhice. Desse modo, novos estudos, com amostra maior e acompanhamento de longo prazo, ainda são necessários, podendo ser realizados por meio do acompanhamento dos indivíduos da presente amostra ou adicionando-se novos participantes.

tisfação com o volume na face, além do desejo de se assemelharem aos famosos. Nesse aspecto, os resultados da bichectomia se mostraram satisfatórios. A cirurgia estética de bichectomia pode ser realizada associada a outros procedimentos, como a lipoaspiração e cirurgia ortognática2,4,7,9,14. Nesse estudo, a bichectomia foi realizada individualmente, sem associação com qualquer outro procedimento. A remoção do tecido adiposo pode ser realizada por meio de abordagem externa ou intrabucal, sendo a abordagem externa a mais perigosa5. Para Mataraso4 e Muresan e Matarasso7, a incisão deve ter 2,5 cm. Nessa série de casos, realizou-se incisões de até 1 cm, estando de acordo com Stevão3, sendo suficiente para o procedimento e, certamente, diminuindo a morbidade. Complicações cirúrgicas como pseudo-hérnia, lipodistrofia e trismo foram descritas, ainda que raras. Infecções, estenose ou ruptura do ducto parotídeo e hematomas são mais frequentes. A complicação cirúrgica mais grave relatada é a lesão do nervo facial5,6,11. Nesse estudo, houve dois casos de infecção pós-operatória, sendo um com formação de abscesso, diagnosticado por meio de ultrassonografia e manejado com punção. Ambos os casos foram tratados com antibióticos orais. Stevão3 prescreve antibiótico, analgésico e criotera pia. No estudo de Matarasso11, no pós-operatório, os pacientes receberam antibióticos de amplo espectro e lavagem bucal com peróxido de hidrogênio em concentração média, e foram encorajados a exercitar suas mandíbulas. Considerando ensaios clínicos sobre profilaxia antibiótica em cirurgias bucais15,16,17, esse estudo utilizou apenas anti-inflamatórios não esteroidais e analgésicos simples. Entretanto, a incidência de dois casos de infecção, ainda que sem maiores complicações, pode indicar o uso profilático de antibiótico, apenas no período perioperatório. Pacientes submetidos à bichectomia aguardam, em média, de dois a três meses para perceber a mudança do contorno facial2,5,10,11. Segundo Stevão3, os resultados podem ser vistos depois de quatro a seis meses, quando o edema residual é absorvido. No presente estudo, foi adotado um prazo de três meses para avaliações (registros fotográficos, avaliação da morbidade e satisfação) e, a essa época, os pacientes já se apresentaram satisfeitos. Jackson14 observa que em alguns pacientes os resultados são bons, mas em outros, particularmente aqueles com rostos mais arredondados ou homens, podem ser obtidos resultados decepcionantes. Segundo Matarasso4, a maioria dos pacientes reportou mudança sutil. Os resultados desse estudo foram considerados satisfatórios: os pacientes do sexo feminino

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CONCLUSÃO A bichectomia é um procedimento relativamente seguro; seus cuidados pós-operatórios são semelhantes aos de uma exodontia. Os pacientes mostraram-se satisfeitos com o resultado funcional e, especialmente, estético da bichectomia. ABSTRACT Bichectomy as facial aesthetic procedure: Prospective observational study Objective: The objective of this study was to evaluate morbidity, possible sequels and the satisfaction of patients submitted to the bichectomy esthetic procedure. Methods: 16 patients undergoing the procedure were prospectively analyzed through a questionnaire, clinical examination and subjective photographs analysis. Results: This study revealed good results regarding patient satisfaction, with female patients showing satisfaction with the aesthetic result, while male patients noticed greater functional gain; in addition, it was observed low morbidity and low risk of complications, with only two cases of infections, treated with oral antibiotics. Conclusions: It was possible to conclude that bichectomy provides aesthetic improvements in the facial contour with safety and low morbidity. Keywords: Adipose tissue. Plastic surgery. Oral surgery. Cheek.

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ArtigoOriginal

Indicação para exodontia de terceiros molares impactados:

estudo transversal

CAIO GONÇALVES SILVA1 | VICTOR HUGO FERREIRA2 | EVERALDO PINHEIRO LIMA3 | SUZANA CELIA CARNEIRO2 | JEFFERSON FIGUEIREDO LEAL1 | BELMIRO CAVALCANTI VASCONCELOS1

RESUMO Introdução: a remoção de terceiros molares impactados assintomáticos tem sido objeto de considerável controvérsia. Diante disso, o presente estudo tem o propósito de verificar a indicação da remoção de terceiros molares inferiores por cirurgiões bucomaxilofaciais, após avaliarem imagens radiográficas. Métodos: trata-se de um estudo observacional do tipo transversal desenvolvido com profissionais participantes do XXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (COBRAC 2015) realizado em Salvador/BA, no qual os participantes foram divididos em grupos de acordo com o nível de formação. Resultados: os resultados mostram que a maior parte dos cirurgiões bucomaxilofaciais tende a indicar a remoção dos terceiros molares impactados (TMIs) assintomáticos, sendo que essa tomada de decisão independe do nível de formação e não é influenciada pelo número de anos de experiência. Conclusões: pode-se concluir que não há evidências suficientes na literatura atual para determinar a remoção profilática de rotina de TMIs assintomáticos. A indicação ou não de remoção de TMIs assintomáticos deve levar em consideração a aceitação dos pacientes, bem como o conhecimento clínico do profissional para orientar a tomada de decisão. Palavras-chave: Dente serotino. Dente impactado. Cirurgia bucal.

Universidade do Pernambuco, Faculdade de Odontologia, Setor de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Camaragibe/PE, Brasil). Hospital da Restauração, Departamento Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Recife/PE, Brasil). 3 Sindicato dos Odontologistas de Pernambuco, Curso de Especialização em Implantodontia (Recife/PE, Brasil). 1

Como citar este artigo: Silva CG, Ferreira VH, Lima EP, Carneiro SC, Leal JF, Vasconcelos BC. Indication for extraction of impacted third molars: Cross-sectional study. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):24-8. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.024-028.oar

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Enviado em: 17/02/2019 - Revisado e aceito: 26/06/2019 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Caio Gonçalves Silva Av. Gal. Newton Cavalcanti, 1.650, Tabatinga – Camaragibe/PE CEP: 54.753-220 – E-mail: caiocgsilva@gmail.com

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INTRODUÇÃO A remoção cirúrgica de um dente impactado é um dos procedimentos mais comuns realizados por um cirurgião bucomaxilofacial no consultório odontológico 1,2. Os terceiros molares são os dentes mais comumente impactados, com uma taxa média mundial de impactação de 24% 3. Terceiros molares impactados (TMI) podem estar associados a alterações patológicas, como pericoronarite, reabsorção radicular, gengivite, periodontite, cárie e desenvolvimento de cistos e tumores4. A remoção profilática proposta por alguns autores5,6 busca evitar o desenvolvimento dessas lesões, além de evitar esse procedimento numa fase mais avançada da vida, quando o risco de complicações pós-operatórias é maior4. A cirurgia de remoção do TMI é, geralmente, um procedimento simples e realizado sob anestesia local em ambiente ambulatorial. No entanto, por uma variedade de razões, alguns pacientes necessitam de atendimento hospitalar sob anestesia geral ou sedação intravenosa para realizar essas exodontias 1,4,5. Todo procedimento para a remoção do TMI apresenta riscos para o paciente, incluindo lesão nervosa temporária ou permanente, alveolite, infecção, hemorragia, edema, dor e trismo. Além disso, essa cirurgia é frequentemente percebida pelos pacientes como uma situação intensamente assustadora, sendo, em alguns casos, um procedimento cirúrgico desnecessário, pois o dente apresenta-se completamente irrompido na cavidade bucal e não tem sinais clínicos e radiográficos de lesão associada 1,7,8. A remoção de TMIs assintomáticos tem sido objeto de considerável controvérsia. Alguns autores defendem a remoção como benéfica para os pacientes, por prevenir o risco de futura lesão óssea 5,6. Por outro lado, a remoção do terceiro molar pode resultar em vários tipos de morbidades, sendo, então, recomendado o monitoramento clínico do TMI7. Diante disso, o objetivo do presente trabalho é verificar a indicação da remoção de terceiros molares inferiores por parte dos cirurgiões bucomaxilofaciais após avaliarem imagens radiográficas.

a 29 de agosto de 2015, no qual alguns profissionais da área de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial que estavam presentes foram abordados durante o evento e responderam a um questionário sobre indicação da remoção de terceiros molares inferiores, após avaliarem imagens radiográficas. O estudo foi conduzido de acordo com o estabelecido pela resolução número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, referente à ética em pesquisa envolvendo seres humanos, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital da Restauração (parecer #2.753.179). Com a finalidade de coletar os dados, foi construído um questionário incluindo idade, sexo, titulação (residente/especializando, especialista, mestre, doutor), tempo de formação na área e uma série de quatro casos clínicos hipotéticos, por meio dos quais cada profissional avaliou imagens radiográficas com diferentes tipos de inclusões dentárias na mandíbula e manifestou sua indicação ou não para exodontia (Fig. 1). Para aquisição das imagens radiográficas, foi utilizado o banco de dados de uma clínica radiológica da cidade do Recife/PE. Para coleta dos dados, a equipe foi calibrada para o uso do questionário e para aquisição de uma amostra aleatória de participantes durante o evento. Após a coleta dos dados, foi utilizada a planilha Microsoft Excel para tabulação dos dados e cálculos estatísticos. RESULTADOS Foram analisados 170 questionários que se enquadraram nos critérios de inclusão da pesquisa. Dos profissionais participantes da pesquisa, 71,1% eram do sexo masculino e, na maioria, especialistas. O percentual de participantes em relação ao estágio de formação na especialidade de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial consta na Figura 2. Sessenta e quatro por cento optaram pela remoção do dente incluso como uma medida profilática, já que a maioria dos casos apresentados era de pacientes jovens. Entretanto, esse percentual de indicação de exodontia variou de acordo com a situação clínica apresentada. O total de indicações por caso pode ser observado na Tabela 1. O total de indicações de exodontias em cada situação clínica não variou significativamente entre os profissionais com diferentes níveis de formação, como pode ser observado na Figura 3.

MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal, realizado durante o XXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (COBRAC-2015) em Salvador/BA, no período de 25

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Indicação para exodontia de terceiros molares impactados: estudo transversal

A

B

C

D

Figura 1: Imagens radiográficas para avaliação de exodontia do terceiro molar inferior incluso: A) paciente jovem, sem comorbidades, assintomático (caso 1); B) paciente idoso, sem comorbidades, assintomático (caso 2); C) paciente jovem, sem comorbidades, assintomático (caso 3); D) paciente jovem, sem comorbidades, assintomático (caso 4).

Figura 2: Percentual de participantes, segundo o nível de formação.

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Figura 3: Percentual de indicações de remoção dos terceiros molares inclusos, por nível de formação, em cada caso clínico.

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Tabela 1: Percentual de indicações ou contraindicações de remoção dos terceiros molares inclusos, por caso clínico.

Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4

Sim

Não

62% 15% 93% 85%

38% 85% 7% 15%

DISCUSSÃO A conduta frente à remoção de TMIs sintomáticos é bem descrita nos mais diversos livros de cirurgia bucomaxilofacial. Entretanto, ainda permanece um dilema para o cirurgião como deve proceder diante de um caso de elemento dentário incluso assintomático7,8. Os TMIs podem estar associados a alterações patológicas, como pericoronarite, reabsorção radicular, problemas periodontais, cárie e desenvolvimento de cistos e tumores1,4,9. Outras razões para justificar a remoção profilática de TMIs assintomáticos incluem a prevenção do apinhamento dos incisivos inferiores, em preparação para cirurgia ortognática ou para radioterapia4. Muitos dentistas e seus pacientes acreditam que a remoção de TMIs assintomáticos é justificada para evitar futuras complicações em uma fase mais avançada da vida, em que o manejo terapêutico e cirúrgico é mais complexo, e o risco de complicações pós-operatórias aumenta4,9. Segundo estudos de Metts et al.7 e Huang et al.10, os pacientes são bastante influenciados pelas recomendações dos seus cirurgiões-dentistas que indicam a remoção dos TMIs por razões profiláticas. Dessa forma, a indicação de exodontia profilática deve ser baseada na literatura, tanto para oferecer o melhor tratamento para o paciente, como, também, para um respaldo legal diante de possíveis complicações no pós-operatório, que podem gerar ações judiciais. O Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (COBRAC) é o maior evento da especialidade no Brasil, participando grandes nomes da especialidade no Brasil, como também personalidades com reconhecimento mundial, devido ao trabalho que desenvolvem dentro do campo da cirurgia bucal e maxilofacial. Nesse sentido, podemos inferir a relevância do presente estudo, pois foi realizado com profissionais de alto nível, com elevado conhecimento científico e que trabalham com base no que de melhor existe na literatura.

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Nesse estudo, foi incluído um total de 170 questionários de profissionais, os quais eram participantes do mencionado congresso. Do total de avaliados, 49 possuíam doutorado (29% do total), 40 eram mestres (24% do total), 60 eram especialistas (35% do total) e 21 eram residentes ou especializandos (12% do total). Por meio da análise dos dados obtidos, observa-se que a maioria dos profissionais pesquisados tende a indicar a exodontia dos TMIs assintomáticos. Entretanto, quando se compara a conduta frente a um paciente jovem com um paciente idoso, observa-se que os profissionais tendem a ser mais conservadores em relação ao paciente idoso, mas indicam com maior frequência a exodontia profilática em pacientes jovens. Essa tendência segue o que diz a pesquisa transversal realizada por Petrosyan e Ameerally11, na qual foi descrito um critério para remoção profilática dos terceiros molares. Segundo os autores, em pacientes jovens, deve ser realizada a exodontia do TMI e do seu contralateral de maneira profilática, caso esse último apresente-se parcialmente irrompido. Os autores justificam sua conduta argumentando que pacientes jovens têm mínimas possibilidades de complicações graves pós-operatórias, além de apresentarem uma recuperação mais rápida. Do mesmo modo, Talwar et al.12 afirmam que pacientes jovens submetidos à exodontia dos terceiros molares possuem pouca morbidade, com baixa prevalência de complicações pós-operatórias e mínimo impacto na qualidade de vida, concluindo que a indicação desse tipo de cirurgia em pacientes com essa idade traria mais benefícios do que malefícios ao paciente. A indicação de remoção de TMI na faixa etária mais elevada também foi diminuída no estudo de Ethunandan et al.13 Fatores como diminuição da elasticidade óssea, risco de osteoporose, atrofia óssea e maior potencial de anquilose dentária apoiaram a decisão.

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Indicação para exodontia de terceiros molares impactados: estudo transversal

ABSTRACT Indication for extraction of impacted third molars: Cross-sectional study Introduction: Removal of third impacted asymptomatic molars has been the subject of considerable controversy. Therefore, this study aims to verify the indication of removal of lower third molars by oral and maxillofacial surgeons after evaluating radiographic images. Methods: This was an observational cross-sectional study developed with professionals participating in the XXIII Brazilian Conference on Oral and Maxillofacial Surgery (COBRAC-2015) held in Salvador, Bahia, Brazil, in which the participants were divided into groups according to the level of training. Results: The results show that most oral and maxillofacial surgeons tend to indicate the removal of asymptomatic impacted third molars (ITMs), and this decision-making is independent of the level of training, and the number of years of experience does not influence it. Conclusions: It can be concluded that there is insufficient evidence in the current literature to determine routine prophylactic removal of asymptomatic ITMs. The indication or not of removal of asymptomatic ITMs should take into account the patients acceptance as well as the clinical knowledge of the professional to guide the decision making. Keywords: Molar, third. Tooth, impacted. Surgery, oral.

