Limites da Correria - Mainline

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Epílogo

Criamos pontes e abrimos caminhos de diálogo pelo mundo, trouxemos toda nossa potência pro nosso território e dele falamos e nos apresentamos, seguimos bem as palavras de Bell Hooks, quando nos amamos e experimentamos a força transformadora do amor em nossas vidas, assumimos atitudes capazes de alterar completamente as estruturas sociais existentes, referindo-nos às mulheres negras, mas também a toda comunidade, que diante da mazela genocida do racismo e da lógica higienista, tentam impor e apagar nossa etnia e história. Somos redução de danos e o amor também é um forte aliado nessa construção social e coletiva. O relatório “Limites da Correria: redução de danos para pessoas que usam estimulantes”, nasce movimentando a rede comunitária em toda sua forma, através das vivências de redução de danos no mundo, e daí podemos perceber e sentir, somos um movimento, uma força em organização, atuando em todos os campos, quer seja na rua, na academia, nas estruturas governamental e não-governamental, somos sociedade civil, somos povo, somos a potência que guiará a construção de uma nova era da nossa civilização. Em alguns pontos do mundo acontecem neste momento guerras de formatos variados e ampliados absurdamente a cada segundo, limitam formas e expressões de vida, onde os caminhos de vida e subjetividade estão sendo julgados e criminalizados quer seja por raça, gênero, credo ou etnia. Em meio a uma crise planetária de valores, são iniciativas e provocações coletivas que darão a rachadura para o novo tempo que está por vir. A redução de danos vive e sobrevive pela presença contínua e da organização de trabalhadoras e

trabalhadores, usuárias e usuários de drogas, da rede de atenção psicossocial, do SUS e do SUAS, de toda rede visível e invisível. Insistimos e continuaremos a criar, porque o público não é do Estado, é do POVO, e a nós cabe a retomada e a direção deste país, enquanto gente que insiste em acreditar em gente. Esta iniciativa provoca em nós o desejo de interligar, integrar e inovar. Esta foi nossa proposta desde o início, como tornar real nossos sonhos de vida e toda essa energia de trabalho, tão potente aos nossos olhos, mais ainda distante de tantas pessoas? Trazer à tona as práticas de redução de danos no mundo, acontecendo em diversos países ao mesmo tempo, com troca e respeito, com autonomia e liberdade, junto a encontros, desencontros e reencontros, potencializando o que há de melhor em nós, nossa regulação comunitária e social, sim, este é o nosso fazer e comprovamos isto em cada uma das experiências. Neste ano, na Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, Sônia Guajajara ecoou no eixo monumental e nós reafirmamos novamente: “Nós somos a Força Nacional!”, sim, nós somos, enquanto povo organizado e que luta por uma sociedade onde as mazelas do genocídio indígena e do racismo sejam erradicadas, pois só diante de um pacto civilizatório poderemos contrapor este modelo que tenta se impor a nós, povo brasileiro, e a toda América Latina. Não iremos aceitar este modelo bélico e proibicionista por lógica de controle de territórios e de formas de vida, na tentativa contínua de eliminar populações, na manutenção de lucro e poder.

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