O estudo de Camargo et al.14 avaliou a tomada de decisão entre cirurgiões bucomaxilofaciais em relação à cirurgia do TMI e observou que o grupo com menor tempo de experiência tendia a recomendar as exodontias com maior frequência. A conclusão desses autores difere dos dados observados no presente estudo, pois não houve diferença significativa na conduta frente aos casos clínicos apresentados nos diferentes estágios dentro da especialidade. Não há evidências suficientes na literatura atual para determinar a remoção profilática de rotina do TMI assintomático4,7. O manejo de TMIs assintomáticos e livres de doenças permanece controverso. A abordagem atual ao lidar com os TMIs é baseada no julgamento clínico, avaliação periódica por alguns profissionais e extração precoce por outros, não existindo um consenso por parte dos cirurgiões no manejo do TMI1,4,15,16. Diante da escassez de evidências, a indicação ou não de remoção de TMIs assintomáticos deve levar em consideração a aceitação dos pacientes, bem como o conhecimento clínico do profissional para orientar a tomada de decisão. CONCLUSÃO A tomada de decisão quanto à remoção cirúrgica de terceiro molar impactado assintomático independe do nível de formação do profissional. Existe insuficiência de provas para apoiar ou refutar a remoção de terceiros molares inclusos assintomáticos.

Referências:

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ArtigoOriginal

Avaliação da soroprevalência dos vírus das hepatites B e C em

cirurgiões-dentistas

AIRTON VIEIRA LEITE SEGUNDO1 | EMERSON FILIPE DE CARVALHO NOGUEIRA2 | PATRÍCIA ÉLIDA FERNANDES RODRIGUES CARVALHO3 | MARIA SUELI MARQUES SOARES4

RESUMO Objetivo: o presente estudo objetivou determinar a soroprevalência das hepatites B e C em cirurgiões-dentistas na cidade de Caruaru (Pernambuco, Brasil). Métodos: a amostra foi composta por 80 profissionais que foram submetidos à coleta de sangue para realização de exames sorológicos (HBsAg e anti-VHC) para as hepatites B e C, como também foi realizada entrevista, abordando o tempo de formado, histórico de acidentes com material perfurocortante, e vacinação contra hepatite B. Os dados obtidos foram processados no programa Microsoft EXCEL® e realizada análise descritiva. Resultados: com relação à soroprevalência, foram confirmados dois casos de hepatite B e um caso de hepatite C, representando prevalência de 2,5% e 1,25%, respectivamente. A média de tempo de formado foi de 17,35 anos. Cinquenta e dois por cento dos profissionais relataram acidente com material perfurocortante. Os resultados revelaram que 75% dos entrevistados apresentaram a vacinação completa contra a hepatite B. Conclusão: conclui-se que os cirurgiões-dentistas da cidade de Caruaru apresentaram baixa prevalência de infecção pelos vírus das hepatites B e C e que ¼ dos profissionais não apresentaram vacinação contra hepatite B regular. Palavras-chave: Hepatite. Vírus da hepatite. Odontólogos. Riscos ocupacionais.

Hospital Regional do Agreste, Departamento de Cirurgia Bucomaxilofacial (Caruaru/PE, Brasil). Universidade de Pernambuco, Departamento de Cirurgia (Recife/PE, Brasil). Faculdade Pernambucana de Saúde, Departamento de Medicina (Recife/PE, Brasil). 4 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Clínica e Odontologia Social (João Pessoa/PB, Brasil). 1

Como citar este artigo: Leite Segundo AV, Nogueira EFC, Carvalho PEFR, Soares MSM. Evaluation of prevalence for B and C hepatitis virus on dentist. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):29-33. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.029-033.oar

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Enviado em: 17/03/2019 - Revisado e aceito: 17/07/2019 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Airton Vieira Leite Segundo Av. Agamenon Magalhães, 444, Empresarial Difusora – Sala 530, Maurício de Nassau Caruaru/PE – CEP: 55.012-290 – E-mail: airtonsegundo@hotmail.com

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Avaliação da soroprevalência dos vírus das hepatites B e C em cirurgiões-dentistas

INTRODUÇÃO O vírus da hepatite B (VHB) continua sendo um problema de saúde pública global, com mais de um terço da popula­ção do mundo infectada1. A prevalência de infecção pelo VHB é maior entre os cirurgiões-dentistas do que na população em geral, especialmente entre aqueles que possuem especialidades cirúrgicas2. O vírus da hepatite C (VHC) também é um importante agente infeccioso, devido ao grande número de patologias humanas associadas à sua infecção, que é agravado pela perspectiva de um novo aumento como ameaça à saúde pública nos próximos anos3. Acredita-se que aproximadamente 170 milhões de pessoas sejam persistentemente infectadas e pelo menos 80% desenvolverão doenças graves, incluindo hepatite crônica, cirrose ou câncer de fígado4. A maioria dos pesquisadores acredita que os cirurgiões-dentistas adquirem o vírus através de um corte nos dedos contaminado pelo sangue ou saliva do paciente. Como as secreções nasofaríngeas são portadoras do vírus, a possibilidade de que a infecção possa ser adquirida por aerossol, embora remota, ainda existe. Assim, os cirurgiões-dentistas têm um grande risco de exposição às hepatites, devido a seus numerosos encontros com pacientes e por envolver o uso e descarte de instrumentos cortantes5. Tendo em vista que esses profissionais estão incluídos no grupo de risco de contaminação pelos VHB e VHC, bem como considerando a importância do conhecimento de dados epidemiológicos acerca dessas doenças, a presente pesquisa realizou um estudo sobre a prevalência da soropositividade para os referidos vírus em cirurgiões-dentistas do município de Caruaru, Pernambuco, Brasil.

to de trabalho, os que foram a óbito ou abandonaram a profissão durante a realização da pesquisa. Os entrevistados recebiam, em seus consultórios, a visita do pesquisador, em horário comercial. Uma nova tentativa era feita em estabelecimentos que, porventura, encontravam-se fechados. Em caso de insucesso, o entrevistado era excluído e substituído por outro através de novo sorteio, até completar a amostra determinada. Os dados foram obtidos em dois momentos: o primeiro, através da aplicação de um questionário estruturado, contendo dados pessoais, tempo de formação profissional, vacinação contra hepatite, uso de equipamento de proteção individual (EPI) e história de acidentes com material perfurocortante. Esse questionário foi aplicado exclusivamente pelo autor, com intuito de se conseguir homogeneidade das respostas, e foi realizada sua calibração com cinco cirurgiões-dentistas, para avaliar a sua aplicabilidade como instrumento de coleta de dados. No segundo momento, foi realizada coleta de uma amostra de sangue de cada profissional entrevistado e realizada a análise laboratorial da presença de antígenos e anticorpos para as hepatites B e C. As amostras de sangue foram coletadas e acondicionadas em tubos específicos para exames de sorologia, identificados e imediatamente resfriados. Para diagnóstico da presença das hepatites B e C, foram realizados exames laboratoriais a partir das amostras de sangue obtidas. Para tanto, o sangue foi centrifugado a 3500 rpm, durante 5 minutos, e o soro foi separado para realização dos exames HBsAg (antígeno de superfície), para diagnóstico da hepatite B; e anti-HCV (anticorpo viral), para pesquisa da hepatite C, ambos por método de enzimaimunoensaio. Todos os testes foram realizados em laboratório terceirizado. Os resultados foram cruzados com as informações dos questionários e complementados com a análise qualitativa e quantitativa deles, determinando os índices de soropositividade. Foi realizada análise descritiva com o auxílio do programa Microsoft Excel 2010®.

MÉTODOS O projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética e Pesquisa da Associação Caruaruense de Ensino Superior/PE, e aprovado sob número 011/07. O presente estudo foi realizado no período de 2010 a 2013 na cidade de Caruaru (Pernambuco, Brasil), com uma amostra de 80 cirurgiões-dentistas, incluídos de forma aleatória. Foram incluídos no sorteio da amostra do presente estudo os cirurgiões-dentistas atuantes na cidade de Caruaru, regularmente registrados no Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco, que aceitaram fazer parte da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos os profissionais que não se encontravam no estabelecimen-

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RESULTADOS Do total das amostras analisadas, 43 profissionais (53,75%) eram do sexo masculino e 37 (46,25%), do feminino, com idades variando de 26 a 68 anos. O tempo de formação profissional variou de 1 a 40 anos. A pesquisa revelou que 60 profissionais (75%) apresentaram vacinação completa contra hepatite B, recebendo as três doses. Dez (12,5%) receberam duas doses,

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Leite Segundo AV, Nogueira EFC, Carvalho PEFR, Soares MSM

proteção. Outros 53,75% referiram que não usavam gorro, ou seja, faziam uso apenas de óculos, máscara e luvas. Enquanto isso, 1,25% afirmaram que não utilizavam máscara e luva, ou seja, só usavam gorro e óculos (Fig. 2). Quanto à ocorrência de acidentes com material perfurocortante, 42 profissionais (52,5%) sofreram acidentes com esse tipo de material durante a prática clínica. Com relação à soroprevalência, foram confirmados dois casos de hepatite B e um caso de hepatite C, representando prevalência de 2,5% e 1,25%, respectivamente. Um dos profissionais tinha 50 anos de idade e referia histórico de transfusão sanguínea. Os outros dois casos tinham idades de 46 e 55 anos e referiram que negligenciavam o uso do gorro e óculos de proteção. Os três casos tinham mais de 20 anos de formados e todos com histórico de acidente com material perfurocortante.

um (1,25%) recebeu uma dose, três (3,75%) não se vacinaram e seis (7,5%) não souberam informar o estado vacinal (Fig. 1). Quando avaliada a existência de transfusão sanguínea prévia, constatou-se que dois cirurgiões-dentistas (2,5%) apresentaram histórico de transfusão. Com relação ao conhecimento de infecção própria pelos vírus das hepatites, dois profissionais (2,5%) eram conhecedores da infecção pelos vírus das hepatites, sendo um da hepatite B e um da hepatite C. Desses entrevistados, dezoito cirurgiões-dentistas (22,5%) já haviam atendido pacientes que conhecidamente eram portadores de hepatite B ou C, durante sua vida profissional. Nesse estudo, também se observou que o uso de EPIs, no seu conjunto completo (gorro, óculos, máscara e luva), era utilizado apenas por 21 profissionais (26,25%). Um total de 68,75% utilizava os EPIs, exceto óculos de

Figura 1: Distribuição da amostra quanto ao esquema vacinal.

Figura 2: Distribuição da amostra estudada quanto à paramentação por EPI (G = Gorro; O = Óculos; M = Máscara; L = Luva).

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Avaliação da soroprevalência dos vírus das hepatites B e C em cirurgiões-dentistas

DISCUSSÃO A atividade profissional do cirurgião-dentista o expõe a um grande número de microrganismos patogênicos e faz com que esse profissional seja incluído no grupo de risco de infecções ocupacionais. Tal fato constitui uma grande preocupação, devendo o profissional, junto à equipe de saúde, realizar uma prática clínica segura, adotando os preceitos atuais de controle de infecção. Entre os mais importantes patógenos passíveis de contaminação pelo cirurgião-dentista, estão os VHB e VHC. A estabilidade desse vírus e a possibilidade de que uma pequena quantidade de sangue ou secreções contendo esse agente seja capaz de transmitir a infecção justifica a hipótese de que o VHB pode ser transmitido por inalação de gotículas, aerossóis ou pelo transporte manual de partículas contaminadas para a boca6. O antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg) no soro é usado para detectar a presença de doença ativa e o status de portador crônico7. Considerando essa hipótese, há um alto risco de infecção ocupacional do cirurgião-dentista, tornando ainda mais importante a implementação de medidas preventivas de biossegurança na rotina desses profissionais. Em uma pesquisa8 realizada com uma amostra de 585 pessoas da cidade de Resende (Rio de Janeiro, Brasil), entre profissionais de saúde (29,74%) e usuários (71,36%), observou-se que 4 participantes eram reagentes anti-VHC e 18, reagentes anti-HBc. Desses, 15 foram reativos para anticorpos anti-HBs. Entre os profissionais de saúde, 68,8% eram positivos para anti-HBs, e 63,9% dos participantes declararam ser vacinados contra hepatite B, demonstrando uma prevalência de 0,68% para VHC e 3,08% para anti-HBc na região. A literatura tem publicado estudos sobre os riscos ocupacionais dos cirurgiões-dentistas em relação às hepatites1,2,3,4,5,8,9. Os índices obtidos na sorologia realizada na pesquisa foram de 2,5% para a hepatite B e 1,25% para a hepatite C. O Ministério da Saúde6 descreve a prevalência das hepatites no estado de Pernambuco como sendo de 3,3% para VHB e 2,3% para VHC. Constata-se, então, que a prevalência de soropositividade nos profissionais do presente estudo é compatível com os índices recolhidos da população regional, embora exista o risco de contração ocupacional entre esses profissionais. Essa baixa prevalência de infecção pelos VHB e VHC no grupo estudado pode ser explicada devido à taxa de vacinação e o uso de equipamento de proteção individual.

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Com base nisso, Nogueira et al.9 descreveram a experiência em uma Faculdade de Odontologia para redução do risco ocupacional relacionado à hepatite B. Nessa pesquisa, foram incluídos 242 alunos ingressos na instituição com cópias das carteiras de vacinação, e observou-se que 100% estavam vacinados, sendo que para 87,2% havia registro de vacinação em três doses. Anti-HBs comprovaram soroconversão em 91,3% dos alunos. Dos 20 indivíduos cuja sorologia foi negativa, 9 alunos foram acompanhados e repetiram o esquema básico de vacinação e o teste anti-HBs, sendo que 8 soroconverteram e 1 foi considerado não respondedor, elevando a frequência de alunos imunes para 95%. Os 11 (55%) restantes não tiveram conduta registrada ou não havia dados sobre eles nos documentos analisados. Esse trabalho demonstrou a efetividade do acompanhamento para reduzir esse risco ocupacional. Camilo10 realizou um estudo com os cirurgiões-dentistas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e observou que não houve diferenças significantes quanto à prevalência de infecção pelo VHC em cirurgiões-dentistas (1/231) quando comparados com o grupo controle (1/307). No entanto, os resultados da sorologia para VHB nessa mesma amostra de indivíduos demonstraram um índice maior de contaminação em cirurgiões-dentistas (24/231) do que no grupo controle (18/307). No presente estudo, observa-se que a distribuição de idade/tempo de formado dos pesquisados variou amplamente, contemplando todas as faixas etárias. Esse dado é relevante, pois os profissionais mais antigos iniciaram suas atividades em uma época da Odontologia na qual não se utilizava EPIs e, consequentemente, o contato com material contaminado era mais significativo. Verifica-se na literatura consultada que o número de profissionais infectados vem diminuindo ao longo do tempo e que os profissionais mais antigos apresentavam prevalências muito altas de infecção, comparadas às atuais. Dos três casos identificados no presente estudo, um profissional infectado pelo VHC tinha história de transfusão sanguínea, havendo possibilidade de ter contraído o vírus na referida transfusão. Os outros dois casos foram de cirurgiões-dentistas que tinham idade de 46 e 55 anos, e, durante a entrevista, afirmaram que usavam apenas máscara e luva como material de proteção individual, negligenciando o gorro e os óculos de proteção.

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CONCLUSÃO Conclui-se que os cirurgiões-dentistas da cidade de Caruaru (Pernambuco, Brasil) apresentaram baixa prevalência de infecção pelos vírus das hepatites B e C, com soropositividade presente em profissionais com mais de 20 anos de formados. Metade dos profissionais referiu acidente com material perfurocortante, e um grande número de profissionais não apresentaram vacinação completa para a hepatite B.

Sendo assim, a infecção ocupacional nos cirurgiões-dentistas geralmente ocorre devido a acidentes com material perfurocortante e/ou pelo contato com fluidos corporais contaminados, podendo resultar em complicações em formas aguda ou crônica. Por outro lado, a recíproca também é válida quanto à possibilidade de transmissão de doenças infecciosas pelos profissionais de saúde a seus pacientes. Na pesquisa atual, metade dos profissionais afirmaram acidente com material perfurocortante durante o trabalho. Segundo os dados obtidos, o índice de vacinação completa contra hepatite foi de 75%. Esse resultado evidencia que um considerado percentual de indivíduos estudados está suscetível à infecção pelos vírus da hepatite B. Vale ressaltar que, mesmo com as três doses preconizadas, a média de soroconversão é de 95%, podendo haver a necessidade de uma quarta dose11,12. Dos profissionais HBsAg positivos, um paciente apresentava as três doses e o outro não recebeu nenhuma dose. No primeiro caso, o profissional pode ter contraído a doença antes da vacinação ou não houve a soroconversão. Sendo assim, toda especialidade de saúde que envolva contato com mucosa, sangue ou sangue contaminado com fluidos corporais deve ter o objetivo de garantir a conformidade com as precauções padrão e outros métodos para minimizar os riscos de infecção5. O papel que um dentista pode desempenhar na prevenção da hepatite é considerar todo e qualquer paciente como um potencial portador da doença. Protocolos apropriados de controle de infecção e esterilização devem ser seguidos para reduzir o risco de infecção. Os cirurgiões-dentistas correm um risco maior de exposição do que os outros especialistas nas áreas médicas, devido à sua exposição a aerossóis durante a descamação ultrassônica. Então, eles devem colocar ênfase especial na prevenção e proteção contra hepatite13.

ABSTRACT Evaluation of prevalence for B and C hepatitis virus on dentist Objective: The aim of the present work was to determine the seroprevalence of hepatitis type B and type C in the dentists of Caruaru (Pernambuco, Brazil). Methods: The sample comprised 80 professionals who underwent blood collection for serological tests (HBsAg and anti-HCV) to hepatitis type B and type C, and submitted to an interview about their time of graduation, checking vaccination against hepatitis type B, previous blood transfusion and use of individual protection equipment. Results: In relation to the seroprevalence, two cases of hepatitis type B and one case of hepatitis type C were confirmed, representing a rate of 2,5% and 1,25%, respectively. The average of time of graduation was 17,35 years. Fifty two percent of the professionals report biologic material accident. The results showed that 75% had complete hepatitis type B vaccination. Conclusion: It is concluded that dental surgeons in the city of Caruaru presented low prevalence of hepatitis B and C virus infection, and that ¼ of the professionals did not present regular hepatitis B vaccination. Keywords: Hepatitis. Dentists. Occupational risks. Hepatitis virus.

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10. Camilo RS. Prevalência das hepatites B e C nos cirugiões-dentistas da Faculdade de Odontologia da UFRJ [tese]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1998. 11. Informe Técnico Institucional. Vacina contra hepatite B. Rev Saúde Pública 2006; 40(6):1137-40. 12. Ferreira CT, Silveira TR. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Rev Bras Epidemiol. 2004;7(4):473-87. 13. Dahiya P, Kamal R, Sharma V, Kaur S. “Hepatitis” Prevention and management in dental practice. J Educ Health Promot. 2015 May 19;4:33.

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Prevalência das fraturas mandibulares de um hospital referência terciária

em trauma de São Paulo EDUARDO VASQUEZ DA FONSECA1 | DANIEL FALBO MARTINS1 | RENATO CARDOSO1 | MANOEL ROQUE PARAÍSO SANTOS FILHO1 | LUCIANO HENRIQUE FERREIRA LIMA2

RESUMO Introdução: a região mandibular apresenta um elevado índice de acometimento nos traumatismos faciais, gerando prejuízos funcionais e estéticos. Objetivo: o objetivo do presente trabalho foi traçar o perfil dos pacientes com fraturas mandibulares atendidos no Conjunto Hospitalar do Mandaqui, dando enfoque à sua etiologia, relação faixa etária/gênero e região anatômica acometida. Métodos: foi realizado um levantamento epidemiológico dos pacientes diagnosticados com fraturas mandibulares atendidos no Conjunto Hospitalar do Mandaqui no período de janeiro de 2011 a janeiro de 2019, por meio da análise de prontuários e de exames de imagem. Resultados: dos 434 pacientes com traumatismo (fratura) maxilofacial atendidos no período do estudo, 353 (81%) apresentaram fraturas mandibulares com características para inclusão no trabalho. A faixa etária variou de 2 a 78 anos, com proporção homens / mulheres de aproximadamente 8:2. As principais etiologias foram os acidentes de trânsito (36,54%), agressões (33,99%) e quedas (15,58%). As regiões anatômicas mais acometidas foram o ângulo mandibular (26,72%), corpo (24,22%) e cabeça da mandíbula (17,12%), sendo a região de processo coronoide a menos atingida (0,42%). Conclusões: a prevalência e as causas de fraturas mandibulares refletem o padrão de traumatismo facial de uma população, podendo auxiliar no desenvolvimento de medidas preventivas, principalmente em relação a melhores políticas públicas de trânsito e de controle da criminalidade. Palavras-chave: Epidemiologia. Fraturas mandibulares. Traumatologia.

Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Departamento de Cirurgia Bucomaxilofacial (São Paulo/ SP, Brasil). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Departamento de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil).

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Como citar este artigo: Fonseca EV, Martins DF, Cardoso R, Santos Filho MRP, Lima LHF. Prevalence of mandibular fractures of a tertiary hospital, reference in trauma of São Paulo. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):34-9. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.034-039.oar

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Enviado em: 07/02/2019 - Revisado e aceito: 09/08/2019 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Manoel Roque Paraíso Santos Filho Rua Butantã, 408, ap. 805, Pinheiros – São Paulo/SP CEP: 05.424-000 – E-mail: manoelctbmf@gmail.com

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INTRODUÇÃO A face é uma região de extrema importância para o convívio social. É com ela que demonstramos emoções, comunicamo-nos, e é onde a maior parte dos nossos órgãos sensitivos está localizada. Dessa forma, os traumatismos que atingem o complexo bucomaxilofacial, além das sequelas físicas e funcionais causadas, afetam, também, os relacionamentos pessoais e sociais do indivíduo, sendo, portanto, traumas estigmatizantes1. As fraturas mandibulares são as mais comuns entre as fraturas faciais. Elas podem acontecer isoladas ou em combinação com outros danos faciais. O padrão das fraturas de mandíbula é estabelecido na literatura de vários países e essas estatísticas variam de um país para outro, estando, então, evidente que algumas das variações podem ser atribuídas a fatores sociais, culturais e ambientais2,3,4. A maior parte dos estudos epidemiológicos coloca a mandíbula como o osso facial mais acometido por fraturas5,6,7, correspondendo de 36% a 70% das fraturas dos ossos faciais8; outros consideram ser o segundo local do corpo mais fraturado, atrás apenas das fraturas dos ossos próprios do nariz9,10. Apesar de possuir estrutura óssea densa e resistente, a razão para essa alta incidência pode advir do fato de a mandíbula encontrar-se projetada no terço inferior da face, tornando-a vulnerável à ação direta de forças mecânicas, e ter formato em arco aberto5,8, além de sofrer processo notável de atrofia após a perda dos elementos dentários8,9. O tratamento de fraturas do complexo maxilofacial continua a ser um desafio para os cirurgiões bucomaxilofaciais, exigindo habilidade e um elevado nível de especialização. Tais informações epidemiológicas também podem ser usadas para orientar o futuro financiamento de programas de saúde pública voltados para a prevenção11. Para esse fim, pesquisadores12 têm realizado numerosos estudos sobre os grupos populacionais provenientes de todos os continentes, todos tendo como objetivo comum a tentativa de elucidar a natureza das fraturas mandibulares. A incidência dos traumas bucomaxilofaciais sofre variação em virtude da localização geográfica onde foi coletada a amostra, da distribuição e das tendências socioeconômicas da população investigada, assim como das legislações de tráfego e variações sazonais1.

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MÉTODOS Foi realizado um estudo retrospectivo dos prontuários de todos os pacientes vítimas de trauma maxilofacial atendidos pelo serviço de residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Conjunto Hospitalar do Mandaqui (CHM). A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Brasil (CAAE n° 04664918.500005551), com o devido consentimento de todos os órgãos nela envolvidos. Do total de 434 pacientes que apresentaram traumatismo maxilofacial, 353 foram coletados em ficha clínica específica. Os dados (etiologia, idade, gênero, topografia) foram coletados a partir dos prontuários de pacientes no período de 01/01/2011 a 01/01/2019. Esses dados foram transcritos para o formulário de traumatologia da pesquisa. Os dados coletados foram apontados em tabelas e gráficos (Microsoft Excel-2010) e, então, analisados. Para realizar a revisão de literatura, foram consultadas, através da internet, as seguintes bases de dados em saúde: MEDLINE, LILACS, SciELO e BBO. As palavras-chave utilizadas foram: traumatologia, epidemiologia e fraturas mandibulares. O estudo foi realizado no Conjunto Hospitalar do Mandaqui, o qual trata-se de um hospital geral de ensino em nível terciário, sendo referência para pacientes traumatizados no Sistema Único de Saúde (SUS). População e amostra A amostra do estudo foi composta por prontuários de pacientes portadores de fraturas mandibulares no período de 01/01/2011 a 01/01/2019. Critérios de inclusão » Pacientes com diagnóstico de fraturas mandibulares atendidos no SUS. » Prontuários de pacientes preenchidos de forma adequada. » Aceitação da proposta terapêutica. » Pacientes que concordaram em participar da pesquisa e assinaram o TCLE e o termo de assentimento. Critérios de exclusão » Prontuários de pacientes incompletos. » Não aceitação da proposta terapêutica. » Recusa em participar da pesquisa. » Pacientes tratados fora do período proposto nesse estudo.

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Análise dos dados Os dados foram colhidos para preencher o protocolo preestabelecido com as informações consideradas relevantes para o estudo e encontram-se apresentados na forma de gráficos.

Em relação à etiologia, o quesito mais relatado na causa do traumatismo mandibular foi acidente de trânsito, no qual 129 (36,54%) pacientes se enquadravam, seguido de agressões físicas em 120 (33,99%) pacientes e quedas em 55 (15,58%). O fator etiológico menos expressivo foi acidente de trabalho, representado por 10 (2,83%) pacientes. Houve 8 (2,27%) pacientes que se enquadraram em outras causas (fraturas patológicas, após exodontia de terceiros molares, entre outras) (Fig. 3). Em relação ao local de acometimento, observou-se que 128 (26,72%) pacientes apresentaram fratura em região de ângulo, 116 (24,22%) pacientes com fratura na região de corpo mandibular e 82 (17,12%) pacientes com a cabeça da mandíbula fraturada. Entre os locais acometidos na região mandibular, o menos atingido foi a região de processo coronoide, sendo encontrado apenas em 2 (0,42%) pacientes (Fig. 4).

RESULTADOS Em relação ao gênero mais acometido, foi observado que 298 (84,42%) pacientes da amostra pertenciam ao gênero masculino (Fig. 1). Quanto à faixa etária, a mais prevalente encontrava-se entre 21 e 30 anos, compreendendo 121 (34,28%) pacientes, seguida da faixa etária entre 11 e 20 anos de idade, representada por 83 (23,51%) pacientes (Fig. 2), e um menor acometimento associado à faixa etária entre 0 e 10 anos, apresentada por 8 (2,26%) pacientes, seguida da faixa etária acima de 60 anos, a qual foi formada por uma amostra de 14 (3,97%) pacientes.

Figura 1: Distribuição percentual dos pacientes quanto ao gênero.

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Figura 2: Distribuição percentual de pacientes por faixa etária.

Figura 3: Distribuição percentual de pacientes quanto à etiologia.

Figura 4: Distribuição percentual de pacientes por topografia envolvida.

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DISCUSSÃO O trauma é um dos principais problemas públicos de saúde em todos os países, independentemente do desenvolvimento socioeconômico, e corresponde à terceira maior causa de mortalidade no mundo, antecedido apenas por neoplasias e doenças cardiovasculares13. O osso mandibular é o único osso móvel da face e é de suma importância para atividades funcionais como mastigação, fonação, deglutição e manutenção da oclusão dentária, além de contribuir para a estética facial. Mesmo que seja um osso com alta densidade, a mandíbula está propensa a fraturas, por ser um arco aberto, localizado na região inferior da face, relacionado a mecanismos hiperextensivos e hiperflexivos da cabeça em acidentes de trânsito e por atrofiar-se com a idade4. As fraturas mandibulares correspondem à maioria das fraturas encontradas no esqueleto facial e podem estar relacionadas a fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais13,14,15. Os resultados do presente estudo de pa­cientes com fraturas mandibulares que foram tra­tados no Conjunto Hospitalar do Mandaqui, SP, estão, em grande parte, de acordo com a literatura abordada. No que diz respeito à variável gênero, a proporção homens/mulheres foi de 8:2, assemelhando-se aos dados literários, nos quais essa proporção varia de 3:1 até 5:111, devido ao homem se expor em maior quantidade aos fatores etiológicos associados ao traumatismo. No estudo feito por Mayrink et al.15, utilizou-se uma amostra quantitativa semelhante à empregada nesse estudo e obteve-se uma relação homens/mulheres semelhante. Em regiões onde a mulher apresenta uma menor participação social, como no Oriente Médio, essa proporção atinge até 11:14; porém, tem sido relatado em alguns trabalhos um aumento do número de mulheres apresentando esse padrão de fratura, já que verificou-se a maior participação das mulheres em atividades extradomiciliares, o maior envolvimento delas na prática de atividades físicas, condução de veículos e o aumento da violência urbana13. Com relação à faixa etária, a literatura aponta a faixa etária de 21-30 anos como a mais acometida por esse trauma, o que está em conformidade com o presente estudo e pode ser justificado por ser uma faixa de idade economicamente ativa e, logo, mais suscetível11,12,16. Os idosos e crianças são pouco atingidos, devido ao fato de ficarem a maior parte do tempo em suas casas e acompanhados por cuidadores ou responsáveis13. De acordo com alguns autores7,14,17, o ângulo mandibular é a região anatômica mais afetada, o que confirma os achados compreendidos e apresentados neste levan-

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tamento epidemiológico. Porém, outros autores relatam o corpo mandibular10,18, região de sín­fise/parassínfise9,11 e côndilo19. Portanto, a topografia não é unânime e sofre variabilidade conforme a região. Muitos estudos apontam os acidentes de trân­ sito como a principal causa de fraturas mandibulares12,13,16,20, já que o Brasil encontra-se em quinto lugar no que diz respeito aos acidentes de trânsito, sendo antecedido pela Índia, China, Estados Unidos e Rússia15, o que realmente tem sido reafirmado e apresentado pelo presente estudo como a causa principal. Além disso, um outro dado apontado por outros autores e que merece destaque é que o constante aumento da população nacional, principalmente em grandes centros urbanos, associado à desigualdade social e aos níveis de estresse atuais, estão relacionados ao aumento de agressões físicas entre as pessoas, assumindo um papel importante na etiologia do traumatismo facial11,21-24, sendo encontrado no presente levantamento como a segunda causa mais comum, com discreta diferença para a primeira, assim como é observado no estudo recente delineado por Mayrink et al.15 Portanto, com os dados obtidos nesse levantamento, é possível, por meio da avaliação dos fatores etiológicos mais relacionados ao trauma, a criação de políticas ou abordagens para resolução ou redução desse problema, principalmente no que diz respeito ao impacto dos acidentes de trânsito e agressões físicas. CONCLUSÃO As fraturas de mandíbula ocorrem em pessoas de todas as faixas etárias e gêneros, em grande variedade de contextos sociais. A etiologia, muitas vezes, reflete as mudanças nos padrões do trauma facial ao longo dos anos. Presume-se que tais levantamentos epidemiológicos, como o apresentado aqui, sejam úteis para os agentes fiscalizadores governamentais e profissionais de saúde envolvidos no planejamento de futuros programas de prevenção e tratamento. A análise dos resultados desse estudo permitiu que concluíssemos que na amostra observada: » A idade média variou de 21 a 30 anos. » O gênero mais acometido foi o masculino, correspondendo a 84,42% da amostra. » A etiologia mais prevalente foi o acidente automobilístico. » A região anatômica mais afetada foi o ângulo mandibular (26,72%).

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ABSTRACT Prevalence of mandibular fractures of a tertiary hospital, reference in trauma of São Paulo Introduction: The mandibular region presents a high rate of involvement in facial trauma, generating functional and aesthetic damages. Objectives: The aim of this study is to outline the profile of patients with mandibular fractures treated at the Conjunto Hospitalar do Mandaqui, focusing on its etiology, age/sex ratio and anatomic region affected. Method: An epidemiological survey of patients diagnosed with mandibular fractures attended at the Conjunto Hospitalar do Mandaqui from January 2011 to January 2019 through the analysis of medical records and imaging tests. Results: From the 434 patients with maxillofacial trauma

treated during the study period, 353 (81%) presented mandibular fracture with characteristics for inclusion in the study. The age group ranged from 2 to 78 years, male/female ratio was approximately 8:2. The main etiologies were traffic accidents (36.64%), aggressions (33.99%) and falls (15.58%). The most affected anatomic regions were the mandibular angle (26.72%), the mandibular body (24.22%) and the mandibular head (17.12%), and the coronoid process region was the least affected (0.42%). Conclusion: The prevalence and causes of mandibular fractures reflect the pattern of facial trauma of a population, and may help in the development of preventive measures, mainly to improve public policies for traffic safety and crime control. Keywords: Epidemiology. Mandibular fractures. Traumatology.

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CasoClínico

Remoção de sialolito do ducto de Wharton por meio de eletrocirurgia:

relato de caso

RODRIGO SOUZA CAPATTI1 | LUCAS RODARTE ABREU ARAÚJO1 | MARCELA SILVA BARBOZA1

RESUMO A sialolitíase representa 30% das morbidades em glândulas salivares. Caracterizada pela interrupção do fluxo salivar normal, devido à formação de estruturas calcificadas ao longo do ducto ou no parênquima glandular, essa condição, muitas vezes subdiagnosticada, pode levar à dor, edema e infecção da região afetada. Os métodos de tratamento citados na literatura são baseados nas características da lesão e podem variar entre cirúrgicos e conservadores. O presente estudo apresenta um relato de caso da utilização de eletrocirurgia para tratamento da sialolitíase em glândula submandibular com eliminação imediata dos sinais e sintomas relatados pelo paciente e ausência de complicações pós-operatórias. A cirurgia apresentou pós-operatório e cicatrização satisfatórios; não houve queixas por parte da paciente, que evoluiu sem sintomatologia durante o período de acompanhamento. A remoção de sialolitos intrabucais por meio de eletrocirurgia apresentou, nesse caso, controle da hemorragia trans e pós-operatória e baixa morbidade. Palavras-chave: Cirurgia bucal. Anormalidades maxilomandibulares. Cálculos dos ductos salivares.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Departamento de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil).

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Como citar este artigo: Capatti RS, Araújo LRA, Barboza MS. Removal of sialolite in Wharton’s duct by electrosurgery: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):40-4. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.040-044.oar Enviado em: 06/03/2018 - Revisado e aceito: 06/08/2018 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Lucas Rodarte Abreu Araújo Rua Lassance Cunha, 260, sala 04, Centro – Sete Lagoas/MG CEP: 35.700-006 – E-mail: lucasrodarte@hotmail.com

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INTRODUÇÃO A sialolitíase é a doença das glândulas salivares mais comum em adultos1, caracterizada pela formação de estruturas calcificadas no interior do ducto das glândulas ou no seu parênquima, denominadas cálculos salivares ou sialolitos. Entre as doenças que acometem as glândulas salivares, pode-se referir que a sialolitíase representa cerca de 30% dos casos2. A etiologia do sialolito pode ser dividida em dois grandes grupos: retenção salivar devido à conformação morfológica dos ductos glandulares; e composição da própria saliva, como pH e aumento da concentração de cálcio3-5. Ocorre numa frequência de 12 a cada 1000 indivíduos, principalmente adultos (raramente ocorre em crianças), não há predileção por raça e é mais comum em pessoas do sexo masculino6. De uma forma geral, os sialolitos medem de 5 a 10 mm em seu maior diâmetro; todavia, vários estudos relatam cálculos maiores, com até 56 mm7. Quando atingem dimensões maiores que 10 mm, são considerados raros e classificados como cálculos gigantes8. Entre as localizações mais comuns do sialolito, podemos citar que a glândula submandibular representa de 83% a 94% dos casos, seguida pela glândula parótida (4% a 10%) e sublingual (1% a 7%), raramente atingindo glândulas salivares menores9, 10. As frequências dessas localizações são explicadas por alguns autores devido às características anatômicas da glândula submandibular: ducto tortuoso, longo e ascendente11, e posicionamento dessa em relação ao seu canal excretor, além da viscosidade da saliva produzida12. Os cálculos são massas rígidas, de forma variada, coloração amarela e, geralmente, encontram-se solitários na região atingida6. Os sintomas podem ser relatados como aumento de volume, dor e inchaço na região glandular afetada; porém, a sialolitíase pode permanecer assintomática em muitos casos, diagnosticada durante exame de rotina10. Nos casos de obstrução total do fluxo salivar, o paciente pode relatar dor constante e eventual drenagem purulenta na região13. O diagnóstico é, muitas vezes, definido por meio dos exames de imagem, como radiografias panorâmicas e oclusais — exames mais comumente utilizados —, nos quais o sialolito apresenta-se como imagem radiopaca nas áreas das glândulas afetadas6. O tratamento adequado depende da glândula afetada, localização e tamanho do cálculo, podendo variar entre abordagens conservadoras — tais como hidratação do paciente, ordenha e massagem da glândula com gotas de fruta

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ácida (limão) — e condutas cirúrgicas, reservadas para cálculos maiores e localizados no parênquima da glândula14,15. Além disso, o uso de eletrocirurgia é uma alternativa eficaz quando comparada a outros métodos de incisão, em relação à hemostasia e morbidade do procedimento cirúrgico17. Assim, o objetivo do presente trabalho é relatar um caso de sialolitíase em glândula submandibular removido por meio de eletrocirurgia conservadora, além de discutir a literatura pertinente sobre o assunto. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, feoderma, 25 anos, compareceu a uma clínica particular com queixa de “aumento de volume embaixo da língua e dor ao engolir”. Na anamnese, não relatou qualquer alteração sistêmica, nem qualquer hábito deletério. Ao exame clínico, foi observado edema na região sublingual direita (Fig. 1A), também percebido por visualização extrabucal. Durante a palpação, notava-se consistência rígida, interrupção do fluxo salivar e sintomatologia dolorosa. A paciente relatou ter realizado pulpotomia no elemento #47 há aproximadamente 5 anos (não soube relatar o momento exato) e, portanto, suspeitava-se de complicações endodônticas. Foi realizado teste de sensibilidade pulpar, no qual não foram percebidas alterações, sendo descartada a associação endodôntica. Não foi observada nenhuma outra alteração clínica que pudesse estar associada. Ainda na primeira consulta, a paciente já possuía uma radiografia panorâmica, por meio da qual se confirmou a ausência de outras alterações e a presença de área radiopaca do elemento #42 ao #44 (Fig. 1B). Foi solicitada radiografia oclusal de mandíbula, onde observou-se a presença de corpo radiopaco na região ductal, permitindo o diagnóstico conclusivo de sialolitíase do ducto de Wharton (Fig. 1C). O tratamento escolhido foi a remoção por eletrocirurgia. Após anestesia local, foi identificada a posição do sialolito por palpação e realizada uma transfixação tecidual com fio de sutura de nylon (4-0) em posição imediatamente posterior ao corpo estranho, com objetivo de impedir que esse pudesse penetrar mais profundamente no ducto, em direção à glândula, durante o procedimento. Foi feita uma incisão paralela ao ducto, com aproximadamente 15 mm, próxima à carúncula sublingual esquerda, com eletrobisturi, utilizando eletrodo tipo faca reta pequena, de 67 mm (BP-100 Plus, Transmai, São Paulo, Brasil) (Fig. 2A). Após pequena divulsão dos tecidos, utilizando eletrodo do tipo bola de 2,1 mm acoplado ao mesmo eletrobisturi, o sialolito

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Remoção de sialolito do ducto de Wharton por meio de eletrocirurgia: relato de caso

adotado foi antibioticoterapia preventiva (Amoxicilina 1g), analgésico (Dipirona Sódica 500mg) e bochecho com digluconato de clorexidina 0,12%. A sutura foi removida com 10 dias, apresentando boa cicatrização local e regularização do fluxo salivar (Fig. 3B).

foi localizado e removido, medindo aproximadamente 12 x 5 mm (Fig. 2B). O ducto foi irrigado com soro fisiológico e, então, uma sutura simples foi realizada unindo as bordas epiteliais, sem colabar o ducto e mantendo o óstio desobstruído (Fig. 3A). O protocolo medicamentoso

A

B

C

Figura 1: A) Imagem clínica intrabucal inicial do assoalho bucal, evidenciando o aspecto da mucosa pré-operatória. B) Radiografia panorâmica evidenciando imagem radiopaca próxima à região dos elementos #43 e #44, sugestiva de sialolito. C) Radiografia oclusal evidenciando imagem radiopaca à lingual dos elementos #44 e #45, sugestiva de sialolito.

A

B

Figura 2: A) Imagem clínica intrabucal do assoalho bucal, evidenciando o aspecto da mucosa e do sialolito após a incisão e divulsão dos tecidos com eletrobisturi. B) Imagem do sialolito após sua remoção, evidenciando suas dimensões.

A

B

Figura 3: A) Imagem clínica final intrabucal do assoalho bucal, evidenciando o aspecto da mucosa no pós-operatório imediato. B) Imagem clínica final intrabucal do assoalho bucal, evidenciando o aspecto da mucosa no pós-operatório após 10 dias.

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DISCUSSÃO Entre as doenças das glândulas salivares, a sialolitíase representa 30% dos casos2. A frequência de 12 a cada 1000 indivíduos6 sugere que tal morbidade esteja presente na clínica diária do cirurgião-dentista, muitas vezes não diagnosticada pelo profissional. A maioria dos sialolitos é diagnosticada em homens adultos; todavia, o caso em questão foi observado em uma paciente do sexo feminino. Essa predileção por sexo não é marcante quanto à idade do paciente, visto que raramente ocorre em crianças1. De acordo com Arunkumar et al.8, sialolitos maiores que 10 mm são considerados gigantes, embora possam variar entre 5 e 56 mm7. Os sintomas como aumento de volume, dor e inchaço na região glandular afetada podem estar relacionados ao próprio tamanho da lesão e sua capacidade de obstruir o fluxo salivar da região, ao passo que cálculos menores podem permanecer assintomáticos por longos períodos, sendo diagnosticados somente em exames de rotina10. A paciente em questão apresentou queixas de discreto aumento de volume e dor em região sublingual, o que justificou a realização de exames complementares para definição do diagnóstico. Apesar de o melhor método para localização precisa dos sialolitos ser a tomografia computadorizada de feixe cônico, os exames de imagens mais comumente utilizados para diagnóstico desse tipo de alteração são as radiografias oclusais e panorâmicas6. A intenção em solicitar ambos os exames se justifica na necessidade de tratamento clínico e avaliação geral dos maxilares (radiografia panorâmica), além do diagnóstico da possível alteração glandular na região sublingual ou submandibular (radiografia oclusal). O acometimento da glândula submandibular ocorre em 83 a 94% dos casos de sialolitíase9-11, fato que vai de acordo com nosso relato. A definição pelo melhor tratamento da sialolitíase depende das características da lesão: tamanho, localização (parênquima glandular ou ducto) e glândula afetada. Tratamentos conservadores, como massagem da glândula, hidratação, uso de sialogogos e calor úmido são reservados para sialolitos menores, resultando numa expulsão espontânea do cálculo9. De acordo com o que foi citado no caso, os cuidados em relação à dissecção do ducto e suturas são essenciais para evitar complicações pós-cirúrgicas, como estenose e fibrose na área do ducto, além da formação de regiões de retenção de saliva16.

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O tratamento cirúrgico proposto justifica-se pelo tamanho da lesão e aumento de volume observado durante o exame clínico14, 15, assim como a antibioticoterapia preventiva, que foi administrada devido à presença de exsudado purulento no momento do exame13. A utilização do bisturi elétrico, em comparação com outros métodos de incisão, apresenta melhor performance em relação à hemostasia da região operada17, o que melhora a visualização do campo e, consequentemente, o acesso à região operada. Desde 1914, a Medicina utiliza esse método, com o objetivo de incisar ou promover hemostasia dos tecidos; além disso, os pacientes experimentam mínima ou nenhuma morbidade cirúrgica pós-operatória18. A eletrocirurgia tem aplicação em inúmeras técnicas na Odontologia, apesar de ser pouco utilizada. Usuários regulares sabem, por experiência, que aplicada de acordo com os princípios, é possível obter cicatrização satisfatória e previsível das feridas19. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme descrito na literatura, existem vários métodos propostos para o tratamento desse tipo de lesão. A remoção cirúrgica por meio de eletrocirurgia é uma alternativa eficaz, cujos resultados são a eliminação dos sinais e sintomas e restabelecimento da função normal da glândula afetada. ABSTRACT Removal of sialolite in Wharton’s duct by electrosurgery: case report Sialolithiasis accounts for 30% of salivary gland morbidity. Characterized by the interruption of normal salivary flow due to the formation of calcified structures along the duct or in the glandular parenchyma, this condition, often underdiagnosed, can lead to pain, edema and infection of the affected region. The treatment methods cited in the literature are based on the characteristics of the lesion and vary between surgical and conservative. The present study presents a case report of the use of electrosurgery for the treatment of sialolithiasis in submandibular gland with immediate elimination of signs and symptoms reported by the patient, and absence of postoperative complications. Postoperative surgery and healing were satisfactory; there were no complaints on the part of the patient, which evolved without symptomatology during the follow-up period. The removal of intra-oral sialoliths using electrosurgery showed control of trans and postoperative hemorrhage and low morbidity. Keywords: Oral surgical procedures. Maxillofacial abnormalities. Salivary duct calculi.

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Remoção de sialolito do ducto de Wharton por meio de eletrocirurgia: relato de caso

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CasoClínico

Tratamento conservador de ameloblastoma em mandíbula:

relato de caso

CAMILA LOPES GONÇALVES1 | FELIPE EDUARDO BAIRES CAMPOS1 | LUIZ FELIPE CARDOSO LEHMAN1 | ROBERTA RAYRA MARTINS CHAVES2 | FLÁVIA LEITE LIMA1 | WAGNER HENRIQUES DE CASTRO1

RESUMO Os ameloblastomas são neoplasias odontogênicas benignas de crescimento lento, localmente invasivas, que podem atingir proporções variadas de acordo com o seu tempo de evolução. O tratamento desses tumores é motivo de controvérsia entre os cirurgiões. O presente artigo relata o caso de um paciente acometido por ameloblastoma em mandíbula, que foi tratado através de ressecção com margem de segurança conservadora e terapias coadjuvantes. Após quatro anos de acompanhamento sem recidiva, foi realizada a reconstrução do defeito cirúrgico com enxerto livre autógeno de crista ilíaca e reabilitação dentária através de prótese implantossuportada. Após nove anos de acompanhamento, o paciente encontrava-se sem sinais de recidiva e sem alterações estéticas ou funcionais no sítio do tumor. Palavras-chave: Ameloblastoma. Reconstrução mandibular. Reabilitação bucal. Tratamento conservador.

Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital das Clínicas (Belo Horizonte/MG, Brasil).

1

Como citar este artigo: Gonçalves CL, Campos FEB, Lehman LFC, Chaves RRM, Lima FL, Castro WH. Conservative treatment of ameloblastoma in mandible: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):45-50. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.045-050.oar

Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Mestrado em Estomatologia (Belo Horizonte/MG, Brasil).

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Enviado em: 20/03/2018 - Revisado e aceito: 03/09/2018 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Camila Lopes Gonçalves Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 607, apto. 702, Centro – Vitória/ES CEP: 29.010-330 – E-mail: camila_clg@hotmail.com

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Tratamento conservador de ameloblastoma em mandíbula: relato de caso

INTRODUÇÃO O ameloblastoma (AM) é uma neoplasia odontogênica epitelial benigna, de crescimento lento e localmente invasivo. A sua localização mais comum é na mandíbula, principalmente nas regiões de corpo e ramo. O AM não possui predileção por sexo e acomete pacientes de diversas faixas etárias, com um pico de prevalência na terceira e quarta décadas de vidas, sendo incomum em indivíduos com menos de 19 anos¹. Geralmente, o AM apresenta-se clinicamente como um aumento de volume indolor, resultante da expansão ou destruição dos ossos gnáticos¹. A proporção da assimetria facial causada pela lesão está relacionada ao tempo de evolução da neoplasia¹. Ao exame radiográfico ou tomográfico, o AM geralmente exibe uma imagem osteolítica unilocular ou multilocular, margeada por um halo radiopaco ou hiperdenso, além de uma expansão do osso cortical. Algumas vezes, observam-se dentes inclusos, deslocamento e/ou reabsorção das raízes dentárias associados ao tumor². Os padrões histopatológicos mais frequentes dos AMs são o folicular e o plexiforme². Outros padrões, como o acantomatoso, de células granulosas, de células basais e desmoplásico, embora raros, podem também ser observados. A histopatologia do ameloblastoma consiste basicamente na proliferação de células epiteliais que se dispõem em padrões variáveis, que, por vezes, se fazem presentes no mesmo tumor. O tratamento dos AMs é controverso. Devido à sua agressividade comportamental e à alta propensão à recidiva, o tratamento clássico é a ressecção do tumor com uma margem de segurança em tecidos normais. Contudo, abordagens terapêuticas mais conservadoras — incluindo a enucleação³, curetagem¹, marsupialização4 ou uma ressecção com margens de segurança menores — têm sido propostas, especialmente associadas a terapias coadjuvantes, como a cauterização química (solução de Carnoy)5, ostectomia periférica1 e a crioterapia (nitrogênio líquido)1,4. Assim, o objetivo do presente artigo é discutir a possibilidade de tratamento conservador dos ameloblastomas, por meio da apresentação do caso clínico de um paciente acometido pelo tumor na mandíbula, tratado por meio de ressecção da lesão com uma margem de segurança mínima e reabilitação oral, com enxerto ósseo e prótese dentária implantossuportada, e que após 9 anos de acompanhamento não apresentou sinais de recidiva da neoplasia. O paciente assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com as normas da Resolução nº 466 do Conselho

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Nacional de Saúde, de 12/12/2012, cedendo suas imagens para fins de publicação em revistas científicas. RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino, 22 anos de idade, procurou o Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, para avaliação de lesão assintomática em mandíbula. Ele relatou ausência de sintomatologia álgica, parestesia, hipoestesia ou disestesia, e não apresentava comorbidades. Ao exame físico extrabucal e intrabucal, não foram detectadas alterações dignas de nota (Fig. 1A). Entretanto, o exame tomográfico revelou extensa imagem hipodensa na região de sínfise e corpo esquerdo de mandíbula, multiloculada, com aspecto de destruição e expansão óssea, e associada aos dentes 31, 32, 33, 34, 35 e 41 (Fig. 1B). Uma biópsia incisional confirmou a hipótese diagnóstica de AM convencional (Fig. 1C). Por meio de um acesso cirúrgico intrabucal e sob anestesia geral, o tumor foi removido através de uma ressecção marginal mínima da mandíbula, com margem de segurança óssea variando entre 5 e 10 mm, preservando a borda inferior mandibular, e exodontia dos elementos associados, além do dente 42 (Fig. 1D). Terapias coadjuvantes, como ostectomia periférica em toda extensão da lesão e aplicação de solução de Carnoy (3ml de clorofórmio, 6ml de álcool absoluto, 1ml de ácido glacial acético e 1g de clorito férrico), durante 5 minutos, foram realizadas em toda loja cirúrgica. Após um período de 4 anos de controle pós-operatório, com consultas trimestrais no primeiro ano, semestrais no segundo, e anuais a partir do terceiro ano, não foram observados, em exames clínicos e de imagem, sinais de recidiva da lesão. O paciente foi, então, submetido a um procedimento de reconstrução mandibular, que consistiu na colocação, por meio de um acesso cirúrgico extrabucal (submentoniano), de um enxerto livre autógeno de crista ilíaca, fixado com placas de titânio do sistema 2.0 (Fig. 2). Transcorridos cinco meses da enxertia, a região foi reabilitada por meio de uma prótese dentária implantossuportada, utilizando-se quatro implantes: três implantes plataforma Cone Morse de 3,75 mm de diâmetro por 13 mm de comprimento, na área enxertada; e um implante na posição de molares, plataforma Cone Morse, de 5 mm de diâmetro e 11 mm de comprimento (Fig. 3A e 3B). Após nove anos da cirurgia para a ressecção tumoral, observou-se ausência de sinais de recidiva e o paciente encontrava-se satisfeito com o resultado do tratamento (Fig. 3B e 3C).

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Figura 1: A) Aspecto intrabucal pré-operatório, evidenciando aspecto de normalidade. B) Tomografia computadorizada mostrando uma imagem hipodensa, bem delimitada, multilocular, em região de sínfise e corpo esquerdo de mandíbula. C) Lesão composta por ninhos e cordões de células epiteliais odontogênicas com padrão de crescimento sólido. Individualmente, as células epiteliais, na periferia, eram colunares, hipercromáticas, dispostas em paliçada e semelhantes a ameloblastos. Na porção central, as células tinham disposição frouxa, semelhante ao retículo estrelado do órgão do esmalte. Nota-se, em áreas focais, degeneração cística. O estroma foi representado por tecido conjuntivo fibroso e pouco vascularizado. D) Ressecção marginal da mandíbula, com preservação do osso basilar.

Figura 2: Reconstrução do defeito cirúrgico com enxerto livre e autógeno de crista ilíaca, 4 anos após a ressecção do tumor.

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Tratamento conservador de ameloblastoma em mandíbula: relato de caso

DISCUSSÃO Em 2017, a classificação dos AMs foi revista e simplificada pela Organização Mundial da Saúde. Esses tumores foram divididos em ameloblastoma, ameloblastoma unicístico e ameloblastoma extraósseo/periférico. O adjetivo “sólido/multicístico” para o ameloblastoma convencional foi descartado por não ter significado biológico e poder levar à confusão com o ameloblastoma unicístico. O ameloblastoma desmoplásico foi reclassificado como um subtipo histológico, e não como uma entidade clínico-patológica6. O tratamento dos AMs varia entre formas mais radicais — tal como a ressecção do tumor, juntamente com uma significativa quantidade de tecido normal, utilizada como margem de segurança — até abordagens mais conservadoras, que incluem a enucleação, a curetagem, a marsupialização (AM unicístico) e a ressecção com uma margem de segurança mínima. No presente caso, optou-se por uma abordagem conservadora, associada a terapias coadjuvantes, levando-se em consideração a localização anatômica do tumor, tipo histológico, tamanho, aspectos clínicos e desejo do paciente após esclarecimento das opções de tratamento possíveis. A literatura revela um risco 3,15 vezes maior de recidiva, quando os AMs são tratados de forma conservadora. A taxa de recidiva dos AMs varia entre 55 e 90% após tratamentos considerados conservadores e entre 15 e 25% após os tratamentos mais radicais1. Entretanto, entendemos que em casos selecionados em lesões localizadas na mandíbula, que aparentemente respeitam a cortical óssea basilar, deve-se oferecer um tratamento mais conservador ao paciente, mantendo-o sob rigoroso acompanhamento periódico. Considerando-se a agressividade local e a alta propensão à recidiva do AM, o seu tratamento clássico, preconizado na literatura, é a ressecção radical da neoplasia, com uma margem de segurança. Essa margem de segurança é prescrita de forma variada, segundo os diversos autores. Gortzak et al.3 propõem uma margem de segurança de 1 cm de osso aparentemente saudável, Gardner et al.7 sugeriram uma ressecção marginal com 1,5 cm de osso mandibular aparentemente não comprometido pelo tumor, e a remoção de uma margem de tecidos moles nos casos de tumores com expansão cortical ou basilar. Williams8 propôs uma ressecção com 2 cm de margem de

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Figura 3: A) Aspecto intrabucal após reabilitação com implantes. B) Tomografia computadorizada mostrando implantes instalados e ausência de recidiva, após nove anos da ressecção do tumor. C) Corte axial mandibular nove anos após ressecção do tumor, evidenciando ausência de recidiva.

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da mandíbula. Esses achados respaldam a opção terapêutica para o presente caso clínico. Portanto, durante a cirurgia, a manutenção da porção basilar da mandíbula, quando ela não estiver envolvida pelo tumor, é mandatória. A preservação do contorno mandibular é essencial para assegurar a simetria facial e facilitar a reabilitação dentária do paciente. O AM não muda o seu comportamento biológico e não existem evidências científicas de que a recidiva torne mais difícil o seu tratamento1. É um tumor com forte afinidade pelo osso e raramente migra para os tecidos moles, geralmente respeitando o periósteo como uma barreira. Devido a essa sua natureza benigna, alguns cirurgiões acreditam que o tratamento inicial do AM deva sempre ser conservador, com o tratamento radical sendo reservado para as recidivas1. Mesmo a recidiva, quando ocorre, inicialmente é pequena, discreta e localizada, o que facilita o tratamento adicional, quando diagnosticada precocemente5. Sendo assim, enfatizamos que o acompanhamento pós-operatório dos pacientes tratados de AM é imperioso e deve ser tão longo quanto possível, independentemente da modalidade de tratamento empregado. Nos casos de AMs em maxila, a ressecção com margem de segurança torna-se a melhor indicação de tratamento pois, nesse osso, esses tumores tornam-se perigosos e mais difíceis de serem tratados, devido ao osso esponjoso, à proximidade com a órbita, fossa nasal, espaço pterigomaxilar e fossa infratemporal. Além disso, uma recidiva pode escapar entre as passagens do labirinto ósseo do etmoide e reaparecer na base do crânio1, 5. Variações nas técnicas de tratamentos dos ameloblastomas são observadas, em virtude do melhor benefício para os pacientes. Antes da tomada de decisão quanto ao tratamento do ameloblastoma, fatores como a apresentação clínica e histopatológica do tumor, o tamanho da lesão, o sítio anatômico envolvido, a idade do paciente, a taxa e condição de recidiva prevista, além de possíveis impactos físicos, funcionais e psicológicos, devem ser consideradas pelo cirurgião10. Fica claro que são muitas as variáveis na escolha do tratamento ideal para os AMs, o que justifica a grande controvérsia sobre o tema na literatura. O caso relatado demonstra que, quando bem indicado, o tratamento conservador, associado a terapias coadjuvantes, o acompanhamento em longo prazo e a reabilitação dentária adequada, podem assegurar ao paciente, além da cura da doença, uma melhor qualidade de vida pós-tratamento.

osso normal e uma adequada margem de tecidos moles livres de tumor, estabelecidas através da biópsia de congelação. Outros autores recomendam margens ósseas ainda maiores que 2 cm, para uma ressecção apropriada9. Nos casos de AMs, formas mais conservadoras de tratamento devem ser consideradas, particularmente quando terapias coadjuvantes como ostectomia periférica, crioterapia e cauterização química (solução de Carnoy) podem ser disponibilizadas. No caso clínico apresentado, a área de ressecção marginal da mandíbula foi delineada de forma a envolver todo o osso acometido pelo tumor, a partir da observação de uma tomografia computadorizada recente. Os limites laterais da ressecção, na faixa de osso alveolar, variaram entre 5 e 10 mm. Entretanto, não se avançou para o osso basilar, além dos limites do tumor. O dente 42, apesar de não estar associado à neoplasia, foi removido como margem de segurança. Até porque o seu alvéolo seria incluído na área de ostectomia periférica. A ostectomia periférica foi realizada em todo o sítio cirúrgico, notadamente na porção basilar da mandíbula, após a remoção da neoplasia. Finalmente, a cauterização química foi processada, no leito ósseo, utilizando solução de Carnoy durante 5 minutos. Evidências científicas sugerem que alguns protocolos de tratamento dos AMs devam ser revisados3. Autores que estudaram o padrão de crescimento de grandes AMs em mandíbula observaram a presença de células tumorais no osso medular, a uma distância máxima de 5mm da massa tumoral. Perceberam, também, a expansão e invasão da cortical óssea pela lesão. A camada mucoperiosteal foi acometida, mas não perfurada, com o periósteo aparentemente funcionando como uma espécie de barreira efetiva contra o tumor. Não foi observada a presença de neoplasia no nervo alveolar inferior e nos tecidos moles acima do periósteo. Finalmente, os autores do presente trabalho sugeriram uma margem de segurança de 1 cm, a ser observada a partir da radiografia do tumor3. Especialmente nos casos de AMs, entendemos que a cirurgia curativa seja a prioridade dentro do tratamento do paciente. Contudo, devemos ponderar sobre as sequelas funcionais, estéticas e psicológicas que podem advir de um tratamento mais agressivo, e sobre a alta morbidade e complexidade das cirurgias reconstrutivas. Almeida et al.1, em um estudo de meta-análise, não observaram diferença estatística significativa em relação às taxas de recidiva entre a ressecção marginal com preservação da continuidade óssea e a ressecção segmentar

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Tratamento conservador de ameloblastoma em mandíbula: relato de caso

ABSTRACT Conservative treatment of ameloblastoma in mandible: case report Ameloblastomas are slow-growing benign odontogenic tumors, locally invasive, that can reach varied proportions according to the time of evolution. The treatment of ameloblastomas has been controversial among surgeons. A patient with ameloblastoma in the mandible, treated by resection with conservative safety margin and of adjuvant therapies. After 4 years of follow-up without recurrence, the surgical defect reconstruction was performed by means of autogenous free graft from iliac crest and implant-supported dental prosthesis. After 9 years of follow up, the patient has no signs of recurrence and no esthetic and functional changes. Keywords: Ameloblastoma. Mandibular reconstruction. Mouth rehabilitation. Conservative treatment.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Para o tratamento do ameloblastoma convencional em mandíbula, o cirurgião deve considerar a realização da mais conservadora cirurgia curativa, especialmente quando terapias coadjuvantes podem ser empregadas. A cura do paciente com o menor transtorno funcional, estético e psicológico deve nortear a escolha terapêutica. Agradecimentos Agradecemos ao professor Ricardo Alves Mesquita, pela ajuda na documentação do caso.

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CasoClínico

Mioeptelioma de glândula salivar menor em palato:

relato de caso

RAFAEL SARAIVA TORRES1 | JOEL MOTTA JUNIOR1 | MARCELO VINICIUS DE OLIVEIRA1 | VALBER BARBOSA MARTINS1 | GUSTAVO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE1

RESUMO Os mioepiteliomas são tumores raros que representam 1% dos tumores de glândulas salivares. Geralmente benigno, a glândula parótida é o local mais comum do tumor, seguido do palato e da glândula submandibular. Não há predomínio entre os sexos e a idade média é de 62 anos. Apresenta-se como uma massa de crescimento lento, geralmente encapsulado, indolor, o que leva a um atraso no diagnóstico. Sua variante maligna, ainda mais rara, caracteriza-se por invasão e destruição local, raramente sofrendo metástase. O objetivo do presente estudo é relatar um caso de mioepitelioma no palato de uma paciente do sexo feminino, apresentando um aumento de volume na região posterior do palato com evolução de 15 dias, de aproximadamente 2,5 cm em seu maior diâmetro, séssil, indolor, de consistência resiliente à palpação, apresentando mucosa de revestimento sem alteração e hipótese diagnóstica de adenoma pleomórfico. Realizou-se, em ambiente ambulatorial, a biópsia excisional da lesão, que apresentou aspecto transcirúrgico de múltiplas bolhas. A análise histopatológica chegou ao diagnóstico de mioepitelioma e não foi observada recidiva após dois anos. O mioepitelioma benigno é um tumor raro que, se tratado de forma correta, através da excisão cirúrgica, apresenta recidiva mínima. Palavras-chave: Mioepitelioma. Palato. Neoplasias bucais.

Universidade do Estado do Amazonas, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Manaus/AM, Brasil).

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Como citar este artigo: Torres RS, Motta Junior J, Oliveira MV, Martins VB, Albuquerque GC. Benign myoepithelioma of salivary gland in palate: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):51-5. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.051-055.oar Enviado em: 22/03/2018 - Revisado e aceito: 02/09/2018 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Rafael Saraiva Torres Rua Dom Jackson D. Rodrigues, 733, Residencial Arezzo, bl. 01, apt. 303 – Manaus/AM CEP: 69.085-833

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Mioeptelioma de glândula salivar menor em palato: relato de caso

INTRODUÇÃO O mioepitelioma foi descrito pela primeira vez em 19431,2. A maioria dos autores no passado o considerava como uma variante extrema do adenoma pleomórfico com predominância de diferenciação mioepitelial1. Porém, desde 1991, a OMS classificou o mioepitelioma como tumor distinto, uma vez que esses tumores eram relativamente mais agressivos do que o adenoma pleomórfico2. O mioepitelioma é um tumor muito raro, com menos de 100 casos relatados na literatura2. É uma neoplasia benigna de glândula salivar, mais comum em glândula parótida1-5, compreendendo menos de 7% dos tumores de glândula salivar. As glândulas salivares menores e glândulas submandibulares também podem ser acometidas,3 bem como palato duro e palato mole1. Existem muitas controvérsias quanto à classificação do mioepitelioma, porém ele pode ser dividido em benigno e maligno. A morfologia celular desse tumor é variada, com células em um padrão fusiforme, plasmocitoide, epitelioide ou clara2,3. Esses tumores ocorrem em qualquer faixa etária da primeira à oitava década de vida, com pico de incidência na terceira e quarta1-5. Apenas quatro casos foram relatados em faixa etária pediátrica, abaixo dos 12 anos de idade2. A lesão benigna mostra variado padrão de crescimento morfológico, podendo ser sólido, mixoide ou reticular, com diferenciação mioepitelial, diferindo do adenoma pleomórfico por não exibir componente ductal2. Clinicamente, apresenta-se como uma massa de crescimento lento, geralmente encapsulado, circunscrito, de 1 a 5cm em seu maior diâmetro, assintomático e normalmente sem predileção por sexo1,2,3,6. O mioepitelioma maligno também é uma patologia bastante rara, sendo responsável por menos de 2% dos carcinomas de glândulas salivares, e o sítio mais comum são as glândulas salivares maiores, em especial, a parótida. Porém, existem relatos de acometimento em palato duro7. A maioria dos casos acontece em adultos, principalmente em mulheres, com raras lesões em crianças tendo sido reportadas8. Mais de 50% das lesões originam-se de lesões pré-malignas: adenoma pleomórfico e mioepitelioma benigno. Caracteriza-se por invasão e destruição local, raramente sofrendo metástase7. A remoção cirúrgica total da lesão com uma margem de tecido normal não envolvido é a primeira escolha de tratamento para mioepiteliomas benignos.

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Os pacientes devem ser submetidos a exames regulares de acompanhamento, para descartar recidiva local. Embora o prognóstico dos mioepiteliomas benignos seja bastante favorável, quase 7% da transformação maligna tem sido relatada9,10. Assim, o objetivo do presente trabalho é relatar um caso de mioepitelioma benigno, tratado com excisão cirúrgica e com pós-operatório de dois anos, sem indícios de recidiva, de modo a alertar os profissionais quanto à responsabilidade do diagnóstico. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 31 anos de idade, melanoderma, compareceu ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial queixando-se de uma massa, localizada no palato, com evolução de 15 dias, e sem queixas álgicas. O paciente não relatou alterações sistêmicas ou alergias. Ao exame clínico intrabucal, foi observada uma lesão nodular, de consistência resiliente à palpação, apresentando mucosa de revestimento sem alteração, com aproximadamente 2,5 cm em seu maior diâmetro, precisamente na divisão entre o palato mole e palato duro (Fig. 1A). Foi solicitada uma tomografia computadorizada, na qual não foi observada qualquer alteração de estruturas ósseas adjacentes à lesão (Fig. 1B). De acordo com os dados clínicos da lesão, a hipótese diagnóstica prévia foi de adenoma pleomórfico. A remoção cirúrgica foi realizada em ambiente ambulatorial sob anestesia local. Foi realizada antissepsia intra e extrabucal e anestesia local com articaína 4% mais epinefrina 1:100:000. Realizou-se uma incisão linear na mucosa do palato, sobre a lesão, com lâmina de bisturi número 15, seguida de divulsão e dissecção até remoção completa da lesão, não envolvendo a mucosa sobrejacente. Durante a divulsão, a cápsula que revestia a lesão foi rompida e o aspecto macroscópico era semelhante a múltiplas glândulas. Uma margem de segurança de aproximadamente 5mm ao redor do local da lesão foi removida. Após a remoção, foi realizada sutura com fio reabsorvível Catgut (Fig. 2). A análise histológica mostrou múltiplos fragmentos de tecido conjuntivo denso, não modelado, exibindo aglomerados de células ovaladas, com citoplasma eosinofílico, em configuração morfológica plasmocitoide, interpretadas como células neoplásicas de origem mioepitelial compatível com mioepitelioma benigno. A paciente encontra-se pós-operatório de dois anos, não sendo observados sinais de recidiva (Fig. 3). 52

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B

A

Figura 1: A) Aspecto intrabucal, no qual pode-se observar lesão nodular na região entre palato mole e palato duro. As setas apontam os limites apresentados pela lesão. B) Tomografia computadorizada não evidenciando destruição óssea em palato ou estruturas adjacentes.

A

B

C

D

E

F

Figura 2: A) Incisão sobre a lesão. B) Divulsão da lesão após incisão. C) Remoção do tumor. D) Aspecto macroscópico (semelhante a múltiplas glândulas). E) Aspecto histopatológico (múltiplos fragmentos de tecido conjuntivo denso, não modelado, exibindo aglomerados de células ovaladas, com citoplasma eosinofílico, em configuração morfológica plasmocitoide). F) Fechamento do sítio cirúrgico com fio Catgut.

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Mioeptelioma de glândula salivar menor em palato: relato de caso

cápsula, porém delgada. A hipótese diagnóstica mais comum geralmente é o adenoma pleomórfico, como relato por Ostrosky et al.3 Padmaja et al.1, e coincidindo com a hipótese diagnóstica sugerida no caso. Silveira et al.2 afirmam em seu estudo que um aspecto de interesse sobre os mioepiteliomas está nas poucas informações sobre seu comportamento biológico, devido à sua baixa frequência. São neoplasias benignas com recidiva normalmente associada à exérese incompleta. Raramente são malignos; porém, sua transformação em carcinoma mioepitelial pode ocorrer em tumores com evolução longa ou em casos de múltiplas recidivas8. Devido a isso, muitas bibliografias consideram que ele é mais agressivo do que os adenomas pleomórficos1,2,6, enquanto outra pesquisa verificou não haver diferenças na atividade proliferativa entre mioepiteliomas e adenomas pleomórficos2. O mioepitelioma deve ser diferenciado de outros tumores de glândulas salivares, bem como de sua variante maligna e outros tumores de tecidos moles que imitam o mioepitelioma. Citologicamente, existem quatro tipos diferentes de mioepitelioma: células fusiformes, plasmocitoides, células claras e epitelioides. O padrão encontrado no presente relado trata da variante plasmocitoide. A excisão cirúrgica é o tratamento de eleição para o mioepitelioma, com todos os trabalhos pesquisados corroborando com esse procedimento. A taxa de recidiva é extremamente baixa se toda a lesão for removida. A paciente em questão encontra-se há dois anos sob acompanhamento e não se observam sinais de recidiva. Ostrosky et al.3 ainda afirmam que, devido à transformação maligna da patologia primária remanescente, ou devido a regiões que eram inicialmente malignas e que não foram incluídos na ressecção, deve-se, sempre que possível, remover esse tumor benigno com pelo menos uma pequena margem de segurança, se sua localização permitir. É de grande importância que tanto o cirurgião quanto o patologista tenham experiência com tumores de glândulas salivares, uma vez que, pela escassez de informações, a chance de diagnóstico errado, seguido de condutas erradas, pode acontecer e, por conseguinte, causar prejuízo, principalmente ao paciente. A literatura pesquisada correlaciona a falta de experiência do patologista e do cirurgião-dentista, e os erros durante o procedimento cirúrgicos como as maiores causas de diagnóstico errado dessa patologia3,10.

Figura 3: Aspecto pós-operatório de 24 meses.

DISCUSSÃO O mioepitelioma é um tumor raro, representando aproximadamente de 1,5% a 2% de todos os tumores das glândulas maiores e menores8, e acometendo principalmente e glândula parótida1,2,3,5,6, seguido por tumores em glândulas salivares menores localizadas, por exemplo, no palato2. Para alguns estudos, essa neoplasia se constitui em um tipo raro de adenoma pleomórfico9,10. Porém, de acordo com Simpson et al.10, ele se difere do adenoma pleomórfico por exibir pouco ou nenhum componente ductal. Existem poucos casos relatados na literatura, menos de 100, aproximadamente. Pode acontecer em uma ampla faixa etária, dos 9 aos 85 anos, com uma maior incidência na terceira década de vida8. No caso aqui relatado, a paciente se encontrava na quarta década de vida2,10. Surge de forma equivalente entre homens e mulheres; porém, estudos indicam acometimento maior no sexo masculino, o que contrasta com o relato supracitado2,3. Assim como no caso relatado, esses tumores se apresentam como lesões circunscritas, bem delimitadas, encapsuladas, de consistência resiliente, de crescimento lento e indolor8. Politi et al.9 afirmam que apenas os tumores localizados na parótida apresentam cápsula, o que contrasta com o presente trabalho, visto que foi encontrado um tumor em palato apresentando

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O mioepitelioma é um tumor extremamente raro e, por isso, muitas vezes seu diagnóstico é desafiador. É de extrema importância que os profissionais estejam familiarizados com casos de patologias como essa, a fim de chegarem no diagnóstico correto e tratamento efetivo. As chances de recidiva são mínimas se o tratamento correto, que é a excisão cirúrgica, for realizado com sucesso.

generally encapsulated, painless, which leads to a delay in diagnosis. Its malignant variant, even rarer, is characterized by invasion and local destruction, metastasis is rare. The aim of this work is report a case of benign myoepithelioma on the palate, in a female patient, presenting a 15-day increase in volume in the posterior region of the palate, approximately 2.5 cm in the larger diameter, sessile, painless, consistency resilient to palpation, presenting unchanged lining mucosa, which first diagnose was pleomorphic adenoma. An excisional biopsy of the lesion was performed, presenting a trans-surgical appearance of multiple blisters. Results: Histopathological analysis reached the diagnosis of benign myoepithelioma and no recurrence was observed after 2 years of removal of the lesion. The benign myoepithelioma is a rare tumor that if treated correctly, through surgical excision, presents minimal recurrence. Keywords: Myoepithelioma. Palate. Salivary gland neoplasms.

ABSTRACT Benign myoepithelioma of salivary gland in palate: case report Myoepithelioma are rare tumors that represent at least 1% of salivary gland tumors. The majority is benign and the parotid gland is the most common site of the tumor, followed by the palate and submandibular gland. There is no predominance between the gender and the average age is 62 years old. It appears as a mass of slow growth,

Referências:

1. Padmaja RK, Anita PJ, Bhaswanth P, Fazil S. Plasmacytoid Myoepithelioma of the Hard Palate in a Child - A Rare Case Report Journal of Clinical and Diagnostic Research. 2015 Oct;9(10):ED01-2 2. Silveira EJD, Pereira ALA, Fontora MC, Souza LB, Freitas RA. Myoepithelioma of minor salivary gland Na immunohistochemical analysis of four cases. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(4):528-32. 3. Ostrosky A, Villa DM, González M, Klurfan F. Benign myoepithelioma: presentation of a case report. Rev Esp Cir Oral Maxilofac. 2007 SeptOct;29(5):336-41. 4. James J, Sciubba DMD, Robert B. Myoepithelioma of Salivary Glands: Report of 23 Cases. Cancer. 1982 Feb 1;49(3):562-72.

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5. Barnes L, Appel BN, Perez H, El-Attar AM. Myoepithelioma of the head and neck: case report and review. J Surg Oncol. 1985 Jan;28(1):21-8. 6. Gore CR, Panicker NK, Chandanwale SS, Singh BK. Myoepithelioma of minor salivary glands - A diagnostic challenge: Report of three cases with varied histomorphology. J Oral Maxillofac Pathol. 2013 May-Aug;17(2):257-60. 7. Ludtke IN, Ramos GHA, Pedruzzi PAG, Bernades MVAA, Mauro FHO, Jung J. Um raro caso de mioepitelioma maligno de palato duro Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2015 Out-Dez;44(4):185-6. 8. El-Naggar AK, Chan JKC, Grandis JR, Takata T, Slootweg PJ. WHO Classification of Head and Neck Tumours. 4th ed. Lyon: WHO; 2017. v. 9.

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9. Politi M, Toro C, Zerman N, Mariuzzi L, Robiony M. Myoepithelioma of the parotid gland: Case report and review of literature. Oral Oncology Extra. 2005;41(6):104-8. 10. Simpson RHW, Jones H, Beasley A. Benign myoepithelioma of the salivary glands: a true entity? Histopathology. 1995 July;27(1):1-9.

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CasoClínico

Expansão tecidual como opção para reconstrução de defeitos craniofaciais e áreas de alopecia:

relato de dois casos

SYLVIO LUIZ COSTA DE MORAES1,2,3 | ALEXANDRE MAURITY DE PAULA AFONSO1,3,4 | ROBERTO GOMES DOS SANTOS1,3 | RICARDO PEREIRA MATTOS1,3 | MARIANA BROZOSKI1 | JONATHAN RIBEIRO3,5 | BRUNO GOMES DUARTE6 | BRUNO COSTA FERREIRA1,4

RESUMO O reparo dos defeitos de contorno craniano em alguns casos constitui tarefa extremamente difícil, dada a pouca extensibilidade do couro cabeludo, que resulta na inevitável exposição de áreas vizinhas, ou mesmo do material empregado na reconstrução, o que representa risco potencial de infecção e consequente perda do objetivo cirúrgico. O propósito do presente trabalho é descrever a técnica de expansão do couro cabeludo como etapa adjuvante à correção de contorno de calota craniana e de área de alopecia associada ao trauma, e/ou como sequela de tempo cirúrgico anterior. Foram empregados expansores de silicone de 480ml não personalizados (SILIMED - Comércio de Produtos Médico-Hospitalares, LTDA - Rio de Janeiro - Brasil), com válvula externa, no couro cabeludo para possibilitar a correção de contorno de calota craniana e de área de alopecia associada à sequela do trauma craniofacial. São descritos os procedimentos de expansão, as técnicas e recomendações de inserção e remoção do expansor. A expansão tecidual prévia do couro cabeludo constitui um recurso que permite o adequado recobrimento da região craniofacial reconstruída, evitando exposição do biomaterial e possibilitando a correção de áreas de alopecia. Palavras-chave: Expansão de tecido. Crânio. Reconstrução.

Hospital São Francisco na Providência de Deus, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Crânio-Maxilo-Facial e Reparadora da Face (Rio de Janeiro/RJ, Brasil). Universidade Federal Fluminense, Serviço de Emergência do Hospital Universitário Antônio Pedro (Niterói/RJ, Brasil). 3 Centro Universitário São José (UNISJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil). 4 Hospital Federal de Bonsucesso, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Rio de Janeiro/RJ, Brasil). 5 Centro Universitário Serra dos Órgãos, Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Teresópolis/RJ, Brasil). 6 Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Cirurgia, Estomatologia, Patologia e Radiologia (Bauru/SP, Brasil). 1

Como citar este artigo: Moraes SLC, Afonso AMP, Santos RG, Mattos RP, Brozoski M, Ribeiro J, Duarte BG, Ferreira BC. Tissue expansion as an option for reconstruction of craniofacial defects and alopecia area: Report of two cases. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):56-63. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.5.3.056-063.oar

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Enviado em: 17/07/2018 - Revisado e aceito: 15/10/2018 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. » O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Sylvio Luiz Costa de Moraes Rua: Conde de Bonfim, 211, sala 213, Tijuca – Rio de Janeiro/RJ CEP: 87.140-000 – E-mail: sdmoraes@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO Os pacientes que são submetidos a procedimentos cirúrgicos que resultam em perda do tecido ósseo evoluem com retração e/ou atrofia dos tecidos moles adjacentes1. Assim, torna-se necessário recuperar a extensão de tecidos moles da região, para permitir adequado recobrimento da área a ser reparada, evitando complicações como a exposição do biomaterial, risco potencial de infecção e consequente perda do objetivo cirúrgico2. Entretanto, o reparo de defeitos de tecidos moles representa um desafio significativo para a cirurgia reparadora3, já que a reconstrução do contorno craniano, em alguns casos, constitui tarefa extremamente difícil, devido à pouca extensibilidade do couro cabeludo, levando à necessidade da rotação de retalhos, o que pode resultar em exposição craniana de áreas vizinhas, ou mesmo do material empregado na reconstrução de contorno3. Técnicas como retalhos locais, regionais ou distantes, pediculados ou livres3,4 são descritas, mas não resolvem a questão da limitação de expansibilidade do couro cabeludo3,4. O conceito de expansão tecidual para a reconstrução de defeitos na região maxilofacial, foi inicialmente proposto por Neuman em 19575,6 e desenvolvido posteriormente por Manders et al. em 1984, Radovan em 1984 e, ainda, por Van Rappard et al., em 19884. A técnica de expansão do couro cabeludo baseia-se no aumento progressivo dos tecidos, através de um expansor tecidual colocado entre o plano subgaleal e o pericrânio7. A seleção do expansor dependerá da área a ser reconstruída, da dimensão do defeito3,5,7, do “efeito de concavidade” existente e, ainda, uma eventual área de alopecia3,4 circunjacente, que poderá ser reparada pelo avanço da área pilosa do tecido expandido, assim recobrindo o defeito após a ressecção da área de pele glabra (Fig. 1A, 1B, 1C). O propósito do presente trabalho é descrever a técnica de expansão do couro cabeludo como método de correção de contorno de calota craniana e de área de alopecia associada ao trauma, e/ou como sequela de tempo cirúrgico anterior.

A

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Figura 1: A) Retração de tecidos moles da região frontal, consequente a trauma craniofacial que levou à perda do osso frontal. Expansor tecidual posicionado na região occipital, para permitir avanço anterior do couro cabeludo para reposicionar a área de implantação do cabelo. B) Área correspondente à perda de couro cabeludo. C) Reconstrução de contorno da região frontal com biomaterial e reposicionamento anatômico da área de implantação do cabelo, de acordo com as características da face do paciente. D) Fotografia pós-operatória de 18 meses.

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Expansão tecidual como opção para reconstrução de defeitos craniofaciais e áreas de alopecia: relato de dois casos

RELATO DE CASO Procedimento de expansão tecidual Os expansores utilizados pelos autores foram os de silicone, com 480ml de capacidade volumétrica, referência no 830-480-3 (SILIMED - Comércio de Produtos Médico-Hospitalares, LTDA - Rio de Janeiro - Brasil), do tipo estoque e podem possuir válvulas do tipo semi-implantada (externa) ou implantada. Os autores optaram por utilizar a válvula externa pela facilidade de manejo. Para emprego do expansor, são necessários dois tempos operatórios: » O primeiro tempo operatório visa a implantação do expansor. Portanto, trata-se de um procedimento exclusivo, essencial. » O segundo tempo operatório destina-se à remoção do expansor e, ainda, para a realização da cranioplastia e reconstrução da área pilosa. Portanto, trata-se de procedimento associado.

Entre as incisões paralelas já realizadas, deve-se promover um descolamento na região avascular localizada entre o plano subgaleal e o pericrânio, sendo possível dissecção dos tecidos com menor compressão sem ultrapassar os limites das incisões, formando um “nicho retangular”, um “túnel”, para implantar o expansor, de acordo com o exibido nas Figuras 2C e 2D. Antes de introduzir o expansor e acomodá-lo ao nicho criado, deve-se realizar duas manobras: » Primeira: fazer um “teste de insuflação subaquática”, utilizando-se uma cuba riniforme com soro fisiológico a 0,9% recobrindo o expansor e, em seguida, insuflá-lo com ar injetado a partir de uma seringa de 60ml, assim verificando possíveis defeitos (perfurações), que será seguido de esvaziamento do expansor pela mesma seringa. » Segunda: transfixar as incisões com fios de sutura nylon 3-0 (Black Monofilament Nylon - Ethicon - Johnson & Johnson do Brasil Ind. e Com. de Prod. para a Saúde, Ltda), sem completar o nó, deixando-os não tensionados. Deve-se manter os fios reparados e com comprimento suficiente para permitir a introdução e acomodação do expansor no nicho criado. Após esse passo, deve-se executar os nós nos fios, ocluindo corretamente as incisões. A válvula externa deverá sair por uma pequena incisão, por “contra abertura”, lateralmente à região de implantação do expansor. Em seguida faz-se a injeção inicial de 5%da capacidade volumétrica total8 do expansor, para evitar “espaços mortos” e compressão excessiva da região da sutura9. Os autores recomendam iniciar a expansão a partir do décimo dia de pós-operatório, a fim de permitir a adequada cicatrização tecidual, livre da ação de forças de tensão nas áreas das incisões. Devido à pouca extensibilidade do couro cabeludo, recomenda-se injetar diariamente 5% da capacidade volumétrica total do expansor, permitindo a lenta e gradual expansão dos tecidos. O número de injeções dependerá do volume considerado necessário para que se realize o adequado recobrimento do biomaterial para reconstrução de contorno e/ou a área de alopecia a ser corrigida. Em geral, são requeridos entre quinze e vinte dias de injeções, para que se obtenha a expansão desejada. A expansão inicial deve ser considerada na contagem total dos dias.

Técnica de inserção do expansor As incisões iniciais para a instalação do expansor devem ser realizadas adjacentes à área a ser reconstruída, considerando-se o planejamento do retalho a ser utilizado posteriormente. Sob anestesia geral e intubação orotraqueal, são realizadas duas incisões com bisturi convencional lâmina no 23 (Feather Safety Razor CO., Ltd. 3-70, Ohyodo Minami 3-Chome, Kita-KU, Osaka, 531-0075 - Japão). A primeira e a segunda incisões devem ter extensão correspondente à largura do expansor, acrescidas de 1,0 cm de cada lado, e serão paralelas. Essas incisões paralelas deverão ser distantes entre si, considerando a maior distância do defeito, acrescidas de 2,0 cm em cada extremidade1, ou seja, entre as incisões a distância será igual ao longo eixo do defeito, acrescidas de quatro centímetros (defeito em centímetros + quatro centímetros) (Fig. 2A, 2B, 2C e 2D). Caso uma das incisões necessite ser executada em área próxima à linha de implantação do cabelo, deve-se iniciá-la, no mínimo, 2,0 cm da linha de implantação do cabelo, para evitar que eventual cicatriz se torne perceptível e, portanto, antiestética. Os autores recomendam que o expansor não seja diretamente posicionado sobre o defeito resultante da craniotomia prévia, pois a expansão progressiva poderá determinar compressão cerebral. O expansor deve ser implantado em uma área distante pelo menos 5,0 cm lateralmente ao defeito (Fig. 3).

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Figura 2: A) Pontilhado amarelo = largura do expansor; linhas pretas = primeira e segunda incisões, paralelas entre si e com extensão de 1cm maior que a largura do expansor. B) Pontilhado vermelho = longo eixo do defeito acrescido de 2cm de cada lado; linhas pretas = primeira e segunda incisões. C) Vista anterior do acesso cirúrgico para a colocação do expansor. Destaque para a válvula do tipo externa exteriorizada por contra abertura. D) Vista posterior do acesso cirúrgico para a colocação do expansor. Destaque para a válvula do tipo externa exteriorizada por contra abertura. E) Fotografias pós-operatórias de 24 meses.

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Expansão tecidual como opção para reconstrução de defeitos craniofaciais e áreas de alopecia: relato de dois casos

Devido à aderência do pericrânio à dura-máter, os autores não recomendam o descolamento dessas estruturas, a fim de evitar lesões meníngeas.

Com o emprego de expansor de válvula externa, a expansão não dependerá da manutenção do paciente hospitalizado. A expansão poderá ser realizada pelo próprio paciente, por familiar ou por outro profissional de saúde, mediante orientações. Já o expansor de válvula interna requer rotina de antissepsia rigorosa, além de conhecimento sobre referência anatômica, importante para a correta inserção transcutânea da agulha da seringa na região da válvula, fato que poderá requerer internação hospitalar para pacientes que residam em locais distantes, ou visita ambulatorial diária para a realização da injeção para expansão.

Conclusão da reconstrução Segue-se a reconstrução do contorno da calota craniana, pelo emprego de biomaterial fixado através de microplacas e microparafusos de titânio e reparo das eventuais regiões de alopecia. A sutura interna do couro cabeludo é realizada com Vicryl 2-0 (Polyglactin 910 Suture - Ethicon - Johnson & Johnson do Brasil Ind. e Com. de Prod. para a Saúde, Ltda), e a sutura de pele com suturas metálicas - staplers SW 35 (VICARE SKIN Stapler - Victor Medical Instruments CO. Ltd. Changzhou - China. Ref PDSS35G). O uso de dreno a vácuo com saída por “contra abertura”, com fio de sutura previamente passado e reparado, e em sifonagem, evita a formação de coleções sanguinolentas e será removido quando a coleção em 24 horas for inferior a 30ml, o que em geral, acontece no segundo dia de pós-operatório. Na ocasião da remoção do dreno, completa-se o nó do fio deixado reparado no pequeno acesso para a exteriorização do dreno.

Técnica de remoção do expansor No segundo tempo operatório, utiliza-se geralmente como via de acesso a cicatriz resultante do procedimento neurocirúrgico realizado por ocasião do atendimento inicial pós-trauma imediato. O acesso permite a extração do expansor, assim disponibilizando uma extensão de couro cabeludo que possibilita o fechamento da ferida operatória, sem nenhuma tensão (Fig. 4).

Figura 3: Pontilhado vermelho = distância de 5cm entre o defeito craniano e o expansor; linhas pretas = primeira e segunda incisões.

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Moraes SLC, Afonso AMP, Santos RG, Mattos RP, Brozoski M, Ribeiro J, Duarte BG, Ferreira BC

A

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Figura 4: A) Acesso para remoção do expansor e reconstrução de contorno da região temporoparietal. B) Detalhe do expansor removido.

RESULTADOS Os casos apresentados nesse trabalho são de dois pacientes homens (Fig. 1 e 2), ambos com idades de 28 e 26 anos, respectivamente. Quanto aos fatores etiológicos, citam-se um acidente automobilístico (dupla colisão) e um acidente motociclístico, respectivamente. O primeiro paciente (Fig. 1) relatou que no momento do acidente estava com cinto de segurança. O segundo paciente (Fig. 2) informou que no momento do acidente não utilizava o capacete. Ambos os pacientes eram politraumatizados (portadores de traumas sistêmicos, tais como trauma cranioencefálico [TCE], contusões de tórax, trauma abdominal e trauma ortopédico), e necessitaram de longo tempo de hospitalização para recuperação e, em seguida ao atendimento emergencial, foram submetidos a procedimentos neurocirúrgicos que resultaram em craniotomia, com perda do segmento de calota craniana. A razão da perda do segmento craniano é desconhecida. O primeiro paciente (Fig. 1) era portador de fraturas da face associadas e o segundo paciente (Fig. 2) não apresentava fratura facial, entretanto, era portador de Síndrome da Fissura Orbitária Superior (SFOS), como sequela do TCE. Quanto às lesões presentes, o primeiro paciente (Fig. 1) apresentava perda o osso frontal e extensa área de alopecia, consequente do ato operatório que se seguiu ao atendimento inicial. O segundo paciente (Fig. 2) apresentava perda óssea da região temporoparietal e pequena área de alopecia, também consequente do ato operatório inicial para realização de procedimento neurocirúrgico.

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Ambos os pacientes foram submetidos à expansão de couro cabeludo. No primeiro paciente (Fig. 1) foi empregado um expansor de capacidade total de 500 ml, no qual foram injetados 480 ml. No segundo paciente (Fig. 2) foi empregado um expansor de capacidade total de 480 ml, no qual foram injetados 360 ml. Quanto à reconstrução, ambos tiveram as áreas de perda óssea reconstruídas com biomateriais personalizados. No primeiro paciente (Fig. 1) foi utilizada uma prótese de HTR®-PMI (Hard Tissue Replacement Patient-Matched Implant - BIOMET MICROFIXATION, 1520 Tradeport Drive, Jacksonville, FL 32218 - EUA) e no segundo paciente (Fig. 2) uma prótese de polímero de mamona (Poliquil Polímeros Químicos, Rua Pedro José Laroca, 150 / B - 5° Distrito Industrial - 14808-300 - Araraquara - São Paulo - Brasil). As próteses foram fixadas com miniplacas e miniparafusos de titânio. No mesmo tempo cirúrgico, as áreas expandidas nos pacientes, além de recobrirem totalmente as próteses, foram utilizadas para corrigir as áreas de alopecia. DISCUSSÃO Os expansores teciduais revolucionaram a cirurgia reparadora, permitindo a correção de cicatrizes7 e defeitos por retalhos de pele de mesma coloração e textura5,6, com melhores resultados funcionais e estéticos. Uma das vantagens da utilização dos expansores é a adequada cobertura do defeito com mínima morbidade para a área doadora, além de boa vascularização da pele do retalho. O Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Crânio-Maxilo-Facial e Reparadora da Face do

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Expansão tecidual como opção para reconstrução de defeitos craniofaciais e áreas de alopecia: relato de dois casos

midades craniofaciais4. Lesões nessa localização são um grande desafio, por envolver múltiplas estruturas anatômicas, e a utilização de expansores se apresenta como uma alternativa eficaz para reconstrução.

Hospital São Francisco (HSF, Rio de Janeiro) utiliza o recurso de expansão tecidual para casos congêneres desde 2003, com resultados animadores. Cherry et al.10 demonstraram que retalhos avançados de tecido expandido têm sobrevivência aumentada em 117%, quando comparada com a dos retalhos de padrão randômico avançados a partir de pele não expandida. Há autores como Dos Santos Rubio et al.11 que relatam realizar expansão na região frontal, posicionando o expansor sobre a região do defeito, contudo, utilizando uma prótese customizada de polimetilmetracrilato entre o dispositivo de expansão e o tecido cerebral, para evitar compressão indesejada. Os autores entendem que tal procedimento requer uma abordagem inicial de maior vulto, que pode ser evitada implantando-se o expansor lateralmente ao defeito ósseo, como descrito em outros trabalhos7,8. A seleção do expansor é determinada pela dimensão do defeito5 de contorno craniofacial. As válvulas externas são de manejo muito mais simples; porém, deve-se ter total atenção para o posicionamento da saída da válvula, evitando áreas de habitual decúbito do paciente durante o sono. O adequado posicionamento do expansor em relação à área do defeito constitui um passo importante na técnica de reconstrução. A transfixação de fios de sutura prévia ao posicionamento do expansor no leito traz segurança no sentido de não produzir risco de perfurações acidentais. A expansão lenta e gradual possibilita uma expansão não dolorosa e sem riscos de sofrimento tecidual para o paciente. Como limitação do método, os autores destacam a eventual falta de compreensão por parte do paciente sobre a sequência de manobras para expansão diária, que ocorre em casos de pacientes que obtêm alta e são mantidos em controle ambulatorial. Portanto, pacientes e familiares devem ter acesso à demonstração diária das manobras de injeção de soro para expansão. Os autores recomendam que instruções por escrito e em linguagem acessível sejam entregues à família do paciente. Cabe ressaltar que pacientes com dificuldade de entendimento, seja por razões neurológicas ou cognitivas, têm indicação de emprego do expansor de válvula interna e manutenção da internação hospitalar. Modalidades combinadas de tratamento são muitas vezes necessárias para se obter melhores resultados em diversas deformidades, principalmente nas defor-

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A expansão tissular é indicada para o tratamento de múltiplas afecções. Representa uma opção segura e efetiva de tratamento, nos casos de reconstrução da região craniofacial, apresentando um potencial único para preservar tanto a forma quanto a função, além de evitar cicatrizes adicionais e diminuir a morbidade relacionada com a necessidade de uma área doadora. A expansão tecidual prévia do couro cabeludo, nos casos de correções secundárias dos defeitos de contorno da calota craniana, constitui uma opção segura de tratamento, sendo um recurso que permite o adequado recobrimento da região craniofacial a ser reconstruída, evitando exposição do biomaterial empregado e permite, ainda, que áreas de alopecia sejam corrigidas. ABSTRACT Tissue expansion as an option for reconstruction of craniofacial defects and alopecia area: Report of two cases The repair of defects by restoring the cranial vault in some cases is difficult because of the scalps inextensible tissue, which results in the unavoidable exposure of neighboring areas, or even the material used in the reconstruction, which represents a potential risk of infection and consequent surgical losses. The purpose of this article is to describe the technique of scalp expansion as an adjuvant step for the correction of cranial vault contour and the alopecia area, associated with trauma and as a sequela of previous surgical time. We used non-customized 480ml silicone expanders (SILIMED - Comércio de Produtos Médico-Hospitalares, LTDA - Rio de Janeiro - Brazil), with external valve, on the scalp to enable correction of cranial vault and alopecia area associated with craniofacial trauma sequelae. Expansion procedures, techniques and recommendations for insertion and removal of the expander are described. The previous tissue expansion of the scalp is a feature that allows adequate recoating of the craniofacial region to be reconstructed, avoiding exposure of the biomaterial and allowing the correction of alopecia area. Keywords: Tissue expansion. Skull. Reconstruction.

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Moraes SLC, Afonso AMP, Santos RG, Mattos RP, Brozoski M, Ribeiro J, Duarte BG, Ferreira BC

Referências:

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6. Lasheen AE, Saad K, Raslan M. External tissue expansion in head and neck reconstruction. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2009 Aug;62(8):e251-4. 7. Mobley SR, Sjogren PP. Soft tissue trauma and scar revision. Facial Plast Surg Clin North Am. 2014 Nov;22(4):639-51. 8. Moraes SLC, Afonso AMP, Santos RGD, Mattos RP, Duarte EBG. Reconstruction of the Cranial Vault Contour Using Tissue Expander and Castor Oil Prosthesis. Craniomaxillofac Trauma Reconstr. 2017 Sept;10(3):216-24. 9. Swenson RW. Controle da expansão do tecido na reconstrução facial. In: Baker SR. Retalhos Locais em Reconstrução Facial. 2a ed. Rio de Janeiro: DiLivros; 2009. p. 671-93. 10. Cherry GW, Austad E, Pasyk K, McClatchey K, Rohrich RJ. Increased survival and vascularity of random-pattern skin flaps elevated in controlled, expanded skin. Plast Reconstr Surg. 1983 Nov;72(5):680-7.

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11. Santos Rubio EJ, Bos EM, Dammers R, Koudstaal MJ, Dumans AG. Two-Stage Cranioplasty: Tissue Expansion Directly over the Craniectomy Defect Prior to Cranioplasty. Craniomaxillofac Trauma Reconstr. 2016 Nov;9(4):355-60.

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Normas para Publicação

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OBJETIVO E POLÍTICA EDITORIAL O Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery é a revista oficial do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, e destina-se à publicação de trabalhos relevantes para a educação, orientação e ciência da prática acadêmica de cirurgia e áreas afins, visando a promoção e o intercâmbio do conhecimento entre a comunidade universitária e os profissionais da área de saúde. • As categorias dos trabalhos abrangem artigos originais e/ou inéditos (revisões sistemáticas, ensaios clínicos, estudos experimentais e série de casos com, no mínimo, 9 casos clínicos) e relatos de casos. • Processo de Revisão por Pares: todos os manuscritos submetidos serão encaminhados a dois editores, para análise inicial. Caso ambos decidam que o manuscrito é de baixa prioridade, ele será devolvido ao autor. Por outro lado, se ao menos um dos editores decidir que o manuscrito é adequado para publicação, ele seguirá o processo de submissão, sendo analisado por um grupo de três a quatro revisores, utilizando, para isso, o sistema “duplo cego”. • As declarações e opiniões expressas pelo(s) autor(es) não necessariamente correspondem às do(s) editor(es) ou publisher, os quais não assumirão qualquer responsabilidade por elas. Nem o(s) editor(es) nem o publisher garantem ou endossam qualquer produto ou serviço anunciado nessa publicação, ou alegação feita por seus respectivos fabricantes. Cada leitor deve determinar se deve agir conforme as informações contidas nessa publicação. A Revista ou as empresas anunciantes não serão responsáveis por qualquer dano advindo da publicação de informações errôneas. • Os trabalhos devem ser submetidos em português. • Os trabalhos submetidos devem ser inéditos e não publicados ou submetidos para publicação em outra revista. Os dados, ideias, opiniões e conceitos emitidos nos artigos, bem como a exatidão das referências, são de inteira responsabilidade dos autores. Os autores devem acatar as orientações descritas a seguir. ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO DE MANUSCRITOS • Submeta os artigos pelo website: www.dentalpressjournals.com.br.

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• Os artigos deverão ser redigidos de modo conciso, claro e correto, em linguagem formal, sem expressões coloquiais. • O texto deve, sempre que aplicável, ser organizado nas seguintes seções: Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões, Referências, e Legendas das figuras. • Os textos devem ter, no máximo, 2.500 palavras, incluindo resumo, abstract, referências e legendas das figuras e das tabelas (sem contar os dados das tabelas). • Máximo de quatro autores para Relatos de Caso e seis autores para Artigos de Pesquisa. Caso tenha mais autores, deverá ser informada a participação de cada um na execução do trabalho. • As figuras devem ser enviadas em arquivos separados. • Insira as legendas das figuras também no corpo do texto, para orientar a montagem final do artigo. • O título do artigo deve ser informado nas línguas portuguesa e inglesa, o qual deverá ser o mais informativo possível e ser composto por, no máximo, 8 palavras. • As informações relativas à identificação dos autores (por exemplo: nomes completos dos autores e afiliações institucionais) deverão ser incluídas apenas nos campos específicos no website de submissão de artigos. Assim, essas informações não serão visíveis para os revisores. • As afiliações institucionais devem seguir o padrão: Universidade ou Instituição (a qual o autor pertencia/representava no momento de execução do trabalho) - Centro / Faculdade / Programa / Departamento / Laboratório / Disciplina - Cidade - Estado - País. • As fontes de financiamento das pesquisas devem ser indicadas no texto sob a seção ‘Agradecimentos’. RESUMO/ABSTRACT • Os resumos estruturados, em português e inglês, com 200 palavras ou menos, são preferíveis. • Os resumos estruturados devem conter as seções: INTRODUÇÃO, com a proposição do

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Tabelas • As tabelas devem ser autoexplicativas e devem complementar, e não duplicar, o texto. • Devem ser numeradas com algarismos arábicos, na ordem em que são mencionadas no texto. • Cada tabela deve ter um título breve. • Se uma tabela tiver sido publicada anteriormente, deve ser incluída uma nota de rodapé dando crédito à fonte original. • As tabelas devem ser enviadas como arquivo de texto (Word ou Excel, por exemplo), e não como elemento gráfico (imagem não editável).

estudo; MÉTODOS, descrevendo como ele foi realizado; RESULTADOS, descrevendo os resultados primários; e CONCLUSÕES, relatando, além das conclusões do estudo, as implicações clínicas dos resultados. • Os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave, também em português e em inglês, adequadas conforme orientações do DeCS (http://decs.bvs.br/) e do MeSH (www.nlm.nih. gov/mesh). INFORMAÇÕES SOBRE AS ILUSTRAÇÕES • As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) deverão ser limitadas a até 6 figuras, para os artigos do tipo original; ou até 3 figuras, para os do tipo caso clínico. Devem ser feitas, preferencialmente, em programas apropriados, como Excel, Word, etc. • Suas respectivas legendas deverão ser claras, concisas. Deverão ser indicados os locais aproximados no texto no qual as imagens serão intercaladas como figuras. As tabelas e os quadros deverão ser numerados, consecutivamente, em algarismos arábicos. No texto, a referência será feita pelos algarismos arábicos.

TIPOS DE TRABALHOS ACEITOS » Trabalho de Pesquisa (Artigo Original e/ou Inédito) Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave; Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Proposição); Metodologia; Resultados; Discussão; Conclusões; Referências bibliográficas (15 referências, no máximo – por ordem de citação no texto); Máximo 6 figuras. » Relato de caso Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave; Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Proposição); Relato do Caso; Discussão; Considerações Finais; Referências bibliográficas (10 referências, no máximo – por ordem de citação no texto); Máximo 3 figuras.

Figuras • As imagens digitais devem ser no formato JPG ou TIFF, com pelo menos 7cm de largura e 300dpi de resolução. • Devem ser enviadas em arquivos independentes. • Se uma figura já tiver sido publicada anteriormente, sua legenda deverá dar o crédito à fonte original. • Todas as figuras devem ser citadas no texto.

DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA Todos os manuscritos devem ser acompanhados das seguintes declarações: Comitês de Ética ​O​s artigos devem, se aplicável, fazer referência ao parecer​do Comitê de Ética da instituição​(​reconhecido pelo CNS – Conselho Nacional de Saúde​)​​sem, todavia, especificar​o nome da universidade, centro ou departamento​. O documento do parecer será enviado posteriormente à aprovação​.​Caso se aplique, informar o cumprimento das recomendações​dos organismos internacionais de proteção e da​Declaração de Helsinki,​ acatando os padrões éticos do​comitê responsável por experimentação humana/animal.​

Gráficos e traçados cefalométricos • Devem ser citados, no texto, como figuras. • Devem ser enviados os arquivos que contêm as versões originais dos gráficos e traçados, nos programas que foram utilizados para sua confecção. • Não é recomendado o seu envio somente em formato de imagem bitmap (não editável). • Os desenhos enviados podem ser melhorados ou redesenhados pela produção da revista, a critério do Corpo Editorial.

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Cessão de Direitos Autorais Transferindo os direitos autorais do manuscrito para a Dental Press, caso o trabalho seja publicado.

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Normas para Publicação

Conflito de Interesse Caso exista qualquer tipo de interesse dos autores para com o objeto de pesquisa do trabalho, esse deve ser explicitado.

- A exatidão das referências é responsabilidade dos autores e elas devem conter todos os dados necessários para sua identificação. - As referências devem ser apresentadas no final do texto, obedecendo às Normas Vancouver (http:// www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). - Utilize os exemplos a seguir:

Proteção aos Direitos Humanos e de Animais Caso se aplique, informar o cumprimento das recomendações dos organismos internacionais de proteção e da Declaração de Helsinki, acatando os padrões éticos do comitê responsável por experimentação humana/ animal. Nas pesquisas desenvolvidas em seres humanos, deverá constar o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução 466/2012 CNS-CONEP.

Artigos com até seis autores Espinar-Escalona E, Ruiz-Navarro MB, Barrera-Mora JM, Llamas-Carreras JM, Puigdollers-Pérez A, AyalaPuente. True vertical validation in facial orthognathic surgery planning. Clin Exp Dent. 2013 Dec 1;5(5):e231-8.

Permissão para uso de imagens protegidas por direitos autorais Ilustrações ou tabelas originais, ou modificadas, de material com direitos autorais devem vir acompanhadas da permissão de uso pelos proprietários desses direitos e pelo autor original (e a legenda deve dar corretamente o crédito à fonte).

Artigos com mais de seis autores Pagnoni M, Amodeo G, Fadda MT, Brauner E, Guarino G, Virciglio P, et al. Juvenile idiopathic/ rheumatoid arthritis and orthognatic surgery without mandibular osteotomies in the remittent phase. J Craniofac Surg. 2013 Nov;24(6):1940-5. Capítulo de livro Baker SB. Orthognathic surgery. In: Grabb and Smith’s Plastic Surgery. 6th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins. 2007. Chap. 27, p. 256-67.

Consentimento Informado Os pacientes têm direito à privacidade, que não deve ser violada sem um consentimento informado. Fotografias de pessoas identificáveis devem vir acompanhadas por uma autorização assinada pela pessoa ou pelos pais ou responsáveis, no caso de menores de idade. Essas autorizações devem ser guardadas indefinidamente pelo autor responsável pelo artigo. Deve ser enviada folha de rosto atestando o fato de que todas as autorizações dos pacientes foram obtidas e estão em posse do autor correspondente.

Capítulo de livro com editor Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy. 2nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains (NY): March of Dimes Education Services; 2001. Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso Ryckman MS. Three-dimensional assessment of soft tissue changes following maxillomandibular advancement surgery using cone beam computed tomography [Thesis]. Saint Louis: Saint Louis University; 2008.

REFERÊNCIAS - Todos os artigos citados no texto devem constar na lista de referências. - Todas as referências devem ser citadas no texto. - Para facilitar a leitura, as referências serão citadas no texto apenas indicando a sua numeração. - As referências devem ser identificadas no texto por números arábicos sobrescritos e numeradas na ordem em que são citadas. - As abreviações dos títulos dos periódicos devem ser normalizadas de acordo com as publicações “Index Medicus” e “Index to Dental Literature”.

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Formato eletrônico Sant´Ana E. Ortodontia e Cirurgia Ortognática – do planejamento à finalização. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 2003 maio-jun;8(3):119-29 [Acesso 12 ago 2003]. Disponível em: http://www.dentalpress. com.br/artigos/pdf/36.pdf.

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Comunicado aos Autores e Consultores Registro de Ensaios Clínicos

1. O registro de ensaios clínicos Os ensaios clínicos se encontram entre as melhores evidências para tomada de decisões clínicas. Considera-se ensaio clínico todo projeto de pesquisa com pacientes que seja prospectivo, nos quais exista intervenção clínica ou medicamentosa com objetivo de comparação de causa/efeito entre os grupos estudados e que, potencialmente, possa interferir na saúde dos envolvidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os ensaios clínicos controlados aleatórios e os ensaios clínicos devem ser notificados e registrados antes de serem iniciados. O registro desses ensaios tem sido proposto com o intuito de: identificar todos os ensaios clínicos em execução e seus respectivos resultados, uma vez que nem todos são publicados em revistas científicas; preservar a saúde dos indivíduos que aderem ao estudo como pacientes; impulsionar a comunicação e a cooperação de instituições de pesquisa entre si e com as parcelas da sociedade com interesse em um assunto específico. Adicionalmente, o registro permite reconhecer as lacunas no conhecimento existentes em diferentes áreas, observar tendências no campo dos estudos e identificar os especialistas nos assuntos. Reconhecendo a importância dessas iniciativas e para que as revistas da América Latina e Caribe sigam recomendações e padrões internacionais de qualidade, a BIREME recomendou aos editores de revistas científicas da área da saúde indexadas na Scientific Library Electronic Online (SciELO) e na LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) que tornem públicas essas exigências e seu contexto. Assim como na base MEDLINE, foram incluídos campos específicos na LILACS e SciELO para o número de registro de ensaios clínicos dos artigos publicados nas revistas da área da saúde. Ao mesmo tempo, o International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores de revistas científicas que exijam dos autores o número de registro no momento da submissão de trabalhos. O registro dos ensaios clínicos pode ser feito em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados

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pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE. Para que sejam validados, os Registros de Ensaios Clínicos devem seguir um conjunto de critérios estabelecidos pela OMS. 2. Portal para divulgação e registro dos ensaios A OMS, com objetivo de fornecer maior visibilidade aos Registros de Ensaios Clínicos validados, lançou o portal WHO Clinical Trial Search Portal (http:// www.who.int/ictrp/network/en/index.html), com interface que permite busca simultânea em diversas bases. A pesquisa nesse portal pode ser feita por palavras, pelo título dos ensaios clínicos ou por seu número de identificação. O resultado mostra todos os ensaios existentes, em diferentes fases de execução, com links para a descrição completa no Registro Primário de Ensaios Clínicos correspondente. A qualidade da informação disponível nesse portal é garantida pelos produtores dos Registros de Ensaios Clínicos que integram a rede criada pela OMS: WHO Network of Collaborating Clinical Trial Registers. Essa rede permite o intercâmbio entre os produtores dos Registros de Ensaios Clínicos para a definição de boas práticas e controles de qualidade. Os websites onde podem ser feitos os registros primários de ensaios clínicos são: www. actr.org.au (Australian Clinical Trials Registry), www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org (International Standard Randomised Controlled Trial Number Register (ISRCTN). Os registros nacionais estão sendo criados e, na medida do possível, os ensaios clínicos registrados neles serão direcionados para aqueles recomendados pela OMS. A OMS propõe um conjunto mínimo de informações que devem ser registradas sobre cada ensaio, como: número único de identificação, data de registro do ensaio, identidades secundárias, fontes de financiamento e suporte material, principal patrocinador, outros patrocinadores, contato para dúvidas do público, contato para dúvidas científicas, título público do estudo, título científico, países de recrutamento, problemas de saúde estudados, intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de estudo, data de recrutamento do primeiro voluntário, tamanho pretendido da amostra, status do recrutamento e medidas de resultados primários e secundários.

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Comunicado aos Autores e Consultores - Registro de Ensaios Clínicos

Atualmente, a Rede de Colaboradores está organizada em três categorias: - Registros Primários: cumprem com os requisitos mínimos e contribuem para o Portal. - Registros Parceiros: cumprem com os requisitos mínimos, mas enviam os dados para o Portal somente através de parceria com um dos Registros Primários. - Registros Potenciais: em processo de validação pela Secretaria do Portal, ainda não contribuem para o Portal.

as orientações da BIREME/OPAS/OMS para a indexação de periódicos na LILACS e SciELO, somente serão aceitos para publicação os artigos de pesquisa clínica que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE: http:// www.icmje.org/about-icmje/faqs/clinical-trials-registration. O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. Consequentemente, recomendamos aos autores que procedam o registro dos ensaios clínicos antes do início de sua execução.

3. Posicionamento do Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery O Dental Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde, OMS (http://www.who.int/ictrp/en/) e do International Committee of Medical Journal Editors, ICMJE (http://www.wame.org/wamestmt.htm#trialreg e http://www.icmje.org/clin_trialup.htm), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informações sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, seguindo

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Atenciosamente,

Profa. Dra. Gabriela Granja Porto Editora-Chefe do JBCOMS Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery E-mail: gabiporto99@yahoo.com

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